Não bastasse o governador eleito do Rio Grande do Sul e
ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, denunciar “uma campanha de golpismo
político só semelhante aos eventos que ocorreram em 1964 para preparar
as ofensivas” contra o então governo estabelecido, o jornal da
Strategic Culture Foundation
– a partir de sua seção norte-americana, especializada em geopolítica –
publicou, nesta semana, reflexão na qual avalia o esforço dos setores
mais conservadores dos EUA para denegrir as “imaturas” democracias da
América Latina e do Caribe.
No artigo intitulado “Elections in Brazil and the US Intelligence Community” (Eleições no Brasil e a comunidade de inteligência dos EUA),
assinado pelo analista Nil Nikandrov, a instituição lembra que “o
Brasil nunca pediu permissão para afirmar o seu direito à soberania e à
posição de independência na política internacional em causa ao longo dos
oito anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e era amplamente
esperado que G. Bush acabaria por perder a paciência e tentar domar o
líder brasileiro. Nada disso aconteceu, embora, evidentemente, porque os
EUA se sentiram sobrecarregados demais com problemas com a Venezuela
para ficar trancado em um conflito adicional na América Latina”.
A Estrategic Cultural Foundation aborda a questão geopolítica mundial
Leia os principais trechos do artigo:
“Falando aos diplomatas e agentes de inteligência na Embaixada dos
EUA no Brasil em março de 2010, a Secretária de Estado, Hillary Clinton
enfatizou: ‘na administração Obama, estamos tentando aprofundar e
alargar as nossas relações com um certo número de países estratégicos e o
Brasil está no topo da lista. Este é um país que realmente importa. E é
um país que está tentando muito duro para cumprir a sua promessa ao seu
povo de um futuro melhor. E assim, juntos, os Estados Unidos e o Brasil
tem que liderar o caminho para os povos deste hemisfério”.
“Vale ressaltar que H. Clinton credita ao Brasil nada menos do que o
direito de mostrar o caminho para outras nações, embora de mãos dadas
com Washington. Para este último, o caminho é o de suprimir as
iniciativas socialistas em todo o continente, de se abster de juntar
projetos de integração regional a menos que sejam patrocinados pelos
EUA, para se opor aos esforços dos populistas que visam formar um bloco
latino-americano de defesa, e para impedir a crescente expansão
econômica chinesa.
“Os EUA nomeou o ex-chefe do Departamento de Estado de Assuntos do
Hemisfério Ocidental e um passaporte diplomático, com uma reputação
dúbia Thomas A. Shannon como novo embaixador para o Brasil às vésperas
das eleições no país. Ele se esforçou para convencer o presidente do
Brasil para alinhar o país com os EUA e a adotar políticas
internacionais menos independentes. Washington ofereceu vantagens ao
Brasil como maior cooperação na produção de combustíveis renováveis,
consentiram em que estabelece uma divisão da Boeing no país, e assinou
uma série de acordos com as indústrias de defesa brasileira, incluindo a
comissão de 200 aviões Tucano para a Força Aérea dos EUA.
“O presidente Lula não aceitou. Ele teimosamente manteve a parceria
com a H. Chavez e Morales J. esteve em Havana e Teerã, condenou o golpe
pró-EUA em Honduras, e até mesmo se comprometeu a desenvolver um setor
nacional de energia nuclear. Ele propôs Dilma Rousseff – uma candidata
séria, para esperar para orientar um curso da mesma forma independente –
como seu sucessor. É alarmante para Washington, Dilma era membro do
Partido Comunista e integrou a Vanguarda Armada Revolucionária –
nomeadamente, com o pseudônimo de Joana d’Arc, na década de 1970. Ela
foi traída por um agente do governo, depois presa, torturada sob os
métodos que a CIA ensinou na Escola das Américas, e teve que passar três
anos na cadeia. Por isso, mesmo décadas depois Rousseff não é a pessoa
da qual se possa esperar que seja um grande fã dos EUA.
“A campanha de Dilma ganhou força gradualmente e as sondagens
começaram a dar-lhe um lugar na corrida à frente do candidato de
direita, José Serra. Jornalistas ‘amigos-da-américa (do norte)’ e
agentes da CIA sondaram a sua disponibilidade para forjar um acordo
secreto com Washington e então descobriu-se que o plano não teve chance
porque Rousseff firmemente prometera fidelidade ao curso do presidente
Lula. A CIA reagiu a tentativa de manchar Rousseff, e os meios de
comunicação de imediato lançaram o mito sobre o seu extremismo.
Encontraram informantes da polícia, que posaram como “testemunhas” de
seu envolvimento em assaltos a bancos para os quais pretendia pegar o
dinheiro para apoiar o terrorismo no Brasil. A mídia conservadora
travara uma guerra de classificações e elogios em coro pró-EUA, José
Serra como o incontestado favorito e Dilma – como um rival puramente
nominal. Estabilizada a situação, no entanto, Dilma Rousseff finalmente
emergiu como a líder da campanha, graças a um apoio pessoal do
presidente Lula.
“Ainda assim, a pontuação de Rousseff caiu de 3% a 4%, tirando a
chance de vencer ainda no primeiro turno das eleições. O resultado do
segundo turno dependerá em grande parte os defensores de Marina da Silva
Vaz de Lima, do Partido Verde, que ocupou o terceiro lugar nas
eleições, com 19% dos votos. A guerra entre os militantes do PV está
declarada e Shannon irá tentar de todos os meios para quebrar uma
aliança entre Serra e Silva.
“O time de Dilma visivelmente perdeu o tom triunfalista inicial – o
segundo turno é um jogo difícil, e o adversário de seu candidato está
implicitamente apoiado por um império poderoso e cheio de recursos que é
conhecido por ter impulsionado rotineiramente candidatos à esperança
para a vitória. A mídia no Brasil – O Globo, as editoras Abril, como Folha de S. Paulo e a revista Veja – estão ocupados em lavagem lavagem cerebral do eleitorado do país.
“A equipe de Shannon está enfrentando a missão de ajudar ‘novas
forças’ menos propensas a desafiar Washington e ajudar a obter um
controle sobre o poder no Brasil. A CIA emprega ex-policiais
brasileiros demitidos de seus cargos por várias razões, para fazer o
trabalho de campo como a vigilância, as invasões a apartamentos, roubos
de dados de computador, e chantagem. Na maioria dos casos, estes são os
indivíduos com tendências ultradireitistas que consideram Serra como seu
candidato. Ministérios do Brasil, comunidades de inteligência e
complexo militar-industrial estão fortemente infiltradas por agentes dos
EUA. A embaixada dos EUA e do pessoal do consulado no Brasil inclui
cerca de 40 dentre a CIA, DEA, FBI, agentes de inteligência e do
exército, e têm planos para abrir dez novos consulados nas principais
cidades do Brasil, como Manaus, na Amazônia.
“Embora o Departamento de Estado dos EUA esteja empenhado em reduzir o
tamanho da representação diplomática no mundo, em um esforço para
cortar despesas orçamentais, o Brasil continua sendo uma exceção à
regra. O país tem um potencial para se estabelecer como uma força
contrária na geopolítica para os EUA no Hemisfério Ocidental dentro dos
próximos 15 a 20 anos e as administrações dos EUA – tanto republicanos
quanto democratas – estão preocupados com a tarefa de impedi-la de
assumir o papel”.
Tradução: CdB