domingo, 19 de setembro de 2010

Michael Hudson: “Modelo econômico dos EUA está falido”


Segundo o economista norte-americano, os EUA impulsionaram um modelo econômico que está falido e, com o advento da mais recente crise econômica global, cabe agora aos países que compõem o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) usar sua força conjunta para colocar em marcha um modelo alternativo: “Quando o EUA diz que os países do Bric ainda têm espaço para aumentar suas dívidas, o que quer dizer é que estes países ainda têm minas que podem ser vendidas e ainda têm florestas que podem ser cortadas. Nos próximos anos, o Norte vai fazer o máximo possível para pegar os seus recursos”, disse Hudson, durante seminário promovido pelo CDES em Brasília.

BRASÍLIA - “No cinema, nós já tínhamos o Michael Moore. Agora, na economia, temos o Michael Hudson”. A brincadeira feita pelo conselheiro Jacy Afonso de Melo revela o impacto causado pela intervenção do economista e professor da Universidade do Missouri na quinta-feira (16), durante sua participação em um seminário internacional promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) em Brasília. Hudson, um ex-economista de Wall Street, mereceu repetidos aplausos dos participantes do seminário ao apresentar, assim como o xará cineasta, um ponto de vista ácido e crítico sobre o modelo econômico de seu país.

Segundo o economista norte-americano, os Estados Unidos impulsionou “um modelo econômico que está falido” e, com o advento da mais recente crise econômica global, cabe agora aos países que compõem o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) usar sua força conjunta para colocar em marcha um modelo alternativo: “Quando o EUA diz que os países do Bric ainda têm espaço para aumentar suas dívidas, o que quer dizer é que estes países ainda têm minas que podem ser vendidas e ainda têm florestas que podem ser cortadas. Nos próximos anos, o Norte vai fazer o máximo possível para pegar os seus recursos”, disse Hudson, em uma de suas muitas frases de impacto.

Hudson afirmou que o governo norte-americano passou 50 anos obrigando os países em desenvolvimento a contrair empréstimos que, na verdade, tinham como objetivo principal a criação de uma infra-estrutura que facilitasse a exportação de grãos, minério e outras matérias-primas para os EUA: “Mais tarde, em sua fase neoliberal, o governo dos EUA perguntou: por quê vocês, para pagar as dívidas que contraíram conosco, não vendem as estradas e portos que construíram com o dinheiro que emprestamos?”, concluiu.

Instituições como o FMI e o Banco Mundial, na visão de Hudson, foram criadas com o objetivo de fazer com que os países em desenvolvimento dependessem dos EUA. Segundo o economista, a adoção do dólar como moeda de parâmetro para a economia mundial foi, ao lado do que qualificou como “dependência militar”, o principal fator de fortalecimento para a hegemonia norte-americana: “Por isso, os Brics podem criar novas estruturas econômicas que não sejam baseadas no poder militar dos EUA”, disse.

Hudson citou o exemplo da China, “a quem os EUA só deixam gastar sua riqueza para comprar bônus do Tesouro americano”, para afirmar que o Brasil, fortalecido pela travessia sem grandes traumas da crise econômica global, pode seguir outro caminho: “O Brasil pode criar os seus próprios créditos, e vocês não precisam de moeda estrangeira para fazer a economia funcionar”.

Novo sistema financeiro
Além de Michael Hudson, outros palestrantes estrangeiros analisaram a conjuntura econômica mundial. Também norte-americano e pesquisador da Universidade do Missouri, Larry Randall Wray pregou a necessidade de criação de um novo sistema financeiro internacional: “Esse sistema deve ter um mecanismo de pagamento sólido e seguro, promover empréstimos menos longos, adotar um mecanismo de financiamento imobiliário sólido e um ativo de capitais a longo termo”, disse Wray, acrescentando que “esses ajustes não precisam ser feitos necessariamente pelo setor privado”.

Diretor do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), Xavier Timbeau defendeu a adoção de programas de renda-mínima pelos países em desenvolvimento: “Precisamos adotar novos indicadores de riqueza que não sejam meramente econômicos. Não digam que para reduzir a pobreza basta aumentar o crescimento da economia” disse o economista francês.

O economista mexicano Julio Boltvinick também sugeriu “uma abordagem crítica sobre o paradigma dominante que reduz o bem-estar humano ao bem-estar econômico” e defendeu a adoção de novos conceitos de bem-estar: “Riqueza por si só gera poder, mas não gera necessariamente bem-estar”. Boltvinick defendeu ainda a criação de um índice de progresso social e a adoção de um indicador de tempo livre como formas de medir a desigualdade social em cada país: “Uma sociedade justa tem um tempo livre igualitário”.

PARA QUE O POVO BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

Fabio Konde Comparato no ConversaAfiada


Dentro de poucos dias realizaremos, mais uma vez, eleições em todo o país. Elas coincidirão com o 22º aniversário da promulgação da atual Constituição. Quer isto dizer que já vivemos em plena democracia?


Nada mais ilusório. Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.


Povo, o grande ausente

Quando Tomé de Souza desembarcou na Bahia, em 1549, munido do seu famoso Regimento do Governo, e flanqueado de um ouvidor-mor, um provedor-mor, clero e soldados, a organização político-administrativa do Brasil, como país unitário, principiou a existir. Tudo fora minuciosamente preparado e assentado, em oposição ao descentralismo feudal das capitanias hereditárias. Notava-se apenas uma lacuna: não havia povo. A população indígena, estimada na época em um milhão e meio de almas, não constituía, obviamente, o povo do novel Estado; tampouco o formavam os 1.200 funcionários – civis, religiosos e militares – que acompanharam o Governador Geral.


Iniciamos, portanto, nossa vida política de modo original: tivemos Estado, antes de ter povo. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.


Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:


“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.


Quase às vésperas de nossa Independência, esse estado de incapacidade absoluta do povo afigurava-se, paradoxalmente, não como um defeito político, mas como uma exigência de ordem pública. Em maio de 1811, o nosso primeiro grande jornalista, Hipólito José da Costa, fez questão de lançar nas páginas do Correio Braziliense, editado em Londres, uma severa advertência contra a eventual adoção no Brasil do regime de soberania popular:


“Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más conseqüências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo.”


A nossa independência, que paradoxalmente não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, ao contrário, do povo português contra o rei no Brasil, não suscitou o menor entusiasmo popular. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire pôde testemunhar: “A massa do povo ficou indiferente a tudo, parecendo perguntar como o burro da fábula: – Não terei a vida toda de carregar a albarda ? ”


A mesma cena, com personagens diferentes, é repetida 67 anos depois, na proclamação da república. “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava“, lê-se na carta, tantas vezes citada, de Aristides Lobo a um amigo. “Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.”


O disfarce partidário-eleitoral


Mas afinal, era preciso pelo menos fazer de conta que o povo existia politicamente. Para tanto, os grupos dominantes criaram partidos e realizaram eleições. Mas tudo sob forma puramente teatral. O povo tem o direito de escolher alguns atores, mas nunca as peças a serem exibidas. Os atores não representam o povo, como proclamam as nossas Constituições. Eles tampouco representam seu papel perante o povo (sempre colocado na platéia), mas atuam de ouvidos atentos aos bastidores, onde se alojam os “donos do poder”.


No Império, Joaquim Nabuco qualificava a audácia com que os partidos assumiam suas pomposas denominações como estelionato político. Analogamente no início da República, o fato de a lei denominar oficialmente eleições as “mazorcas periódicas”, como disse Euclides da Cunha, constituia “um eufemismo, que é entre nós o mais vivo traço das ousadias de linguagem”.


A Revolução de 1930 foi feita justamente para pôr cobro às fraudes eleitorais. Mas desembocou, alguns anos depois, na ditadura do “Estado Novo”, que suprimiu as eleições, sem no entanto dispensar a clássica formalidade da outorga à nação (já não se falava em povo) de uma nova “Constituição”.


