sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

CONCRETO ARMADO


Eu confesso
Construo poesias
Como o pedreiro constrói casas
Ele constrói
Com a matéria prima dos outros
O tijolo
O cimento
A água
A pedra
O ferro
Ele nada fabrica
Mistura na proporção exata
E ergue um castelo
Uma quitanda, um muro
Um edifício, um sobrado
Eu sou ainda pior
Misturo sem ter noção
Da proporção exata
Vou empilhando
O cotidiano, o amor
A tristeza, a alegria
O sorriso, a lágrima
Os olhos e a cegueira
Fico no ofício, sozinho
Colocando pedra por pedra
No silêncio da noite
Eu fabrico poesias
Duras, toscas, mal acabadas.
Sem rima,
Sem métrica,
Até sem assunto...
Depois de prontas
Eu as deixo secarem
Num canto do pátio
Algumas desmoronam
Outras se transformam
Outras, ainda, insistentes, que são,
Permanecem iguais.
Estas eu jogo fora, poluindo um riacho
Nos fundos de casa.
As que se transformam
Eu deixo onde estão
E as que desmoronam, estas eu junto
Pedra por pedra
Passo verniz, pinto de branco
Levo ao povoado e vendo aos turistas
Assim sobrevivo,
Volto prá casa, com arroz com feijão
E quilos de idéias
Das coisas que eu vi...

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