Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 25 de outubro de 2008
E o massacre continua...
Terror israelense
Blog do Bourdoukan
O legislador palestino Jamal Al-Khudari, chefe do Comitê Popular Contra o Bloqueio a Gaza, anunciou que 35% das mortes causadas pelo bloqueio vitimaram crianças por falta de atendimento médico
Sami, Ahmed Nahid, Soheb, Hamza, Ahmed Talat Sohe e Mohammed são crianças palestinas que têm entre cinco meses e seis anos de idade.
As crianças padecem de graves problemas cardíacos, incluidos defeitos congênitos.
Segundo Al-Khdari, já morreram até o momento 252 pessoas por falta de medicamento.
Alimento, combustível e material de construção continuam proibidos de entrar.
O único laboratório de produções de remédios fechou há um mês e o governo Israel permanece insensível aos apelos internacionais para que afrouxe o cerco.
O capitalismo está a chegar ao fim |
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Depois de ter, antes de todos, previsto o declínio do império americano, Immanuel Wallerstein afirma agora que entrámos desde há 30 anos na fase terminal do sistema capitalista. "A situação torna-se caótica, incontrolável para as forças que até então o dominavam, e assiste-se à emergência de uma luta, já não entre os detentores e os adversários do sistema, mas entre todos os actores para determinar o que o vai substituir", diz o sociólogo norte-americano. Entrevista feita por Antoine Reverchon, para o diário francês Le Monde e publicado no sitio Esquerda.net de Portugal. Para além de signatário do manifesto do Fórum social de Porto Alegre, em 2005, o senhor é considerado um dos inspiradores do movimento altermundialista. Fundou e dirigiu o Centro Fernand-Braudel para o estudo da economia dos sistemas históricos e das civilizações da universidade do Estado de Nova York, em Binghamton. Como situa a crise económica e financeira actual no "tempo longo" da história do capitalismo? Immanuel Wallerstein: Fernand Braudel (1902-1985) distinguia o tempo da "longa duração", que vê sucederem-se na história humana sistemas que regem as relações do homem com o seu meio material, e, no interior destas fases, o tempo dos ciclos longos conjunturais, descritos por economistas como Kondratieff (1982-1930) ou Schumpeter (1883-1950). Encontramo-nos hoje claramente numa fase B de um ciclo de Kondratieff que começou há 30-35 anos, após uma fase A que foi a mais longa (de 1945 a 1975) dos 500 anos de história do sistema capitalista. Numa fase A, o lucro é gerado pela produção material, industrial ou outra; numa fase B, o capitalismo deve, para continuar a gerar lucro, financiarizar-se e refugiar-se na especulação. Desde há mais de 30 anos, as empresas, os Estados e as famílias estão a endividar-se maciçamente. Estamos hoje na última parte de uma fase B de Kondratieff, uma vez que o declínio virtual se torna real, e que as bolhas explodem umas a seguir às outras; as falências multiplicam-se, a concentração do capital aumenta, o desemprego aumenta, e a economia conhece uma situação de deflação real. Mas actualmente, esse momento do ciclo conjuntural coincide com, e portanto agrava, um período de transição entre dois sistemas de longa duração. Penso de facto que entrámos desde há 30 anos na fase terminal do sistema capitalista. O que distingue fundamentalmente esta fase da sucessão ininterrupta dos ciclos conjunturais anteriores, é que o capitalismo já não consegue "fazer sistema", no sentido que entendia o físico e químico Ilya Prigogine (1917-2003): quando um sistema, biológico, químico ou social, se desvia cada vez mais frequentemente da sua situação de estabilidade, quando deixa de poder encontrar o equilíbrio, então assiste-se a uma bifurcação. A situação torna-se caótica, incontrolável para as forças que até então o dominavam, e assiste-se à emergência de uma luta, já não entre os detentores e os adversários do sistema, mas entre todos os actores para determinar o que o vai substituir. Eu reservo o uso da palavra "crise" para este tipo de período. Pois bem, encontramo-nos numa crise. O capitalismo está a chegar ao seu fim. Por que não haveria de tratar-se de uma nova mutação do capitalismo, que já conheceu a passagem do capitalismo mercantil para o capitalismo industrial, depois do capitalismo industrial para o financeiro? O capitalismo é omnívoro, capta o lucro precisamente onde ele é mais importante num determinado momento; não se contenta com pequenos lucros marginais; pelo contrário, maximiza-os constituindo monopólios - ele ainda tentou fazê-lo ultimamente nas biotecnologias e nas tecnologias da informação. Mas penso que as possibilidades de acumulação real do sistema atingiram os seus limites. O capitalismo, desde o seu nascimento na segunda metade do século XVI, alimenta-se do diferencial de riqueza entre um centro, onde convergem os lucros, e periferias (não necessariamente geográficas) cada vez mais empobrecidas. Neste sentido, a recaptura económica da Ásia do Leste, da Índia, da América Latina, constitui um desafio inultrapassável para a "economia-mundo" criada pelo Ocidente, que já não é capaz de controlar os custos da acumulação. As três curvas mundiais dos preços da mão-de-obra, das matérias-primas e dos impostos estão por todo o lado em forte subida desde há décadas. O curto período neoliberal que está prestes a concluir-se apenas inverteu esta tendência provisoriamente: no final dos anos 1990, estes custos eram certamente menos elevados que em 1970, mas eram bem mais importantes que em 1945. Na realidade, o último período de acumulação real - os "trinta gloriosos anos" - só foi possível