segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Igreja Católica em defesa dos grandes empresários.....

Igreja afasta Frei Gilvander por enfrentar a Vale e interesses empresariais
 
Conhecido na região do Planalto, em Belo Horizonte (MG), pelo apoio aos movimentos que lutam por reforma agrária, o Frei Gilvander Luis Moreira assumirá a Reitoria de um seminário carmelita e deixará de ser Pároco da Igreja do Carmo. A transferência deverá ser oficializada na próxima semana. Segundo o Frei, seu afastamento está relacionado às criticas feitas por ele contra a mineradora MDR, comandada pela Vale.
 
O frei também revela que seu afastamento é resultado do enfrentamento às multinacionais. Segundo informa, essa postura teve início em 1984, quando ele iniciou uma campanha para a construção de cisternas na região do semi-árido brasileiro. As ações se intensificaram em 2008, quando assumiu a direção paroquial.
 
"Assumimos a proposta concreta de lutar pela preservação dos mananciais de Capão Xavier e da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Aí, tivemos que entrar duro numa luta contra a mineradora MDR, que atualmente pertence a Vale. A partir daí, surgiram perseguições e ameaças de morte. Incomodamos muita gente entre os poderosos."
 
Segundo Frei Gilvander, a Paróquia enfrentou problemas financeiros porque muitos deixaram de contribuir com o dízimo, devido à sua aproximação com os movimentos sociais.
 
"Começamos a perceber que pessoas de classe média alta e empresários que participam da Paróquia foram gradativamente demonstrando um descontentamento em relação a nossa postura em defesa dos pobres como sujeitos e protagonistas de suas lutas. Foi então que recebemos a notícia de que o Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira, havia enviado uma carta ao Vaticano, exigindo mudanças na Paróquia."
 
De acordo com Frei Gilvander, caso seja confirmada a decisão do Conselho Provincial, a transferência se dará no dia 31 de maio.
 
Por Jorge Américo, Radioagência NP. www.correiocidadania.com.br

Serra e a eleição...

Serra e a morte de Deus: uma candidatura perdida nas adversidades

José Serra precisa de ajuda. Não basta aquela que lhe é oferecida por uma mídia favorável. É necessário que alguém reavive seu senso de oportunidade. Um dos males que costumava atacar com muita frequência o brasileiro, principalmente aquele que vivia de salário (a maioria, portanto) consistia na tendência de ser enganado com facilidade.


Por Gilson Caroni Filho, na Carta Maior

Faz cerca de oito anos que o PSDB deixou o governo e ainda não se deu conta de que a percepção da realidade mudou. Jogar palavras ao vento, com fez o pré-candidato tucano para uma plateia de militantes (?) do PPS, é um exercício arriscado, uma manifestação que mescla soberba e desespero em dosagem tão hilariante quanto assustadora. Mas nada disso nos permite duvidar de sua capacidade e argúcia analítica. Afinal, como diz o slogan de campanha dos tucanos: "O Brasil pode mais". Resta saber o quê. E para quem.

Ao afirmar, em uma tentativa de crítica à política econômica do governo Lula que "nós estamos voltando rapidamente a um modelo que não atende à demanda de emprego que o país possui", o ex-governador paulista aposta no total alheamento do eleitor brasileiro. Tamanha credulidade espanta, tendo em vista que o mundo do trabalho — a principal vítima do modelo neoliberal orquestrado pelo tucanato — aprendeu direitinho, na própria pele, o que significou o mercado desregulado como chave para o crescimento econômico e as virtudes do “Estado musculoso", elementos centrais no discurso serrista.

A afirmação sobre empregos não é piada, nem brincadeira de um notívago diletante, mas desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. E de Serra, pode-se afirmar várias coisas, menos a de não ser um ator político que sabe o que faz. Sua eventual perdição, entretanto, antes de ser festejada pelas forças progressistas, deve causar desconfiança e vigilância redobrada. Pois é inevitável que os ânimos se acirrem em seus dois principais pólos de apoio: a mídia corporativa e o Poder Judiciário.

Mas a comparação suscitada por suas declarações é inevitável. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o número de vagas criadas no mercado de trabalho bateu recorde no primeiro trimestre de 2010, com um saldo acumulado até março somando 657.259 empregos. Convém retornar no tempo e observar como se comportava a economia brasileira quando o pré-candidato tucano era ministro do Planejamento e Orçamento do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

O desemprego na indústria atingia 5,7% em 1997 em relação a 1996, resultado fortemente influenciado pela taxa de dezembro, quando a queda foi de 2,6% em relação a novembro, a pior desde dezembro de 1990, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter uma ideia do tamanho da retração nos empregos, os dados do instituto mostravam uma queda anualizada de 7,3%. Quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.

Até então, o governo FHC registrava um desemprego industrial de 19,77%. Mas o “Brasil que não podia mais", aquele que os colunistas econômicos tanto enaltecem, vivia um amargo processo de ajuste, acentuado em 1996, com a atividade econômica represada e a queda no emprego apresentando taxas expressivas. Ao contrário do que afirma Serra foi sob a batuta tucana que “o Brasil adotou uma política econômica desastrosa."

Mas o discurso do tucano foi além, mirando também o campo da ética, com críticas a supostas práticas de corrupção no governo petista. Como fazem as vestais tucanas, destampou um poço de demônios para sentenciar: "Se aquele que era o guardião da moral, da ética, do antipatrimonialismo toma outro rumo, o rumo oposto, para muita gente Deus morreu". Que metafísica, o ex-governador paulista quer superar com essa alusão a Nietzsche?

Decerto não deve ser a do governo ao qual serviu em dois ministérios. Fernando Henrique não teve escrúpulos de usar métodos condenáveis para evitar investigação da banda podre da administração federal. A retirada de assinaturas para esvaziar a criação da CPI da Corrupção, em 2001, é um belo exemplo. O arrastão de favores para livrar o governo de qualquer constrangimento ficou como um dos mais baixos momentos de um presidente eleito e reeleito pela ansiedade ética na vida brasileira.

Fernando Henrique liberou por bravata os parlamentares de sua base política para subscrever a CPI e, na hora H, liberou verbas estocadas e fez nomeações para cargos públicos. Junto com ACM e José Roberto Arruda, FHC afrontou o sentimento ético da cidadania falando em “linchamento precipitado" quando sua posição anterior incentivava a punição exemplar e imediata. E onde estava José Serra em meio a tudo isso? No Ministério da Saúde, definindo a criação da CPI como uma “brincadeira”, "pretexto eleitoral", "instrumento para prejudicar a governabilidade”.

Em sua campanha, o tucano terá que se confrontar com questões sobre ética e economia. Mas com muita cautela, evitando o reaparecimento de fantasmas incômodos. Eles podem dizer que foi naquela época, e não hoje, que “para muita gente Deus morreu". Um deus imanente, amoral e, tal como os dirigentes aboletados no Estado, servil ao mercado que o pagou.

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

domingo, 23 de maio de 2010

Israel fatura encima do genocidio em Gaza....

"Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina", diz economista israelense

Os impactos de anos de ocupação israelense sobre a economia palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e a nova onda de migração de trabalhadores da Ásia para substituir a mão-de-obra palestina, confinada nos territórios, são os principais temas abordados pelo economista israelense Shir Hever, membro do Alternative Information Center, nessa entrevista ao Opera Mundi.

Segundo o estudioso, mestre em História e Filosofia pelo Instituto Cohen, na Universidade de Tel Aviv, Israel tem controle inclusive sobre as doações internacionais. Independente da moeda que ingressa nos territórios (dólar, euro, libra etc), o montante precisa ser aplicado no Banco Central de Israel, e depois, convertido para o shekel, dando lucro para o Estado judeu.

Efe (11/05/2010)

Checkpoint em Ramallah: todas as manhãs, dezenas de palestinos buscam trabalho em
colônias judaicas na Cisjordânia

Shir, autor de uma série de estudos sobre os impactos da ocupação – todos disponíveis para download em www.alternativenews.org – vive na Jerusalém dividida não apenas pela ocupação militar e pela política, mas por ações sócio-econômicas que ampliam o abismo criado pelo desejo de fazer da cidade uma capital israelense. Jerusalém é hoje, sem dúvida, a capital da ocupação.

Ainda que estejam sob a autoridade palestina, na verdade vilas e cidades dependem de Israel. Como isso ocorre, a economia da ocupação alimentando Israel?
Na verdade, isso está  na raiz da ocupação, quando o governo israelense procurava pelas políticas corretas para lidar com esse novo território sob seu controle. Havia um debate de como tratá-lo. Basicamente havia aqueles que diziam que a ocupação seria temporária, que não poderíamos anexar o território com todas essas pessoas e perder uma maioria judaica. Assim, seria melhor não investir na economia palestina, pois iríamos perder tudo no momento em que devolvêssemos os territórios à Jordânia ou ao Egito. Esse era o grupo do sionismo pragmático. O grupo mais messiânico dizia que o sionismo é um movimento, em andamento, de redenção religiosa. Estávamos destinados a continuar crescendo. Então a ocupação era um momento de triunfo e, obviamente, jamais iríamos devolver a terra.

