Em
meio a críticas e deboche, relatório apresentado recentemente no
Conselho Europeu reacende as discussões sobre a possibilidade dos
prisioneiros do Exército de Libertação do Kosovo (UCK) terem sido
vítimas de tráfico de órgãos.
|
por Jean-Arnault Dérensno diplo-br |
Caiu como uma bomba o relatório sobre tráfico de órgãos apresentado
pelo deputado suíço Dick Marty diante do Conselho Europeu , que
apontavam como vítimas os prisioneiros do Exército de liberação do
Kosovo (UCK) 1. As alegações contidas no documento não são
novas: esse tráfico já foi evocado nas memórias publicadas, em 2008,
pela antiga Procuradora Geral do Tribunal penal internacional da ex-
Iugoslávia (TPIY), Carla Del Ponte2. E em Kosovo, a hipótese
de tal tráfico é um “boato” que circula há muito tempo. Da mesma
maneira, a investigaçãopublicada em 2009 pelos jornalistas Altin
Raxhimi, Michael Montgomery e Vladimir Karaj confirmou a existência de
um verdadeiro “arquipélago” de centros secretos de detenção da UCK na
Albânia3.
O relatório de Marty traz, no entanto, várias informações novas,
permitindo compreender melhor os mecanismos desse tráfico. Centenas de
prisioneiros capturados pelo UCK – principalmente sérvios do Kosovo e
provavelmente romenos e albaneses acusados de “colaboração” – teriam
sido deportados para a Albânia, em 1998 e 1999. Aprisionados em vários
pequenos centros de detenção – entre eles a famosa “casa amarela” da
pequena cidade de Rripë, perto de Burrel, visitada pelos inspetores do
TPIY –, alguns deles teriam alimentado o tráfico de órgãos. Os
prisioneiros eram conduzidos para uma pequena clínica situada em Fushë
Kruja, a 15 km do aeroporto internacional de Tirana, assim que alguns
clientes demonstravam interesse em receber órgãos. Eles eram, então,
abatidos com um tiro na cabeça antes que os órgãos, principalmente, os
rins, fossem retirados. Esse tráfico era dirigido pelo “grupo da
Drenica”, um pequeno núcleo de combatentes da UCK reunidos em torno de
duas figuras chaves: Hashim Traçi, atual primeiro-ministro de Kosovo e
Shaip Muja, então responsável pela brigada médica do UCK e, hoje,
conselheiro da saúde do mesmo Hashim Thaçi.
O relatório deixa muitas perguntas sem respostas, principalmente o
número exato de prisioneiros vítimas desse tráfico. A justiça sérvia,
por sua vez, fala de 500 pessoas deportadas à Albânia. Também não se
sabe quais foram os parceiros estrangeiros desse tráfico e, sobretudo,
quem foi beneficiado. O relatório revela, no entanto, que 60 pacientes
do hospital universitário de Jerusalém teriam se beneficiado de um
transplante renal em 2001, número excepcionalmente elevado.
É importante dar ao suposto crime seu devido valor. Se o tráfico é
comprovado, trata-se de um crime medonho contra a humanidade, que se
situa, na ordem do horror, do mesmo nível do massacre genocida de
Srebrenica. Outro ponto determinante é o fato de que o tráfico estaria
ocorrendo até 2001, ou seja, até dois anos depois da entrada das tropas
da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Kosovo e da
instauração do protetorado das Nações Unidas sobre o território. O
relatório nota, aliás, que a partir de junho de 1999, a fronteira entre a
Albânia e o Kosovo não estava submetida a nenhum controle real.
O relatório suscitou um clamor de protestos e de desmentidos. Alguns
quiseram desqualificar Marty, apresentando o autor como um “adversário
da independência do Kosovo” e até mesmo como um “inimigo do povo
albanês”. O primeiro-ministro da Albânia, Sali Berisha, o rotulou
abertamente de “racista”. Como suporte para essas afirmações, é
frequentemente citada uma entrevista dada por Marty, em março de 2008,
para o site da Rede Voluntária, na qual ele critica, sob o ponto de
vista da legalidade internacional, a proclamação da independência do
Kosovo4. Essa tomada de posição não traduz de maneira nenhuma
uma “aversão” em relação ao povo albanês, nem ao povo do Kosovo, e o
relatório de Marty não seria nem mais, nem menos legítimo se seu autor
estivesse de acordo com a proclamação da independência, sob esse mesmo
ponto de vista jurídico. Nota-se, enfim, que a imprensa da Albânia
critica explicitamente o discurso “antiamericanista” de Marty, uma vez
que este já revelou, em 2006, o escândalo das prisões secretas da CIA na
Europa. Algumas declarações oficiais de Tirana, nesses últimos dias,
associam o suposto “antiamericanismo” do relator e seu preconceito
“antialbanês”.
Alguns acusam igualmente Marty de “preconceitos políticos”, pois ele
publicou seu relatório alguns dias depois das eleições parlamentares
organizadas em Kosovo, em 12 de dezembro, que foram manchadas por
fraudes grosseiras cometidas, principalmente, ao que parece, pelo
Partido Democrático do Kosovo (PDK), do qual Thaçi faz parte. Esse
argumento é fácil de ser rejeitado, pois a concomitância das datas é
apenas uma coincidência. As eleições foram antecipadas e a data fixada
somente no início de novembro.
Por sua vez, diretamente acusado, Thaçi usou de artilharia pesada para
responder a Marty. Em uma entrevista publicada em 30 de dezembro no
Tages Anzeiger, de Zurique, ele retoma as acusações de racismo e chega
até comparar o relatório à “propaganda de Goebbels”5. Do lado
oposto, o assunto foi igualmente superexplorado no contexto político
suíço, algumas semanas depois da adoção pelo referendum de uma lei que
prevê a expulsão dos “estrangeiros delinquentes”. A presidente da
Confederação, Micheline Calmy-Rey, preferiu então “adiar” o recebimento
do “prêmio da diáspora” que deveria lhe ser atribuído, no fim de
dezembro, pela embaixada do Kosovo, em Berna. Os albaneses, além de
alimentarem os números de crimes na Suíça, seriam também “traficantes de
órgãos”. Entende-se que alguns não querem reconhecer essa incriminação
coletiva.
Vários comentaristas estimam que seria “impossível” atribuir tal crime
aos albaneses e tentam “relativizar” a importância do relatório
lembrando a amplitude dos crimes cometidos pelos sérvios, no Kosovo e em
outros lugares dos Balcãns. É surpreendente a mudança de muitos, que
apresentaram Del Ponte como uma heroína da justiça internacional, quando
ela perseguia os criminosos de guerra sérvios e passaram ao ponto de
colocar em dúvida sua saúde mental, desde o momento em que ela evocou
esse tráfico. Florence Hartman, antiga porta voz de Del Ponte, a
criticou em várias entrevistas como irresponsável por ter apresentado
“como fatos reconhecidos, simples hipóteses”, ressaltando que as
investigações conduzidas pelo TPIY não tinham encontrado provas
conclusivas. Contudo, essas investigações, especialmente na famosa “casa
amarela” de Rripë, nunca puderam ser levadas a termo, em parte por
causa da recusa de colaboração das autoridades albaneses6.
