sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Incenso e Mirra: Resinas Preciosas

Angelo C. Pinto e Valdir F. Veiga Jr
Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Tecnologia, Bloco A
Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, 21945-970- Brasil

A propagação e o conhecimento científico têm estreita relação com a frequência de citação que é realizada na literatura. Algumas destas citações nos acompanham há milênios e estão localizadas em textos tão antigos que remontam ao início da história escrita e nos ajudam a entendê-la.

Entre algumas das mais antigas citações de produtos naturais, duas resinas merecem especial destaque, a mirra e o incenso.

Resinas são secreções sólidas ou semi-sólidas produzidas por plantas e árvores. As resinas verdadeiras são solúveis em solventes orgânicos e as gomo-resinas parcialmente solúveis em qualquer tipo de solvente1. Na antiguidade, as resinas eram coletadas de árvores que cresciam na Bacia Ocidental do Mediterrêneo, enquanto as gomo-resinas eram colhidas de árvores no sul da Península da Arábia e na Somália.

Incenso e mirra estão entre os produtos mais antigos comercializados pelo homem. Foram dois dos três presentes ofertados pelos três reis magos a Maria quando Jesus Cristo nasceu em Belém da Judéia.

Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para adorá-lo."

Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes e, com ele, toda Jerusalém.2

"...então convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer."

Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim esta escrito por intermédio do profeta:

"E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá. Porque de ti sairá o guia que há de apascentar o meu povo, Israel."

Com isto Herodes, tendo chamado secretamente os magos inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera.

E, enviando-os a Belém, disse-lhes: "Ides informar-vos cuidadosamente a respeito do menino, e, que quando o tiverdes encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-lo."

Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou onde estava o mesmo.

E vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo.

Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros,entregaram-lhes suas ofertas: ouro, incenso e mirra.

Sendo por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho à sua terra."3

A palavra Incenso em português refere-se tanto a resina natural, extraída principalmente de plantas das famílias Burseracereae, Estiracaceae e Anacardiaceae,como as preparações nas quais são adicionadas essências às resinas naturais para aumentar o aroma exalado durante a queima.

Incenso ou Olíbano4,5 é uma resina extraída por incisão do tronco de árvores da família Burseraceae, que se recolhe do tronco depois que a resina seca e endurece. O incenso genuíno era obtido de plantas do gênero Boswellia, que cresciam nas montanhas do sul da Arábia e da Abíssinia (atual Etiópia). Durante muito tempo sua origem foi desconhecida, e depois acreditou-se que viesse da Índia.

O comércio do incenso era sagrado, cheio de riscos e de lendas, e seu uso perde-se na noite do tempo. Havia a lenda de que cada árvore de olíbano- Boswellia serrata- era guardada por bandos de pequenas serpentes aladas,que só podiam ser afastadas das árvores com a fumaça produzida pela queima da resina do estoraque6. Se o incenso fosse colhido por um homem que tivesse tido contato com a esposa ou a amante durante uma fase lunar, torna-se-ia acre ou rançoso.

Em Alexandria o incenso era tão valioso que os escravos dos comerciantes que o colhiam eram obrigados a trabalharem nus, com exceção de uma pequena tanga, para não o roubarem, e reis pagavam por suas esposas favoritas seus pesos em incenso. O incenso era queimado pela maior parte dos povos orientais em honra de suas divindades, e os primeiros cristãos o empregavam para purificar o ar dos lugares subterrâneos onde celebravam suas cerimônias religiosas. No tempo do feudalismo, o "direito de incenso" era o que tinha o senhor de ser incensado durante as cerimônias como são os eclesiásticos no altar-mor das igrejas.

As primeiras evidências arqueológicas da queima de incenso datam dos primeiros reinados do Antigo Império Egípicio onde foram encontrados queimadores de incenso em formato de colheres de cabos longos. Os fabricantes devem ter usado um grande número de ingredientes de grande valor comercial na preparação de incenso. No entanto, nenhum conhecimento químico se tinha dessas resinas. Recentemente, um grupo de cientistas ingleses identificou por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas e por técnicas de pirólise os ácidos a e b-boswélico e seus derivados acetilados em amostras amorfas de incenso que datam aproximadamente de 400 a 500 DC, que foram coletadas durante escavações na adega de uma casa, na região fronteiriça a Qasr Ibrim, no extremo sul do Egito4.