Leia também:
Israel face à sua história, por Eric Rouleau
Entrevista: pessimismo impera entre crianças de Gaza
Crise e falta de recursos comprometem ajuda da ONU a Gaza
Embargo de Israel impossibilita reconstrução de Gaza, afirma ONU

Esse debate político refletiu-se no projeto econômico. Eles estabeleceram um Comitê Econômico, chamado Comitê Bruno, que aconselhou a manutenção da separação entre o Estado de Israel e os Territórios Ocupados Palestinos. As recomendações foram imediatamente rejeitadas e o governo instalou um Comitê Ministerial, que aconselhou uma maior liberdade nas ações para que ganhássemos mais tempo. Isso previa permissão a palestinos para que trabalhassem em Israel, que israelenses pudessem ir aos tPos, em número restrito, e deixar que produtos fossem importados e exportados. Na realidade, a política realmente adotada nem foi essa, foi muito mais livre, quase não havia restrições. Israelenses que quisessem ir a Belém ou Ramallah primeiro precisavam de permissão, mas com o tempo nem isso mais era exigido. Mas havia uma política, que não estava escrita em nenhum lugar, mas todos sabiam a seu respeito, e que foi imposta de uma forma muito coerente: não permitir a palestinos desenvolver qualquer negócio local que pudesse concorrer com um setor israelense. Isso é importante destacar porque não se acha em documentos oficiais.

Isso ocorre até hoje ou após Oslo as coisas mudaram?
Não, depois de Oslo a situação tomou uma direção um pouco diferente. [Os acordos de paz Oslo foram mantidos entre Israel e o presidente da OLP, Yasser Arafat e mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton]

Podemos dizer então que os palestinos estavam sob essa situação de não-desenvolvimento até Oslo?
Sim, pelo menos de uma forma direta. Hoje há muitas limitações em relação ao desenvolvimento, mas feitas de uma forma diferente. Até Oslo, a preocupação era limitar aos palestinos o uso de seus próprios fundos para criar desenvolvimento. O que acontecia era que se alguém quisesse investir numa empresa local, permissões para que trouxesse maquinários ou material bruto, ou ainda, para que tivesse acesso a instituições financeiras, eram negados.

Quais os termos, hoje, dessa ligação entre Israel e os territórios?
Se for a um mercado hoje nos territórios, quase todos os produtos estão em hebraico. Isso porque o caminhão com a placa israelense passa pelo posto de controle de forma fácil. É mais fácil enviar um caminhão de Haifa a Belém (uma viagem que dura cerca de 2h30) do que de Ramallah a Belém (viagem que poderia durar 30min). Há, por exemplo, uma fábrica de leite e derivados em Ramallah. Muitos palestinos veem na prateleira os produtos de Ramallah e os produtos da Novah, uma companhia israelense, e escolhem a Novah. É o mesmo preço, mas o produto israelense é mais fresco. Os palestinos sabem que os produtos de Ramallah ficaram no posto de controle por pelo menos um dia. Não esperam que seja de boa qualidade. Isso dá uma grande vantagem para as companhias israelenses. 
Efe (14/05/2010)

Ativistas de diretos humanos tentam evitar prisão de garoto palestino que havia jogado pedras contra
veículos militares de Israel, em Hebron


Outra questão importante é a grande quantidade de subsídios que os assentamentos ganham do governo israelense. Pagam menos taxas, conseguem grandes empréstimos de capital, terra barata e muitos serviços públicos que não podem ter dentro de Israel. Se um israelense quiser começar uma indústria dentro de uma área industrial de um assentamento, como Ma´ale Adumin ou Atarot, terá condições muito mais favoráveis do que se o fizesse em uma cidade industrial, como Ashdod.

Uma questão que parece de grande importância é o controle que Israel exerce pelo fato de os territórios usarem o shekel israelense, um controle de políticas monetárias...
Isso é muito importante. Se você é do Brasil, então entende que caso controle a moeda, isso te dá muito poder, sobre quando criar inflação ou quando combater a inflação. Mas o que é ainda mais importante é que todo o dinheiro de ajuda humanitária que chega aos palestinos vem em forma de moeda estrangeira, euros, dólares ou ienes. No entanto, para que possam ser usados na economia palestina, devem ser convertidos em shekels, que por sua vez são usados para pagar salários, produtos, impostos e taxas. Então o que acontece é que esses fundos de fora que vêm aos palestinos ficam no Banco Central israelense. Isso significa, em termos práticos, que Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina.

Como exportando a ocupação?
De acordo com a lei humanitária internacional, como poder ocupante, o poder soberano dentro dos territórios é Israel. Se uma criança não tem o que comer ou se há um doente que precisa de atenção médica, é responsabilidade israelense como poder soberano ocupante. Mas agora temos uma situação em que a comunidade internacional está disposta a tomar o papel de Israel. Em Gaza, de 70% a 80% da população recebe a maioria de suas calorias através de ajuda. E mesmo os 20% restantes suplementam a alimentação com a ajuda humanitária. Gaza é a região mais dependente do mundo hoje.

Jerusalém era o centro de cultura, política e economia, junto com Jaffa antes de 1948. Projetos recentes, como o Muro, desligaram esse centro do resto da Cisjordânia. Que impacto isso tem na economia e vida dos palestinos?
Jerusalém ainda é a cidade com a maior renda per capita e com a maior receita entre as cidades palestinas, inclusive Ramallah. Pessoas vivendo em Jerusalém que acham emprego em Israel, e muitas delas trabalham em Jerusalém Oeste e servem israelenses no seu trabalho, ganham a média de renda israelense, que é muito maior do que o valor na Cisjordânia. Eles têm, portanto, uma renda per capita alta, mas quando fazem suas compras, pagam preços israelenses. Ainda que Jerusalém tenha média de valores de salário maior do que qualquer lugar em Gaza ou na Cisjordânia, de acordo com os padrões israelenses, mais de 70% dos palestinos estão abaixo da linha de pobreza. Então é a cidade mais rica se você a olha como uma cidade palestina, mas é a cidade mais pobre se você a olha como uma cidade israelense.

A única forma que as pessoas de Jerusalém Leste têm de sobreviver é o fato de poderem usar a habilidade de estar na fronteira, de ter um cartão de identidade azul especial, que os trata como residentes, mas não cidadãos israelenses. Isso lhes dá a possibilidade de se moverem dentro de Israel. Podem andar também dentro da Cisjordânia. Por causa disso, podem ir a Ramallah ou a Belém, comprar por preços mais baratos e depois ir a Jerusalém Oeste para ganhar algum dinheiro. E se eles precisam de um hospital, vão ao Augusta Victoria, um hospital dentro de Jerusalém Leste que lhes dá um tratamento mais barato. Se precisam de serviços de bem-estar social, vão à Jerusalém Oeste, pois estão dentro do sistema israelense de assistência social. Que fique claro: esse não é um sistema oficial. E não quer dizer que são ricos ou que sua média de qualidade de vida seja melhor do que a da elite de Ramallah.

Como o Muro afeta a vida dos palestinos em Jerusalém?
O que o Muro está fazendo é tornar difícil aos palestinos de Jerusalém Leste fazer esse jogo de sobrevivência. Agora, se quiserem ir fazer compras em Ramallah, têm que esperar no posto de controle por horas. Mesmo que passem, esperam por horas. Se quiserem ir ao hospital, têm que esperar. Se quiserem mandar os filhos à escola, há um problema dependendo de que lado do Muro estão. Eles tentam superar as dificuldades que o Muro traz, mas é possível ver como ele está destruindo o padrão de vida. Por exemplo, muitos palestinos estão mudando-se para o lado oeste do Muro para que continuem a ter acesso a seus trabalhos, escolas, à assistência social. Eu fiz um estudo sobre os impactos econômicos do Muro na vida dos palestinos de Jerusalém Leste especificamente e estimei os custos, por danos, em 200 milhões de dólares por ano. 
Efe (14/05/2010)

Manifestação em Ramallah pelo aniversário de fundação de Israel, data denominada "Nakba" - o desastre - pelos palestinos

Uma outra questão  é a substituição da mão-de-obra palestina dentro de Israel. Como isso ocorreu e as consequências até  hoje?
Em 1991, tivemos o primeiro fechamento da Cisjordânia por causa da guerra do Iraque. Muitos palestinos apoiavam Saddam Hussein, então Israel os puniu por sua posição política. Oslo começa logo em seguida, em 1994, e (Shimon) Peres, na equipe de negociação, pensava que podia usar os palestinos como trabalho barato, usá-los em um modelo neocolonial de exploração. Mas no meio das negociações, (Ytzhak) Rabin, o primeiro-ministro, interveio e disse ‘não gosto nem um pouco dessa direção. Quero separação’. E ele substituiu o negociador do lado israelense, removeu o homem de negócios e trouxe generais para centrar em questões de segurança. Então falavam de fechamento o tempo todo, o que é uma violação dos Acordos de Paris (1973), assinados entre Israel e os palestinos. Isso provocou uma grande separação entre o mercado israelense e a mão-de-obra palestina.

