Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Por Daniel Ricci Araújo
Hoje em dia, vivemos sob o império das frases feitas.
Os julgamentos gerais sobre as pessoas e as coisas estão cheios de raiva e arrogância. Uma explicação menos superficial e mais tolerante é tida como coisa de gente pedante. Teimosa. Chata.
O negócio é diminuir, catalogar, ironizar – em suma, mostrar um tolhido desrespeito e um sutil desprezo ao que não gostamos. Vivemos num mundo de frases pinçadas e analisadas fora do contexto, que só servem para consagrar novos e temíveis “gênios da raça”. O verdadeiro gênio Machado de Assis afirmava ser muito fácil negar as coisas: difícil mesmo seria afirmá-las. Estava certo. O esculacho e o menosprezo viraram argumentos por si só.
Muitas das idéias sobre o Mundial de Clubes da FIFA mostram isso. Uma parte do mundo estabelecido do futebol critica, ironiza e até ridiculariza as equipes principiantes. Ouvindo-os sem saber o que tem ocorrido dentro de campo, poderíamos imaginar goleadas estilo “cinco vira, dez termina”. Mas durante dois anos seguidos, Al Ittihad e Al Ahly impuseram não menos do que momentos de terror aos grandes times sul-americanos, inclusive a nós.
Eu falo por mim: nem na falta batida por Ronaldinho, no fim do jogo fatídico, consegui ficar tão nervoso quanto no empate dos egípcios, quatro dias antes. O Milan, ontem, conquistou uma metódica e ajustada vitória contra uma modesta, mas ascendente equipe japonesa. Na quarta-feira, o time tunisiano do Etoile quase desmistificou, com um ou dois contra-ataques, os supostos deuses vivos do “copeirismo”.
Urawa e Etoile, vejam só. Ambos tentaram vencer, desafiaram camisas que estão cem anos a sua frente, e mesmo assim só venderam a um preço alto a derrota “de sempre”, conforme os detratores do Mundial afirmam com seu escárnio vazio. “Viram só, eu não disse”? A justa final do domingo abriu mais um sorriso no rosto daqueles que só vêem simplismos em tudo.
Negar, negar, negar. Coisa fácil. “O Mundial é a final”, dizem alguns. “Os resultados mostram”, dizem outros. Não há escapatória, não há possibilidades, não há chances: ao mundo incompleto daqueles que não admitem o meio termo não faltam só três continentes, mas também humildade e ponderação.
Olhem a província, por exemplo. O Rio Grande do Sul, dizem alguns arautos, é supostamente desprezado pelos sobrenaturais poderes do “eixo”. Mas muitos que dizem isso afirmam também que, no mundo do futebol, América Latina e Europa mandam, e o resto inexiste.
É assim que funciona essa lógica torta e de nariz empinado: seu fundamento é o de duvidar, catalogar, julgar com o fígado e não com a cabeça. Eis o método, resumido e em primeira pessoa: no que for contra mim, abaixo a arrogância alheia; a meu favor, os humildes que plantem batatas.
“Disputa de dois clubes”, “encheção de murcilha”, “estratégia de marketing”, tudo isso se ouve sempre das mesmas bocas azedas e renitentes quanto à participação de outros times no mundial. Mas e a incensada Copa do Brasil? Praticando o critério do descritério, os mesmos nada falam quanto a ela, claro.
Com seus vários times conhecidíssimos e campeões tais como Paulista e Santo André, aí está um torneio que surgiu com a mesma filosofia do mundial: integrar e dar uma chance, mesmo que teórica, a todos. Muitas vezes os azarões avançam, e nunca ouvi alguém desmerecer a tal ponto a Copa do Brasil por isso. Mas aí pode, tudo bem. Para os defensores da forma em detrimento do conteúdo, nada melhor do que um bom mata-mata para encher o ego de orgulho. O campeão acreano vai à Copa do Brasil, e é muito justo que vá. Mas se uma equipe vence o torneio de seu continente, por que negá-la o direito de participar do mundial?
Faz bem admitir, detratores. A alma fica mais leve e a razão, mais digna de respeito. Fernando Carvalho já asseverava com a razão que lhe é quase sempre peculiar: nada temos contra a importância do antigo título. Tradicional e conhecido, ele era, à sua época, a maior coisa que um clube de futebol poderia vencer.