porque os Estados keynesianos puseram as suas forças ao serviço do capital. Mas, também aí, foi atingido o limite! Há precedentes da fase actual, tal como a está a descrever? Houve muitos na história da humanidade, ao contrário do que pretende a representação, forjada no século XIX, de um progresso contínuo e inevitável, inclusive na versão marxista. Prefiro situar-me na tese da possibilidade do progresso, e não na sua inelutabilidade. Com certeza que o capitalismo é o sistema que soube produzir de uma maneira extraordinária e notável mais bens e riquezas. Mas há também que olhar para a soma das perdas - para o ambiente, para as sociedades - que ele provocou. O único bem é aquele que permite obter para o maior número uma vida racional e inteligente. Dito isto, a crise mais recente parecida à de hoje é o afundamento do sistema feudal na Europa, entre os meados do século XV e do século XVI, e a sua substituição pelo sistema capitalista. Esse período, que culminou com as guerras de religião, vê afundar-se o poder das autoridades reais, senhoriais e religiosas em favor das comunidades camponesas mais ricas e das cidades. Foi aí que se construíram, por pequenos passos sucessivos e de uma forma inconsciente, soluções inesperadas cujo sucesso acabará por "fazer sistema", alargando-se lentamente, sob a forma de capitalismo. Quanto tempo poderia durar a transição actual, e em que poderia culminar? O período de destruição de valor que encerra a fase B de um ciclo Kondratirff dura geralmente entre dois e cinco anos antes das condições de entrada numa fase A, quando um lucro real que pode de novo ser extraído de novas produções materiais, descritas por Schumpeter, estiverem reunidas. Mas o facto de esta fase corresponder actualmente a uma crise de sistema fez-nos entrar num período de caos político durante o qual os actores dominantes, à frente das empresas e dos estados ocidentais, vão fazer tudo o que é tecnicamente possível para reencontrar o equilíbrio, mas é muito provável que não o consigam. Os mais inteligentes, esses, já compreenderam que seria preciso arranjar algo de totalmente novo. Mas múltiplos actores agem já, de forma desordenada e inconsciente, para fazer emergir novas soluções, sem que se saiba ainda que sistema resultará destas tentativas. Encontramo-nos num período, bastante raro, em que a crise e a impotência dos poderosos deixam um espaço ao livre arbítrio de cada um: existe hoje um lapso de tempo durante o qual nós temos, cada um, a possibilidade de influenciar o futuro pela nossa acção individual. Mas como este futuro será a soma do número incalculável destas acções, é absolutamente impossível prever que modelo se irá impor no final. Dentro de dez anos, talvez vejamos mais claramente; dentro de trinta ou quarenta anos, um novo sistema terá emergido. Creio que é absolutamente possível tanto assistir-se à instalação de um sistema de exploração ainda mais violento que o capitalismo, como ver ao contrário instalar-se um sistema mais igualitário e redistributivo. As mutações anteriores do capitalismo culminaram muitas vezes num deslocamento do centro da "economia-mundo", por exemplo da Bacia do Mediterrâneo para a costa Atlântica da Europa, e depois para os Estados Unidos da América. O sistema que se segue será centrado na China? A crise que vivemos corresponde também ao fim de um ciclo político, o da hegemonia americana, encetado igualmente nos anos 1970. Os Estados Unidos continuarão a ser um actor importante, mas jamais poderão reconquistar a sua posição dominante face à multiplicação dos centros de poder, com a Europa ocidental, a China, o Brasil, a Índia. Um novo poder hegemónico, se quisermos retomar o "tempo longo" braudeliano, pode levar ainda uns 50 anos a impor-se. Mas ignoro qual será. Entretanto, as consequências políticas da crise actual serão enormes, na medida em que os donos do sistema vão tentar encontrar bodes expiatórios para o afundamento da sua hegemonia. Penso que metade do povo americano não vai aceitar o que está em vias de acontecer. Os conflitos internos vão por isso exacerbar-se nos Estados Unidos, que estão na iminência de se transformar no país mais instável politicamente do mundo. E há que não esquecer que nós, os americanos, estamos todos armados... Immanuel Wallerstein é investigador do departamento de sociologia da universidade de Yale (EUA), ex-presidente da Associação internacional de sociologia, fundador e director do Centro Fernand-Braudel para o estudo da economia dos sistemas históricos e das civilizações da universidade do Estado de Nova York, em Binghamton, e colunista, entre outras publicações, do Esquerda.net Tradução de Jaime Pinho |
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Formato: RMVB
Áudio: Francês
Legendas: Português (embutidas)
Duração: 1:23
Tamanho: 295 MB (03 partes)
Servidor: Rapidshare
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Créditos: F.A.R.R.A. - dylan dog
Direção: René Clair
Roteiro: René Clair
Fotografia: Georges Périnal
Música: Georges Auric
Montagem: René Le Hénaff, René Clair
Direção de Arte: Lazare Meerson
Elenco: Henri Marchand, Raymond Cordy, Rolla France, Paul Olivier, Jacques Shelly, Germaine Aussey, André Michaud, Léon Lorin
Fugitivo da prisão torna-se rico industrial; o companheiro de fuga, que havia sido recapturado, ao terminar de cumprir a pena vai trabalhar com ele e o ajuda a livrar-se da polícia; os dois acabam entregando a fábrica aos operários e tornam-se felizes vagabundos. Sem dúvida, essa sátira à produção em massa influenciou Chaplin para realizar seu Tempos Modernos(36). Um belo poema em louvor à liberdade.