Após o término da Segunda Guerra Mundial, em que muitos dos nossos pracinhas tiveram suas vidas ceifadas na luta contra o nazifascismo, fomos moralmente constrangidos a iniciar uma nova vida política, sob o signo da democracia representativa. Mas a legitimidade desta durou pouco tempo. Já em 7 de março de 1947, ou seja, menos de cinco meses depois de promulgada a nova Constituição, o Partido Comunista foi extinto por decisão judicial ( nesta terra, a balança da Justiça sempre cedeu aos golpes da espada). Em fevereiro de 1954, com o “manifesto dos coronéis”, teve início a preparação do golpe militar de 1964. O estopim para deflagrá-lo foi a iminência de que as forças de esquerda chegassem eleitoralmente ao poder e executassem o programa das “reformas de base”, com o desmantelamento econômico da oligarquia.


Obviamente, para os nossos grupos dominantes, os cidadãos podem votar como quiserem nas eleições, mas desde que se lembrem de que “nasceram para mandados e não para mandar”, segundo a saborosa expressão camoniana.


O regime autoritário, instaurado em 1964 pela caserna, com o apoio do empresariado, dos latifundiários e da Igreja Católica, sob a proteção preventiva do governo norte-americano, reconheceu que a assim chamada “Revolução Democrática” não poderia suprimir as eleições e os partidos. Manteve-os, portanto, mas reduzidos à condição de simples fantoches. Era a “democracia à brasileira”, como a qualificou o General que prendeu o grande Advogado Sobral Pinto. Ao que este retrucou simplesmente: “General, eu prefiro o peru à brasileira”.


O regime de terrorismo de Estado foi devidamente lavado pelo Poder Judiciário, que decidiu anistiar, com as lamentações protocolares, os agentes públicos que mataram, torturaram e estupraram milhares de oponentes políticos.


Chegamos à fase atual, em que as eleições já não incomodam os oligarcas, porque mantém tudo exatamente como dantes no velho quartel de Abrantes. O povo pode até assistir, indiferente ou risonho, uma campanha presidencial, em que os principais candidatos dão-se ao luxo de não discutir um só projeto ou programa de governo, preferindo ocupar todos os espaços da propaganda oficial com chalaças ou sigilos.


Tudo parece, assim, ter entrado definitivamente nos eixos. Um olhar atento para a realidade política, porém, não deixará de notar que a nossa tão louvada democracia carece exatamente do essencial: a existência de um povo soberano.


Iniciamos nossa vida política, sem povo. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir.


Sem dúvida, a Constituição oficial declara, solenemente, que “todo poder emana do povo”, acrescentando que ele o exerce “por meio de representantes eleitos ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas toda a classe política sabe – e o Poder Judiciário finge ignorar – que na realidade “todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem em nome do povo, por meio dos representantes por este eleitos”.


Daí a questão inevitável: o que fazer para mudar esse triste estado de coisas?


A emancipação política do povo brasileiro


É preciso atacar desde logo o ponto principal.


A soberania, na Idade Moderna, consiste, antes de tudo, em aprovar a Lei das Leis, isto é, a Constituição. Trata-se de uma prerrogativa que só pode ser exercida diretamente. Quem delega o seu exercício a outrem está, na realidade, procedendo à sua alienação. O chamado “poder constituinte derivado” é, portanto, um claro embuste.


Ora, neste país, Constituição alguma, em tempo algum, jamais foi aprovada pelo povo. Todas elas foram votadas e promulgadas por aqueles que se diziam, abusivamente, representantes do povo; quando não foram simplesmente decretadas pelos ocupantes do governo.


O mesmo ocorre com as emendas constitucionais. A Constituição Federal em vigor, por exemplo, já foi emendada (ou remendada) 70 (setenta) vezes em 22 anos; o que perfaz a apreciável média de mais de 3 emendas por ano. Em nenhuma dessas ocasiões, o povo foi convocado para dizer se aceitava ou não tais emendas.


Isto, sem falar no fato absurdo de que a Constituição Federal, ao contrário de várias Constituições Estaduais, não admite a iniciativa popular de emendas ao seu texto.


É preciso, pois, começar a reforma política (alguns preferem dizer a “Revolução”), reservando ao povo o poder nuclear de toda soberania. No nosso caso, ele consiste em aprovar, diretamente, não só a Constituição Federal, como também as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, bem como suas subsequentes alterações respectivas.


Em segundo lugar, é indispensável reconhecer ao povo o direito de decidir, por si mesmo, mediante plebiscitos e referendos, as grandes questões que dizem respeito ao bem comum de todos. A Constituição Federal  declara, em seu art. 14, que o plebiscito e o referendo, tal como o sufrágio eleitoral, são formas de exercício da soberania popular. Mas determina, no art. 49, inciso XV, que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscitos e convocar referendos”. Ou seja, o mandante somente pode manifestar validamente a sua vontade, se houver concordância dos mandatários. Singular originalidade do direito brasileiro!


Para corrigir esse despautério, a Ordem dos Advogados do Brasil, por proposta do autor destas linhas, apresentou anteprojetos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (transformados no projeto de lei nº 4.718/2004 na Câmara dos Deputados e projeto de lei nº 001/2006 no Senado), pelos quais o plebiscito e o referendo podem ser realizados mediante iniciativa do próprio povo, ou por requerimento de um terço dos membros da Câmara ou do Senado.


A proposta da OAB procurou harmonizar os dispositivos antagônicos da Constituição Federal, interpretando a autorização e a convocação de plebiscitos e referendos, pelo Congresso Nacional, como atribuições meramente formais e não de mérito.


Previram ainda os anteprojetos da OAB novos casos de obrigatoriedade na realização de plebiscitos e referendos.


Assim é que, para impedir a repetição da “privataria” do governo FHC, passaria a ser obrigatório o plebiscito para “a concessão, pela União Federal, a empresas sob controle direto ou indireto de estrangeiros, da pesquisa e da lavra de recursos minerais e do aproveitamento de potenciais de energia hidráulica”; bem como para a concessão administrativa, pela União, de todas as atividades ligadas à exploração do petróleo.


Quanto aos referendos, a fim de evitar o absurdo da legislação eleitoral em causa própria, determinam os projetos de lei citados a obrigatoriedade de serem referendadas pelo povo todas as leis sobre matéria eleitoral, cujo projeto não tenha sido de iniciativa popular.


Inútil dizer que tais projetos de lei acham-se devidamente paralisados e esquecidos em ambas as Casas do Congresso.


Para completar o quadro de transformação da soberania popular retórica em poder supremo efetivo, tive também ocasião de propor duas medidas indispensáveis em matéria eleitoral. De um lado, o financiamento público das campanhas; de outro lado, a introdução do recall ou referendo revocatório de mandatos eletivos, proposta também pela OAB e objeto da emenda constitucional nº 073/2005 no Senado Federal. Assim, o povo assumiria plenamente a posição de mandante soberano: ele não apenas elegeria, mas também teria o direito de destituir diretamente os eleitos. Para os que se assustam com tal “excesso”, permito-me lembrar que o recall já existe e é largamente praticado em 19 Estados da federação norte-americana.


Não sei se tais medidas tornar-se-ão efetivas enquanto eu ainda estiver neste mundo. O que sei, porém, com a mais firme das convicções, é que sem elas o povo brasileiro continuará a viver “deitado eternamente em berço esplêndido”, sem condições de se pôr de pé, para exigir o respeito devido à sua dignidade.



(*) Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.

Gremio de periodistas demanda a proteção a repórteres


Prensa Latina
Imagen activa A Federação de Associações de Jornalistas de México (FAPERMEX) exigiu novamente às autoridades federais que se garantam as liberdades de expressão, depois da agressão sofrida por duas repórteres do Diário de Cidade Juárez.

  A pedido de FAPERMEX, a propósito da morte do jovem repórter gráfico Luis Carlos Santiago e as feridas de balas sofridas por seu colega Carlos Manuel Sánchez, somou-se hoje a Federação Latinoamericana de Jornalistas (FELAP), com sede nesta capital.

