sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Soja convencional rende mais para o produtor


Patrícia Benvenuti


Porto Alegre (RS) - A soja convencional deve ser mais rentável do que o grão transgênico em 2008. Com o aumento de preço do herbicida glifosato em 46,2%, a expectativa é de que os produtores de soja convencional obtenham lucros maiores pela primeira vez. No Mato Grosso, a saca do grão convencional deve render R$ 0,27 a mais para os produtores, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

O glifosato é o principal herbicida utilizado na cultura da soja. O aumento de preço ocorreu devido a um crescimento das taxas de importação. A Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul para o glifosato importado é de 12%, mas o governo brasileiro aplicou este ano uma taxa extra de 35,8%.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja no Mato Grosso, Glauber Silveira, lembra que o glifosato é comercializado no Brasil quase que exclusivamente pela Monsanto. A empresa chega a vender o produto no país pelo dobro do que é cobrado na Argentina. De acordo com Silveira, esse monopólio tem sido desfavorável para os produtores de soja transgênica.

“O transgênico é tão importante para o Brasil e tão importante para o produtor, em termos de produção. Só que em nível de custo, quando você tem o glifosato apenas na mão de praticamente uma empresa, que é a fornecedora da matéria-prima. Se torna inviável e muito perigoso para o produtor brasileiro ficar na mão de uma empresa”, diz.

O aumento dos preços afeta mais os produtores do grão transgênico. Isso porque as lavouras geneticamente modificadas precisam de duas aplicações, enquanto a soja convencional necessita apenas de uma.

Para o economista Carlos Mielitz, esse aumento do custo de produção da soja transgênica já era esperado. Ele lembra que, antes do Brasil, esse aumento já ocorreu na Argentina e nos Estados Unidos, países onde o grão geneticamente modificado ingressou.

“Como quase todos os monopólios, eles passam a oferecer a tecnologia barato, para que o agricultor adira. Depois que ele já aderiu e ficou dependente dessa tecnologia eles passam a cobrar os custos mais altos”, diz.

Além do aumento dos custos de produção, Mielitz afirma que a soja transgênica deixou de ser atrativa em função das exigências do mercado externo, que vem preferindo o grão convencional. Para ele, a tentativa de entrada de outros grãos transgênicos no país, como milho, vai trazer uma série de prejuízos para a economia.

“A longo prazo, isso pode ser ruim para os agricultores brasileiros, porque vão acabar entrando em um mercado de preços menores, mas que poderá ser menos lucrativo e mais restritivo”, diz.

Ele também destaca que, com a substituição dos plantios de soja por milho para a produção de álcool nos Estados Unidos, a soja deve se valorizar cada vez mais, principalmente para o grão convencional.

O governo britânico pretende construir até 10 novas usinas nucleares  nos próximos anos, deixando um legado perigoso de lixo atômico às  próximas gerações.

O governo britânico pretende construir até 10 novas usinas nucleares nos próximos anos, deixando um legado perigoso de lixo atômico às próximas gerações.


Londres, Internacional — Governo britânico comete um grande equívoco ao querer combater aquecimento global e déficit energético com reatores atômicos.

O secretário de estado britânico, John Hutton, deu carta branca nesta quinta-feira para a indústria construir novos reatores nucleares no Reino Unido. Estima-se que o governo britânico planeje construir até 10 novas usinas, deixando para a iniciativa privada a decisão sobre quando e onde construi-las. Uma nova lei de energia deverá ser editada em breve no país.

“Os políticos optam por energia nuclear para dar a impressão de que estão tomando decisões difíceis para solucionar problemas complicados, quando, na verdade, novos reatores nucleares simplesmente não irão resolver nossos problemas de energia e de combate às mudanças climáticas”, afirma o diretor-executivo do Greenpeace UK, John Sauven.

No Reino Unido, a energia nuclear pode contribuir para diminuir as emissões de carbono em apenas 4% e somente a partir de 2025.

“É uma contribuição pequena que virá muito tarde. Deixaremos às gerações futuras apenas o caro legado de ter de limpar o lixo nuclear.”

Cerca de 90% do consumo de petróleo e de gás do Reino Unido destina-se a outros fins que não a geração de eletricidade, já que a maior parte do uso energético está ligada ao aquecimento de casas e da água, além do alto consumo pelas indústrias. E a energia nuclear não pode ser usada para substituir essa demanda e muito menos para ser utilizada como combustível de veículos.

“As verdadeiras soluções são eficiência energética e o uso de energias renováveis (como mostramos em nosso relatório [R]evolução Energética), além das centrais energéticas descentralizadas, como aconteceu na Escandinávia. Essas tecnologias têm potencial para entregar energia de fontes confiáveis e mais baratas em um prazo menor, e são soluções seguras e aplicáveis em escala global", afirma Sauven, lembrando no entanto que essas fontes energéticas nunca alcançarão a escala necessária se forças políticas e investimentos financeiros forem desviados para desenvolver a indústria nuclear.

Nos últimos anos, a indústria nuclear vem se aproveitando do marketing associado ao combate ao aquecimento global para justificar o uso de uma energia ineficiente, cara, altamente suja e perigosa.

“Trata-se de uma sucessão de mentiras propagadas por um setor que vê, a cada usina construída, bilhões e bilhões de dólares vertendo para seus bolsos, e que encontrou na crescente preocupação mundial com as mudanças climáticas a desculpa perfeita para retomar seus negócios, que há muito andavam distantes da aprovação popular”, diz Beatriz Carvalho, coordenadora da campanha anti-nuclear do Greenpeace Brasil.

Para detalhar como a indústria nuclear construiu essa fachada, o Greenpeace publicou recentemente no Brasil o relatório Cortina de Fumaça – Emissões de CO2 e outros impactos da energia nuclear. O estudo demonstra que as emissões de gases de efeito estufa geradas durante todo o ciclo de exploração nuclear – que vai desde a exploração do urânio, passando por seu transporte, construção da usina, manejo dos materiais radioativos e descomissionamento do aparato nuclear ao final de sua vida útil – são significativamente maiores do que as geradas por usinas eólicas e solares, por exemplo.

