segunda-feira, 18 de maio de 2009

O conto da Microsoft

O conto da Microsoft

Por Brunna Rosa - Revista Fórum

Em 2003, a Microsoft lançava mundialmente o projeto Parceiros na Aprendizagem, em que se planejou e executou durante cinco anos uma série de iniciativas educacionais em diversos países do mundo. No Brasil, três programas formam o conjunto principal da atuação da empresa na educação pública brasileira, Aprendendo em Parceria (AP), Gestor Escolar e Tecnologia (GET) e Aluno Monitor (AM), este último o principal dos programas em execução até hoje no país e que promove a formação dos alunos em conceitos básicos de tecnologia, a partir do conceito da multiplicação de conhecimentos para educadores e alunos. O primeiro estado que aderiu à iniciativa foi a Paraíba, em 2004, exemplo seguido posteriormente por Goiás, Pernambuco, São Paulo e que tem atualmente 67 outras parcerias, entre elas as secretarias de Educação, municipais e estaduais, além de organizações não governamentais (Ongs).
O resultado é que, juntos, os três programas treinaram cerca de 246.282 professores, 232.176 alunos, 24 mil gestores em 13.651 escolas. Os dados pertencem à própria Microsoft, em seu relatório final sobre o Parceiros na Aprendizagem, divulgado em 2008. “Trata-se, portanto, de um compromisso da empresa com a educação pública para desenvolver o potencial pleno de gestores, educadores, estudantes e da comunidade escolar, por meio de tecnologias de apoio pedagógico especializado e capacitação de educadores”, explica o texto no relatório final, que apesar de trazer os números das capacitações e as diretrizes para futuras alterações nos projetos, dados como os investimentos das secretarias de Educação e seus respectivos impactos na sociedade não existem.
O fato é que a Microsoft está investindo, cada vez mais, em seus projetos e os inserindo na educação pública do Brasil. Isso pode não ser tão bom quanto parece. Frente à inquestionável redução nos gastos, que dizem respeito às aquisições de licenças dos softwares proprietários, a partir da opção pela utilização do software livre, e a política do governo federal que quer universalizar o acesso aos computadores, como ferramenta de auxílio educacional, a Microsoft lança mais uma vez o seu “canto da sereia”.
No final de 2008, o Windows Educação foi apresentado como a solução frente aos altos valores de mercado das suas licenças. A promessa é que cada licença do sistema operacional e do pacote de software Office custe US$ 7. A Microsoft apresentou aos representantes do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) o novo projeto. A iniciativa já começou a dar frutos para esta nova empreitada da Microsoft. Em abril deste ano, a Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul oficializou durante o Fórum de Líderes de Governo das Américas, promovido pela própria Microsoft e que reúne representantes de governos, ONGs e empresas, a parceria entre o Rio Grande do Sul e a empresa.
O acordo prevê, entre alguns projetos, a implementação do Windows Educação, o que transforma o estado no primeiro a entregar todos seus computadores ao monopólio da licença. Serão cerca de 1,2 milhão de alunos das escolas públicas que irão utilizar uma única plataforma de software, e esta é exatamente a grande crítica da comunidade de software livre no país. “Este acordo é uma tragédia, nada mais é que um tráfico de licenças, a custos mais baixos e intermediado pelo governo, para contaminar os usuários e mantê-los dependentes”, critica Marcelo D’Elia Branco, coordenador geral da Associação Software Livre.org. Para ele, a iniciativa não estimula e nem fomenta o desenvolvimento e a criatividade de novas plataformas. “O governo, ao realizar essa parceria, não está trabalhando com a idéia da pluralidade educacional, além de passar a destinar recursos públicos para uma empresa privada cujo fim é ensinar os alunos a serem consumidores de uma única plataforma. Isso é moralmente condenável”, vaticina Marcelo Branco.
O acordo entre o governo gaúcho e a Microsoft, ainda prevê a disponibilização de e-mails “gratuitos” para os alunos, professores e diretores. “A Microsoft, mais uma vez, está defendendo, publicamente, a tese de que a inovação na indústria do software deve acontecer, somente, sob o controle e na direção da multinacional,” reflete Ken Wasch, presidente do Software & Information Industry Association (SIIA). Para ele, a empresa está “hegemonizando” as necessidades para poder vender seus produtos. “Não há nenhuma solução ‘tamanho único’ para as necessidades de software das corporações, ao redor do mundo. Contudo, a Microsoft está empregando táticas de relações públicas para incitar o medo entre as empresas e governos que estão considerando migrar para o modelo do software livre”.
Acordo parecido celebrou o estado de São Paulo, em outubro de 2008, quando o governador José Serra (PSDB) assinou a parceria com o presidente mundial da Microsoft, Steve Ballmer, para lançar programas de tecnologia na educação da rede pública. O acordo prevê que todos os alunos e professores de escolas estaduais, do ensino básico e técnicas, passarão a ter e-mails e acesso a novas tecnologias digitais e a informações sobre educação e internet.
“Essa rede corporativa vai facilitar muito a comunicação. Não se trata apenas de que vai abrir uma conta e vai usar a conta, mas vai facilitar muito a integração de toda a comunidade envolvida das escolas com os alunos, da secretaria com as escolas, enfim, é um passo adiante muito importante nessa área de informática no estado de São Paulo. É o maior convênio do mundo nessa matéria, em termos de volume de pessoas que serão beneficiadas”, disse o governador José Serra durante o anúncio da parceria.
São quase 5,5 milhões de alunos, professores, diretores, supervisores, dirigentes de ensino e professores-coordenadores da rede estadual de Ensino Fundamental e Médio, além do Centro Paula Souza, que administra Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do estado de São Paulo, que estão tendo acesso aos e-mails de até 5 Gigabytes (Gb), menos do que o Google fornece gratuitamente, isso é, 6 Gb, ou que o provedor Yahoo proporciona, que atualmente não mantém limites de armazenamento. O anúncio também foi feito 12 anos após o lançamento do primeiro grande webmail grátis e de alcance internacional. “Quanto valerá isto no mercado dos ‘unique visitors’ [visitantes únicos]? Por que o poder público deveria incentivar um serviço privado que será beneficiado com os milhares de acessos de seus alunos e professores? Não seria o caso de o poder público cobrar por esse benefício ao setor privado?”, questiona Sergio Amadeu, doutor em Ciência Política e professor da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero.
Já Marcelo Branco lembra que o governo federal, por meio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), mantém o serviço de disponibilização gratuita de webmail para os entes federativos utilizarem, em código aberto. “O governo federal tem um programa de disponibilização gratuita de webmail em código aberto. O que faz com que estes estados e municípios prefiram, ao invés de incentivar uma produção nacional e em código aberto, as parcerias com a Microsoft?”, questiona o ativista.
“A compra exclusiva de um fornecedor dominante irá impedir que, ao sair da escola, os jovens tenham acesso à tecnologia da informação”, avalia o engenheiro eletrônico Carlos Rocha. “Além de economizar milhões de reais para as escolas, a tecnologia aberta do software livre faz muito mais sentido para a educação. O objetivo da escola não é treinar operadores de computador mas, ao contrário, ensinar o aluno a explorar e a aprender sozinho, a raciocinar e a conceber e, assim, preparar o jovem, para a dinâmica da vida”, defende Rocha, que também ressalta a importância da pedagogia do software livre. “O educador consciente quer a pedagogia aberta, e o ensino com qualidade deve fazer os estudantes compreenderem por que as coisas acontecem. O acesso ao código aberto dos programas oferece esta compreensão, recompensa a curiosidade, e dá aos estudantes a possibilidade de ver, exatamente, como as coisas funcionam.”
Alternativas existem e não são poucas. São experiências que privilegiam, ao contrário do modelo apresentado pela Microsoft, a interatividade, a troca de conhecimento, o conhecimento compartilhado e a autonomia de seus participantes. E alternativas como esta a Fórum trará na sua edição de junho, aliás, mês em que acontece o 10º Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS).

