quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Os 100 Melhores Solos de Guitarra

001 Led Zeppelin - Stairway to Heaven.mp3
002 Van Halen - Eruption.mp3
003 Lynyrd Skynyrd - Freebird.mp3
004 Pink Floyd - Comfortably Numb.mp3
005 Jimi Hendrix - All Along the Watchtower.mp3
006 Guns N' Roses - November Rain.mp3
007 Metallica - One.mp3
008 Eagles - Hotel California.mp3
009 Ozzy Osbourne - Crazy Train.mp3
010 Cream - Crossroads.mp3
011 Jimi Hendrix - Voodoo Child.mp3
012 Chuck Berry - Johnny B. Goode.mp3
013 Stevie Ray Vaughan - Texas Flood.mp3
014 Derek and the Dominos - Layla.mp3
015 Deep Purple - Highway Star.mp3
016 Led Zeppelin - Heartbreaker.mp3
017 Eric Johnson - Cliffs of Dover.mp3
018 Jimi Hendrix - Little Wing.mp3
019 Pantera - Floods.mp3
020 Queen - Bohemian Rhapsody.mp3
021 Pink Floyd - Time.mp3
022 Dire Straits - Sultans of Swing.mp3
023 Rage Against The Machine - Bulls on Parade.mp3
024 Metallica - Fade to Black.mp3
025 Jethro Tull - Aqualung.mp3
026 Nirvana - Smells Like Teen Spirit.mp3
027 Stevie Ray Vaughan - Pride and Joy.mp3
028 Ozzy Ozborne - Mr. Crowley.mp3
029 Steve Vai - For the Love of God.mp3
030 Joe Satriani - Surfing With the Alien.mp3
031 Ted Nugent - Stranglehold.mp3
032 Jimi Hendrix - Machine Gun.mp3
033 B.B King - The Thrill Is Gone.mp3
034 Radiohead - Paranoid Android.mp3
035 Pantera - Cemetery Gates.mp3
036 Yngwie Malmsteen - Black Star.mp3
037 Guns N' Roses - Sweet Child O' Mine.mp3
038 Led Zeppelin - Whole Lotta Love.mp3
039 Neil Young - Cortez the Killer.mp3
040 Steely Dan - Reelin' in the Years.mp3
041 Queen - Brighton Rock.mp3
042 Beatles - While My Guitar Gently Weeps.mp3
043 ZZ Top - Sharp Dressed Man.mp3
044 Pearl Jam - Alive.mp3
045 Doors - Light My Fire.mp3
046 Van Halen - Hot for Teacher.mp3
047 Allman Brothers Band - Jessica.mp3
048 Rolling Stones - Sympathy for the Devil.mp3
049 Santana - Europa.mp3
050 Kiss - Shock Me.mp3
051 Ozzie Ozborne - No More Tears.mp3
052 Jimi Hendrix - Star-Spangled Banner.mp3
053 Led Zeppelin - Since I've Been Loving You.mp3
054 Smashing Pumpkins - Geek USA.mp3
055 Joe Satriani - Satch Boogie.mp3
056 Black Sabbath - War Pigs.mp3
057 Pantera - Walk.mp3
058 Eric Clapton - Cocaine.mp3
059 Kinks - You Really Got Me.mp3
060 Frank Zappa - Zoot Allures.mp3
061 Metallica - Master of Puppets.mp3
062 Pink Floyd - Money.mp3
063 Red Hot Chili Peppers - Scar Tissue.mp3
064 Prince - Little Red Corvette.mp3
065 Allman Brothers - Blue Sky.mp3
066 Iron Maiden - The Number of the Beast.mp3
067 Michael Jackson feat. Eddie Van Halen - Beat It.mp3
068 Yes - Starship Trooper.mp3
069 Beatles - And Your Bird Can Sing.mp3
070 Jimi Hendrix - Purple Haze.mp3
071 Funkadelic - Maggot Brain.mp3
072 Aerosmith - Walk This Way.mp3
073 Phish - Stash.mp3
074 Deep Purple - Lazy.mp3
075 The Who - Won't Get Fooled Again.mp3
076 Neil Young - Cinnamon Girl.mp3
077 Alice In Chains - Man in the Box.mp3
078 Grateful Dead - Truckin'.mp3
079 Van Halen - Mean Street.mp3
080 AC-DC - You Shook Me All Night Long.mp3
081 The Velvet Underground - Sweet Jane.mp3
082 King Crimson - 21st Century Schizoid Mane.mp3
083 Stevie Ray Vaughan - Scuttle Buttin'.mp3
084 UFO - Lights Out.mp3
085 David Bowie - Moonage Daydream.mp3
086 Allman Brothers Band - Whipping Post.mp3
087 Johnny Winter - Highway 61 Revisited.mp3
088 Steely Dan - Kid Charlemagne.mp3
089 Rage Against the Machine - Killing in the Name.mp3
090 Eric Clapton - Let It Rain.mp3
091 Creedence Clearwater Revival - Heard It Through the Grapevine.mp3
092 Stray Cats - Stray Cat Strut.mp3
093 The Doors - The End.mp3
094 Rush - Working Man.mp3
095 Pearl Jam - Yellow Ledbetter.mp3
096 Rolling Stones - Honky Tonk Woman.mp3
097 Judas Priest - Beyond the Realms of Death.mp3
098 Dream Theater - Under a Glass Moon.mp3
099 Jeff Beck - Cause We have Ended as Lovers.mp3
100 Bon Jovi - Wanted Dead or Alive.mp3

