quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O estrago da oligarquia de El Salvador


O inferno das maquiladoras em El Salvador

Por Altamiro Borges

O jornalista Mauricio Funes, eleito presidente de El Salvador em março de 2009 pelo ex-grupo guerrilheiro Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), esbarra em colossais dificuldades para superar os estragos causados pela oligarquia. O quadro de miséria no país é assombroso e o grau de exploração dos trabalhadores é revoltante. Uma das marcas das últimas décadas foi a invasão das “maquiladoras”, empresas estrangeiras que exploram a mão-de-obra barata, reprimem os operários e saqueiam as riquezas da nação.

Artigo de Andrea Necciai, publicado no sítio italiano Resistenze, comprova que “nas maquiladoras impera a lei da selva”. O texto faz um relato chocante da exploração no setor têxtil. “A meta de produção estabelecida pelas empresas exige muito mais de oito horas de trabalho para levar para casa US$ 162 – um pagamento miserável, abaixo do nível mínimo de subsistência. Além disso, o magro salário se junta a outras formas de humilhação e exploração, como a proibição de se organizar em sindicatos, as chantagens das entidades patronais, o ‘mobbing’ [terror psicológico no trabalho], a intimidação e os danos causados à saúde por substâncias tóxicas”.

O ônus da crise capitalista

Este quadro ficou ainda mais grave com a eclosão da crise econômica capitalista, a partir do final de 2008. As maquiladoras aproveitaram a crise para cortar salários, reduzir os poucos direitos existentes e demitir milhares de trabalhadores. Das 230 indústrias têxteis existentes na “zona franca” em 2003, hoje restam menos da metade. Após saquearam o nação e os operários, as empresas estrangeiras simplesmente sumiram, deixando milhares de pessoas ao relento. As mulheres jovens, que representam 84% da força de trabalho no setor, foram as principais vítimas. “Cerca de 25 mil têxteis foram expulsos das fábricas nos últimos dois anos”.

Necciai cita o caso da multinacional taiwanesa Charter, situada na zona franca internacional de Olocuilta. No final de 2007, ela contava com 1.400 operários; atualmente, são apenas 370. “No entanto, ela decidiu elevar a meta de produção de 935 para 2.500 peças, obrigando o pessoal a suportar ritmos desumanos de trabalho”. Com a desculpa da crise econômica, a Camtex, associação dos empresários das maquiladoras, propôs ao Ministério do Trabalho aumentar de oito para 12 horas a jornada diária dos operários têxteis.

Um presidente na berlinda

Até o momento, Mauricio Funes evita enfrentar as maquiladoras, temendo o fantasma da fuga de capitais. Segundo o sítio Resistenze, o presidente de El Salvador “não se pronunciou de forma clara e responsável para proteger os direitos dos seus cidadãos”. Já o sindicato dos têxteis tem realizado protestos contra o golpe da Camtex e o procurador de Defesa dos Direitos Humanos, Oscar Luna, já anunciou que a proposta “de modificar o horário de trabalho nas fábricas não está de acordo com as aspirações da população salvadorenha”. Como se observa, o presidente eleito por uma histórica organização de esquerda, a FMLN, está na berlinda.

Do blog do Bourdoukan

Um encontro que a mídia escondeu

Em sua ojeriza contra o islamismo o Ocidente, com apoio de pústulas que se dizem muçulmanos, tentou transformar o Iran no inimigo da humanidade.

Um país de cultura milenar, acossado por todos os lados, a ponto de ser o alvo preferido da mídia analfabeta, inculta e ignorante.

Tentaram transformar o pais de Xerxes, Artaxerxes e Dario no inimigo numero um do judaísmo, quando se sabe que os judeus foram sempre vitimas do Ocidente.

E sobreviveram graças ao abrigo que lhes proporcionaram os muçulmanos.

Mas sejamos francos.

A ojeriza do Ocidente não se dá por si só.

Ele conta com o apoio dos pústulas acima e de seus ecos que se dizem judeus.

Supostos muçulmanos e supostos judeus, engrossam o coro contra a religião mais tolerante das 3 monoteístas.

E por favor, não vamos confundir a religião com seus intérpretes.

E tanto judeus, quanto cristãos e muçulmanos, quando se põem a interpretar os livros sagrados, buscam não a glória de Deus, mas a sua própria.

Deus e os profetas são hoje o principal empecilho dessa gente que só consegue enxergar o ódio.

E claro, alimentados pela própria ignorância que odeia a diversidade e tem pavor do diferente.

Mas essa é a própria história da humanidade que até hoje exalta o individual e odeia o coletivo.

E abaixo vocês vão assistir a um encontro entre o presidente mahmoud Ahmadinejad e um grupo de rabinos que foram ao Iran para lhe agradecer o apoio que tem dado aos judeus do mundo e particularmente aos judeus que vivem no país.

É claro que vocês não verão isso na denominada grande mídia porque ela faz parte do concerto das grandes mentiras que se devota ao islamismo.

O encontro dos rabinos com Ahmadinejad é legendado em português. E aqui deixo o meu agradecimento ao companheiro Raul Longo, lá de Floripa, pelo envio do vídeo. 

