sexta-feira, 20 de março de 2009

A Crise Capitalista: apenas um início

www.correiocidadania.com.br





Daniel Bensaïd

O capitalismo? "É compreensível que as pessoas não acreditem mais nele", confessa Tony Blair em pessoa (1). Quando se deixa de acreditar no inacreditável, uma crise de legitimidade, ideológica e moral se soma à crise social, e acaba por estremecer a ordem política. A crise atual não é uma crise a mais, equiparável à dos mercados asiáticos ou à da bolha da Internet.

Uma crise de fé

Trata-se, na realidade, de uma crise histórica - econômica, social, ecológica - da lei do valor, uma crise de medição e de excesso. A medição de tudo através do tempo de trabalho abstrato passou a ser - como anunciava Marx nos Manuscritos de 1857 - uma forma "miserável" de medir as relações sociais. "As crises econômica e planetária têm um ponto em comum", constata Nicholas Stern, autor em 2008 de um informe sobre a economia das mudanças climáticas. "Ambas são conseqüência de um sistema que não considera os riscos que seu funcionamento gera, que não leva em conta o fato de que pode conduzir a uma destruição superior ao benefício imediato que procura, e que subestima a interdependência entre os atores" (2). A lógica da corrida atrás do lucro, pelo "benefício imediato" é, com efeito, uma lógica a curto prazo, E a "concorrência não falsificada", por sua parte, é cega à "interdependência" sistemática.Um novo Brenton Woods? Um sistema de governo mundial? O problema é que a União Européia nem sequer tem sido capaz de criar uma agência de controle dos mercados financeiros em escala continental, ou de promover uma definição comum de paraísos fiscais! Desde outubro de 2008, Laurence Parisot tem se encarregado de deixar claro que o Estado deve desempenhar seu papel nos socorro das finanças, mas que deve retirar-se, quando os negócios recuperem seu curso lucrativo. Dito de maneira mais direta: que deve socializar as perdas para logo reprivatizar os lucros. Por trás de ter admitido que o Estado é o único capaz, de forma imediata, de "salvar a economia e os bancos", Jean-Marie Messier, ressuscitado do purgatório, não se esquece de explicar que "o guarda-chuva deverá fechar uma vez que a tempestade tenha passado". O Estado não deveria, assim, ser mais do que "um passageiro em meio à chuva" (3).

O plano de recuperação governamental descarrega o custo sobre os trabalhadores e os contribuintes. Por detrás do congresso de Reims, Martine Aubry pretendia descobrir que "torna-se inoperante atacar aos que se utilizaram do sistema, sem atacar o próprio sistema" (4). Contudo, o Partido Socialista se contenta em oferecer um contra-plano "equilibrado", de medidas supostamente sociais, mas em nenhum momento radicais, no sentido de que suponham uma nova redistribuição de riquezas em benefício do trabalho. Nada se falou sobre a nacionalização do sistema bancário e a criação de um serviço público para tratar do crédito, nada sobre uma reforma fiscal radical, nada sobre a necessidade de reorientar a construção européia. "Atacar o próprio sistema" seria atacar o poder absoluto do mercado, a propriedade dos grandes meios de produção e troca, a concorrência de todos contra todos. Até o liberal Nicolas Baverez define a banca como um "bem público da mundialização": "pelas suas características, tem a natureza de um bem público" (5). Seria de esperar, na verdade, que, dada esta "natureza", este bem público fosse submetido a gestão pública sob o controle público. Para Baverez, pelo contrário, o Estado deveria assegurar aos bancos uma "imunidade ilimitada" por suas perdas, e assumir os riscos ligados a seus lucros.

Atacar o coração do sistema suporia adotar-se uma blindagem social que proteja os trabalhadores das conseqüências da crise. Para isso, dever-se-ia romper os grilhões dos critérios de Maastricht e do Pacto da Estabilidade, restabelecer os controles políticos sobre o Banco Central europeu, abolir o Tratado de Lisboa, reorientar de maneira radical a construção européia, começando pela harmonização social e fiscal, e iniciar um processo constituinte de verdade. No mínimo, exigir a revogação do artigo 56 do Tratado de Lisboa que proíbe qualquer restrição aos movimentos do capital financeiro, assim como a "liberdade de estabelecimento", reconhecida no artigo 48, uma liberdade que permite ao capital mudar de lugar, para onde as condições lhe sejam mais favoráveis, e às instituições financeiras encontrar asilo onde lhes agrade.

Uma crise duradoura

Porque se trata de uma crise sistêmica, que anuncia o fim de um modo de acumulação, as medidas de recuperação conjuntural terão um efeito limitado. Uma saída para a crise que conduza à emergência de uma nova ordem produtiva e de um novo regime de acumulação não depende somente da economia. Exige uma nova correlação de forças, novas relações geopolíticas, novos dispositivos institucionais e políticos.

Se a crise de 1929 foi a da "emergência estadunidense", que emergência prefigura a crise atual? A chinesa? A de uma organização multipolar de espaços continentais? A de um sistema de governo mundial?

Em um tempo em que se invocam a necessidade de uma nova ordem monetária internacional e respostas globais, o próprio Giscard d’Estaing reconhece que "a gestão econômica da crise se tornou, na Europa, mais nacional durante a crise do que antes do seu início", e que "os instrumentos de intervenção são essencialmente nacionais" (6). A crise agudiza, na verdade, as diferenças nacionais e libera tendências centrífugas. Em nome de uma "correspondência necessária entre os espaços econômicos e sociais", Emmanuel Todd se arvora em paladino de um "protecionismo europeu" (7) que crie "as condições para a recuperação dos salários" e uma oferta que gere sua própria demanda. A questão não é doutrinária ou de princípios. Proteger? Sim, mas quem, contra quem e como? Se a Europa começasse em adotar critérios sociais de convergência em matéria de emprego, renda, proteção social, direito do trabalho e harmonização fiscal, poderia, legitimamente, adotar medidas de proteção, não as dos interesses egoístas de seus empresários e financistas, mas a dos direitos e conquistas sociais. Poderia fazê-lo de maneira seletiva e pontual, adotando como contrapartida acordos de desenvolvimento solidário com os países do Sul em questões migratórias, de cooperação técnica, de comércio eqüitativo, sem ceder a um protecionismo de ricos, cujo efeito principal fosse disseminar os estragos da crise entre os países mais pobres.

Imaginar que uma medida de proteção alfandegária implicaria de forma mecânica em melhora nas condições sociais européias, como se pudesse ser tecnicamente neutra no contexto de uma luta de classes exacerbada pela crise, é uma enorme ingenuidade. Os trabalhadores acabariam afetados pelas travas burocráticas e fronteiriças, sem obter as respectivas vantagens sociais. Um protecionismo desta índole não resistiria muito tempo em razão de sua impopularidade, ou não tardaria em derivar para uma "preferência nacional" (ou européia) de corte chauvinista.