"Revelamos em números a contribuição da energia nuclear para o aquecimento global, reforçando a necessidade de alimentarmos nossa matriz energética com fontes realmente limpas e renováveis”, afirma Beatriz.

Saiba mais:
Leia o documento do Greenpeace sobre a retomada do programa nuclear britânico (arquivo em PDF para baixar).

Os lagos azuis da Groenlândia, as luas verdes e os sóis amarelos


Os lagos azuis da Groenlândia, as luas verdes e os sóis amarelos

Laerte Braga

O ex-senador George McGovern, democrata que disputou e perdeu as eleições presidenciais nos Estados Unidos em 1972 contra Richard Nixon, publicou um artigo no jornal Washington Post, reproduzido aqui pelo Jornal do Brasil.

McGovern pede o impeachment de Bush acusando-o de fraudes diversas, a começar pela que resultou em sua primeira eleição, em 2000. Aos 85 anos de idade McGovern afirma que o governo Bush é mentira do princípio ao fim e toda a sorte de trapaças, mentiras e absurdos foram e têm sido cometidos.

Cerca de 75 bilhões de dólares, por ano, sai do Brasil para paraísos fiscais. Dinheiro sujo, produto de operações ilegais. Com certeza não sai por conta de nenhum trabalhador, muito menos da chamada classe média. Sai de gente como Paulo Stak, presidente da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo).

A grande expectativa no dia de hoje, terça-feira, oito de janeiro de 2008, é pelo começo do BBB-8. Em cada dez pessoas com quem você conversar, pelo menos sete vai puxar o assunto sobre o participante que resolveu desistir por não agüentar as pressões.

O brasileiro é um dos que mais assistem tevê em todo o mundo, média de horas por dia. Televisão ou é “fábrica de doidos” como dizia Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) ou, instrumento maior do processo de alienação.

Ou seja, a média de horas passadas à frente de um televisor é das mais altas do mundo e a imensa e esmagadora maioria dos cidadãos não tem a menor idéia do que se passa de real, no seu próprio País.

Um motorista de táxi comentava sobre o estado deplorável do IML (Instituto Médico Legal) de sua cidade e deixou claro que não conseguia entender a razão desse descaso. O governador de Minas, Aécio Neves, a cidade é em Minas, mora no Rio de Janeiro e vive em tratamento médico no exterior (desintoxicação). A mídia não diz uma palavra sobre isso, mas vende a “administração Aécio” como uma das maiores da história do Estado.

O degelo de boa parte das grandes geleiras da Groenlândia, propriedade da Dinamarca na América do Norte, deve significar algo em torno de 60 a 80 centímetros a mais no nível dos oceanos e pode, num espaço de tempo menor que os cientistas imaginavam, todo o século XXI, alcançar esses índices.

Cidades como Olinda no Brasil (PE), ou países como Holanda e Bélgica, para citar três exemplos, vão enfrentar problemas de sobrevivência com o fenômeno. Todo o mundo será afetado, está sendo afetado pelo descontrole da questão ambiental, pois além da Groenlândia, a Antártica também está sofrendo o mesmo processo.

Estados Unidos e China, no desvario do que chamam progresso, são os principais responsáveis pela emissão de poluentes, degradação dos oceanos e aí se inclui o Japão na caça predatória de baleias e na pesca indiscriminada em águas de todos os oceanos do planeta.

É comum ouvir de pessoas comuns que esse é um problema que “não vou ver, estarei morto quando isso acontecer”. É o nível máximo da estupidez e da perda do sentido mínimo de humanidade. De ser. De estar objeto. Coisa.

Mas vai assentar à frente da televisão, dar uma espiadinha, torcer por quem “conspira e trai” e deliciar-se no voyeurismo sugerido em cada minuto do BBB-8.

As mentiras de Bush, as fraudes, as guerras por poder, dinheiro. A destruição do ambiente, o abandono dos serviços públicos, tudo em todas as dimensões e que diz respeito à vida, isso não importa. Importa que o cara que desertou do BBB-8 está gerando uma “profunda” discussão sobre se agiu certo, agiu errado, sobre se “compreendeu a realidade dos dias atuais” ou exatamente, desertou. Fugiu.

That is the question. Estar no BBB-8 ou não estar. Fazer sucesso a qualquer preço ou ser um “zé mané”, na definição do especialista em ovos podres em “vagabundas”, por acaso (sic), diretor do programa.

Declaração de um desses alienados, sem a menor idéia de onde fica a cabeça, ou os pés, mas certo que é paradigma de qualquer coisa no mundo, feita em resposta a uma observação sobre ser fumante ou não, ter a companhia fabricante de cigarros culpa ou não.

“O Sapiens não é pretensão nenhuma. Só QI alto mesmo. Fazer o quê, a filha da p* da natureza é burguesa e elitista.

Lendo desde os quatro anos de idade, já tendo lido muito e, modéstia às favas, muito orgulhoso do meu domínio da língua pátria (algo de deixar muito jornalista, advogado e outros "donos da língua" por aí roxos de inveja), só há uma possibilidade de eu não entender uma mensagem escrita: quem escreveu não soube passá-la adiante”.

O “Sapiens” em questão acrescentou ao próprio nome para mostrar ao mundo o tal QI alto.

É preciso investigar o efeito Xuxa em quem tem mais de 20 anos hoje e menos de 35. Avaliar os verdadeiros estragos causados pelo tsunâmi louro. Existem milhares de “xuxas” nas tevês do mundo e todas cumpriram e cumprem o mesmo papel – o de proporcionar QIs altos.

Qualquer cidadão que saiba andar e falar tem idéia precisa e clara que o consumidor de drogas, na grande maioria, está nas classes média e alta. É quem pode pagar os altos preços de cocaína, ecstasy e outras cositas mais. Pobre fuma crack que é mais barato. E até nisso leva chumbo, crack mata mais depressa.