 

LÊNIN ANTECIPOU O WIKILEAKS

DO BLOG ARMARINHO DA POLITICA

Diplomacia Exposta


"Inaugurar pactos de paz, depois dos quais não deverá haver acordos diplomáticos secretos, mas sim uma diplomacia franca e sob olhos públicos."  (Primeiro os 14 pontos do presidente Wilson, 1918)


   No alto verão de 1914, milhares de europeus de idade variada apresentaram-se voluntariamente às juntas de alistamento militar. Por todo o lado sentia-se uma euforia patriótica que fez com que a guerra que se avizinhava fosse a mais popular da história do ocidente. Estavam exultando em poder disparar uns contra os outros naquilo que foi provavelmente o maior surto de estupidez coletiva do mundo contemporâneo.
   No entanto, todos tinham motivos nobres para pegar em armas. A causa, acreditavam, era nobre: defender a pátria. E, se for preciso, morrer por ela.
   Até os partidos da 2ª Internacional Socialista que juraram fazer uma greve geral contra a guerra sucumbiram à maré belicista, votando nas verbas necessárias para municiar os exércitos e as marinhas. Somente um minúsculo grupo de exilados russos, liderados por Lênin, então um desconhecido que vivia em Berna, na Suíça, não se deixou seduzir pelo clamor sanguinário. Em setembro de 1915, reunido em Zimmerwald com outros socialistas, ele defendeu a tese de que "a guerra imperialista deveria se tranformar em guerras civis", para por abaixo a ordem reinante. Mas foi uma declaração inócua.
   Dois anos e dois meses depois, Lênin e os bolchevistas tomavam de assalto o poder na Rússia enquanto o czarismo ruía estrepitosamene. Seu primeiro movimento foi tirar o país da guerra e fazer a paz.
   De qualquer modo, a Rússia, exausta e com o exército amotinado, não podia mais continuar enfrentando as potências centrais (impérios Alemão e Austro-Húngaro).
   Deu-se, então, que os aliados ocidentais (Grã-Bretanha, França e EUA) jogaram todo o seu peso no sentido de evitar isso. Precisam do soldado russo no front leste para fixar parte dos alemães por lá. 
    A resposta de Lênin foi a publicação dos "documentos secretos" encontrados no cofre do Ministério d Exterior russo e imediatamente publicados no jornal Yzvestiya entre 10 e 23 de novembro de 1917. Foi a maior exposição até então conhecia das vísceras de um Estado.
   Lá estavam as provas de que a matança que havia devorado 16 milhões de vidas não tinha nada a ver com "defesa a pátria", mas era um vergonhoso jogo de toma-lá-dá-cá de territórios acertado entre os chefes de Estado das potências. a guerra, enfim, fora travada com fins imorais!
   O Presidente dos Estados Unidos, W. Wilson, um sincero idealista, dada a repercussão do episódio, terminou por colocar nos seus Quatorze Pontos (apresentados ao Congresso e 8 de janeiro de 1918 o compromisso de abolir com a diplomacia secreta como proposta futura a ser seguida por todas as nações.
   Agora, no caudal da guerra americano-afegã, assistimos outra vez à divulgação de uma massa impressionante de de "documentos secretos" pelo WikiLeaks, que de certo modo cumpre com o programa do presidente Wilson que desejava arejar as relações entre os Estados . Só que os tempos do idealismo foram-se há muito tempo com a morte dele.
__________________


O artigo acima, do prof. Voltaire Schilling, publicado na imprensa portoalegrense no dia 07 do corrente, mostra que os americanos se lixaram para as idéias do presidente Wilson, mas também demonstra que a atitude de Lênin (aliás também esquecida pelos seus sucessores) antecipou a imperiosa necessidade de que os negócios públicos, inclusive os que dizem respeito às relações internacionais, devem ser trazidos ao conhecimento dos cidadãos, única forma de promover o controle social sobre os todos os governos e evitar as aberrações que custaram, ao longo da história, milhões de vidas.

Após 1,2 mil prisões, polícia de Moscou continua em alerta para evitar violência étnica


(do sitio OperaMundi) O prefeito de Moscou, Serguei Sobyanin, assegurou que a polícia russa "continuará agindo duramente" para prevenir qualquer tentativa de distúrbio, depois que grupos étnicos diferentes se enfrentaram no último sábado (11/12) na capital russa e São Petersburgo. Só nesta quarta-feira (15), cerca de mil pessoas foram detidas em caráter "preventivo" para impedir novos choques no atual clima de tensão racial vivido na Rússia.

O novo enfrentamento entre extremistas nacionalistas de direita e migrantes do norte do Cáucaso terminou com um saldo de 1.207 pessoas presas e 30 feridas. O líder tchetcheno Ramzan Kadirov, aliado do Kremlin, disse que os organizadores são fascistas e apenas "provocadores". E aproveitou para propor um maior controle na posse de armas de bala de borracha.

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Kadirov, que possui uma coleção de armas, acredita que as armas de efeito traumático são tão perigosas como as perfurantes. O líder tchetcheno especulou também que os enfrentamentos podem ter sido organizados por grupos hostis à Rússia, utilizando o discurso nacionalista para desestabilizar o país.

EFE

Agentes da Milítsia (polícia russa) prendem suspeitos de incitar conflitos étnicos em Moscou

"Nem todo mundo gosta do fato da Rússia estar se transformando numa superpotência", concluiu Kadirov, em entrevista à TV Rossiya24.

Manipulação

Repetindo o discurso de Kadirov, o líder do comitê jovem do Congresso Russo dos Povos Caucasianos, Sultan Togonidze sugeriu que "muitas pessoas estão interessadas na desestabilização social, política e econômica da Rússia".

"Os jovens devem estar atentos para não se transformarem em marionetes neste jogo sujo e para não cederem às provocações", disse Togonidze, em entrevista coletiva.