Mesmo esperando uma investigação séria e sistemática que possa trazer à
tona a realidade do tráfico de órgãos e que acusações sejam
eventualmente pronunciadas pelo tribunal competente, se pode considerar
como verídicos vários fatos. A princípio, os corpos de centenas de
sérvios e de outros prisioneiros do UCK nunca foram encontrados e é
pouco provável que estejam sob o pequeno território do Kosovo, onde
todos os eventuais lugares de chacinas e valas comuns já foram
identificados e revirados. Também é certo que um número importante
desses prisioneiros foi deportado para a Albânia, onde o UCK tinha uma
rede de centros de detenção. Devemos admitir também que mais de dez anos
depois dos fatos, é muito provável que esses prisioneiros estejam hoje,
na maioria, mortos. Seus corpos tampouco foram descobertos na Albânia7.
Por outro lado, a existência de um tráfico de órgãos em Kosovo,
alimentado por “voluntários” que vão vender seus rins já foi comprovado.
Pacientes, principalmente israelenses, vão à clínica Medicus de
Prístina para receber os órgãos saudáveis. Esse tráfico implica um
personagem muito inquietante, um cirurgião turco chamado Yusuf Erçin
Sönmez, conhecido por “Doutor Abutre”, atualmente foragido. O caso da
clínica Medicus, cujo processo acaba de ser aberto em Prístina, não está
obrigatoriamente ligado ao eventual tráfico de órgãos praticado, dez
anos antes, com prisioneiros do UCK, mas as coincidências chamam atenção8.
As reações da mídia, da classe política e mais amplamente da sociedade albanesa, especialmente na diáspora9,
lembram a negação, há muito tempo demonstrada por grandes setores da
opinião sérvia face aos crimes cometidos por seu próprio exército. Os
dois argumentos centrais são os mesmos: “nosso povo não pode ter
cometido tal atrocidade”, e “nosso povo foi vítima de crimes ainda
piores do que esses que lhes são imputados”. A realidade dos crimes
cometidos pelas forças sérvias no Kosovo não invalida, no entanto, a
hipótese de que alguns albaneses tenham cometido outro crime,
particularmente infame.
O problema é que “o povo albanês” não é de forma alguma culpado desse
eventual tráfico, assim como “o povo sérvio” não tem que suportar a
responsabilidade pelo massacre genocida de Srebrenica: esses crimes têm
seus culpados e cabe à justiça definir a responsabilidade pessoal. Essa é
a única forma de evitar que povos inteiros, e as gerações futuras,
carreguem o fardo penoso de uma responsabilidade coletiva. No Kosovo,
somente Albin Kurti, o governante do movimento Vetëvendosja
(“Autodeterminação”) parece ter compreendido o verdadeiro significado do
que está em jogo. Ele pediu oficialmente que a Justiça se ocupe do
dossiê de Thaçi, estimando que essa seria a única forma de limpar a
honra da totalidade dos combatentes e de simpatizantes do UCK da
suspeita de uma responsabilidade coletiva10.
Na Albânia, uma das raras vozes críticas que se levantou foi a do
ensaísta Fatos Lubonja, antigo prisioneiro político do regime stalinista
e grande figura de esquerda. Em uma matéria publicada pelo jornal
Panorama, Lubonja ousa estabelecer um paralelo entre esse suposto crime e
o ocorrido em Srebrenica, enfatizando que os albaneses correm o risco,
de agora em diante, de suportar o peso arrasador em seu consciente
coletivo. Denunciando a “frente patriótica”, que se forma de Tirana à
Prístina, para recusar que seja feita uma investigação, ele escreve: “a
acusação é certamente pesada, mas recusar a investigação que a
confirmaria ou a desmentiria é ainda pior. Essa recusa faz de todos nós
culpados e creio que a maioria dos albaneses não gostaria de se sentir
envolvido nesse tipo de crime”11.
As criticas de Marty apontam a ausência de provas fornecidas para seu
relatório. A resolução adotada por unanimidade pela Comissão da
assembleia parlamentar do Conselho da Europa pede justamente que as
investigações sejam diligentes para encontrar essas provas. Na voz da
sua representante de política externa, Catherine Ashton, a União
Europeia avaliou que essa investigação deveria ser dirigida pela missão
europeia Eulex, encarregada de ajudar as instituições do Kosovo na
construção do Estado de direito. Sempre repetindo suas críticas, o
governo albanês comunicou que não se oporia. Por sua vez, Del Ponte
levantou o problema da jurisdição competente para julgar tal assunto: o
TPIY não poderia mais abrir novos dossiês e seria necessário criar um
tribunal ad hoc, ou transmitir o dossiê a Corte Penal internacional (CPI)12.
Enfim, as responsabilidades que apontam o relatório não concernem
somente a Thaçi e os antigos dirigentes da guerrilha albanesa. No seu
livro, Del Ponte explica o muro no qual ela se chocou, quando tentou, a
partir de 2000, conduzir investigações sobre os supostos crimes do UCK,
citando nomeadamente o chefe da missão da ONU, Bernard Kouchner, assim
como o general francês Valentin, então comandante-chefe da KFOR. Para
tentar explicar esse bloqueio, ela escreve: “Estou certa de que os
responsáveis da MINUK e mesmo da KFOR temem por suas vidas e pela vida
dos membros de suas missões”. Indo mais longe, ela acrescenta: “no
espírito da MINUK e da KFOR, [Hashim] Thaçi e [o antigo chefe militar da
UCK, Agim]. Ceku não representava unicamente um perigo para segurança
de seu pessoal e o cumprimento das suas missões: eles colocariam em
perigo toda a construção do processo de paz nos Bálcãs”13.
Em entrevista publicada em 21 de dezembro pelo jornal sérvio Politka, o
capitão canadense Stu Kellock, antigo chefe do departamento de polícia
de Minuk, declara: “Não posso afirmar que Kouchner conhecia o tráfico de
órgãos, mas é impossível que não tenha tido informações sobre o crime
organizado no Kosovo.” De fato, a luta contra o crime organizado
representava uma das prioridades das missões internacionais. O capitão
Kellock explica igualmente que “toda crítica contra Hashim Thaçi e os
seus” era imediatamente rejeitada nos “círculos onde [ele] trabalhava”14.
Por “realismo político”, vários países ocidentais optaram por jogar a
“carta” política que representava Thaçi. É sabido que este último era
aconselhado, já durante a guerra, por agentes de certos serviços de
informação, especialmente a DGSE francesa. A implicação direta de Thaçi
em várias atividades ilegais (extorção, lavagem de dinheiro etc.) está
igualmente comprovada. Por causa da preocupação de não “queimar” um
precioso aliado político, os “protetores” ocidentais de Thaçi escolheram
passar uma esponja em seus “pecados veniais”. Se uma investigação
confirma a implicação de Thaçi em um abjeto tráfico de órgãos, seus
“protetores” ocidentais correm o risco de serem prejudicados.