É o tal ordenamento jurídico, institucional, democrático, cristão e ocidental que querem impor ao mundo inteiro e como uma espécie de raio emitido por cada GLOBO de cada canto, transformar cada cidadão num imbecil pronto a chorar no drama dos futuros eliminados do BBB-8 e a gritar pula, para o desesperado que não sabe se pula ou se fica no desespero, no prédio mais alto da rua principal de sua cidade.

Esse, ao ser salvo, vai ser vaiado.

O ser humano “fabricado” nesse contexto não tem a menor idéia das luas verdes e dos sóis amarelos.

Acredita piamente que William Bonner é o enviado divino com as instruções do “senhor” (deles não é?). Por isso os guerrilheiros das FARCs são “terroristas” e George Bush é “quem esparge a democracia pelo mundo”.

Não percebe que a chuva de ovos podres está caindo sobre quase todos (as elites não, optam por condomínios fechados) e o BBB-8 é apenas um instante do modelo que vendem.

Se lido com atenção o artigo do ex-senador George McGovern ninguém vai ter dúvidas disso.

Vai chorar de “esguicho”, como dizia Nelson Rodrigues.

> Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

Ilustração: Táia Rocha

Uma oportunidade histórica para a revolução cubana



Jorge Pereira Filho



Uma notícia aos que alardeiam o fim da revolução cubana com o afastamento do presidente Fidel Castro. Os moradores da ilha caribenha querem defender seu futuro. Mas de forma autônoma, sem os vícios autoritários do passado. E sem cair também nas ilusões propagandeadas por seu vizinho imperialista que há 45 anos impõe um bloqueio econômico, comercial contra os cubanos, condenado pela Assembléia Geral das Nações Unidas.

Esse é o cenário que foi aberto com a decisão do presidente Raul Castro de, em julho deste ano, impulsionar um amplo debate com o povo sobre os rumos da revolução. Para o historiador Ariel Dacal, trata-se de uma oportunidade histórica. “Não é um momento casual. É a hora que Cuba precisa fazer uma substituição rápida e total dos velhos dirigentes revolucionários que começam a cair, pelas leis da vida, da biologia”, avalia.

E nesse processo, a maior reivindicação do povo cubano tem sido questionar as estruturas burocráticas e cobrar, justamente, maior poder de decisão sobre os rumos de seu destino. “A principal demanda que tem aparecido é a de maior participação. De maior controle dos poderes do Estado. De legitimar que repasse potencialidade e recurso aos poderes locais, poderes populares. É a maior reivindicação. Nisso em um marco socialista, de compromisso com a revolução cubana”.

QUEM É

Ariel Dacal Diaz é historiador, cientista político e trabalha no Centro Martin Luther King (CMLK). Foi Chefe de Redação da Publicação de Ciências Sociais. Especializou-se em estudos sobre a crise da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Há uma consulta popular em Cuba sobre os rumos da revolução. Como esse processo está se dando?

Ariel Dacal Diaz - Em 26 de julho, em discurso oficial, Raul Castro elencou um grupo de problemas no país. Grosso modo, apresentou algumas soluções e algumas medidas em curso. Este documento virou um texto de discussão nos núcleos do partido fundamentalmente que, depois, foi ampliado para os bairros e os centros de trabalhadores. Dias depois, Raul vem aos meios de comunicação e afirma que essas propostas discutidas pelo povo cubano vão ser encaminhadas diretamente aos municípios e às províncias para evitar que deturpações nas propostas populares. Isso está ótimo: ao menos, as pessoas podem falar. E Raul está insistindo muito para que a população fale com honestidade, com franqueza, sem medo. E que esse processo será um insumo para a tomada de decisões. Disse também que tampouco deve-se esperar que surgirão soluções imediatas de tudo, mudanças gerais, pois as coisas vão sendo transformadas com o tempo.

E como a população tem recebido essa proposta?

Para alguns, sobretudo os mais velhos, é mais do mesmo. Crêem que, ao final, ninguém vai se dar conta do que pensa a população. Imaginam que as decisões serão tomadas de forma muito limitada, distantes da vontade do povo. Essa é uma preocupação de um setor. Há outro grupo que coloca justamente o contrário. Que agora há uma oportunidade para um diálogo mais importante, mais substancial. Porque, para esse setor, essa é a última oportunidade. Há um consenso sobre isso. E com essa visão, de que se trata de algo fundamental para a continuidade do processo cubano, e a preocupação de que não seja mais do mesmo, é que estão sendo realizados esses debates.

E como os meios de comunicação estão tratando esse processo?

Há uma crítica muito forte. Ninguém sabe o que o povo está dizendo. Não há um meio de comunicação que informe o que está ocorrendo nos debates. A imprensa oficial segue surda e muda a esse processo. Para os meios, esse processo não existe e isso cria uma ansiedade geral. Porque, a partir desta metodologia, Cuba não tem possibilidade de saber como pensa a si mesma.

Mas o que se tem falado, nas ruas, sobre as reivindicações apresentadas?

Há algumas pessoas, por sua conta e risco, dedicadas a levantar informações sobre esses debates. E a principal demanda que tem aparecido é a de maior participação. De maior controle dos poderes do Estado. Que se repasse capacidade de decisão e recursos aos poderes locais, poderes populares. É a maior reivindicação. Nisso em um marco socialista, de compromisso com a revolução cubana. Mas a idéia é: Quem vai decidir? Quem vai implantar o que se decide? A burocracia quer que o processo continue? Porque é justamente a burocracia que está sendo questionada. Mas essa parece ser a última oportunidade. Não é um momento casual. É a hora que Cuba precisa fazer uma substituição rápida e total dos velhos dirigentes revolucionários que começam a cair, pelas leis da vida, da biologia.

Uma crítica feita aos meios oficiais, em Cuba, é o de que não fomentam o debate, dialogam pouco com a vida cotidiana...