Mas hoje há um campeonato global, com os cinco continentes participando, com o melhor e o pior do planeta bola, e sem exclusões. Um mundo perfeito, como querem os inimigos do Mundial, talvez só exista reduzindo tudo somente ao que lhes agrada. Pedir tolerância quando somos os desfavorecidos é fácil. Mais difícil, porém, é fazer uso dela quando nós temos o papel de mais fortes.
Vamos defender o mundial FIFA. Ele é melhor? Pior? Não sei. Eu diria que é completo. E com tudo que a completude pode significar de bom e de ruim.
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Tamanho: 1,4 MB
Créditos:BaixeDownloads
CUBA - Various Artists - La Havana Real (1999)
Various Artists - La Havana Real (1999)
MP3
256Kbps
RS.com: 80mb + 60mb
Genre: Latin / Cuban
Tracks:
1. Taka Taka Ta - Irakere
2. Oye Mi Le Lo Lei - Gonzalez, Celina
3. Barbaro Del Ritmo - More, Beny
4. Estas Acabando - Mendoza, Celeste
5. Si Sabes Bailer Mi Son - Orquesta Aragon
6. Yo No Quiero Que Seas Celosa - Reve Y Su Charangon
7. Yo Soy El Punto Cubana - Gonzalez, Celina
8. Que Es Lo Que Hace Usted - Gomez, Tito Con Jorrin
9. Mi Son Mi Son Mi Son - Miguelito Cuni Con Chappottin
10. Mi Rumba Echando Candela - Mendoza, Celeste
11. El Madrugador - Burke, Malena
12. Frenesi La Riverside - Gomez, Tito Con Jorrin
13. Lo Que Te Trae Rumbavana - Conjunto Rumbavana
14. Coge El Camaron - La Origina De Manzanillo
15. A Ti Na Ma - Mendoza, Celeste
16. En El Tiempo De La Colonia - More, Beny
17. Aguacero Aguacerito - Gonzalez, Celina
18. Pare Cochero - Orquesta Aragon
19. Bacalao Con Pan - Irakere
20. Que Bella Es Cuba - Burke, Malena
Paco de Lucia - [Solo Quiero Caminar]
1. Solo Quiero Caminar
2. La Tumbona
3. Convite
4. Montino
5. Chanela
6. Monasterio De Sal
7. Pinonate
8. Palenque
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Ella Fitzgerald - Wishing You A Swinging Christmas
01. jingle bells
02. winter wonderland
03. santa claus is coming to town
04. Have yourself a merry litle christmas
05. what are you doing new year's eve
06. sleigh ride
07. christmas song (merry christmas to you)
08. good morning blues
09. let it snow let it snow
10. rudolph the red nosed reindeer
11. frosty the snowman
12. white christmas
1971 John Mayall - Back To The Roots (UK, Blues, Electric Blues, Brit Blues, 2CD)
Blues Series.
Artist: John Mayal
Type: Album
Year: 1971, (2001 Remastered + Bonus Tracks)
Style: Blues / Blues Rock
Country: United Kingdom
Quality : CBR - 320 kbps / 44,1Khz / Joint-Stereo
Size: 99,614 MB + 99,614 MB + 90,210 MB + All Covers
Tracklist:
CD 1:
01. Prisons on the Road
02. My Children
03. Accidental Suicide
04. Groupie Girl
05. Blue Fox
06. Home Again
07. Television Eye
08. Marriage Madness
09. Looking at Tomorrow
10. Accidental Suicide [Remix]
11. Force of Nature [Remix]
12. Boogie Albert [Remix]
13. Television Eye [Remix]
CD 2:
01. Dream With Me
02. Full Speed Ahead
03. Mr. Censor Man
04. Force of Nature
05. Boogie Albert
06. Goodbye December
07. Unanswered Questions
08. Devil's Tricks
09. Travelling
10. Prisons on the Road [Remix]
11. Home Again [Remix]
12. Mr. Censor Man [Remix]
13. Looking at Tomorrow [Remix]
POR QUEM OS SINOS DOBRAM - 1943
Gênero: Drama/Clássico
Tempo de Duração: 158 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1943
Direção: Sam Wood
Roteiro: Dudley Nichols, baseado em livro de Ernest Hemingway
Produção: Sam Wood
Música: Victor Young
Fotografia: Ray Rennahan
Desenho de Produção: William Cameron Menzies
Direção de Arte: Haldane Douglas e Hans Dreier
Edição: John F. Link Sr. e Sherman Todd
Áudio: Inglês
RMVB Legendado
Cor
Créditos: RapaduraAzucarada - Stirner
Elenco:
Gary Cooper (Robert Jordan
Ingrid Bergman (Maria)
Akim Tamiroff (Pablo)
Arturo de Córdova (Agustín)
Vladimir Sokoloff (Anselmo)
Mikhail Rasumny (Rafael)
Fortunio Bonanova (Fernando)
Eric Feldary (Andrés)