Ambas organizações avaliaram como uma agressão covarde, premeditada e aleivosa cometida na Cidade Juárez, estado do norte de Chihuahua, contra os dois jovens profissionais praticantes de 21 e 22 anos de idade.

FAPERMEX argumentou que este novo homicídio poderia tratar de um crime de caráter político, devido às denúncias impulsionadas em Chihuahua por Afasto da Rosa, do mesmo jornal e filho do visitante da Comissão Estatal de Direitos Humanos, quem também tem denunciado atos delitivos do crime organizado ali.

As duas organizações dos profissionais da imprensa recordaram que este é o segundo atentado contra jornalistas do Diário em menos de dois anos, depois do assassinato do repórter Armando Rodríguez, 13 de novembro de 2008.

O vice-presidente da FELAP, Teodoro Renderia, manifestou à Prensa Latina que ante feitos como estes se deve demandar com energia que sejam castigados os autores do assassinato e solicitou o apoio a seus pronunciamientos de todos os jornalistas da América Latina e do Mundo.

Por sua vez, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), informou que com o homicídio de Luis Carlos Santiago se elevou a 65 o número de jornalistas assassinados no México desde o ano 2000.

Acrescentou que só no atual sexenio de governo se registrou o desaparecimento de 12 jornalistas e 16 atentados contra instalações de meios de comunicação do país.

Essa entidade nacional pediu em um comunicado difundido às autoridades federais pesquisar e esclarecer o atentado onde resultou morto o comunicador e gravemente ferido seu colega.

A CNDH demandó por sua vez a todos os níveis de governo do país levar a cabo ações para evitar fatos dessa natureza, já que quando um jornalista sofre um agravo, de maneira indireta se vulnera o direito à informação de toda a sociedade.
 

