quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Cooperifa: leia o livro, veja o filme e ouça o disco

Série de obras artísticas celebra os saraus que ajudaram a construir o conceito de cultura periférica — e o mundo de iniciativas que está surgindo a partir deles. Trabalhos ressaltam opinião da jornalista Eliane Brum: "A Cooperifa é um abalo sísmico a partir de uma esquina de quebrada"

Eleilson Leite


O Sarau da Cooperifa, que acontece todas as quartas-feiras no Bar do Zé Batidão, Chácara Santana, periferia da Zona Sul de São Paulo, não pára de surpreender. Não bastasse a ousadia de sua existência e longevidade (comemora sete anos neste inverno), esses poetas acabam de ter sua história registrada em livro e filme documentário. Sergio Vaz, criador e criatura deste Sarau, lançou, no dia 20 de agosto, o livro Cooperifa – Antropofagia Periférica, dentro da Coleção Tramas Urbanas, da Editora Aeroplano, do Rio de Janeiro.

Já o filme, Povo Lindo, Povo Inteligente – O Sarau da Cooperifa, lançado no dia 1º de setembro, no Cinesesc, foi dirigido por Sergio Gagliardi e Maurício Falcão, numa produção da DGT Filmes. As duas obras somam-se ao CD Sarau da Cooperifa, lançado em 2006 pelo Itaú Cultural, que reproduziu em estúdio a magia da poesia declamada por 26 poetas cooperiféricos. Este CD, por sua vez, foi precedido pela coletânea Rastilho de Pólvora, lançada no finalzinho de 2005, com o apoio da mesma instituição. Esgotada há muito tempo, essa coletânea já está com os originais prontos para lançamento de um segundo volume.

Sergio Vaz escreveu um livro de memória, uma autobiografia poética. Ele parte de sua infância, a vida na periferia, a escola, futebol, os primeiros bailes, o trampo no bar de seu pai, o mesmo bar do Zé Batidão. Então, a adolescência inocente encontra-se com a adulto insurgente. Veja. Depois de serem despejados do Garajão, bar no Taboão da Serra onde o Sarau firmou-se nos dois primeiros anos, Vaz não teve dúvida: Zé Batidão. O atual proprietário do bar comprou o estabelecimento do pai do Sergio Vaz ainda na década de 1990, e lá o poeta fez alguns eventos no início de sua carreira literária, anterior à Cooperifa — inclusive o lançamento de seu terceiro livro, Pensamentos Vadios. O Zé acolheu os poetas e até viabilizou um transporte para a galera vir do Taboão. Não saíram mais de lá. Essa e outras histórias, contadas no livro, ganham imagem no filme.

Generoso, Sergio Vaz dá nome a todos e todas que fazem a história da Cooperifa. Não passavam de quinze, na primeira noite, ainda em Taboão da Serra. Já eram multidão quando o sarau aportou na periferia sul de São Paulo

Centrado na figura de Sergio Vaz, o livro não deixa de registrar a participação dos que estavam junto dele. Generoso que é, o poeta dá nome a todos e todas que fizeram e fazem a história da Cooperifa. Na primeira noite do recital de poesia, ele dá a escalação do time. Não passava de 15 pessoas. Quando o sarau aportou no Zé Batidão, a lista de nomes era infindável, e ocupa quase uma página do livro. Estão quase todos lá, segundo Vaz, que já não confia tanto na lembrança. O livro é saboroso. É daquelas obras que a gente lamenta quando chegam ao fim, como a de um amigo que nos fazia uma boa companhia e de repente se foi. Vaz escreve poesia em prosa. Para quem tem o prazer de conhecê-lo, é como se estivéssemos ouvindo tudo pessoalmente. Ele só não registra bem as datas deixando a mim, historiador de formação, um tanto aflito.

O documentário aborda o Sarau a partir do depoimento de alguns de seus freqüentadores. As câmeras partem do cotidiano de cada um, seja em suas casas, seja no trabalho; persegue o poeta até a Cooperifa e registra o êxtase que é, para um autor, declamar um poema diante de uma platéia sedenta, atenta e rigorosa. Cada poesia provoca uma avalanche de aplausos. Captadas com enorme sensibilidade, as imagens do filme Povo Lindo, Povo Inteligente revelam a fúria, a doçura, a alegria, o escárnio, a paixão e todos os sentimentos que afloram em quem declama e em quem ouve a poesia. É muito bonito.