Interrogado por um jornalista sérvio sobre o tráfico de órgãos em 27 de
fevereiro, quando estava fazendo uma viagem oficial ao Kosovo,
Kouchner, então ministro dos Negócios Estrangeiros, explodiu de rir,
antes de exclamar: “eu tenho cara de quem vende órgãos?”, e de sugerir
ao jornalista “para ir se tratar”15. O riso de Kouchner ecoa hoje de maneira sinistra.
Jean-Arnault Dérens redator-chefe do Courrier des Balkans.
1 O relatório está disponível no site do Conselho Europeu.
2 Tradução francesa: Carla Del Ponte, A caçada. Os criminosos de guerra e eu, Paris, Heloïse d`Ormesson, 2009.
3 Ler Altin Raxhimi, Michael Montgomery e
Vladimir Karaj, “ Albânia e Kosovo: os campos da morte do UCK”, O
Correio dos Bálcãs, 10 de abril de 2009.
4 “Dick Marty: “A independência do Kosovo nao foi decidida na Prístina”, voltairenet.org, 12 de março de 2008.
5 “Martys Vorgehen erinnert mich an Goebbels”, Tages Anzeiger, 30 de dezembro de 2010.
6 Ler Ben Andoni, “Tráfico de órgãos na
Albânia: na “clínica fantasma” de Carla Del Ponte”, O Correio dos
Bálcãs, 19 de maio de 2008.
7 Lembremos que as autoridades albanesas
tinham se recusado de acessar, em 2003, os pedidos dos investigadores
do TPIY, que gostariam de fazer as exumações no cemitério de Rrïpe.
Essa recusa foi oficialmente justificada por “razões culturais”.
8 Ler Tráfico de órgãos: a vasta rede do “Doutor Abutre”, cirurgião turco” O Correio dos bálcãs, 21 de dezembro de 2010.
9 Ler Blerim Shabani & Sevdail
Tahiri, “O relatório de Dick Marty sacode a diáspora albanofone na
suíça”, albinfo.ch, 20 de dezembro de 2010.
10 Ler “Kosovo: Vetëvendosje pede que Thaçi seja apresentado a justiça”, O Correio dos Bálcãs, 18 de dezembro de 2010.
11 Fatos Lubonja, “Pse refusohet raporti i Dick Marti?”, Panorama, 22 de dezembro de 2010.
12 Ler “ Tráfico de órgãos de UCK: Carla
Del Ponte pela transmissão do dossiê a CPI” , O Correio dos bálcãs, 23
de dezembro de 2010.
13 Carla Del Ponte, A Caçada, op.cit., pp.460-461.
14 Ler Rade Maroevic, “Kusner je morao
da zna”, Politika, 21 de dezembro de 2010, e R.S.V., “Tráfico de órgãos:
kouchner sabia”, O Correio dos Balcãs, 29 de dezembro de 2010
15 O vídeo desse encontro circula muito na internet. Podemos consultar no Dailymoton.
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Tráfico de órgãos: um relatório devastador
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
"Tropas" italianas ocupam a mídia, parte do STF e do Congresso
[Laerte Braga]
As “tropas” do Duce Sílvio Berlusconi ocuparam parte do
STF – Supremo Tribunal Federal –, do Congresso Nacional e designaram
orientadores para as chamadas quintas colunas, a mídia privada no
Brasil.
Os “soldados” italianos, ao contrário do que acontece em qualquer guerra, não chegam ao Brasil fardados e armados, mas com malas coloridas carregadas de democracia verde e com liquidez em qualquer canto do mundo. São todas as malas e fardas da grife Armani.
No STF ocuparam e
montaram o seu quartel general no gabinete do ministro presidente César
Peluzo. O gabinete do ministro Gilmar Mendes serve ao setor de
“inteligência” – não confundir com a outra –.
Já
a mídia recebeu orientadores para definir a melhor estratégia com
vistas à extradição de Cesare Battisti. A mídia privada no Brasil atua
ligada a grupos estrangeiros, lembra aquelas “empresas de exportação”
que a CIA – Agência Central de Inteligência – monta para justificar
operações de sequestro, tortura, assassinatos, etc, tudo revelado pelo
site WikiLeaks.
Em
contrapartida e em relação ao Uruguai, o governo de Sílvio Calígula
Berlusconi negou a extradição do capitão Jorge Troccoli, responsável por
prisões, tortura, estupros, sequestros e assassinatos durante a
ditadura militar naquele país e um dos principais operadores da Operação
Condor (ação conjunta dos serviços de tortura das ditaduras militares
envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, sob supervisão
direta dos EUA).
A
alegação do governo de Sílvio Calígula Berlusconi é que o torturador
tem dupla nacionalidade. Em anos anteriores o mesmo aconteceu em relação
ao Brasil, no caso do banqueiro Salvatore Cacciola (preso em Mônaco).
Há
notícias, ainda não confirmadas dadas as dificuldades de obter
informações junto aos “militares” italianos que ocupam partes de setores
públicos do Brasil, que entendimentos estão sendo mantidos entre esse
invasores e deputados do DEM e do PSDB – favoráveis à extradição de
Battisti –, além de grupos e deputados de outros partidos. Sabe-se que a
Monsanto interessada em aumentar seus privilégios no Brasil está
tentando o apoio do deputado Cláudio Vacarezza e os latifundiários
mantêm entendimentos diretos com Aldo Rebelo, aquisição recente do
plantel transgênico e do desmatamento.
O
governo da Itália em nota oficial disse que a invasão desses setores se
deve ao fato que “o melhor produto de exportação do Brasil são as
mulatas e não propriamente os nossos juristas”.
A
decisão visa garantir a “lei” e Sílvio Calígula Berlusconi está
reformando o Coliseu para o combate Battisti versus leões especialmente
adquiridos pela justiça italiana para justiçar o jornalista e escritor
que ganhou o status de refugiado numa das últimas decisões do
ex-presidente Lula, antes de deixar o governo.
Com
relação à mídia privada “brasileira”, os orientadores italianos vão
apenas orientar os agentes tipo William Bonner, William Waack, Alexandre
Garcia, Eraldo Pereira (funcionário de Gilmar Mendes), jornais como
Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Estado de Minas, redes menores,
revistas como Veja, para manter o fogo de artilharia sobre a decisão do
presidente Lula e reforçar a expressão “terrorista” sobre Cesare
Battisti.
A
orientação é ignorar que o julgamento de Battisti foi à revelia, com
base em provas inconclusivas e um acordo entre o governo do Duce Sílvio
Calígula Berlusconi e dois delatores (delação premiada), reforçando a
dor e o sofrimento de eventuais vítimas da luta armada naquele país.