domingo, 17 de maio de 2009

Hoje é o Dia Internacional contra a Homofobia





Do sitio EsquerdaNet
Uma associação LGBT chilena comemora este dia explicando à população os vários comportamentos sexuais e nomeadamente a diferença entre homossexualidade e transexualidade. Foto do flickr
Celebra-se este Domingo, 17 de Maio, o Dia internacional de Combate à Homofobia, com iniciativas em mais de 50 países. Foi precisamente a 17 de Maio de 1990 que a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais. Vinte anos depois, a questão continua a levantar polémica em Portugal.

O Dia Internacional contra a Homofobia, lançado por iniciativa de uma organização de Quebeque, é celebrado em cerca de 50 países para lembrar que se "a homossexualidade não tem fronteiras", tal como a discriminação a ela associada.

"Há 192 países na ONU e, na metade, a homossexualidade é ainda proibida, principalmente no continente africano, nos países árabes e na Ásia", destaca Laurent McCutcheon, presidente da Fundação Emergence. A primeira comemoração aconteceu em Quebeque, em 2003 e a ideia foi ganhando força noutros países. No ano passado, Louis-George Tin, um dos principais promotores do Dia internacional Contra a Homofobia esteve presente nas Jornadas promovidas pelo Bloco de Esquerda sobre o tema.

As comemorações realizam-se um dia depois da polícia russa ter impedido uma manifestação pelos direitos LGBT. Os homossexuais russos pretendiam aproveitar a realização da final do Festival da Eurovisão em Moscovo para se manifestarem em defesa dos seus direitos. Os activistas - que seguravam nas mãos cravos brancos e cartazes onde se lia "Direitos Iguais sem Compromissos" e "Homofobia é a vergonha do país" - só conseguiram estar reunidas pouco mais de cinco minutos porque apareceu a polícia e deteve praticamente todos os presentes.

A data escolhida para o Dia Internacional contra a Homofobia coincide com o dia (17 de Maio de 1990) em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais (a Associação Americana de Psiquiatria já o havia feito em 1973). "Há ainda muito trabalho a fazer", destaca, no entanto, o presidente da Emergence. Apenas sessenta e sete países assinaram a declaração relativa aos "direitos do homem e à orientação sexual e identidade de género", apresentada no ano passado pela Assembleia-Geral da ONU por iniciativa da França e da Holanda. "O Vaticano não quis assiná-la", comenta McCutcheon.

Mesmo quase 20 anos depois da decisão da OMS, dois médicos, em declarações à imprensa, afirmaram no dia 2 de Maio que é possível e desejável condicionar medicamente a orientação sexual e identidade de género dos indivíduos, associando a homossexualidade a perturbações/distúrbios mentais. Mais de 20 associações condenaram com veemência estas declarações, classificando-as de retrógradas e irresponsáveis.

Vê o comunicado das Associações

Consulta o dossier LGBT

Matando a saudade...

THE BEATLES: THE ROOFTOP CONCERT - 1969


Formato: RMVB
Tamanho: 126MB
Audio: Inglês
Legenda: N/C
Duração: 00:21min.
Servidor: Rapidshare (arquivo único)
créditos: F.A.R.R.A.-cezzarus


LINK:
http://rapidshare.com/files/224633103/cezzarus_BRC_FORUM_FARRA.rar


Senha para descompactar:

http://farra.clickforuns.net



Sinopse: Show histórico gravado no terraço de um prédio em Londres no ano de 1969. Foi o primeiro concerto aberto dos Beatles desde 1965.


Set List

1. Get Back
2. Don't Let Me Down
3. I've Got A Feeling
4. One After 909
5. Dig a Pony
6. Get Back (Reprise)



CENAS DO SHOW:



sábado, 16 de maio de 2009

Grande Led Zeppelin

THE SONG REMAINS THE SAME - 1976
CD 1
CD 2

Alma poética de uma militante sindical...