sábado, 18 de setembro de 2010

Brilhantes Páginas na História da Medicina Árabe

A medicina foi uma das primeiras ciências que apareceram na civilização árabe islâmica, depois da ciência da religião e da própria língua árabe.
A evolução da medicina árabe e sua prosperidade são lembradas em várias ocasiões, o próprio profeta Maomé (Muhammad) diz: “Oh servos de Deus que estão doentes, o Deus poderoso não permitiu doença sem que a mesma tenha cura, aprenda de seu conhecimento e ignore a ignorância.” E disse o Imã AL shafaay: “Não conheço ciência, depois do Halal e do Haram (ciências da religião), mais nobre que a medicina.”
Dois médicos apareceram no seio do Islam, AL Hareth Ben kaldeh AL thaqafi e seu filho AL Nadir, da cidade de AL Taef. AL Hareth gozava de enorme prestígio e era chamado de “Médico dos Árabes”. Acompanhou o tratamento de importantes nomes como Saad ben Abi Waqas, conquistando para a medicina a atenção de Califas e Emires Omíadas e Abássidas,  o que constituiu um importante fator para o desenvolvimento e prosperidade da medicina.
Outro importante fator que ajudou a fazer a medicina árabe prosperar foi a tradução para a língua árabe de textos dos mais variados campos da medicina de outras civilizações, especialmente o que foi traduzido da medicina grega dos volumes de Hipócrates e Galeno, entre outros. Os grandes médicos , árabes e muçulmanos, eram unidos pela estrutura do conhecimento entre a filosofia e a medicina, assim como os médicos gregos.  Portanto a Filosofia era a origem e o critério para os médicos de então, o que fez com que tivessem uma visão holística do ser humano, capacitando–os acessar todos os elementos da estrutura humana com parte do sistema da medicina, pesquisando e elaborando o mecanismo de interação entre estes elementos.
Os filósofos árabes e muçulmanos até o século V da Higra (século XI d.C), acreditavam que a medicina não é uma ciência por sim mesma, sendo o estudo filosófico componente indispensável para que se tornasse completa. E talvez isto nos esclareça a razão da afirmação do filósofo AL Farabi (932 d.C), (Medicina Aplicada), no livro “Estatístico das Ciências” de que segundo a tradição árabe, ser filósofo era condição para ser médico, sendo uma característica árabe a distinção entre o Médico e alguém que praticava apenas o ato de “medicar”. O médico era considerado “sábio”, pois além de deter a técnica da medicina , detinha também o conhecimento filosófico, diferentemente de quem se utilizava apenas da técnica médica. Não há dúvidas de que feitos de médicos árabes e mulçumanos como Al Razi, Ibn Sina (Avicena) e Eben Rachid, dentre outros, os projetaram ao topo da história da civilização humana.
O Senso Crítico
Para construir uma clara imagem na história da medicina árabe, os médicos árabes se utilizaram do senso crítico. As traduções do grego, entre outras línguas, foi um fator relevante no início de sua ascensão, no entanto rapidamente assimilaram seu criticismo e corrigiram seus excessos, numa época em que ninguém ousaria criticar as opiniões dos médicos gregos como Hipócrates e Galeno. O médico árabe Dr. AL Razi (926 d.C ), no seu livro intitulado “Dúvidas sobre Galeno”, respondeu aos que o contestavam em sua crítica a Galeno dizendo:  Aquele que não ousa se utilizar da crítica, não pode ser considerado filósofo.
Também Ibn Sina no livro “Estatuto da Medicina” aponta várias contradições na medicina de Galeno; Por outro lado, Ibn Nafis , não hesitou em citar no livro “Estudo da Anatomia” o trabalho crítico de Galeno no campo da anatomia, e sua importância quanto à afirmação do senso crítico que guiou a medicina árabe a uma evidente independência dos conceitos da medicina grega.
Totalitarismo
A idéia que se destaca na medicina árabe totalitarista é a relação entre o que é material e o que é moral ou psicológico na vida humana, a chamada relação dialética. A medicina grega focava primeiramente nas causas físicas da doença, a medicina indiana nas causas mentais e psicológicas da doença, já a medicina árabe considera os dois lados juntos, com a mesma importância. Se o médico, por exemplo, falha no diagnóstico material, busca analisar também o lado psicológico. Há vários volumes psiquiátricos nos acervos da literatura médica árabe.
O médico “yohanna ben massouih” classificou em seu livro intitulado “ al Malikhouliah “ causas, sintomas e tratamentos. Assim como “Honein Ben Ishaac” também escreveu no livro intitulado “Tadbeer El Soudauin” e Al Razi, especialista em psiquiatria, escreveu o livro “A medicina Psiquiátrica” e continuou na mesma linha no livro “AL mansouri”, que trata das enfermidades do corpo ao mesmo tempo em que trata da alma.  Tais livros demonstram na história da medicina, o quão avançado estava à medicina árabe na área da psiquiatria.
Fairawoi Ibn Abi Asibah , enfatizou as habilidades de Ibn Sina neste campo ao relatar: “certo dia Ibn Sina (Avicena) me chamou a atenção para falar de um paciente que após o exame clínico teve certeza de que não sofria de nenhum mal físico, mas sim de males psicológicos. Ibn Sina mandou chamar o homem que conhecia todos os bairros da cidade e suas ruas, fez então que enumerasse todos os bairros da cidade, nome por nome, enquanto isso Ibn Sina media o pulso do paciente, sentia a variação da pulsação e percebia as mudanças na sua expressão. Durante o exame notou que o paciente era afetado quando ouvia o nome de um bairro em especial na cidade. Então Ibn Sina mandou que mencionasse os nomes das ruas daquele bairro até descobrir exatamente a rua que afetava o paciente... E assim por diante até chegar a mencionar a lembrança das casas e seus moradores individualmente, chegando ao nome de certa mulher. Então Ibn Sina concluiu que aquele homem a amava, e o tratamento ideal seria que se casasse com ela, somente assim, se curaria”.
A Tolerância e a Medicina
A tolerância sempre foi um feito essencial da sociedade árabe islâmica, em especial no campo da medicina, profissão que não pode ser restrita à religião, raça ou sexo, mas estudada e exercida para todos os que vivem nas regiões árabes, não importando quem seja o paciente.
Trabalharam nos califados Omíadas e Abássidas médicos de diversas nacionalidades e religiões, todos eram respeitados e admirados. No Califado Omíada de Damasco, por exemplo, havia médicos cristãos importantes como Ibn Athal, que tratava o próprio califa Ben Abi Sfian (60 Hegira / 680 d.C); O médico Ibn ِAbjar que trabalhou no palácio do califa Amer ben AbdelAziz ( 101 Hegira / 720 d. C ).  Também serviram no palácio Omíada médicos de diversas origens, como o cristão Jorjes Ben Bakhtisho, médico do califa Abi Jaafar AL Mansouri (158 Hegira / 775 d.C), e assim seguiram seus filhos e netos no serviço da família Abássida por mais de três séculos.
Os Abássidas também trouxeram médicos da Índia para Bagdá , o que favoreceu a tradução de literatura médica da língua Hindu para o Árabe.
Médicos judeus também trabalharam no palácio do Califado Fatímida no Egito, como Musa Ben Azar, seus filhos e netos, e médicos cristãos como Mansur Ben Sahlan.
Na Corte de Salah AL Din Al Ayoubi (Saladino), (589 Hegira / 1193 d. C), serviram diversos médicos cristãos, apesar do conflito com os cruzados, como Assad ben AL Mutran  e Abi al Faraj al Nassrani, além do famoso médico judeu Musa Bin Maimoun.
Os estatutos hospitalares árabes demonstravam importantes aspectos da tolerância na medicina árabe. Entre as normas está explicitamente descrita a não discriminação no tratamento de muçulmanos e não mulçumanos, árabes e não árabes.
As portas dos hospitais estavam sempre abertas para o tratamento de todos que viviam nas regiões árabes e islâmicas, não importando a raça ou a religião. Um fato histórico confirma isto; Durante uma epidemia deflagrada nos dias do Califa Abássida Muntaqadar Billah (320 Hegira / 932 d.C), o ministro Ali Bin Issa ordenou ao então ‘presidente’ dos médicos em Bagdá, Sanan Bin Tabet, o envio de médicos para cuidar dos pacientes nas vilas rurais. A equipe de médicos alcançou uma cidade rural chamada “sawar” habitada em sua maioria por judeus. Então os médicos escreveram pedindo autorização para se estabelecerem no local e tratar os habitantes, na resposta foram informados de que de acordo com os estatutos hospitalares de Bagdá, não se faz diferença no tratamento de muçulmanos e não muçulmanos, com isso estavam autorizados a tratar de todos, sem fazer distinções.
Presidente dos Médicos
O pioneirismo da ciência médica árabe foi constatado em diversos temas, um deles foi na criação do posto de “Presidente dos Médicos”. O primeiro a ocupar este posto foi o Califa Abássida Harun AL Rashid (193 Hegira / 809 d.C). O cargo de presidente permaneceu durante quase todas as eras da História Islâmica até os dias dos Mamelucos. O centro da presidência ficava na capital, Bagdá, e sua função era a administração dos médicos, hospitais e demais assuntos relacionados à saúde. O próprio Califa Abássida era quem apontava o presidente dos médicos.
Uma de suas importantes funções era a de aplicar exames de capacitação a farmacêuticos e médicos na época. O exame para farmacêuticos apareceu durante o governo do Califa AL Mamun (218 heriga / 832 d.C). Al Mamun foi o primeiro a ficar atento para supostos farmacêuticos charlatões, que receitavam remédios alternativos aos prescritos.
AL Mamum testou todos os farmacêuticos ao pedir um remédio que não existia, muitos afirmaram ter o remédio, mas trouxeram medicamentos diferentes. Desde então os farmacêuticos tinham de passar por exame para adquirir a licença para trabalhar.
Durante o Califado de AL Mutasim Billah (227 Hegira / 842 d.C), todos os farmacêuticos da região foram novamente Submetidos a um teste, os reprovados foram expulsos da cidade, os que insistiam em permanecer foram executados.
Já o exame para médicos começou na época do governo do califa Abássida, Al Montaqadar Billah, antes destes exames, para o exercício da profissão bastava conhecer tratamentos e ter lido algum livro de medicina de algum autor conhecido da época. Havia pessoas com capacidade e que exerciam a prática da medicina sem nenhuma restrição, mas com o passar do tempo, o caos tomou conta da profissão. Certa vez o califa soube da morte de um homem por erro médico em Bagdá, então promulgou a ordem que proibia outros doutores a exercerem a profissão antes de passarem pelo exame do Presidente dos Médicos, que então era Sanan Ben Tabet. Os aprovados no exame receberam um certificado que permitia o exercício da profissão. Alem de um manual listando as doenças e o tratamento correto para as mesmas.
Oitocentos e sessenta doutores foram aprovados. Alguns não foram submetidos aos exames devido à tradição e grande fama. Muitos deles já trabalhavam a serviço do califado por hereditariedade.
Os Hospitais
Os hospitais são uma maravilha a parte na história da medicina árabe, pois ofereciam um local de enorme efervescência cultural e científica, servindo a propósitos variados, além da atividade médica. Possuíam fontes, salões de leitura, bibliotecas, capelas e dispensários. As escolas médicas introduziram um grande número de drogas (químicas e herbáceas).
Entre os medicamentos introduzidos pelos árabes destacam-se o âmbar, almíscar, cravo-da-índia, pimenta, gengibre, noz-moscada, cânfora, sena, cassis e a noz-vômica. Desenvolveram métodos de extração, técnicas de destilação e cristalização, que possibilitaram o estudo e desenvolvimento de medicamentos até então desconhecidos, além de serem essenciais à formação da farmácia e da química.
Havia dois tipos de hospitais, Fixos e Móveis, e é importante notar que os árabes conheciam estes dois tipos de atendimento mesmo antes do aparecimento do Islã. Os historiadores são unânimes quanto ao primeiro hospital fixo construído durante o islã, durante o reinado do Califa Omíada AL Walid ben Abd Elmalek, na cidade de damasco, para o qual trouxe médicos famosos fornecendo a eles toda infra-estrutura disponível na época.
O mais famoso foi “AL Nuri”, na cidade de Damasco, construído pelo rei, Nur El din zanki (579 Hegira / 1174 d.C.). O primeiro hospital construído durante a era Abássida foi no governo do Califa Harun AL Rashid, na cidade de Bagdá, e seguiu-se o movimento de construção de hospitais na capital Abássida até o início do séculoX, somando aproximadamente oito hospitais. No Egito a construção de hospitais começou durante o governo de Amro Bin AL Aas. Mais tarde surgiu na região, talvez, o mais famoso hospital de então chamado “almansuri” também conhecido por “Qalaoun”, pois foi construído pelo sultão mameluco Al Mansour Qalaoun (1289 d.C).
Há registro de mais de 34 hospitais em todo território islâmico. O hospital de Bagdá, fundado pelo califa Al-Mutkadir, foi o maior do século X. Al-Razi praticou e ensinou nele. Foi onde implantou o princípio de se recolher e guardar o histórico clínico para ser utilizado em discussões de casos, no aprendizado.
O hospital de Damasco foi o mais suntuoso. Servia também de escola médica, com uma das maiores bibliotecas da época. Os convalescentes eram internados em pavilhões, organizados em orfanato, biblioteca e enfermarias especiais, que atendiam feridas, afecções oculares, diarréias, transtornos da mulher e febres. Cada paciente recebia uma ajuda de cinco moedas de ouro para cuidar da família até sua volta ao trabalho.
Todos tinham as portas abertas para paciente de todas as classes sociais e de todas as origens territoriais ou crença religiosa.
Hospitais Móveis
Os árabes foram realmente pioneiros em hospitais móveis, desconhecidos em outras civilizações. Tais hospitais eram transferidos de um lugar para o outro para cuidar das populações rurais. Estes hospitais continham uma equipe médicas e assistentes, equipados de instrumentos e remédios, transportados de uma vila pra outra em animais.
Este tipo de ‘hospital móvel’ era muito comum na época do Califado Abássida de Muntaqadar Bllah.

