Preservemos o seu legado revolucionário
Anita Leocadia Prestes*Odiario.info
Luiz
Carlos Prestes nasceu em 3 de janeiro de 1898, em Porto Alegre (RS), e
faleceu em 7 de março de 1990, no Rio de Janeiro, aos 92 anos de idade.
Desde muito jovem, Prestes revelou indignação com as injustiças sociais e
a miséria de nosso povo, mostrando-se preocupado com a busca de
soluções efetivas para a situação deplorável em que se encontrava a
população brasileira, principalmente os trabalhadores do campo, com os
quais tivera contato durante a Marcha da Coluna (1924-27), que ficaria
conhecida como a Coluna Prestes.
Muito antes de tornar-se comunista, Prestes já era um
revolucionário. Sua adesão aos ideais comunistas e ao movimento
comunista apenas veio comprovar e confirmar sua vocação revolucionária,
seu compromisso definitivo com a luta pela emancipação econômica, social
e política do povo brasileiro. Como revolucionário, Prestes foi um
patriota - um homem que dedicou sua vida à luta por um Brasil melhor,
por um Brasil onde não mais existissem a fome, a miséria, o
analfabetismo, as doenças, a mortalidade infantil e as demais chagas que
continuam a infelicitar nosso país.
Comunista convicto
Comunista convicto
A descoberta da teoria marxista e a adesão ao comunismo
representaram, para Prestes, o encontro com uma perspectiva, que lhe
pareceu factível, de realização dos anseios revolucionários por ele até
então alimentados, principalmente durante a Marcha da Coluna. A luta à
qual resolvera dedicar sua vida encontrava, dessa forma, um embasamento
teórico e um instrumento para ser levada adiante - o Partido Comunista. O
Cavaleiro da Esperança, uma vez convencido da justeza dos novos ideais
que abraçara, tornava-se também um comunista convicto e disposto a
enfrentar toda sorte de sacrifícios na luta pelos objetivos traçados.
No processo de aproximação ao PCB, Prestes rompeu de público com
seus antigos companheiros - os jovens militares rebeldes conhecidos como
os «tenentes» -, posicionando-se abertamente a favor do programa da
«revolução agrária e anti imperialista» defendido pelos comunistas
brasileiros. Seu Manifesto de Maio de 1930 consagra o início de uma nova
fase na vida do Cavaleiro da Esperança. A partir daquele momento,
Prestes deixava definitivamente para trás os antigos compromissos com o
liberalismo dos «tenentes» e enveredava pela via da luta pelos ideais
comunistas que passariam a nortear toda sua vida.
Pela primeira vez na história do Brasil, uma liderança de grande
projeção nacional, a personalidade de maior destaque no movimento
tenentista, - na qual apostavam suas cartas as elites oligárquicas
oposicionistas, na expectativa de que o Cavaleiro da Esperança pusesse
seu cabedal político a serviço dos seus objetivos, aceitando participar
do poder para melhor servi-las - recusa tal poder, rompendo com os
políticos das classes dominantes para juntar-se aos explorados e
oprimidos, para colocar-se do lado oposto da grande trincheira aberta
pelo conflito entre as classes dominantes e as dominadas, entre
exploradores e explorados. Prestes tomava o partido dos oprimidos,
abandonando as hostes das elites comprometidas com os donos do poder,
não vacilando jamais diante dos grandes sacrifícios que tal opção lhe
acarretaria.
Caminho da luta
Tratava-se de um fato inédito, jamais visto no Brasil. Luiz Carlos
Prestes, capitão do Exército, que se tornara general da Coluna Invicta,
que fora reconhecido como liderança máxima das forças oposicionistas ao
esquema de poder vigente no Brasil até 1930, talhado, portanto, para
transformar-se no líder da «revolução» das elites oligárquicas, numa
liderança política confiável dessas elites, usava seu prestígio para
indicar ao povo brasileiro um outro caminho – o caminho da luta pela
reforma agrária radical e pela emancipação nacional do domínio
imperialista, o caminho da revolução social e da luta pelo socialismo.
Como foi sempre coerente consigo mesmo e com os ideais
revolucionários a que dedicou sua vida, sem jamais se dobrar diante de
interesses menores ou de caráter pessoal, Prestes despertou o ódio dos
donos do poder, que se esforçariam por criar uma História Oficial
deturpadora tanto de sua trajetória política quanto da história
brasileira contemporânea.
Exemplo para os jovens
Mesmo após seu falecimento, Prestes continua a incomodar os donos do
poder, o que se verifica pelo fato de sua vida e suas atitudes não
deixarem de serem atacadas e/ou deturpadas, com insistência
aparentemente surpreendente, uma vez que se trata de uma liderança do
passado, que não mais está disputando qualquer espaço político. Num país
em que praticamente inexiste uma memória histórica, em que os donos do
poder sempre tiveram força suficiente para impedir que essa memória
histórica fosse cultivada, presenciamos um esforço sutil, mas constante,
desenvolvido através de modernos e possantes meios de comunicação, de
dificultar às novas gerações o conhecimento da vida e da luta de homens
como Luiz Carlos Prestes, cujo passado pode servir de exemplo para os
jovens de hoje.
Luiz Carlos Prestes dedicou 70 anos de sua vida à luta por um futuro
de justiça social e liberdade para o povo brasileiro. Luiz Carlos
Prestes foi um revolucionário, um comunista e um internacionalista, que
jamais vacilou na luta pelos ideais socialistas e pela vitória da
revolução socialista no Brasil e em nosso continente latino-americano.
Prestes foi um defensor conseqüente dos países socialistas, tendo à
frente a URSS. Esteve sempre solidário com as Revoluções Cubana e
Nicaragüense. O legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes deve ser
preservado e desenvolvido pelas novas gerações de brasileiros e
latino-americanos. Este é o objetivo principal do Instituto Luiz Carlos
Prestes (www.ilcp.org.br) recentemente criado no Rio de Janeiro.
* Anita Leocádia Prestes é professora do Programa de
Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto
Luiz Carlos Prestes.