É importante entender que o setor de construção israelense veio a ficar extremamente dependente da mão-de-obra barata palestina. Em Israel, pensavam ‘por que comprar máquinas quando gasto menos com mão-de-obra?’. Havia um sistema de trabalho barato na construção e na agricultura. Quando o fechamento veio, empresas começaram a fazer lobby no governo, dizendo ‘precisamos de mais trabalhadores baratos, o que vocês vão fazer?’. O governo então deu permissões para que importassem trabalhadores migrantes de países não-árabes e não-muçulmanos. Mas o problema é que nem o governo e nem os chefes das empresas queriam pagar o custo da vinda desses trabalhadores das Filipinas ou da Tailândia. O que eles fazem é deduzir do salário do trabalhador o valor gasto com a vinda. Isso acontece até hoje. Esses trabalhadores chegam a Israel e em um primeiro momento, que pode levar meses, trabalham para o dono e não ganham qualquer dinheiro.

Não há  qualquer direito para eles?
Não, muito poucos. O que aconteceu em certo momento é que a prefeitura de Tel Aviv organizou um sistema de assistência social de emergência. Fizeram isso porque de outra forma haveria uma crise. Na verdade, oficialmente, eles têm direitos. Mas ninguém os informa deles, muito menos seus empregadores. Pode até ser que depois de algum tempo ele tome contato com organizações de direitos humanos ou de trabalhadores, mas depois desse ponto, em que ele já pagou o que “devia” a seu empregador pelo custo de sua vinda, ele é despedido. O dono da empresa traz um outro trabalhador com a mesma permissão dada pelo governo de Israel. Aquele que foi demitido permanece em Israel ilegalmente, pois quer ganhar dinheiro, ajudar suas famílias. Então temos a seguinte situação: o máximo de trabalhadores palestinos permitidos dentro de Israel é de 120 mil. Agora, por esse sistema, temos cerca de 300 mil trabalhadores imigrantes de fora. Hoje, são menos, pois a polícia os deporta. Mas o auge foi em 2002.

Quando Sharon virou o primeiro-ministro e Netanyahu o ministro das Finanças, começaram a se livrar deles. O que a polícia está fazendo é ir a lojas durante o Natal. Se vê que há uma pessoa comprando enfeites, pede documentos ou se vê alguém negro ou pessoa com aparência asiática do leste, também. É triste ir ao sul de Tel Aviv e ver que durante no final do ano as pessoas ficam com medo de entrar nas lojas e celebrar o Natal, pois vão se expor.


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O Brasil e a crise na Grecia....

Governo Lula e banqueiros brasileiros contribuem para a espoliação do povo grego

por Renato Nucci Junior [*]
O 'Pacto de estabilidade grego'. Cartoon de Latuff. O povo grego tem protagonizado, nas últimas semanas, uma luta heróica contra as medidas aprovadas a toque de caixa por seu parlamento, dirigido pelos social-democratas do PASOK, para receber ajuda financeira internacional que retire o país da crise. As exigências impostas pela União Européia e o FMI para que a Grécia tenha acesso ao pacote de "ajuda" da ordem de 110 mil milhões de euros são duríssimas e quem pagará a conta é o povo grego. Elas incluem a redução dos salários, corte nas aposentadorias, ataque aos serviços públicos, aumento dos impostos e a retirada de direitos sociais e trabalhistas.

Esse imenso volume de recursos servirá para que o governo grego faça frente ao pagamento de sua dívida, de mais de 270 mil milhões de euros, cerca de 115% do seu PIB. O dinheiro que se pretende emprestar à Grécia servirá para a mesma cumprir suas obrigações com os especuladores e credores de títulos de sua dívida pública, que levaram o país à falência. Em suma, sacrifica-se o povo grego, com um corte de 30 mil milhões de euros em seus gastos públicos até 2012, para que meia dúzia de ricaços tenham os seus lucros garantidos. É contra essa tentativa de fazê-los pagar pela crise que os trabalhadores gregos, com destacado papel dos comunistas, tem se mobilizado. Só nesse ano foram sete greves gerais com ampla adesão de massa.

O temor de que a crise grega se alastre e torne ainda mais demorada a recuperação econômica mundial, tem mobilizado os esforços das principais potências capitalistas. A União Européia aprovou um pacote de ajuda de 750 mil milhões de euros, o equivalente à metade do PIB brasileiro. O próprio FMI disponibilizará cerca de 250 mil milhões. Tudo em nome da manutenção de um modelo econômico cuja fatura, em termos de ajuste das contas públicas, implicará em novos ataques aos direitos dos trabalhadores em todo o mundo.

O Brasil também participa desse esforço mundial para conter a crise grega. O governo Lula anunciou na última sexta-feira, 7 de maio, que fará um aporte de 286 milhões de dólares ao FMI para ajudar a debelar a crise. Esse volume de recursos não representa sequer 1% do total de recursos do Fundo destinados à Grécia, de 30 mil milhões de euros. Trata-se de um aporte pequeno se comparado ao volume total. Porém, o que mais importa não é o tamanho da contribuição, mas o gesto em si.

O aporte ao FMI mais uma vez sinaliza o compromisso do governo Lula com a manutenção de um modelo econômico, baseado na lógica financista e especulativa. Motivado por essa lógica, a intenção do governo nesse aporte de recursos serve tanto para manter o bom funcionamento do capitalismo, como também salvar os interesses dos bancos privados brasileiros. Questionado se o Brasil teria títulos da dívida grega, o ministro da Fazenda, Guido Mantega declarou "que alguns bancos privados brasileiros podem ter esses papéis, mas em um percentual baixo" ( Folha de São Paulo, 08/05/2010).

Independente do percentual que os bancos brasileiros possuem de títulos da dívida grega, reafirmamos que o mais importante é o gesto em si. E novamente, com tal gesto, o governo Lula, como faz desde o seu primeiro mandato, não confronta os interesses dos banqueiros brasileiros, cujos lucros em 2009, mesmo com a crise econômica, foram de R$ 23 mil milhões, 26% a mais do que no ano anterior. Um lucro obtido na base de juros extorsivos, de taxas de serviços abusivas e de uma exploração brutal sobre os bancários. Como a espoliação do povo brasileiro não é suficiente para ampliar a acumulação de capital, os banqueiros tupiniquins alçam vôos maiores e se lançam ao mundo, explorando oportunidades abertas em outros países. Contam nessa empreitada com o apoio do governo Lula, cujo aporte de recursos ao FMI no caso da crise grega, destina-se a salvar os seus preciosos lucros. E como sempre ocorre, o recurso para esse aporte virá dos cofres públicos, mais uma vez usados para atender grandes interesses privados nacionais. É assim que os banqueiros brasileiros e o governo Lula, não satisfeitos em explorar o povo brasileiro, agora contribuem na espoliação do povo grego.

[*] Do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 22 de maio de 2010

O Irã...

O Irã que eu conheci
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Por Sonia Bonzi* no NOVAE