Já
a dor das vítimas da repressão aqui no Brasil, ou o caso do capitão
estuprador dos fuzileiros navais do Uruguai, essa é para deixar de lado.
Não
está confirmado, dado ao quadro confuso e ao cerco que as “tropas”
italianas mantêm sobre a parte do território brasileiro ocupado, mas
fontes extra oficiais garantem que é fato, que os italianos querem um
horário especial para adentrar – isso mesmo, adentrar – à célebre casa
do BBB-11 e lá restaurarem suas energias para futuros combates.
Ao
que se saiba não há vetos nem de Boninho, diminutivo de Nero e nem da
direção da Globo, braço dos serviços de inteligência da colônia
norte-americana que ainda teimam em chamar de Itália.
Ao
certo se sabe que o capitão uruguaio Jorge Troccoli será nomeado
diretor geral do novo Coliseu. Caberá a ele, entre outras coisas, afiar
os dentes dos leões antes de entrarem na arena e aplicar as chibatadas,
choques elétricos, pau de arara, etc, estupro, nos presos e presas a
serem justiçados.
Em
troca será declarado herói nacional da Itália e terá direito a um
monumento à direita de Mussolini (Berlusconi pretende introduzi-lo no
Coliseu, ao lado do seu).
O
governo brasileiro até agora se mantém em silêncio. Espera que haja
reações por parte de ministros do STF cujos gabinetes ainda não foram
ocupados por “tropas” italianas. O grande temor de alguns setores é que o
norte-americano Nelson Jobim, disfarçado de ministro da Defesa do
Brasil, possa querer interferir no processo e garantir a invasão com um
arremedo do IV Frota norte-americana.
Obama
viria – a informação não é oficial, mas veio da Casa Branca – com a
missão de assumir o comando das cervejarias brasileiras. Hillary Clinton
seria recebida por Susana Vieira e seu namorado e para despistar e não
despertar indignação dos brasileiros, ambas passeariam com cobertura
total da Globo, em shoppings do Rio acompanhadas de suas respectivas
cachorrinhas.
Tudo deve ser gravado para um programa exclusivo de Fausto Silva e cogita-se de uma despedida especial do Casseta e Planeta.
Eliane
Catanhêde e colunistas da Veja, Estado de S. Paulo, ficarão
encarregados de fornecer análises fajutas, mas recheadas de
“fundamentos” oriundos das malas dos invasores, assegurando que está
tudo na mais perfeita ordem.
Se
a situação apertar, o transexual do BBB-11 mostra ao vivo, a cores e
sem cortes, sua condição, assegurando os custos de toda a operação com
telefonemas para responder sobre se é vero ou não.
As medalhas de “meus heróis” serão entregues por Pedro Bial.
Em
homenagem a Plínio Salgado e a Plínio Oliveira, dois “mártires” da luta
fascista no Brasil, ao final todos se reunirão no Projac para gritar
ANAUÊ.
O general
José Elito que quer que seja esquecida toda a barbárie da ditadura
militar brasileira será homenageado e prestará continência,
simultaneamente, às bandeiras da colônia Itália e da corte, EUA.
Agentes do Mossad farão a segurança.
Se
a coisa apertar vão transferir o quartel general para a sede da Opus
Dei no Brasil, o palácio do governo de São Paulo e instalar os serviços
de inteligência no esquema FIESP/DASLU, com a contrapartida do
contrabando e sonegação.
Aécio Neves vai ficar de plantão para qualquer emergência. Haverá uma ambulância superequipada para qualquer contratempo.
|
Equador avança na Educação..
Correa qualifica de histórica Lei de Educação no Equador |
Escrito por Erica Soares no Prensa Latina | |||||
Itália usa dois pesos e duas medidas ao se recusar à extradição de Troccoli
Por Redação - do Correio do Brasil
O
governo italiano, embora empenhado na extradição do escritor e
ex-ativista político Cesare Battisti, usa outro peso, e outra medida, no
caso do uruguaio Jorge Troccoli. Ele foi capitão dos Fuzileiros Navais
do Uruguai e contribuiu para o desaparecimento de oposicionistas da
ditadura uruguaia. Troccoli foi um dos agentes da Operação Condor, que atuou na repressão a militantes de esquerda nos países do Cone Sul durante as ditaduras militares nos anos 70 e 80.
Em
setembro do ano passado, o ministro da justiça da Itália, Angelino
Alfano, negou-se à extraditar Troccoli para o Uruguai, alegando que ele é
cidadão italiano, tomando como base jurídica um tratado assinado entre
os dois países em 1879. O mesmo governo que se nega a extraditar o
torturador, condenado pela Justiça uruguaia, é o mesmo que se considera
ofendido pela não extradição de Battisti, apesar da decisão seguir as
normas do Direito e da legislação brasileira, que por sua vez se baseia
em uma série de convenções internacionais.
Editor do sítio na internet Gramsci e o Brasil, Luiz Sérgio Henriques relata, em artigo publicado no blog Conteúdo Livre,
que “não faltaram pressões diplomáticas do governo uruguaio, recursos
às instâncias do Judiciário italiano, etc., mas o governo de Berlusconi
parece irredutível na sua decisão sobre Troccoli, ‘o Battisti
uruguaio’, no dizer do jornal L’Unità“.
“O contexto
italiano dos anos 1970, no qual se desenrolaram os episódios que levaram
à condenação de Cesare Battisti, tem sido descrito com uma certa
superficialidade nesta nova e acirrada batalha entre defensores e
críticos da recente medida do ministro Tarso Genro, que deu refúgio
político àquele militante do PAC — os Proletari armati per il comunismo.
Supõe-se muitas vezes que a Itália de então fosse uma ditadura e que se
justificava, contra tal ditadura, a resistência armada, ou ainda que se
viviam tempos revolucionários, a serem consumados com o recurso à
“crítica das armas”, pretensa antessala do comunismo. Supõe-se ainda
que, hoje, tal como dito pelo ministro Tarso Genro, a Itália viva algo
semelhante a um estado de exceção, incapaz de zelar pela integridade
física de um prisioneiro ou, então, disposto a fazer desencadear contra
ele injustificável perseguição política” afirma.
“São suposições
que merecem, pelo menos, alguns reparos. A Itália dos anos 1970, mesmo
tendo recorrido a leis de emergência na luta contra o terror (tanto o
chamado ‘negro’, de direita ou extrema direita, quanto o chamado
“vermelho”, de esquerda ou extrema esquerda), jamais cancelou a vigência
da ordem democrática e constitucional. Na verdade, havia uma
“democracia de partidos” em pleno funcionamento, e mais do que isso: os
anos 70 do século passado representaram, por assim dizer, o auge e o
rápido declínio da possibilidade de entrada no governo de um partido tão
significativo quanto o antigo PCI. E isto por uma série complexa de
motivos.