Ibn AL Siba relata em “Ayoun Alanba” (Olhos da Notícia), que o ministro Ali Bin Aissa escreveu um comunicado ao então presidente dos médicos em Bagdá, Sanan Ben Tabet, ordenando que fosse feito todo o esforço necessário para o atendimento da população, fornecimento de remédio e tratamento para todos, em todos os lugares.
Saúde dos Prisioneiros
Em tempos em que as prisões de outras nações pareciam mais “cemitérios Pra Vivos” , nas prisões árabes a saúde dos presos era inspecionada com freqüência, conforme ordens do Califa Muntaqader ao Presidente dos Médicos. As prisões tinham que ser inspecionadas para investigar a saúde dos presos, garantindo a eles o tratamento necessário. Evitando assim epidemias dentro e fora das prisões.
O impacto da medicina árabe na renascença ocidental
Enquanto a medicina Árabe vivia seus tempos áureos, a medicina ocidental vivia no obscurantismo e no subdesenvolvimento, baseando seus diagnósticos e tratamentos em mitos. O príncipe árabe Osama Bin Monqadhr, em suas notas, aponta as barbaridades praticadas pelos médicos europeus no tratamento dos seus doentes durante as cruzadas (sec. Xd. C) na região da Síria. Ele citou que na medicina européia prevalecia a idéia, de que as doenças eram causadas por espíritos maléficos como punição por pecados cometidos, conforme ensinava a Igreja na época, e que a cura era obtida não com tratamento ou remédios, mas com o perdão dado pela Igreja que proibia a medicação de seus fiéis e ordenava que fossem queimados os livros de medicina em circulação, considerados bruxaria e um desafio a Deus. No entanto, desde o séc. XI d.C. a medicina árabe começou a ter reflexos no ocidente, através da região da Sicília, Espanha e também pelo conhecimento adquirido pelos cruzados em regiões árabes.
Diversas obras foram traduzidas do árabe para o latim, uma figura importante neste processo foi “Constantino, o africano” (1087 d.C.), que comercializava remédios em Tunis. Ele importou para a Europa várias obras traduzidas do árabe para o latim. Quando se estabeleceu na Itália traduziu para o latim outras importantes obras de Ali bin Alabas, Ibn Jazar, Costa Bin Luka e Honein Ibn Sahac, alem dos volumes traduzidos do Grego de Galeno e Hipócrates.
Certamente as interpretações de Constantino foram à base da escola de medicina de Salermo em meados do séc. XI d.C, escola que se tornou uma ponte que trazia os conhecimentos da medicina árabe para a Europa.
Para o bem da civilização ocidental veio para a cidade de Toledo, Espanha, em meados do séc. XII d.C. um cientista chamado Girard Cremona 1187d.C (da cidade de Cremona - norte da Itália) a procura de um livro traduzido do árabe chamado “AL Mojsti” conhecido como “Alktab al Azzem” (O Grande Livro), do escritor Grego Ptolomeu. E se surpreendeu por encontrar em Toledo, vários outros manuscritos científicos remanescentes escritos em árabes, então se empenhou no estudo da língua árabe e na tradução destes achados para o latim, primeiramente com a ajuda de um assistente e depois sozinho. Ele que pretendia fazer apenas uma viagem curta a Toledo, acabou por permanecer lá por muitos anos até sua morte. Historiadores afirmam que Girard, traduziu sozinho um quarto de todos os livros traduzidos do árabe para o Latim, mais de oitenta livros sobre Medicina, Filosofia, Astronomia, Engenharia, Matemática entre outros.
Os primeiros livros de medicina traduzidos para o latim por Girard foram “alqanun” (A Lei) de Ibn Sina; “Madkhal Ila aL-tob” (Introdução à Medicina), do AL Razi ;  e “AL Jiraha” (A Cirurgia), de Zahraoui. Girard também traduziu um considerável volume de obras Gregas do árabe para o Latim, como as obras de Hipócrates e Galeno.
Historiadores concordam que dos árabes e de suas brilhantes obras de medicina traduzidas do árabe para o latim surgiram as bases para a renascença da medicina na Europa.
Com isso a medicina árabe teve bases sólidas, compreensivas e criativas e é das mais brilhantes páginas da história da civilização árabe, e de toda humanidade.
Os árabes não apenas legaram seus próprios conhecimentos para o mundo, como também possibilitaram a existência hoje dos conhecimentos gregos tanto na medicina como em outros campos científicos. Fato histórico que libertou o ocidente das “prisões” da idade média e o fez renascer pela difusão do conhecimento e do espírito crítico, preservados, elaborados ou implementados pelos árabes e divulgados para o ocidente permitindo a ascensão e a evolução da medicina para como a conhecemos hoje.

Fonte:  Arabesc
Original em árabe. Tradução: Jean Ajluni

CAMPANHA NACIONAL DE VACINAÇÃO CONTRA O GOLPE







Nas eleições de 2010 o Brasil corre o sério e real risco de novamente ser contaminado pelo vírus do golpe, desta vez tendo como vetores setores da ultradireita representados por emissoras de TV e rádio, jornais e “formadores de opinião", como religiosos das mais diferentes crenças, incitados principalmente pela candidatura de José Serra à Presidência da República. Por isso, leia com atenção e divulgue este aviso!

Sintomas
· * Um jornal paulistano divulgou ficha falsa classificando Dilma Roussef de terrorista e assassina e e-mails acusam a ex-ministra de assassina e bandida
· * Com o início da propaganda eleitoral diversas crises e acusações sem provas passaram a figurar por manchetes de jornais e destaques em TV
· * Com o crescimento de Dilma nas pesquisas, os ataques se intensificaram e jornais e TV só usam agenda negativa contra a candidata
· * Blogs e publicações a favor de Dilma passaram a ser acusados de “blogs sujos” enquanto blogs de ataque à honra e nome de Dilma proliferaram na rede
· * A venda ilegal de sigilo feita por encomenda na Delegacia da Receita em Mauá é transformada em “crise” contra a candidata
· * A quebra do sigilo de milhares de pessoas é transformada em acusação contra Dilma e a violação do sigilo de 60 milhões de outras, feita pela filha do candidato tucano e denunciada pela revista Carta Capital, é solenemente ignorada
· * José Serra transforma seu programa eleitoral na televisão em agenda diária de acusações e ilações falsas
· * A esposa do candidato José Serra, em campanha em Nova Iguaçu (RJ) acusa Dilma de “matar criancinhas”
· * Um ex-condenado com negócios nebulosos é transformado em herói da probidade e gera crise envolvendo a Casa Civil da Presidência para atingir Dilma

Indícios próximos

* Apesar da manutenção dos índices de votação de Dilma nas pesquisas, os tucanos prometem “bala de prata “ e mais baixaria e acusações
* Religiosos católicos e evangélicos distribuem vídeo acusando Dilma de crimes e misturando pedofilia, infanticídio, homossexualidade com a campanha do PT
* O candidato José Serra aumenta a agressividade contra jornalistas que lhe fazem perguntadas apontadas “incômodas” ou “inconvenientes”
* O presidente do PSDB Sérgio Guerra promete “campanha mais agressiva” até o dia da votação, vale dizer mais baixaria, crises e acusações inundadas
* Espalha-se pela internet a informação de que a campanha de Serra prepara uma acusação grave para a véspera da eleição quando não há mais tempo para se dar resposta e se esclarecer qualquer fato.