créditos: BlogDoLigeirinho


Downloads:
CD1 - parte 1 | CD1 - parte 2

CD2 - parte 1 | CD2 - parte 2

CD3 - parte 1 | CD3 - parte 2

CD4 - parte 1 | CD4 - parte 2

CD5 - parte 1 | CD5 - parte 2

...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Um em cada seis nova-iorquinos tem fome


Mais de um milhão de nova-iorquinos não se alimenta adequadamente, denunciou uma coalizão de grupos de lutas contra a pobreza que criticou o governo americano por cortar a ajuda alimentar de emergência.
A Coalizão contra a Fome de Nova York afirmou que mais de 1,3 milhão de habitantes vivem em lugares onde a comida é escassa. Segundo estes dados, uma em cada seis pessoas sofre com a fome.
"Este estudo anual dos restaurantes populares mostra que há cada vez mais famílias de trabalhadores, crianças e idosos obrigados a recorrerem à alimentação de urgência", disse Joel Berg, diretor executivo do grupo.
"A fome continua crescendo na cidade apesar de, no ano passado, a economia ainda ser sido sólida. Agora que a economia está se debilitando, as filas nos restaurantes populares só fazem crescer", disse.
A coalizão, que representa 1.200 restaurantes populares, denunciou o corte por parte do governo de 5,4 milhões de kg de alimentos. "Estes programas, mantidos principalmente por voluntários, simplesmente não podem sobreviver" sem aajuda federal, disse.
Enquanto isso, a Câmara de Representantes dos Estados Unidos, aprovou um texto de lei, que libera uma verba de US$ 50 bilhões para as operações militares no Iraque e no Afeganistão, mas condicionada a uma retirada das tropas.
A aprovação da Câmara por 218 votos contra 203 é, no entanto, grandemente simbólica, uma vez que o projeto certamente irá fracassar no Senado, onde precisa obter 60 votos. O texto fala de um financiamento das operações limitado a quatro meses, enquanto o presidente George W. Bush pediu ao Congresso a aprovação de um orçamento de US$ 196 bilhões para as operações militares no Iraque e no Afeganistão.
A votação na Câmara de Representantes estipula que os US$ 50 bilhões serviriram para financiar o início de uma retirada das tropas do Iraque, que deveria começar 30 dias após a aprovação da lei, "esta legislação encoraja nossos inimigos", reagiu imediatamente a Casa Branca, reforçando que se o projeto "chegar ao escritório do presidente, ele aplicará seu veto".
O presidente Bush, vetou nesta terça-feira um projeto de lei destinado aos setores de saúde, trabalho e serviços e assinou uma legislação de gastos para Defesa.

Alvin Lee - Saguitar - 2007



1. Anytime U Want Me
2. Squeeze, The
3. It's Time To Play
4. Midnite Train
5. Motel Blues
6. Only Here For The Ride
7. Memphis
8. Got A Lot Of Living To Do
9. Blues Has Got A Hold On Me
10. It's All Good
11. Education
12. Rapper
13. Smoking Dope
14. Rocking Rendezvous

http://alexsolca.com/photos/old_photos_hr/alvinlee.jpg


Agora sozinho sem o Ten Years After...





O IMPÉRIO, SEUS ALIADOS, SUA LATRINA

Por Tali Feld Gleiser e Juan Luis Berterretche.

“O julgamento durou um dia. Enquanto testemunhavam um policial, um vendedor de cigarros e uma telefonista, enquanto o advogado argumentava miseravelmente com uma confusão de grotesco entusiasmo e solene estupidez. Popeye, erguido na sua cadeira, olhava pela janela para fora por cima das cabeças do júri. Às vezes bocejava. (...) O júri saiu apenas por oito minutos. De pé, frente ao réu, o declararam culpado. Popeye lhes devolveu o olhar em silêncio, durante vários minutos. Depois disse:

Diabo! Pelo amor de Deus!

... em quanto o juiz anunciava que dia deveria ser enforcado.”

William Faulkner /1

“Não importa quanto nos pressionem e quanto nos queiram intimidar, nunca votaremos contra a vontade do povo de Botsuana!”, assegurou o representante desse país, Samuel Otsile Outule.