Estes ácidos triterpênicos são os principais constituintes químicos das gomo resinas aromáticas de espécies do gênero Boswellia5. Nas mesmas escavações foram encontradas resinas ricas em diterpenos ácidos tricíclicos, como o ácido isopimárico, abiético e di-hidroabiético, caracteristícos de resinas da família Pinaceae.

Esta é a primeira vez que resinas ricas em triterpenos e ricas em diterpenos são encontradas na mesma localidade. Como o gênero Boswellia não cresce próximo a Qasr Ibrim, sendo encontrado principalmente no norte da Somália e no sul da Península da Arábia, o incenso deveria ser importado da região do Médio Nilo. Como as espécies de Pinaceae também não crescem na região de Qasr Ibrim, a resina destas árvores também era importada. O principal período de comércio foi o grego-romano, quando o incenso era transportado por navios vindos do sul da Arábia e possivelmente em caravanas por terra.

A descoberta de amostras semelhantes dos dois tipos de resina pode indicar que estas eram usadas em cerimônias religiosas. No fim do império romano o incenso deveria vir da África pelo mar Vermelho. A chegada da cristandade no Mediterrâneo e no Egito aparentemente reduziu sua demanda. Isto coincide com a data arqueológica do incenso encontrado em Qasr Ibrim.

Da mirra obtida de Commiphora molmol foram identificados os sesquiterpenos 1,3-dieno furoeudesmano, curzareno e furodieno, sendo o primeiro o mais abundante7. O 1,3-dieno furoeudesmano e o curzareno apresentaram atividade analgésica que é bloqueada pelo naloxona. Isto pode explicar porque a mirra era usada antigamente como analgésico, provavelmente substituída pelos derivados do ópio.

Para ler mais sobre o assunto:
1- Langenheim, J. H., American Scientist, 1990, 78, 16.
2- Bíblia Sagrada, Evangelho de Mateus, 3.
3- Bíblia Sagrada, Evangelhos, 2-3.
4- Evershed, R. P., et al, Nature, 1997, 390, 687.
5- Hairfield, E. M., Hairfield Jr., H. H., McNair, H. M., Journal of. Chromatography Science, 1989, 27, 127.
6- Estoraque - Bálsamo extraído da resina produzida por arbustos da família das Estiráceas.
7- Menichetti, S., et al, Nature, 1996, 379, 29.
8- http://www.pe.net/~genetrix/eohistory.htm, consultado em agosto de 1998.
9- Ácidos boswélicos no projeto "Molecule of the Month"
A gravura é de autoria de Antonio Poteiro de Natal (1984). Óleo sobre tela - 100x120 cm (acervo CEF).

Dinah Washington - The complete Mercury vol. 1

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Dinah Washington - The complete Mercury vol. 1 @ 320 - CD 1

01. Embraceable You.mp3
02. I Can't Get Started With You.mp3
03. When a Woman Loves a Man.mp3
04. Joy Juice.mp3
05. Oo Wee Walkie Talkie.mp3
06. The Man I Love.mp3
07. You Don't Want Me Then.mp3
08. A Slick Chick (On The Mellow Side).mp3
09. A Slick Chick (On The Mellow Side).mp3
10. Postman Blues.mp3
11. Postman Blues.mp3
12. That's Why A Woman Loves a Heel.mp3
13. Mean and Evil Blues.mp3
14. Stairway to the Stars.mp3
15. I Want to Be Loved.mp3
16. You Satisfy.mp3
17. Fool That I Am.mp3
18. There's Got to Be a Change.mp3
19. Mean and Evil Blues.mp3
20. Since I Feel For You.mp3
21. West Side Baby.mp3
22. You Can Depend on Me.mp3
23. Early In The Morning.mp3