Refundar o capitalismo ou combatê-lo

Todos os governantes, de ontem e de hoje, de direita e de esquerda, acabaram por denunciar a loucura sistêmica dos mercados. Contudo, sua desregulação não tem sido fruto da famosa mão invisível, mas de decisões políticas e de medidas legislativas concretas. Foi a partir de 1985, quando era ministro da Economia o socialista Pierre Bérégovoy, que se concebeu a grande desregulamentação dos mercados financeiros e da bolsa de valores na França. Foi um governo socialista que, em 1989, liberalizou os movimentos do capital, antecipando-se a uma decisão européia. Foi o governo de Jospin que, ao privatizar mais do que os governos de Balladur e Juppé juntos, assentou as bases para que o capitalismo francês pudesse acolher fundos de investimentos especulativos. Foi um ministro das finanças socialista, Dominique Strauss-Khan, que propôs uma forte "desfiscalização" das célebres stock-options, e foi outro ministro socialista, Laurent Fabius, quem a pôs em prática. Foi um Conselho Europeu, com maioria social-democrata, que decidiu em 2002, em Barcelona, liberalizar o mercado de energia e o conjunto de serviços públicos, aumentar em 5 anos a idade de aposentadoria e sustentar os fundos de pensão. Foi a maioria do Partido Socialista que aprovou a sacralização da concorrência gravada no projeto do Tratado constitucional europeu de 2005. Foi seu voto, uma vez mais, que permitiu a adoção do Tratado de Lisboa, confirmando assim a lógica liberal da construção européia.

Para os salvadores do Titanic capitalista, a tarefa se anuncia dura. Um novo New Deal? Um retorno ao Estado social? Seria esquecer muito rápido que a desregulação liberal não foi um capricho doutrinário de Thatcher ou de Reagan. Foi a resposta à baixa das taxas de lucros, provocada pelas conquistas sociais do pós-guerra. Depois de 1973, "a incapacidade das políticas keynesianas para recuperar a atividade produtiva deixa o campo aberto a uma surpreendente contra-revolução conservadora", recorda Robert Boyer (8). Voltar ao ponto de partida seria reencontrar-se com as mesmas contradições. Como comenta ironicamente Jean-Marie Harribey: "regular sem transformar não é regular".

Por trás da crise de 1929, para redistribuir as cartas da riqueza e do poder e para anunciar uma nova onda expansiva, fez-se necessário nada menos do que uma guerra mundial. A colocação em marcha de um novo modelo de acumulação, e o, eventual, impulso de uma nova grande onda de crescimento envolverão o surgimento de novas hierarquias planetárias de dominação, uma re-acomodação de nações e continentes, novas condições para a valorização do capital, uma transição da matriz energética. Tal mudança não pode ser resolvida através da amabilidade diplomática, nos tapetes verdes das chancelarias, mas no campo de batalha, através de lutas sociais. A crise, como bem escreveu Marx, supõe "o estabelecimento por força da unidade entre momentos (produção e consumo) impulsionados de forma autônoma".

Na realidade, não é mais do que um começo

"A crise financeira - insistia Nicolás Sarkozy em seu discurso de Toulon - não é a crise do capitalismo. É a crise de um sistema afastado dos valores fundamentais do capitalismo, dos que - de certo modo - o traíram. Quero deixar claro aos franceses: o anticapitalismo não oferece nenhuma solução para a crise atual". A mensagem é clara: o inimigo não é o capitalismo, mas o anticapitalismo.

O presidente retornou à questão na sua intervenção no colóquio sobre a refundação do capitalismo, organizado, por sua iniciativa, em 8 de janeiro de 2009, pela Secretaria de Estado: "A crise do capitalismo financeiro não supõe a do capitalismo como tal. Não é um chamamento a sua destruição, o que seria uma catástrofe, mas a sua moralização". Suas palavras receberam um vigoroso respaldo de Michel Rocard: "Devemos começar por aí: nosso propósito é salvar o capitalismo". Estas declarações de guerra social traçam uma linha forte entre dois campos. É preciso eleger: ou discutir com os proprietários como refundar, reinventar, moralizar o capitalismo, ou lutar junto com os explorados e despossuídos para derrotá-lo.

Ninguém poderia predizer como serão as revoluções futuras. O que temos, unicamente, é um fio condutor. Trata-se de duas lógicas de classe que se enfrentam. A do lucro a qualquer preço, do cálculo egoísta, da propriedade privada, da desigualdade, da concorrência de todos contra todos, e a do serviço público, dos bens comuns da humanidade, da apropriação social, da igualdade e da solidariedade.

Notas:

(1) Le Journal du Dimanche, 14 de dezembro de 2008.

(2) Le Monde, 15 de dezembro de 2008.

(3) La Tribune, 15 de janeiro de 2009.

(4) Journal du Dimanche, 5 de outubro de 2008.

(5) Le Monde, 26 de novembro de 2008.

(6) Le Monde, 13 de janeiro de 2008.

(7) Emmanuel Todd, Après la démocratie, París, Gallimard, 2008.

(8) Libération, 29 de dezembro de 2008.

Daniel Bensaïd é professor de Filosofia na Universidade de Paris VIII. Foi um dos fundadores das Juventudes Comunistas Revolucionárias e da Liga Comunista Revolucionária. Atualmente é um dos intelectuais de referência do Novo Partido Anticapitalista, recentemente constituído na França.

Originalmente publicado em Sin Permiso, em castelhano, traduzido pela rede Adital de Notícias.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Sionismo é o problema!

www.vermelho.org.br

por Lejeune Mirhan*

Esta semana recebi de um amigo com quem me correspondo nos Estados Unidos, Steve S., um belo artigo cujo título em inglês é Zionism is the problem (que pode ser lido em http://www.latimes.com:80/news/opinion/commentary/la-oe-ehrenreich15-2009mar15,0,6684861.story). Pretendo tratar desse tema nesta semana.


Ben Gurion, ideólogo do sionismo

Algumas declarações históricas

Não pretendo aqui fazer uma história da origem e desenvolvimento do sionismo, enquanto corrente de opinião de caráter racista, cujo objetivo principal é a construção de um estado judeu em terras históricas pertencentes aos palestinos. Tal processo, como sabemos, inicia-se na segunda metade do século 19 e se intensifica com a ajuda da Inglaterra desde que esta recebeu da Liga das Nações o Mandato sobre a palestina, quando facilitava imensamente a migração judaica para a região.

Já tratamos desse assunto ao longo de anos nesta coluna. Assim como mostramos que Israel não é e nunca foi um estado democrático como a mídia insiste em propagar aos quatro ventos. Ao contrário. É um estado racista, discriminador, que usa a força para impor sua vontade às minorias, que faz dos árabe-palestinos cidadãos de segunda classe, que penaliza quem não professa a religião judaica. Enfim, um estado – único na comunidade das nações que integram a ONU – a não possuir uma constituição e uma fronteira reconhecida internacionalmente, além de ocupar ilegalmente milhares de quilômetros quadrados de terras que a própria ONU destinou aos palestinos em 1947 na fatídica sessão de 29 de novembro.

Quero, antes de entrar nas análises sobre a questão sionista hoje e os impasses que as eleições israelenses de 10 de fevereiro levaram o país, apresentar aos nossos leitores, quase que lhes prestando um serviço, em especial aos estudiosos e apoiadores da causa palestina, um conjunto de declarações de sionistas históricos. Como a história comprovou, tais sionistas, que realizaram atividades bárbaras, que perpetraram massacres em aldeias palestinas, nunca falaram em “Estado de Israel”, mas falavam em Palestina, como aquela região é milenarmente conhecida.

Sempre houve um grande endeusamento na mídia a algumas figuras históricas desse movimento sionista que, nada mais é, do que um projeto de colonização da Palestina, cujos líderes judeus estabeleceram amplas alianças políticas, ora com a potência inglesa, ora com os americanos, de acordo com o sabor de seus interesses estratégicos. Pode parecer incrível, mas até certas alianças e acordos com o Partido Nacional Socialista da Alemanha nazista foram feitos acordos que estimulassem a migração judaica para a Palestina, mas isso é assunto para outro momento.