Depois de ter morado no Irã, minha maneira de ver o mundo mudou bastante. Não acredito em mais nada do que diz a grande mídia.
Quando soube que ia morar em Teerã senti um certo medo, mas aceitei o desafio. Comecei uma busca voraz por informações sobre o país, a cidade, a história, o povo. Depois de tudo que li, decidi que viveria em casa, reclusa, lendo, escrevendo, fazendo crochet, inventando moda...
Parti de Londres pronta para o sacrifício. Teria que conviver com os xiitas radicais, terroristas cruéis, apedrejadores de mulheres, exterminadores de homossexuais, homens-bomba, mulheres oprimidas, cobertas com véus...
Eu estava submetida às leis locais e me seria vedado mostrar cabelos, pernas e braços. Ficar em casa era o que mais me atraia. Vestir um chador para sair me parecia um pouco demais. A caminho de Teerã eu depositava o sucesso da minha estadia nos jardins da casa onde fui morar. Ter aquele espaço me bastaria.
Logo ao sair do aeroporto comecei a ter uma imagem diferente de tudo aquilo que eu tinha lido. Tudo tão bonito, belas estradas, muita luz, viadutos com mosaicos, jardins bem cuidados, gente vendendo flores nos sinais, um engarrafamento sem buzinas, pedestres poderosos cruzando entre os carros, rapaziada de cabelo espetado, mocinhos com camisetas apertadinhas, moças lindas, super produzidas e também muitas mulheres de chador. Parques cheios de gente. Muita criança. Muito pic nic.
Dizem que a primeira impressão é a que vale. Gostei da chegada. Não tive medo. Não vi tanques, cadafalsos, escoltas armadas... Gostei das caras, das montanhas, das casas, das árvores, dos muros, do alfabeto que me tornava analfabeta.
Logo no segundo dia eu já tinha entendido que minha leitura sobre o cotidiano não tinha nada de realidade. Eu não precisava usar chador. Podia sair vestida com uma calça comprida, um camisão de mangas compridas e um lenço na cabeça. Senti-me nos anos 70, quando eu não dispensava um lencinho.
Deixei o jardim de casa e fui conhecer Teerã.
A imprensa e os meios de comunicação do ocidente me deixavam confusa. O que eu lia e ouvia não correspondi ao que eu vivia e via.
Encontro um povo é acolhedor, educado, culto, simpático, que gosta de fazer amigos, que abre as portas de casa para os estrangeiros, gosta de música, de dança, de declamar poesia... Não encontrei os problemas de abastecimento que me informaram haveria. Comprava-se de tudo, inclusive uísque e vodka. Bastava um telefonema.
Os temíveis homens-bomba nunca passaram por lá. Ninguém se explodia. Foi horrível constatar que enforcamentos aconteciam de vez em quando. Apedrejamento de mulher adúltera já não acontecia há 14 anos.
Fiquei amiga de muitos gays, fiz e fui a festas espetaculares, tomei vinho feito em casa, viajei sem escoltas pelo país, visitei amigos em suas casas de campo, de praia, de montanha...
Apaixonei-me pela culinária refinadíssima, morro de saudades das nozes, pistaches, castanhas, avelãs, frutas secas. Não me esqueço dos pães, do iogurte, do suco de romã puro ou com vodka...
Conheci a Pérsia profunda: lagos salgados, desertos salgados, as antigas capitais, segui a "rota da seda", dormi em caravanserais... Sempre assessorada por amigos locais.
Não conheci um iraniano, de nenhuma classe social, que fosse favorável ao regime teocrático instalado no país. Só uma coisa aproxima o povo do governo: o direito à tecnologia nuclear.
A pressão do ocidente fortalece e radicaliza os aiatolás. O povo do Irã não aceita esta interferência mundial. Quem são os ocidentais para dizer a eles o que fazer? Eles não vem o ocidente como um modelo a ser seguido. Eles não acreditam nos governos que já apoiaram Sadam Hussein numa guerra contra eles. Eles não tem razão para acreditar nas grandes potências. Isto incomoda. Melhor demonizá-los. Eles são acusados de não cumprirem acordos. Quem os acusa também não cumpre.
O domínio da tecnologia nuclear é considerado pelo povo do Irã como um direito deles, que sempre tiveram grandes cientistas, que sempre valorizaram o conhecimento, a medicina de ponta, que querem vender energia nuclear..
O povo iraniano não começa uma guerra há mais de 200 anos. Eles não são belicosos. São diferentes de seus vizinhos. A instabilidade no Oriente Médio não é causada pelo Irã. Apesar da força que a imprensa, os governos, as corporações fazem para denegrir a imagem do Irã, eu confesso que o Irã que eu conheci não é o que é descrito pela mídia ocidental.
Não há favelas em Teerã, não há miseráveis pelas ruas. Minorias tem seus representantes no Congresso, judeus tem seus negócios, suas sinagogas, zoroastrianos tem acesa a chama em seus templos. A família é uma instituição valorizada. Refugiados palestinos e iraquianos são mantidos pelo governo e pelo povo iraniano, que lhes oferece abrigo, alimento e escolas...
Não acredito que ameaças e o uso da força possam melhorar a situação na região. Os iranianos não são os iraquianos. Ser mártir para defender a religião ou a pátria é motivo de júbilo até para as mães.
A negociação, o respeito, a falta de arrogância, as informações corretas são as armas para defender a estabilidade no mundo. Pena que muitos interesses financeiros estejam acima dos sonhos de bem-estar e paz.

*A escritora Sonia Bonzi é uma das mais antigas colaboradoras da NovaE, escrevendo do Irã e de vários países do mundo

Lula e a politica externa brasileira....

De como exercer a ousadia moral

Por Mauro Santayana no JB on line

Velha teoria explica as guerras generalizadas como inevitável irritação da História: as situações envelhecem e se tornam insuportáveis, para estourar nos conflitos sangrentos. Alguns as veem como autorregeneração do mundo, ao contribuir para o equilíbrio demográfico. Outros a atribuem à centelha diabólica que dorme no coração dos homens e incendeia o ódio coletivo. O mundo finará sem que entendamos a fisiologia do absurdo. Para os humanistas, são repugnantes os massacres coletivos tanto como os assassinatos singulares.

De qualquer forma, a História tem como eixo a tensão permanente entre guerra e paz; entre a competição e o entendimento; entre o egoísmo que se multiplica no racismo e a solidariedade internacional. Uma coisa é inegável: quando os mais fortes querem, não lhes faltam argumentos trôpegos para justificar a agressão. La Fontaine soube reduzir esse comportamento no diálogo entre o lobo e o cordeiro. Quando o lobo quer, os filhos são responsáveis por falsas culpas dos pais e as águas sobem os rios.

É interessante registrar, no episódio da questão do Irã, algumas dúvidas que assaltam o homem comum. A primeira delas – e devo essa observação a um amigo – é a do direito de os possuidores das armas atômicas decidirem quem pode e quem não pode desenvolver a tecnologia nuclear. Mais ainda, quando o árbitro maior é o governo do país que a usou criminosamente, ao arrasar, sem nenhuma razão tática ou estratégica, duas cidades inteiras e indefesas do Japão. Reduzidas as dimensões do absurdo, podemos aceitar como lícitas as associações criminosas, como as dos narcotraficantes dos morros. Possuidores de bom armamento, impõem sua lei às comunidades e constroem sua própria legislação, cobram tributos e exigem obediência, sob a ameaça dos fuzis e da tortura. Chegaremos assim a uma sociologia política, abonada indiretamente por Weber e outros, que admite todo poder de facto, sem discutir sua legitimidade ética.

O momento histórico é de grande oportunidade para a Humanidade – e de grande perigo, também. A República dos Estados Unidos é um lobo ferido em suas entranhas. Por mais disfarcem o choque, a eleição de Barack Hussein Obama lanhou as glândulas da tradição conservadora da Nova Inglaterra. A águia encolheu suas asas. A maioria dos estados e, neles, a maioria dos eleitores, decidiu por um homem mestiço, filho de pai negro e mãe branca, nascido em uma colônia dissimulada em estado, o Havaí; e que passou o período mais importante da formação, o da adolescência, na Ásia: na Indonésia muçulmana e no arquipélago em que nasceu.

No inconsciente coletivo, os Estados Unidos já sentem a decadência, que se acelerou com o neoliberalismo. Eles poderão administrá-la com inteligência, integrando-se em uma Humanidade que necessita, com urgência, de novos parâmetros e de nova tecnologia, capazes de preservar a natureza, hoje em acelerada erosão, ou entrar em desespero. Se entrarem em desespero, conduzirão o mundo a nova guerra, mas isso não parece provável, diante da crescente consciência antibélica de seu povo.

Por enquanto os falcões parecem contar com a Europa e com a China, no caso do Irã. Mas não há, nos horizontes movediços de hoje, país suficientemente forte, capaz de impor-se aos demais. A Europa desce a ladeira, com sua bolsa de euros de barro, e a União Europeia se encontra ameaçada de fragmentação. A China é uma nebulosa impenetrável. O capitalismo financeiro descolou-se de qualquer compromisso ético, se é que o teve um dia. O sistema se torna mais selvagem quando se vale dos instrumentos tecnológicos de operação universal e instantânea.

É nesse momento que a presença do Brasil começa a impor-se no cenário internacional. Não temos armas atômicas, não dispomos de exércitos numerosos e bem equipados, mas somos chamados a manter o bom-senso, e manter o bom-senso é exercer a ousadia moral.