A União Européia “nos quer impor seus valores”, reclamou indignado o representante de Singapura, Kevin Cheok.

“Optaram por práticas colonialistas e entrometer-se nos assuntos internos de outros países soberanos.”, afirmou o embaixador do Egito.

Se a partir dessas manifestações, pensa que estes diplomáticos estão inquietos pela defesa da soberania dos seus povos, só podemos lhe dizer: amig@, já é hora de deixar de ser incauto! As inflamadas declarações foram em defesa da Pena de Morte.

Esses três farsantes foram aliados dos Estados Unidos na votação da ONU, em 14 de novembro de 2007. Apesar da postura deles em contra da resolução, o texto de uma Moratória Internacional na aplicação da Pena de Morte foi aprovado por 99 votos a favor, 52 em contra e 33 abstenções trás dois dias de intenso debate no seio do comitê de direitos humanos do órgão legislativo das Nações Unidas, composto por 192 países. EUA e seus aliados, embarcados em tão lúgubre causa, tentaram manobrar apresentando umas vinte emendas que desvirtuavam o texto da resolução e que foram todas rejeitadas.

A resolução expressa preocupação pela continuada aplicação da pena de morte e insta aos países que a mantém nos seus códigos penais para que “estabeleçam uma moratória das execuções tencionando a abolição”. Também trata sobre os estudantes internacionais que garantem os direitos dos condenados e à progressiva redução dos delitos que castigam com a morte.

A adoção da moratória supõe um triunfo para os opositores da pena de morte, que desde 1993 tentaram sem sucesso que a Assembléia Geral aprovasse uma medida semelhante.

A resolução, como todas as da Assembléia Geral, não é vinculante mas seus promotores asseguram que supõe um respaldo moral na luta em favor da abolição da pena de morte.

Um total de 133 Estados membros da ONU aboliram a pena de morte em sua legislação ou na prática, e só 25 países realizaram execuções em 2006, o 91 por cento das quais se registraram na China, Irã, Iraque, Paquistão, Sudão e Estados Unidos, segundo dados da Anistia Internacional.

Os aliados dos Estados Unidos na defesa da Pena de Morte não são países defensores da “democracia liberal” que tanto pregoam, senão que se trata de governos autoritários, ditaduras militares, castas corruptas, estados dirigidos pelo fanatismo teocrático ou integrantes do famoso “Eixo do Mal”.

O número de execuções caiu em mais de 25% em 2006, de acordo com a organização de direitos humanos, quando se aplicaram pelo menos 1.591 penas de morte em 25 países frente às 2.148 execuções consumadas em 2005. O patíbulo mais degradante presenciado em 2006, tanto pela farsa do processo judicial como pela imoralidade da sentência, foi contabilizado para o Iraque. Mas na verdade os fantoches que sentenciaram Saddam Hussein, acatavam ordens dos Estados Unidos e o espetáculo depravado da execução estava dirigido aos leitores estadunidenses. Certamente, com pouco sucesso.

Podemos concluir que não houve um significativo avanço na justiça penal estadunidense desde as fogueiras de Salem até hoje.

1/ William Faulkner Sanctuary Random House Inc. Nova York 1980.

Versão em português: Raul Fitipaldi de América Latina Palavra Viva.

Interpretação gráfica: Tali Feld Gleiser.

Velhos Camaradas - Tim Maia, Cassiano e Hildon [1998]

Cassiano
Hyldon
Tim Maia

"Muitos anos atrás, numa conversa informal, Tim manifestou o desejo de gravarmos um disco juntos: Ele, Cassiano e Eu. Infelizmente esse projeto nunca saiu do papel. Agora, 25 anos depois, fico feliz de poder, junto com Cassiano, realizar esse sonhado encontro musical e dedicar, com todo o mérito ao Papa da Soul Music no Brasil e um dos maiores cantores/ compositores de todos os tempos, nosso parceiro - Tim Maia."
Hyldon (2001)

Créditos: SomBarato


Faça o Download aqui


Faixas:
1 Primavera [Vai Chuva]
(Silvio Rochael - Cassiano)
Interpretação: Tim Maia
2 Na sombra de uma árvore
(Hyldon)
Interpretação: Hyldon
3 De bar em bar
(Paulo Zdanowski - Cassiano)
Interpretação: Cassiano
4 Réu confesso
(Tim Maia)
Interpretação: Tim Maia
5 As dores do mundo
(Hyldon)
Interpretação: Hyldon
6 Salve essa flor
(Paulo Zdanowski - Cassiano)
Interpretação: Cassiano
7 Coroné Antônio Bento
(Luiz Wanderley - João do Vale)
Interpretação: Tim Maia
8 Na rua, na chuva, na fazenda [Casinha de sapê]
(Hyldon)
Interpretação: Hyldon
9 A lua e eu
(Paulo Zdanowski - Cassiano)
Interpretação: Cassiano
10 Gostava tanto de você
(Édson Trindade)
Interpretação: Tim Maia
11 Sábado e domingo
(Nenem - Hyldon)
Interpretação: Hyldon
12 Coleção
(Paulo Zdanowski - Cassiano)
Interpretação: Cassiano
13 Azul da cor do mar
(Tim Maia)
Interpretação: Tim Maia
14 Acontecimento
(Hyldon)
Interpretação: Hyldon

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Astral Traveller- Yes

O Rebaixamento perfeito.