Hoje, os meios de comunicação social são um dos focos centrais de críticas do povo. Há uma desconexão com a realidade. Cuba vive hoje um processo intenso de debates e um dos maios importantes é justamente esse: a função dos meios de comunicação social e oficiais. Mas há um segundo debate, uma pseudo-reflexão, que não leva em conta a complexidade do momento histórico que vive Cuba. São discussões mais de caráter moralista, se fulano roubou sua empresa, sem abordar questões estruturais. E isso é um problema. Porque não há espaço para referendar todo esse imaginário, todo esse debate. Tem ocorrido também algo em Cuba que se chama a guerra dos e-mails. É uma certa catarse coletiva sobre os problemas dos meios de comunicação, de transporte, sobre que tipo de socialismo queremos, mas que ainda não se infiltra no corpo social cubano. Há um setor intelectual que está analisando estruturalmente o problema. E, de outro lado, há uma demanda popular, da vida cotidiana, em nível de catarse. O grande problema é que esses dois setores não dialogam entre si e muito menos com a visão oficial. São leituras que precisam se complementar para criar algo superior ao que queremos. Ou seja, não há canais de comunicações. E o tempo corre.

E por que avalia que o Estado cubano está distante da vida cotidiana?

Há uma tarefa revolucionária que é diluir esse Estado no corpo social, fazer com que seja o Estado do povo, do trabalhador, e não da burocracia.

E o debate que está ocorrendo segue mais no sentido de avançar no socialismo ou regressar a formas capitalistas?

A discussão segue mais no marco socialista, mas no imaginário social as práticas e como vão se relacionando com o corpo social tendem mais ao capitalismo. Pode parecer contraditório, mas é assim. Há um grupo pensando no socialismo, mas a própria dinâmica e o referente individual das pessoas têm muita força. E alguns setores, em minoria, querem a social-democracia.

Mas não é possível que os Estados Unidos se intrometam nesse processo?

Não, os grupos e os setores asquerosamente estadunidenses não têm legitimidade ver nesse processo. As pessoas os desprezam. Os Estados Unidos não são um modelo, há uma consciência geral de que são uma merda. O problema não está por aí. É mais perigoso porque é mais sutil. É sim reproduzir lógicas liberais, de produção capitalista. Isso mesmo pessoas comprometidas com revolução porque falta possibilidade de debater revolucionariamente.

Você poderia dar um exemplo disso?

Sim, o reordenamento empresarial em Cuba. As empresas estatais em Cuba estão incorporando as técnicas empresariais capitalistas. Mas o essencial, para uma referência socialismo, é dar o poder aos trabalhadores. E ninguém fala disso.

Há preocupação hoje com a juventude cubana, sobretudo a que cresceu no período especial, conviveu com os momentos mais difíceis, de carências. Essa juventude é muito influenciada pelos valores capitalistas, do consumismo?

Em Cuba, não há consumismo. Pelo contrário. Há uma história do não-consumo e, neste contexto, a projeção do consumismo é muito atrativa. É uma porta muito tentadora para uma juventude e mesmo os que não são tão jovens. Mas eu não reduzo o tema da cultura aqui. Digo que precisamos de uma cultura superior na compreensão da política. Que o povo tenha seus processos de equívocos, de criação coletivo. É um processo longo e já perdemos muito tempo. Para mim, a mudança está aí. Está na perspectiva de como os cidadãos, mulheres, homens se organizam, se educam e superam culturalmente esse individualismo. Como superam a idéia de que eu sou o sujeito que vou resolver o meu problema isoladamente, e caminhem para o sentido de como eu participo, dialogo e me reconheço em um trabalho coletivo. A questão não é reprimir o consumismo, mas superá-lo culturalmente.

Por que você afirma que é necessário estudar três tipos de Estado – o de bem-estar social, o fascista e o do socialismo real – para criarmos algo novo? O que eles têm de essencial?

Porque é a experiência acumulada, sobretudo no século 20, para enfrentar o neoliberalismo. Ao fracassar essas três experiências, veio essa etapa neoliberal. Que é o mesmo que as velhas formas de dominação do capital em um contexto sem resistência. É importante resgatar porque fracassaram essas experiências para saber que não estamos reinventando nada. Claro, há muita criatividade no contexto atual. Mas é fundamental estudarmos esse legado histórico, sobretudo vislumbrando um movimento histórico que vai resultar no enfrentamento com o capitalismo.

O senhor acredita que há espaço hoje para um Estado fascista na América Latina?

Sim, por conta da própria condição extrema de miséria na região e também devido à expansão do conservadorismo e das visões reacionárias no continente. São dois traços que me preocupam, a possibilidade de que surja algo parecido com o fascismo. Que se combinem esses fatores, no sentido nacionalismo, ainda que contra o imperialismo, e que reproduzam uma lógica de dominação também capitalista. Os níveis de organização da violência social na América Latina são um nutriente para um regime parecido ao fascismo.

De qualquer forma, o Estado de bem-estar social, ou algo parecido, segue como um modelo que se contrapõe ao neoliberalismo...

O capitalismo nacional tende a isso. O que digo sobre estudar essas experiências históricas é para compreender que há limites. E que há um ciclo e, em algum momento, atentará contra a lógica mesmo do sistema. A acumulação e um Estado que distribui não podem compor um Estado de bem-estar. Que condições materiais teria uma essa burguesia nacional para desenvolver um processo nacionalista, com uma visão mais social? É preciso fazer perguntas.

E o socialismo real?

A pergunta que se faz é que, se pelo fato de o socialismo real fracassar, será que não há nada o que resgatar dessa experiência? Não houve nada de positivo ou negativo? Não há princípios invioláveis do que não se deva fazer em nome de uma sociedade socialista? É preciso estudar isso porque serve para nossa organização.

O que fracassou em 1991?

O regime de dominação e opressão burocrática, a ditadura burocrática soviética, foi isso o que fracassou. O socialismo não fracassou.

Que aspectos você ressaltaria em um esboço de uma análise sobre o fracasso soviético?

Impossível responder brevemente, mas podemos dizer que essencialmente é a própria complexidade de criar uma sociedade superior em um país atrasado material e culturalmente. Um país assediado pela burguesia de forma atroz. Um país onde o sonho libertário encontrou muitas dificuldades, que incluíam mortes, guerras cruéis. E a renúncia de um setor ao processo revolucionário, assumindo a reprodução de uma lógica de dominação política não superada que tinha como base um despreço à capacidade real de o povo se governar. Mas foi evidentemente um processo muito mais complexo do que isso.

