terça-feira, 1 de junho de 2010

Bloqueio à Faixa de Gaza...(o holocausto palestino)

Entenda como funciona o bloqueio à Faixa de Gaza


Caminhão da ONU entra em Gaza pelo posto de Kerem Shalon: controle

A Faixa de Gaza vive sob bloqueio imposto por Israel desde que o grupo extremista islâmico Hamas assumiu o controle da região, em junho de 2007.
Israel quer enfraquecer o Hamas, pôr fim a seus ataques com foguetes contra cidades israelenses e resgatar o soldado Gilad Shalit. Mas muitas agências de ajuda humanitária dizem que a política serve apenas para punir civis.
A Anistia Internacional chamou o bloqueio de "punição coletiva" que resulta em uma "crise humanitária"; funcionários da ONU descreveram a situação como "preocupante" e como "sítio medieval", mas Israel diz que não há desabastecimento em Gaza, justificando que permite, sim, a entrada de ajuda no território.
O que entra e sai de Gaza, e que impacto isso tem?
O que entra
Na maior parte dos três anos desde que o Hamas assumiu o controle de Gaza, os 1,5 milhão de pessoas da região contam com menos de um quarto do volume de importações que recebiam em dezembro de 2005. Em algumas semanas, muito menos do que isso chega à região, apesar de as importações em 2010 terem atingido entre 40% e 45% dos níveis pré-bloqueio.
Na esteira da chegada do Hamas ao poder, Israel afirmou que permitiria apenas a entrada de suprimentos humanitários na Faixa de Gaza. O país tem uma lista de itens que poderiam ser usados para fabricar armas, como canos de metal e fertilizantes.
Esses itens não podem entrar, à exceção de em "casos especiais humanitários". Não foi publicada, entretanto, qualquer lista do que pode ou não pode entrar em Gaza, e os itens variam de tempos em tempos.
A lista da agência da ONU de ajuda aos refugiados palestinos, a UNRWA, tem itens de uso doméstico que tiveram entrada proibida várias vezes, como lâmpadas, velas, fósforos, livros, instrumentos musicais, giz de cera, roupas, sapatos, colchões, lençóis, cobertores, massa para cozinhar, chá, café, chocolate, nozes, xampu e condicionador.
Muitos outros artigos - que vão de carros e frigideiras a computadores - quase sempre têm entrada recusada.
Materiais de construção como cimento, concreto e madeira tiveram entrada quase sempre proibida até o começo de 2010, quando uma pequena quantidade de vidro, madeira e alumínio foi autorizada.
Durante os seis meses de trégua entre Israel e Hamas que começaram em junho de 2008, e no começo de 2010, o volume e a gama de bens que entram em Gaza aumentou um pouco, com a chegada de caminhões de sapatos e roupas.
Israel diz que o Hamas desviou ajuda no passado, e que poderia se apropriar de materiais de construção para seu próprio uso. Agências de ajuda respondem afirmando que têm sistemas de monitoramento rígidos em vigor.
Alimentos
AP
Palestinos recebem ajuda humanitária de agência da ONU
Agências de ajuda humanitária que operam em Gaza dizem que conseguem, em grande parte, transportar suprimentos básicos como farinha e óleo de cozinha para o território.
Mas a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), diz que 61% dos moradores de Gaza vivem em uma situação de "insegurança alimentar".
Metade dos 1,5 milhão de moradores de Gaza depende da UNRWA e de seus suprimentos de comida.
A distribuição de comida pela UNRWA foi suspensa várias vezes desde junho de 2007, como resultado do fechamento das fronteiras ou de racionamento de comida.
Israel costuma dizer que as fronteiras são fechadas por motivo de segurança, usando como exemplo ocasiões em que palestinos atacaram os postos fronteiriços ou lançaram foguetes contra Israel.
Os pacotes de ajuda da UNRWA respondem por cerca de dois terços das necessidades alimentares dos palestinos em Gaza, e precisam ser complementadas por laticínios, carne, peixe, frutas frescas e legumes.
Alguns desses itens são cultivados localmente, outros têm entrada permitida, vindos de Israel, e outros são contrabandeados por túneis na fronteira de Gaza com o Egito.
Mas com o desemprego em 40%, segundo estima a ONU, alguns moradores de Gaza não podem comprar o básico, mesmo se eles estiverem disponíveis.
A UNRWA afirma que o número de moradores de Gaza incapazes de comprar itens como sabão e água potável triplicou desde 2007.
Uma pesquisa realizada pela ONU em 2008 revelou que mais da metade dos domicílios de Gaza vendeu o que tinha e depende de crédito para comprar comida.
Três quartos dos habitantes da região compram menos comida do que no passado, e quase todos estão comendo menos frutas, legumes e verduras frescos e proteínas, para economizar.
A operação militar de Israel em dezembro e janeiro de 2009 prejudicou significativamente a transferência de alimentos e sua distribuição, além de ter causado prejuízos à agricultura que a FAO estima estar na ordem dos US$ 180 milhões.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), um terço das crianças com menos de 5 anos e de mulheres em idade fértil em Gaza estão anêmicos.
Combustível e energia