A máquina contra os ideais humanos
Em A Nós a Liberdade, René Clair satiriza a indústria que reduz o homem ao nível da máquina e isso foi uma fonte inequívoca de influência para o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, feito cinco anos depois. Dois companheiros de fuga de prisão são os protagonistas desta bela e inteligente comédia musical. Um, interpretado pelo simpático Raymond Cordy, que sobe rápida e habilmente no intrincado mundo industrial. O outro, Henri Marchand, perambula inocentemente pela narrativa, querendo aceitar o inesperado. Aproveitando o talento do brilhante diretor de arte Lazare Meerson, Clair usa o vasto complexo industrial em sua totalidade, transformando-o num palácio maravilhoso, cheio de salas para caçadas e brincadeiras.
A música alegre e despreocupada de Georges Auric sublinha o filme, e a câmara de Georges Perinal explora as superfícies brancas e grandes da super-fábrica e o brilho das suas paredes. Mas a excelente técnica empregada no filme é apenas uma moldura para a crítica à pomposidade e a processos técnicos desumanos. Com este filme, o diretor defende o estabelecimento de valores essenciais e faz uma apreciação sem concessões das incoerências do ser humano. O mundo é retratado pelos olhos de dois personagens com visões diametralmente opostas. Talvez a idéia de utopia apresentada por Clair em A Nós a Liberdade seja primitiva, inocente e impraticável, mas continua sendo um ideal muito caro a todas as pessoas sensíveis. Fonte - Guia Vídeo 1990 Nova Cultural
"Devemos pensar grande"
Susan George é conhecida por suas críticas aos dirigentes da globalização corporativa e pelos livros combativos sobre a fome, o desenvolvimento e a dívida dos países pobres. Agora, argumenta, podemos aprender lições do início dos anos 40 para transformar nossas economias esfaceladas e interromper a mudança climática antes que seja tarde.
Uma crise retro-alimenta e intensifica a outra. Depois de anos de “inovações” irresponsáveis, grandes instituições financeiras estão sendo resgatadas com dinheiro público e muitos executivos pegam o dinheiro e desaparecem, enquanto milhões perdem seus empregos e frequentemente suas casas. Vejam a explosão da bolha imobiliária, o estouro especulativo das commodities do mercado, impulsionando o aumento do preço dos alimentos e da energia. O aumento dramático do preço dos gêneros de primeira necessidade mergulham outras 150 milhões de pessoas na pobreza. Comunidades pobres em recursos fazem o que podem, derrubam árvores, matam animais e super-exploram a pouca terra que têm, mas os ricos causam, de muito longe, um dano muito maior, com suas dinossáuricas pegadas ecológicas.
Defensor devoto da redução das suas emissões de dióxido de carbono, os EUA destina mais de um terço do plantio de seu milho e soja aos biocombustíveis, pressionando os preços dos alimentos para as alturas. O aquecimento global e a fúria de tempestades que ele provoca atingem mais duramente as regiões mais pobres da Terra, assim como o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) disse há muito tempo.
Então, há um caminho de saída? Sim, mas não o ambientalista bem conhecido e há muito advogado. Desculpem-me, mas “nós” não podemos salvar o planeta nem se amanhã “nós” reduzirmos o nosso consumo de energia pela metade. Eu não estou sugerindo que os indivíduos não devam fazer todas as mudanças que puderem, mas eles não devem nutrir quaisquer ilusões de que o comportamento pessoal, ainda que virtuoso quanto à emissão de dióxido de carbono, possa fazer diferença. Os maiores destruidores não vão desistir e medidas voluntárias são ineficientes. A escala é o problema, e nossa tarefa é promover um quantitativo e qualitativo salto na ação ambiental, reconhecendo que grande pode ser não apenas bonito mas crucial, se pretendemos evitar o pior.
Um passo desses é possível? Está o planeta salvaguardado enquanto o capitalismo internacional prevalece, com seu foco no crescimento e no lucro a todo custo, com a captura predatória de recursos e com a euforia financeira? Como disse um homem sábio: “Tudo para nós e nada para outro povo parece, em todas as épocas do mundo, ter sido a máxima vil dos senhores da humanidade”. Quem disse isso foi Adam Smith, em A Riqueza das Nações, não Karl Marx.
Se Smith estiver certo e nossos “senhores” continuam a exibir voracidade e avareza, devemos organizar uma revolução mundial antes de que possamos salvar a Terra? Há algum ponto único de ataque? Se sim, por favor, diga-me o nome do Czar e o endereço do Palácio de Inverno. Ele não é para ser encontrado em Wall Street, que não apenas sobreviveu ao 11 de Setembro mas parece ter capturado o governo norte-americano, a despeito de algumas das maiores empresas terem virado pó. Nem tampouco alguém iria receber bem o sistema político que cobriu a vasta área em que essa revolução ocorreu. De alguma maneira, contudo, porque nosso sistema atual parece determinado à catástrofe, precisamos de uma alternativa entre o capitalismo “vermelho-no-dente-e-na-garra” (1) e uma insurgência mundial tão improvável como utópica.
Há um precedente histórico. Quando os Aliados enfrentaram o fascismo na Segunda Guerra Mundial, havia um adversário que lhes era tão calamitoso como o é a mudança climática para nós. Os EUA ainda não haviam se recuperado plenamente da Depressão, mas tinham em Franklin D. Roosevelt um presidente que entendeu o que era preciso. Sob sua direção, a economia se transformou espantosamente em pé de guerra num curto espaço de tempo. Minha cidade natal, Akron, em Ohio, a “capital vermelha do mundo” (2), passou a produzir pneus e equipamentos para o exército e para a força aérea. Todos os outros centros industriais também se voltaram para as necessidades militares. Os executivos-chefes se tornaram prestigiados “homens de um dólar por ano” (3), pagos com essa simbólica soma pelo Tesouro por ajudarem ao governo a encontrar objetivos quantitativos e qualitativos. Muitos desses executivos emolduraram os seus cheques de um dólar como um distintivo de honra.