Um desavisado ficaria surpreso ao ver qualquer dos protagonistas do filme declamandos poema num Sarau. Estão lá a Rose (musa da Cooperifa), falando de sua relação com a poesia da mesa do escritório onde trabalha como secretária. Ela, que no começo não se arriscava nos versos, foi se soltando e se envolveu tanto com a literatura que voltou a estudar. Rose relata com especial encanto o dia em que anunciou que ficaria afastada dos encontros poéticos, por causa das aulas. O Sarau da Cooperifa transforma vidas.

Assim como o filme, o livro do Vaz traz diversos poemas transcritos — dele e de muitos poetas. São obras impregnadas pelo objeto de observação: a poesia e a memória. A lembrança é um fio que não tem fim, um novelo perpétuo

Jairo Barbosa, taxista de profissão, hoje educador na Fundação Casa, também dá seu depoimento, no sentido da mudança de perspectiva que teve ao começar a freqüentar o Sarau. Já o "seu" Lourival, aposentado que fez 70 anos em 2008, conta o quanto se delicia com o ato de declamar sua poesia. Casulo é outra figura. O cara é funileiro, tem um fusca customizado, para usar um termo na moda, chega no sarau com uma leveza de espírito cativante e manda uma poema de crítica social contundente sem perder a ternura. É bola num canto e goleiro no outro; o povo vai ao delírio.

Assim como o filme, o livro do Vaz traz diversos poemas transcritos — dele e de muitos poetas. São obras documentais, porém impregnadas pelo objeto de observação: a poesia e a memória. A lembrança é um fio que não tem fim, um novelo perpétuo, uma história puxa a outra. Quando nos damos conta, estamos tão envolvidos que nos sentimos parte do lemos ou vemos. Sergio Vaz, Maurício Falcão e Sergio Gagliardi conseguiram o que queriam. Juntaram memória e literatura numa sinergia perfeita e envolvente.

É certo que nada supera a realidade. Portanto, leiam o livro, vejam o filme, ouçam o CD, mas não deixem de ir à Cooperifa. Lá a gente entende o que a jornalista Eliane Brum diz em mágicas palavras, no seu depoimento no livro do Sergio Vaz: “Não é sempre que a gente testemunha a história em curso, percebe o instante exato em que o mundo balança. A Cooperifa é isso, um abalo sísmico a partir de uma esquina de quebrada”. Não é sempre que um movimento cultural consegue a façanha de produzir tanto. E a Cooperifa é uma árvore frondosa de abundantes frutos. Muitos outros movimentos começaram a partir dela ou dela se serviram para se afirmarem.

A idéia contemporânea de cultura de periferia deve muito à Cooperifa. Felizmente isso está registrado, graças à generosidade de pessoas e instituições que se juntam ao movimento para fortalecer sua autonomia e não para se apropriar ou tutelar. Assim acontece com a DGT, Editora Aeroplano, Itaú Cultural, Sesc, Global Editora, Ação Educativa, Casa das Rosas, ASSAOC, prefeituras de Taboão da Serra e Suzano — entre outras instituições públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos. A Cooperifa, graças principalmente à liderança e capacidade de negociação de Sergio Vaz, consegue agregar apoiadores que se tornam parceiros, que depois se tornam amigos e que, enfim, se tornam parte do movimento.

A Cooperifa concede, desde 2005, um simpático prêmio no final do ano a todos os que contribuíram para uma periferia melhor. Quando a Ação Educativa recebeu pela primeira vez a homenagem, dissemos lá que os prêmios servem para distinguir as pessoas — ou seja, colocá-las em outro plano, acima dos demais. O Prêmio Cooperifa, não. Ele serve para colocar a gente no mesmo nível dos demais, fazendo parte de um grupo onde ninguém é mais que ninguém, uma família. E a família Cooperifa não para de crescer. O livro e filme que acabam de sair vão servir para agregar mais e mais gente e fortalecer ainda mais esse movimento. Preparem-se. Vem muito mais por aí. Sergio Vaz e sua trupe são muito abusados.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

INTERTEXTUALIDADE

No interior do instigante mundo das palavras



A compreensão da importância da linguagem verbal para o ser humano tornou-se ainda mais profunda com a descoberta de que, quando produzimos um texto, oral ou escrito, outras pessoas se manifestam através de nós, embora nem sempre tenhamos consciência disto. Isto acontece porque todo texto incorpora necessariamente outros textos já produzidos antes. É um fenômeno tão constante a presença de um texto em outro texto que ele, sozinho, sustenta uma área específica de pesquisas, o da intertextualidade. Nesta área, há um consenso na admissão de quando dizemos algo verbalmente “colocamos em cena”, algo já dito por outra pessoa, ainda que ela possa ser citada, com ou sem identificação, apenas para permitir a discordância dela.