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Se for verdade que as manifestações são provocadas, as lideranças étnicas não estão sozinhas em sua teoria. Uma rápida conversa com russos na rua revela que muitos concordam com o que dizem Kadirov e Togonidze.

"Grupos estrangeiros com certeza estão envolvidos nestas manifestações fascistas", opinou a gerente de logística Elina Karassiova, falando ao Opera Mundi.

E-mails rastreados

Enquanto isso, serviços secretos da Rússia continuarão rastreando os e-mail pessoais para detectar as direções IP das pessoas que enviam conteúdo extremista e nacionalista.

EFE

Nacionalistas russos, que têm agredido cidadãos russos de origem caucasiana, fazem a saudação fascista
"Toda a informação é analisada e enviada a departamentos especializados em identificar a procedência das mensagens que podem colocar em perigo a segurança da população", declarou a inteligência russa à imprensa.

Os distúrbios são os mais graves da última década em Moscou e o medo se refletiu num metrô vazio e num congestionamento de 2.850 quilômetros. Em São Petersburgo, 80 pessoas foram presas. Rumores indicam que no próximo sábado (18/12) Moscou será mais uma vez palco de conflitos diretos entre os nacionalistas e imigrantes.


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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Filme Russo( O Grande Consolador - Velikiy Uteshitel)

O Grande Consolador
(Velikiy Uteshitel)
KG por aglaya
SINOPSE

O Grande Consolador é o filme mais pessoal de Lev Kuleshov, que reflete suas experiências pessoais e seu pensamento sobre o papel do artista na realidade contemporânea. É o único filme do cinema soviético daquela época a tocar na questão do papel que uma pessoa criativa exerce na sociedade.

O filme se passa nos EUA em 1899, e sua trama principal gira em torno de Bill Porter, que é o Grande Consolador do título, na prisão. A sua habilidade em escrever garante a ele privilégios por parte do governador, e ele é poupado do tratamento desumano dispensado aos outros prisioneiros. Porter está perfeitamente ciente da brutalidade ao seu redor, e sabendo de suas condições melhores, recusa-se a escrever sobre a vida na prisão. Ele prefere consolar seus amigos mais desafortunados, na verdade todos os seus leitores, com fantasias excessivamente românticas nas quais o bem sempre triunfa.

O roteiro baseia-se em três fontes: a biografia do escritor americano O. Henry escrita por seu companheiro de prisão Al Jennings, e dois trabalhos do próprio O. Henry, "A Retrieved reformation" e "An Unfinished Story". O. Henry era o pseudônimo de William Porter e há um personagem que aparece sob ambos nomes no filme. Al Jennings também aparece com o nome de Al.

Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)
ELENCO

Konstantin Khokhlov - Bill Porter
Ivan Novoseltsev - Jim Valentine ou Ralph D. Spenser
Vasili Kovrigin - Diretor da prisão
Andrei Fajt - Det. Ben Price
Daniil Vvedensky - Guarda
Weyland Rodd - Prisioneiro negro
O. Rayevskaya - Mãe de Jim
S. Sletov - Guarda
Aleksandra Khokhlova - Dulce
Galina Kravchenko - Annabel Adams
Pyotr Galadzhev - E. Adams - banqueiro/repórter
Vera Lopatina - Sadie

Para mais detalhes, vide IMDB


INFORMAÇÕES SOBRE O FILME

Gênero: Drama
Diretor: Lev Kuleshov
Duração: 1h 31mn
Ano de Lançamento: 1933
País de Origem: União Soviética
Idioma do Áudio: Russo
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0024728/


 CRITICAS

Dois trabalhos interessantes sobre o filme e o diretor em:

"Your heart is beating too loudly" (em inglês)

Três textos de Lev Kuleshov


 
O torrente e a legenda podem ser solicitados e obtidos através do email: turcoluis@gmail.com