Sim, ainda havia conflito entre patrões e empregados, mas no geral era um tempo de oportunidades, especialmente para as mulheres e as minorias. Os trabalhadores eram bem pagos e exibiam em alto e bom som os seus cultivos de “victory gardens” (4), as crianças usavam suas mesadas para comprar broches de guerra, o petróleo foi racionado. O país nunca tinha estado tão unido antes – ou desde então. A guerra fez o país unir esforços para superar, finalmente, a Depressão. Foi a economia keynesiana, nomeada graças ao economista britânico John Maynard Keynes.
Um esforço parecido seria necessário para enfrentar o derretimento ambiental e isso seria menos difícil do que parece. O ponto político é que o keynesianismo ecológico é um cenário em que todos ganham. As pessoas geralmente se põem frente aos governos reconhecendo o seu perigo, e elas tendem a construir coalizões para convencer os políticos de que elas votarão em quem quer que leve tão a sério uma crise específica como elas o fazem. Os políticos podem vencer com um programa keynesiano ambiental porque agora, como no momento em que o keynesianismo foi experimentado, ele promete uma sociedade altamente especializada, altamente bem paga por empregos qualificados e que renova oportunidades de exportação.
Mas onde está o dinheiro para financiar isso? O mundo está inundado de dinheiro, o problema está em chegar até ele. De acordo com a gigantesca prestadora de serviços financeiros, a norte-americana Merril Lynch, 10 milhões de pessoas no mundo estão sentadas sobre 40 trilhões de dólares em investimento potencial à vista. Os bancos devem ser informados de que, em troca das falências das garantias eles devem destinar X por cento de sua carteira de crédito para produtos ambientalmente comprometidos e tratar esse percentual sob as regras e classificações de mercado. Ele pode fazer a diferença quando concederem empréstimos aos maiores promotores do efeito estufa, em 10%.
Critérios básicos para novas construções devem ser tornar a norma, enquanto outras podem ser reconsideradas em termos simples; famílias e proprietários de terras devem receber incentivos financeiros para construir “casas verdes” e painéis de energia solar – e venderem o excesso de energia para a rede de energia. A pesquisa pode ser orientada em direção das energias alternativas e materiais fortes e ultra-leves para aviões e veículos. Falando tecnicamente, nós já sabemos como fazer essas coisas, ainda que algumas soluções limpas ainda estejam mais caras que as poluentes. A produção em massa poderia alterar isso.
A crise ambiental oferece uma oportunidade ideal para pôr o sistema financeiro global sob controle. Taxar transações financeiras correntes internacionais e outras operações de mercado é uma medida que requer apenas determinação política e algum programa. O cancelamento da dívida dos países pobres pelo G8 por uma década deveria ocorrer, com a exigência da contrapartida de que eles contribuam para o esforço global de reflorestamento, conservação do solo e coisas do gênero. Os paraísos fiscais deixariam de existir. Metade de todo o comércio mundial atual passa por ele; eles permitem que as pessoas ricas e as corporações escondam trilhões em ativos que poderiam prover os governos com pelo menos 250 bilhões de dólares por ano em arrecadação fiscal.
E quanto aos executivos relutantes e hostis? Vamos criar uma ultra-exclusiva Ordem dos Conquistadores de Carbono ou dos Eco-Heróis, dando-lhes fitas brilhantes de seda verde e dourado, para usarem em suas lapelas, e nos cartazes na frente de suas casas energeticamente neutras, e bandeirolas para os seus carros movidos à eletricidade. Poderíamos inclusive pagá-los 1 dólar por ano. Isso não seria melhor do que uma outra guerra?
Susan George é licenciada em filosofia pela Sorbonne e doutora em política pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris). Autora de diversos livros, é dirigente da ATTAC-França (Associação pela Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos) e presidente do conselho de administração do Transnacional Institute (Amsterdã).
Tradução: Katarina Peixoto
(1) Expressão de lingua inglesa, provavelmente derivada do poema “In Memoriam A.H.H.”, de 1849, de autoria de Alfred Lord Tennyson. A passagem do poema se refere ao homem e à natureza selvagem ou violenta frequentemente atribuída à natureza. O trecho do poema em que essa expressão ocorre é este: “Who trusted God was love indeed/And love Creation's final law/Tho' Nature, red in tooth and claw/With ravine, shriek'd against his creed”. No contexto, a autora parece estar se referindo ao que em português se conhece ordinariamente por “capitalismo selvagem”. N. de T.
(2) A capital vermelha significa a capital “republicana”, já que a cor com que o Partido Republicano é identificado nos EUA é o vermelho. N. de T.
(3) Os “homens de um dólar por ano eram executivos que ajudavam o governo norte-americano a reerguer a economia nacional em períodos de guerra, especialmente na Primeira Guerra. A lei norte-americana proibia o governo de aceitar serviços gratuitos de quem quer que fosse. Em função disso, voluntários habilitados a prestar seus serviços ao Estado tinham de ser de alguma maneira pagos, nem que fosse, como ocorreu, com a simbólica quantia de 1 dólar por ano. Assim tornaram-se conhecidos os “dollar-a-year mens”. N.deT.