Digam o que disserem os quislings domésticos, o Brasil ganhou o respeito do mundo ao buscar a paz no Oriente Médio. Se contribuirmos para evitar o conflito, nosso será o mérito; se não houver o êxito, fica, na História, o testemunho de um esforço destemido e honrado – e não menos meritório.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A crise económica global


A Grande Depressão do século XXI

Michel Chossudovsky e Andrew Gavin Marshall*
Michel Chossudovsky 

Publicamos hoje o prefácio de Michael Chossudvosky e Andrew Gavin Marshall ao livro colectivo The Global Economic Crisis. The Great Depression of the XXI Century. Numa linguagem despida dos jargões do economês, Michel Chossudovsky e Andrew Gavin Marshall dizem-nos como “A opinião pública continua a ser enganada quanto às causas e às consequências da crise económica, para não falar as soluções políticas. As pessoas são levadas a acreditar que a economia tem uma lógica por si própria a qual depende da livre inter-actuação de forças de mercado e que os poderosos actores financeiros, que puxam os cordéis nos gabinetes das administrações corporativas, não poderiam, sob quaisquer circunstâncias, ter deliberadamente influenciado o curso dos acontecimentos económicos.”
Em todas as regiões do mundo a recessão económica está profundamente enraizada, resultando no desemprego em massa, no colapso de programas sociais do Estado e no empobrecimento de milhões de pessoas. A crise económica é acompanhada por um processo de militarização à escala mundial, uma «guerra sem fronteiras» liderada pelos Estados Unidos da América e seus aliados da NATO. O comportamento do Pentágono na «longa guerra» está intimamente relacionado com a reestruturação da economia global.
Estamos a tratar de uma crise ou recessão económica definida de modo estreito. A arquitectura das finanças globais sustenta objectivos estratégicos e de segurança nacional. Por sua vez, a agenda militar EUA-NATO serve para endossar uma poderosa elite dos negócios a qual implacavelmente eclipsa e mina as funções do governo civil.
O livro conduz o leitor através dos corredores do Federal Reserve e do Council on Foreign Relations, por trás das portas fechadas do Bank for International Settlements, dentro de luxuosos gabinetes de conselho de administração na Wall Street onde transacções financeiras de extremo alcance são rotineiramente efectuadas a partir de terminais de computador ligados aos principais mercados de acções, ao toque de um botão de rato.
Cada um dos autores aqui reunidos escava por trás da superfície dourada para revelar uma complexa teia de enganos e distorções dos media, os quais servem para esconder os trabalhos do sistema económico global e os seus impactos devastadores sobre as vidas das pessoas. A nossa análise centra-se no papel de poderosos actores económicos e políticos num ambiente forjado pela corrupção, pela manipulação financeira e pela fraude.
Apesar da diversidade de pontos de vista e de perspectivas apresentados neste volume, todos os colaboradores acabam por chegar à mesma conclusão: a humanidade está na encruzilhada da mais grave crise económica e social da história moderna.
O colapso dos mercados financeiros em 2008-2009 foi o resultado da fraude institucionalizada e da manipulação financeira. Os «resgates bancários» foram implementados com base nas instruções da Wall Street, levando à maior transferência de riqueza monetária da história registada, enquanto simultaneamente criava uma dívida pública inultrapassável.
Com a deterioração à escala mundial de padrões de vida e o afundamento dos gastos de consumo, toda a estrutura do comércio internacional de mercadorias está potencialmente em risco. O sistema de pagamentos de transacções em dinheiro está caótico. Em consequência do colapso do emprego, o pagamento de salários é quebrado, o que por sua vez dispara uma queda nas despesas com bens e serviços de consumo necessários. Esta queda dramática do poder de compra faz ricochete no sistema produtivo, resultando numa cadeia de despedimentos, encerramentos de fábricas e bancarrotas. Exacerbado pelo congelamento do crédito, o declínio na procura do consumidor contribui para a desmobilização de recursos materiais e humanos.
Este processo de declínio económico é cumulativo. Todas as categorias da força de trabalho são afectadas. O pagamento de salários deixa de ser cumprido, o crédito é interrompido e os investimentos de capital estão paralisados. Enquanto isso, em países ocidentais, a «rede de segurança social» herdada do estado previdência, a qual protege os desempregados durante uma retracção económica, está também em perigo.
O mito da recuperação económica

A existência de uma «Grande Depressão» na escala da década de 30, se bem que muitas vezes reconhecida, é obscurecida por um consenso inflexível: «A economia está a caminho da recuperação».
Apesar de haver conversas acerca de uma renovação económica, comentadores da Wall Street persistentemente e intencionalmente têm deixado de lado o facto de o colapso financeiro não ser unicamente composto por uma bolha – a bolha imobiliária da habitação – que já explodiu. De facto, a crise tem muitas bolhas que superam a explodida bolha habitacional de 2008.
Embora não haja desacordo fundamental entre os analistas da corrente dominante acerca da ocorrência de uma recuperação económica, há debates tempestuosos sobre quando ocorrerá, se no próximo trimestre ou no terceiro trimestre do próximo ano, etc. Já no princípio de 2010, a «recuperação» da economia dos EUA fora prevista e confirmada através de uma barragem de desinformação dos media com palavras cuidadosamente escolhidas. Enquanto isso, os problemas sociais do desemprego agravado na América foram criteriosamente camuflados. Economistas houve que viram a bancarrota como um fenómeno microeconómico.
As informações dos media acerca de bancarrotas, ainda que revelando realidades a nível local que afectam uma ou mais fábricas, não apresentam um quadro geral do que está a acontecer aos níveis nacional de internacional. Quando todos estes encerramentos simultâneos de fábricas em cidades por toda a terra são somados, emerge um quadro muito diferente: sectores inteiros de uma economia nacional estão a fechar.
A opinião pública continua a ser enganada quanto às causas e às consequências da crise económica, para não falar as soluções políticas. As pessoas são levadas a acreditar que a economia tem uma lógica por si própria a qual depende da livre inter-actuação de forças de mercado e que os poderosos actores financeiros, que puxam os cordéis nos gabinetes das administrações corporativas, não poderiam, sob quaisquer circunstâncias, ter deliberadamente influenciado o curso dos acontecimentos económicos.
A implacável e fraudulenta apropriação de riqueza é sustentada como uma parte integral do «sonho americano», como um meio de difundir os benefícios do crescimento económico. Como foi dito por Michael Hudson, arreiga-se o mito de que «sem riqueza no topo, nada poderia gotejar para baixo». Tal lógica enviesada do ciclo de negócios ofusca o entendimento das origens estruturais e históricos da crise económica global.
Fraude financeira