Desejos

Se soubesse como começou,
talvez entendesse onde estou...

Não sei!
E, também, não importam motivos,
se valem as emoções...

Sair do sério,
perder o senso,
deixar-se levar
ou ir por puro prazer...
E, depois de tudo,
ser demasiado feliz
(por saber-se viva)
é o sinal de que
tudo vale a pena...
Que mais poderia eu querer???

Eunice Couto

Feios, sujos e malvados


por Adriana Facina (UFF/Observatório da Indústria Cultural)





Se vocês estão a fim de prender o ladrão
Podem voltar pelo mesmo caminho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho

Só porque moro no morro
A minha miséria a vocês despertou
A verdade é que vivo com fome
Nunca roubei ninguém, sou um trabalhador
Se há um assalto à banco
Como não podem prender o poderoso chefão
Aí os jornais vêm logo dizendo que aqui no morro só mora ladrão

Se vocês estão a fim de prender o ladrão
Podem voltar pelo mesmo caminho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho

Falar a verdade é crime
Porém eu assumo o que vou dizer
Como posso ser ladrão
Se eu não tenho nem o que comer
Não tenho curso superior
Nem o meu nome eu sei assinar
Onde foi se viu um pobre favelado
Com passaporte pra poder roubar

Se vocês estão a fim de prender o ladrão
Podem voltar pelo mesmo caminho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho

No morro ninguém tem mansão
Nem casa de campo pra veranear
Nem iate pra passeios marítimos
E nem avião particular
Somos vítimas de uma sociedade
Famigerada e cheia de malícias
No morro ninguém tem milhões de dólares
Depositados nos bancos da Suíça

Se vocês estão a fim de prender o ladrão
Podem voltar pelo mesmo caminho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho
O ladrão está escondido lá embaixo
Atrás da gravata e do colarinho
(Vítimas da sociedade – Crioulo Doido e Bezerra da Silva)


A recente cobertura da grande mídia sobre as favelas cariocas têm me chamado atenção. Pauta obrigatória e diária, as favelas aparecem ora como ameaça ecológica, ora como alvo de políticas públicas que são consideradas bem sucedidas e, nesta semana, como focos da violência que se expande pelo asfalto e assusta os moradores de bairros tradicionais da Zona Sul. Em todas as notícias, muitas mentiras são continuamente reiteradas, demonstrando, ao mesmo tempo, uma intenção ideológica clara de criminalizar a população favelada e defender soluções coercitivas para seu controle (vide as ocupações policiais do Dona Marta e da Cidade de Deus), bem como um olhar de classe média que informa a cobertura jornalística. Os repórteres e editores possuem um estranhamento tão profundo em relação ao mundo dessas populações que raramente aguçam ouvidos e olhos para perceber essas realidades sob outros ângulos. Desse modo, vários clichês são repetidos como verdades inquestionáveis.



A própria idéia de crime organizado deve ser vista com cuidado. Se existe crime organizado, certamente ele não está nas favelas. As facções são baseadas em alianças frágeis, muito dependentes do perfil dos “donos do morro”, autoridades sempre mais ou menos efêmeras que ditam as regras e definem o ambiente das comunidades. De acordo com isso, uma mesma favela pode ter um clima mais neurótico ou mais tranqüilo. Outros fatores também entram aí, como a ameaça de invasão policial ou miliciana ou mesmo de outra facção. Mesmo dentro de um mesmo comando, há rivalidades e invasões por grupos rivais em geral são gestados dentro do próprio grupo que está no comando da favela invadida, por aqueles que são considerados “traíras”. Estes são movidos pela ambição de tomar o lugar do chefe. Essa instabilidade demonstra que o crime dentro das favelas está longe de ser organizado, ainda que existam hierarquias, regras, condutas que estruturam esses coletivos.



Organizada é a chegada da droga nas favelas. Recentemente, foi veiculado na imprensa que uma mesma oranização vende a droga para facções rivais do Rio. Essas drogas chegam em fluxo contínuo e mesmo em períodos de “guerra” continuam a ser vendidas. Ao argumento de que o crime realmente organizado está fora das favelas, já que nelas não se produzem entorpecentes e nem armas, se responde com a denúncia da existência de um suposto laboratório de refino de cocaína na Rocinha, o que os moradores da localidade negam, e que na própria mídia aparece como sendo um local onde se mistura cocaína pura a farinha ou outras substâncias para ampliar os lucros de quem a vende. “Malhar” cocaína é bem diferente de refiná-la, processo complicado que, ao que parece, não é a especialidade brasileira na divisão do trabalho que apóia o comércio internacional da substância.



Organizada é a venda das armas que vão parar nas mãos daqueles que são responsáveis pelo varejo da droga. O arsenal que qualquer um que entra nas favelas onde há venda de drogas pode ver chega em parte pelas mãos das próprias forças estatais. Não são poucas as histórias de seqüestro de fuzis, com pedido de resgate para devolvê-los, feitos por aqueles que se dizem ao lado da lei. Organizada também é a produção dessas armas e a sua distribuição pelo mundo. Nenhuma das grandes armas que se vêm nas favelas: AR-15s, AKs, G3, etc são produzidas no Brasil. São empresas multinacionais, totalmente legalizadas, que fabricam essas armas massivamente, independentemente de seus países estarem ou não em guerra. Essas armas são fabricadas sem controle, em uma quantidade que, para tornar sua comercialização lucrativa, precisa de grandes e pequenas guerras sendo fomentadas cotidianamente no mundo. Nossa “guerra particular” é fundamental nisso e o proibicionismo em relação à venda e consumo de drogas é um combustível essencial. Mais armas pros comerciantes, mais armas para o Estado combater os comerciantes. Dinheiro que poderia ser investido na saúde, educação, cultura, emprego para de fato combater as causas da violência. Hoje o que se gasta para combater o comércio e o consumo das substâncias proibidas é mais do que se gastaria em saúde pública para tratar os drogadictos caso seu uso fosse liberado.