(4) Victory Gardens ou War Gardens ou Food Gardens for Defense era o cultivo, como esforço de guerra privado, de vegetais, frutas e ervas, nas residências dos EUA, Canadá e Reino Unido, durante as Primeira e Segunda Guerras, a fim de reduzir a pressão sobre o preço dos alimentos. Esses cultivos também eram considerados parte do esforço moral da população – os cidadãos que cultivavam esses “jardins” poderiam sentir o poder de ser recompensados pelo crescimento da produção. Cultivar “victory gardens” se tornou parte da vida cotidiana em pleno quintal, como um front doméstico.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Castañeda, mártir estudantil guatemalteco e latino-americano
por Luciano Rezende*
Oliverio Castañeda de León
O movimento estudantil na Guatemala - assim como de resto em todos os países latino-americanos vítimas das ditaduras patrocinadas pelos EUA - foi um dos mais golpeados pelas forças repressivas no marco do conflito armado interno que viveu o país durante 36 anos (1960 a 1996) e que deixou mais de 200 mil vítimas entre mortos e feridos.
Seguramente Castañeda estaria orgulhoso, se vivo fosse, da realização do Fórum Social Américas (FSA) em sua querida Cidade da Guatemala que terminou semana passada e reuniu democraticamente centenas de representantes dos movimentos sociais de todo o continente. Veria de perto a evolução política de um continente que viveu anos de ferro e fogo e agora vê erigir a construção de uma nova América Latina mais integrada e democrática que tem muito do esforço abdicado dos milhares de jovens que, assim como ele, abriram mão de suas próprias vidas.
Talvez trinta anos atrás também fosse impensável que algum representante de governo se pronunciasse publicamente pedindo perdão em nome do Estado pelo assassinato de um dirigente estudantil como fez ontem o próprio presidente guatemalteco em pessoa, Álvaro Colom, desculpando-se pelo assassinato de Castañeda. “Agora me cabe pedir perdão. O Estado tem que pedir perdão e temos que reconhecer e saber que isso existiu, pois senão nossos filhos e netos vão pensar que isso foi uma lenda mesmo que isso seja uma realidade” discursou o presidente Colom em um ato em que foi entregue a Ordem de Quetzal a Castañeda.
São novos e emblemáticos fatos políticos como esse que servem de balizadores políticos para o movimento estudantil interpretar os avanços democráticos obtidos em um cenário de acumulação prolongada de forças de distintos níveis de convicção revolucionária para que a luta de tantos outros Castañedas não tenha sido em vão. Talvez essa seja a melhor homenagem.
Aliás, Castañeda era de um pensamento amplo e pertencia a um grupo estudantil denominado “Frente”, que aglutinava associações estudantis de diferentes faculdades e escolas da Universidade de São Carlos (Usac) e que incorporava além de membros da Juventude Patriótica do Trabalho (JPT) também a muitos estudantes de esquerda sem vinculação partidária que não aderiram à via armada proposta por outros grupos.
Foi na “Frente” que Oliverio Castañeda, um jovem de 23 anos e estudante do quarto ano de economia, foi eleito secretário geral da combativa AEU (entidade que até hoje compõe o secretariado geral da Oclae, ao lado das brasileiras UNE, Ubes e ANPG), em 22 de maio de 1978.
Desde sua posse lidera a AEU em intensas manifestações contra o governo como a que protestou pelo massacre de Panzós, ocorrida no dia 29 desse mesmo mês. Dois dias após o massacre a AEU realiza uma manifestação a qual a grande maioria da população indígena maia incorpora e Oliverio faz um enérgico pronunciamento à imprensa em que exige três pontos que por fim foram aceitos pelas autoridades: acesso dos meios de comunicação ao local do massacre, acesso também aos estudantes de medicina e à Cruz Vermelha para atender os feridos e, por último, autorização para entrevistar seis soldados que participaram do episódio.
Já em setembro de 1978, Olivério Castañeda, na condição de dirigente da AEU e também integrante do Comitê de Emergência dos Trabalhadores do Estado (CETE), desempenha um ativo papel na organização de uma greve geral em decorrência do aumento da passagem do transporte urbano.
A greve paralisou a capital que se converteu num palco de graves enfrentamentos entre manifestantes e as Forças de Segurança no que resultou em um grande número de feridos e centenas de manifestantes detidos. Após 15 dias de greve o governo, enfim, recua no aumento das tarifas do transporte público e atende as exigências dos grevistas.
Mas essa importante vitória teve seu preço. Ao mesmo tempo em que fortaleceu a luta estudantil, com a mesma intensidade aumentaram os riscos contra os líderes estudantis da AEU que passaram a viver cada vez mais o clima de insegurança imposto. Alguns líderes do CETE são presos e destituídos arbitrariamente dos cargos que ocupavam. Um antigo dirigente do Sindicato dos Correios e Telégrafos, Amulfo Cifuentes Díaz, é assassinado e os atentados contra os sindicalistas e profissionais universitários se alastram. O presidente da República, general Romeo Lucas García, declarou aos meios de comunicação que a Universidade era um foco da subversão e que tanto os estudantes como os professores eram partícipes das atividades armadas no país.
Em 19 de outubro de 1978, um dia antes de sua morte e vésperas da manifestação comemorativa da Revolução guatemalteca de 1944, o nome de Oliverio aparece destacado em uma lista com 39 pessoas ameaçadas de morte pelo Exército Secreto Anticomunista (ESA). Estava marcado para morrer.