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Dinah Washington - The complete Mercury vol. 1 @ 320 - CD 2

01. I'm Afraid of You.mp3
02. I Love You, Yes I Do.mp3
03. Don't Come Knockin' at My Door.mp3
04. I Wish I Knew the Name of the Boy.mp3
05. No More Lonely Gal Blues.mp3
06. Walkin' and Talkin'.mp3
07. Ain't Misbehavin'.mp3
08. What Can I Say After I'm Sorry.mp3
09. Tell Me So.mp3
10. I Can't Face the Music.mp3
11. Pete.mp3
12. Am I Asking Too Much.mp3
13. I'm Getting Old Before My Time.mp3
14. I'm Getting Old Before My Time.mp3
15. Record Ban Blues.mp3
16. Resolution Blues.mp3
17. I Want to Cry.mp3
18. Long John Blues.mp3
19. In The Rain.mp3
20. I Sould My Heart to the Junkman.mp3

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Dinah Washington - The complete Mercury vol. 1 @ 320 - CD 3

01. I'll Wait.mp3
02. It's Too Soon to Know.mp3
03. Why Can't You Behave.mp3
04. It's Funny.mp3
05. Laughing Boy.mp3
06. Laughing Boy.mp3
07. Am I Really Sorry.mp3
08. How Deep Is The Ocean.mp3
09. New York, Chicago & Los Angeles.mp3
10. Give Me Back My Tears.mp3
11. Good Daddy Blues.mp3
12. Good Daddy Blues.mp3
13. Baby Get Lost.mp3
14. Baby Get Lost.mp3
15. I Only Know.mp3
16. Drummer Man.mp3
17. Drummer Man.mp3
18. I Challenge Your Kiss.mp3
19. Fast Movin' Mama.mp3
20. Juice Head Man of Mine.mp3
21. Shuckin' and Jivin'.mp3
22. Richest Guy in the Graveyard.mp3
23. Richest Guy in the Graveyard.mp3

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RECUPERAÇÃO DE CDs ARRANHADOS

Post.: Gabriel Torres

Todo usuário alguma vez na vida já se deparou com o problema de ter um CD arranhado. No caso de CDs de dados (CD-ROM), o CD não é lido corretamente pela unidade, dando erro de leitura. Já no caso de CDs de áudio, o CD "pula" quando colocamos para tocar.

A primeira providência ao encontrar um CD dando erro de leitura é limpá-lo, para ver se não é uma sujeira que está em sua superfície que está impedindo a sua leitura. Você pode inclusive lavar o CD suavemente com um pouco de detergente, usando os dedos da mão para limpar o CD (não use esponja, pois a esponja pode arranhar o CD). Se continuar dando erro, experimente ler ou tocar o CD em outra unidade. Se em outra unidade (ou em outro aparelho de som, no caso do CD de áudio) o CD estiver apresentando o mesmo sintoma (dando erro de leitura ou pulando, no caso de CDs de áudio), então significa que ele está arranhado.

Olhando contra a luz a superfície de gravação (o lado oposto ao do rótulo) de um CD dando esse tipo de problema, você conseguirá facilmente identificar um ou mais arranhões existentes. Os dados de um CD estão gravados em uma camada metálica dentro dele, camada essa que é prateada nos CDs comerciais e normalmente dourada nos CDs-R. Essa camada metálica é envolvida por uma camada plástica transparente (policarbonato), que tem justamente a função de proteger a camada metálica do CD e permitir que um rótulo seja impresso no lado que não é usado para a leitura.

A unidade de CD-ROM ou o CD player utilizam um feixe laser para ler a camada metálica. Esse feixe laser atravessa a camada plástica transparente e efetua a leitura. Se a camada plástica estiver arranhada, o feixe não consegue ultrapassá-la, dando erro de leitura ou "pulando" a música. Ou seja, os dados a serem lidos ainda estão dentro do CD, o problema é em sua camada plástica.