Organizada também é a entrada do dinheiro ilegal do tráfico internacional de drogas e armas no sistema financeiro. Os bancos, instituições financeiras do mundo “legal”, recebem esse dinheiro e ajudam assim a limpá-lo, permitindo que ele vá alimentar legalidades e ilegalidades que são parte de uma mesma coisa sob o capitalismo financeirizado. Dito de outra maneira, não é possível existir tráfico de drogas, seja o grande tráfico internacional seja o varejo das favelas, sem a conivência das instituições financeiras.



Isso demonstra o quanto é falsa e mistificadora a culpabilização dos usuários de drogas pela violência gerada pela presença e uso de armas de grosso calibre por toda a cidade. O consumo de maconha, por exemplo, é histórico entre as camadas populares de nossa cidade, compondo estilos de vida e assumindo sentidos culturais negados pelo proibicionismo. Quanto à classe média, tal consumo se difundiu sobretudo no esteio da contracultura, a princípio como contestação à sociedade de consumo e depois adquirindo novos significados, mas sempre com algum resquício de rebeldia. No caso dos chamados viciados, sobretudo em pó e crack, são pessoas que merecem tratamento, pois são portadores de uma doença que deve ser vista como problema de saúde pública e não como resultado de falhas de caráter. Dizer que esses são os vilões que estão por trás dos muitos tiros que foram trocados na esquina da Toneleiros com Santa Clara é uma maneira confortável de simplificar as coisas, desresponsabilizar o Estado e sua fracassada política de combate ao crime e obscurecer a importância daqueles que verdadeiramente lucram com essas “guerras” que aumentam a venda de armas e jornais.



Algumas perguntas ficam sem respostas. Por que, por exemplo se elegem as favelas como o palco do combate ao comércio de drogas? Todos sabem que o comércio e consumo de substâncias ilegais correm soltos em boates freqüentados pela classe média e classe média alta carioca e no entanto não existem registros de “operações” realizadas nessas localidades. Nem em condomínios de luxo onde se consomem drogas e que também invadem áreas de mata atlântica, poluem lagoas e mares numa escala muito mais ameaçadora do que os barracos das favelas. Por que os inimigos da sociedade foram eleitos entre aqueles para quem o comércio varejista de drogas é emprego, é alternativa de uma vida sem muitas alternativas? A grande maioria dos jovens que hoje empunham as armas nas favelas não têm acesso à educação de qualidade, à saúde, ao emprego digno, à equipamentos culturais públicos ou privados ( muitos jamais foram ao cinema, por exemplo). São esses os inimigos da sociedade?



Em meio a essas reflexões, lembrei de uma frase de Bertolt Brecht: “Aquele que desconhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e a chama de mentira é um criminoso.” Brechtianamente, cabe perguntar: De quantos crimes cotidianos é feito o combate ao crime no Rio de Janeiro?

Do blog Cidadania.com

Uma Escolha a fazer

Acredito que chegamos ao fundo do poço da atuação da mídia brasileira, a menos que alguém sugira que ela pode fazer por aqui o que fez sua congênere venezuelana em 2002, o que, por enquanto, ainda me parece improvável, porque um golpe de Estado não se faz só com jornais e televisões e a oposição de direita ainda parece achar que pode retomar o poder pelo voto, por mais que essa disposição pareça estar diminuindo.

Mas, de uma coisa, ninguém duvida: a direita está radicalizando sua oposição ao governo Lula com vistas a retomar o poder em 2010, e a estratégia insana escolhida por Fernando Henrique Cardoso, José Serra e as famílias Marinho, Civita, Frias e Mesquita parece ter sido a de um bombardeio de saturação daquele tipo que promovem os exércitos norte-americanos em guerras como a do Iraque, nas quais despedaçar mulheres e crianças é considerado “efeito colateral”.

Como numa guerra, vale tudo. Parece que não há mais custo a ser considerado inaceitável pela oposição político-midiática. Nem para o país, nem para a ética, nem para o futuro. Vale sabotar a economia – no momento em que ela enfrenta a maior ameaça externa em um século –, as instituições, a Saúde Pública ou a ordem econômica, tudo isso visando tirar a esperança dos brasileiros numa melhora do país, a fim de que mudem o comando do Estado no ano que vem.

Há um prêmio que tornou ainda mais desejável o controle do Estado brasileiro e que poderá construir fortunas impressionantes à custa do roubo daquele prêmio por um eventual novo governo do PSDB, o qual entregará o produto do roubo a grupos empresariais nacionais e estrangeiros ligados às empresas de comunicação das famílias supra mencionadas.

Para quem não adivinhou ainda, refiro-me ao pré-sal. Esse é o objetivo da luta virulenta a que se entregou a oposição político-midiática. Com as novas e vastas reservas de petróleo do país se farão fortunas, caso o PSDB e o PFL consigam retomar o controle do Estado. Farão a privataria da era FHC parecer pinto. Entregarão tudo a preço de banana e aumentarão o próprio poder econômico de maneira inimaginável.

Isso sem falar do “arroz com feijão” que poderão “privatizar” governando um país como o Brasil, pois é para isso que estão na política, para ajudar o estreito setor da sociedade que concentra quase toda a renda no Brasil a manter o que concentrou e a ampliar essa concentração de renda, invertendo o processo de distribuição ora em curso.

Eu e vocês, leitores, não perderemos muito com isso. A maioria de nós já se estabilizou na vida – uns mais, outros menos. Pode-se dizer, assim, que todos os que aqui estamos temos conseguido sobreviver com dignidade e com mais ou menos conforto, de maneira que muitos estarão tentados a empurrar com a barriga essa situação e a se conformarem se ela agraciar com a vitória esses pretensos saqueadores do Brasil que tentarão governá-lo a partir de 2011.