Victor Varconi (Primitivo)
Katina Paxinou (Pilar)
Lilo Yarson (Joaquin)
Alexander Granach (Paco)
Adia Kuznetzoff (Gustavo)
Leonid Snegoff (Ignacio)
Leo Bulgarov (General Golz)
Duncan Renaldo (Tenente Berrendo)
Frank Puglia (Capitão Gómez)
Pedro de Cordoba (Coronel Miranda)
Yvonne De Carlo
Sinopse:
Espanha, 1937. Durante a Revolução Espanhola (1936 a 1939), Robert Jorda (Gary Cooper), um idealista americano, se alia aos guerrilheiros e tem a missão de explodir uma ponte estratégica em um desfiladeiro bem defendido pelos franquistas. Chega ao local com Anselmo (Vladimir Sokoloff), um guia, que lhe apresenta Pablo (Akim Tamiroff), o chefe dos guerrilheiros da região, Pilar (Katina Paxinou), a mulher de Pablo, e outros guerrilheiros. Neste contexto Jordan se apaixona por Maria (Ingrid Bergman), uma bela jovem cujos pais foram mortos pelos fascistas. A missão de Jordan é contestada por Pablo, pois explodirem a ponte atrairia para ali o exército e a aviação franquista. Pilar, uma mulher determinada, não concorda com as posições de Pablo, que age de um jeito no mínimo suspeito.
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A mediação brasileira no caso Colômbia/FARCs |
Laerte Braga
O presidente da Colômbia Álvaro Uribe quer o Brasil mediando a liberação dos reféns colombianos e estrangeiros em poder das FARCs. A senadora Córdoba, opositora de Uribe, fez um apelo a Lula para que aceite mediar o que já estava resolvido.
Toda a seqüência de fatos que antecedeu ao referendo na Venezuela sobre as reformas constitucionais propostas pelo presidente Hugo Chávez obedeceu ao esquema golpista tramado em Washington, veiculado com precisão pela mídia mundial, a latino-americana de forma milimétrica e que teve no governo colombiano um aliado (a Colômbia sob Uribe é protetorado norte-americano) decisivo.
No sábado que antecedeu o referendo a mãe e uma irmã de Ingrid Betancourt, senadora e candidata a presidência da Colômbia viajaram para Caracas e manifestaram publicamente seus agradecimentos ao presidente Chávez pelo empenho em libertar os reféns.
O presidente da França, Sarkozy foi claro e enfático diante da pressão da mídia de seu país e dos parentes de reféns francês, por conta da opinião pública, ao dizer que não se opunha à mediação de Hugo Chávez.
Um acordo preliminar feito com as FARCs permitiu que documentos fossem levados a um determinado ponto do território colombiano comprovando que os reféns, sobretudo a senadora, estavam vivos.
Começa aí o calvário de Chávez e aí talvez as razões de sua “derrota” no referendo.
O que era um pacote para ser entregue ao governo da Colômbia comprovando o estado dos reféns virou uma armadilha pensada e planejada em Washington, que contava com a vitória de Chávez no domingo, para então montar o golpe e derrubar o presidente venezuelano.
Os portadores da carta da senadora foram presos, os documentos que provaram estarem vivos os demais reféns, tudo levado para Bogotá e denúncias da mãe de Betancourt acabaram por desmascarar e mostrar a farsa escancarada, a armadilha.
Os portadores dos documentos iam apenas cumprir uma parte no acordo feito entre o governo da Colômbia, as FARCs através do presidente da Venezuela e do qual tinha ciência o presidente francês.
Foram presos, trechos da carta da senadora publicados à revelia da família, como denunciaram sua mãe e sua irmã, o retrato exibido à exaustão, um contexto previsto pelos governos dos EUA e da Colômbia, como parte do golpe contra Chávez.
A “derrota” de Chávez e o pronunciamento do presidente aceitando os resultados logo no início da madrugada de segunda-feira acabaram por abortar o golpe, pois faltou o motivo principal. A vitória de Chávez e a justificativa que o golpe “repunha” a Venezuela na órbita dos países democráticos, leia-se, países títeres dos interesses norte-americanos.