Como o conteúdo do CD está preservado, é possível recuperar um CD arranhado fazendo um polimento da sua superfície plástica. Se após os procedimentos de limpeza que sugerimos acima o CD continuar dando erro de leitura, basta você polir a superfície do CD com pasta de dentes. Isso mesmo, pasta de dentes. Funciona que é uma beleza e você não irá gastar uma fortuna comprando kits de limpeza profissionais. O polimento deverá ser feito usando um chumaço de algodão sobre os arranhões. Esfregue suavemente o chumaço de algodão com a pasta de dentes até os arranhões sumirem ou então você perceber que eles já saíram ao máximo. Pode ser que a pasta de dente crie novos arranhões, mas esses serão superficiais que sairão facilmente depois. Após ter removido os arranhões, limpe o CD na água.

Se ainda existirem arranhões que a pasta de dentes não removeu, use um polidor de metais (Brasso), da mesma maneira descrita. Por fim, passe vaselina na superfície do CD, bem suavemente (não use força), no sentido de dentro para fora.

O passo final é testar o CD. Se ele passar a funcionar, maravilha. Caso contrário, repita o procedimento descrito em nossa coluna de hoje, tentando localizar visualmente o arranhão que está causando o erro e concentrando seu polimento nesse arranhão.

AMSTERDAM GUITAR TRIO

Antonio Vivaldi Le Quattro Stagioni [ 1994]

Tracks

La Primavera
Spring RV 269
Concerto nr. 1 in E major
1. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Spring: I. Allegro
2. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Spring: II. Largo
3. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Spring: III. Allegro

L'Estate
Summer RV 315
Concerto nr. 2 in G minor
4. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Summer I: Allegro Non Molto
5. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Summer: II. Adagio
6. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Summer: III. Tempo Impetuoso D'estate

L'Autunno
Autumn RV 293
Concerto nr. 3 in F major
7. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Autumn: I. Allegro (Arr. G major)
8. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Autumn: II. Adagio (Arr. G minor)
9. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Autumn: III. Allegro (Arr. G major)

L'Inverno
Winter RV 297
Concerto nr. 4 in F minor
10. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Winter I: Allegro Non Molto (Arr. E minor)
11. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Winter: II. Largo (Arr. E minor)
12. The Four Seasons, Op.8, Nos. 1-4: Winter: III. Allegro (Arr. E minor)

Amsterdam Guitar Trio :
Helenus de Rijke, Johan Dorrestein, Olga Franssen

Créditos:JimiHendrix

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A saga continua...


quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Tim Maia, Cassiano & Hyldon - Velhos Camaradas 2 (2001)




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Maria Creuza - Eu Disse Adeus (1973)




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A literatura que vem da Ásia

Que o leitor mais exigente não se engane: há, em tais best-sellers, algo que cativa e que aparece justificado num fazer literário que, não sendo fruto da mente de gênios da literatura, ainda assim, tem o seu lugar.

Isa Fonseca - LeMonde-Br

O cinema asiático tem estado cada vez mais presente em nossas telas, permitindo o acesso a uma cultura que não a nossa. Estamos também vivendo, ultimamente, uma fase de abundância de obras nas livrarias, especialmente romances, que relatam os pormenores quanto aos valores dessa cultura, antes tão obscuros para nós que vivemos no ocidente. Principalmente em foco, a questão da mulher e a evidente opressão na sociedade patriarcal por onde transitam.

O caçador de pipas (Editora Nova Fronteira), best-seller de Khaled Hosseini, vem nos dar a justa medida desse fenômeno, por assim dizer, literário, que vem suprir nossa curiosidade quanto aos costumes orientais. Excetuando-se os deslizes de tradução – como o problema de declinação de alguns tempos verbais, muito provavelmente ocasionados pela própria dificuldade que as transposições de linguagem oferecem (mas que poderia ser resolvida com uma adequada revisão do português), – a narrativa flui de maneira segura e precisa. Como a grande maioria dos best-sellers, não é uma leitura para os muito exigentes, que prefeririam ter em mãos, muito provavelmente, uma obra do indiano Naipaul, ganhador do Booker Prize na década de 70 e do Nobel, mais recentemente, em 2001.