O INÍCIO DO CINEMA - 1894-1913



Esta coleção de cinco DVDs (cada um com aproximadamente 1h30) contém CENTRO E TRINTA E TRÊS filmes mudos e em preto e branco que foram feitos no início do cinema (entre 1894 e 1913). Tem de tudo como se pode ver pela lista de cada DVD: vários filmes dos irmãos Lumière, de Georges Méliès e até de Thomas Edison (sim, o da lâmpada)!

Formato: RMVB
Aúdio: os filmes são mudos mas os DVDs 2 e 3 tem alguns comentários em inglês no início de cada filme
Legendas: não tem




Conteúdo:
Homage To Eadweard Muybridge (1880s)

Edison Shorts (1894-1897)
The Kiss (1896)
Serpentine Dances (1895)
Sandow (Strong Man) (1894)
Glenroy Brothers (Comic Boxing) (1894)
Cock Fight (1896)
The Barber Shop (1894)
Feeding The Doves (1896)
Seminary Girls (1897)

Lumiere Films (1895-96)
Swimming In The Sea
Children Digging For Clams
Loading A Boiler
Dragoons Crossing The Sâone
Promenade Of Ostriches
Childish Quarrel
Lion, London Zoological Garden
Photograph
Transformation By Hats
Carmaux: Drawing Out The Coke
Poultry-Yard
Arab Cortege, Geneva
New York: Brooklyn Bridge
New York: Broadway and Union Square
Policeman's Parade, Chicago

Georges Méliès
A Trip To The Moon (1902)

Actualities
President McKinley At Home (1897)
Packtrain On Chilkoot Pass (1898)
Skyscrapers Of New York City (1903)
The Georgetown Loop (1903)
San Francisco: Aftermath Of Earthquake (1906)
The Dog And His Various Merits (1908)
Moscow Clad In Snow (1908)
Airplane Flight And Crash (1910)

Blue Movies
Fire In A Burlesque Theatre (1908)
Airy Fairy Lilian Tries On Her New Corsets (1908)
From Show Girl To Burlesque Queen (1908)
Troubles Of A Manager Of A Burlesque Show (1908)

The Great Train Robbery (1903)
The Whole Dam Family And The Dam Dog (1905)

The Golden Beetle (1907)


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Conteúdo:
Louis and Auguste Lumiere
Leaving The Factory (1895)
The Baby's Meal (1895)
Demolition Of A Wall (1895)
The Sprinkler Sprinkled (1895)
Arrival Of Congress (1895)
Arrival Of A Train (1895)
Card Party (1895)
Leaving Jersusalem By Railway (1896)
Snowball Fight (1896)
A Fire Run (Lyons) (c.1896)
Niagara Falls (1897)
Spanish Bullfight (1900)

Birt Acres
Rough Sea At Dover (1895)

R. W. Paul
Come Along Do! (1898)
The Derby (1896)
The Countryman And The Cinematograph (1901)
A Chess Dispute (1903)
Extraordinary Cab Accident (1903)
Buy Your Own Cherries (1904)
The (?) Motorist (1906)

George Albert Smith
The Miller And The Sweep (1898)
The Kiss In The Tunnel (1899)
Let Me Dream Again (1900)
Grandma's Reading Glass (1900)
As Seen Through A Telescope (1900)
Sick Kitten (1903)
Mary Jane's Mishap (1903)

Sheffield Photographic Co.
Daring Daylight Burglary (1903)

Haggar & Sons
Desperate Poaching Affray (1903)

Bamforth And Company, Ltd.
The Kiss In The Tunnel (1899)
Ladies Skirts Nailed To A Fence (c.1900)
The Bitter Bit (1900)
Rough Sea (c.1900)

Williamson's Kinematograph
Attack On A China Mission (1900)
The Big Swallow (1901?)
Stop Thief! (1901)
Fire! (1901)
An Interesting Story (1905)


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Conteúdo:
Hepworth Mfg. Co.
How It Feels To Be Run Over (1900)
Explosion Of A Motor Car (1900)
Rescued By Rover (1905)
The Other Side Of The Hedge (1905)
That Fatal Sneeze (1907)

Cricks And Martin
A Visit To Peek Frean & Co. (1906)

Kineto Production Co.
A Day In The Life Of A Coalminer (1910)

Pathé Frères
Peeping Tom (1901)
History Of A Crime (1901)
Ali Baba And The Forty Thieves (1905)
Reve Et Réalité (1901)
La Révolution En Russe (1905)
Aladin, Or The Wonderful Lamp (1906)
Le Cheval Emballé (1907)
The Physician Of The Castle (1908)
Magic Bricks (1908)

Edison Manufactuing Co.
Dewar's - It's Scotch (1898)
The Gay Shoe Clerk (1903)
Dream Of A Rarebit Fiend (1906)


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Conteúdo:
Georges Méliès
The Untamable Whiskers (1904)
The Cook In Trouble (1904)
Tchin-Chao, The Chinese Conjurer (1904)
The Wonderful Living Fan (1904)
The Mermaid (1904)
The Living Playing Cards (1905)
The Black Imp (1905)
The Enchanted Sedan Chair (1905)
The Scheming Gambler's Paradise (1905)
The Hilarious Posters (1906)
The Mysterious Retort (1906)
The Eclipse (1907)
Good Glue Sticks (1907)
Long Distance Wireless Photography (1908)
The Impossible Voyage (1904)
Georges Méliès: Cinema Magician (1978)


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Conteúdo:
The Policeman's Little Run (1907)
Troubles Of A Grass Widower (1908)
Nero, Or The Fall Of Rome (1909)
Onésime, Clock-maker (1912)
Windsor McCay And His Animated Pictures (1911)
Making An American Citizen (1912)
The Girl And Her Trust (1912)
The Bangville Police (1913)


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Alpha Blondy - Jah Victory – 2007

Faixas:
01 - I Wish You Were Here
02 - Sankara
03 - Ranita
04 - Ne Tirez Pas Sur L'Ambulance
05 - Demain T'Appartient
06 - Bahia
07 - Mister Grande Gueule
08 - Africa Yako
09 - Cameroun
10 - Jah Light
11 - Le Bal Des Combattus
12 - Tampiri
13 - Les Salauds
14 - Sales Racistes
15 - Ikafo
16 - Jesus
17 - Gban-Gban
18 - La Planete
19 - La Route De La Paix

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Alpha Blondy nasceu na Costa do Marfim. Já cantou com "The Wailers".