Antes mesmo dessa lista, tantas outras ameaças haviam sido feitas e medidas de segurança, tais como dormir em casas diferentes, eram mantidas pela AEU que monitorava toda sua agenda e dos demais dirigentes.
Mas como medida extra de segurança adotada após o anúncio dessa lista feita pela ESA, a AEU decide que os dirigentes da entidade não participariam da marcha no dia seguinte, mas apenas de uma manifestação posterior. Essa decisão não foi acatada e a grande maioria dos dirigentes se incorporou à marcha.
A marcha comemorativa da Revolução de 1944 transcorreu sem nenhum incidente ainda que grande aparato policial fosse disposto pelas autoridades com a justificativa de oferecer “proteção aos manifestantes”
Ao final da marcha, Castañeda se incorporou à manifestação e foi o último orador a discursar. Fez uma enérgica intervenção onde denuncia as graves violações dos direitos humanos vividos no país e chama o ministro responsável pelas Forças de Segurança, Donaldo Alvarez, de assassino. Após seu discurso, a multidão começa a se dispersar e junto a ela segue Castañeda com um grupo de estudantes, entre eles uma amiga e um vigia da sede da AEU.
Poucos metros depois são interceptados por um carro (cuja placa foi anotada) do qual desce um homem com uma metralhadora em mãos abrindo fogo contra Oliverio. Ele ainda tenta escapar, mas é alvejado e ainda recebe outro tiro na cabeça disparado por um segundo homem que estava em outro carro (um jeep com placas oficiais). Outras cinco pessoas, entre elas uma criança, também são feridas.
No exato local de sua morte, no centro da cidade, há uma placa posta pela AEU rendendo homenagens a seu mártir. Morreu às 13:20 e apesar de numerosa presença de policiais pelas ruas não houve tentativa alguma de socorro à vítima e sequer esboço de perseguição aos autores dos disparos. Entre os anticomunistas, o sentimento de dever cumprido.
Uma semana após seu assassinato explode uma manifestação que reuniu mais de 40 mil pessoas na capital. A resposta do governo, dispondo de todos os recursos propagandísticos, é a de associar o crime às organizações terroristas organizadas clandestinas que fogem ao controle do governo (Uribe tem muitos mestres e exemplos históricos para se inspirar).
O assassinato de Oliverio Castañeda de Leon representa o fim dos espaços de participação política e social dos estudantes universitários que se prolongará durante toda a década de oitenta em que a maioria dos dirigentes da AEU é assassinada ou presa.
Conhecer e divulgar um pouco essa heróica luta estudantil guatemalteca e latino-americana é reforçar nossa ação no Brasil. É como disse Che Guevara, “por mais que tente lhe matar uma ou mil vezes tens o costume de renascer em cada jovem revolucionário”.
Que se proliferem Oliverios por todo o mundo.
*Luciano Rezende, Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Da Direção Nacional da UJS.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Taxa Tobin, combate à pobreza e à destruição ambiental
Jeffrey Sachs* - CartaMaior
O sistema financeiro internacional está quebrado. Será preciso um conjunto de reformas para assegurar o crescimento econômico sustentável e a distribuição de riqueza. Os líderes do G8 da Europa, do Japão e dos EUA acordaram, na reunião de cúpula neste outono em Nova York, em reforçar o sistema internacional – uma boa idéia desde que se inicie um conjunto de mudanças de longo alcance no lugar de ser apenas um encontro focado na regulação dos mercados.
Os líderes do G8 estão entusiasmados em dar início à regulação e isso é compreensível. Wall Street, a City de Londres e outros centros financeiros se apressaram selvagemente em tomar emprestado ativos subcapitalizados para emprestá-los a custos acima dos valores regulados e dos bônus. Quando teve a chance de limitar esse comportamento, Alan Greenspan, do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), alimentou a bolha financeira com juros muito baixos e restrição regulatória. E o mercado de derivativos permitiu-se tornar tão vasto e insustentável que não há clareza a respeito de quem deve a quem em dezenas de trilhões de dólares de Credito Default Swaps (CDS) e outros derivativos.
Empresas e mais empresas avaliaram riscos sem consideração do risco sistêmico. Quando as instituições são “grandes demais para quebrar”, devem ser supervisionadas de muito perto para que elas não levem de fato todo o sistema abaixo quando, de vez em quando, quebrarem. E temos aprendido de novo que em último caso não há credores, só uma mistura de bancos centrais e Tesouros, cujos ativos individuais podem ou não ser suficientes para causar pânico.
Os líderes do G8 devem ir bem além das questões de regulação financeira, contudo. Mesmo antes desta crise, a economia global estava indo mal em aspectos cruciais. Muitos países pobres, frequentemente mergulhados na pobreza indutora de violência e conflito, permanecem alijados da prosperidade global. Isso se tornará ainda mais pesado com a recessão econômica. A crise ambiental global também estava piorando, e os desastres climáticos vinham causando destruição de suprimentos alimentares no mundo. Enquanto o crescimento da economia forçava a restrição dos suprimentos, o sistema energético vivia em turbulência e ainda assim não havia consenso sobre como criar um sistema energético compatível ecológica e economicamente com as necessidades do planeta.
Esses desafios precisam desesperadamente de atenção não apenas em função dos seus próprios méritos, mas também porque o crescimento global da economia não pode ser sustentável sem soluções para essas crises.