Vejamos aqui algumas das principais declarações de renomados judeus sionistas. Todas elas foram selecionadas por Ralph Schoenman, que, na juventude, chegou a ser secretário particular do prêmio Nobel da Paz, Bertrand Russel (1). As referências indiretas em suas respectivas páginas são dessa obra.

Chaim Weizmann – ex-presidente da Organização Sionista Mundial

“É bastante aceitável dizer que, se a Palestina cair na esfera de influência britânica e a Grã Bretanha estimular o estabelecimento dos judeus lá, com uma dependência britânica, em 20 ou 3 anos poderemos ter lá um milhão de judeus. Eles desenvolveriam o país, restituiriam a civilização e formariam uma guarda muito, mais efetiva para o Canal de Suez” (Trial and error: the autobiography of Chaim Weizmann, Nova York, Harper, 1949, página 149).

Meus comentários: aqui dois aspectos importantes. A prova de que os sionistas só se referiam à região como “Palestina” e a clara e estratégica aliança com os ingleses, a favor dos sionistas e seu projeto colonial. Destaca-se a quase premonitória cifra de um milhão de judeus migrantes, atingida alguns anos depois da sua previsão.

“As esperanças de seis milhões de judeus da Europa estão nas centradas na imigração. Alguém me perguntou: ‘você pode levar seis milhões de judeus para a Palestina?’. Eu respondi ‘não’. Dos abismos da tragédia eu quero salvar os jovens da Palestina. Os velhos desaparecerão. Eles aguentarão a sorte ou não. Eles são pó, pó econômico e moral num mundo cruel (...). Somente o ramo dos jovens sobreviverá. Eles têm de aceitar isso” (relato ao Congresso Sionista de 1937, sobre seu testemunho junto à Comissão Peel; citado em Yahya, página 55).

Meus comentários: aqui, de forma fria e calculista, Weizmann deixa claro que não defende todo o povo judeu, mas quer salvar apenas os mais jovens, que poderiam migrar para a Palestina e lá estabelecerem colônias e aderirem aos bandos terroristas para matar e expulsar palestinos. Os velhos ficariam à sua sorte. Isso nos lembra uma famosa frase de efeito de Gurion, quando ele afirmou que se tivesse que escolher salvar todas as crianças judiais da Alemanha e Europa, enviando-as para vários países e se só pudesse salvar metade deles, enviando-as para a Palestina, ele afirmou taxativamente que ficaria com a segunda hipótese.

Wladimir Jabotinsky – ideólogo do sionismo

“Todas as pessoas bem intencionadas, salvo os cegos de nascimento, compreenderam há muito a completa impossibilidade de se chegar a um acordo voluntário com os árabes da Palestina para transformar a Palestina de um país árabe em um país de maioria judia. Cada um de vocês tem uma ideia geral da história das colonizações. Tente achar pelo menos um exemplo de colonização de um país que aconteceu com o acordo da população nativa. Tal coisa nunca ocorreu. Os nativos sempre lutaram obstinadamente contra os colonizadores – e não importa que eles tenham cultura ou não. Os companheiros de armas de Hernán Cortez e Francisco Pizarro comportaram-se como bandidos. Os peles-vermelhas lutaram com ardor inflexível contra os colonizadores de bom e de mau coração. Os nativos lutaram porque qualquer tipo de colonização, em qualquer parte, em qualquer época, é inadmissível para qualquer povo nativo. Qualquer povo nativo considera seu país como seu lar nacional, do qual devem ser donos absolutos. Nunca aceitarão outro mestre voluntariamente. Assim ocorre com os árabes. Conciliadores entre nós tentam nos convencer de que os árabes são uma espécie de tolos que serão enganados com formulações que ocultem nossos objetivos básicos. Nego-me redondamente a aceitar essa visão dos árabe-palestinos. Eles têm a mesma psicologia que nós. Olham a Palestina com o mesmo amor instintivo e o mesmo autêntico fervor com que qualquer asteca olhava seu México ou qualquer sioux contemplava a sua pradaria. Qualquer povo lutará contra os colonizadores enquanto lhe reste um fio de esperança de que eles possam evitar o perigo da conquista e da colonização. Os palestinos lutarão dessa forma até que não haja o menor lampejo de esperança. Não importam as palavras com que expliquemos nossa colonização. A colonização tem seu próprio significado, pleno e imprescindível, compreendido por qualquer judeu e por qualquer árabe. A colonização tem um só objetivo. Tal é a natureza das coisas. E tentar mudar seu caráter é impossível. Foi necessário desenvolver a colonização contra a vontade dos árabes palestinos e a mesma situação se dá hoje. Inclusive um acordo com os não palestinos representa o mesmo tipo de fantasia. Para que os nacionalistas árabes de Bagdá, de Meca e de Damasco aceitassem pagar um preço tão alto, eles teriam de negar-se a manter o caráter árabe da Palestina. Não podemos dar nenhuma compensação pela Palestina, nem aos palestinos nem aos demais árabes. Portanto, é inconcebível um acordo voluntário. Qualquer colonização, ainda que a mais restrita deve-se desenvolver desafiando a vontade da população nativa. Portanto, a colonização somente pode continuar e desenvolver-se sob um escudo de força que inclua uma muralha de ferro que jamais possa ser penetrada pela população local. Essa é a política árabe. Formulá-la de qualquer outro modo seria hipocrisia... A censura estúpida de que esse ponto de vista não é ético, respondo: ‘totalmente falso’. Essa é a nossa ética. Não há outra ética. Enquanto os árabes tiverem a menor esperança de impedir-nos, eles não venderão essas esperanças por nenhuma palavra doce nem nenhum bocado apetitoso, porque não nos enfrentaremos com gentalha e som com um povo, um povo vivo. E nenhum povo faz concessões grandes sobre questões tão decisivas, a não ser quando não lhes resta nenhuma esperança, até que tenhamos tampado qualquer brecha na muralha de ferro” (The Iron Wall – O Zheleznoi Stene, Rassvet, 4 de novembro de 1923).

Meus comentários: aqui o reforço de que a região era mesmo “Palestina” e a palavra Israel nunca era dita. Um segundo aspecto, a frieza da confissão aberta de sua “ética” de negar qualquer acordo com os árabes e seguir abertamente com seus ideais colonizadores. Por fim, o desmascaramento de um dos mitos, uma das maiores mentiras que os sionistas contam ao mundo de que aquela terra era uma terra “sem povo”. Esse cidadão é considerado um dos maiores intelectuais do povo judeu.

“É impossível que alguém seja assimilado por outro povo que tenha sangue diferente do seu. Para que seja assimilado, esse alguém tem que trocar de corpo, tem de converter-se em um deles, no sangue. Não pode existir assimilação. Nunca poderemos permitir coisas como o matrimônio misto porque a preservação da integridade nacional só é possível mediante a pureza racial e, para tal, temos de ter esse território onde nosso povo constituirá os habitantes racialmente puros... A fonte do sentimento nacional (...) reside no sangue das pessoas (...) em seu tipo físico e somente nisso (...). a perspectiva espiritual de um homem é determinada previamente pela sua estrutura física. Por isso, não acreditamos na assimilação espiritual. É impossível, do ponto de vista físico, que um judeu nascido de família de sangue puramente judeu possa se adaptar à estrutura espiritual de um alemão ou de um francês. Essa pessoa pode ser totalmente imbuída de fluidos alemães, porém o núcleo de sua estrutura espiritual permanecerá sempre judeu.” (citado por Lenni Brenner em The Iron Wall: revisionism from Jabotinsky to Shamir, Londres, Zed Books, 1984, página 29).