Por Andreas Andreas Müllerr Müller

Em 2005, o Corinthians comprou um título brasileiro que pertencia ao Inter. “Comprou” é pouco: mais preciso seria dizer que roubou descaradamente; que se aproveitou do torcedor brasileiro para desinfetar o dinheiro pestilento da MSI. A escalada da corrupção corintiana atingiu seu cume no dia 20 de novembro de 2005, no Pacaembu. Naquela tarde ensolarada, Márcio Rezende de Freitas não cometeu nenhum erro ao expulsar Tinga. Ele apenas puniu um jogador que ameaçou destruir o esquema fraudulento da MSI. Deliberadamente. Todos sabiam que um pênalti como aquele, claríssimo, poderia tirar o título brasileiro do Corinthians. Marcá-lo era inaceitável. O que aconteceria com os investimentos de Kia Joorabchian? Que explicações restariam para os corleones da máfia russa, que precisavam lavar dinheiro nas águas do sucesso alvi-negro? Convenhamos: ignorar o pênalti e expulsar Tinga foi a única opção de Márcio Rezende.

A torcida corintiana não teve culpa, mas desfrutou de todas as benesses daquele esquema. Mais do que isso: deleitou-se com a conquista do Brasileirão 2005. Os corintianos ergueram aquele troféu e riram, riram muito. Riram com escárnio ante as reclamações legítimas dos gaúchos. Riram de nós, colorados “chorões”. Riram de nossas súplicas pela justiça inexistente do STJD. Riram dos nossos pedidos de socorro à FIFA. Foi por isso que cada um de nós usou um nariz de palhaço naqueles últimos jogos do Brasileirão 2005. No Brasil, quem tenta conquistar algo de forma honesta é sempre motivo de risos.

Mas o roteiro do destino reservou, para os corintianos, uma derrocada lenta e dolorosa – que começaria logo no ano seguinte, com os títulos internacionais do Inter. As conquistas da América e do Mundo foram, em grande parte, frutos da indignação e da inconformidade ante a roubalheira de 2005. O Inter buscou dois troféus que o Corinthians não tem e jamais terá – até porque não estão à venda. Faltou apenas um detalhe para saldar completamente a dívida: faltou privar o Corinthians de uma grande alegria. Deliberadamente. E foi isso que aconteceu neste domingo.

Mas quem disse que entregaríamos o jogo? Ora, o Inter é grande demais para abrir mão da própria nobreza. E por isso lutou. Dividiu bolas, marcou e correu demais para um clube que já não tinha pretensões no campeonato. E até abriu o marcador – o gol de Orozco foi, certamente, o último momento de alegria dos corintianos em 2007. O Inter só cedeu o empate por pressão natural do Goiás, que jogou o tempo todo em rotação máxima. Mas em nenhum momento entregou o jogo; em nenhum momento foi desleal ou desonesto; em nenhum momento se nivelou ao Corinthians.

Por suprema ironia, o rebaixamento do Corinthians aconteceu por causa da arbitragem. O pênalti de Jorge Luiz sobre Vitor foi legítimo, claríssimo – tal como aquele sofrido por Tinga. Clemer defendeu duas cobranças consecutivas, num sinal claro e admirável de que não estava disposto a entregar o jogo. Mas o juiz insistiu. Por puro capricho, Djalma Beltrami concedeu uma terceira tentativa ao Goiás. Prejudicou o Inter e roubou pontos colorados com uma decisão polêmica, discutível e totalmente arbitrária. A diferença é que, desta vez, os corintianos não riram.

O fato é que o rebaixamento do Corinthians foi uma obra-prima do destino. Uma obra irretocável, sublime, de uma perfeição atordoante. Para os ateus e descrentes, foi uma prova avassaladora de que sim, há alguém sentado num plano superior ao nosso. Alguém que nos assiste de cima, que rege nossas glórias e infortúnios com a batuta da Justiça – e que trata de manter as nossas vidas futebolísticas em majestosa harmonia. O rebaixamento do Corinthians cumpriu um roteiro genial, com início, meio e fim. E deixou até uma moral da história: não há dinheiro lavado, jogo manipulado e nem pênalti roubado que escape do apito do grande árbitro do universo.