A desinformação dos media serve em grande medida os interesses de um punhado de bancos globais e especuladores institucionais, que utilizam o seu comando sobre mercados financeiros e de commodities para acumularem vastas quantias de riqueza monetária. Os corredores do Estado são controlados pelo establishment corporativo, incluindo os especuladores. Enquanto isso, os «resgates bancários», apresentados ao público como um requisito para a recuperação económica, facilitaram e legitimaram um processo ulterior de apropriação de riqueza.
Vastas quantias de riqueza monetárias são adquiridas através da manipulação do mercado. Mencionada muitas vezes como «desregulamentação», o aparelho financeiro desenvolveu instrumentos refinados de manipulação e engano sem rodeios. Com informação interna e conhecimento antecipado, os principais actores financeiros, utilizando os instrumentos do comércio especulativo, têm a capacidade para manipular e burlar os movimentos do mercado em seu proveito, precipitar o colapso de um competidor e arruinar economias de países em desenvolvimento. Estas ferramentas de manipulação tornaram-se uma parte integral da arquitectura financeira; elas estão incorporadas no sistema.
O fracasso da teoria económica dominante
A profissão das Ciências Económicas, particularmente nas universidades, raramente trata do funcionamento de mercados no «mundo real». Construções teóricas centradas em modelos matemáticos servem para representar um mundo abstracto e ficcional no qual os indivíduos são iguais. Não há distinção teórica entre trabalhadores, consumidores ou corporações, todos eles referidos como «actores individuais». Nenhum indivíduo isolado tem o poder ou a capacidade para influenciar o mercado; nem pode haver qualquer conflito entre trabalhadores e capitalistas dentro deste mundo abstracto.
Ao deixar de examinar a interacção de actores económicos poderosos na economia da «vida real», os processos de falsificação do mercado, a manipulação financeira e a fraude são ignorados. A concentração e centralização da tomada de decisão económica, o papel das elites financeiras, os thinks-tanks económicos, os gabinetes dos conselhos de administração das corporações: nada destas questões é examinada nos programas de ciências económicas das universidades. A construção teórica é disfuncional; ela não pode ser utilizada para o entendimento da crise económica.
A ciência económica é uma construção [construct] ideológica que serve para camuflar e justificar a Nova Ordem Mundial. Um conjunto de postulados dogmáticos serve para preservar o capitalismo de livre mercado pela negação da existência da desigualdade social e a natureza orientada para o lucro do sistema é negada. O papel de actores económicos poderosos e como estes actores são capazes de influenciar o funcionamento dos mercados financeiros e de commodities não é um assunto que preocupe os teóricos da disciplina. Os poderes de manipulação de mercado que servem para a apropriação de vastas quantias de riqueza monetária raramente são tratados. E quando são reconhecidos, considera-se que pertencem ao âmbito da sociologia ou da ciência política.
Isto significa que a estrutura política e institucional por trás deste sistema económico global, a qual foi moldada no decorrer dos últimos trinta anos, raramente é analisada pelos economistas da corrente principal. Segue-se que a teoria económica como disciplina, com algumas excepções, não proporcionou a análise necessária para compreender a crise económica. De facto, os seus principais postulados do livre mercado negam a existência de uma crise. O foco da teoria económica neoclássica está no equilíbrio, desequilíbrio e »correcção de mercado» ou «ajustamento» através do mecanismo de mercado, como meio de colocar a economia outra vez «dentro do caminho do crescimento auto-sustentado».
Pobreza e desigualdade social
A política económica global é um sistema que enriquece muito pouco a expensas da grande maioria. A crise económica global contribuiu para ampliar desigualdades sociais tanto dentro como entre países. Sob o capitalismo global, a pobreza que aumenta cada vez mais não é o resultado de uma escassez ou de uma falta de recursos humanos e materiais. Exactamente o oposto é que é verdadeiro: a depressão económica é marcada por um processo de separação de recursos humanos e de capital físico. Vidas de pessoas são destruídas. A crise económica está profundamente enraizada.
As estruturas de desigualdade social foram, de modo muito deliberado, reforçadas, levando não só a um processo generalizado de empobrecimento como também ao fim dos grupos de rendimento médios e acima da média.
O consumismo da classe média, sobre o qual este modelo desregrado de desenvolvimento capitalista está baseado, também está ameaçado. As bancarrotas atingiram vários dos sectores mais activos da economia do consumidor. As classes médias no ocidente foram, durante várias décadas, sujeitas à erosão da sua riqueza material. Se bem que a classe média exista em teoria, é uma classe construída e sustentada pelo endividamento das famílias.
Os ricos, ao contrário da classe média, estão rapidamente a tornar-se a classe consumidora, levando ao crescimento inexorável da economia de bens de luxo. Além disso, com a secagem dos mercados de bens manufacturados para a classe média, verificou-se uma mutação central e decisiva na estrutura do crescimento económico. Com o fim da economia civil, o desenvolvimento da economia de guerra da América, suportado por um colossal orçamento de defesa de quase um milhão de milhões de dólares, atingiu novos patamares. Quando os mercados de acções caiem a pique e a recessão alastra, as indústrias de armamento de elevada tecnologia, os militares, empreiteiros da segurança nacional e as prósperas companhias de mercenários (entre outras) vivem uma expansão e um crescimento desmedido das suas actividades.
Guerra e crise económica
A guerra está umbilicalmente ligada ao empobrecimento do povo, internamente e em o mundo. A militarização e a crise económica estão intimamente relacionadas. O fornecimento de bens e serviços essenciais para atender necessidades humanas básicas foi substituído por uma «máquina de matar» orientada para o lucro a apoiar a «Guerra global ao terror» da América. Os pobres existem para combater os pobres. Mas a guerra enriquece a classe superior, a que controla a indústria, os militares, o petróleo e a banca. Numa economia de guerra, a morte é um bom negócio, a pobreza é boa para a sociedade e o poder é bom para os políticos. Os países ocidentais, particularmente os Estados Unidos, gastam centenas de milhares de milhões de dólares por ano para assassinar pessoas inocentes em distantes países empobrecidos, enquanto internamente o povo sofre as disparidades de pobreza, classe, género e racial.
Uma «guerra económica» total que resulta em desemprego, pobreza e doença é executada através do livre mercado. As vidas de povos estão em queda livre e o seu poder de compra é destruído. Num sentido muito real, os últimos vinte anos de economia global de «livre mercado» terminaram, através da pobreza e da exclusão social, com as vidas de milhões de pessoas.
Em vez de impedir a catástrofe social, os governos ocidentais, que servem os interesses das elites económicas, instalaram uma polícia de Estado «Big Brother», com mandato para confrontar e reprimir todas as formas de oposição e discordância social.
A crise económica e social não atingiu de forma alguma o seu clímax e todos os países, incluindo a Grécia e a Islândia, estão em risco. Basta apenas olhar para a escalada da guerra no Médio Oriente e Ásia Central e para as ameaças dos EUA-NATO à China, Rússia e Irão para testemunhar como a guerra e a economia estão intimamente relacionados.

A nossa análise neste livro
Os colaboradores deste livro revelam as complicações da banca global e o seu insidioso relacionamento com o complexo militar industrial e os conglomerados petrolíferos. O livro apresenta uma abordagem inter-disciplinar e multi-facetada, dando também um entendimento das dimensões históricas e institucionais. As relações complexas da crise económica com a guerra, o império e a pobreza mundial são destacadas. Esta crise tem um alcance verdadeiramente global e sobre as repercussões que se reflectem em todos os países e sociedades.
Na Parte I, as causas gerais da crise económica global bem como os fracassos das teorias económicas dominantes são evidenciados. Michel Chossudovsky foca a história da desregulamentação financeira e da especulação. Tanya Cariina Hsu analisa o papel do Império Americano e o seu relacionamento com a crise económica. John Bellamy Foster e Fred Magdoff asseguram uma revisão abrangente da política económica da crise, explicando o papel central da política monetária. James Petras e Claudia von Werlhof apresentam uma revisão pormenorizada e crítica do neoliberalismo, centrando-se sobre as repercussões económicas, políticas e sociais das reformas do «livre mercado». Shamus Cooke examina o papel central da dívida, tanto pública como privada.
A Parte II, que inclui capítulos de Michel Chossudovsky e Peter Philips, analisa a maré ascendente de pobreza e desigualdade social resultante da Grande Depressão.
Com contribuições de Michel Chossudovsky, Peter Dale Scott, Michael Hudson, Bill Van Auken, Tom Burghardt e Andrew Gavin Marshall, a Parte III examine o relacionamento entre crise económica, Segurança Nacional, a guerra conduzida pelos EUA-NATO e o governo mundial. Neste contexto, descrito por Peter Dale Scott, a crise económica cria condições sociais que favorecem a instauração da lei marcial.
A atenção da Parte IV incide sobre o sistema monetário global, sua evolução e seu papel cambiante. Andrew Gavin Marshall examina a história da banca central bem como várias iniciativas para criar sistemas de divisas regionais e global. Ellen Brown foca a criação de um banco central global e de uma divisa global através do Bank for International Settlements (BIS). Richard C. Cook examina o sistema monetário baseado na dívida como um sistema de controle e apresenta linhas mestras para democratizar o sistema monetário.
A Parte V foca o funcionamento do Sistema Bancário Sombra, o que provocou o colapso dos mercados financeiros em 2008. Os capítulos de Mike Whitney e Ellen Brown descrevem em pormenor como o esquema de Ponzi da Wall Street foi utilizado para manipular o mercado, transferir milhares de milhões de dólares para os bolsos dos banksters.
Estamos em dívida para com os autores pela sua investigação cuidadosamente documentada, análise incisiva e, acima de tudo, pelo compromisso inquebrantável para com a verdade: Tom Burghardt, Ellen Brown, Richard C. Cook, Shamus Cooke, John Bellamy Foster, Michael Hudson, Tanya Cariina Hsu, Fred Magdoff, James Petras, Peter Phillips, Peter Dale Scott, Mike Whitney, Bill Van Auken e Claudia von Werlhof apresentaram, com absoluta clareza, um entendimento dos diversos e complexos processos económicos, sociais e políticos que estão a afectar as vidas de milhões de pessoas por todo o mundo.
Temos uma dívida de gratidão para com Maja Romano da Global Research Publishers, incansavelmente supervisionou e coordenou a edição e produção deste livro, incluindo a ideia criativa da capa. Agradecemos a Andréa Joseph a cuidadosa foto composição do manuscrito e dos gráficos da capa. Também estendemos nossos agradecimentos a Isabelle Goulet, Julie Lévesque e Drew McKevitt pelo seu apoio na revisão e correcção do manuscrito.
TABLE OF CONTENTS
Preface Michel Chossudovsky and Andrew Gavin Marshall
PART I THE GLOBAL ECONOMIC CRISIS
Chapter 1 The Global Economic Crisis: An Overview Michel Chossudovsky
Chapter 2 Death of the American Empire Tanya Cariina Hsu
Chapter 3 Financial Implosion and Economic Stagnation John Bellamy Foster and Fred Magdoff
Chapter 4 Depression: The Crisis of Capitalism James Petras
Chapter 5 Globalization and Neoliberalism: Is there an Alternative to Plundering the Earth? Claudia von Werlhof
Chapter 6 The Economy’s Search for a “New Normal” Shamus Cooke
PART II GLOBAL POVERTY
Chapter 7 Global Poverty and the Economic Crisis Michel Chossudovsky
Chapter 8 Poverty and Social Inequality Peter Phillips
PART III WAR, NATIONAL SECURITY AND WORLD GOVERNMENT
Chapter 9 War and the Economic Crisis Michel Chossudovsky
Chapter 10 The “Dollar Glut” Finances America’s Global Military Build-Up Michael Hudson
Chapter 11 Martial Law, the Financial Bailout and War Peter Dale Scott
Chapter 12 Pentagon and Intelligence Black Budget Operations Tom Burghardt
Chapter 13 The Economic Crisis “Threatens National Security” in America Bill Van Auken
Chapter 14 The Political Economy of World Government Andrew Gavin Marshall
PART IV THE GLOBAL MONETARY SYSTEM
Chapter 15 Central Banking: Managing the Global Political Economy Andrew Gavin Marshall
Chapter 16 The Towers of Basel: Secretive Plan to Create a Global Central Bank Ellen Brown
Chapter 17 The Financial New World Order: Towards A Global Currency Andrew Gavin Marshall
Chapter 18 Democratizing the Monetary System Richard C. Cook
PART V THE SHADOW BANKING SYSTEM
Chapter 19 Wall Street’s Ponzi Scheme Ellen Brown,
Chapter 20 Securitization: The Biggest Rip-off Ever Mike Whitney
* Michel Chossudovsky, Professor (Emérito) de Teoria Económica na Universidade de Ottawa e Director do Centre for Research on Globalization, Montreal, é amigo e colaborador de odiario.info. Andrew Gavin Marshall, que se tem debruçado sobre as estruturas contemporâneas do capitalismo e a história da política económica global, é investigador associado do Centre for Research on Globalization.
 