Meus comentários: aqui uma versão clara e aberta do que Hitler viria a definir como a “raça pura”,a ariana. Condena os casamentos multi-étnicos e usa o termo “raça”, definindo árabes como raça inferior, que nunca poderiam casar-se com judeus, os “mais preparados”.

Joseph Weitz – Chefe do Departamento de Colonização da Agência Judaica em 1940

“Entre nós temos que ter claro que não há espaço algum para que os dois povos permaneçam juntos neste país. Nós não atingiremos nosso objetivo se os árabes permanecerem neste pequeno país. Não há outra maneira a não ser transferir os árabes daqui para os países vizinhos. Todos eles. Nem um único vilarejo, nem uma única tribo deve restar” (A solution to the refugee problem, Davar, 29 de setembro de 1967, encontrada em Uri Davis e Norton Mezvinsky, Editor, Documents from Israel, 1967-1973, página 21).

Meus comentários: aqui a confissão clara e aberta da completa impossibilidade da convivência dos dois povos, da defesa da transferência compulsória dos palestinos para países vivinhos. De fato, dados de 1948 mostram que dos 475 vilarejos e aldeias palestinas existentes nessa época, 358 foram completamente arrasados pelos sionistas e seus bandos terroristas, reduzidos à pó. Apenas uns 90 permaneceram em pé.

Relatório Koening

“Devemos usar o terror, o assassinato, a intimidação, o confisco de terras e o corte de todos os serviços sociais para libertar a Galileia de sua população árabe” (Al Hamishmar, 7 de setembro de 1976).

Heilbrun, presidente do Comitê Pró-Reeleição do general Shlomo Lahat, prefeito de Tel Aviv

“Devemos matar todos os palestinos, a não ser que se resignem a viver aqui como escravos” (Citado por Fouzi El-Asmar e Salih Baransi durante debates ocorridos com Ralph Schoenman em 1983, publicado em seu livro na página 75).

Uri Lubrai – conselheiro para assuntos árabes de Ben Gurion

“Vamos reduzir a população árabe a uma comunidade de lenhadores e garçons” (Sabry Jiris, The arabs in Israel, Monthly Review Press, Nova York, 1976).

Raphael Eitan – Ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas de Israel

“Manifestemos abertamente que os árabes não têm direito algum a ocupar sequer um centímetro do Grande Israel (...). A única coisa que eles entendem e entenderão é a força. Nós utilizaremos a força mais decisiva até que os palestinos venham até nós, engatinhando, de joelhos (...). Quando tivermos ocupado as terras, os árabes não poderão fazer nada mais do que se revolver como baratas drogadas dentro de uma garrafa”. (Gad Becker, Yediot Ahronot de 13 de abril de 1983; The New York Times de 14 de abril de 1983).

Meus comentários: aqui, de forma clara e cristalina, em várias passagens, vemos o sentimento que sempre nutriu a liderança sionista, qual seja, a eliminação física e completa da população palestina e árabe em geral de toda a Palestina. Ou, no mínimo a subjugação física e moral, a completa humilhação e escravização. Compara-se a baratas os palestinos. Agora mesmo nas eleições de 10 de fevereiro, onde venceu a direita, Ehud Barak, o grande derrotado do Partido Trabalhista, ministro d Defesa de Israel, fez campanha pedindo votos e atacando o direitista Avigdor Liebermann, que será o provável chanceler do governo de Bibi, afirmando abertamente na sua propaganda na TV: “Quantos palestinos ele já matou?”, ao criticar a inexperiência em guerra do fascista do Partido Israel Beitenu.

Ben Gurion – Fundador do Estado Judeu, em declaração de 1936

“Nós não propomos que proclamemos agora nosso objetivo final, que é de grande alcance – principalmente em relação aos revisionistas que se opõe à partilha. Eu me nego a renunciar a uma grande visão, à visão final que é um componente orgânico, espiritual e ideológico de minhas aspirações sionistas (...). Um estado judeu parcial não é o final, senão somente o princípio. Estou convencido de que nada pode nos impedir de nos estabelecermos em outras partes do país e da região (...). As fronteiras e as aspirações sionistas são de interesse do povo judeu e nenhum fator externo poderá limitá-las (...)”.(Memoirs, Volume III, página 467).

“As fronteiras da aspiração sionista incluem o sul do Líbano, o sul da Síria,a atual Jordânia, toda a Cisjordânia e o Sinai”. (“Report to the World Council of Poale Zion” – antecessor do Partido Trabalhista – em Tel Aviv em 1938, encontrado em Israel Shahak, journal of Palestine Studies, 1981).

“Quando nos convertermos em uma força com peso, como resultado da criação de um estado, aboliremos a partilha e nos expandiremos por toda a Palestina. O Estado será somente uma etapa na realização do sionismo e sua tarefa é preparar terreno para nossa expansão. O estado terá de preservar a ordem, não através da pregação, mas sim com as metralhadoras” (Discurso pronunciado em 1938, do Livro Memórias).

“Deveríamos nos preparar para avançar em uma ofensiva. Nosso objetivo é esmagar o Líbano, a Transjordânia e a Síria. O ponto débil é o Líbano, porque o regime muçulmano é artificial e fácil de ser minado. Teremos de implantar um estado cristão ali e então derrotaremos a Legião Árabe, eliminaremos a Transjordânia; a Síria cairá em nossas mãos. Então nós bombardearemos e ocuparemos Port Said, Alexandria e o Sinai, no Egito” (Michel bar Zoha, Ben Gurion: a Biography, Nova York, Delacorte, 1978).

Meus comentários: aqui também de forma cristalina, o fundador de Israel confessa, nessas várias passagens e discursos, que o plano de partilha da ONU seria apenas o começo para a tomada de toda a Palestina e quiçá, com foi com a guerra de 1967, o Eretz Israel (em hebraico “Grande Israel”, do Tigre, no Iraque ao Nilo, no Egito). O projeto colonialista, aliado com as potências ocidentais era muito grande, incluía quase todo o Oriente Médio. E tudo isso com a força da bala, dos massacres, dos genocídios, amplamente registrados desde 1947, como o de Der Yassim.

Como queríamos demonstrar...

Nas ciências chamadas “exatas”, em especial a física e a matemática, quando terminamos a demonstração de uma equação, quando resolvemos um problema, escrevemos ao final a sigla CQD, “como queríamos demonstrar”. As citações acima compiladas, extraídas de Schoenman, demonstram de maneira cabal pelo menos o seguinte:

1. O projeto sionista é um movimento de colonização, que se articulou com as potências imperialistas do século 20;

2. O objetivo final sempre foi a tomada de todas as terras da Palestina histórica, de forma que a partilha seria apenas uma mera etapa, um passo para a construção de um estado em terras palestinas, quando o grande objetivo seria ampliar o controle territorial, expandindo-o para países como o Líbano, a Jordânia, a Síria e o Egito. Quem sabe até ao Iraque;

3. Sionismo é racismo. As declarações de todos os grandes líderes árabes sempre foram racistas, no sentido de discriminar os árabes e palestinos como cidadãos de segunda classe;

4. Em vários momentos fica claro que o objetivo seria até a eliminação física dos palestinos ou, no mínimo, subjugá-los, humilhá-los e transformá-los em cidadãos de segunda classe.

Essas frases falam por si só. Por isso, esta semana, em véspera do governo fascista de Bibi ser formado em Israel, quando um fascista e racista declarado como Avigdor pode vir a ser ministro das Relações Exteriores, estas frases reforçam, entre nós, lutadores pela causa palestina, a convicção de que estamos certos em nosso caminho e Israel vai se tornando a cada dia um país mais inviável, pelo que vem fazendo há mais de 60 anos contra os palestinos.

