O verdadeiro anti-semitismo (título original)
Por Abdel Latif Hasan Abdel Latif, palestino, médico
Anti-semitismo é um termo inexato para descrever a perseguição sofrida por judeus na Europa, em especial durante o século XIX.
O termo é inexato porque a maioria dos judeus na Europa são
descendentes de convertidos aos judaísmo no século IX e X. e
principalmente dos khazares.
Os Khazares constituíam um império
de tribos turcas na Ásia central e Rússia, que adotou o judaísmo como
religião oficial do império, dando origem à população judaica na Europa
oriental, em especial Rússia e Polônia.
A perseguição contra judeus na Europa foi motivada por questões religiosas, políticas e sobretudo econômicas.
A situação atual modificou-se de forma radical.
Os
judeus gozam de situação privilegiada em termos econômicos, culturais e
políticos. Não sofrem restrições de acesso a postos importantes e
cobiçados.
Hoje, são os palestinos, árabes e
muçulmanos, as grandes vítimas da perseguição, discriminação e massacres
nas mãos dos novos anti-semitas – os “sionistas” e simpatizantes.
Enquanto
muitos estudiosos questionam a origem semita dos atuais judeus, não há
dúvida alguma de que os árabes (gênero) e os palestinos (espécie) são
povos semitas, que nunca abandonaram sua terra, muito menos sua
história na região.
O Estado sionista não apenas
ocupou a Palestina Histórica e expulsou a maioria do seu povo desde
1948, mas discrimina os palestinos que continuam vivendo em suas casas e
terras no que é hoje conhecido como Israel.
Exemplo
disso é uma declaração recente feita por centenas de rabinos
israelenses. O “decreto” religioso proíbe aluguel ou venda de casas
para cidadãos árabes que vivem em Israel e ameaça aqueles que violarem
essa ordem de serem isolados “excomungados” e punidos.
Segundo
a bula religiosa, “qualquer um que venda ou alugue casa para árabes
causa grande prejuízo aos judeus, uma vez que os goym tem estilo de vida
diferente do nosso e o objetivo deles é nos prejudicar sempre”.
Até hoje, mais de trezentos rabinos influentes em Israel assinaram o decreto.
O
chefe do movimento, rabino Shmuel Eliahu, da cidade de Safad, é
conhecido por suas declarações e posições racistas contra a minoria
palestina em Israel.
O que causou o movimento do
rabino é a presença de alguns alunos árabes, que estudam em uma
faculdade local e são vítimas de agressões racistas diárias por parte
da comunidade judaica da cidade.
A solução encontrada pelos religiosos judeus é proibir os árabes de morar na cidade.
Vale lembrar que Safad é uma cidade palestina, construída pelos
cananitas, há três mil anos e seu nome em aramaico significa Fortaleza.
Situa-se no litoral norte da Galiléia.
No
século XVI, um pequeno grupo de judeus religiosos, fugindo da
perseguição na Espanha e em Portugal, após a expulsão dos árabes da
Andaluzia, instalou-se na cidade. Eles viviam em harmonia e paz com os
árabes-palestinos da cidade até o início do século XX.
A
chegada dos novos imigrantes sionistas, com a intenção de expulsar os
nativos e criar um Estado exclusivo para os judeus em toda Palestina,
deu início a um novo capítulo na História da cidade e da região.
Safad foi ocupada no início de maio de 1948 por forças militares isarelenses, poucos dias antes da criação do Estado judeu.
Sua
população árabe-palestina foi expulsa e suas casas foram destruídas. A
população de várias aldeias circunvizinhas foi massacrada, como por
exemplo, as aldeias de Saasa, Ein Zeitun e várias outras localidades.
Nas
ruínas dessas aldeias, os sionistas construíram fazendas para os
imigrantes judeus recém-chegados, parques nacionais ou simplesmente
deixaram a terra abandonada.
Safad, hoje, é uma
cidade totalmente judaica. Os árabes nativos da região não apenas foram
expulsos e proibidos de retornar a suas terras, mas são proibidos de
comprar ou alugar casas e terras na cidade.
Para
os religiosos judeus, a proibição baseia-se no Torah. Dizem que no
Torah está escrito que “Deus deu a terra de Israel ao povo de Israel. O
mundo é tão grande e Israel tão pequena, mas todos a cobiçam. Isso é
injusto”. São as palavras do rabino Yusef Sheinin, um dos líderes do
movimento.
A “justiça” desse rabino é estranha.
Ele prega não apenas expulsar um povo de sua pátria, mas discriminar a
minoria desse povo que ainda vive na sua terra.