Combustível entra em Gaza: cortes prejudicam hospitais e fábricas
Em setembro de 2007, o governo de Israel declarou a Faixa de Gaza uma "entidade hostil", em resposta a ataques contínuos com foguetes contra o sul de Israel, e disse que começaria a cortar o nível de combustível importado pela região.
Falta de gasolina e diesel causaram grandes problemas. Carroças puxadas por burros são uma visão comum em Gaza. O combustível para carros entra por túneis, através do Egito.
De acordo com informação compilada pela Ong Oxfan, não entrou qualquer quantidade de gasolina ou diesel para veículos vindo de Israel desde de novembro de 2008 - à exceção de combustível usado por carros da ONU e de outros cinco outros carregamentos por navio, em três anos.
A quantidade de gás de cozinha com entrada autorizada geralmente varia entre um terço e metade da necessidade, segundo a Oxfam.
Eletricidade
O fornecimento de eletricidade a Gaza é composto por 144 Megawatts vindos de Israel, 17 Megawatts do Egito e o restante de uma usina controlada pela União Européia em Gaza, que pode gerar até 80 Megawatts.
O combustível para a usina é geralmente levado através do posto fronteiriço de Nahal Oz. A usina fechou por completo várias vezes por falta de combustível, porque o posto estava fechado. A usina ficou sem energia durante a maior parte da operação de Israel em janeiro de 2009, deixando dois terços dos moradores de Gaza sem energia, no pico da crise.
Desde o começo de 2008, a usina recebeu combustível suficiente para operar com apenas dois terços da sua capacidade - obedecendo a uma determinação da Suprema Corte de Israel, que estabelece a entrada de uma quantidade mínima de combustível em Gaza.
Números monitorados por agências internacionais mostram que a chegada de combustível caiu para seus níveis mínimos várias vezes na primeira metade de 2008.
No fim de 2009, a responsabilidade por custear o combustível foi transferida da União Européia para a Autoridade Nacional Palestina, baseada em Ramallah, na Cisjordânia. Em abril e maio de 2010, o fornecimento de combustível oscilou, e a usina conseguiu operar entre 20% e 50% de sua capacidade.
Os cortes de energia continuam frequentes. Uma pesquisa da Oxfam de abril de 2010 mostrou que havia casas em Gaza sem energia por 35 ou 60 horas por semana.
Esgoto e água

Menina enche galão de água no prédio da UNRWA no campo de Khan Yunis
O bloqueio teve um enorme impacto na rede de esgoto e de abastecimento de água. A falta de componentes torna difícil a reforma da rede. O fornecimento de energia intermitente fez com que bombas elétricas precisassem de geradores, que, por sua vez, não tinham peças reserva.
A OMS diz que a Operação Chumbo Fundido piorou o que já era uma situação crítica. Antes da operação, segundo a organização, os moradores de Gaza tinham menos de metade da água que necessitam de acordo com padrões internacionais. Além disso, 80% da água que chegava ao território não tinha qualidade compatível com os padrões da OMS.
No auge dos combates em janeiro, metade da população de Gaza não tinha acesso a àgua encanada.
O organismo responsável pelo tratamento de esgoto em Gaza estima que ao menos 50 milhões de litros de esgoto mal ou não tratado seja despejado no mar diariamente.
Parte do esgoto de Gaza é armazenado em lagoas. Uma delas tranbordou em 2007, causando ao menos cinco mortes.
Negócios
De maneira geral, a ONU diz que o bloqueio causou "danos irreparáveis" à economia de Gaza. O desemprego aumentou de 30% em 2007 para 40% em 2008, de acordo com o Banco Mundial. A ONU afirma que se a ajuda fosse descontada, 80% dos moradores de Gaza viveriam na pobreza.
O bloqueio devastou o setor privado. Antes de 2007, cerca de 750 caminhões de móveis, produtos alimentícios, têxteis e agrícolas deixavam Gaza a cada mês, no valor de meio milhão de dólares por dia.
Sob o embargo, as únicas exportações permitidas foram as contidas em poucos camihões de morangos e flores - apesar de a situação ter melhorado levemente no começo de 2010, com a saída de 118 camihões entre dezembro de 2009 e abril de 2010.
Até a produção para necessidades locais foi praticamente paralisada, porque matérias primas raramente conseguem entrar. De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Gisha, pequenos conteineres de margarina têm entrada permitida para consumo doméstico. Baldes de manteiga, entretanto, não podem entrar - esses poderiam ser usados para manufatura industrial de alimentos.
Algumas empresas retomaram suas atividades usando produtos contrabandeados através dos túneis.
Antes do bloqueio, 3.900 empresas operavam, empregando 35 mil pessoas - em junho de 2008, apenas 90 funcionavem, empregando apenas 860, de acordo com o Centro de Comércio Palestino. A situação melhorou ligeiramente durante a trégua.
Os negócios de Gaza sofreram prejuízo estimado em US$ 140 milhões durante as operações militares de dezembro e janeiro, de acordo com o Conselho Coordenador do Setor Privado Palestino.
Agricultura
A agricultura também é um empregador importante, mas com as exportações em praticamente zero, milhares de toneladas de flores, frutas, legumes e verduras foram destruídos ou vendidos com prejuízo em mercados locais.
Outras áreas da indústria alimentícia também foram afetadas - por exemplo, o aumento dos custos de produção para pescadores aumentou o preço das sardinhas, e um avicultor teve que matar 165 mil pintos, porque não tinha combustível para as incubadoras que os manteriam vivos.
A FAO afirma que árvores, campos, gado e estufas - no valor de US$ 180 milhões - foram destruídas na Operação Chumbo Fundido. A Autoridade Nacional Palestina estima que 15% das terras para cultivo na região tenham sido destruídas.
A FAO afirma ainda que as fronteiras fechadas são um enorme obstáculo para a reconstrução, com a falta de fertilizante, gado, sementes e equipamento agrícola.
Israel diz que em 2010 permitiu a entrada em Gaza de sementes de batata, ovos para reprodução, abelhas e fertilizantes que não poderiam ser usados em bombas.