(1) Ver livro A História Oculta do Sionismo, da Editora Sundermann, São Paulo, 2008, 243 páginas.




*Lejeune Mirhan, Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Escritor, Arabista e Professor Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological

quarta-feira, 18 de março de 2009

Sobre a mídia...

a circulação de jornais e as mudanças na mídia

Um estudo amplo sobre os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) – que audita a tiragem de jornais e revistas – e do Ibope – para TV e rádio – comprova que a última década foi de mudanças estruturais. Essas modificações reduziram sensivelmente o papel e a influência da chamada grande mídia – categoria onde entram a Rede Globo, os jornais Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense. E um sensível aumento de competidores, da imprensa do interior e dos jornais populares.

Por Luis Nassif, em seu blog



Entre as TVs abertas, a Globo tinha um share de audiência de 50,7% em 2001. Chegou a bater em 56,7% em 2004 – coincidindo com a queda de audiência do SBT. Hoje está em 40,6% – coincidindo com a subida da TV Record – que saiu de 9,2% em 2001 para 16,2%.

Nas três últimas semanas, o Jornal Nacional deu 26% de audiência em São Paulo. Seis anos atrás, era de 42%. Nessa época, quando o JN caiu para 35% houve um reboliço na Globo. A ponto de edições do JN terem blocos de 22 minutos com várias matérias de apelo.

Aparentemente, perdeu esse pique.

O que interessa

Com os jornais da chamada grande mídia, repete-se o mesmo fenômeno. O estudo dividiu os jornais entre tradicionais (Folha, Estado, Globo, JB e Correio Braziliense), jornais das capitais, jornais do interior e jornais populares.

De 2001 a 2009, os tradicionais perderam 300 mil exemplares diários – de 1,2 milhão para 942 mil, queda de 25%. Os jornais de capitais (excetuando os do primeiro grupo) cresceram de 1,2 milhão para 1, 37 milhão – crescimento de 10,5%. Os jornais populares passaram de 663 mil para 1,2 milhão – alta de 85%. E os jornais do interior saltaram de 300 mil para 552 mil – alta de 83,5%.

Não apenas isso. Nos últimos anos, gradativamente os jornais estão se desvencilhando da pauta da chamada grande mídia. Antes, havia um processo de criação de ondas concêntricas em torno dos temas levantados pelo núcleo central, com os demais jornais acompanhando as manchetes e as análises.

De alguns anos para cá, essa dependência cessou. Um estudo de caso analisou bem essa diferença de enfoque. Lula esteve em São Paulo. Anunciou que as informações do INSS seriam fornecidas em três horas. Os grandes jornais e o JN deram destaque para a visita a uma sinagoga (para repercutir a questão do Holocausto) e para intrigas políticas. Todos os jornais populares, do interior e das capitais, deram destaque àquilo que interessava diretamente ao seu leitor: a diminuição dos prazos de informações do INSS.

Caminho longo

Esse exemplo sintetiza a armadilha na qual se meteu nos últimos anos a chamada grande mídia. Perdeu-se a noção dos temas relevantes ao leitor. Em vez de buscar a informação útil, enrolaram-se no chamado jornalismo de intriga – sempre procurando frases ou enfoques que privilegiassem conflitos.

Enquanto isto, os jornais populares – com exceção dos paulistanos (Agora, Diário de S.Paulo e Jornal da Tarde), que não decolaram – passaram a tratar dos temas de interesse de seu público, assim com os jornais de interior e da capital.

Vai ser um longo trajeto para recuperar os princípios do jornalismo.




Apicultores uruguaios em Emergência Nacional por causa de agroquímicos









Adital -

A Sociedade Apícola do Uruguai (SAU) exige, desde o final de ano passado, que se proíbam as aspersões com Fipronil, que provocaram a morte de milhares de colméias no país. A Rede de Ação em Praguicidas e suas alternativas para América Latina (RAP-AL Uruguai) acompanha a demanda da SAU.

Esta Rede vem denunciando os perigos do Fipronil desde o ano 2004. Além disso, se exige a realização de estudos de impacto ambienta deste e de outros inseticidas. O Fipronil foi estabelecido como substituto do Mirex (para combater formigas) pelo Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP) no ano de 2004, quando na França já tinha sido suspensa a venta do produto.

RAP-AL denuncia que essa substância afeta particularmente as abelhas, mas também peixes e aves, e que é nociva para a saúde humana e animal em geral. Entre 2005 e 2008, as importações de Fipronil se multiplicaram vinte vezes no Uruguai. No mês de dezembro passado, houve no Uruguai uma praga de insetos em vários departamentos.

Segundo a coordenadora de RAP-AL Uruguai, Maria Isabel Cárcamo, o governo recomendou o uso do Fipronil para combatê-las. Para RAP-AL, isso "foi uma aberração terrível porque matou milhares de colméias em todo o país". os departamentos mais afetados foram Colonia, Florida, Paysandu e Flores. Em finais de fevereiro de 2009, a Direção Geral de Serviços Agrícolas (DGSA) resolveu uma restrição parcial do uso do Fipronil, proibindo seu uso "em floração de cultivos, prados e campos naturais".

RAP-AL entende que embora isso possa ser considerado um "avanço", "é a todas luzes insuficiente". Segundo Cárcamo, a restrição "nada diz de que não possa seguir usando em outros cultivos onde não haja floração".

A nota é da Púlsar

terça-feira, 17 de março de 2009

Enquanto isso em El Salvador....

Candidato da FLMN vence eleições presidenciais






Adital

Cerca de 7 milhões de cidadãos salvadorenhos vivem sob expectativas de mudanças no país. Depois de vinte anos de governo do partido de direita Aliança Republicana Nacionalista (Arena), a esquerda Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), fundada em 1992 e formada por quatro movimentos guerrilheiros e o Partido Comunista, chega ao poder por meio da candidatura do jornalista Maurício Funes a Presidência da República.

Logo após o anúncio feito pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) de que Funes vencia por 51,2% dos votos contra 48,7% do candidato governista Rodrigo Ávila, com 92,02% de urnas apuradas, partidários da FMLN saíram às ruas para comemorar a vitória esperada desde 1992. Durante 12 anos (1980-1992), El Salvador viveu uma guerra civil que deixou cerca de 75 mil mortos e que chegou ao fim com os acordos de paz de Chapultepec.

Caso o triunfo da esquerda seja confirmado pelo TSE, Funes assumirá a presidência no dia 1º de junho deste ano. No encerramento das votações, o presidente do TSE, Walter Araujo, afirmou que o processo eleitoral tinha sido transparente, tranquilo, pacífico e maciço. Dados preliminares revelam que a participação popular ficou em 60% dos 4,2 milhões que estavam aptos a votar, o que significa 6% a mais do que nas eleições legislativas e municipais de 18 de janeiro deste ano.

Observadores internacionais afirmaram que o processo eleitoral transcorreu sem maiores incidentes, embora o observatório e centro de monitoramento da FMLN tenha recebido milhares de denúncias sobre irregularidades ocorridas no domingo. Cerca de 100 mensagens por hora chegavam na instituição, muitas das quais a entidade conseguiu comprovar e documentar.

O candidato arenista reconheceu a vitória de Funes. Ávila afirmou que a eleição foi apertada e a mais dura enfrentada pela Arena. Por sua vez, o futuro presidente salvadorenho, Maurício Funes, disse que queria ser o "verdadeiro presidente da verdadeira reconstrução do país". Declarou ainda o desejo em ser "o presidente da justiça social e a mudança na segurança".