Não direi que não sofro essa tentação de me acomodar. Tem sido muito desgastante viver esse embate contra um poder imenso diante do qual um mero cidadão sente-se muito mais do que impotente, chegando a sentir-se insano por desafiar uma máquina que é preciso muito mais do que palavras para desarticular.

A gente tem que conviver o tempo todo com elogios agradáveis, mas também com ataques terríveis. A caixa de comentários deste blog, em sua gaveta de comentários bloqueados, constitui material para um livro que aos poucos vou escrevendo e que pretendo publicar um dia, que em certo capítulo abordará o lado negro, imoral, impiedoso, mesquinho e até assustador do ser humano.

Só os insultos já fariam qualquer um desistir, mas há ameaças também. Há gente escrevendo aqui que “pagarei” em algum lugar “no futuro” pela luta que tenho travado contra esse poder discricionário. Está tudo registrado. Se algum dia me acontecer alguma coisa, todos saberão onde procurar os culpados. Seus comentários estão registrados aqui com número de IP, dia, hora e tudo mais.

A vontade de desistir, portanto, é atraente – e quase compulsória. Os elogios são bons, claro, mas os ataques são ferinos e assustadores. Com efeito, uma carícia produz muito menos efeito do que uma facada.

Minha mulher, por exemplo, é contrária ao meu ativismo político e ao jornalismo cidadão no qual invisto meu tempo. E posso entender seus motivos. Temos a questão da criança dependente da qual teremos que cuidar e sustentar para o resto de nossas vidas e ganhar a vida anda dificílimo, sobretudo num momento de crise.

Por outro lado, temos a situação política no Brasil que descrevi acima. O país está sob uma ameaça poucas vezes vista em mais de cem anos de história republicana. Está, pois, em nossas mãos ajudar este país a dar um salto imenso e a se tornar uma potência, um país de Primeiro Mundo em não mais do que uma década, se nos dispusermos a enfrentar aquele setor minúsculo da sociedade que impediu até hoje que esta pátria fosse o que já deveria ser há muito tempo.

Eu e vocês temos que fazer uma escolha. Todos os cidadãos responsáveis e lúcidos deste país têm que fazer essa mesma escolha. Estão dispensados apenas os que usufruem deste status quo iníquo, imoral, cruel que vige no Brasil, pois não se pedirá ao câncer que se auto-extirpe. E a escolha é entre nossas questões pessoais e mundanas e o interesse maior da nação.

De minha parte, sinto-me sempre inclinado a lutar pelo que é mais alto e relevante para todos, pois, em meu ideário de vida, o benefício generalizado é o melhor e mais justo para o interesse individual, pois quando se pensa na coletividade o lucro individual é generalizado, extensível a todos, sem deixar ninguém de fora. Já o interesse individual, trabalha para retirar de seu principal interessado o benefício que viria para todos.

Contudo, minha escolha individual dependerá das escolhas de todos aqueles para os quais faço esta pregação diária independentemente de ser fim de semana, feriado e de ser horário comercial ou não, sempre de forma absolutamente voluntária e sem qualquer interesse econômico ou profissional.

Estou engendrando um plano de ação. Eles radicalizaram, então nós também temos que radicalizar. E, mais uma vez, estou disposto a assumir os riscos de promover uma ação concreta e de visibilidade contra essa hidra político-midiática que ameaça o Brasil. Só que terá que ser uma ação inédita, a maior de todas, não importando quanto tempo leve para ser organizada, mas que chame com força a atenção da sociedade para o plano da direita golpista de saquear as riquezas nacionais.

Ainda não tenho o plano engendrado, ainda que tenha um embrião de idéia em gestação. Em algumas semanas deverei fazer um comunicado aqui que irá surpreendê-los, e isto é só o que posso lhes dizer neste momento. Mas também estou refletindo e analisando outras opções. Quem quiser fazer sugestões corajosas, ponderadas e sobretudo viáveis, contará com meu agradecimento e minha admiração.

Mas o fato é um só: todos os que têm um mínimo de amor por este país temos uma escolha muito séria a fazer – eu, inclusive. Ou lutamos com a mesma disposição dos saqueadores privatistas ou nos convertemos em cínicos que só trabalham com a retórica ao exigirem de outros o que não se dispõem a fazer. As reações que se vier a colher às propostas que serão feitas aqui proximamente determinarão se agiremos ou se penduraremos nossas chuteiras cívicas.



Escrito por Eduardo Guimarães

Porquê Lula se submete tanto aos empresários predadores do meio ambiente???