O filósofo russo da linguagem Mikhail Bakhfin afirma: todo texto se constrói como um mosaico de citações. Ele acrescenta: “Todo texto é absorção e transformação de outro texto”.

Aquelas palavras que consideramos nossas, na verdade, estão entremeadas de palavras de outras pessoas.Com elas “fundimos a nossa própria voz”, diz Lucy Schimiti,numa monografia de mestrado em que ela estudou o tema “Memória e criação – a produção de intertextualidade” na obra do compositor e poeta Caetano Veloso.

No entanto, nunca há repetição pura, quando um texto é inserido em outro, lembra a própria Schimiti. O texto incorporado ganha nossas possibilidades de interpretação porque aparece num contexto dentro do qual se relaciona com outros textos. E este contexto novo, diferente do original, faz o texto incorporado dizer algo que antes não dizia. Os estudiosos de intertextualidade perceberam que na paráfrase – a re-escritura de um texto original com novas palavras sem modificação de seu sentido-, há um tipo de incorporação, no qual surge um efeito convergente do segundo texto, em relação do primeiro. Enquanto que na ironia – a imitação, na maioria das vezes, cômica, de um texto literário, na qual se emprega o recurso do deboche – se produz um texto parecido com o original, mas com sentido diferente. Nela, assim, surge um efeito divergente.


A grande questão colocada pela área da intertextualidade é a do momento em que, naquilo que dizemos verbalmente, ocorre com a incorporação de algo já dito por outra pessoa. A produção de um texto – sabemos – envolve aspectos fundamentais da nossa individualidade, pois, resulta de um processo complexo, composto de diversas fases, no qual o uso das palavras sobre determinado assunto só ocorre após uma etapa de experiências perceptivas ligadas àquele assunto e outra etapa, com algum tipo de reflexão sobre estas experiências.

Assim, diante das pesquisas realizadas pelos estudiosos da incorporação de um texto por outro, temos de nos perguntar: o que outras pessoas disseram afeta a percepção que temos de algo? Se afetar, esta influência em nosso modo de perceber se estende ao nosso modo de pensar sobre aquilo?É por isto que dizemos em nossos textos, o que outras pessoas já disseram antes?

E sobretudo, temos de nos perguntar: o quanto há das outras pessoas naquilo que somos:

Estas perguntas nos remetem diretamente para o interior do instigante Mundo das Palavras.



Texto de : Oswaldo Coimbra, jornalista, escritor, pesquisador, e professor de Expressão Verbal e Redação Jornalística. Autor de “O texto da Reportagem Impressa”(Editora Ática)

Pos-doutorado em Jornalismo na ECA/USP


Créditos: jimihendrixforever

Para Saber Mais Sobre Intertextualidade : CLICK


GENESIS

Official web site, click na foto!
Genesis-band-r08.jpg
photo:www.starpulse.com

Foxtrot [1972]


Inside





DOWNLOAD

by: retoko

Créditos: jimihendrixforever

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE ANTÔNIA - 1995

Antonia's Line, Marleen Gorris (1995)



Título no Brasil: A excêntrica família de Antônia
Título Original: Antonia's line
Diretor: Marleen Gorris
Roteirista: Marleen Gorris
País: Holanda, Bélgica, Reino Unido


Formato: avi
Áudio: holandês
Legendas: Português BR
Duração: 01:40
Tamanho: 652 MB
Partes: 7
Servidor: Rapidshare

http://rapidshare.de/files/39953168/excfamantonia_xvid.part1.rar.html
http://rapidshare.de/files/39953473/excfamantonia_xvid.part2.rar.html
http://rapidshare.de/files/39960426/excfamantonia_xvid.part3.rar.html
http://rapidshare.de/files/39961249/excfamantonia_xvid.part4.rar.html
http://rapidshare.de/files/39961659/excfamantonia_xvid.part5.rar.html
http://rapidshare.de/files/39961980/excfamantonia_xvid.part6.rar.html
http://rapidshare.de/files/39962187/excfamantonia_xvid.part7.rar.html