O perfil de um agricultor agroecológico

Os ensinamentos de Amauri contra latifúndios, agrotóxicos e o lançamento de seu terceiro livro


Os olhos azuis miram a vegetação. Ora tímidos, ora vagos se tornam serenos ao início calmo da fala. O personagem é Amauri Adolfo da Silva, poeta, homeopata, produtor rural, ou como faz questão: um agricultor agroecológico. Os vislumbres de Amauri viraram livro, o último: O Trem – Um sonho de luz e ternura que conta a saga de uma locomotiva que só trilha uma direção: o Norte. Caminho sem volta, metáfora do panorama do campo brasileiro nos últimos trinta anos, fruto da modernização agrícola. “O crescimento da ciência sem consciência", diz.

Sob a luz mansa de uma sexta-feira, fábula e realidade se fundem no clima ameno propiciado pela hospitalidade de Amauri. Os sete hectares de terra, em Espera Feliz, Zona da Mata Mineira, apontam a inspiração: o sol nasce no decote das montanhas, o cheiro do café moído no moinho girado pelas mãos hábeis e da broa de farinha de biju inebriam os sentidos e compõem o quadro com a flora variada: “Ipê tabaco, Cedro, Uvalha, Capoeira branca, Ingá, Cabiúna, Jacarandá, Angico” - e flores, muitas flores

Redemoinho foi o primeiro livro de Amauri, teve edição independente e traz poemas. Pedaços de Poesia, que espera ser editado, é o que o nome promete. Já O TREM, Amauri pensa lançá-lo em uma das estações da desativada Estrada de Ferro Leopoldina-Cataguazes, a mais antiga ferrovia do Estado de Minas Gerais.

Cachinho de Luz e Olhos de Ternura são as duas personagens principais da obra. Luz e ternura são características que retirou das filhas, mas não significa que sejam elas. Na ficção, as meninas descobrem uma locomotiva que faz o caminho contrário. Partem rumo ao Sul, em busca de um baú de saberes, e encontram contadores de histórias, artesãos, benzedeiras, folia de reis, festa do padroeiro e muitas mulheres chamadas de Maria, como ainda é comum no interior mineiro.

O corpo franzino e o rosto miúdo já têm 41 anos. Reclama do pouco tempo e do excesso de compromissos que o afastam da propriedade. É militante engajado em lutas do campesinato da região há 25 anos. Participou das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), envolveu-se com a Teologia da Libertação, da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) local e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STRs) no município, além da intensa luta contra os agrotóxicos.

Volta e meia dispensa o chinelo e as botas para caminhar descalço pela propriedade. Acompanhado da esposa Vera, conversa com animais e plantas. Maneja a propriedade com técnicas peculiares: homeopatia, florais e reick, maneira de trabalho que chama de agroecologia. “É uma forma de respeito a todos os tipos de vida. Gosto de dizer que trabalho em mutirão com todos os seres que existem na propriedade, em sistema de solidariedade. Esse é um caminho de vida, contra um outro de morte, que é esse do latifúndio. Os valores são outros, não dá para você pensar só no dinheiro”.

O papo se prolonga e, aos poucos, a história surge e com ela a de vários outros agricultores da região. Amauri lembra que a monocultura e o latifúndio cresceram ali à época de seu pai, década 70, quando trouxeram a substituição do modo de produção tradicional pelo o que ele chama de “pacote tecnológico” - uso de fertilizantes químicos, máquinas e melhoramentos genéticos - que, mesmo contrariado, foi obrigado a adotar, pois o crédito rural estava vinculado ao uso: “Falavam para a gente que aquilo era remédio. Trabalhávamos sem nenhuma proteção”. Em conseqüência, aos 12 anos sofreu com uma intoxicação.

Há quatro anos não faz adubação química, orgânica ou mesmo pulverização na lavoura e diz conseguir produção de café semelhante à dos vizinhos, produtores convencionais. “As pessoas sempre me perguntam: quanto você está produzindo? Acho que a pergunta deveria ser mudada para: quanto custa produzir? Quanto, por exemplo, gasto com saúde? Tem gente que passa vida inteira tentando ganhar dinheiro e esquece da saúde. E quando consegue juntar uma boa quantia de dinheiro, é obrigado a gastar tudo com hospital”, ensina

Desenvolvimento local
A manhã passa rápido após o café. Amaury tem um encontro cujo tema é desenvolvimento local. Numa pequena casa próxima a entrada da cidade está a escolinha sindical. Os presentes: representantes de entidades locais – Pastoral da Juventude, Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais, Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata Mineira, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais - e alguns agricultores.

As cadeiras formam um círculo e a discussão tem início. Sentado, segurando uma pequena corrente presa a um cristal que balança, Amauri mais escuta do que fala. Quando intervem, não levanta a voz. Quem está distante precisa esticar o pescoço: “Não tem como haver desenvolvimento se não houver envolvimento das pessoas...”.