Trabalhador em prédio em construção em Gaza: setor duramente afetado
Construção
Restrições a material de construção, em particular cimento, e componentes para máquinas, tiveram enorme impacto sobre projetos que vão de tratamento de água à abertura de sepulturas. A reconstrução de prédios e infraestrutura destruida nas operações de Israel de 2009 se tornou praticamente impossível.
A ONU diz que as restrições ao cimento tornaram impossível a reconstrução de 12 mil casas palestinas danificadas ou destruídas durante as operações israelenses.
A organização diz que não pôde construir escolas para abrigar 15 mil novos alunos - necessárias porque a população aumentou desde que o bloqueio começou.
Mesmo antes da operação Chumbo Fundido, todas as fábricas de material de construção tinham fechado (13 que fabricavam azulejos, 30 de concreto, 145 de corte de mármore e 250 de tijolos), e a construção de estradas, de redes de abastecimento de água e saneamento, de instalações médicas e casas foi paralisada.
Durante a trégua, alguns caminhões de cimento começaram a entrar em Gaza, mas o volume estava muito abaixo do necessário - e o fluxo parou, assim que a trégua ruiu.
Em março de 2010, Israel aprovou a entrada de material de construção para alguns projetos da ONU que estavam paralisados, mas o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que aquela era "uma gota em um balde" em comparação às necessidades.
Saúde
A OMS diz que o bloqueio levou a uma "piora das condições de saúde da população" e "à degeneração acelerada" do sistema de saúde.
Israel geralmente permite a entrada de remédios em Gaza. A OMS afirma que a falta de remédios é um problema, com 15% ou 30% dos medicamentos essenciais em falta ao longo de 2009.
O sistema de saúde também luta para obter componentes para suas máquinas e também com a falta de combustível para geradores.
Antes da operação Chumbo Derretido, Gaza tinha apenas 133 leitos hospitalares por 100 mil pessoas, comparados com 583 em Israel, e perdeu parte de sua capacidade durante os combates.
Seis hospitais sofreram danos, incluindo um prédio novo que foi totalmente destruído, e outro que perdeu dois andares inteiros. Gaza simplesmente não está equipada para tratar casos graves de saúde.
De acordo com dados israelenses, 10.554 pacientes e seus acompanhantes deixaram Gaza para obter tratamento médico em Israel desde 2009.
Mas a OMS afirma que em dezembro de 2009, foi negada ou atrasada permissão para entrada de 21% dos pacientes, e 27 morreram durante o ano, à espera de autorizações de Israel.
A fronteira de Rafah com o Egito está fechada desde junho de 2007, apesar de alguns casos médicos considerados especiais poderem cruzar o local.
Israel diz que é necessário uma inspeção cuidadosa, alegando que três pessoas com autorização médica para deixar o território planejavam, na verdade, atacar o país.
O governo israelense diz ainda que se ofereceu para facilitar a passagem de Israel para a Jordânia para palestinos que tiveram sua autorização recusada por motivos de segurança.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Genocidio em Gaza continua...