“Por décadas, como se sabe, este partido desempenhou
importante papel na reconstrução da Itália, depois do desastre do
fascismo e da guerra: o PCI, mas também o PSI e o movimento sindical
representaram forças poderosas no processo de modernização e
democratização de um país devastado pelo fascismo e pela guerra: fizeram
com que o Estado italiano começasse finalmente a superar taras
históricas, incluindo as classes subalternas na sua estrutura,
legitimando-as como atores de fato e de direito da cena política. E
mesmo a Democracia Cristã, sob o impacto deste desafio, não se comportou
como partido tradicional da direita, ao reunir massas católicas,
conservadoras ou moderadas, e legitimar, também por este lado, o regime
democrático e os conflitos a ele inerentes.
“Os anos 1970, vistos
como o auge deste audacioso movimento de democratização, transcorreram,
na política, sob a expectativa do sorpasso (a ultrapassagem) dos
democratas cristãos por parte dos comunistas, que pareciam prestes a se
tornar a principal força política e eleitoral. E, naturalmente, a
presença dos comunistas, no centro de um novo bloco de forças,
representaria o início da via italiana para o socialismo, teorizada pela
velha direção togliattiana, ou ainda o ponto de partida para a
introdução de “elementos do socialismo”, na visão de Enrico Berlinguer,
um dos últimos grandes dirigentes do comunismo histórico”, acrescenta.
“Este,
definitivamente, não é o quadro de um estado de exceção. Bem ao
contrário, tratava-se de uma sociedade e de um Estado em ebulição, nos
quais se testava a possibilidade de uma transição democrática para uma
sociedade de tipo socialista, sob a égide da democracia política, das
liberdades e do respeito às leis. Na frase de Berlinguer, uma frase que
por si só é quase um programa político ainda hoje, a democracia devia
ser “um valor universal”, não um expediente tático que se atira na lata
do lixo uma vez obtido o poder. Um elemento fundamental, portanto, do
próprio socialismo, que não devia ter as estruturas viciadas do partido
único ou do partido-Estado.
“Sabe-se hoje que aquela possibilidade
de transição era frágil, e por um conjunto grande de razões. Primeiro e
fundamentalmente, o povo italiano, chamado a se pronunciar regularmente
em eleições livres, jamais permitiu aquele sorpasso. De modo
consistente e ao longo dos anos, a formação de um bloco alternativo ao
da Democracia Cristã nunca se mostrou viável — e só numa eleição para o
Parlamento europeu, já nos anos 1980, é que o PCI teria mais votos do
que a DC, mas isso, registre-se, sob o impacto da morte em campanha do
próprio Berlinguer. Em segundo lugar, eram os anos em que se iniciou a
grande reestruturação econômica e política do capitalismo, depois do
impetuoso desenvolvimento do pós-guerra e do compromisso entre
capitalismo e democracia a que dera lugar. Os “caminhos nacionais” se
estreitavam e se tornavam impraticáveis na Europa, e o próprio
“eurocomunismo” de Berlinguer, que de certa forma tinha consciência do
fim destes caminhos nacionais, restou dramaticamente isolado: sem o
apoio dos demais partidos comunistas tradicionais (e obviamente sem o
apoio da URSS) e sem os meios para agir no ambiente sob domínio dos
Estados Unidos e do Pacto Atlântico”, afirma o articulista.
“Um
terceiro elemento se juntou a este conjunto de fatores, e com ele
entramos plenamente no nosso tema. Setores subversivos da direita
intensificaram sua velha ‘estratégia da tensão’, iniciada ainda nos anos
1960, partindo para uma sequência de atentados e carnificinas que não
poupavam vítimas civis e até buscavam intensificar o número destas. Era a
marca do “terrorismo negro”, a de matar indiscriminadamente, como
quando, já no final de 1980, explodiu-se a estação ferroviária de
Bolonha — uma infame ‘punição’ contra uma cidade símbolo do PCI e então
modelo de vida cívica e de economia plural e inovadora.
“A estes
setores somou-se, gravemente, uma miríade frequentemente confusa de
organizações de extrema esquerda, das quais a mais conhecida são as
Brigadas Vermelhas, responsáveis pelo ainda hoje obscuro e sob muitos
aspectos inexplicado assassinato de Aldo Moro, o político
democrata-cristão mais aberto a entendimentos com o PCI. A marca deste
“terrorismo vermelho” era uma certa seletividade: assassinavam-se
políticos e sindicalistas, inclusive do PCI, grandes dirigentes
industriais e pequenos comerciantes. Às vezes, a seletividade tinha
algum requinte sádico, como quando se adotou uma nova tática para a qual
se criou o vocábulo gambizzare. Como se sabe, gamba é
perna, em italiano. Alvejar joelhos e pernas dos adversários passou a
ser algumas vezes a nova tática dos que cogitavam chegar ao socialismo
ou ao comunismo pela luta armada. Considero isso particularmente cruel.
Uma perversão da política. Coisa de criminosos comuns.
“Não se
trata de ‘criminalizar a oposição ou o dissenso’, como hoje tantas vezes
se diz a propósito de tudo e de nada. Por tudo o que dissemos, pode-se
muito bem constatar que, na tarefa comum de desestabilizar o Estado de
Direito e fazer retroceder a luta política na Itália, retirando o
protagonismo das massas e barrando o notável processo de socialização da
política então em andamento, aliaram-se objetiva e subjetivamente o
terrorismo vermelho e o negro. Uma aliança que muitas vezes foi tecida
com instrumentos fornecidos por setores desviados do Estado —
particularmente os serviços secretos —, por lojas maçônicas como a
tristemente célebre P-2, por espiões e agentes de ambos os lados em
conflito na Guerra Fria e, last but not least, pela
criminalidade comum das variadas máfias e camorras. Não exagero nem
julgo fatos específicos, mas Cesare Battisti é uma criatura deste
momento e deste contexto. Nem mais nem menos. Gente como ele cometeu
crimes iguais ou semelhantes aos que lhe são imputados. Crimes contra
pessoas comuns e, simultaneamente, contra a democracia e contra o Estado
de Direito.
“A democracia italiana defendeu-se deste assalto
violento sem se desviar do regime constitucional. A atitude do PCI,
então hegemônico entre as forças de esquerda, foi decisiva para que se
isolassem e derrotassem os setores subversivos: a atitude de uma força
de esquerda madura e responsável, atenta à defesa do seu programa
fundamental, que, na verdade, era a Constituição republicana feita sob a
presidência de Umberto Terracini, um grande comunista amigo de Gramsci e
que, por sinal, recebeu uma pena ligeiramente superior à deste último
no processone fascista contra os dirigentes do PCI nos anos
1920. A involução autoritária, objetivo nem tão oculto dos terroristas
de direita e de esquerda, foi impedida, e é em momentos desse tipo que
se afirma, ou não, a capacidade de direção nacional de uma grande força
política, mesmo eternamente condenada à oposição pelos constrangimentos
da Guerra Fria”, pontua Henriques.