Na primeira quinzena de agosto, Amauri recebeu em seu sítio, Espaço Saber Cuidar, cerca de 20 estudantes, de nove estados, que participavam do 28º Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Biológicas (ENEB). Na ocasião, falou sobre agroecologia. A experiência não é única e o contato, cada vez mais freqüente com a academia traz a região gente desejosa de conhecer o saber local dos agricultores. Amauri também palestrou para mais de 500 estudantes no principal auditório da Universidade Federal de Viçosa (UFV), durante o 48º Congresso Nacional dos Estudantes da Agronomia (CONEA), realizado em agosto de 2005.

Caminhando pelas trilhas e atento aos pequenos detalhes, no final da tarde coloca música para as plantas. Planeja montar um sistema de som que chegue a sua área de cultivo. “Música clássica” é o repertório para as plantas. Qualquer música? “Beethoven não. Dele elas não gostam”.

O que os vizinhos pensam? “Muitos deles acham que sou louco, mas digo: loucura não é usar veneno, não é maltratar os animais, a mulher, deixar os filhos o dia todo em frente à TV assistindo cenas de violência? Muitas vezes, de tanto ver, nos acostumamos com o absurdo e o tomamos como normal”, finaliza, antes de seguir para uma cidade vizinha onde falará sobre homeopatia para outros agricultores.

Leornado Dupin é jornalista.

A nova tentação da eugenia

As afirmações racistas dos cientistas James Watson e Charles Murray deveriam disparar um sinal de alerta. Em sociedades hierarquizadas, é cômodo enxergar na suposta "fraqueza" do oprimido a causa da desigualdade. No Brasil, isso sempre foi o primeiro passo para ampliar a discriminação e exclusão

Alexandre Machado Rosa - Diplo-Br

O geneticista norte-americano James Watson, considerado pai da biologia molecular e quem desvendou a dupla hélice do DNA, afirmou recentemente, sem bases científicas, o mito racista de que os povos da África são menos inteligentes em comparação aos do hemisfério Norte. Sua declaração foi recebida com duras críticas pela maioria da intelectualidade internacional, o que o obrigou a escrever um artigo de retratação. Entretanto, suas desculpas tiveram caráter apenas formal, pois no mesmo artigo ele afirma: “Eu sempre defendi que nós devemos basear nossa visão do mundo no nosso conhecimento, nos fatos, e não naquilo que gostaríamos que fosse”.

Dias depois, Charles Murray, cientista político norte-americano e autor do livro The Bell Curve (A Curva do Sino, Free Press, 1994), saiu na defesa das idéias de Watson. No seu livro, afirma que testes de QI (quoficiente de inteligência) apontavam que há diferenças entre raças, com brancos saindo-se em média melhor do que negros. Além de ressaltar a precariedade do testes de QI, que tentam quantificar a subjetividade da inteligência, não podemos considerar as teses de Watson e Murray como novas. Esta insistente defesa de diferenças entre a raça humana, tem reaparecido com certa rotina, tanto no debate científico quando na política

Durante a campanha eleitoral deste ano na Suíça, a UDC (União Democrática do Centro, partido da direita nacionalista), utilizou em campanha um cartaz que representa uma ovelha negra sendo expulsa por ovelhas brancas. Transmitiu deliberadamente uma mensagem racista, num país que sempre reivindicou a defesa dos direitos humanos.

No Brasil, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, reavivou velhas feridas históricas, ao declarar que é favorável ao aborto como forma de controle da violência e que as mulheres grávidas das favelas são “fabricas de marginais”. Por lançar declarações polêmicas e se referir às teses do livro Freakonomics, que segue a velha fórmula da antropologia criminal de Cesare Lombroso (1835-1909), Cabral pisou em terreno perigoso e colocou em risco seu histórico democrático. De quebra, fez coro com as declarações e ações racistas pelo mundo.

Da crença nas habilidades "raciais" à tentativa de tornar o Brasil europeu

A tentativa de explicar e classificar as diferenças entre culturas e povos foi uma tendência marcante do cientificismo e do positivismo no século 19. Primo de Charles Darwin e descobridor das impressões digitais humanas, o antropologista Francis Galton (1822 – 1911) cunhou o termo ideologia eugênica, em seu livro intitulado Inquires into human faculty, de 1883. Lecionou na universidade de Londres, realizou muitos estudos em conjunto com seu primo sobre antropologia, QI humano, doenças físicas e mentais possivelmente herdadas.

Como descreve de forma brilhante Nancy Leys Stepan, em The Hour of Eugenics, a ação dos eugenistas na América Latina parte da aplicação e difusão dos conceitos de Galton afirmava que as habilidades naturais dos homens são derivadas por herança. O raciocínio eugênico argumenta que para obter "boas" raças de cachorro ou cavalos basta realizar uma seleção permanente de espécimes que possuem, por exemplo, um peculiar poder para correr. As características serão mantidas por gerações. Portanto, se mulheres de boa raça se casarem com homens de boa raça, poderemos obter boas raças em gerações seqüenciais. (Stepan, 1991)

No Brasil a eugenia teve grande importância no pensamento hegemônico que fundou as bases do Estado moderno no final do século 19 e durante a primeira metade do século 20. Em certa medida, o movimento higienista e sanitarista, que teve Osvaldo Cruz (1872-1917) como um de seus principais defensores, foi incorporado oficialmente ao Estado em 1903. Nomeado pelo presidente Rodrigues Alves para a direção do serviço de saúde pública do Rio de Janeiro, seu pensamento e ordens deram suporte para o surgimento, em 1917, do pensamento eugênico no Brasil, por meio do médico Renato Kehl.