A condenação do Brasil na OEA

151210_OEA
Diário Liberdade - [Laerte Braga] A maior parte da população do Brasil não tem conhecimento das atrocidades cometidas por militares e todo o aparato de repressão (polícias civis e militares nos respectivos estados) durante o período da ditadura militar.
São poucos os que conhecem ou têm ciência da Operação Condor. Junção dos serviços repressivos dos países do chamado Cone Sul (Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile) para a prática de prisões, assassinatos de lideranças de oposição, marcada por forte presença de agentes norte-americanos.
Países como Argentina e Chile, notadamente o primeiro, têm se destacado na apuração dos crimes cometidos por militares e agentes da repressão durante o período ditatorial.
No Brasil, por uma lei canhestra e contrária aos acordos internacionais de direitos humanos os criminosos permanecem impunes. A anistia, que, aparentemente permitiu a volta de exilados e a libertação dos presos condenados por crime de “subversão”, na prática eximiu os militares de qualquer culpa em crimes de tortura, assassinato, estupro, toda a barbárie que caracterizou o regime militar.
A Corte Internacional de Direitos Humanos da OEA – Organização dos Estados Americanos – condenou a repressão e os crimes cometidos pelo regime militar brasileiro durante a guerrilha do Araguaia. A sentença foi trazida a público na terça-feira, 14 de dezembro e responsabiliza o Estado brasileiro pelo desaparecimento de sessenta e duas pessoas entre os anos de 1972 e 1974.
É a primeira vez que o Brasil é condenado por crimes contra os direitos humanos praticados à época da ditadura militar (1964/1985). A decisão da Corte terá que ser respaldada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Este ano o assunto chegou a ser discutido entre os ministros daquele tribunal sem que se tenha chegado a um acordo sobre a obrigação de acatar uma sentença de corte internacional, mesmo sendo o Brasil integrante da OEA e signatário de tratados de direitos humanos.
A sentença condenando o Estado brasileiro foi divulgada pelo juiz Roberto de Figueiredo Caldas. No teor da decisão está dito que a Lei de Anistia, assinada em 1979, é um obstáculo à punição de torturadores e funciona como álibi para esses criminosos, já que a Constituição brasileira não deixa portas abertas para esse tipo de punição.
Todo esse certo jurídico para garantir torturadores resultou e resulta de pressões de militares ainda fortes e acentuadas nos dias atuais.
A decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos afirma que o Brasil, na condição de signatário do Pacto de San José da Costa Rica deveria respeitar as normas da própria Corte e adequar a carta magna do País aos princípios estabelecidos naquele acordo.
“Os dispositivos da Lei de Anistia são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeito jurídico e não podem continuar representando um obstáculo para a investigação dos fatos”. É uma parte do texto da sentença.
Um outro ponto da sentença diz respeito “a violação de direito de acesso a informação, estabelecido no artigo 13 da Convenção Americana, já que o governo brasileiro se negou a divulgar e liberar o acesso aos arquivos em poder do Estado com informação sobre os crimes cometidos por militares durante a ditadura militar.
A sentença obriga o Brasil a reconhecer o crime de desaparecimento forçado de pessoas e estabelece que os culpados devem ser punidos
As dificuldades para o reconhecimento da sentença se prendem ainda a reação de militares brasileiros, infensos a qualquer atitude que possa ameaçar torturadores fardados. É recente a quase rebelião de militares das três armas ao Plano Nacional de Direitos Humanos proposto pelo governo do presidente Lula.
Segundo o governo brasileiro o que se constrói aqui é uma “reconciliação pacífica”. Essa, no entanto, é uma afirmação que difere do entendimento do presidente da República e tenta evitar atrito com os militares.
Se reconhecida a sentença, pela primeira vez na história militares brasileiros terão que estudar direitos humanos nos seus cursos de formação e isso, certamente, vai embaralhar a cabeça da turma à hora das marchas.
As forças armadas brasileiras, desde o grande expurgo promovido a partir de 1964 e durante o período ditatorial, pensa como força auxiliar dos Estados Unidos. A imensa e esmagadora maioria dos militares brasileiros ainda teme encontrar comunistas debaixo de suas camas.
E na cabeça dessa maioria direitos humanos são acessórios desnecessários em função do culto ao bezerro de ouro, os EUA.
Como um gigante adormecido, os militares brasileiros são os principais parceiros das elites latifundiárias, dos interesses das grandes empresas estrangeiras no Brasil e imaginam uma espécie de confederação com a América do Norte para nos transformar num adereço cercado de bases militares contra terroristas imaginários (mas interesses econômicos visíveis) confirmando a máxima do pensador inglês Samuel Johnson que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.
A decisão deve repercutir nos quartéis, devem aumentar as pressões para manter impunes torturadores, estupradores, assassinos chancelados pelas forças armadas e pela ditadura militar.
Sabem da cumplicidade de muitas lideranças políticas ainda vivas e atuantes (José Sarney, presidente do Senado), Helio Costa (senador e ex-ministro das Comunicações), a maioria da mídia privada (Globo, Folha de São Paulo, Veja, etc) e isso acaba reforçando as dificuldades para que sejam abertos arquivos da ditadura e punidos boçais travestidos de democratas a garantir a segurança nacional (deles), a lei e a ordem (deles e dos comandaram a ditadura, os de fora).
Um detalhe que merece ser observado nesses tempos de WikiLeaks é a constante criminalização do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A reforma agrária é um dos mais sérios obstáculos à colonização do Brasil pelo agronegócio (controlado de fora) e ao controle de reservas minerais estratégicas e fundamentais ao País e ao seu futuro, por grandes empresas privadas como a Vale.
Nos últimos dias foi revelado que José Serra já havia acertado com empresas dos EUA a entrega do pré-sal “assim que fosse eleito”, confirmando as negociações feitas por FHC em Foz do Iguaçu com investidores e captadores de recursos estrangeiros.
Para além da sentença há toda uma teia envolvendo militares (maioria esmagadora) e elites políticas e econômicas de direita, confirmando o caráter apátrida dessa gente.
Mas é um avanço, um significativo avanço, numa luta que ainda não acabou.

Fidel Castro: O império no banco dos réus


Julian Assange, um homem que há varios meses muito poucas pessoas no mundo conheciam, está demonstrando que o mais poderoso império que jamais existiu na história podia ser desafiado.

O audaz desafio não provinha de uma superpotência rival; de um Estado com mais de cem armas nucleares; de um país com centenas de milhões de habitantes, de um grupo de nações com enormes recursos naturais, dos quais os Estados Unidos não podia prescindir; ou de uma doutrina revolucionária capaz de estremecer até as bases o imperio que se baseia no saque e na exploração do mundo.

Era apenas uma pessoa de quem dificilmente se ouvia mencionar nos meios de imprensa. Embora já seja famoso, pouco se conhece dele, exceto a muito divulgada imputação de ter praticado relações amorosas com duas damas, sem a devida precaução nos tempos de HIV. Ainda não se escreveu um livro sobre sua origem, sua educação ou suas ideias filosóficas e políticas.

Não se conhecem inclusive as motivações que o conduziram ao contundente golpe que assestou ao império. Sabe-se apenas que moralmente o colocou de joelhos.