“Hoje o PCI não mais existe,
mas é perfeitamente possível afirmar que as forças que majoritariamente o
compunham se encontram, ao lado de católicos democráticos, no
recentemente criado Partido Democrático, depois da experiência do
Partido Democrático da Esquerda e dos Democráticos de Esquerda. A Itália
tem um governo de centro-direita e à sua frente está uma figura
particularmente polêmica, a de Silvio Berlusconi. A coalizão no poder
inclui forças que expressam um persistente e não muito disfarçado
mal-estar com a própria unidade nacional, como é o caso da Liga Norte.
Expressa-se nesta Liga até mesmo um racismo intraétnico contra os
italianos do Sul. A luta política, pois, é duríssima, as tensões sociais
são inéditas, mas nada disso autoriza a caracterizar como fascista ou
pró-fascista o Estado italiano. Na presidência deste Estado encontra-se
um homem do porte de Giorgio Napolitano, egresso do PCI, assim como, nos
anos 1970, à frente do Estado estava Sandro Pertini, um socialista
histórico com passagem relevante numa luta armada de verdade, travada
por motivos históricos irrefutáveis — a Resistência contra o fascismo e o
nazismo.
“Deduz-se facilmente que o atual governo de
centro-direita, o terceiro dirigido por Berlusconi, está imerso em
contradições graves, embora não tenha chegado ao poder através de golpe
de Estado e o país continue sendo, como é acaciano observar, uma
democracia, apesar de todas as suas imperfeições. Gostaria de chamar a
atenção para uma dessas contradições do governo Berlusconi, um fato que
talvez ainda não tenha sido devidamente comentado e divulgado no nosso
país.
“Tal contradição, que aqui nos interessa, encarna-se num
personagem: tem nome e responde por atos tão graves quanto os imputados a
Cesare Battisti. Jorge Troccoli — este o personagem — foi capitão dos
Fuzileiros Navais do Uruguai e contribuiu para o desaparecimento de
muitos oposicionistas da ditadura uruguaia, entre os quais seis cidadãos
italianos. Troccoli foi um dos agentes da Operação Condor, uma
“internacional” do terrorismo de Estado em ação nos países do Cone Sul
dominados pelas ditaduras militares nos anos 1970 e 1980. O curioso é
que o governo de Berlusconi negou a extradição de Troccoli para o
Uruguai, alegando dupla cidadania. Fora este último aspecto, o caso
Troccoli tem muitas semelhanças com o de Battisti. Não faltaram pressões
diplomáticas do governo uruguaio, recursos às instâncias do Judiciário
italiano, etc., mas o governo de Berlusconi parece irredutível na sua
decisão sobre Troccoli, ‘o Battisti uruguaio’, no dizer do jornal L’Unità. E se trata de um episódio recente, cujas escaramuças diplomáticas e judiciárias mais dramáticas ocorreram em 2008″ acrescenta.
‘No
fundo, diante de situações como estas, volto a pensar num homem como
Berlinguer. Um homem de partido, sem dúvida um comunista que aos olhos
de hoje se diria tradicional, mas cuja formação moral, cuja
reflexividade e até certa melancolia talvez o tenham poupado de ilusões
mais graves quanto às virtudes supostamente imaculadas dos seus
partidários e aos defeitos pretensamente insuperáveis dos seus
adversários. Um líder cujo carisma talvez residisse no anticarisma, no
apelo ao que havia de mais sensato, razoável e inteligente nos seus
amigos, partidários e até mesmo nos que a ele e ao PCI legitimamente se
opunham. Precisamos de homens e mulheres assim, que apelem, com grande
autoridade moral e sem ambiguidade, ao caráter universal de alguns
valores básicos. Sem isso, o que nos espera é a agitação estéril dos
sectarismos. De direita ou de esquerda”, encerra o artigo o editor Luiz
Sérgio Henriques.
Problema diplomático
A conclusão, segundo Roberto Cotroneo, jornalista do diário italiano de esquerda L’Unità, é que “não há nada a fazer”.
“O
caso Cesare Battisti não é mais um problema diplomático entre Itália e
Brasil, está se tornando algo muito mais grave”. O jornalista lembra
que chamar o embaixador italiano no Brasil à Itália, para consultas,
como o fez o premiê Silvio Berlusconi “é um ato duríssimo e sob certos
aspectos clamoroso”.
“Neste momento, a tensão entre os dois
países, com uma longa tradição de boas relações diplomáticas, parece
pelo menos surpreendente. Nesta altura, Batisti certamente terminará
como refugiado político no Brasil, porque nenhum país no mundo expõe-se
com um parecer do seu presidente e depois recua das suas decisões. E é
francamente impensável, sendo o Brasil uma das maiores potências do
mundo, que a Itália interrompa as relações diplomáticas”, afirma, em
artigo publicado um ano atrás.
Presidenta, sim!
por Marcos Bagno, na CartaCapital
O
Brasil ainda está longe da feminização da língua ocorrida em outros
lugares. Dilma Rousseff adotou a forma “presidenta”, que assim seja
chamada
Se uma mulher e seu cachorro estão atravessando a rua e um motorista embriagado atinge essa senhora e seu cão, o que vamos encontrar no noticiário é o seguinte: “Mulher e cachorro são atropelados por motorista bêbado”. Não é impressionante? Basta um cachorro para fazer sumir a especificidade feminina de uma mulher e jogá-la dentro da forma supostamente “neutra” do masculino. Se alguém tem um filho e oito filhas, vai dizer que tem nove filhos. Quer dizer que a língua é machista? Não, a língua não é machista, porque a língua não existe: o que existe são falantes da língua, gente de carne e osso que determina os destinos do idioma. E como os destinos do idioma, e da sociedade, têm sido determinados desde a pré-história pelos homens, não admira que a marca desse predomínio masculino tenha sido inscrustada na gramática das línguas.
Somente no século XX as mulheres puderam começar a lutar por seus
direitos e a exigir, inclusive, que fossem adotadas formas novas em
diferentes línguas para acabar com a discriminação multimilenar. Em
francês, as profissões, que sempre tiveram forma exclusivamente
masculina, passaram a ter seu correspondente feminino, principalmente no
francês do Canadá, país incomparavelmente mais democrático e moderno do
que a França. Em muitas sociedades desapareceu a distinção entre
“senhorita” e “senhora”, já que nunca houve forma específica para o
homem não casado, como se o casamento fosse o destino único e possível
para todas as mulheres. É claro que isso não aconteceu em todo o mundo, e
muitos judeus continuam hoje em dia a rezar a oração que diz “obrigado,
Senhor, por eu não ter nascido mulher”.
Agora que temos uma mulher na presidência da República, e não o
tucano com cara de vampiro que se tornou o apóstolo da direita mais
conservadora, vemos que o Brasil ainda está longe da feminização da
língua ocorrida em outros lugares. Dilma Rousseff adotou a forma
presidenta, oficializou essa forma em todas as instâncias do governo e
deixou claro que é assim que deseja ser chamada. Mas o que faz a nossa
“grande imprensa”? Por decisão própria, com raríssimas exceções, como
CartaCapital, decide usar única e exclusivamente presidente. E chovem as
perguntas das pessoas que têm preguiça de abrir um dicionário ou uma
boa gramática: é certo ou é errado? Os dicionários e as gramáticas
trazem, preto no branco, a forma presidenta. Mas ainda que não
trouxessem, ela estaria perfeitamente de acordo com as regras de
formação de palavras da língua.