Em seu segundo romance, A cidade do sol (Editora Nova Fronteira) – originalmente A thousand splendid suns, que, de acordo com o contexto da obra, parece fazer mais sentido e soa mais poético –, Khaled Hosseini permanece com seu estilo narrativo fluente e sem grandes surpresas (nenhuma inovação estilística), oferecendo-nos um recorte mais detalhado de como é o tratamento dado às mulheres no Afeganistão. E, novamente, os problemas com os tempos verbais se repetem, ocasionando um certo desconforto ao leitor.

Macetes do fazer literário

Uma questão bastante próxima — e que aparece, também, consecutivamente na obra da autora que citaremos a seguir —, é o uso inadequado do termo "agora", no lugar de "então", e mesmo a demarcação do tempo, quando se coloca "hoje...". Como novos acontecimentos vêm a seguir, os termos "agora" e "hoje", bastante determinados, acabam por não fazer sentido em meio a uma ação que o autor julga presente. E tais termos, colocados no momento, no calor da escritura da história, dão a entender que há um esquecimento ou uma ignorância da lógica própria do fio narrativo (que são os novos episódios que virão). Imaturidade do escritor quanto ao fazer literário? É bem possível, porque tais termos soam deslocados para o leitor, que vem seguindo o curso de uma série de eventos que não tiveram ainda o seu término — ou seja, há fatos que ainda estão por vir, fatos estes que se sucedem descritivamente, como é próprio de tais romances, de narrativa simples e, de certo modo, previsível —, causando deste modo um estranhamento ao leitor mais atento.

Eis um exemplo: a certa altura, diz o narrador de A cidade do sol: "Agora, naqueles olhos, via como tinha sido tola". E continua: "Tinha sido uma esposa infiel? Foi a pergunta que se fez". No contexto de uma narrativa inventiva e vertiginosa, como é a prosa de um João Gilberto Noll, por exemplo, em um texto como em seu romance Lorde, em que fatos e memória se misturam e tempos narrativos também, tais termos, lançados aqui e ali, fazem sentido — pela própria concepção de corpo do texto. Mas nestas obras que citamos acima e na que será citada a seguir, não. Uma simples troca de "agora", por "então" ou "naquele momento", resolveria a questão e traria menos desconforto ao leitor.

Mas estes são pequenos, por assim dizer, macetes do fazer literário, que são obtidos com o tempo e a maturidade de quem faz literatura, e que está atento ao o que é o fazer literário. Ou seja, mesmo nas narrativas mais simples, é preciso que o talento, fruto também da maturidade e experiência do autor, transpareça, esteja presente; para não embaraçar e confundir o leitor.

Os fios da fortuna

Em outro best-seller mais recente, Os fios da fortuna (Editora Nova Fronteira), de Anita Amirrezvani, iraniana criada na Califórnia, a história se passa no século 17, mas ao final da obra a escritora deixa claro que muita coisa ainda não mudou na região do Irã, antiga Pérsia, como o contrato de casamento temporário, o sigheh, que permite ao marido recusar ou prolongar a validade de tal contrato, a seu bel-prazer. Outros tipos de opressão vão sendo relatados no romance, como as humilhações por que passa a mulher que não pode ter filhos ou que, ao perder o marido, enfrenta dificuldades quanto à sobrevivência. Este, aliás, é o motivo que sustenta toda a narrativa da trama, pois mãe e filha adolescente são obrigadas a viverem sob o teto de parentes, ao perderem o chefe da casa, mas tratadas como escravas e sem o direito de decidirem sobre seus destinos.

Ao longo da obra, vê-se que não basta a mulher ser talentosa para ter direito a um trabalho que dê visibilidade a este predicado, o qual poderia ser o suporte de um sustento. Mãe e filha trabalham arduamente em tarefas domésticas em seu novo lar e já na metrópole, sendo que a garota é comprovadamente uma boa (que se tornará ótima) tecelã, desde os tempos em que vivia em sua aldeia. Mesmo ainda tendo muito a aprender e se esforçando para tal, lutar por um espaço na sociedade objetivando reconhecimento, na maneira como essa é configurada, revela-se praticamente impossível. E é por este caminho que o romance mais nos atrai, ou seja, a capacidade de luta e recuperação das quedas por que passa a personagem principal.