 ‘Por que vou para Gaza’
Escrito por Iara Lee   - Correio da Cidadania
 
Em alguns dias eu serei a única brasileira a embarcar num navio que integra a Gaza Freedom Flotilla. A recente decisão do governo israelense de impedir a entrada do acadêmico internacionalmente reconhecido Noam Chomsky nos Territórios Ocupados da Palestina sugere que também seremos barrados. Não obstante, partiremos com a intenção de entregar comida, água, suprimentos médicos e materiais de construção às comunidades de Gaza.
 
Normalmente eu consideraria uma missão de boa vontade como esta completamente inócua. Mas agora estamos diante de uma crise que afeta os cidadãos palestinos criada pela política internacional. É resultado da atitude de Israel de cercar Gaza em pleno desafio à lei internacional. Embora o presidente Lula tenha tomado algumas medidas para promover a paz no Oriente Médio, mais ação civil é necessária para sensibilizar as pessoas sobre o grave abuso de direitos humanos em Gaza.
 
O cerco à Faixa de Gaza pelo governo israelense tem origem em 2005, e vem sendo rigorosamente mantido desde a ofensiva militar de 2008-09, que deixou mais de 1.400 mortos e 14.000 lares destruídos. Israel argumenta que suas ações militares intensificadas ocorreram em resposta ao disparo de foguetes ordenado pelo governo do Hamas, cuja legitimidade não reconhece. Porém, segundo organizações internacionais de direitos humanos como a Human Rights Watch, a reação militar israelense tem sido extremamente desproporcional.
 
O cerco não visa militantes palestinos, mas infringe as normas internacionais ao condenar todos pelas ações de alguns. Uma reportagem publicada por Anistia Internacional, Oxfam, Save the Children e CARE relatou que "a crise humanitária (em Gaza) é resultado direto da contínua punição de homens, mulheres e crianças inocentes e é ilegal sob a lei internacional".
 
Como resultado do cerco, civis em Gaza, inclusive crianças e outros inocentes que se encontram no meio do conflito, não têm água limpa para beber, já que as autoridades não podem consertar usinas de tratamento destruídas pelos israelenses. Ataques aéreos que danaram infra-estruturas civis básicas, junto com a redução da importação, deixaram a população de Gaza sem comida e remédios de que precisam para uma sobrevivência saudável.
 
Nós que enfrentamos esta viagem estamos, é claro, preocupados com nossa segurança também. Anteriormente, alguns barcos que tentaram trazer abastecimentos a Gaza foram violentamente assediados pelas forças israelenses. No dia 30 de dezembro de 2008, o navio ‘Dignity’ carregava cirurgiões voluntários e três toneladas de suprimentos médicos quando foi atacado sem aviso prévio por um navio israelense, que o alvejou três vezes a aproximadamente 90 milhas da costa de Gaza. Passageiros e tripulantes ficaram aterrorizados, enquanto seu navio fazia água e tropas israelenses ameaçavam com novos disparos.
 
Todavia eu me envolvo porque creio que ações resolutamente não violentas, que chamam a atenção ao bloqueio, são indispensáveis para esclarecer o público sobre o que está de fato ocorrendo. Simplesmente não há justificativa para impedir que cargas de ajuda humanitária alcancem um povo em crise.
 
Com a partida dos nossos navios, o senador Eduardo Matarazzo Suplicy mandou uma carta de apoio aos palestinos para o governo de Israel. "Eu me considero um amigo de Israel e simpatizante do povo judeu" escreveu, acrescentando, "mas por este meio, e também no Senado, expresso minha simpatia a este movimento completamente pacífico… Os oito navios do Free Gaza Movement (Movimento Gaza Livre) levarão comida, roupas, materiais de construção e a solidariedade de povos de várias nações, para que os palestinos possam reconstruir suas casas e criar um futuro novo, justo e unido".
 
Seguindo este exemplo, funcionários públicos e outros civis devem exigir que sejam abertos canais humanitários a Gaza, que as pessoas recebam comida e suprimentos médicos, e que Israel faça um maior esforço para proteger inocentes. Enquanto eu estou motivada a ponto de me integrar à viagem humanitária, reconheço que muitos não têm condições de fazer o mesmo. Felizmente, é possível colaborar sem ter que embarcar em um navio. Nós todos simplesmente temos de aumentar nossas vozes em protesto contra esta vergonhosa violação dos direitos humanos.
 
Iara Lee é cineasta brasileira de origem coreana e está na flotilha humanitária que levava suprimentos à Faixa de Gaza quando foi atacada pelo exército israelense em águas internacionais, o que causou a morte de onze voluntários turcos.

A crise mundial e suas consequências...

Crise na Grécia ou crise nos estados da União Européia?