Farra do turismo em Santa Catarina

Elaine Tavares

O presidente Lula esteve em Santa Catarina recepcionando um seleto grupo de mega-empresários que veio para um obscuro fórum de turismo chamado de Congresso do Conselho Mundial de Viagem e Turismo. A idéia de um encontro na ilha, em Florianópolis, partiu da monopólica Rede Brasil Sul, que sugeriu ao governador trazer gente do turismo para promover o estado. Foi feito. Com a ajuda do governo federal, representado pela senadora Ideli Salvatti, do governo estadual e também do municipal, foram amealhados cerca de sete milhões de reais para garantir aos empresários tudo de bom e do melhor. Hospedados no Costão do Santinho, do também mega empresário Marcondes de Mattos, eles comeram, beberam e tramaram “grandes empreendimentos” turísticos para Santa Catarina à custa do dinheiro público. Não bastasse isso, ainda passearam no jatinho do governador, também pago com dinheiro público, por sobre regiões do estado onde poderiam “investir”.
No mesmo dia em que o evento acontecia, agricultores de todo o Estado faziam mobilização na capital, pedindo recursos ao governo para minimizar os efeitos da seca na região oeste. Coincidentemente as entidades que traziam os agricultores para protestar eram as mesmas que, semanas antes, mobilizaram mais de mil produtores no oeste para aplaudir o Código Ambiental, aprovado pela Assembléia Legislativa do Estado. Este código, construído pelo executivo, promove mais destruição ambiental que causa mais mudanças no clima, sendo portando causa da falta de chuva na região. Papo de louco? Não, é o bom e velho “realismo mágico” da nossa terra, que de mágico nada tem.
Para se ter uma idéia dos absurdos, no mesmo dia em quem rolava o evento milionário no mega hotel de Marcondes de Matos (empresário acusado de construir um campo de golfe com licenças ambientais falsificadas), o governador falava ao povo catarinense pelo seu órgão oficial, a RBS. O repórter, sem qualquer espírito crítico pergunta quais os benefícios desta reunião de turismo. Ao que o governador responde que vai geral muita coisa boa para o povo catarinense porque os empresários iriam trazer grandes empreendimentos para cá e que, com isso ajudariam a preservar a natureza, além de gerarem empregos. “Temos aqui no estado um grande volume de mata atlântica, e isso é muito bom para o turismo”. De novo o absurdo. Este governo foi o que, segundo pesquisas oficiais, mais desmatou a mata atlântica e que, com esse novo código aprovado, vai poder desmatar muito mais.
Pois, ainda se não bastasse a “farra dos dólares”, gasta com os gigantes do turismo mundial, ainda teve a desastrada presença do presidente Lula que, querendo ser engraçado para justificar o seu atraso aos “ocupadíssimos” homens do business, protagonizou a cena mais degradante. Ao mendigar os investimentos e fazendo propaganda da “primeiromundice” de Santa Catarina, disse que aqui tínhamos um estado rico, com estrutura, o que era bom, pois “os turistas não gostam de miséria. Caso contrário o Haiti seria o paraíso”.
Ora, além de ofender as gentes deste aguerrido país, o presidente Lula mostrou que não tem a menor vergonha de atuar como um capacho dos Estados Unidos na desastrada ocupação do Haiti, onde o exército brasileiro comanda as forças “de paz” da ONU.
E, assim, entre a fartura criminosa de dinheiro público - num estado que ainda não garantiu moradia para os desabrigados de Blumenau e volta as costas aos agricultores premidos pela seca – e a desavergonhada presença do presidente se prestando ao papel ridículo de animador de platéia, a vida em Santa Catarina vai seguindo. Para coroar com chave de ouro toda esta festança de dinheiro público, a população de Florianópolis vai receber, “de graça”, do braço midiático do poder no estado, a RBS, um show do Roberto Carlos. Para esse evento, que deve distrair a consciência das gentes enquanto o governo busca fazer de Florianópolis uma nova Dubai, a empresa siamesa da Globo devastou árvores no aterro sul, bem no espírito “preservação da natureza”. Mas, conforme diz em seu jornal “Diário Catarinense”, tudo vai ser devidamente replantado.
O que se espera, para que esta semana de horror e realismo nada mágico não fique pior, é que o “rei” não termine seu show cantando um de seus clássicos que clama pela proteção das baleias, que é uma espécie de hino à proteção ambiental. Aí sim, haverão apenas duas saídas para os lutadores deste estado. Ou saem pelo aterro afora gritando “Jesus Cristo, eu estou aqui”, em coro com Roberto, esperando ser esturricado com um raio. Ou começam a preparar a revolução. Alguém arrisca uma aposta?

O vaticano não mudou em nada....

O Papa é bem-vindo, mas…

Khalid Amayreh (de Jerusalém Leste)

A hospitalidade é traço característico da alma árabe-muçulmana. O Papa Bento 16 foi recebido com o respeito que merece como líder de centenas de milhões de católicos romanos, muitos dos quais lutam ao lado dos muçulmanos e rejeitam as políticas e práticas criminosas da entidade sionista.

O recente ataque genocida contra os palestinos reduzidos à miséria e cercados em Gaza foi apenas mais um exemplo da ação criminosa dos israelenses, crimes comparáveis às práticas mais violentas de todas quantas a história conheceu.

Entende-se que o Vaticano não se possa manifestar com clareza, por várias razões. O Vaticano é entidade político-religiosa, da qual se espera que manifeste as vozes de uma gama muito ampla de diferentes povos, cada um deles com seu regime e sua orientação política, muitas vezes discordantes uns dos outros.

Mesmo assim, deve-se esperar que, como líder espiritual dos católicos, o Papa denuncie, com equilíbrio, mas com firmeza, atos e comportamentos que Cristo teria denunciado. O sofrimento dos Palestinos e a reação que desperte em cada homem, em cada mulher do mundo inteiro, é como o teste crucial para a constituição moral de todos Estados, inclusive, é claro, do Vaticano.

Infelizmente, a atitude do Vaticano, no que tenha a ver com a Palestina, não foi consistente com os ideais cristãos – que ensinam solidariedade e amor aos mais fracos e oprimidos.

A visita do Papa aos territórios ocupados da Palestina é visita que não se pode comparar a nenhuma outra. Essa é a terra na qual, há 61 anos, a Europa implantou Israel, a ferro e fogo, como Estado ocupante em território habitado. Assim a Europa autorizou os filhos do holocausto a praticarem outro holocausto, a assassinar, a roubar, a expulsar os palestinos da própria terra. Assim se criou a diáspora palestina, por todos os cantos do planeta.

Os palestinos não esperamos que o mais alto sacerdote da igreja católica do mundo desfaça a Declaração de Balfour, ou faça o milagre de fazer a história voltar atrás. Mas, sim, esperamos que o Papa aja e fale de modo que respeite os ideais e princípios que proclama e que devem reger também sua vida, seja pública seja privada.