SINOPSE

Definido como uma celebração da vida e da morte, esta co-produção entre Holanda, Bélgica e Inglaterra ganhadora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro vai além ao contar a história de uma encantadora geração de mulheres. Comandada por Antonia, a saga familiar atravessa três gerações, falando de força, de beleza e de escolhas que desafiam o tempo. Nesse universo conhecemos curiosos personagens, como o filósofo pessimista, a netinha superdotada, a filha lésbica, a avó louca, o padre herege, a amiga que adora procriar, a vizinha que sofre abusos sexuais e os muitos amigos que são acolhidos por sua generosidade.


Elenco

Willeke van Ammelrooy ... Antonia
Els Dottermans ... Danielle
Dora van der Groen ... Allegonde
Veerle van Overloop ... Thérèse
Esther Vriesendorp ... Thérèse (13)
Carolien Spoor ... Thérèse (6)
Thyrza Ravesteijn ... Sarah
Mil Seghers ... Kromme Vinger (Crooked Finger)
Jan Decleir ... Boer Bas
Elsie de Brauw ... Lara
Reinout Bussemaker ... Simon
Marina de Graaf ... Deedee
Jan Steen ... Lippen Willem
Catherine ten Bruggencate ... Malle Madonna (Mad Madonna)
Paul Kooij ... Protestant







Prêmios:
Academia de Hollywood - Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira (concorrendo com o brasileiro "O Quatrilho")
Festival de Cinema da Holanda - Prêmio de Melhor Atriz (Willeke van Ammelrooy)
Festival de Cinema da Holanda - Prêmio de Melhor Direção
Festival de Cinema de Toronto - Prêmio Escolha Popular (Marleen Gorris)

Indicações:
Academia Britânica - Indicado ao Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira
Associação dos Críticos de Cinema, Argentina - Condor de Prata de Melhor Filme Estrangeiro
Festival de Cinema da Holanda - Indicado aos Prêmios de Melhor Direção e de Melhor Atriz (Willeke van Ammelrooy)
Festival Internacional de Valladolid - Prêmio Espiga de Ouro (Marleen Gorris)

Conselho vai apurar criminalização de movimentos sociais no RS

Conselho vai apurar criminalização de movimentos sociais no RS


Adital

A partir de hoje (09), uma Comissão Especial do Conselho de Defesa à Pessoa Humana, órgão ligado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, inicia seus trabalhos na apuração de "tentativas de criminalização de movimentos sociais, a partir de iniciativas do Ministério Público Estadual, decisões do Poder Judiciário Gaúcho e ações da Brigada Militar do Rio Grande do Sul". As atividades serão concentradas em Porto Alegre e Sarandi durante toda a próxima semana.

A Governadora Yeda Crusius receberá a Comissão Especial em seu gabinete na quinta feira (11/09), às 15h. A reunião servirá para que a comitiva possa conhecer qual a política estadual no trato com os Movimentos Sociais e se esta política respeita os Direitos Humanos. Além disso, audiências com entidades da sociedade civil, movimentos sociais e entidades ligada a fazendeiros do Rio Grande do Sul estão marcadas. A Procuradoria Geral de Justiça também receberá a Comissão para explicar uma ata do Ministério Público Estadual, de 03 de dezembro de 2007, em que pedia a "dissolução do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra"

O principal objetivo da Comissão é apontar soluções no sentido de garantir o respeito aos direitos civis e às liberdades públicas. Para o deputado Adão Pretto (PT/RS), integrante da comitiva, têm sido freqüentes ataques por parte do aparato do Estado gaúcho contra movimentos sociais, ferindo frontalmente com os direitos garantidos na Constituição e contra o Estado de Direito.

"Casos como o cerco de mais de 600 policiais ao Encontro Estadual do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST] do Rio Grande do Sul, a repressão truculenta à ação de denúncia das mulheres da Via Campesina que ocuparam uma fazenda da Stora Enso, ilegalmente instituída em faixa de fronteira, vistorias em acampamentos sem que se permitam o acompanhamento da imprensa e de parlamentares devem ser alvos de cuidado por parte destes representantes do Direito da Pessoa Humana, pois são casos que vão contra a democracia brasileira", afirma Pretto.