O país centro-americano é economicamente bastante dependente dos Estados Unidos e tem uma taxa de pobreza de 35% e 40% de desempregados e empregos precários. Além dos 7 milhões de cidadãos salvadorenhos residentes, existem outros 2,5 milhões de salvadorenhos vivendo atualmente nos EUA. O presidente Barack Obama já adiantou que pretende trabalhar com qualquer um dos eleitos.

mídia democrática.....

Elite mundial tentará

controlar a internet

Eduardo Guimarães

Hoje já vou começar chutando o pau da barraca, fazendo logo uma afirmação peremptória sobre o que não aconteceu e sobre o que não tenho prova nenhuma de que acontecerá.

E o que é melhor: todos os esquerdistas concordarão comigo e todos os direitistas, discordarão.

Mas o melhor mesmo vem é agora: o meu lado é que estará certo.

Antes de prosseguir, porém, quero dizer uma coisa aos que terão dado um sorrisinho ao ler o que escrevi acima, dizendo a si mesmos que esquerda e direita não existem mais, que a esquerda brasileira não é esquerda coisa nenhuma etc.: não me venham com essa, meninos.

Como é que não existem mais esquerda e direita? Essas pessoas são contra programas sociais, não aceitam negros nas universidades, dizem que programas de transferência de renda são esmolas... E não são de direita?

Tá bom...

Bem, mas retomando. A afirmação peremptória que fiz se deve a um fato óbvio, de que, como está, para as elites não pode ficar.

Vocês viram o que fizemos no caso da ditabranda da Folha de São Paulo? Será que tantos se deram conta do que a internet é capaz de fazer? Resposta: não. Sobrou gente de esquerda e de direita que menosprezou o que fizemos.

O mais importante, porém, é que a casa caiu, caros reacionários. Hoje, qualquer um pode acordar um dia, decidir criar um blog e encher a paciência de herdeiros ultra-mimados, ultra-ricos e ultra-influentes até eles babarem nas suas horrorosas e ridiculamente caras gravatas Hermès.

Com o avanço da tecnologia, a tendência crescente é a de que acabará sendo possível igualar mega grupos empresariais a uma pequena equipe de Zés Manés como eu, por exemplo, contanto que tenham uns bons computadores e redes.

As elites daslunianas-tucano-pefelês que, com nomes trocados, infectam os quatro cantos da Terra, não irão aceitar isso. Tiveram todo aquele trabalho para se apoderarem da invenção de Johannes Gutemberg justamente porque a capacidade de falar para muitos sempre foi sinônimo de poder. Não farão por menos, agora.

Aliás, acho que foi no site do Luiz Carlos Azenha que li uma excelente matéria sobre especulações acerca de uma possível implementação de “níveis” na internet que diferenciariam um Zé Mané como este de um grupo empresarial como o da família Frias, por exemplo. Só não me lembro como.

Não importa. Os projetos virão. Terão que vir, para as elites mundiais. Sem controlar a internet, o principal poder que as tornou o que são – o poder, repito, de falar sozinhas para muitos –, será pulverizado.

Imaginem uma situação em que uma Folha ou uma Veja dissessem alguma daquelas muitas empulhações que costumam dizer e eu, euzinho, pudesse desmascará-las no mesmo nível de audiência.

Se a internet continuar incluindo cada vez mais gente – e nesse ritmo estonteante –, logo, logo esse sonho que escrevi acima poderá virar realidade.

Alguém acredita que os Jardins ou a Barra da Tijuca permitirão isso?

Resta àqueles que se dedicam a tornar o mundo mais igual preocuparem-se com isso. Um passo nesse sentido, aliás, deverá ser a Conferência Nacional de Comunicação, da qual participarei. As discussões começarão no próximo dia 25 na Câmara Municipal de São Paulo.

Julgo, pois, da maior importância que todos tenham bem claro nas mentes que a tentativa da elite mundial de controlar a internet e de barrar a possibilidade de cidadãos comuns falarem tanto quanto as corporações, é uma inexorabilidade.

A tentativa dos muito ricos de controlarem a internet virá, e forte. Muito forte. Tomara que, quando vier, a humanidade já esteja preparada. Só que o tempo urge.




segunda-feira, 16 de março de 2009

A má-fé de um jornal que advoga a causa de um bandido


O objetivo é aliviar o lado criminoso de Daniel Dantas

Está em curso no Brasil uma campanha maciça e forte contra o delegado Protógenes Queiroz. O objetivo é aliviar o lado do bandido banqueiro Daniel Dantas, fazendo-o passar por vítima de um “endoidecido” (segundo a expressão do ex-presidente FHC), ou seja, de um endemoniado, um possesso, alguém que deveria arder no fogo do inferno, para todo o sempre.

É assim mesmo, quando a razão sai por uma porta, entra pela janela o Sobrenatural de Almeida – como diria Nelson Rodrigues. Se pela razão e pelo Direito não se pode salvar a pele de Dantas, pela desqualificação e a desconstituição pública através do apelo a imagens terríveis e supranaturais talvez se possa pelo menos anular o seu denunciador mais destemido.

O jornal Zero Hora, mostrando a má-fé de uma manchete (acima), se filia aos partidários de Torquemada e associados do bandido-banqueiro. O plural do vocábulo “fazenda” passa a idéia de que Protógenes é mesmo um incendiário enlouquecido, quando o próprio corpo do texto, informa que não, que o correto delegado está incentivando a ocupação de terras do mais novo latifundiário brasileiro, o indizível Daniel Dantas, e apenas deste.

Aliás, os crimes que imputam a Protógenes – investigação ilegal, escutas não-autorizadas, arapongagem criminosa, etc. – são os mesmos que o ex-ouvidor da Secretaria de Segurança da governadora Yeda denuncia como prática corriqueira no setor público estadual. Ainda não escutei nenhuma vestal da direita guasca condenar os excessos cometidos pela arapongagem de bombachas.

Acaso estarei eu, ficando surdo? Ou os que guardam o fogo sagrado da moral e da ética maragata estão - por ora - de férias?

domingo, 15 de março de 2009

Nouriel Roubini: ações que podem evitar o pior da crise

www.vermelho.org.br

Com a contração da atividade econômica mundial no mesmo ritmo dos últimos três meses de 2008, a recessão em forma de U poderá se tornar uma séria depressão em L ou estagdeflação. A escala e a velocidade da recessão global não têm precedentes, ao menos desde a Crise de 1929, com a queda livre do Produto Interno Bruto (PIB), da renda, do consumo, da produção industrial, do emprego, das exportações e importações e do investimento em imóveis residenciais. Muitos mercados emergentes estão à beira de uma inegável crise financeira, a começar pela Europa Central e Oriental.

Por Nouriel Roubini



Os estímulos fiscal e monetário têm sido mais agressivos nos Estados Unidos e na China. Ainda são insuficientes na Zona do Euro e no Japão, onde os formuladores de políticas públicas estão “atrás da curva”.

É improvável que estímulos débeis levem a uma recuperação econômica sustentável. Sem uma reação forte dos EUA, a China não terá como voltar a crescer às suas taxas históricas. A recuperação americana requer consumo em queda, aumento da poupança privada e déficits comerciais menores.

Isso significa que o crescimento da China e de outros países superavitários, como o Japão e a Alemanha, dependerá muito mais da demanda interna do que das exportações líquidas.

No entanto, a demanda está anêmica nesses países, tanto cíclica quanto estruturalmente. Tal anemia explica-se pela fragilidade da renda da população, porque os lucros e a poupança das corporações são entesourados, em vez de transferidos aos acionistas na forma de dividendos. A recuperação da economia mundial não pode ocorrer sem um rápido e ordenado ajuste dos desequilíbrios das contas correntes globais.