Assim procederam os chilenos com a presidenta Bachelet, os nicaraguenses com a presidenta Violeta Chamorro, assim procedem os argentinos com a presidenta Cristina K. e os costarricenses com a presidenta Laura Chinchilla Miranda. Mas aqui no Brasil, a “grande mídia” se recusa terminantemente a reconhecer que uma mulher na presidência é um fato extraordinário e que, justamente por isso, merece ser designado por uma forma marcadamente distinta, que é presidenta. O bobo-alegre que desorienta a Folha de S.Paulo em questões de língua declarou que a forma presidenta ia causar “estranheza nos leitores”. Desde quando ele conhece a opinião de todos os leitores do jornal? E por que causaria estranheza aos leitores se aos eleitores não causou estranheza votar na presidenta?
Assim procederam os chilenos com a presidenta Bachelet, os nicaraguenses com a presidenta Violeta Chamorro, assim procedem os argentinos com a presidenta Cristina K. e os costarricenses com a presidenta Laura Chinchilla Miranda. Mas aqui no Brasil, a “grande mídia” se recusa terminantemente a reconhecer que uma mulher na presidência é um fato extraordinário e que, justamente por isso, merece ser designado por uma forma marcadamente distinta, que é presidenta. O bobo-alegre que desorienta a Folha de S.Paulo em questões de língua declarou que a forma presidenta ia causar “estranheza nos leitores”. Desde quando ele conhece a opinião de todos os leitores do jornal? E por que causaria estranheza aos leitores se aos eleitores não causou estranheza votar na presidenta?
Como diria nosso herói Macunaíma: “Ai, que preguiça…” Mas de uma
coisa eu tenho sérias desconfianças: se fosse uma candidata do PSDB que
tivesse sido eleita e pedisse para ser chamada de presidenta, a nossa
“grande mídia” conservadora decerto não hesitaria em atender a essa
solicitação. Ou quem sabe até mesmo a candidata verde por fora e azul
por dentro, defensora de tantas ideias retrógradas, seria agraciada com
esse obséquio se o pedisse. Estranheza? Nenhuma, diante do que essa
mesma imprensa fez durante a campanha. É a exasperação da mídia,
umbilicalmente ligada às camadas dominantes, que tenta, nem que seja por
um simples -e no lugar de um -a, continuar sua torpe missão de
desinformação e distorção da opinião pública.
Marcos Bagno é professor de Linguística na Universidade de Brasília
Luiz Carlos Prestes
Preservemos o seu legado revolucionário
Anita Leocadia Prestes*Odiario.info
Luiz
Carlos Prestes nasceu em 3 de janeiro de 1898, em Porto Alegre (RS), e
faleceu em 7 de março de 1990, no Rio de Janeiro, aos 92 anos de idade.
Desde muito jovem, Prestes revelou indignação com as injustiças sociais e
a miséria de nosso povo, mostrando-se preocupado com a busca de
soluções efetivas para a situação deplorável em que se encontrava a
população brasileira, principalmente os trabalhadores do campo, com os
quais tivera contato durante a Marcha da Coluna (1924-27), que ficaria
conhecida como a Coluna Prestes.
Muito antes de tornar-se comunista, Prestes já era um
revolucionário. Sua adesão aos ideais comunistas e ao movimento
comunista apenas veio comprovar e confirmar sua vocação revolucionária,
seu compromisso definitivo com a luta pela emancipação econômica, social
e política do povo brasileiro. Como revolucionário, Prestes foi um
patriota - um homem que dedicou sua vida à luta por um Brasil melhor,
por um Brasil onde não mais existissem a fome, a miséria, o
analfabetismo, as doenças, a mortalidade infantil e as demais chagas que
continuam a infelicitar nosso país.
Comunista convicto
Comunista convicto
A descoberta da teoria marxista e a adesão ao comunismo
representaram, para Prestes, o encontro com uma perspectiva, que lhe
pareceu factível, de realização dos anseios revolucionários por ele até
então alimentados, principalmente durante a Marcha da Coluna. A luta à
qual resolvera dedicar sua vida encontrava, dessa forma, um embasamento
teórico e um instrumento para ser levada adiante - o Partido Comunista. O
Cavaleiro da Esperança, uma vez convencido da justeza dos novos ideais
que abraçara, tornava-se também um comunista convicto e disposto a
enfrentar toda sorte de sacrifícios na luta pelos objetivos traçados.
No processo de aproximação ao PCB, Prestes rompeu de público com
seus antigos companheiros - os jovens militares rebeldes conhecidos como
os «tenentes» -, posicionando-se abertamente a favor do programa da
«revolução agrária e anti imperialista» defendido pelos comunistas
brasileiros. Seu Manifesto de Maio de 1930 consagra o início de uma nova
fase na vida do Cavaleiro da Esperança. A partir daquele momento,
Prestes deixava definitivamente para trás os antigos compromissos com o
liberalismo dos «tenentes» e enveredava pela via da luta pelos ideais
comunistas que passariam a nortear toda sua vida.
Pela primeira vez na história do Brasil, uma liderança de grande
projeção nacional, a personalidade de maior destaque no movimento
tenentista, - na qual apostavam suas cartas as elites oligárquicas
oposicionistas, na expectativa de que o Cavaleiro da Esperança pusesse
seu cabedal político a serviço dos seus objetivos, aceitando participar
do poder para melhor servi-las - recusa tal poder, rompendo com os
políticos das classes dominantes para juntar-se aos explorados e
oprimidos, para colocar-se do lado oposto da grande trincheira aberta
pelo conflito entre as classes dominantes e as dominadas, entre
exploradores e explorados. Prestes tomava o partido dos oprimidos,
abandonando as hostes das elites comprometidas com os donos do poder,
não vacilando jamais diante dos grandes sacrifícios que tal opção lhe
acarretaria.
Caminho da luta
Tratava-se de um fato inédito, jamais visto no Brasil. Luiz Carlos
Prestes, capitão do Exército, que se tornara general da Coluna Invicta,
que fora reconhecido como liderança máxima das forças oposicionistas ao
esquema de poder vigente no Brasil até 1930, talhado, portanto, para
transformar-se no líder da «revolução» das elites oligárquicas, numa
liderança política confiável dessas elites, usava seu prestígio para
indicar ao povo brasileiro um outro caminho – o caminho da luta pela
reforma agrária radical e pela emancipação nacional do domínio
imperialista, o caminho da revolução social e da luta pelo socialismo.
Como foi sempre coerente consigo mesmo e com os ideais
revolucionários a que dedicou sua vida, sem jamais se dobrar diante de
interesses menores ou de caráter pessoal, Prestes despertou o ódio dos
donos do poder, que se esforçariam por criar uma História Oficial
deturpadora tanto de sua trajetória política quanto da história
brasileira contemporânea.