Que o leitor não espere do romance, como nos anteriores citados, algum arroubo de criatividade, ou escrita inventiva. Mas Os fios da fortuna não chega a ser uma obra medíocre, muito pelo contrário. A autora insere, de maneira habilidosa, contos folclóricos e histórias da tradição oral em meio à narrativa que é o fio condutor da trama – recurso que dá certa originalidade ao corpo do texto. No mais, Anita Amirrezvani sabe conduzir o leitor, instigando-o, como aliás é um dos ensinamentos proposto por muitas destas histórias, como encontramos em As mil e uma noites.

Mulheres sem voz

Os fios da fortuna mostra-se, portanto, uma obra agradável de ser lida e bastante reveladora dos costumes orientais. E, quanto a estes, é interessante notar os assuntos referentes à culinária, aos trajes típicos, ao mobiliário e à arquitetura, aos detalhes da feitura das tecelagens (cor, motivos, estrutura), assim como às particularidades dos espaços públicos (aliás, são estas referências que dão sentido a tais obras asiáticas e que se tornam best-sellers aqui). Mas o mais tocante é perceber a fragilidade da mulher em tal contexto, seus sentimentos de humilhação e rebaixamento, o desprezo que lhes lançam a sociedade e parentes quando são consideradas vítimas da “má sorte”. E esta tal má sorte, no tocante às mulheres, é algo que parece rondar suas vidas o tempo todo, pois de algum modo sempre aparecem como mal-ajustadas a uma cultura que privilegia os valores ditados pelo machismo. Triste saber que até hoje, ainda, muitos de tais costumes prevalecem.

Que o leitor mais exigente não se engane: há, em tais best-sellers, algo que cativa e que aparece justificado num fazer literário que, não sendo fruto da mente de gênios da literatura, ainda assim, tem o seu lugar e, a julgar pelo sucesso de tais romances, ao longo destes últimos anos, os seus fiéis leitores. Se tais obras, futuramente, serão descartadas e alijadas, ao menos fizeram sentido, ao desvelar, em forma de literatura, os costumes orientais. Nada desprezível nesse tempo em que vivemos – de ditaduras, massacres, refugiados e imagens televisivas misteriosas de mulheres guarnecidas por seus véus, suas burcas. Ao menos podemos perceber, um pouco, o que passa em suas mentes de oprimidas, de mulheres sem voz e de direitos escassos.

Sexo entre os mais velhos

por Drauzio Varella

“Para mim o sexo diminuiu, mas não morreu” – ouvi de um senhor de 85 anos. Na época, recém-formado, fiquei surpreso com a afirmação. Sexo na velhice era assunto proibido.

Ainda hoje, pela falta de inquéritos epidemiológicos, são precários os conhecimentos médicos a respeito da sexualidade depois dos 60 anos.

Daí a importância do estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Chicago, publicado no The New England Journal of Medicine, a revista médica de maior circulação.

No período de julho de 2005 a março de 2006, foram entrevistadas 3.005 pessoas de 57 a 85 anos, representativas de diferentes grupos étnicos e classes sociais, distribuídas por todo o território dos Estados Unidos.

Foram colhidos dados sobre condições de saúde, estado civil, as três parcerias sexuais mais recentes dos últimos cinco anos, práticas sexuais e sobre as dificuldades que prejudicam a atividade sexual. Considerou-se sexualmente ativo quem teve sexo com pelo menos uma pessoa, nos últimos 12 meses.

Atividade sexual foi definida como “qualquer atividade mutuamente voluntária que envolva contato sexual, com ou sem intercurso ou orgasmo”.

Os que viviam com alguém ou que se referiam a uma parceria “romântica, íntima ou sexual” foram classificados na categoria “casados ou outros relacionamentos íntimos”.