A assistência financeira aos países mais pobres – uma assistência básica de urgência para mais de um bilhão de pessoas – está em frangalhos. A Europa e os EUA tiveram de levantar algo como 3 trilhões de dólares no mês passado em garantia e em fundos de pensão para bancos, mas não foram capazes de mobilizar sequer uns dez milésimos desse montante para ajudar aos mais pobres do mundo a ter mais comida no meio de uma crise de fome e de aumento maciço de preços dos alimentos.
Os EUA têm estado cego perante as metas de desenvolvimento do milênio, na luta contra a pobreza, a fome e a doença. Quando George Bush se dirigiu à nação em setembro – diante, supostamente, da metade de tempo que resta para o cumprimento das metas – ele mencionou “terror” 31 vezes, enquanto não conseguiu mencionar as metas sequer uma. Todos os grandes doadores, com exceção da Grã Bretanha, incluindo os EUA, Japão, França, Alemanha, Itália e Canadá – não estão sendo capazes de viver à altura de compromissos ajuda de longo prazo.
Os líderes deveriam parar para refletir que há uma outra pouco mencionada cúpula internacional marcada para dezembro, em Doha, Qatar, para enfrentar o desafio de financiar o desenvolvimento. Um acontecimento que tem lugar seis anos depois de uma cúpula parecida, no México, na qual os países se comprometeram a realizar “esforços concretos” para destinar 0,7% dos seus PIBs em assistência ao desenvolvimento – um índice de ajuda que nenhum dos países alcançou, ainda.
Um verdadeiro Bretton Woods II iria estabelecer uma estrutura financeira destinada a cumprir as metas globais em estabilidade macroeconômica, desenvolvimento econômico, sustentabilidade ambiental e comércio para o desenvolvimento. Tudo isso é vital para o crescimento sustentável de longo prazo, mas as metas globais nas quatro áreas permanecem não-cumpridas. Os membros das cúpulas deveriam vir com seus talonários de cheques e os compromissos nas mãos.
Eis aqui, então, uma agenda para Bretton Woods II. Em primeiro lugar, precisamos reestruturar a finança global, baseados num sistema padrão do mercado de capitais, relatórios financeiros, controle do aumento do risco sistêmico e um novo credor com competência em última instância. Mercados de derivativos, fundos Hedge, e negociadores falidos devem ser submetidos ao controle regulatório. O FMI teria o poder real de um credor global com competência de última instância (como eu sugeri há doze anos atrás, alertando para a ameaça do pânico do mercado sobre si mesmo).
Para tornar isso possível, uma pequena taxação das transações financeiras – uma taxa Tobin – seria implementada para expandir o caixa emergencial do FMI em caso de crises e para financiar outras necessidades internacionais urgentes.
Em segundo, a nova estrutura global da finança deveria ajudar a salvar o mundo da indução humana de mudança climática. Um imposto direto sobre o carbono contido nos combustíveis fósseis, arrecadado em todos os países, seria empregado, e muito melhor do que o enormemente difícil sistema de comércio de emissão de carbono, inventado e defendido pelos mesmos engenheiros financeiros que nos trouxeram nossa crise bancária atual. A maior parte da receita advinda das taxas de carbono permaneceriam em cada país, para financiar tecnologia de baixa emissão de gases. Alguma parte iria direto para três bens públicos globais: pesquisa e desenvolvimento em energia sustentável, transferência de tecnologia de energia sustentável para países de baixa renda e adaptação à mudança climática.
Em terceiro lugar, o Banco Mundial deveria mudar o foco para metas claras e para a responsabilidade com a produção de resultados. Especificamente, o banco deve ter a arqui-tarefa de ajudar os países mais pobres a cumprir as metas de desenvolvimento do milênio de reduzir a pobreza, a fome e a doença. O banco está pobremente organizado para esse tipo de liderança hoje. Como qualquer outra burocracia, ele evita se deter na medida da responsabilidade dos seus resultados. Com um foco rigoroso nas Metas do Milênio, o banco também deveria ser financiado com muito mais recursos advindos de novas receitas (como as da taxa Tobin), assim o banco poderia ajudar melhor aos países mais pobres a expandir a infraestrutura vital (eletricidade, estradas, água, saneamento e redes de banda larga).
Em quarto, a agenda do comércio global deve estar integrada com objetivos financeiros e ambientais. A rodada de Doha fracassou porque o mundo não pôde ver qualquer razão urgente para o seu sucesso. Um acordo comercial vale a pena para fazer duas coisas primordiais.
Fundamentalmente, ele ajudaria os países mais pobres a serem mais produtivos, assim eles podem ser participantes plenos no sistema de comércio global. “Ajuda para negociar” permitiria a esses países erguer talentos, estradas, pontes e energia limpa para incrementar o comércio. Em acréscimo, o comércio global promoveria a sustentabilidade ambiental para reforçar o consenso em torno das emissões de carbono e da proteção da biodiversidade ameaçada.
Todas essas reformas são vitais para a sustentabilidade de longo prazo do crescimento e do desenvolvimento. Se os líderes políticos focarem apenas na estabilidade do setor financeiro, mas negligenciarem os problemas de fornecimento energético de longo prazo, a mudança climática, a produção de alimentos, o controle de doenças e a pobreza extrema, então o crescimento global será restaurado no curto prazo, apenas para sucumbir de novo e rapidamente, com outro aumento de preços da energia e dos alimentos, e com a instabilidade geopolítica.