Ingrid Betancourt seria liberada, como os reféns franceses e os louros do acordo seriam de Chávez.
A decisão de pedir ao governo brasileiro para mediar um acordo com as FARCs resulta da percepção pela opinião pública colombiana e francesa principalmente, que tudo não passou de uma jogada de Washington com um governo títere e ligado ao narcotráfico (foi eleito e reeleito com o dinheiro do narcotráfico).
É claro que Lula deve aceitar o papel. As FARCs estão dispostas a negociar o mesmo acordo que foi negociado com Chávez com o presidente do Brasil. Mas é claro também que os detalhes da armadilha contra Chávez têm que vir a público e ficar transparente que o presidente da Venezuela foi vítima de uma cilada.
Por mais paradoxal que possa parecer a vitória do não acabou por impedir as forças oposicionistas venezuelanas, a mídia da Venezuela, de desfechar o golpe montado e orquestrado por Washington.
Como evidente está que a luta pelas reformas propostas e pela opção pelo socialismo não está enterrada e nem perdida. Até porque, forças de esquerda na cegueira que costuma caracterizar grupos e partidos sem objetivo outro que não sobreviver em guetos, optaram pela abstenção.
Todo o movimento que, entre outras coisas, resultou na compra do general Baduel, então ministro da Defesa de Chávez quando do golpe de 2002, só faz reproduzir uma prática comum a Washington, ainda mais em tempos delirantes de Bush, como no caso do sacrifício da Quinta Frota para ter o pretexto necessário para uma guerra contra o Irã.
A história está cheia de histórias assim. Os impérios nunca foram diferentes em seus propósitos e terá sido por isso que Esopo e La Fontaine escreveram fábulas, como a do lobo e do cordeiro em que não importa que quem turve a água seja o lobo, quem está condenado a morrer por turvar a água é o cordeiro.
O que o governo brasileiro precisa estar atento é a eventuais manobras do narcotraficante Álvaro Uribe (para os EUA o tráfico é menos nocivo que a perda do petróleo venezuelano), preposto de Bush e não cair em armadilha semelhante.
Celso Amorim é um dos pontos positivos do governo Lula. Em todos os sentidos. Sabe onde põe os pés e o que falar. Mas sabe também que atrás de cada porta existe alguém com um punhal pronto para enterrá-lo pelas costas, logo depois do abraço.
E no caso de Washington, numa América Latina que começa a resgatar o sentido de soberania, de independência, de projetos nacionais e regionais de crescimento, desenvolvimento e unidade, todo cuidado é pouco.
O episódio envolvendo o rei da Espanha (a soldo de banqueiros e grandes mafiosos espanhóis rotulados empresários) foi só a explosão de um pastel de vento, o rei, que se seguiu às críticas do presidente da Nicarágua Daniel Ortega, como antes, em ambiente mais reservado, Lula, Kirchner, Bachelet, Correa e Tabaré Vasquez haviam feito as mesmas críticas à voracidade colonizadora das máfias espanholas.
Foi demais para um rei acostumado a ser tratado de majestade, bajulado e a posar para capas de revistas no mundo inteiro, no papel de perfeito garoto propaganda. E depois ir caçar bisões em extinção na Suíça, pagando cinco mil dólares para cada animal abatido.
É o velho sentimento de colonizado das elites. Qualquer rei que chegue ao Brasil vira logo objeto de disputa de convites para recepções DASLU e visitas a uma escola de samba, onde sua majestade, via de regra, dança com uma bela mulata, no mais ridículo espetáculo de subserviência que as elites costumam dar e dão sempre, pois o negócio deles é dinheiro em caixa, não importa se para isso é papai e mamãe ou ficar de quatro.
Chávez foi vítima de uma cilada e Lula precisa abrir os olhos para não cair noutra.
Betancourt e os reféns já estariam soltos e em casa se Uribe e os norte-americanos se importassem com vidas, com seres humanos e não com drogas e lucros a qualquer preço
Fonte: FazendoMedia
> Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.
A importância dos desimportantes | | | |
Frei Betto | |
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Em tempos pré-natalinos, em que autores plagiam Voltaire e apregoam que Deus não passa de um delírio de nossas mentes, vale recordar o que disse Dostoiévski no século XIX: “Ainda que me provassem que Jesus não estava com a verdade, eu ficaria com Jesus”.