Artigo de  Achille Lollo

"No dia 6 de dezembro de 2008 as agências de informação anunciavam que uma violenta rebelião popular havia sacudido as principais cidades da Grécia para protestar contra o assassinato do estudante de 15 anos Aléxis Andréas Grigoropulos, abatido a tiros pela polícia anti-motim. Durante três dias as televisões do mundo inteiro visualizaram as cenas de violência da guerrilha urbana que havia paralisado a capital Atenas, Salonicco, Patrasso, Kavale e também as ilhas de Creta, Rodi e Corfu, quando foi evidente que o assassinato do jovem Aléxis no bairro de Exarquia – fortaleza do movimento estudantil e dos grupos anarquistas - foi provocado "ad hoc" pela polícia para criar um clima de terror e esvaziar a greve geral que as centrais sindicais Adedye (funcionalismo público) e GSEE (setor privado) e os partidos de esquerda, KKE (Comunista), Pasok (social democrata), Synaspismos (Movimentos Sociais) e Verdes, haviam proclamado para dia 10, a fim de protestar contra a crise econômica, as privatizações e o aumento do desemprego". Leia a matéria na íntegra no sitio do Correio da Cidadania...


Rosa Luxemburgo, a guerreira....

Michael Löwy fala sobre Rosa Luxemburgo


Ouça a conferência do pensador marxista brasileiro radicado em França Michael Löwy sobre Rosa Luxemburgo, integrada no ciclo "Pensar os Pensadores do Socialismo", organizado pela CULTRA, e que decorreu na Livraria Ler Devagar / Lx Factory, no dia 25 de Maio, m Portugal.

Israel mais uma vez desrespeita os direitos humanos....

Israel ataca navios com ajuda humanitária para Gaza

Reproduzido do sitio Esquerda Net
 
Pelo menos 15 mortos e 50 feridos no ataque israelita à "Frota Liberdade" que transportava para Gaza cerca de 10 toneladas de ajuda humanitária e algumas centenas de militantes pró-palestinianos. O ataque deu-se em plenas águas internacionais.
Israel usa força para travar navios com ajuda humanitária. Foto 
LUSA/EPA.
Soldados israelitas transportam feridos para o hospital em Tel Aviv, após ataque militar de Israel, em águas internacionais, à «Frota Liberdade» que levava ajuda humanitária para Gaza. Foto LUSA/EPA, Roni Schutzer.
De acordo com a AFP, a União Europeia já pediu um inquérito ao incidente e os palestinianos pediram uma reunião urgente na ONU. O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, condenou o ataque, classificando-o de “massacre”.
O conjunto de barcos era liderado por um navio de nacionalidade turca e dirigia-se para a Faixa de Gaza com ajuda humanitária e algumas centenas de pessoas que procuravam furar o bloqueio imposto por Israel àquela região do Médio Oriente.
Detectados pela defesa israelita, três navios lança-mísseis da classe Saar saíram do porto de Haifa e dirigiram-se à frota internacional com a missão de a interceptar e impedir a sua aproximação de território palestiniano.
Era já madrugada quando esta segunda feira os três navios de guerra avistaram a frota auto-denominada "Frota Liberdade". Encontravam-se em plenas águas internacionais. Foi aí que as autoridades militares decidiram agir. Helicópteros israelitas transportaram os comandos que desceram por cordas à abordagem dos navios alegadamente humanitários.
"Quinze pessoas foram mortas durante o ataque, na sua maioria cidadãos turcos", afirmou Mohammed Kaya, responsável pela divisão de Gaza da IHH, uma organização turca de defesa dos direitos do Homem, que fazia parte da operação naval.
Algumas embarcações estavam assinaladas com a bandeira turca, país que já fez saber que condena veementemente esta operação militar, classificando-a de inaceitável. “Israel vai sofrer as consequências por este seu comportamento”, frisou o ministro turco dos Negócios Estrangeiros. O embaixador israelita em Ankara já foi chamado pelo governo turco. O vice primeiro-ministro turco que substitui o chefe de governo que está de visita ao Chile convocou uma reunião de emergência com o ministro do Interior e com as chefias das Forças Armadas.
Os responsáveis palestinianos já condenaram o ataque. O chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, condenou aquilo que classificou como um "crime contra uma missão humanitária" e o Presidente da Autoridade Palestiniana, Amhmoud Abbas, apelidou o incidente de "massacre"e decretou três dias de luto nos territórios palestinianos.
Este ataque está, de resto, a provocar uma onda de levantamentos diplomáticos. A União Europeia quer um inquérito completo ao incidente. A Suécia qualificou o incidente de "completamente inaceitável" e já convocou o embaixador israelita em Estocolmo para lhe dizer exactamente isso. A Grécia também já chamou o embaixador israelita em Atenas para saber da situação dos seus cidadãos e interrompeu o exercício militar conjunto a que que levava a cabo com a marinha israelita.