Os defeitos das instituições Bretton Woods existentes, políticas ambientais globais e acordos de comércio internacional foram largamente reconhecidos por pelo menos uma geração. A atual crise global e a chegada de um novo presidente norte-americano no meio deste derretimento econômico sem precedentes pode, finalmente, marcar o momento em que o mundo levará a sério a agenda global ambiental e econômica que nos confronta neste novo milênio. Uma cúpula em dezembro será um pequeno passo mas poderia ser a primeira ação significativa para deixar o mundo a salvo das calamidades que temos diante de nós.
Jeffrey Sachs é diretor do Earth Institute, na Universidade Columbia, e é autor, entre outros livros, de "O Fim da Pobreza"
Artigo publicado originalmente no Guardian, em 21 de outubro de 2008
Tradução: Katarina Peixoto
Os frutos da terra | | | |
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Os frutos da terra, novela que deu o Prêmio Nobel de Literatura ao escritor norueguês Knut Hamsum em 1917, deveria ser livro-texto nos cursos de economia e de sociologia rural.
Através da história de um posseiro que desbrava uma terra até então inexplorada, nos confins da Noruega, Hamsum encadeia, um por um, os passos que seu personagem principal - Isak, o infatigável trabalhador - segue para transformar a terra virgem da qual se apossou em uma unidade agrícola produtiva.
Desde o primeiro plantio (com sementes que carregou nas costas durante a longa viagem a pé desde sua terra natal ao ermo em que decidiu fixar-se) até a realização desse projeto, Isac toma decisões atinadas: levantamento das cercas; aquisição dos primeiros animais; edificação do curral, construção do celeiro, da serraria, da forja, dos canais de irrigação; a compra do trator. A seqüência mostra a preocupação principal do camponês: primeiro a produtividade da sua terra, depois as melhorias destinadas ao conforto.
Mas este roteiro não é mais do que o leito sobre o qual flui um rio de reflexões a respeito da grandeza e da mesquinharia do ser humano; da condição feminina; da modernidade; da cidade e do campo; da relação do homem com a natureza; do sentido da existência. Como em todas as grandes novelas, isto se faz através de envolventes histórias nas quais seus personagens vão ganhando vida.
"Os frutos da terra" é um livro para ser lido e relido por aqueles que querem conhecer melhor o ser humano e entender um pouco mais o universo mental das pessoas que vivem no meio rural. |
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Alemães procuram Marx para explicar a crise
Karl Marx está de volta. Ao menos, este é o veredito dos editores e livreiros da Alemanha, que asseguram que suas obras estão voando nas estantes. A crescente popularidade é creditada, naturalmente, à crise econômica em curso. ''Marx entrou de novo na moda'', diz Jörn Schütrumpf, da editora Karl-Dietz, que publica as obras de Marx e Engels em alemão.
Por Kate Connolly no jornal britânico The Guardian*
Marx no traço do americano David Baldinger
''Estamos assistindo a um crescimento muito visível da procura por seus livros, procura que esperamos que cresça ainda mais pronunciadamente até o fim do ano'', diz ele.
Onde está a felicidade neoliberal?
A obra mais popular é o primeiro volume da obra mais marcante, O Capital. Conforme Schütrumpf, os leitores típicos são ''aqueles da nova geração acadêmica, que chegaram à conclusão de que as promessas neoliberais de felicidade não se mostraram verdadeiras''.
As livrarias pelo país afora estão registrando marcas semelhantes: aumento de mais de 300% nas vendas (embora o fato de não especificarem números sugiram que não eram vendas tão elevadas).
Fenômenos literários vêm e vão, e é bom constatar que o mercado nem sempre é direcionado por superficiais campanhas de marketing. Assim como [o escritor inglês] Rudyard Kipling se rejubilaria ao ver que voltou à moda o seu poema The Gods of the Copybook Headings – que contém os certeiros versos ''Tombaram então os deuses do mercado / e recuaram seus bruxos de lábia sutil'' (''Then the Gods of the Marked tumbled / and their smooth-tongued wizards withdrew'') –, também Marx se sentiria aliviado com a idéia de que uma crise econômica reacendeu o interesse por seus livros (Não, ao que percebo, devido aos incrementados direitos autorais que teria recebido nos últimos meses, caso ainda vivesse).
''Marx está vencendo o páreo''
Alemães em número crescente parecem dispostos a se proclamarem fãs de Marx, numa época em que virou moda repetir a crença do filósofo, de que o capitalismo com seus excessos de cobiça terminaria por se destruir. Quando Oskar Lafontaine, líder do crescente partido de esquerda alemão Die Linke (A Esquerda), disse que incluiria a teoria marxista no manifesto da nova sigla, para sublinhar seus planos de estatização parcial das finanças e do setor energético da nação, foi taxado pelo tablóide Bild de ''maluco esquerdista'' que ''perdeu o rumo''. Mas agora o ministro das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrück, que deve ter perdido algumas noites de sono nas últimas semanas, que se declarou também um fã: ''Em geral, é preciso admitir que certas partes da teoria de Marx na verdade não são tão ruins assim'', disse ele cautelosamente à revista Der Spiegel.
''Por estes dias Marx está vencendo o páreo para encantar o público'', comentou Ralf Dorschel no Hamburger Abendblatt.
Para aqueles que não estão prontos para mergulhar na teoria marxista, a correspondência entre Marx e Friedrich Engels durante uma crise econômica americana daquele tempo pode servir como literatura mais amena: ''O crash americano dá gosto de ver e está longe de ter acabado'', escrevia ele em 1857, prevendo para breve o iminente e completo colapso de Wall Street.
* Os intertítulos são do Vermelho; foram conservadas as ironias da colunista, que não parece lá muito entusiasmada com a moda Marx