Luiz Eça - Correio da cidadania | |
Nas últimas semanas, nossa grande mídia tem caprichado nos ataques ao
general Chávez. Diariamente, sucedem-se matérias que, além das habituais
críticas aos atritos com a imprensa oposicionista, anunciam uma crise
terrível, que atestaria o fracasso talvez definitivo do governo
venezuelano.
Baseiam-se em dados alarmantes. Em 2009, a inflação venezuelana foi de
25% e o crescimento de menos 3,3%, sendo que neste ano se prevê
repetição do crescimento negativo e da inflação, a qual poderia chegar a
40%.
Os números são verdadeiros, mas, quanto à conclusão, há reparos a fazer.
Como se sabe, a economia da Venezuela depende, e muito, da exportação do
petróleo (90% do total das exportações). Foi profundamente afetada pela
recente crise mundial, que reduziu o preço do petróleo de cerca de 120
para 40 dólares o barril.
Diante dessa situação, o governo adotou uma política extremamente conservadora, tipo FMI. Ao invés de estimular os investimentos (como fez o Brasil com sucesso), tratou de cortar despesas, o que trouxe recessão. Some-se a isso uma grande seca, absolutamente sem precedentes, no país, que gerou falta de energia e graves paralisações das atividades industriais, mais uma política errada de supervalorização do bolívar (moeda local), que encareceu e reduziu as exportações, e o resultado foi crescimento negativo e aumento da inflação.
Apesar disso, estes dados estão longe de configurar uma crise de vastas proporções, semelhante à da Grécia.
De fato, enquanto os gregos gemem sob um débito público de 115% do
Produto Interno Bruto, o índice do país de Chávez, em 2009, foi de
apenas 19,9% - bem melhor do que o índice médio da União Européia, que
chega a 79%. E esse bom estado das finanças venezuelanas garante ao
governo a obtenção de empréstimos, se necessário, como aconteceu,
recentemente, quando a China adiantou 20 bilhões de dólares, por conta
de futuras entregas de petróleo.
Quanto à economia, as perspectivas de recuperação são positivas. O
governo corrigiu sua política errada de contenção e volta a investir no
desenvolvimento. Entre outras ações, iniciou um grande plano para
aumento da geração de energia elétrica, aplicando 6 bilhões de dólares.
Com o fim da crise mundial, o preço do petróleo que era de 40
dólares/barril em 2009, neste ano subiu para 82 dólares, em julho. Isso
dará maior fôlego para os planos de expansão da economia venezuelana.
Espera-se que as previsões sombrias de crescimento negativo de 3,3% e de
inflação entre 25 e 40% sejam, pelo menos, aliviadas.
A médio prazo, a Venezuela tem boas condições de deslanchar, voltando a
apresentar taxas de crescimento semelhantes às dos 10 primeiros anos do
governo Chávez, quando sua média superou 10% anuais. Recursos, parece
que não faltarão. A U.S. Energy Administration projetou que os preços do
petróleo deverão atingir 98 dólares/barril em 2020. Ótimo para a
Venezuela, cujas reservas petrolíferas são, depois das últimas
descobertas, as maiores do mundo, atingindo uma estimativa de 500
bilhões de barris. O governo Chávez, presentemente, estuda propostas de
empresas estrangeiras para explorações em joint venture com o estado
venezuelano.
Mesmo no período do segundo semestre de 2008/2009, em que o governo teve
suas receitas minguadas pelos reflexos da crise mundial, a redução dos
gastos não chegou à área do bem estar popular.
Chávez continuou aplicando 40% do orçamento (3 vezes mais do que o governo anterior) na área social.
Programas como construção em massa de casas populares, armazéns do povo,
vendendo produtos mais baratos, expansão constante da assistência
médica nas favelas e outros bairros carentes, criação acelerada de
escolas na periferia – com 3 refeições para as crianças -, água tratada e
saneamento básico foram levados a extensas massas populacionais.
Assim, contrapondo os sinistros números econômicos citados acima, o governo pôde apresentar números sociais bastante positivos.
O desemprego foi mantido sob controle, em 8,2%, índice muito bom se
comparado com outros países da região como a Colômbia, tão elogiada pela
grande mídia, que obteve 12,2% nesse índice.
A pobreza, que atingira 54% dos venezuelanos em 1999, início do governo
Chávez, chegou a 23% em 2009, ano em que a pobreza extrema foi reduzida
em 72%.
Ainda nesse crítico 2009, a Venezuela continuou com a melhor performance
em termos de desigualdades sociais na América Latina : os 20% mais
ricos detendo menos de 40% da riqueza nacional.
Em plena crise, o salário-mínimo continuou o mais alto da América
Latina. E no mês que vem, subirá ainda mais, a 521 dólares, para
recuperar o poder de compra da classe trabalhadora, afetado pela alta
inflação.
Na Educação, com recessão e tudo, o governo não alterou os 6% do
orçamento habitualmente gastos nessa área (nos países ricos, a média é
3,9%), responsáveis pelo índice de 93% da população alfabetizada – mais
do que no Brasil, México e Colômbia.
Todos esses dados são animadores, mas não se pode subestimar a alta
inflação e a recessão econômica que ainda não foram vencidas.
A grande mídia apontou incompetência, empreguismo e socializações
desordenadas como causas da presente situação difícil. Talvez tenha
alguma razão, embora haja dúvidas sobre alguns desses fatores ou pelo
menos quanto às cores exageradas com que foram pintados. No entanto,
ignorou os fatos positivos da realidade venezuelana e nega-se a admitir
possibilidade da recuperação econômica do país de Chávez.
Elas, as grandes empresas jornalísticas, tão ciosas da liberdade de
imprensa, deveriam lembrar que essa liberdade se justifica na medida em
que seja cumprida sua missão de informar, sem omissões ou distorções. No
caso de governo Chávez, passar um retrato fiel, evitando a tentação da
caricatura ou de retoques que o façam ficar parecido com Frankestein.
Luiz Eça é jornalista.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Chávez não é tão feio quanto parece
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