O higienismo de Osvaldo Cruz foi ideologicamente incorporado pela eugenia de Kehl, incorpando e consolidando as teses racistas na superestrutura do Estado brasileiro, reforçando a brutal exclusão econômica promovida contra a população negra, mestiça e indígena em favor de um clareamento do fenótipo brasileiro e a conseqüente aproximação do ideal republicano europeu.

Como se a favela, "criadouro de pobres e de vícios" fosse a causa de nossos males sociais

A visão criminalizante usada por Sérgio Cabral para defender a legalização do aborto como forma de prevenir a criminalidade e a violência, promove uma confusão dentro do debate sobre o próprio aborto, que deve ser tratado no campo da saúde pública e como problema da sociedade brasileira.

Outro personagem brasileiro que acaba fazendo eco numa proporção menor, é o médico Drauzio Varella. No dia 14.04.2007, publicou, na Folha de S.Paulo um artigo intitulado Tal qual avestruzes, no qual resgata uma resolução da World Scientific Academies, de 1993, que afirma: “A humanidade se aproxima de uma crise. Durante o tempo de duração da vida de nossos filhos, nosso objetivo deve ser o de atingir crescimento populacional igual a zero”.

Em um dos artigos, intitulado Os filhos deste solo, ele aponta uma visão determinista, condena a pobreza à não reprodução e evoca conceitos elaborados por Malthus, como a teoria da taxa de reposição - quando afirma que Para manter constante a população de um país, cada casal deveria ter dois filhos. Um para substituir a mãe quando ela morrer, e outro para substituir o pai. É a chamada "taxa de reposição".

O paradigma malthusiano [1] apresentou um bode expiatório - o crescimento ilimitado da população - para explicar a fome, as guerras e os vícios. Varella segue a mesma receita. Usa os gráficos de crescimento populacional brasileiro que apontam uma taxa média de filhos por família de 6,3 em 1950, contra 2,3 em 2000 (IBGE, 2000). Ele questiona a média e os dados dizendo: “No Brasil, há 40 anos, cada família tinha, em média, seis filhos. Hoje, as estatísticas mostram que estamos muito próximos do equilíbrio populacional, com pouco mais de dois filhos por mulher. Mas as estatísticas refletem a média, e as médias podem ser traiçoeiras...”.

Em seu livro Cidade Febril, Sidney Chalhoub resume a visão da elite no auge do higienismo no Brasil "(...)os pobres passaram a representar perigo de contágio no sentido literal mesmo. Os intelectuais médicos grassavam nesta época como miasmas na putrefação, ou como economistas em tempo de inflação: analisavam a “realidade”, faziam seus diagnósticos, prescreviam a cura, e estavam sempre inabalavelmente convencidos de que os hábitos de moradia dos pobres eram nocivos à sociedade, e isto porque as habitações coletivas seriam focos de irradiação de epidemias, além de, naturalmente, terrenos férteis para a propagação de vícios de todos os tipos(...)".

Incorporados à administração estatal, os preconceito perduram até os dias de hoje

Quando se trata de formular políticas públicas de saúde, a favela é onde, supostamente, há um descontrole demográfico, apesar de as estatísticas oficiais negarem. “A Favela Jardim Edith, em São Paulo, é cheia de crianças. Construídas quase na rua, as casas de madeira e papelão ocupam toda a calçada de uma das avenidas mais movimentadas da cidade.” [2]

Inspirados pelos ideais da medicina social, como aponta Michel Foucalt, e o papel da intelecualidade na formação da superestrura do Estado, como sugere Gramsci, os médicos foram incorporados à administração estatal e auxiliaram na legitimação científica e moral das ações. Como intelectuais e detentores dos conhecimentos das ciências naturais, não poderiam ser contestados em plena era da razão e da ciência. O que se seguiu foram ações que modificaram profundamente, além da paisagem urbana, também as relações do Estado com a população da nova sociedade em formação.

No Brasil, as desigualdades sociais e o racismo possuem um ponto de partida semelhante. Isso possibilita uma investigação a partir da construção dos pressupostos eugenistas e higienistas que colocaram os negros e seus descententes em uma escala de inferioridade social. Para conduzir tal processo, o papel do pensamento biologizado difundido pelos intelectuais, principalmente os médicos, é sentido até os dias atuais.