Jesus teve muito pouca importância para a sua época, exceto para o pequeno grupo de seus discípulos. Era um homem destituído de valor agregado. Agrega-se valor a uma pessoa a função que ela ocupa (vide os políticos), os bens que ela porta (vide os ricos), os títulos que ela ostenta (vide os nobres e os acadêmicos), o lugar de origem (nascer em Paris ou Nova York soa melhor a certos ouvidos do que nascer em Santana do Capim Seco).
Em tempos de outrora, o lugar de origem fazia às vezes de sobrenome. Os evangelhos referem-se a Jesus de Nazaré. Que valor tinha Nazaré, cidade ao sul da Galiléia? Era uma pequena aldeia camponesa com população em torno de 200 a 400 habitantes. Ali se cultivavam oliveiras, vinhas e grãos, como trigo e cevada. Suas casas eram de pedras brutas empilhadas umas nas outras, revestidas de argila ou lama, e até mesmo esterco misturado com palha para favorecer o isolamento térmico.
A existência de Nazaré jamais foi mencionada pelos rabinos judaicos na Mixná ou no Talmude, embora eles listem 63 outras cidades da Galiléia. O historiador judeu Flávio Josefo, do século I, cita 45 localidades da Galiléia, e Nazaré não aparece. Assim como não figura em todo o Antigo Testamento. O catálogo bíblico das tribos de Zebulon enumera 15 localidades da Baixa Galiléia, próxima a Nazaré, mas esta não é citada (Josué 19,10-15).
Nazaré era um lugar tão insignificante que Natanael, convidado a se tornar discípulo “daquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus, o filho de José, de Nazaré”, indaga com ironia: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (João 1, 45-46).
Nazaré dista pouco menos de 7 km de Séforis, que foi capital da Galiléia antes de Herodes Antipas construir sua Brasília da época em homenagem ao imperador Tibério César: Tiberíades, à margem do lago da Galiléia. É provável que José e seu filho Jesus tenham trabalhado nas edificações de Séforis e Tiberíades. É curioso constatar que Jesus jamais pisou nesta última cidade, embora fosse visto com freqüência em outras localidades à beira do lago, como Cafarnaum. Talvez a ostentação da capital da Galiléia lhe causasse repulsa.
A própria família de Jesus não o via com bons olhos, como acontece em relação aos filhos que fogem às previsões paternas. Segundo Marcos (3, 19-21), quando Jesus voltou para casa, “a multidão se apinhou, a ponto de não poderem se alimentar. E quando os seus tomaram conhecimento disso, saíram para detê-lo, porque diziam “enloqueceu!” Na cultura da época, insanidade e possessão do demônio eram quase sinônimos.
Marcos, o primeiro evangelista, prossegue: “Chegaram então a mãe e seus irmãos e, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada em torno dele. Disseram-lhe: ‘A tua mãe, os teus irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram’. Ele perguntou: ‘Quem são minha mãe e meus irmãos?’. E percorrendo com o olhar os que estavam sentados a seu redor, disse: ‘Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe”. (3, 31-35)
A tentativa de difamar Jesus é perene. Em fins do século II, Celso, filósofo grego, escreveu contra o cristianismo em defesa do paganismo: “Imaginemos o que algum judeu – principalmente se filósofo – poderia perguntar a Jesus: “Não é verdade, meu bom senhor, que você inventou a história de seu nascimento de uma virgem para abafar os rumores acerca das verdadeiras e desagradáveis circunstâncias de sua origem? Não é fato que, longe de ter nascido em Belém, cidade real de Davi, você nasceu num lugarejo pobre de uma mulher que ganhava a vida num tear? Não é verdade que quando sua mentira foi descoberta, sabendo-se que fora engravidada por um soldado romano chamado Panthera, seu marido, um carpinteiro, a abandonou sob acusação de adultério? Não é verdade que, por causa disso, em sua desgraça perambulou para longe de seu lar e deu à luz um menino em silêncio e humilhação? Que mais? Não é também verdade que você se empregou no Egito, aprendeu feitiçaria e se tornou conhecido a ponta de agora se exibir entre os seus conterrâneos?”
Estamos a entrar no Advento. Quem esperamos? Um jovem “maluco” oriundo de uma localidade insignificante ou o Deus Salvador? A resposta é simples: basta olhar em volta e indagar-nos que importância damos aos atuais “nazarenos”: sem-terra e sem-teto, oprimidos e encarcerados, funcionários subalternos e pessoas destituídas de valor agregado. Segundo Mateus 25, 31-46, é neles que Jesus quer ser reconhecido, servido e amado. É por eles que Deus Salvador entra em nossas vidas.
Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros. |