Prossegue o ajuste na poupança e no consumo dos EUA. Os gastos pessoais em janeiro subiram, em um soluço temporário determinado por fatores transitórios. Os recursos de poupança aumentaram 5%, mas continua o massacre nos mercados e das instituições financeiras.

O debate sobre a nacionalização dos bancos beira o surreal. Barack Obama comprometeu-se em apoiar o sistema financeiro com 9 trilhões de dólares, dos quais 2 trilhões já foram desembolsados, para contemplar as garantias, os investimentos, a recapitalização e as provisões para liquidez.

O sistema financeiro americano está de fato estatizado, uma vez que o Federal Reserve se tornou fonte de empréstimos de única e primeira instância e o Tesouro, o “gastador” de primeira e única instância.

A única questão é se os bancos deveriam também ser nacionalizados de direito e não apenas de fato. Mesmo neste caso, a distinção é apenas entre a nacionalização parcial e a total. Com os 36% de participação no Citi, porcentual que em breve deve aumentar, o governo é o maior acionista do conglomerado. Por que tanta controvérsia sobre a nacionalização? O Citi está parcialmente estatizado e a única questão é se deveria passar plenamente para as mãos do Estado.

A não ser que os formuladores de políticas públicas do mundo inteiro comecem a caminhar, em vez de dormirem ao volante, e iniciem um contra-ataque esmagador, ao estilo Colin Powell, poderemos nos defrontar com uma depressão de vários anos ou uma estagdeflação nunca vista desde a Grande Depressão. Uma política agressiva precisa contemplar:

- A massiva e não ortodoxa flexibilização da política monetária para descongelar os mercados de crédito, mesmo que isso implique os bancos centrais se tornarem mais generosos com as garantias e tomarem mais risco de crédito.

- Um agressivo e abrangente estímulo fiscal, mais do lado dos gastos do que dos tributos, com alívio fiscal para os agentes econômicos com maior propensão a gastar, como os pobres, os desempregados e os governos municipais e estaduais.

- Um rápido processo de aquisição dos bancos insolventes, com a completa estatização e limpeza dos ativos tóxicos, para posterior reprivatização.

- Um forte incentivo às instituições financeiras para ampliarem a oferta de crédito, o que sanaria a falta de coordenação dos empréstimos, negados até a empresas e famílias com histórico de bons pagadores.

- O uso apropriado e construtivo do crédito, com exigências adequadas de capital, marcação a mercado transparente, evitando-se os tardios e destrutivos rebaixamentos de ratings pelas agências de classificação de riscos.

- A redução automática do valor de face das dívidas hipotecárias e outros débitos de mutuários insolventes, porque o estudo caso a caso tende a ser ineficiente.

- A duplicação imediata dos recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a provisão de liquidez e de linhas de crédito para os mercados emergentes sob estresse financeiro e de liquidez. Os condicionantes para os empréstimos devem ser rígidos para economias debilitadas e abrandados para as que exibem fundamentos mais sólidos.

*Nouriel Roubini é professor de Economia da Universidade de Nova York e sócio da consultoria RGE Monitor. Obteve o ph.D. na Universidade Harvard, sob orientação do economista Jeffrey Sachs.



sábado, 14 de março de 2009

Pena de Morte para Protógenes Pinheiro Queiroz

Pedro Profirio - Patria Latina



“No final das contas, o delegado (que seria o mocinho) tem tudo para ser crucificado como o “bandido” de toda a história, enquanto Daniel Dantas e seus poderosos aliados e parceiros saem completamente ilesos e inocentados de todo o escândalo”. (Jorge Serrão, “Alerta Total” ) Alerta total
Começa pelo nome: Protógenes – isso é nome de um tira da pesada? De acordo com a Enciclopédia Britânica, Protógenes foi o nome de um pintor grego que viveu por volta dos anos 390 a 200 antes de Cristo. Como todos os pintores de sua época, seus trabalhos foram destruídos pelo tempo, restando apenas relatos na literatura acerca de sua existência e de suas obras. No Dicionário do Significados dos Nomes, quer dizer “o primogênito”.
Nome grego, portanto. E da época em que só se falava em Sócrates (470-399 AC), o primeiro filósofo de responsa. Como é que um homem com a marca de um artista vai se meter a tira num país da impunidade, como bem definiu o malandro Bezerra da Silva em seu samba sobre os políticos canalhas?
Esperava o que, esse insólito policial? Achava que ir ganhar uma medalha por mexer em caixa de maribondo? E logo com o que há de mais protuberante nesses podres poderes?
Quanta petulância. Vai querer o que? Cavoucar as mazelas de uma República inebriada pelo mel do poder lambuzado? Não tem pra ninguém, cara. Tá todo mundo mareado pelo cruzeiro de ilusões multicores. Quem chega ao topo, manda e desmanda. Não adianta espernear.

Delegado atrevido
O delegado atrevido fez concurso, ralou para ganhar o distintivo. Um ministro do Supremo Tribunal Federal não precisa queimar a mufa. Ganha do presidente amigo a mais cobiçada cadeira da magistratura para o resto da vida. E, como é público e notório, o que a Justiça decide não se discute: cumpre-se. Inda mais se for a Justiça Superior. Mais o quê? Meter-se com um personagem poderoso, para o qual todos se agacham como se diante da galinha dos ovos de ouro?
O delegado Protógenes Pinheiro Queiroz brincou com fogo desde quando começou a trabalhar como agente federal. Mexeu com boa parte do nosso PIB. Sabe o que é PIB? É isso mesmo. Diz-se da turma que consta do pódio do sistema. Abusou, sem dúvida. Agindo como um autêntico “ET”, criou uma falsa idéia de que no Brasil, finalmente, a cana não seria só para ladrão de galinha.

Folha Corrida
Veja seu histórico: Foi quem efetuou a prisão de Paulo Maluf, do contrabandista Law King Chong, de Daniel Dantas, de Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
Estiveram sob sua coordenação, em parceria com a Promotoria de São Paulo as investigações do caso Corinthians/MSI, por evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Os envolvidos nas fraudes da arbitragem do futebol Brasileiro, em 2005, foram investigados por ele e pelos promotores Roberto Porto e José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco.
Queiroz também presidiu o inquérito sobre remessas ilegais de dinheiro para paraísos fiscais, que desvendaram movimentações de cerca de cinco milhões de dólares, das quais o ex-prefeito Celso Pitta seria o principal beneficiário. O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) foi investigado no mesmo inquérito. Foi seu o relatório que terminou o inquérito sobre desvio de dinheiro da Prefeitura de São Paulo, concluindo que "os cofres públicos foram pilhados" durante os governos de Maluf (1993-96) e Pitta (1997-2000).
Participou da operação que prendeu o comerciante Law King Chong, o maior contrabandista do Brasil. King Chong estava disposto a pagar 1,5 milhão de dólares ao presidente da CPI, deputado Luiz Antônio Medeiros para obter favores, mas suas conversas foram registradas.
Foi quem comandou a Operação Satiagraha, desde seu início até o dia 14 de julho de 2008, quando se afastou "voluntariamente, por motivos pessoais", a "conselho" da cúpula da Polícia Federal. Curiosamente Protógenes teria comentado com aliados que esse afastamento desmerece seu trabalho, e causa um prejuízo muito grande à investigação.
No dia 16 de julho o presidente Lula determinou ao seu ministro da justiça Tarso Genro que combinasse com a cúpula da Polícia Federal o retorno de Queiroz ao comando das investigações na Operação Satiagraha. Entretanto tal não ocorreu, e o último ato de Queiroz nesse inquérito foi indiciar formalmente Daniel Dantas, do Banco Opportunity, e mais nove pessoas investigadas na Operação Satiagraha no dia 18 de julho de 2008, sob acusação de gestão fraudulenta e formação de quadrilha.
Com tanta imprudência, você queria o que? Como as mais altas proeminências dos nossos podres poderes estão querendo comer-lhe o fígado, não será surpresa se alguma dessas vestais sugerir o restabelecimento da pena de morte com o objetivo de permitir a execução de todos os policiais e juizes que ousarem mexer com os donos do Brasil. A começar por esse Protógenes.