[1] Thomas Malthus trabalhou sob as “leis” da inevitabilidade biológica de uma superpopulação humana e afirma que a economia do século 19 não daria conta de prover os meios necessários para alimentar todos.

[2] Ver em http://drauziovarella.ig.com.br

A voz distante

Nos poemas aqui traduzidos, inéditos no Brasil, Yves Bonnefoy fala de um eterno renascer, contra os desígnios da morte e do esquecimento.

Pablo Simpson

Gostaria de iniciar esta contribuição com a tradução de dois poemas de Yves Bonnefoy. De seu último livro de poemas, publicado em 2001, Les planches courbes (As pranchas curvas). São os dois que iniciam a parte intitulada “A voz distante” (La voix lointaine), publicados previamente em francês e em italiano, com uma litografia original e ilustrações de Farhad Ostovani. Inéditos no Brasil, não fazem parte da edição de sua obra poética, traduzida em 1998, por Mário Laranjeira.

Antes, uma observação: Yves Bonnefoy publicou, em 2000, um ensaio sobre o que chamou de “tentação do esquecimento” em dois poemas sem título de As flores do mal, de Baudelaire. Poemas que Baudelaire dedicou à sua mãe numa carta que lhe enviou: “Você não notou que havia nas Flores do mal dois poemas que lhe diziam respeito, ou pelo menos alusivos aos detalhes íntimos de nossa vida antiga?”. Baudelaire, nesse momento, evocaria o pai e a criada Mariette. Em As pranchas curvas, não só a imagem paterna surge pela primeira vez na poesia de Yves Bonnefoy, como é possível notar a presença dessa “servante”. Surge qual fosse uma criança nos 11 poemas de “A voz distante”, cantando, dançando. O poeta vai chamá-la mesmo de Parca, retomando Hölderlin e Valéry (An die Parzen; La Jeune parque). Parca, divindade que decide o destino dos homens, presidindo-lhes o nascimento. Para dizer de um eterno renascer, também na poesia, contra os desígnios da morte e do esquecimento.

Yves Bonnefoy nasceu em 1923, em Tours. Publicou Du mouvement et de l’immobilité de douve (1953), L’arrière-pays (1972, narrativa), dentre outros livros de poemas e narrativas. É tradutor de Shakespeare, Yeats, Leopardi, e autor de estudos consagrados a Rimbaud, Mallarmé e Giacometti. Recentemente, foi publicado, na França, um livro que dedicou a Paul Celan, Ce qui alarma Paul Celan (Galilée, 2007). Suas narrativas, assim como sua obra crítica, permanecem inéditas no Brasil.

La voix lointaine

I

Je l’écoutais puis j’ai craint de ne plus
L’entendre, qui me parle ou qui se parle.
Voix lointaine, un enfant qui joue sur la route,
Mais la nuit est tombée, quelqu’un appelle

Là où la lampe brille, où la porte grince
En s’ouvrant davantage; et ce rayon
Recolore le sable où dansait une ombre,
Rentre, chuchote-t-on, rentre, il est tard.

(Rentre, a-t-on chuchoté, et je n’ai su
Qui appelait ainsi, du fond des âges,
Quelle marâtre, sans mémoire ni visage,
Quel mal souffert avant même de naître.)

II

Ou bien je l’entendais dans une autre salle.
je ne savais rien d’elle sinon l’enfance.
Des années ont passé, c’est presque une vie
Qu’aura duré ce chant, mon bien unique.

Elle chantait, si c’est chanter, mais non,
C’était plutôt entre voix et langage
Une façon de laisser la parole
Errer, comme à l’avant incertain de soi,

Et parfois ce n’étaient pas même des mots,
Rien que le son dont des mots veulent naître,
Le son d’autant d’ombre que de lumière,
Ni déjà la musique ni plus le bruit.

A voz distante

I

Escutava-a, depois temi não mais
Ouvi-la, que me fala ou que se fala.
Voz longe, uma criança que na estrada
Brinca. E a noite cai, alguém me chama.

Lá onde brilha a lâmpada, rangendo
A porta ao mais abrir-se; e esse raio
Recolorindo a areia onde dançava
A sombra, entra, cochicha-se, é tarde.

(Entra, se cochichou, e eu não soube
Quem chamava assim, das eras fundas,
Que madrasta, sem memória ou rosto,
Que mal sofrido, mesmo antes de nascer.)

II

Ou então a escutava noutra sala.
Eu conhecia dela só a infância.
E os anos se passaram, uma vida
Quase durou seu canto, meu bem único.

Ela cantava, se é cantar, mas não,
Era bem mais entre voz e linguagem
Um jeito de deixar com que a palavra
Errasse incerta adiante de si mesma,

Mas, às vezes, não eram nem palavras,
Nada, apenas o som de que elas querem
Nascer, tanto de sombra que de luz,
Nem já a música, nem mais o ruído.