A agência de noticias AFP informou hoje que “o criador de WikiLeaks continuará na prisão apesar de obter a liberdade sob fiança (…) mas deverá permanecer entre as grades até que se resolva o recurso apresentado pela Suécia, país que reclama sua extradição por supostos delitos sexuais.”

“…a advogada que representa o Estado sueco, [...] anunciou sua intenção de apelar da decisão de libertá-lo.”

“…o juiz Riddle estabeleceu como condições o pagamento de uma fiança de 380 mil dólares, o uso de um bracelete eletrônico e o cumprimento de um toque de recolher.”

O próprio despacho informou que no caso de ser libertado “…deverá residir em uma propriedade de Vaughan Smith, seu amigo e presidente do Frontline Club, o clube de jornalistas de Londres onde WikiLeaks estabeleceu há três semanas o seu quartel general…”

Assange declarou: “‘Minhas convicções não vacilam. Mantenho-me fiel aos ideais que tenho expresado. Se este proceso fez algo, foi aumentar minha determinação de que estes são verdadeiros e corretos’’…”

O valente e brilhante cineasta norte-americano Michael Moore declarou que ofereceu a WikiLeaks sua página na internet, seus servidores, seus nomes de domínio e tudo o que possa proporcionar-lhe para “…’mantener WikiLeaks vivo e próspero enquanto segue trabalhando para expor crimes que foram tramados em segredo e cometidos em nosso nome e com nossos dólares destinados aos impostos’…”

Assange, afirmou Moore, “está sofrendo ‘um ataque tão desapiedado’ [...] ‘porque envergonhou os que ocultaram a verdade’.”

“…'independentemente de que Assange seja culpado ou inocente [...] tem direito a que se pague sua fiança e a se defender’. [...] por isso, ‘me he uni aos cineastas Ken Loach e John Pilger e à escritora Jemima Jan e ofereci dinheiro para a fiança’.”

A contribuição de Moore se elevou 20 mil dólares.

A barragem do governo norte-americano contra WikiLeaks foi tão brutal que, segundo pesquisas do ABC News/Washington Post, dois de cada três estadunidenses querem levar Assange aos tribunais dos Estados Unidos por ter divulgado os documentos. Ninguém se atreveu, porém, a impugnar as verdades que contêm.

Não se conhecem detalhes do plano elaborado pelos estrategistas de WikiLeaks. Sabe-se que Assange distribuiu um volume importante de comunicações a cinco grandes transnacionais da informação, que neste momento possuem o monopólio de muitas noticias, algumas delas tão extremamente mercenárias e pró-fascistas como a espanhola Prisa e a alemã Der Spiegel, que as estão utilizando para atacar os países mais revolucionários.

A opinião pública mundial seguirá de perto tudo o que ocorra acerca de WikiLeaks.
Sobre o governo direitista sueco e a máfia belicista da Otan, que tanto gostam de invocar a liberdade de imprensa e os direitos humanos, cairá a responsabilidade de que se possa conhecer ou não a verdade sobre a cínica política dos Estados Unidos e seus aliados.

As ideias podem ser mais poderosas que as armas nucleares.

Fidel Castro Ruz

14 de dezembro de 2010, 21 h 34

Fonte: Cubadebate

Tradução da redação do Vermelho

Michael Moore paga fiança de Assange


  Altamiro Borges reproduz artigo do cineasta estadunidense Michael Moore, intitulado "Porque estou dando dinheiro para pagar fiança de Julian Assange". O texto foi traduzido Miguel Leite, do blog "Te bloga!":

Ontem, no Tribunal de Magistrados de Westminster, em Londres, os advogados de Julian Assange, co-fundador da WikiLeaks, apresentaram ao juiz um documento informando que eu paguei 20.000 dólares de meu próprio dinheiro para ajudar a resgatar Assange da cadeia.

Além disso, estou oferecendo publicamente o apoio do meu site, meus servidores, meus nomes de domínio e qualquer outra coisa que possa fazer para manter viva e próspera a WikiLeaks enquanto continuar seu trabalho para expor os crimes que eram preparados em segredo e realizados em nosso nome (cidadãos americanos) e com dinheiro de nossos impostos.

Fomos levados à guerra do Iraque por uma mentira. Centenas de milhares estão mortos. Imaginem se os homens que planejaram esse crime de guerra em 2002 tivessem um WikiLeaks para lidar com eles. Eles poderiam não ter sido capazes de consumá-lo. A única razão que os levava a pensar que poderiam fugir da verdade era porque tinham um manto de sigilo garantido. Esse manto foi rasgado, e eu espero que eles nunca sejam capazes de operar em segredo novamente.

Então, porque WikiLeaks, após a realização de um serviço público tão importante, sob tal ataque vicioso? Porque eles têm denunciado e envergonhado aqueles que encobriram a verdade. O ataque que têm sofrido vem do topo:

* Senador Joe Lieberman diz que WikiLeaks “violou a Lei da Espionagem”.

* George, da The New Yorker Packer, Assange chamadas “super-espião, de pele fina, [e] megalomaníaco.”

* Sarah Palin diz ser “um agente anti-americano com sangue nas mãos” a quem devemos perseguir “com a mesma urgência com que buscamos a Al Qaeda e líderes do Taliban”.

* Democrata Bob Beckel (gerente de campanha de Walter Mondale em 1984) disse sobre Assange na Fox: “Um homem morto não pode vazar coisas … só há uma maneira de fazê-lo:. Ilegalmente atirar no filho da puta”.

* Mary Matalin, republicano, diz que “ele é um psicopata, um sociopata … Ele é um terrorista”.

* Rep. Peter A. King chama WikiLeaks uma “organização terrorista”.