Este texto foi originalmente publicado em
www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=19025

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Capitalismo em crise....

O medo dos europeus. E dos Estados Unidos

Fears Intensify That Euro Crisis Could Snowball
por NELSON D. SCHWARTZ e ERIC DASH


Do New York Times (em inglês, aqui) via Viomundo

Depois de uma breve pausa que se seguiu ao anúncio na semana passada de um plano de ajuda de 1 trilhão de dólares da Europa, o medo nos mercados financeiros está crescendo novamente, desta vez com preocupações com o fato de que os grandes bancos continentais vão enfrentar dificuldades que poderão prejudicar as economias europeias.
Num sinal de profunda ansiedade, o euro caiu na sexta-feira a seu ponto mais baixo desde o início da crise financeira, quando investidores abandonaram a moeda, assim como ações, em favor de ouro e de outros bens que oferecem mais segurança.
Nas negociações de segunda de manhã, o euro caiu de novo, chegando num momento e atingir um patamar recorde de quatro anos em relação ao dólar.
O presidente do Banco Central europeu, Jean-Claude Trichet, numa entrevista publicada sábado, advertiu que a Europa está diante de “severas tensões” e que os mercados estão frágeis.
Para os bancos europeus, os problemas são duplos. Os custos de empréstimos de curto prazo estão aumentando, o que poderia levar as instituições a evitar novos empréstimos ou se desfazer dos antigos, ameaçando o crescimento econômico.
Ao mesmo tempo, instituições mais seguras em economias sólidas como a França e a Alemanha tem grande quantidade de ações de seus vizinhos trêmulos, como Espanha, Portugal e Grécia.
Os investidores temem que com muitos governos sob o peso de grandes déficits, a dívida das nações mais fracas que usam o euro como moeda terá de ser reestruturada, reduzindo profundamente o valor de seus papéis. Isso acertaria duramente as instituições financeiras europeias e poderia ricochetear em todo o sistema bancário global.
Papéis ligados aos bancos europeus perderam valor na sexta-feira por causa deste temor, e Wall Street seguiu. As ações também cairam em Tóquio e na Austrália no início dos negócios da segunda-feira.
“Este resgate não foi feito para salvar os gregos; foi feito para ajudar os bancos franceses e alemães”, disse Niall Ferguson, um historiador de economia de Harvard. “Jogaram alguma água no fogo, mas o fogo não foi extinto”.
O plano de resgate europeu, totalizando 750 bilhões de euros, tem o objetivo de evitar o risco de quebra, mas aumentaria vastamente os empréstimos. Isso poderia impedir a nascente recuperação econômica da Europa.
Na verdade, foram as dívidas que causaram o problema inicial: um novo relatório do Fundo Monetário Internacional adverte que “os altos graus de endividamento público poderiam pesar no crescimento econômico por anos”.
O déficit mundial como porcentagem do PIB está em 6%, quando estava em apenas 0,3% antes da crise financeira. Se o endividamento público não for reduzido ao nível de antes da crise, diz o relatório do FMI, o crescimento econômico das economias avançadas poderia cair 0,5 ponto percentual anualmente.
Mas nem todas as tendências são negativas. Um euro mais baixo vai tornar as exportações europeias — sejam os automóveis alemães ou os objetos de couro italianos — mais competitivos em todo o mundo.  E a Grécia, a Espanha e Portugal tomaram medidas de austeridade na semana passada para reduzir os seus déficits orçamentários.
Esses passos não foram suficientes para prevenir o sumiço de dinheiro dos fundos “money market”, uma esquina pouco notada mas crucial do sistema financeiro na qual os investidores americanos oferecem mais de 500 bilhões de dólares em empréstimos para que os bancos europeus financiem suas operações diárias.
O dinheiro vem de fundos conservadores que controlam a poupança de grandes corporações dos Estados Unidos e de consumidores individuais.
Até agora, o pacote de resgate proposto não conseguiu reduzir a preocupação destes fundos, que cortaram os empréstimos para os bancos europeus e estão exigindo maiores taxas de juros e repagamento mais rápido.
“Mais gente está tomando decisões de sim ou não para cair fora deste mercado e manter o dinheiro mais perto de casa”, disse Lou Crandall, o economista-chefe do Wrightson ICAP, uma empresa de pesquisa do mercado.
Inicialmente, foram os bancos gregos e portugueses que foram desprezados pelos investidores americanos. Mas nas últimas duas semanas os grandes bancos da Espanha, da Irlanda e da Itália tiveram dificuldades para assegurar empréstimos de curto prazo dos Estados Unidos por causa do aumento da ansiedade.
Na sexta-feira, mesmo os bancos de sólidas economias europeias, na França, Alemanha e Holanda, foram afetados, de acordo com corretores e analistas de mercado.
“Os investidores estão esperando para ver se o pacote de estabilização é de fato adotado”, disse Alex Roever, um analista da J.P. Morgan Securities.
“Enquanto os investidores sentem a situação, ficamos pendurados no limbo”.
Por causa do recuo dos investidores americanos, a taxa que os bancos cobram uns dos outros para empréstimos, conhecida como Libor para London Interbank Offered Rate, tem subido constantemente. E a importância da Libor vai muito além da Europa: é a taxa que ajuda a determinar as taxas de juros em muitos empréstimos imobiliários e nos cartões de crédito dos consumidores dos Estados Unidos.
As taxas de empréstimo dos bancos ainda estão bem abaixo do ápice da crise financeira. Temor de que os problemas da Europa façam efeito nos Estados Unidos, no entanto, levou o Banco Central americano a retomar linhas de crédito para o Banco Central Europeu e outros bancos centrais em conjunção com o pacote de resgate europeu anunciado uma semana atrás.
A medida garantiu que as instituições europeias poderão tomar dólares para emprestar a seus clientes, mas isso é mais caro do que contar com o dinheiro de investidores privados.
“Não fizemos isso por amor especial à Europa”, Narayana R. Kocherlakota, o presidente do Banco Central de Minneapolis, disse a um grupo de pequenos empresários de Wisconsin na quinta-feira. “Somos autoridades dos Estados Unidos  e tomamos decisões para manter a economia americana forte”. No entanto, ele disse, “os problemas de liquidez nos mercados europeus podem criar problemas perigosos de falta de liquidez em nossos próprios mercados financeiros”.
Não é o único dominó que pode cair.
Se a exposição direta de bancos americanos à Grécia é mínima, as instituições financeiras dos Estados Unidos estão fortemente interligadas a grandes bancos europeus, os quais tem grandes investimentos nas nações mais fracas da Europa.
Por exemplo, os bancos portugueses devem 86 bilhões de dólares a bancos da Espanha, que por sua vez devem 238 bilhões a bancos alemães e 220 bilhões de dólares a bancos franceses. Os bancos americanos também controlam grande quantidade de dívida de bancos espanhóis,  cerca de 200 bilhões de dólares, de acordo com o Banco de International Settlements, uma organização global que serve a bancos centrais.
Além disso, os formuladores das políticas financeiras se encontram quase sem armas em seu arsenal.
Depois de emprestar trilhões para estimular suas economias e acabar com as preocupações de crédito durante a última onda de medo no fim de 2008 e início de 2009, os governos não podem emprestar outros trilhões sem causar inflação e atropelar outros emprestadores, como indivíduos e companhias. As taxas de juros de curto prazo, próximas de zero nos Estados Unidos, não podem mais ser reduzidas. E passos vitais como o aumento de impostos ou corte de investimentos poderiam atrapalhar o início da recuperação econômica do norte da Europa e piorar a situação de economias em dificuldades como a da Espanha, onde o desemprego recentemente ultrapassou 20%.
Com a exceção dos tempos de guerra, “as finanças públicas da maioria dos países industriais avançados estão em estado pior hoje do que em qualquer outro período desde a revolução industrial”, Willem Buiter, o principal economista do Citibank, escreveu em um relatório recente.