As letras são cantadas principalmente em dioula, francês e inglês, mas também ocasionalmente em árabe e hebraico e expressam atitude e humor relacionados com a política.

Inventou a palavra "democrature" (a qual se traduz como "democratura", combinação de democracia e ditadura) para qualificar alguns governos africanos.

O CD Jah Victory é o mais recente.

Créditos:MP3eAvi

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Raul Seixas - Krig-Ha, Bandolo! (1973)




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O fim da Família Nuclear Burguesa


A discussão em torno do que é a família nos dias de hoje já desencadeou e continua desencadeando muitos debates e poucas conclusões. No entanto, o conceito de família que nós conhecemos e aprendemos a respeitar e a reproduzir, que é a família nuclear burguesa, parece que já está mesmo nos seus últimos instantes de agonia e com um quadro irreversível. Aliás, diga-se de passagem, já vai tarde.

Esse conceito padrão da família nuclear, ao contrário do que Freud pensava, não é algo perpétuo e imutável mas, pelo contrário, como todas as outras relações sociais, são resultados de um processo histórico que, naturalmente, tem seu início, meio e fim. Essa concepção equivocada de Freud acabou por levá-lo, por exemplo, a estruturar toda uma teoria para explicar a formação do homem (o complexo de Édipo) nos seus primeiros anos de vida, que era extremamente ineficaz para explicar a formação da mulher. Freud não enxergou que a família nuclear era extremamente paternalista e machista, pois reduzia a mulher a um mero objeto sexual que não podia falar, pensar e muito menos participar da vida política e econômica da sociedade a qual pertencia. Os inúmeros casos de histeria de que sofriam as mulheres dos séc. XIX e início do XX, e que foram diagnosticados pelo próprio Freud, são hoje reconhecidos de forma irrefutável como distúrbios psicopatológicos decorrentes das situações de privação e de subserviência à que eram submetidas as mulheres daquela época.

Portanto, essa família nuclear é o resultado de um longo processo histórico que se formou e forjou várias de suas características durante o processo de colonização imposto pela Europa aos diversos povos de todos os outros continentes do globo. Já que os métodos usados para submeter esses outros povos (espoliação, violência física e psíquica, selvageria, assassinatos, etc.) também foram aplicados às mulheres, crianças e aos trabalhadores assalariados e camponeses, pertencentes às classes menos abastadas e, conseqüentemente, de menor relevância hierárquica na camada social do próprio território europeu. Isso fica ainda mais claro quando nos reportamos ao período da primeira Revolução Industrial, onde essa ordem é consolidada e pode-se ver o enclausuramento das mulheres e crianças nos lares burgueses e a exploração do trabalho de homens, mulheres e crianças nas fábricas, por períodos que alcançavam de 16 a 18 horas diárias de trabalho em condições desumanas. Obviamente, toda essa cultura de superioridade étnica, racial, moral, tecnológica e também divina, já que é o período em que a ética protestante se solidifica e trás a ideologia de que o homem, através do capital, tem a missão de terminar a obra de Deus na Terra, também iria se estender para o âmbito familiar. Como bem explicitou R. Kurz em seu livro, Os últimos combates:

? Porque havia degradado a si mesmo enquanto máquina social insensível, o homem branco colonizou a mulher como um animal hipersensível. Ela deveria responder por tudo que ele não mais podia sentir ou desfrutar: pelos sentimentos e pela dedicação afetiva, pela estética cotidiana e pela mobilização da sensualidade, enclausurada na prisão de segurança máxima da célula familiar modernizada em sua privacidade abstrata. Com isso, foram atribuídas à mulher as mesmas características reservadas aos selvagens, às pessoas de diferente cor de pele, à criança e aos culturalmente subordinados [...]?

Sendo assim, não há porque chorar o fim dessa instituição falida, covarde e despótica que é a família nuclear burguesa, já que a liberdade de inserção da mulher na sociedade como um todo é extremamente incompatível com essa forma familiar. E, nesse caso, não só a liberdade da mulher mas também da criança que se livra desse estigma de ter que encontrar todas as suas necessidades de formação moral, ética, sentimental, etc. apenas naqueles poucos membros da família que pensam ser suficientes para, neste ambiente privatizado e isolado, suprir todas essas necessidades da formação infantil sem que haja a integração com toda a comunidade. É bom lembrar que todas as teorias que tentaram descrever uma sociedade perfeita, desde Platão, Thomas Morus e Marx, apenas para citar alguns, eram radicalmente contra a instituição familiar como sendo um ambiente adequado e suficiente para a educação e a formação de homens e mulheres que visavam o bem comum. Platão, por exemplo, chegou a propor na sua obra, A República, que a mãe se quer conhecesse seu filho após o parto, sendo este colocado junto a outros recém-nascidos, a mãe deveria amamentar a qualquer um como se seu filho fosse, já que a formação da criança visava o bem de toda a Cidade Estado e não apenas o seu núcleo familiar. Já Marx, enxergou na família burguesa a degradação e a condição de subserviência e submissão da mulher em relação ao seu marido. Esta, era obrigada a abdicar de toda as suas vontades e desejos de realizações pessoais e/ou profissionais e se contentar em se realizar no sucesso e na competência do seu chefe (essa era a denominação para o homem: chefe de família) para ganhar dinheiro (o fim único e último da sociedade capitalista), garantindo o conforto e o sustendo do lar.