Em Portugal, o Comité de Solidariedade com a Palestina divulga no seu blogue um relato desde um dos navios da Frota da Liberdade por Thomas Sommer-Houdeville, coordenador da Campanha internacional para a protecção do povo palestiniano (CCIPP) e convoca uma concentração em Lisboa, às 17h30, frente à Embaixada de Israel (Rua António Enes - metro Saldanha).

domingo, 30 de maio de 2010

A propriedade da terra e seus limites necessários....

Plebiscito consultará sociedade sobre limite de propriedade de terra

300510_latifundio Adital - Você acha que deveria haver um limite para propriedade de terra no Brasil? Entre os dias 1º e 7 de setembro deste ano, a sociedade brasileira terá a oportunidade de responder a essa pergunta através de um plebiscito popular.
A iniciativa, promovida pelo Fórum Nacional Popular pela Reforma Agrária e Justiça no Campo juntamente com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pretende indagar a população se há necessidade de limitar ou não as propriedades de terras.
Diversas organizações e entidades sociais já começaram a se articular para preparar a consulta. De acordo com Luiz Cláudio Mandela, coordenador colegiado da Cáritas Brasileira, 72 entidades de diferentes regiões já participaram de um primeiro plenário sobre o assunto. "23 estados já estão participando [da organização] e os outros começam a se articular", afirma.
A ideia é, até setembro, conscientizar e mobilizar a população brasileira sobre a importância do limite de propriedade de terras. "Queremos dialogar com a sociedade sobre a concentração de terras no Brasil. Isso interfere na estrutura política, social, geografia e econômica do país", destaca.
Enquanto o dia da consulta popular não chega, os interessados em participar da Campanha já podem assinar e divulgar o abaixo-assinado em apoio à proposta de emenda à Constituição que limita a área da propriedade de terra no país. "As pessoas já podem levar a folha do abaixo-assinado para debates sobre o assunto e assinar", comenta.
De acordo com Mandela, para torna-se um projeto de lei de iniciativa popular, são necessárias, no mínino, 1,5 milhão de assinaturas, meta que pretendem superar. "Mas a expectativa é que esse número no plebiscito seja muito maior. Queremos que ele seja como os outros, como o da Dívida [em 2000], que contou com seis milhões de votos, o da Alca [Área de Livre Comércio das Américas - realizado em 2002], que teve mais de dez milhões", acrescenta.
Desta vez, o plebiscito irá propor à sociedade um limite de 35 módulos fiscais para as propriedades de terras rurais. A intenção é que essa limitação esteja prevista na Constituição Federal. Segundo informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), módulo fiscal é a unidade que "serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho". A Lei nº 8.629, de fevereiro de 1993, considera grandes propriedades imóveis acima de 15 módulos fiscais.
De acordo com a Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra, a inclusão na Constituição do limite das propriedades de terras em até 35 módulos fiscais "resultaria numa disponibilidade imediata de mais de 200 milhões de hectares de terra para as famílias acampadas, sem despender recursos públicos para a indenização dos proprietários".
O plebiscito acontece nacionalmente durante o Grito dos Excluídos, na primeira semana de setembro. Mais informações: http://www.limitedaterra.org.br/index.php

tráfico de cocaína....

Reproduzo do blog do Luis Nassif dados muito interessantes sobre o tráfico de cocaína, feito pela ONU, em 2008.

O relatório 2008 da ONU sobre a cocaína

Dados do UNODC sobre apreensões individuais de drogas mostram que, de um número total de apreensões de cocaína realizadas na Europa em 2007 (em que a origem da remessa foi identificada), 22% haviam sido contrabandeados via África para a Europa. As cifras mostram que o contrabando da droga à Europa via África aumentou consideravelmente nos últimos três anos, com registros de 12% em 2006 e 5% em 2004. Grupos criminosos da África Ocidental continuam a dominar o tráfico no varejo em diversos países europeus. O país mencionado com mais freqüência como origem da cocaína traficada para a África é a Colômbia, seguida do Peru. Em relação às apreensões de cocaína realizadas na África, o país de trânsito mais importante é o Brasil, seguido da Venezuela. (p. 79)
Com base nas apreensões individuais reportadas ao UNODC, a maior parte da cocaína interceptada na Europa em 2006 partiu dos seguintes países: Venezuela (36% das apreensões), seguida da Colômbia (17%), República Dominicana (5%), Brasil (3%), Equador (3%), Argentina (3%) e Peru (3%). O ranking de 2007 também começou com apreensões que partiram da Venezuela (44%), seguida do Panamá (11%), Colômbia (5%), República Dominicana (4%), Peru (4%), Brasil (2%), Argentina (2%), Bolívia (1%), México (1%) e Costa Rica (1%). (p. 77)
Registros de carregamentos de cocaína especificamente destinados à Espanha mostram que a droga saiu da América do Sul principalmente pela Venezuela (31% das apreensões), seguido da República Dominicana (8%), Equador (6%), Brasil (5%), Argentina (5%) e Colômbia (4%). Traficantes de drogas de origem colombiana dominam as operações de tráfico. Integrantes destes grupos também representam o maior número de prisões de estrangeiros na Espanha (23% em 2006), à frente dos grupos do Marrocos (11%) e de grupos da República Dominicana (6%), Romênia (3%), Reino Unido (2%), Portugal (2%) e Itália (2%).
(p. 78)
As apreensões de cocaína em Portugal basicamente dobraram em 2004, em 2005 e em 2006 (de 3 t em 2003, para 7 t em 2004, 18 t em 2005 e 35 t em 2006). Grandes apreensões realizadas pelas autoridades de Portugal estão principalmente ligadas à importância da África Ocidental, inclusive países de língua portuguesa, como Cabo Verde e Guiné Bissau. A cocaína é contrabandeada da região andina, freqüentemente passando pela Venezuela, Brasil e outros países do Oeste África para chegar à Europa.
Os estrangeiros detidos em Portugal por tráfico de cocaína em 2006 eram principalmente de Cabo Verde (19%), Venezuela (14%), Brasil (13%), Guiné Bissau (5%), bem como Angola (1%) e São Tomé e Príncipe (1%). Além disso, traficantes europeus foram detidos na tentativa de contrabandear cocaína de Portugal para outros países. Entre estes estão cidadãos da Espanha (13%) e dos Países Baixos (Holanda) (6%). Apreensões individuais relatadas por Portugal ao UNODC em 2007 sugerem que 99% dos carregamentos de cocaína para Portugal transitaram por águas africanas. A maior parte teve origem no Senegal e Guiné Bissau, em 2007.