E de fato eles são! Eles existem para aterrorizar os mentirosos e belicistas que trouxeram a ruína de nossa nação e para os outros. Talvez a próxima guerra não seja tão fácil, porque as regras foram mudadas – e agora é Big Brother que está sendo vigiado… por nós!

WikiLeaks merece os nossos agradecimentos e que se jogue luz sobre tudo isso. Mas alguns na imprensa hegemônica têm rejeitado a importância do WikiLeaks (“eles já lançaram pouco que há de novo!”). Ou os está pintando como simples anarquistas (“WikiLeaks libera tudo, sem qualquer controle editorial!”).

WikiLeaks existe, em parte, porque a grande mídia não conseguiu fazer jus à sua responsabilidade. Os donos das empresas têm dizimado redações, tornando impossível para bons jornalistas fazerem seu trabalho. Não há mais tempo ou dinheiro para o jornalismo investigativo. Simplificando, os investidores não querem essas histórias expostas. Eles gostam de seus segredos… como segredos.

Peço-lhe para imaginar o quanto o nosso mundo diferente seria se WikiLeaks existisse a 10 anos atrás. Dê uma olhada na foto. Este é o Sr. Bush prestes a receber um documento “secreto” em 6 de agosto de 2001. Seu título dizia: “Bin Laden determinado em atacar nos EUA”. E nessas páginas disse que o FBI descobriu “os padrões de atividade suspeita neste país em conformidade com os preparativos para atentados.” Bush decidiu ignorá-la e foi pescar pelas próximas quatro semanas.

Mas se esse documento houvesse vazado, como você ou eu teríamos reagido? O que o Congresso ou as FAA teriam feito? Não seria uma grande chance de que alguém, em algum lugar tivesse feito alguma coisa, se todos nós soubéssemos sobre Bin Laden, ataque iminente, usando aviões sequestrados?

Mas as pessoas na época tinham pouco acesso a esse documento. Porque o segredo foi mantido, um instrutor da escola de voo em San Diego, que percebeu que dois alunos da Arábia tinham interesse em decolagens ou pousos, não fez nada. Se ele tivesse lido sobre a ameaça de Bin Laden, ele poderia ter chamado o FBI? (Por favor, leia este ensaio pelo ex-agente do FBI Coleen Rowley, 2002 Time co-Person of the Year, sobre sua crença de que com WikiLeaks 2001, 11/09 poderia ter sido evitado.)

Ou se o público, em 2003, tivesse lido o “segredo” dos memorandos de Dick Cheney e de como ele pressionou a CIA a dar-lhe os “fatos” que ele queria, a fim de construir o seu caso falso para a guerra? Se WikiLeaks houvesse revelado na época que não havia, de fato, nenhuma arma de destruição em massa, você acha que a guerra teria sido lançada – ou melhor, não teria havido apelos para detenção de Cheney?

A abertura, transparência – estas estão entre as poucas armas dos cidadãos para se protegerem dos poderosos e dos corruptos. E se dentro poucos dias depois de 04 de agosto de 1964 – após o Pentágono mentir que nosso navio foi atacado pelos norte-vietnamitas no Golfo de Tonkin – tivesse havido um WikiLeaks para dizer ao povo americano que a coisa toda era armação? Eu acho que 58 mil dos nossos soldados (e 2 milhões de vietnamitas) poderiam estar vivos hoje.

Em vez disso, segredos mataram.

Para aqueles de vocês que pensam que é errado apoiar Julian Assange devido às alegações de abuso sexual, tudo que eu peço é que você não sejam ingênuos sobre como o governo funciona quando ele decide ir atrás de suas presas. Por favor – nunca, jamais, acreditem na “história oficial”. E, independentemente de culpa ou inocência Assange, este homem tem o direito de ter paga fiança e se defender. Eu me juntei com os cineastas Ken Loach e John Pilger e escritor Jemima Khan para pagar o dinheiro da fiança – e esperamos que o juiz aceite isso e se pronuncie hoje.

Poderia WikiLeaks causar alguns danos não intencionais às negociações diplomáticas e os interesses dos EUA no mundo? Talvez. Mas esse é o preço que você paga quando você e o seu governo nos leva a uma guerra baseada numa mentira. Sua punição por mau comportamento é que alguém acenda todas as luzes da sala para que possamos ver o que você e ele estão fazendo. Você simplesmente não pode ser confiável. Então, cada transmissão, cada e-mail que você escreve agora é o jogo aberto. Desculpe, mas vocês pediram isto para si mesmos. Ninguém pode esconder a verdade agora. Ninguém pode traçar o próximo Big Lie (grande mentira) se eles sabem que podem ficar expostos.

E essa é a melhor coisa que o site fez. WikiLeaks, Deus os abençoe, vai salvar vidas, como resultado de suas ações. E qualquer um de vocês que me acompanhem ao apoiá-los estarão cometendo um verdadeiro ato de patriotismo.

Eu estou hoje em solidariedade a Julian Assange em Londres, pedindo ao juiz que conceda a sua libertação. Estou disposto a garantir o seu regresso o dinheiro da fiança determinado pela corte. Eu não permitirei que esta injustiça possa continuar incontestada.

P.S. Você pode ler a declaração que apresentou hoje no tribunal de Londres aqui.