“Restaurar o equilíbrio financeiro vai emperrar o crescimento por muitos anos”.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Crise...


Ações nos bastidores
por Silvio Caccia Bava
Estamos entrando em um período de grandes mudanças. E são sinais dos tempos ouvir que o Fundo Monetário Internacional quer regular e taxar a circulação internacional dos capitais. Mesmo os grandes bancos privados começam a se dar conta, porque vários quebraram, que deixados à sua sina caminham para uma disputa alucinada e para a própria destruição.
Por outro lado, avaliações do impacto da crise nos diferentes países ressaltaram o importantíssimo papel que tiveram os bancos públicos, com uma ação coordenada, para enfrentar esse cenário adverso. Países como a Índia, que nacionalizou seus bancos, ou o Brasil, que tem quase metade do seu sistema financeiro público, sofreram menos por disporem desses recursos públicos e da capacidade de gestão para mobilizá-los na crise. 
Abre-se, assim, um debate represado há muitos anos, que hoje conta com uma maior audiência: o do controle público sobre o sistema financeiro nacional e internacional e as transações financeiras internacionais. Dito de outra forma, mais abrangente: a crise abriu a possibilidade de se instituir novos controles democráticos sobre a economia.
No auge da crise foram eles, os principais agentes financeiros privados, que desenharam o pacote de ajuda do governo estadunidense a si próprios. E aceitaram, pelo impacto social enorme de suas próprias ações, pelos efeitos sociais perversos da crise, pelas questões de governabilidade, debater um novo pacto de regulação do sistema financeiro, incluindo um maior controle sobre os paraísos fiscais.
As últimas estimativas são de que, globalmente, foram destinados mais de US$ 13 trilhões de recursos públicos para salvar as grandes corporações privadas. Nunca havia se visto tanta riqueza mobilizada do dia para a noite. Como essas grandes corporações foram capazes de impulsionar, com tamanha rapidez, tantos recursos públicos no seu interesse privado?
John Dewey, um dos mais proeminentes filósofos americanos do século XX, concluía que a política em nossos países é definida, nos bastidores, pelas grandes corporações, e que vai continuar sendo assim enquanto o poder residir nos negócios orientados para o lucro, através do controle privado dos bancos, da terra, da indústria, reforçado pelo comando da imprensa, dos jornalistas e de outros meios de publicidade e propaganda.1
O neoliberalismo dos anos 1990 fez mais. Construiu todo o arcabouço legal e institucional para que a política não tocasse na economia, não tocasse nos interesses “do mercado”. Políticas como a de um Banco Central independente são expressão dessa engenharia institucional. 
No Brasil, dinheiro e poder continuam associados, mas temos tido avanços nas dimensões republicana e democrática das ações do poder público. Há uma ação mais efetiva do sistema judiciário e da polícia federal no combate à corrupção na política, que acabou por afastar governadores, executivos e parlamentares dos cargos, acusados de uso privado do dinheiro público, de captação ilícita de recursos para campanhas eleitorais, de favorecimentos a empresas em licitações para obras e serviços públicos. Mas, apesar desses avanços, não se tem notícia da penalização das empresas envolvidas – supostamente, os agentes corruptores. Há também várias iniciativas da sociedade civil, que vão desde a defesa de uma reforma política até o projeto de lei que impede a candidatura de pessoas condenadas pela Justiça, batizado de Ficha Limpa, apresentado ao Congresso como projeto de lei de iniciativa popular, respaldado por 1,5 milhão de assinaturas.
A abordagem mais comum para tratar do tema dos abusos do poder econômico na arena da política acaba por acusar a natureza humana – e os políticos de maneira geral – por se deixar seduzir pelo dinheiro. Esquecem do que Dewey aponta como “as ações nos bastidores”, que são constitutivas mesmo do modo de fazer política das grandes corporações.
Pois o que está em questão agora é justamente a possibilidade de um novo desenho institucional, da realização de um novo pacto, no qual, em nome do interesse de todos, os atores econômicos passam a atuar nos marcos de um planejamento público e um controle democrático. Serão novos paradigmas de produção e consumo, serão novas formas de exercício da democracia e do controle social incidindo sobre os poderes públicos e os atores econômicos.
Ainda que as lutas sociais tenham ampliado, ao longo do tempo, o que hoje entendemos por democracia, o reconhecimento de direitos e a extensão de políticas sociais, na dimensão propriamente política parece não ter havido grandes avanços. A pergunta continua sendo como garantir que a democracia controle a economia – e não o contrário.
Para que essa política dos bastidores e a corrupção na política possam ser superadas, as regras do jogo precisam mudar. O financiamento das campanhas eleitorais está no centro desse debate. E se adotássemos, por exemplo, as regras de financiamento de campanhas eleitorais de Quebec, no Canadá, onde todos os candidatos têm um teto para a arrecadação de contribuições? Ou o financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais, proibindo as contribuições do setor privado?
O tema central do pacto pode ser o de tirar a política dos bastidores e trazê-la para o centro do espaço público, apaziguar a sociedade brasileira, promover a redução da enorme desigualdade social, a redução da violência em nossa sociedade e garantir a extensão das políticas públicas de qualidade por todo o território.
Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.

1 Citado por Noam Chomsky à pág. 206 em Failed States, Metropolitan Books, NY, 2006.

Luta contra a Homofobia...

Marcha contra a homofobia reunirá manifestantes de todo o Brasil

Image CNTE estará no evento com a campanha Respeito à Diversidade e Educação Andam Juntos
 
 
Nesta quarta-feira (19), Brasília vai ser palco da 1ª Marcha Nacional Contra a Homofobia e o 1° Grito Nacional pela Cidadania LGBT. Segundo a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), organizadora do evento, a mobilização deve reunir, a partir das 9h, cerca de 1500 pessoas de todos os estados, na Esplanada dos Ministérios. A Marcha celebra o Dia Internacional de Combate à Homofobia (17 de maio) e traz à tona grandes reivindicações da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).

  “Queremos combater o fundamentalismo religioso, defender o estado laico (sem interferência da religião), mobilizar pela aprovação do Projeto de Lei 122/2006 – da senadora Fátima Cleide (PT-RO), que torna crime a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero –, exigir cumprimento do Plano Nacional LGBT e pressionar o julgamento de várias Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIn) pelos direitos da categoria”, declara o presidente da ABGLT,  Tony Reis.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação convidou suas entidades afiliadas para participarem do evento e reforçar a campanha Respeito à Diversidade e Educação Andam Juntos. “A maioria dos integrantes do Coletivo Nacional de Diversidade Sexual da CNTE, que tem o objetivo de diminuir o preconceito nas escolas, participará da Marcha”, informa o secretário de Políticas Sindicais da CNTE, José Carlos Prado, o Zezinho. 

De acordo com a ABGLT, 40% dos adolescentes não gostariam de estudar com um gay, uma lésbica ou um travesti. “Funcionários e professores nunca tiveram uma formação específica para saberem lidar com a diversidade sexual em sala. Isso contribui para o aumento do preconceito no ambiente escolar, incentivando o abandono das escolas por homossexuais. E os culpados por essa negligência são os governantes”, lamenta Zezinho.

De segunda (17) a quarta-feira (19), a ABGLT se reúne com 12 ministros de Estado, incluindo Fernando Haddad, da Educação. O encontro com o MEC será nesta terça-feira (18), a partir das 16h. “Vamos cobrar do MEC como a diversidade sexual será discutida no ensino básico e superior. Queremos  a inserção de materiais didáticos nas instituições para trabalhar a questão LGBT de forma científica e sem preconceitos e incluir no currículo uma disciplina sobre o respeito à diversidade humana”, defende Tony.

Ser gay não é doença
O Dia Internacional de Combate à Homofobia foi instituído em 17 de maio por causa de uma decisão histórica da Organização Mundial da Saúde. Há 20 anos, nessa mesma data, a OMS tirou a Homossexualidade da sua lista de doenças mentais. Desde então, também não se usa o termo “homossexualismo”, já que o prefixo “ismo” se remete a uma enfermidade.

Fonte: CNTE, 17/05/2010