Hoje, não há homem ou mulher em todo o mundo que não tenha olhos para ver, ouvidos para ouvir e cérebro para entender e avaliar que Israel comete todos os tipos de crimes contra os palestinos – sejam muçulmanos sejam cristãos.

De fato, Israel comete crimes também contra o povo judeu, ao converter tantos judeus em assassinos viciosos, ladrões de terra, destruidores de casas e mentirosos compulsivos.

Em Gaza, Israel, em ação coordenada com muitos, em todo o mundo, impõe, já pelo terceiro ano consecutivo, um cerco-bloqueio de características nazistas, contra povo pobre e atormentado, cuja única 'culpa' é o desejo de resistir à violência e lutar pelo direito de viver em sua terra, povo que é obrigado a lutar para salvar a própria humanidade todos os dias, e que todos os dias é condenado novamente à morte, seja por falta de remédios ou de água ou de comida, seja sob as balas dos fuzis de Israel.
Há poucos meses, o mundo viu, chocado, as imagens de morte e terror e a destruição inimaginável em tempos civilizados do povo pobre de Gaza, atacado pela infernal máquina de guerra israelense.

Israel matou e matou e matou até que os brutais assassinos sionistas satisfizeram, por algum tempo, a sede satânica de sangue de inocentes. Feito o que vieram para fazer, os assassinos declararam que não tinham intenção de fazer... o que, se não quisessem fazer, não teriam feito.

Os assassinos diretos, os executores e carrascos são soldados e oficiais de Israel, infelizes envenenados pela doutrina sionista mortífera que ensina que não-judeus seriam não-humanos, vidas não santificadas, menos que algum animal sagrado.

Mas há co-assassinos, conspiradores aos milhares, muitos dos quais se dizem muçulmanos ou cristãos, e que também se afogam em sangue inocente e traem o dever moral humano de condoer-se dos mais desgraçados, dos mais esquecidos, dos que vivem a dor infinita de habitar os campos de concentração chamado Faixa de Gaza.

Pouco erra quem diga que todo o mundo é cúmplice nos crimes que se cometem contra Gaza. Essa vergonha monumental será longamente lembrada como um dos momentos em que a humanidade fracassou de modo mais gigantesco. Não são crimes 'contra muçulmanos'. Na Cisjordânia, Israel comete os crimes mais repugnantes tanto contra muçulmanos quanto, igualmente, contra cristãos.

Em Jerusalém, sucessivos governos israelenses reduziram uma cidade santa de cristãos e de muçulmanos, a ghetto de miséria e desgraça. Isso, enquanto Israel prepara-se para destruir toda a região em torno de Jerusalém, cidade ocupada, para tentar obrigar o maior número possível de não-judeus a emigrar para não morrer de fome.

Belém, onde nasceu Jesus, já foi convertida em campo de concentração de prisioneiros palestinos, graças ao muro do apartheid, muro nazista, estrutura mais feia que o mais feio monumento à incapacidade humana para praticar a bondade.

O massacre de Belém, pelos israelenses, o estrangulamento econômico e psicológico dos filhos de Belém, já obrigou muitos cristãos a emigrar para a Austrália, para a Europa, para a América do Norte.

Tudo isso é muito triste. Difícil imaginar o que pensam os cristãos de todo o mundo quando se olhem ao espelho e vejam que sua atitude em relação a Israel – o discurso da paz a qualquer preço, por exemplo – é instrumento que pressiona também os cristãos da Palestina a deixar sua casa, sua terra, para fugir da selvageria de Israel.

De lamentar muito, portanto, que enquanto o Papa visita Jerusalém e reza nos locais sagrados para os cristãos, como na Igreja do Santo Sepulcro, os palestinos cristãos que vivem ali, a apenas poucas centenas de metros, sejam proibidos de rezar onde seu Papa reza.

E o mesmo se pode dizer sobre os milhões de muçulmanos palestinos que não podem ir a Jerusalém, porque Israel impede que a cidade abra-se para católicos e muçulmanos, e quer fazer de Jerusalém monopólio dos judeus.

Não há, portanto, em Israel, a liberdade religiosa sobre a qual a entidade sionista mente sempre.

Por isso os palestinos – cristão e muçulmanos – esperavam que o Papa dissesse ao governo de Israel que o Vaticano como Estado, e o Papa como líder moral dos católicos, não mais tolerarão o sofrimento que a entidade sionista impõe a todos os palestinos não-judeus.

O Vaticano não é poder militar e não faz milagres. Não pode, portanto, curar todas as feridas do mundo. Mas o Vaticano pode usar sua influência contra o mal e o pecado e a favor do respeito à dignidade humana de todos os homens, mulheres, crianças do mundo; também, é claro, a favor do respeito à dignidade humana dos homens, mulheres e crianças que habitam a Palestina ocupada.

Para fazer isso, o Vaticano terá de não se deixar enganar pelas mentiras dos israelenses, que sempre mentem quando falam em paz.

Nenhum Estado que construa colônias em território ocupado é Estado que trabalha pela paz.

Estado que construa colônias em território ocupado, que viole abertamente a legislação internacional – que viole inclusive suas próprias leis! – não é interlocutor confiável para construir a paz. Israel é Estado criminoso. Tem de ser tratado – também pelo Vaticano – como o mundo civilizado aprendeu a tratar Estados criminosos

Liberman vem aí... em que ele se difere de Ahmadinejad?

O ministro das relações exteriores de Israel, Avigdor Liberman, visitará o Brasil em julho. O anúncio foi feito ontem pelo chanceler Celso Amorim. Liberman é o líder do partido ultra-direitista Yisrael Beitenu (Israel é nosso lar), que prega abertamente a segregação dos árabes, entre outras barbaridades, e que tem no sionismo a sua base ideológica ao defender o caráter judaico de Israel como um país governado por judeus para judeus e não um país no qual a diversidade – base de qualquer democracia – seja cultivada.