P.P.S. Se você está lendo isso em Londres, por favor, vá apoiar Julian Assange e WikiLeaks em uma demonstração em um PM hoje, terça-feira dia 14, em frente ao tribunal de Westminster.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ABU - NÃO - DA - BI

Por estar arrasado, indignado e para não escrever besteiras faço minhas as palavras de Marco Weisseimer, no seu blog RsUrgente

O preço da soberba: o Inter “preservou” tanto seu time que ele ficou em Porto Alegre


Havia algo de estranho no ar. Um certo aroma de anti-clímax. Milhares de colorados atravessaram mares e continentes para chegar aos Emirados Árabes. A confiança era grande. Muito grande. Mas havia algo de estranho no ar. Diferente do que ocorreu no Japão. Uma coisa chamou-me a atenção nos últimos dias. As entrevistas de jogadores, dirigentes e do técnico do Inter falavam do “nervosismo da estreia”, do “frio na barriga”, dos terríveis “minutos iniciais”. Não era a primeira vez que o Colorado participava de uma competição desse porte. Esses discursos pareciam dizer o contrário. Já entre a torcida o clima era de máxima confiança e esperança, razão que levou milhares de pessoas a viajar milhares de quilômetros.
No fim, o problema não foi o “frio na barriga” ou os “minutos iniciais”. Ao final do jogo, os comentaristas esgrimiam suas primeiras teses classificando a derrota do Inter para o Mazembe de “fiasco”, “vexame”. O Inter perdeu para um time ruim, repetiam em coro. O Mazembe pode até ser um time ruim. Mas, nos 90 minutos, o time ruim foi o Internacional. O Mazembe teve um goleiro que defendeu todas as bolas chutadas pelos atacantes colorados. Já o goleiro colorado não defendeu as duas que os africanos dispararam. A pontaria dos atacantes africanos funcionou. Já a do “ataque” colorado…A defesa e o ataque do Inter foram muito ruins. O time da República Democrática do Congo esbanjou força, confiança e eficiência. Não tiveram frio na barriga em nenhum momento do jogo.
Pior é ouvir, ao final do jogo, o inabalável Alecsandro dizer que fez uma boa partida no primeiro tempo e que só não fez um gol porque Tinga o atrapalhou. Aí podem ser encontradas algumas razões para a derrota. A permanência desse rapaz na equipe, após meses de repetidas atuações medíocres, é indicativo de uma certa soberba que aposta no valor de alguns supostos “medalhões”. Especialista em auto-promoção e em entrevistas sempre generosas consigo mesmo, o centroavante colorado saiu de campo repetindo o mesmo mantra de sempre: joguei bem. Imagine quando jogar mal.
Mas certamente ele não é o único responsável pela derrota. Os maiores responsáveis são os dirigentes do Inter e o técnico Celso Roth que passaram o segundo semestre repetindo que era preciso poupar o time para o Mundial. Após ganhar a Libertadores, o Inter arrastou-se pelo Campeonato Brasileiro, repetindo medíocres atuações, mais ou menos como a de hoje. Maior tempo de posse de bola e absoluta incompetência ofensiva. Toca pra cá, toca pra lá. Bola para Kleber. Chuveirinho pra área. Alecsandro sempre escondido atrás dos zagueiros, esperando uma falha da defesa. Na saída do jogo, um torcedor definiu bem esse quadro: o Inter passou seis meses sem jogar e acreditou que, num passe de mágica, voltaria a jogar bem em um jogo decisivo. Jogou exatamente o que vinha jogando.
Foi um fiasco, é verdade. Mas isso não é o principal. A derrota do Inter para o Mazembe mostrou que o futebol tem sua racionalidade própria. Na imensa maioria das vezes, vitórias e derrotas não são fruto do acaso, tem boas razões a explicá-las. O problema do Inter não foi o frio na barriga ou o nervosismo da estreia. O problema foi uma decisão equivocada de sua direção e de sua comissão técnica que desprezaram a ideia de que a qualidade no futebol tem a ver, entre outras coisas, com repetição, com a atitude de mudar o que não está funcionando. Não foi o nervosismo da estreia que derrotou o Colorado. Foi a soberba dos senhores Fernando Carvalho, Vitória Pífero e Celso Roth que acreditaram que o futebol apareceria num estalar de dedo, após meses guardado no armário, para se preservar. O Inter preservou tanto o futebol que foi campeão da Libertadores que ele acabou ficando em Porto Alegre. Agora é tarde. É enfiar a viola no saco e aguentar a flauta dos gremistas que não esperavam um Natal tão generoso. Resta o consolo (pequeno para um torcedor, é verdade) de que o futebol tem algo a nos dizer sobre a vida, seus acertos e erros. Os fiascos e os sucessos não caem do céu. Eles são cuidadosamente tecidos no dia-a-dia.

Wikiliquidação do Império?