Vade retro Satanás!!!

 Reproduzo aqui artigo de Paulo Henrique Amorim, postado hoje em seu blog Conversa Afiada

 

Gilmar ameaça usar a “mídia” para atacar presidente do STF. Caiu a máscara

Ele acha que pode tudo

Fernando de Barros e Silva, na Folha (*), página A14, publica reportagem espantosa:

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Dantas (**) ameaçar usar a mídia (leia-se PiG ***) para atacar o atual presidente do STF, Cezar Peluso.


Peluso assumiu o Conselho Nacional de Justiça e resolveu conferir despesas feitas pelo ex-Supremo Presidente do Supremo com diárias e viagens.


Mais: Peluso criou um setor contábil, que não existia.


A resposta do ex-Presidente Supremo do Supremo foi feroz e incluiu: “escrever na imprensa” para se defender.


Peluso, num e-mail, ponderou que esse “não é assunto para o público externo, ‘numa alusão às incursões mediáticas do colega’ ”, completou Barros de Silva.


Ou seja, a reportagem da Folha expõe as vísceras de um mal que afligiu o Brasil durante dois anos: a sinistra associação entre quem se tinha na conta de Supremo e o PiG (***).


Uma associação que, a certa altura, este ordinário blog percebeu como um pacto para dar um Golpe de Estado da Direita.


É para isso mesmo que o PiG (***) serve.


Como vala por onde correm as ameaças ao Estado de Direito.


O que o Ministro Peluso pretende é um elementar controle sobre diárias e passagens do órgão que preside.


Nenhum presidente do Supremo deu tantas entrevistas ou fez tantas viagens quando o ex-Supremo ex-Presidente.


Só  num certo “mutirão carcerário” – que teve efeito irrelevante sobre a situação dramática dos presídios brasileiros – só por conta desse mutirão o ex-Presidente Supremo gastou a bagatela de R$ 7 milhões do povo brasileiro.


Muito bem faz o Ministro Peluso em querer saber que história é essa.


Chamar as contas às falas.


E que venha a fúria do Supremo ex-presidente no PiG.


Ela já não assusta mais ninguém.


Ele vive hoje ministerial irrelevância e se encaminha, segundo Justiniano I, o Grande – clique aqui para ler – para deixar o Supremo, com a inexorável vitória da Dilma.


E vai se dedicar, provavelmente, a processar, inutilmente, jornalista independente.


Indubitavelmente, belo fim de carreira.


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é ; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Clique aqui para ver como um eminente colonista (****) do Globo se referiu a Ele.  E aqui para ver como outra eminente colonista (****) da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(****) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (***) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

sábado, 29 de maio de 2010

Ainda o Irã...

Irã: quem atira a primeira pedra?