Vetores

Rede Globo de Televisão – Jornais “O Globo”; “Folha de S. Paulo”; “O Estado de S. Paulo” e revistas “Veja” e “Época”

Risco iminente

O vírus pretende espalhar o medo e a dúvida com base nas acusações falsas, gerando graves danos ao sistema democrático brasileiro e provocando assim o golpe tão esperado que desprezará o resultado da vontade popular e trará de volta ao poder a elite insensível e desumana que se empenhará na desnacionalização dos recursos nacionais;; na venda do patrimônio público; no desmanche das conquistas sociais do povo e na volta aos tempos da UDN da ditadura; do FHC e do FMI

Prevenção

* Divulge este alerta a todas as pessoas de seu relacionamento. Alerte quem você conhece sobre o risco das denúncias em véspera de eleição
* Não assista a TV Globo ou leia os jornais vetores entre o dias 1º e 3 de outubro
* Duvide de qualquer denúncia que surja após o fim do horário eleitoral gratuito quando os fatos não mais podem ser desmentidos em cadeia nacional de rádio e televisão.
* Vote por seu país e por sua independência, como cidadão, sem tutela e manipulação

Não querem só calar Carta Capital. Querem matá-la

 

Brizola Neto no Tijolaço

Os donos da grande mídia no Brasil adoram montar seminários para dizer que a liberdade de imprensa está ameçada no país. Seus argumentos são ridídulos e nem mesmo eles acreditam nisso, tanto que ousam as maiores irresponsabilidades com a certeza de que nada lhes acontecerá. Jornalistas estrangeiros, que trabalham em veículos respeitáveis, afirmam que o Brasil desfruta de uma liberdade de imprensa difícil de ver em outros lugares.
Se alguém acredita no apreço que esse grupo tem pela liberdade de imprensa ,veja o que acontece agora, quando a revista Carta Capital é intimada por ofício da procuradora eleitoral Sandra Cureau a apresentar a relação da publicidade e dos valores recebidos do governo federal em 2009 e 2010. Ninguém deu um pio. Pior ainda, nem uma linha. O assunto só circulou na blogosfera, já que a grande mídia tenta aparentar que Carta Capital não existe.
Se tal medida fosse tomada em relação à Veja ou Folha de S.Paulo, por exemplo, todos os jornais estariam escrevendo editoriais, o instituto Millenium já teria convocado o Reinaldo Azevedo e o Jabor para bradarem contra censura e o totalitarismo no país e a Sociedade Interamericana de Imprensa alardearia o fato além das nossas fronteiras.
É claro que dessa turma não podemos esperar nada. Mas temos que exigir que a sociedade e principalmente os órgãos de classe se manifestem. Cadê a Associação Brasileira de Imprensa? Onde estão os sindicatos de jornalistas? A Ordem dos Advogados do Brasil? É preciso denunciar a tentativa de censura que fazem a um veículo da imprensa brasileira que ousa desafiar a voz comum e pratica um jornalismo de personalidade e qualidade únicos.
Disse mais cedo: quem cria um estado de intimidação e vassalagem no Brasil não é o Estado, mas o statablishment, o poder empresarial.
Mino Carta, diretor de redação da Carta Capital, não pode ficar se defendendo sozinho, embora tenha talento bastante para isso, como ao responder a Bob Fernandes, do Terra Magazine, sobre a intenção do ofício da dra. Cureau. “A senhora Cureau entende que nós somos comprados pelo governo federal, via publicidade. Se ela se dedicasse, ou se dedicar, porém, à mesma investigação junto às demais editoras de jornais, revista, e outros órgãos da mídia verificaria, verificará, talvez com alguma surpresa, que todos eles têm publicidade de instituições do governo em quantidade muito maior e com valor maior do que Carta Capital.”
E ainda completou: “Aliás, me ocorre recordar que durante o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, dito FHC, fomos literalmente perseguidos pela absoluta ausência de publicidade do governo federal. E a pergunta que faço é a seguinte: então, alguém, inclusive na mídia, se incomodou com isso? Ninguém considerou esse fato estranho? Uma revista de alcance nacional não receber publicidade alguma enquanto todas as demais recebiam?”
A indagação de Mino Carta é óbvia. Se hoje a grande mídia busca silenciar Carta Capital, no governo dos tucanos ela tinha o apoio do governo para isso. Não só silenciá-la, mas se possível asfixiá-la economicamente até a morte.
Mas enganam-se. Em pouco tempo, se houver uma ação aguda de um governo comprometido com a liberdade de informação, e a internet chegar à toda a população, eles estarão reduzidos ao monopólio do…. nada…
Escrevam o que digo, vamos enfrentar uma batalha pesadíssima no Congresso para abrir a internet a todos os brasileiros. Os “donos” da informação farão de tudo – como vocês já viram que eles são capazes – para, em nome de sua arrogância empresarial, continuarem negando ao povo brasileiro o direito de saber a verdade.

Desvendando a Mídia Golpista...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Renato: sentindo seu poder ameaçado, direita apela para golpismo

Acompanhando de perto a disputa política nacional e nos estados, nas candidaturas majoritárias e proporcionais, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo faz, nesta entrevista, uma análise do quadro eleitoral, fala sobre a tática denuncista da direita e trata da necessidade de os comunistas intensificarem a campanha nestes dias que antecedem o 3 de outubro. “Quando a direita percebe que está perdendo espaço e pode perder poder, sempre caminha para as vias golpistas”, afirma.

Renato Rabelo
Renato: Serra passou a adotar a tática de tentar desmontar a candidatura da Dilma
 
Partido Vivo: O país se aproxima de mais uma eleição geral. O que o quadro atual aponta de perspectivas e que balanço é possível fazer do processo até o momento?
Renato Rabelo: As eleições vão entrando numa fase decisiva. Na disputa pela Presidência da República, a tendência de vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno está consolidada e dificilmente será revertida. Para os governos estaduais, muitos quadros também estão definidos. Mas, para a Câmara e Senado, é agora que começa a haver uma definição mais nítida. No Brasil inteiro, vai se esboçando a vitória de toda a base de apoio ao governo Lula e à sua sucessora. Esse quadro comprova aquilo que a gente vem afirmando há algum tempo: de que há uma tendência objetiva de o povo, em função dos bons resultados do governo, do prestígio de Lula, de sua liderança, querer a continuidade. Afinal, não foram poucas as conquistas. Mesmo com a crise, a economia conseguiu retomar seu ritmo rapidamente, apresentando inclusive crescimento acentuado neste ano; o emprego formal cresceu em níveis elevados, comparativamente com a situação que a gente tinha no Brasil; a distribuição de renda passou a ser efetiva e há mobilidade social no país. Esse anseio geral de continuidade é bom para que possamos avançar ainda mais.

Leia também: 
Partido Vivo: Vêm daí as dificuldades de José Serra se posicionar?
RR: Sim, é por tudo isso que o José Serra, ao entrar na campanha, teve muita dificuldade de saber como deveria se situar. Serra procurou, num primeiro momento, colocar-se como candidato da situação: “vou fazer melhor do que Dilma porque tenho mais experiência”. Depois, ele viu que isso não estava dando resultados porque as pessoas não são ingênuas. E mais recentemente, já que não conseguiu projeção, Serra passou a adotar a tática de tentar desmontar a candidatura da Dilma. Serra foi mostrando que sua candidatura não tem rumo, nem finalidade muito clara. Perdendo espaço gradativamente, hoje lança mão de factoides e cria escândalos com a ajuda da grande mídia para ver se consegue reverter a situação. Querer ligar a candidatura da Dilma a irregularidades que sempre existiram e existirão na Receita Federal é uma forçação de barra muito grande; e vai ficando claro para o povo que isso é calúnia.

Partido Vivo: Acredita que a direita brasileira e sua maneira de exercer a oposição política tenham mudado a partir de Lula?
RR: O fato é que a oposição foi ficando cada vez mais sem alternativa de projeto para o país porque seu projeto era respaldado pelas prédicas neoliberais. E Lula procurou enfrentar essa situação com uma saída que considerávamos híbrida, mantendo alguns aspectos dessa política macroeconômica, mas, ao mesmo tempo procurando fazer um grande esforço para alcançar o desenvolvimento do país, enquanto FHC governava ao sabor do mercado. O resultado é que o Brasil ficou mais preparado para enfrentar a crise. Ficou evidente que o projeto da oposição não permitiu ao Brasil retomar o desenvolvimento depois de décadas de estagnação. A gente caminha para uma eleição em que a direita pode ter uma grande derrota. Pela primeira vez, o Congresso Nacional pode passar por uma grande renovação não só quantitativa, favorável ao governo que continuará Lula, mas talvez qualitativa, com a formação de uma maioria no Senado e na Câmara afinada com o próximo governo. Sempre existiu defasagem no parlamento: o governo Lula, por exemplo, foi eleito com 60% dos votos válidos, mas não conseguia ter maioria no Congresso. A oposição pode sofrer um grande revés.