  Por Boaventura de Sousa Santos - no CorreioDoBrasil

WikiLeaks
WikiLeaks

A divulgação de centenas de milhares de documentos confidenciais, diplomáticos e militares, pela Wikileaks acrescenta uma nova dimensão ao aprofundamento contraditório da globalização. A revelação, num curto período, não só de documentação que se sabia existir mas a que durante muito tempo foi negado o acesso público por parte de quem a detinha, como também de documentação que ninguém sonhava existir, dramatiza os efeitos da revolução das tecnologias de informação (RTI) e obriga a repensar a natureza dos poderes globais que nos (des)governam e as resistências que os podem desafiar. O questionamento deve ser tão profundo que incluirá a própria Wikileaks: é que nem tudo é transparente na orgia de transparência que a Wikileaks nos oferece.
A revelação é tão impressionante pela tecnologia como pelo conteúdo. A título de exemplo, ouvimos horrorizados este diálogo – Good shooting. Thank you – enquanto caem por terra jornalistas da Reuters e crianças a caminho do colégio, ou seja, enquanto se cometem crimes contra a humanidade. Ficamos a saber que o Irã é consensualmente uma ameaça nuclear para os seus vizinhos e que, portanto, está apenas por decidir quem vai atacar primeiro, se os EUA ou Israel. Que a grande multinacional famacêutica, Pfizer, com a conivência da embaixada dos EUA na Nigéria, procurou fazer chantagem com o Procurador-Geral deste país para evitar pagar indenizações pelo uso experimental indevido de drogas que mataram crianças. Que os EUA fizeram pressões ilegítimas sobre países pobres para os obrigar a assinar a declaração não oficial da Conferência da Mudança Climática de Dezembro passado em Copenhague, de modo a poderem continuar a dominar o mundo com base na poluição causada pela economia do petróleo barato. Que Moçambique não é um Estado-narco totalmente corrupto mas pode correr o risco de o vir a ser. Que no “plano de pacificação das favelas” do Rio de Janeiro se está a aplicar a doutrina da contra-insurgência desenhada pelos EUA para o Iraque e Afeganistão, ou seja, que se estão a usar contra um “inimigo interno” as táticas usadas contra um “inimigo externo”. Que o irmão do “salvador” do Afeganistão, Hamid Karzai, é um importante traficante de ópio. Etc., etc, num quarto de milhão de documentos.
Irá o mundo mudar depois destas revelações? A questão é saber qual das globalizações em confronto— a globalização hegemônica do capitalismo ou a globalização contra-hegemônica dos movimentos sociais em luta por um outro mundo possível— irá beneficiar mais com as fugas de informação. É previsivel que o poder imperial dos EUA aprenda mais rapidamente as lições da Wikileaks que os movimentos e partidos que se lhe opõem em diferentes partes do mundo. Está já em marcha uma nova onda de direito penal imperial, leis “anti-terroristas” para tentar dissuadir os diferentes “piratas” informáticos (hackers), bem como novas técnicas para tornar o poder wikiseguro. Mas, à primeira vista, a Wikileaks tem maior potencial para favorecer as forças democráticas e anti-capitalistas. Para que esse potencial se concretize são necessárias duas condições: processar o novo conhecimento adequadamente e transformá-lo em novas razões para mobilização.
Quanto à primeira condição, já sabíamos que os poderes políticos e econômicos globais mentem quando fazem apelos aos direitos humanos e à democracia, pois que o seu objectivo exclusivo é consolidar o domínio que têm sobre as nossas vidas, não hesitando em usar, para isso, os métodos fascistas mais violentos. Tudo está a ser comprovado, e muito para além do que os mais avisados poderiam admitir. O maior conhecimento cria exigências novas de análise e de divulgação. Em primeiro lugar, é necessário dar a conhecer a distância que existe entre a autenticidade dos documentos e veracidade do que afirmam. Por exemplo, que o Irã seja uma ameaça nuclear só é “verdade” para os maus diplomatas que, ao contrário dos bons, informam os seus governos sobre o que estes gostam de ouvir e não sobre a realidade dos fatos. Do mesmo modo, que a táctica norte-americana da contra-insurgência esteja a ser usada nas favelas é opinião do Consulado Geral dos EUA no Rio. Compete aos cidadãos interpelar o governo nacional, estadual e municipal sobre a veracidade desta opinião. Tal como compete aos tribunais moçambicanos averiguar a alegada corrupção no país. O importante é sabermos divulgar que muitas das decisões de que pode resultar a morte de milhares de pessoas e o sofrimento de milhões são tomadas com base em mentiras e criar a revolta organizada contra tal estado de coisas.
Ainda no domínio do processamento do conhecimento, será cada vez mais crucial fazermos o que chamo uma sociologia das ausências: o que não é divulgado quando aparentemente tudo é divulgado. Por exemplo, resulta muito estranho que Israel, um dos países que mais poderia temer as revelações devido às atrocidades que tem cometido contra o povo palestiniano, esteja tão ausente dos documentos confidenciais. Há a suspeita fundada de que foram eliminados por acordo entre Israel e Julian Assange. Isto significa que vamos precisar de uma Wikileaks alternativa ainda mais transparente. Talvez já esteja em curso a sua criação.
A segunda condição (novas razões e motivações para a mobilização) é ainda mais exigente. Será necessário establecer uma articulação orgânica entre o fenómeno Wikileaks e os movimentos e partidos de esquerda até agora pouco inclinados a explorar as novas possibilidades criadas pela RTI. Essa articulação vai criar a maior disponibilidade para que seja revelada informação que particularmente interessa às forças democráticas anti-capitalistas. Por outro lado, será necessário que essa articulação seja feita com o Foro Social Mundial (FSM) e com os media alternativos que o integram. Curiosamente, o FSM foi a primeira novidade emancipatória da primeira década do século e a Wikileaks, se for aproveitada, pode ser a primeira novidade da segunda década. Para que a articulação se realize é necessária muita reflexão inter-movimentos que permita identificar os desígnios mais insidiosos e agressivos do imperialismo e do fascismo social globalizado, bem como as suas insuspeitadas debilidades a nível nacional, regional e global. É preciso criar uma nova energia mobilizadora a partir da verificação aparentemente contraditória de que o poder capitalista global é simultaneamente mais esmagador do que pensamos e mais frágil do que o que podemos deduzir linearmente da sua força. O FSM, que se reune em Fevereiro próximo em Dakar, está precisar de renovar-se e fortalecer-se, e esta pode ser uma via para que tal ocorra.

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).