A Comissão Especial ainda se deslocará à Sarandi, onde visitarão acampamentos e assentamentos de camponeses que foram despejados de Coqueiros do Sul de forma violenta ainda no dia 17 de junho deste ano, de acordo com denúncias .

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Muriel Tabb - Olhos D'Água (2002)




download




Créditos: UmQueTenha
Agrotóxicos, alimentação e abelhas




Henrique Cortez

A segurança alimentar está ameaçada e a crise alimentar pode adquirir contornos ainda mais trágicos se a maciça morte de colônias inteiras de abelhas continuar no ritmo atual. Sem este pequeno inseto polinizador, os efeitos na produção agrícola podem ser devastadores.

Poucas pessoas sabem que as abelhas prestam serviços ambientais muito mais relevantes do que a mera produção de mel. As mais de 20 mil espécies de abelhas polinizam a floração de, pelo menos, 90 culturas, tais como maçãs, nozes, abacates, soja, aspargos, brócolos, aipo, abóbora, pepino, laranjas, limões, pêssegos, kiwi, cerejas, morangos, melões, milho etc.

Especialistas afirmam que cerca de um terço da dieta humana provém de uma planta polinizada por um inseto e as abelhas são responsáveis por 80% da polinização.

O Departamento de Agricultura dos EUA (United States Department of Agriculture, USDA) estima que a polinização pelas abelhas é equivalente a US$ 15 bilhões em serviços de produtividade agrícola.

O governo do Reino Unido, por exemplo, reconhece que as colméias - principalmente de 44 mil apicultores amadores - contribuem com cerca de R$ 498 milhões ao ano para a economia, com a polinização de frutas, legumes e grãos.

Segundo a Embrapa, devido à redução das fontes de alimento e locais de nidificação, ocupação intensiva das terras e uso de defensivos agrícolas, as populações de abelhas silvestres têm sido reduzidas drasticamente, colocando em risco todo o bioma em que vivem. Nas regiões tropicais, as abelhas sociais (Meliponina, Bombina e Apina) estão entre os visitantes florais mais abundantes.

No Brasil, as abelhas sem ferrão (Meliponina) são responsáveis pela polinização de 40% a 90% das espécies arbóreas; dessa forma, a preservação das matas nativas é dependente da preservação dessas espécies.

Nem todos os cientistas prevêem uma crise alimentar, observando que a morte em larga escala de abelhas já aconteceu antes. Ainda assim, este parece ser um caso particularmente alarmante, tanto pelo alto índice de letalidade, como pelo alcance global, independente de latitude, longitude e clima.

Nos EUA, os apicultores estimam perdas de um quarto das suas colônias, devido ao que os cientistas definem como "desordem de colapso da colônia" (Colony Collapse Disorder, CCD).

"Esta crise ameaça destruir a produção de culturas dependentes das abelhas para a polinização", disse, recentemente, o secretário de agricultura dos EUA, Mike Johanns, dando o tom das crescentes preocupações diante da ameaça.

Desde 2006, quando foi identificada, a CCD já matou mais de 1/3 das abelhas nos EUA e o índice continua aumentando, passando para 36% no período de setembro de 2007 a maio de 2008, contra 31% no mesmo período no ano anterior.

Pesquisadores ainda não identificaram a causa exata da CCD, mas muitos acreditam que pelo menos em parte esteja associada a pesticidas. Pesquisa da Universidade Penn State documentou mais de 70 pesticidas no pólen e nas abelhas. "Nós não sabemos se estes produtos químicos têm qualquer coisa relacionada com a desordem do colapso da colônia, mas são, definitivamente, fatores que impactam no repouso e nas fontes do alimento das abelhas", diz o Dr. James Frazier, que coordenou a pesquisa da Penn State. "Os inseticidas sozinhos não provaram que são a causa do CCD. Nós acreditamos que é uma combinação de uma variedade de fatores, incluindo possivelmente ácaros, vírus e pesticidas."

De acordo com o Agroinfo - O Fórum do Agronegócio Brasileiro - no texto ‘A importância da polinização’, "existem ainda culturas de grande valor econômico que, apesar de comprovadamente aumentarem seus níveis de produtividade quando adequadamente polinizadas, não têm se beneficiado dos serviços de polinização por desconhecimento dos produtores em geral. Muitos acreditam que a soja e o algodão, por exemplo, não precisam de polinização por insetos. Porém, estudos conduzidos no exterior, e os poucos realizados no Brasil, normalmente mostram aumentos de produtividade quando polinizadores bióticos visitam as flores: de 31,7% a 58,6% no número de vagens e 40,13% no peso da vagem; de 29,4% a 82,3% no número de sementes; 95,5% na viabilidade das sementes; e de 9% a 81% no peso das sementes. De forma semelhante, quando polinizado por abelhas, o algodão aumenta em 41% o número de casulos, produz de 35% a 40% mais algodão por casulo, de 26% a 43% mais pluma por área, de 5% a 6% mais sementes por casulo e apresenta um aumento de 9% a 14% no peso por casulo".