Partido Vivo: Assim como em 2006, os demo-tucanos e seus aliados têm procurado levar a disputa para o segundo turno no tapetão, como demonstra o uso das últimas denúncias. Como você vê esse tipo de manobra? O denuncismo atual guarda semelhanças com 2006?
RR: Essa é sempre a fórmula que esses setores de direita usam no Brasil, uma medida nomeadamente golpista. Quando ela percebe que está perdendo espaço e pode perder poder, sempre caminha para as vias golpistas. Desde Getúlio Vargas, só para ficar na história mais recente, é este o método. Em 2002, a direita tentou impedir que Lula se elegesse; em 2006, teve o caso dos aloprados já no final das eleições porque ia se confirmando a tendência de vitória de Lula. Agora, com a possibilidade de eleger sua sucessora já no primeiro turno, esse setor procura também desesperadamente uma forma de desgastá-la; no fundo, imaginava que Serra manteria a dianteira. Além disso, é importante salientar que no Brasil formou-se uma situação política em que a grande mídia mostra nitidamente que ela não quer a continuidade do governo Lula e nem a vitória de sua sucessora. Ela tomou partido não apenas em editoriais – todos são sempre contra o governo e contra Dilma – mas há todo um trabalho no noticiário e nas manchetes dando peso exacerbado a isso que eles chamam de escândalo, para criar um impacto na população contra a candidatura de Dilma. É um trabalho orquestrado, ostensivo. A mídia busca irregularidades que sempre existiram dando grande destaque, para ver se a partir dali cria uma comoção contra a candidata. E tudo que o Serra fala sobre isso, a mídia repercute. Se o Serra já sabia da quebra de sigilo da sua filha desde 2009, porque somente agora isso é tratado? Este fato mostra que se trata de uso puramente eleitoral.

Partido Vivo: Mudando de assunto, a formação de um núcleo de esquerda para nortear a base governista é factível?
RR: É sempre uma luta a construção de um núcleo de esquerda dentro de uma frente ampla. E nesse núcleo consideramos também a presença do PT, além do PCdoB, PSB e o PDT. Agora, isso vai depender do resultado das eleições. O esforço é que a esquerda cresça em representação na Câmara e no Senado, além de aumentar o número de governadores. O crescimento da campanha de Dilma e dessa base de apoio beneficia a esquerda. A formação desse núcleo vai depender da dimensão do que a esquerda vai conseguir nestas eleições; é a correlação de forças que define o papel que a esquerda terá. Se crescer no parlamento, evidentemente que a possibilidade de um núcleo de esquerda se concretizar torna-se algo mais efetivo.

Partido Vivo: Candidaturas como as de Netinho – que está na frente em São Paulo –; Vanessa Grazziotin – que já apresenta vantagem sobre Artur Virgílio no Amazonas e está em segundo lugar – e Edvaldo Magalhães – que tem crescido no Acre – têm se mostrado bastante promissoras. Elas surpreendem o partido? Que avaliação faz da disputa do PCdoB por cadeiras no Senado?
RR: Hoje, podemos eleger um senador negro em São Paulo – um homem de origem humilde que expressa o interesse das camadas populares, das periferias – além de lideranças reconhecidas em estados como os da Amazônia, uma região estratégica para o país e para o PCdoB dentro daquilo que a gente define como um projeto nacional.

Estamos sempre trabalhando naquela linha de acumulação eleitoral. Desde 2004 procuramos participar progressivamente das eleições majoritárias porque é uma eleição em que o partido se apresenta para toda a população. De maneira geral, é um esforço enorme que o PCdoB tem feito para ter uma participação mais ampla nos pleitos, de lançar candidaturas majoritárias nas eleições de base – as municipais – o que projetou muitas lideranças do PCdoB em 2008. Em 2006 fizemos um esforço de ir além das candidaturas à Câmara, lançando nomes também ao Senado; o PCdoB foi, então, o quinto partido mais votado para o Senado. Aumentamos o esforço para ter candidaturas fortes nas majoritárias e proporcionais, em muitos casos com nominatas próprias, o que o PCdoB nunca teve nessa dimensão. O partido pode ter uma grande votação e a possibilidade real de conquistar três vagas no Senado, podendo ter uma bancada de quatro, com o Inácio Arruda eleito em 2006, algo que nunca teve. Com essa conquista em 2010, podemos ter em 2012 uma quantidade muito maior de candidaturas a prefeitos e, em 2014, podemos ter mais candidaturas aos governos dos estados, além de ter cada vez mais candidatos ao Senado.

Partido Vivo: Como vê a situação no Maranhão e o desempenho do candidato Flávio Dino?
RR: É a primeira candidatura do PCdoB ao governo de estado e a valorizamos muito. O Maranhão é um estado que tem tido uma importância crescente, com a implantação de refinarias, portos, a descoberta de grandes reservas de gás etc. A segunda questão é que o Flávio Dino vai se colocando como uma liderança de grande prestígio no estado; foi um deputado muito destacado na Câmara e ganhou mais projeção nas eleições passadas, em São Luis, quando teve uma grande votação para a prefeitura. Ele vai sendo um escoadouro do forte sentimento de renovação que há no estado, o desejo de ter políticos mais identificados com os anseios do povo e do estado. Por isso, acreditamos muito na sua candidatura. Pesquisa no Maranhão nunca foi forte. No caso da disputa à prefeitura, se tivéssemos seguido as pesquisas, ele não teria chances; e no final, Flávio Dino foi ao segundo turno e teve grande votação. O certo é que há a possibilidade de o Flávio crescer nessa reta final e chegar ao segundo turno.

Partido Vivo: Que preocupações o partido, seus candidatos e militantes devem ter nesta reta final de campanha?
RR: Este é um momento muito importante porque é quando, de fato, o povo decide em quem votar. Boa parte da população não acompanha a evolução política e vai começar a se atualizar para definir suas opções agora. Daí a importância de se dar um volume maior de campanha para todos os nossos candidatos e aos que apoiamos. Temos de estar nas ruas fazendo um grande esforço mobilizador para que o povo receba, inclusive, maior orientação sobre a hora de votar. Ele terá de votar seis vezes, ou seja, é importante que tenha sua cola – aliás, a própria Justiça Eleitoral está falando nisso. Também é importante ter os documentos em mãos porque agora é uma exigência que o eleitor tenha um documento oficial com foto além do título. Além disso, é preciso que nossos candidatos e militantes estejam em contato com a população porque é a última chance de se transmitir ideias e propostas. Pela proximidade das eleições, esta também é a fase em que as pessoas estão mais atentas para ouvir o que os candidatos têm a dizer.

Da redação do Vermelho
Priscila Lobregatte

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O futuro da esquerda

  Wladimir Pomar  no Correio da Cidadania 
 
O fim da civilidade, decretado pela direita tucano-pefelista, neste último mês de campanha, está trazendo à luz pelo menos três aspectos da realidade brasileira.
 
Primeiro, a natureza reacionária e antidemocrática dos novos representantes políticos da burguesia financeira e da burguesia agrária. Segundo, a oposição de grandes parcelas das camadas populares e das classes médias a tal reacionarismo. E, terceiro, as clivagens da esquerda diante dessa polarização.
 
A nova direita política é, em grande parte, formada por parcelas oriundas da intelectualidade política democrática e de esquerda que se defrontou com a ditadura militar. No curso da emergência das lutas operárias e populares e da formação do PT, assim como da ofensiva ideológica e política do neoliberalismo, muitos de seus membros se transformaram no oposto do que representaram no passado.
 