O mais impressionante foi a forma com que esse ideal de família se proliferou e se tornou hegemônica, a tal ponto, que a própria classe trabalhadora lutava e sonhava em alcançar aquele status de família burguesa, mesmo sendo seus interesses completamente antagônicos aos da burguesia. Como disse Mark Poster em seu livro, Teoria crítica da família:

? Ao contrário da burguesia liberal de uma época anterior, que se levantou contra a aristocracia em parte como um movimento de repulsa em face de sua vida familiar promíscua (época do Ancien Regime), a classe trabalhadora ou, pelo menos, importantes setores dela reconheceram a legitimidade moral da burguesia ao adotar a sua estrutura familiar. A classe trabalhadora européia e norte-americana não encontrou melhor forma de criar os filhos, repartir afeição e sexualidade entre os sexos e desfrutar as horas de lazer do que imitar ou aspirar aos padrões burgueses. A transformação da estrutura familiar da classe trabalhadora é um dos aspectos não-registrados do êxito político da democracia burguesa.?

Aproveitar esse momento em que o velho está morrendo para que o novo venha a nascer é imprescindível para que possamos fazer uma leitura dessas mudanças e possamos direcionar a sociedade para algo melhor e mais justo. Como costumava dizer o filósofo e matemático, Leibniz: ?O presente está sempre grávido do futuro.? Nesse caso, podemos dizer que a hora do parto já está chegando e que já entramos na fase das contrações. Mas, para não cairmos em mais um engodo como esse da família nuclear burguesa que acabamos de ver, devemos estar atentos a essas mudanças para que a nossa contaminação por novos valores e ideologias que são contrárias aos interesses de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária, seja a menor possível; já que é praticamente impossível viver numa determinada época e pertencer a uma determinada sociedade sem ser influenciado por ela, seja para o bem ou para o mal; mas sem maniqueísmos.

Renato Prata Biar; historiador; Rio de Janeiro; RJ.

Um ano de Yeda Crusius: qual o balanço?

O governo Yeda Crusius foi eleito com um discurso baseado em três conceitos: novo jeito de governar, fazer mais com menos e transparência na gestão. Ao final do primeiro ano, esses três conceitos foram bombardeados pelos próprios atos do Executivo.

Quando Yeda Crusius (PSDB) assumiu o cargo de governadora do Estado no dia 1° de janeiro de 2007, em uma cerimônia realizada no Palácio Piratini, ocorreu uma pequena gafe com a bandeira do Rio Grande do Sul, sem maiores repercussões. Yeda foi comemorar a posse, na sacada do palácio, com uma bandeira do RS nas mãos. Com as duas mãos, mostrou-a a seus apoiadores que estavam na rua. A bandeira estava virada de cabeça para baixo. Se olharmos para esta cena hoje, ela aparece como um símbolo profético do que estava por vir nos próximos meses.

A vida política do RS foi virada de cabeça para baixo, presenciando cenas “nunca antes vistas na história deste estado”, para usar uma expressão cara ao presidente da República. As surpresas iniciaram mesmo antes da governadora tomar posse, com a briga pública entre ela e o vice-governador, Paulo Feijó (DEM).

Logo após a campanha eleitoral, Feijó denunciou que havia sido censurado durante a campanha e impedido de expressar suas opiniões favoráveis às privatizações. Na campanha, reproduzindo o discurso utilizado pelo candidato tucano à presidência da República, Geraldo Alckmin, Yeda Crusius prometeu que não iria privatizar patrimônio público no RS. Além disso, prometeu que não iria propor aumento de impostos, dizendo que essa era uma prática do “velho jeito de governar”.

Mesmo antes de assumir, em dezembro de 2006, ela apresentou um projeto de aumento de impostos à Assembléia Legislativa. Feijó e um conjunto de aliados de Yeda rebelaram-se e fizeram oposição a um governo que sequer havia começado. O projeto de tarifaço acabou derrotado, cena que iria se repetir menos de um ano depois, quando uma nova proposta de aumento de impostos foi derrotada na Assembléia.

As marcas do novo jeito de governar
O atual governo foi eleito com um discurso baseado em três conceitos: novo jeito de governar, fazer mais com menos e transparência na gestão pública. Ao final do primeiro ano, esses três conceitos foram bombardeados pela realidade dos próprios atos do Executivo. O “novo jeito de governar” acabou traduzido por uma sucessão de conflitos em áreas estratégicas do serviço público: Segurança, Educação e Meio Ambiente.

Apresentado, nos primeiros meses, como uma vitrine desse novo jeito de governar, o secretário de Segurança, Ênio Bacci (PDT), acabou sendo demitido em meio a uma troca de denúncias envolvendo ele próprio e o delegado de polícia, Alexandre Vieira. Na área ambiental, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) também foi palco de denúncias e demissões. Na Educação, a crise do transporte escolar e a proposta de enturmação marcaram os primeiros meses de governo.

A fragilidade maior do principal conceito do governo Yeda acabou revelando-se mesmo na relação que estabeleceu com sua própria base aliada na Assembléia Legislativa. A derrota estrondosa que o governo sofreu na segunda tentativa de aprovar uma proposta de aumento de impostos, em novembro de 2007, escancarou a incapacidade do Executivo de fazer valer a maioria que tem no Parlamento.

Partiram de deputados aliados do governo as mais duras críticas e reclamações sobre falta de diálogo e negociação por parte do Palácio Piratini. No final, sobraram palavras duras como “traidores” e “traíras” para os deputados da base aliada que votaram com a oposição. A derrota na Assembléia obrigou a governadora a rever toda sua estratégia política de governo e implementar uma reforma no secretariado ao final do primeiro ano de governo, para tentar recuperar alguma força política no Parlamento.

“Fazer mais com menos”
O conceito de “fazer mais com menos” também sai enfraquecido ao final do primeiro ano de governo. A queda na qualidade dos serviços públicos, motivada pelo corte linear de 30% no orçamento de todas as secretarias, transformou o Palácio Piratini em um palco de protestos de servidores públicos.