Independente da "desordem de colapso da colônia", já se sabe que novos pesticidas estão dizimando populações inteiras de insetos polinizadores, especialmente as abelhas (Alemanha proíbe oito pesticidas neonicotinóides em razão da morte maciça de abelhas ; Alemanha: Pesticidas da Bayer são acusados da morte em massa de abelhas ; Agência de Proteção Ambiental dos EUA é acusada de ocultar informações da toxidade de pesticidas nas abelhas ; Agrotóxico que combate praga da laranja está dizimando abelhas no interior de São Paulo).

A indústria de agrotóxicos tradicionalmente "culpa" os agricultores pelo uso abusivo ou descuidado, na tentativa de eximir-se de qualquer responsabilidade, inclusive pela contaminação dos agricultores e trabalhadores agrícolas. Mas as evidências são cada vez mais fortes no sentido de comprovar o nexo causal entre os pesticidas e a morte de insetos polinizadores.

Na Alemanha já ocorrem casos de agricultores processando judicialmente outros agricultores, em razão da morte de abelhas pelos pesticidas usados e, por conseqüência, pelas perdas de produção/produtividade com a redução da polinização de frutas, legumes e grãos. Se o argumento da indústria for verdadeiro (a culpa é dos agricultores), então nada mais lógico do que processar o vizinho, pela aplicação abusiva e descuidada de pesticidas.

É uma esquizofrênica situação em que o agronegócio, em defesa de seus lucros crescentes, ataca a atividade e os lucros do próprio agronegócio. E com isto ameaça a própria produção de alimentos, potencializando os crescentes riscos de uma crise alimentar global.

O debate sobre a morte dos insetos polinizadores pelos pesticidas também reabre a discussão sobre a intensiva utilização de agrotóxicos, ameaçando e envenenando a nossa alimentação.

No caso brasileiro, a situação caminha para uma tragédia tóxica. Além da utilização dos agrotóxicos piratas importados ilegalmente, ainda, legalmente, importamos agrotóxicos proibidos nos próprios países onde são produzidos.

O veneno nosso de cada dia é um negócio bilionário. Não foi por outra razão que, por liminar judicial, a indústria conseguiu impedir a Anvisa de reavaliar 99 agrotóxicos . A Anvisa tentou reavaliar os agrotóxicos depois da divulgação do resultado do monitoramento de agrotóxicos em alimentos, como conseqüência do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos.

Esta utilização abusiva de agrotóxicos envenena o meio ambiente, contamina nossa comida, se fixa de forma persistente no solo, nos mananciais e nas águas subterrâneas, isto sem falar das ameaças à saúde dos trabalhadores na agricultura.

As iniciativas da França e da Alemanha de "endurecer" a regras com os agrotóxicos não visam apenas proteger os insetos polinizadores, mas impor limites que, ao final, serão importantes para proteger a saúde dos agricultores e de toda a população. Não é o caso do Brasil. Nas palavras de Roberto Malvezzi (Gogó), "o capital não tem autocrítica e as autoridades postas a seu serviço menos ainda".

É uma ótima definição para o que acontece com a histórica omissão das autoridades brasileiras diante desta gananciosa e suicida relação da indústria agroquímica e o agronegócio. Nesse passo, eles morrerão ricos, mas morreremos todos.

Como leitura adicional, para melhor compreensão desta tragédia global, sugiro que leiam os artigos:

Agrotóxicos: O holocausto está aqui, mas não o vêem, artigo de Graciela Cristina Gómez

Agrotóxicos: poluição invisível, por Márcia Pimenta

Agrotóxicos: A feira envenenada, por Márcia Pimenta

Agrotóxicos e saúde, por Waldir Bertúlio.

Henrique Cortez é ambientalista e coordenador do portal EcoDebate.

Publicado originalmente em EcoDebate. E-mail do autor: henriquecortez@ecodebate.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email