Com isso, repetem uma experiência histórica peculiar da esquerda brasileira, que teve em Carlos Lacerda seu expoente mais significativo. Quem conheceu esse personagem da história brasileira certamente se lembrou dele ao assistir ao candidato Serra deblaterando sobre a suposta tolerância de Lula com "quem rouba", e qualificando a candidata Dilma de "envelope fechado". A grande desvantagem de Serra é que não tem a oratória de Lacerda, nem um ambiente de conspiração militar generalizada. Mas a natureza golpista e reacionária é a mesma.
 
Essa truculência tucano-pefelista também está colocando em evidência algo que uma parte da esquerda se nega a ver. Isto é, que grandes massas do povo brasileiro consideram as atuais eleições como um acerto de contas com a herança de FHC e depositam uma firme confiança em Lula e no PT. Ou seja, além de encararem as atuais eleições como polarizadas e plebiscitárias, grandes parcelas do povo estão convictas de que as mudanças implantadas pelo governo Lula, mesmo contendo erros e problemas, relacionados ou não com suas alianças políticas, apontam para um caminho seguro de transformação social e política.
 
Uma parte da chamada esquerda democrática se encontra perdida na enseada tucano-pefelista, sem se dar conta de que está dormindo com o inimigo. É doloroso ver candidatos dessa esquerda, com discursos de mudanças democráticas e populares, sendo apresentados por FHC, Serra, César Maia e outros personagens que quase quebraram o Brasil e levaram o povão ao desemprego e à miséria.
 
A parte da esquerda que se considera revolucionária está na oposição. Embora procure se distanciar da direita que também é oposição, seu inimigo principal e alvo de seus ataques tem sido o governo Lula e a esquerda que apóia Dilma. Na prática, o povão acaba confundindo-a com seus inimigos de direita.
 
A maior parte da esquerda, que apóia Dilma, também se debate diante da realidade complexa do país. Isto parece ser mais evidente dentro do PT, onde havia uma corrente que pregava abertamente a impossibilidade de uma eleição polarizada e trabalhava para construir pontes com o tucanato. A evolução da campanha eleitoral, apesar da ausência de ataques petistas ao tucanato, está demonstrando que aquela corrente estava totalmente enganada, pelo desconhecimento da natureza antidemocrática e reacionária do tucano-pefelismo.
 
Também é dentro do PT que continuam se apresentando brechas relacionadas com a tibieza em adotar procedimentos ideológicos, políticos e organizativos condizentes com um partido de esquerda que quer transformar o Estado e a sociedade. Um partido desse tipo não pode ter aloprados, filiados facilmente cooptáveis por dinheiro fácil, nem agentes infiltrados que possam navegar tranqüilamente por suas fileiras. Se o PT não adotar procedimentos que o blindem contra os arrivistas e oportunistas que procuram fazer carreira em qualquer partido que seja governo, aquelas brechas podem se tornar voçorocas, deixando-o indefeso diante das armações que tendem a crescer nas disputas institucionais.
 
Nessas condições, a vitória do PT e Dilma não representará apenas um acerto de contas com a ideologia e as políticas neoliberais, condensadas na candidatura Serra. Nem apenas um impacto muito sério na esquerda que se aliou à direita, formal ou informalmente, nos ataques ao governo Lula e à candidatura Dilma. Ela deverá representar também uma reestruturação ideológica, política e organizativa do PT, se esse partido quiser enfrentar com sucesso os desafios para aprofundar as mudanças democráticas, econômicas e sociais que as camadas populares reclamam.
 
Wladimir Pomar é escritor e analista político.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Eduardo Galeano: 70 anos de América Latina



No último 3 de setembro aniversariou um importante nome do jornalismo e da literatura latino-americanos: o uruguaio Eduardo Galeano completou 70 anos de vida. E, com a data, celebra-se também sua importante contribuição para o imaginário social dos povos da América Latina, e também o marcante papel na luta contra o regime militar uruguaio, que durou de 1973 a 1984.

“Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos, outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial”, escreveu Galeano em 1971, no livro As Veias Abertas da América Latina, que fala sobre o processo de exploração colonial pelo qual passou o continente americano desde sua descoberta até o neo-colonialismo da Revolução Industrial.
Anos mais tarde, em 1976, deixou o Uruguai rumo ao exílio na Espanha após ter seu nome incluído em uma lista de execuções do regime militar, liderado pelo ditador Jorge Videla.

Para falar sobre vida e obra do jornalista uruguaio, a Revista Fórum entrevistou o professor Alexandre Barbosa, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Especialista em Jornalismo Internacional, Borges é o idealizador do site www.latinoamericano.jor.br.

Fórum: Na sua opinião, qual a importância de Eduardo Galeano para o jornalismo e literatura latino-americanos?

Alexandre Barbosa: Galeano foi além do jornalismo e da literatura. Muitos, tanto na academia quanto no jornalismo, enxergam sua obra apenas do ponto de vista literário. De fato, ele escreveu obras belíssimas, como Palavras Andantes e Memórias do Fogo. Esta última, uma crônica da história latino-americana contada de maneira poética. Porém, mesmo na literatura e principalmente no jornalismo, Galeano é essencial para a construção de um pensamento de resistência latino-americana. Sua obra mais conhecida, As Veias Abertas da América Latina, é uma leitura que não pode faltar na vida de qualquer cidadão deste continente.

Fórum: De que maneira ele contribuiu para o imaginário histórico do continente latino-americano?

Barbosa: Enquanto a indústria jornalística insistia na visão de que as alianças com os países centrais do capitalismo eram uma alternativa para o atraso da região, Galeano mostrou como a riqueza da Europa e dos EUA foi construída com base na exploração dos recursos naturais e humanos da América Latina. A cidade boliviana de Potosí, que tem mina de estanho e prata, hoje é uma região pobre, que enriqueceu os cofres dos países ibéricos. A miséria da América Central é a riqueza dos comerciantes norte-americanos.
Como a escrita de Galeano tem forte apelo de denúncia, seu texto flui e serve de inspiração para os movimentos que hoje pregam uma nova ordem da política e da economia latino-americana. Ao ler a obra de Galeano, é possível entender melhor como funcionam os governos de Evo Morales e Rafael Correa. Quem leu As Veias Abertas da América Latina jamais teria coragem de criticar a ação boliviana de nacionalização dos recursos minerais.

Fórum: Galeano participou ativamente de movimentos culturais contrários à ditadura uruguaia de 1973. Para você, qual obra dele melhor representa a resistência contra o regime militar?

Barbosa: Galeano e outros da classe artística e jornalística podem ser considerados parte de um movimento que Michael Löwy chamou de Romantismo Revolucionário que, entre outras características, entende as manifestações artísticas como instrumentos de denúncia, resistência e revolução.
Há contos e crônicas belíssimas de Galeano sobre a ditadura uruguaia. Recomendo a leitura de um texto sobre os desenhos que a filha de um preso levava para o pai no cárcere. O guarda proibia imagens e desenhos de pássaros, pois eles eram sinônimos de liberdade. Um dia, a filha desenhou uma árvore com frutas e o desenho passou. O pai elogiou o desenho e filha confidenciou-lhe que os pássaros estavam escondidos entre as folhas...

Fórum: Hoje em dia, Eduardo Galeano figura como um dos maiores nomes da literatura na América Latina, ao lado de Gabriel García Marquez e outros. O que ainda podem fazer para estabelecer um ponto de reflexão nos povos do continente contra a dominação cultural e ideológica?

Barbosa: É essencial seguir estudando as obras desses dois autores. Além de As Veias Abertas da América Latina, um latino-americano não pode se considerar latino-americano sem ler Cem Anos de Solidão, de García Marquez. Um curso sobre América Latina tem de incluir uma discussão sobre “As Veias Abertas” e um debate sobre a metáfora da cíclica história do continente que está encarnada em “Cem Anos”.
Tanto Galeano quanto Gabo continuam fortes em suas posições. Continuam a defender a América Latina e suas lutas. Gabo mantém a FPNI (Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano), que incentiva a construção de um jornalismo que tenha olhar latino-americano. A última obra de Galeano, Espelhos, se dedica às histórias esquecidas não só da América Latina, mas de todo o mundo.

Fonte: Revista Fórum