A área da Segurança é um exemplo dramático. O governo conseguiu a façanha de unificar todas as associações de classe da Brigada Militar e a Polícia Civil. Policiais civis e militares já fizeram marchas, paralisações e operações-padrão para denunciar o sucateamento das instituições do setor e as precárias condições de trabalho. Segundo as associações da Brigada, mais da metade da frota de veículos de policiamento ostensivo está em situação irregular, com o seguro obrigatório vencido. Além disso, muitos policiais estão sendo obrigados a trabalhar com coletes à prova de balas com prazo de validade vencido.

“Transparência na gestão”
Por fim, o conceito de “transparência na gestão” chega ao final do ano torpedeado pelo escândalo do Detran. A Operação Rodin, desencadeada pela Polícia Federal, revelou um esquema de corrupção, que teria iniciado ainda durante o governo Rigotto, que causou um prejuízo de pelo menos R$ 40 milhões aos cofres públicos. Entre os presos na operação, nomes importantes do governo, como Flávio Vaz Neto (presidente do Detran) e Antônio Dorneu Maciel (diretor financeiro da CEEE), e um dos ex-coordenadores financeiros da campanha de Yeda, o empresário Lair Ferst.

Na esteira do escândalo, surgiram novas denúncias de funcionários fantasmas lotados no governo e contratos firmados sem licitação. A conseqüência política desta sucessão de denúncias é a CPI do Detran, que já tira o sono do núcleo do governo. Em 12 meses, o “novo jeito de governar” surpreendeu, de fato, o Rio Grande do Sul, mas não exatamente como a governadora prometera.

* Publicado originalmente no jornal Extra-Classe, do Sindicato dos Professores do RS (Sinpro)


Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)

A prisão do apego
:: Elisabeth Cavalcante ::

O apego a coisas, pessoas e situações é um dos mais fortes obstáculos ao nosso processo de individuação. Conectar-se com nosso verdadeiro ser e direcionar nossa vida por sua sabedoria, implica, necessariamente, em que nos libertemos de toda forma de apego.

O apego é uma armadilha da mente e do ego que nos faz acreditar que sem a pessoa, o objeto ou a situação à qual nos apegamos, jamais poderemos ser felizes.

Nas relações afetivas é onde a dependência e o apego mais nos enredam. Acreditamos, de forma ilusória, que nossa felicidade depende daquela pessoa, e que ao ausentar-se de nossa vida, ela leva consigo toda e qualquer possibilidade que temos de sermos felizes.

Necessitar de alguém como do ar que é essencial à nossa sobrevivência, é uma doença emocional, da qual só podemos nos curar se tivermos consciência do problema e agirmos no sentido de alcançar a libertação.

Enquanto não nos convencermos de que ninguém, a não ser nós mesmos, pode garantir nossa serenidade e nosso equilíbrio interior, continuaremos presas fáceis das armadilhas do apego.

Visto que é impossível controlarmos a mente do outro, seus desejos e necessidades, colocar nossa chance de felicidade na dependência de suas atitudes é o caminho mais fácil para o sofrimento.

Libertar-se exige o desenvolvimento de nossa auto-estima e uma profunda confiança de que sempre será possível renascermos para uma nova vida, desde que estejamos abertos para isto com o entusiasmo e a alegria de uma criança.

“Amor e a capacidade de estar só
Você deveria ser capaz de estar só, completamente só e, ainda assim, tremendamente feliz. Então, você pode amar. Então, seu amor não é mais uma necessidade, mas um compartilhar, não mais é uma carência. Você não se tornará dependente das pessoas que você ama. Você compartilhará - e compartilhar é bonito.
Mas o que comumente acontece no mundo é: você não tem amor, a pessoa que você pensa que ama não tem nenhum amor em seu ser também, e ambas clamam pelo amor do outro. Dois mendigos mendigando entre si. Como resultado, as brigas, o conflito, a contínua rixa entre os amantes - a respeito de coisas triviais, coisas imateriais, coisas estúpidas! Mas continua-se brigando.

O conflito básico surge porque o marido acha que não está recebendo o que tem direito de receber, a mulher acha que não está recebendo o que tem direito de receber. A mulher acha que foi enganada e o marido também acha que foi enganado. Onde está o amor?
Ninguém está preocupado em dar, todo mundo quer receber. E quando todo mundo está atrás de receber, ninguém recebe. E todo mundo se sente perturbado, vazio, tenso.

A fundação básica está faltando, e você começa a construir o templo sem a fundação. Ele irá cair, desabar a qualquer momento. E você sabe quantas vezes seu amor ruiu. E, ainda assim, você prossegue fazendo a mesma coisa repetidamente. Você vive em tal grau de inconsciência! Você não vê o que você tem feito à sua vida e à vida das outras pessoas. Você continua, como um robô, repetindo o velho padrão, sabendo perfeitamente bem que você já fez isso antes. E você sabe qual tem sido, sempre, o resultado. E lá no fundo você também está ciente de que vai acontecer o mesmo novamente - porque não há nenhuma diferença. Você está se preparando para a mesma conclusão, o mesmo colapso.

Se há algo que você deve aprender do fracasso do amor, é: torne-se mais consciente, mais meditativo. E por meditação eu quero dizer a capacidade de estar alegre sozinho. Muito raras pessoas são capazes de estarem felizes sem absolutamente nenhuma razão - simplesmente sentar-se em silêncio e completa felicidade! Os outros acharão essas pessoas loucas, porque a idéia de felicidade é que ela tem que vir de alguém. Você encontra uma linda mulher e você fica feliz, ou você encontra um homem belo e você fica feliz. Sentar-se em silêncio em seu quarto e feliz?! Feliz desse jeito!? Você deve estar louco!As pessoas vão suspeitar que você está usando alguma droga, que você está chapado.

Sim, a meditação é o LSD definitivo. Ela está liberando seus poderes psicodélicos. Está liberando seu próprio esplendor aprisionado. E você se torna tão alegre, surge uma tal celebração em seu ser, que você não necessita de nenhum relacionamento. Você pode se relacionar com as pessoas... E esta é a diferença entre relacionar-se e relacionamento: relacionamento é uma coisa: você se apega a ele; relacionar-se é um fluxo, um movimento, um processo. Você encontra uma pessoa e você ama, porque você tem muito amor disponível”.

Osho, do livro The Dhammapada.