O
que o mundo não deve aceitar e permitir é uma “justiça” desse naipe,
que ainda usurpa o nome de Deus para encobrir práticas de ódio.
Outro
rabino do assentamento Beit Il, dentro dos territórios palestinos
ocupados desde 1967, líder do movimento Gush Emunin, Shlomo Aviner,
declarou que “os árabes são 25% dos cidadãos de Israel e não devemos
permitir que criem raízes aqui”.
Os palestinos
não precisam criar raízes na terra, porque suas raízes são a própria
terra. A cidade de Safad é exemplo disso: uma cidade cananita milenar,
com nome aramaico (Aram = Síria) e alma árabe, onde viviam antes da
invasão dos sionistas, muçulmanos e cristãos e judeus, em um mesmo
espaço, com respeito e harmonia.
Os sionistas
transformaram Safad em um gueto. Colonos, que enfrentam dificuldades em
criar laços com a terra e os povos onde vivem , falando de raízes, é
pura hipocrisia.
A bula dos rabinos de Israel
mostra a crise que uma sociedade racista e colonialista enfrenta para se
afirmar e auto-definir. O racismo, discriminação, expansionismo e
militarismo são instrumentos indispensáveis não apenas para construir
essas comunidades coloniais, como também para mantê-las.
A
discussão sobre o decreto religioso envolveu vários setores da
sociedade israelense: religiosos e seculares, da esquerda e da direita.
Os rabinos ditos moderados emitiram opinião que se mostrou tão
racista quanto à dos extremistas.
Um dos
rabinos considerados moderados, Haim Drucman, tentou amenizar os efeitos
das declarações dos rabinos favoráveis aos pogroms contra os palestinos
dentro de Israel.
Segundo Drucman, “é
necessário diferenciar entre árabes leais ao Estado Judeu e árabes não
confiáveis”. “Os primeiros devem ter direitos e devem ser tratados de
forma diferente, mas os outros devem ser expulsos”. O rabino não
explicou como ser leal a um Estado, que exclui e se define como não
seu, exclusivo de outro grupo.
A minoria
árabe-palestina do Estado judeu (25%) é considerada uma ameaça, “a bomba
demográfica” e a única solução, segundo muitos políticos sionistas é a
expulsão dos palestinos.
Israel não é Estado de
todos os seus cidadãos, como qualquer outro Estado normal do mundo, mas
Estado de uma parcela da população, cidadãos judeus. Os árabes em
Israel são cidadãos de terceira categoria, tratados como estrangeiros na
sua própria terra, e temem a toda hora serem expulsos de suas casas.
O
que Israel quer de fato é a redefinição de conceitos humanos básicos,
como liberdade, direitos humanos, cidadania, igualdade e fraternidade.
A
ideologia sionista pode ser definida como nazi-sionista, uma vez que
baseia-se nos mesmos fundamentos nazistas da pureza racial e mito da
supremacia e separação total entre grupos e etnias diferentes. O
decreto do rabinato é irmão das leis de Nuremberg.
Em
um artigo publicado no jornal Israel Hoje, em 13/12/2010, a jornalista
Amona Alon, sugeriu que é obrigação de Israel mostrar ao mundo que a
desigualdade não é discriminação, mas apenas reflexo de diferenças entre
povos diferentes. Os brancos da África do Sul não foram tão longe.
Segundo
a jornalista, as medidas tomadas por Israel, para forçar seu caráter
de exclusividade judaica, são necessárias e justificáveis, mesmo
contrariando os ideais liberais. O que a jornalista sugere é que os
judeus em Israel tem direitos que os não judeus não podem ter. Fim da
isonomia. Sua lógica é distorcida, racista, retrógrada e oportunistas,
já que certamente se qualquer outro Estado tomasse essas medidas
discriminatórias contra os seus cidadãos judeus, seria acusado de
crime, racismo, perseguição anti-semita.
Em resumo, a lógica israelense se funda nas seguintes asserções:
1º Tenho direito de ser racista e o mundo deve aceitar isso, porque é a maneira da minha auto-afirmação;
2º
É direito meu praticar a discriminação contra os árabes cidadãos de
Israel, porque é a única forma de manter o caráter de exclusividade
judaica do Estado.
3º É meu direito viver em
guerra permanente, já que é a garantia da minha existência, porque a
paz verdadeira é justa e isso representa ameaça a meus privilégios.
4ª
Matar e causar sofrimento é a única maneira encontrada por Israel para
sobreviver, já que precisa subjugar a população nativa, para manter seus
privilégios.
Isso não é lógica, isso é patológico! Essas anomalias e taras ameaçam o mundo!