Matéria de encomenda
Com a palavra o inquieto repórter JORGE SERRÃO, editor do “Alerta Total”:
“O poderoso e bem articulado esquema de defesa do banqueiro Daniel Valente Dantas está por trás da publicação da reportagem de capa da revista Veja: “A Tenebrosa máquina de espionagem do Dr Protógenes”. A matéria tem o objetivo tático de desmoralizar, desqualificar e desacreditar as investigações comandadas pelo delegado federal Protógenes Queiroz na Operação Satyagraha. A intenção fica explícita quando o texto se encerra, na página 191 da revista, informando que um dos arquivos de computador do delegado indica que “ele estava se dedicando a escrever uma autobiografia. Título: Protógenes, a Lenda”.
O que não parece lenda é o trabalho produzido – e não completamente divulgado – do delegado. O processo da Satyagraha, para facilitar a eventual punição de poderosos envolvidos, corre em “segredo de Justiça”. Se Protógenes e sua equipe eventualmente cometeram erros, irregularidades ou ilegalidades durante a investigação, tal questão deveria ser apurada com isenção pela Justiça. Até agora só vazou para a mídia amestrada o conteúdo de eventuais situações nas quais o investigador teria cometido excessos ou abusos de autoridade – o que também precisa ser comprovado judicialmente. O que não vaza, estranhamente, é a ligação direta, real e comprovada de Daniel Dantas com todos os poderes da República.
O feitiço da reportagem da Veja tem tudo para se voltar contra o feiticeiro por causa da reação que já provocou nos bastidores políticos, neste final/começo de semana. Um dos mais indignados com a matéria – apenas porque foi citado nela, sem explicações mais completas – foi o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA). O filho do falecido ACM, que sempre se pautou pela discrição, ameaça ocupar esta semana a tribuna do Senado para cobrar que seja divulgada e aberta publicamente a relação completa de quem tem relações com Daniel Dantas.
O senador garante, nos bastidores, que todo mundo tem. Algumas ligações são comprometedoras politicamente. Outras são meros negócios praticados dentro da legalidade. ACM Júnior garantiu a amigos que não teve negócios ilegais com Daniel Dantas. O senador suspeita que a citação de seu nome nas investigações de Protógenes –classificada de “misteriosa” e sem aplicação pela revista – foi uma mera manobra ilusionista para esconder outros fatos muito mais graves que a reportagem não quis mostrar e que as investigações (em sigilo) podem ocultar no final do processo”.
E você o que acha?

coluna@pedroporfirio.com

Mais uma perda para a CUT...

Contag rechaça divisionismo sindical e se desfilia da CUT


A noite desta sexta-feira (13) é histórica para o sindicalismo brasileiro. A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), maior entidade sindical rural do país, decidiu se desfiliar da CUT. Dos 2.559 delegados presentes no 10º Congresso Nacional da categoria — que acontece no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília —, 1.440 votaram pela saída da central. Apesar do uso irrestrito da máquina cutista, a proposta de manter a filiação obteve apenas 1.109 votos.

Por Carla Santos



Imagens do plenário refletem a disputa desta sexta

“A CUT jogou pesado, mas não teve jeito. A ampla maioria do plenário votou pela desfiliação porque não concorda com a pluralidade sindical defendida pela CUT”, afirmou ao Vermelho David Wylkerson de Souza, secretário-geral da Contag e vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). “O significado dessa mudança será uma Contag mais unida, com seus sindicatos e federações com maior poder de decisão. A votação foi uma resposta ao divisionismo.”

Os problemas com a CUT se iniciaram com o apoio da central ao desmembramento das bases representadas pelas entidades filiadas à Contag. As principais razões apontadas pelas lideranças para a desfiliação foram a proliferação de entidades que se dizem representantes dos trabalhadores na agricultura familiar e um projeto em tramitação no Congresso que estabelece a separação da representação dos assalariados.

“O resultado da votação demonstra a capacidade de entendimento político dos trabalhadores rurais em defesa de uma Contag mais autônoma, na luta pelo projeto de desenvolvimento rural sustentável”, disse no Portal CTB Pascoal Carneiro, secretário-geral da CTB, presente no Congresso da Contag.

Não ao dinheiro e à chantagem

Segundo David, a CUT baixou o nível e apelou na tentativa de evitar a derrota consolidada nesta sexta. “Assistimos a uma aula de como não se fazer sindicalismo durante esse congresso. Muitos dos delegados relataram que, na porta de entrada do ginásio, foi oferecido até R$ 100 por crachá de delegado favorável a desfiliação.”

Além da suposta tentativa de compra de votos, David relata que a central produziu materiais gráficos enganosos e investiu no deslocamento de cerca de 50 de seus melhores militantes para evitar a desfiliação. “Enfrentamos um poderio econômico muito grande e pressão de toda a natureza”, disse o secretário-geral da Contag.

As denúncias vão além, segundo David. “O pior foi a chantagem. Muitos cutistas argumentaram que, se a Contag se desfiliasse, acabaria perdendo espaço de diálogo com o governo federal e não teria mais chances de obter recursos para seus projetos. Falaram em isolamento. Fizeram um verdadeiro terrorismo psicológico.”

Na avaliação da liderança, o comportamento de muitos dos cutistas é o reconhecimento da decisão do plenário. “Tudo isso que foi feito demonstra o desespero cutista ao perceber a derrota anunciada. Mas a vontade de autonomia frente às centrais, aos governos, e a defesa da unicidade sindical foi mais forte que a pressão e o dinheiro. O que valeu foi a vontade da grande maioria”, reflete David.

O futuro da Contag

Sobre a filiação a uma nova central, ele diz que o momento é de conscientização. “Buscaram vincular o debate da desfiliação à filiação em outras centrais. Muitos cutistas tentaram queimar a CTB. Porém, o momento é de debate sobre a importância das centrais sindicais no país. É preciso que se faça um trabalho de conscientização. A partir disso, com maturidade e sem pressão, a base poderá novamente propor a filiação a uma nova central”, defende.

Fundada em 22 de dezembro de 1963, no Rio de Janeiro, a Contag é a maior entidade sindical de trabalhadores rurais do Brasil. Na época de sua fundação existiam 14 federações e 475 sindicatos de trabalhadores rurais. Hoje, compõem a base da entidade 27 federações, que reúnem cerca de 4 mil sindicatos rurais e 20 milhões de trabalhadores do campo. Neste sábado, o 10º Congresso elegerá a nova diretoria da entidade. Apenas uma chapa disputa a eleição.

Apesar da derrota, a CUT continua a ser a maior central sindical do país. Mas a histórica derrota sofrida na Contag se insere num crescente quadro de perdas cutistas — que já teve em suas bases a maioria dos sindicatos que agora estão ligados à Intersindical, à Coluntas e à própria CTB.

Quadro da votação do 10º Congresso da Contag:
Total de votantes: 2.559
Votos pela desfiliação à CUT: 1.440
Votos pela manutenção da filiação: 1.109