Como o Paquistão e a Arábia Saudita, Israel é um Estado cujo mundo mental é, em larga medida, limitado pela religião, pela raça e pela origem étnica. Israel é produto do nacionalismo estreito do século 19, um nacionalismo fechado e excludente, baseado na origem étnica e racial, em sangue e terra. Israel é um ‘Estado judeu’ e só é judeu quem nasça judeu ou converta-se conforme a lei judaica (Halakha)”, disse recentemente o jornalista israelense Uri Avnery, no artigo "On The Wrong Side" (aqui, em português). Para ele “o partido de Liberman, que em qualquer país normal seria identificado como partido fascista, cresce” na preferência dos israelenses, pois "Liberman fala como Mussolini, oferece a imagem de um Mussolini israelense, odeia árabes, é capaz de todas as brutalidades.”, explica o jornalista.

Avnery não esta sozinho nesta análise. Logo depois das eleições de fevereiro, Shulamit Aloni, 80 anos, veterana da guerra de 1948 (que levou à criação de Israel), fundadora do partido social democrata Meretz e ministra da Educação no governo de Itzhak Rabin disse disse à jornalista basileira Guila Flint, correspondente da BBC em Tel Aviv, que a força adquirida por Liberman e seu partido é um pesadelo. "O resultado das eleições me deixaram com raiva, medo e vergonha, ao ver que um fascista e racista como Liberman tem as chaves para a composição do novo governo. Em 1948, eu lutei para construir um país democrático, com igualdade de direitos para todos os cidadãos. É como um pesadelo para mim ver que um discurso fascista como o de Mussolini passa a ter tanta legitimidade no nosso mapa político".

Também entrevistado por Guila, o sociólogo Lev Grinberg, da Universidade Ben Gurion, afirmou que "Liberman baseou toda a sua campanha em sentimentos de medo e ódio aos árabes, e foi favorecido pelo clima de guerra que se criou em Israel durante a recente ofensiva à Faixa de Gaza. Como um fascista clássico, ele se aproveitou dos medos da população e incentivou o ódio".

Liberman representa uma tendência preocupante da opinião pública israelense, que tem adotado uma postura permissiva e até mesmo simpática aos discursos belicistas e racistas. Recentemente apontei este fato no artigo “É lícito aos israelenses apoiarem o racismo e a intolerância?”, no qual citei um relatório (de março de 2008) da ONG israelense Mossawa, que já destacava este fenômeno.

Além de acusar líderes políticos israelenses de criarem um clima de "legitimação ao racismo" contra os cidadãos árabes - que representam 20% da população do país – o relatório mostrava que 75% dos cidadãos judeus israelenses não estavam dispostos a morar no mesmo prédio com um vizinho árabe e que 61% deles não receberiam a visita de árabes em sua casa. O estudo indicava também que 55% dos entrevistados defendiam a separação entre judeus e árabes nos espaços de lazer e 69% dos estudantes secundários achavam que os árabes "não são inteligentes".

No documento são citados ministros e parlamentares que "baseiam sua força em posições de ódio e incitam ao racismo". O político mais citado é Avigdor Liberman.

E o que defende o ministro das Relações Exteriores de Israel?

Em suas próprias palavras: "Os árabes israelenses são um problema ainda maior do que os palestinos e a separação entre os dois povos deverá incluir também os árabes de Israel... por mim eles podem pegar a baklawa (doce árabe típico) deles e ir para o inferno".

Para Liberman, Israel deve "trocar" as aldeias árabes israelenses pelos assentamentos nos territórios ocupados, ou seja, as aldeias árabes passariam a fazer parte de um estado palestino e os assentamentos seriam anexados a Israel.

Importante dizer que os árabes israelenses a que se refere o ministro são cidadãos israelenses, da mesma forma que eram cidadãos alemães muitos dos judeus expulsos de suas casas por Hitler e enviados para o exílio forçado e para os campos da morte.

O jornalista Paulo Moreira Leite, no artigo “Ministro israelense tem ideias que lembram nazismo”, faz uma brilhante relação entre o que está ocorrendo em Israel e um passado tenebroso. “Em 1935, dois anos depois da ascensão de Hitler ao poder, foram aprovadas as primeiras leis de Nuremberg. Elas não criaram campos de concentração nem câmaras de gás, mas dividiam a população alemã em duas categorias. A dos cidadãos de ‘puro sangue alemão’, que tinham todos os seus direitos assegurados. Os outros, que não tinha a mesma origem, eram considerados ‘súditos do Estado’.”.

Quem é melhor, Liberman ou Ahmadinejad?

Diante de um currículo como este, seria interessante questionar aos que levantaram cartazes e publicaram artigos contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, se não seria de bom tom fazer o mesmo agora, em relação à visita de Liberman.

A pergunta é apenas uma provocação, pois estes que condenaram a vinda de Ahmadinejad, costumam usar dois pesos e duas medidas e certamente encontrarão caminhos tortuosos para demonizar o iraniano e absolver o israelense. Mas, por mais que se tente, é tarefa hercúlea apontar diferenças éticas entre os dois.

Ahmadinejad preside um país onde os direitos humanos não são respeitados, onde minorias religiosas, homosexuais e mulheres são discriminadas. Lierberman integra um governo que não respeita os direitos humanos dos palestinos, que lhes nega o direito a um Estado e que prega a ampliação de assentamentos ilegais.

No entanto, fechar as portas ao debate é vantagem apenas para os que precisam maquiar a história para atingerem seus objetivos. O isolamento nunca foi uma boa estratégia para quem busca os fatos. Portanto, que venham os dois. E que nossos jornalistas sejam hábeis com as perguntas, que lhes dirijam questionamentos sobre assuntos que lhes são ingratos, e não se transformem em assessores de imprensa de seus entrevistados, como ocorreu com André Petry na edição da revista da Veja desta semana, em sua entrevista com Elie Wiesel.