 
 
O presidente Lula empreendeu uma delicada operação diplomática para evitar que o Irã utilize a energia nuclear para fins bélicos. As nações mais poderosas do mundo, capitaneadas pelos EUA, logo expressaram sua indignação e discordância: como um "paiseco" como o Brasil ousa querer ditar regras na política internacional?
Marx, Reich e Erich Fromm já nos haviam prevenido que preconceito de classe costuma ser um tabu arraigado. Como alguém que nasceu na cozinha tem o direito de ocupar a sala de jantar?
Pelo critério de George Bush, lamentavelmente preservado por Obama, o Irã faz parte das nações que integram o "eixo do mal". Não morro de amores pela terra dos aiatolás, considero o governo iraniano uma autocracia fundamentalista e discordo do modo patriarcal que o Irã trata as suas mulheres, como seres de segunda classe. Diga-se de passagem, assim também faz o Vaticano, razão pela qual as mulheres são impedidas de acesso ao sacerdócio.
Mas não custa questionar o cinismo dos senhores do mundo com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU: por que Israel tem o direito de possuir arsenal nuclear e o Irã não? Ele jogaria uma bomba nuclear sobre outras nações? Ora, isso os EUA já fez, em 1945, sacrificando milhares de vidas inocentes em Hiroshima e Nagasaki. O Irã desencadearia uma guerra mundial? Ora, o Ocidente civilizado já promoveu duas, a segunda vitimando 50 milhões de pessoas. O nazismo e o fascismo surgiram no Oriente? Todos sabemos: foram criações diabólicas de dois países considerados altamente civilizados, Alemanha e Itália.
Os árabes, ao longo de 800 anos, ocuparam a Península Ibérica. Deixaram um lastro de cultura e arte. A Europa ocupou e saqueou a África e a Ásia, e o lastro é de miséria, mortandade e extorsão. O Irã é uma ditadura? Quantas não foram implantadas na América Latina pela Casa Branca? Inclusive a do Brasil, que durou 21 anos (1964-1985). Há pouco, a Casa Branca apoiou o golpe militar que derrubou o governo democrático de Honduras.
Fortalecido belicamente o Irã poderia ocupar países vizinhos? E o que dizer da ocupação usamericana de Porto Rico, desde 1898, e agora do Iraque e do Afeganistão? E com que direito os EUA mantêm uma base naval, transformada em cárcere clandestino de supostos terroristas, em Guantánamo, território cubano?
Respaldado em que lei internacional os EUA implantaram 700 bases militares em países estrangeiros? Só na Itália existem 14. Na Colômbia, 5. E quantas bases militares estrangeiras há nos EUA?
Há que admitir: o Irã não está preparado para se integrar no seio das nações civilizadas... Nações que financiam, pelo consumo, os cartéis das drogas, tratam imigrantes estrangeiros como escória da humanidade; fazem do consumismo o ideal de vida.
E convém lembrar: fundamentalismo não é apenas uma síndrome religiosa. É, sobretudo, uma enfermidade ideológica, que nos induz a acreditar que o capitalismo é eterno, fora do mercado não há salvação e a desigualdade social é tão natural quanto o inverno e o verão.
Lula candidato era discriminado pelo elitismo brasileiro por não dominar idiomas estrangeiros. Surpreendeu a todos por falar a linguagem dos pobres e revelar-se exímio negociador em questões internacionais.
Sem o apoio do Brasil não avançaria essa primavera democrática que, hoje, semeia esperança de tempos melhores em toda a América Latina. Os eleitores dão as costas às velhas oligarquias políticas e escolhem governantes progressistas.
Essa nova geopolítica latino-americana, que oficializará em 2011 a União das Nações Latino-Americanas e Caribenhas, certamente preocupa Washington. A crise financeira bate as portas das nações mais poderosas do mundo e a Europa entra num período de recessão. O livre mercado, o Estado mínimo, a moeda única (euro), a ciranda especulativa, mergulham numa crise sem precedentes.
Tudo indica que, daqui pra frente, o mundo será diferente. Se melhor ou pior, depende do resultado do embate entre duas forças contrárias: os que pensam a partir do próprio umbigo, interessados apenas em obter fortunas, e os que buscam um projeto alternativo de sociedade, menos desigual e mais humano. É a antiética em confronto com a ética.
[Autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org

Copyright 2010 - FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato - MHPAL - Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].

* Escritor e assessor de movimentos sociais

poeta revolucionario....

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Vladimir Maiakóvski é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.
Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros   poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.


(comentário de Haroldo de Campos
publicado no livro  "Maiakóvski - Poemas"
Editora Perspectiva - 1982)

DE "V INTERNACIONAL"

Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem.
(tradução:  Augusto de Campos)

ESCÁRNIOS

Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes, entregarei a alma ao poder do enxame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas esses que sob a árvore nutriz es-
cavam com seus focinhos as raízes.
(tradução:  Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)

BLUSA FÁTUA

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.
Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!
Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!
(tradução:  Augusto de Campos


A FLAUTA VÉRTEBRA

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
(tradução:  Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)

EU

Nas calçadas pisadas
                   de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
             Onde
                    forcas
                esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
             pescoço de torres
       oblíquas

   soluçando eu avanço por vias que se encruz-
                                                           ilham
à vista
de cruci-
fixos
       polícias
(tradução:  Haroldo de Campos)