Os que negaram atividade sexual nos últimos três meses responderam um questionário em separado a respeito das possíveis explicações para o fato.

Como esperado, a probabilidade de preservar a atividade sexual diminuiu gradativamente com a idade. Nas mulheres a queda foi mais acentuada.

Homens que caracterizaram sua condição de saúde como excelente ou boa apresentaram probabilidade cinco vezes maior de preservar a vida sexual do que aqueles com saúde razoável ou pobre. Entre as mulheres essa probabilidade caiu para três vezes.

Em qualquer faixa etária as mulheres têm menos chance de estar casadas ou de ter “outras relações íntimas”. A diferença aumenta dramaticamente com a idade. Dos homens solitários, 22% estiveram sexualmente ativos no ano anterior; das mulheres solitárias, 4%

Entre mulheres e homens da mesma idade casados ou vivendo relacionamentos íntimos, o número de homens ativos foi maior. É possível que a explicação esteja na preferência masculina por parceiras mais jovens.

Dos que ainda mantinham atividade sexual na faixa de 75 a 85 anos, 54% relataram relações sexuais duas ou três vezes por mês, e 23% uma ou mais vezes por semana. Nesse grupo, 78% dos homens e 40% das mulheres viviam uma relação marital ou íntima.

No grupo de 57 a 64 anos, 62% dos homens e 52% das mulheres confessaram masturbar-se. Esses números caíram respectivamente para 28% e 16% nas pessoas de 75 a 85 anos.

Dos que ainda mantinham relacionamentos sexuais, 58% dos mais novos e 31% dos mais velhos haviam praticado sexo oral, no último ano.

Nos homens, as principais queixas de “problemas sexuais” foram: dificuldade de obter ereção (37%) e de mantê-la (90%), falta de interesse (28%); ejaculação precoce (28%), impossibilidade de atingir o orgasmo (20%). As dificuldades femininas foram: falta de interesse em sexo (43%), dificuldade de lubrificação (39%), impossibilidade de atingir o orgasmo (34%), ausência de prazer (23%) e dor à penetração (17%).

Tomaram medicações ou suplementos que prometem melhorar a performance 14% dos homens e 1% das mulheres.

Dos 1.198 homens e das 815 mulheres envolvidos em um relacionamento amoroso, apenas 3 homens e 5 mulheres se relacionavam com pessoas do mesmo sexo.

Curiosamente, a freqüência de relações sexuais dos participantes considerados ativos foi similar à dos adultos de 18 a 59 anos, encontrada no National Health and Social Life Survey, publicado em 1992, o único estudo sobre a sexualidade americana tão abrangente quanto o que acabamos de descrever.

Extrait de: CartaCapital



Onde está a notícia da moratória da pena de morte?

Mino Carta


Já disse que Putin mora longe e Chávez perto. Hoje faço questão de dizer que a cobertura internacional da mídia nativa consegue ser mais lamentável do que a nacional. Quer dizer, abaixo de zero. Ontem, por larga maioria, a Assembléia Geral da ONU aprovou a moratória da pena de morte em todo o mundo. Por 104 votos a favor, 54 contra e 29 abstenções. Trata-se de uma proposta formulada pela Itália e apoiada de saída pela União Européia, já faz meses. Entre os países que votaram contra, Singapura e Estados Unidos. O Brasil votou a favor. Esta manhã eu recebi a informação graças ao Corriere della Sera. Os jornalões silenciam. Devo acentuar que a lacuna é constante. A regra. Não basta ler veículos mal escritos, medíocres na análise, de obviedade lancinante, reacionarismo visceral e ausência abissal de imaginação e humor. Temos de engoli-los também pessimamente informados. A bem da sacrossanta verdade, não os leio, a não ser quando um amigo, ao tropeçar nas páginas dos jornalões, gargalha. Às vezes sinistramente: mergulhou em exemplos clamorosos de humorismo involuntário. Ocorre, porém, que esta manhã, depois de ler o Corriere, tive a certeza de que a notícia da moratória não figuraria no cardápio da mídia nativa. Quid demonstrandum est.