Exemplo para os jovens
Mesmo após seu falecimento, Prestes continua a incomodar os donos do
poder, o que se verifica pelo fato de sua vida e suas atitudes não
deixarem de serem atacadas e/ou deturpadas, com insistência
aparentemente surpreendente, uma vez que se trata de uma liderança do
passado, que não mais está disputando qualquer espaço político. Num país
em que praticamente inexiste uma memória histórica, em que os donos do
poder sempre tiveram força suficiente para impedir que essa memória
histórica fosse cultivada, presenciamos um esforço sutil, mas constante,
desenvolvido através de modernos e possantes meios de comunicação, de
dificultar às novas gerações o conhecimento da vida e da luta de homens
como Luiz Carlos Prestes, cujo passado pode servir de exemplo para os
jovens de hoje.
Luiz Carlos Prestes dedicou 70 anos de sua vida à luta por um futuro
de justiça social e liberdade para o povo brasileiro. Luiz Carlos
Prestes foi um revolucionário, um comunista e um internacionalista, que
jamais vacilou na luta pelos ideais socialistas e pela vitória da
revolução socialista no Brasil e em nosso continente latino-americano.
Prestes foi um defensor conseqüente dos países socialistas, tendo à
frente a URSS. Esteve sempre solidário com as Revoluções Cubana e
Nicaragüense. O legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes deve ser
preservado e desenvolvido pelas novas gerações de brasileiros e
latino-americanos. Este é o objetivo principal do Instituto Luiz Carlos
Prestes (www.ilcp.org.br) recentemente criado no Rio de Janeiro.
* Anita Leocádia Prestes é professora do Programa de
Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto
Luiz Carlos Prestes.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Deus, o Mundo Social e nós...
A todos os lutadores e lutadoras das causas socias que buscam nas ações coletivas melhorar a qualidade de vida e minimizar os arbíttrios e abusos cometidos por aqueles que detem o poder economico e escravizam a humanidade despossuida.
A malícia contra a sede do capital
Orlando Margarido na Carta Capital
Aos que virão depois, realmente vivo em tempos sombrios. Uma
linguagem sem malícia é tola, uma testa sem rugas implica indiferença.
Aquele que ri apenas ainda não recebeu a terrível notícia.” Estas
palavras, ditas por um já maduro Bertolt Brecht (1898-1956) diretamente à
câmera, não são precisas quanto a um momento político ou histórico,
embora possam se encaixar em passagens sombrias de sua vida.
Adolescente, Brecht viu a Primeira Guerra Mundial eclodir. Mais
tarde, o dramaturgo e diretor alemão acompanhou o nascimento do nazismo,
que o obrigou a se exilar. Adulto, enfrentou a Segunda Guerra e foi
vítima do macarthismo quando vivia nos Estados Unidos. Mas as palavras
contidas no documentário A Vida de Bertolt Brecht, de Joachim Lang,
dizem mais claramente de uma postura diante da arte e da política,
indissociáveis no caso, de seu tempo. É improvável separar o homem
marxista do artista que foi um dos criadores do teatro épico e renovador
da cena teatral europeia com influência mundial.
Constata-se tal premissa na aproximação de Brecht com o cinema,
prática de resultados famosos, como a adaptação do musical A Ópera dos
Três Vinténs pelas mãos de G.W. Pabst (A Caixa de Pandora). Dois anos
depois ele assinaria a versão cinematográfica da ópera com a música de
Kurt Weill. Trata-se de um dos cinco filmes que Brecht dirigiu,
roteirizou e com os quais de alguma forma colaborou, presentes na caixa
de DVDs que sai agora pela distribuidora Versátil.
Os três discos do pacote incluem ainda o documentário de Lang e
depoimentos de especialistas brasileiros no autor alemão. O lançamento
contribui para uma revisão do impacto das ideias brechtianas, de raiz
popular, apesar de terem resultado em muitos estudos acadêmicos. Nos
cabarés e bares de Munique, onde se consumiam cerveja e música, Brecht
delineou os primeiros temas de interesse, inicialmente em Baal, peça
encenada em 1923, e na estreia na direção de cinema, no mesmo ano, com
Os Mistérios de uma Barbearia, média-metragem que é uma das pérolas
desta caixa.
No filme, codirigido por Erich Engel, o mesmo Brecht que antes fora
permeado por certo patriotismo e credo na força do povo alemão começa a
ser tomado pelo marxismo e pela crítica à moral pequeno-burguesa. Para
tanto, foi imprescindível o encontro com o ator comediante Karl
Valentin, que fazia as vezes de um Charles Chaplin alemão e personificou
os novos pensamentos do dramaturgo.
São curiosas as conotações do surrealismo, movimento de vanguarda
naquele momento em Paris, na história do barbeiro ensandecido que
constrange os clientes. Cabeças são cortadas a um mero golpe de navalha e
então encaixadas novamente ao corpo, sugerindo o tom absurdo, no
sentido da linguagem conceitual, que buscava a provocação rápida. Assim
como no poeta libertário Baal, esse personagem da barbearia cedo
representa o humor contestador que Brecht carregaria em seu trabalho.
Para compreender melhor como Brecht realizaria criações mais
ambiciosas e políticas, como A Ópera dos Três Vinténs, é preciso voltar a
seu cotidiano de estudante de medicina durante a Primeira Guerra.
Horrorizado com a crueldade do conflito, ele se interessa pelos ideais
da Revolução Russa de 1917. O marxismo o capta pela noção de igualdade e
paz. Lida a obra de Karl Marx, ele desenvolve o conceito político que
ganhará peso no musical, aliado ao encontro definidor com Kurt Weill.
Juntos, os artistas consolidam aquele que é um dos primeiros projetos do
teatro épico pensado por Brecht.
Como lembra a professora Iná Camargo Costa em depoimento, naquele
período, na Alemanha, havia três gêneros em voga: o cabaré, dedicado ao
estrato baixo da sociedade; a opereta, de gosto médio; e por fim a
ópera, vinculada ao público burguês. Brecht confunde a hierarquia em A
Ópera dos Três Vinténs, trazendo o submundo para o centro do espetáculo,
superior por excelência.
Assim, numa Londres miserável, o protagonista Mack the Knife (versão
em inglês mais popular para Macheath) surge como o golpista de casaca
rodeado por asseclas que mede poder com Peachum, rico explorador de
mendigos. Sem suspeitar, Mack se casa com a filha do rival e o conflito
se estabelece com uma solução a contento para ambos os lados.
Institucionaliza-se o roubo com a fundação de um banco.
Seria apenas o primeiro petardo do dramaturgo contra o capitalismo,
mas ainda de cunho metafórico. Apenas um ano depois, Brecht seria mais
claro em Kuhle Wampe, cujo roteiro ele assina em parceria com Ernst
Ottwalt para o diretor Slatan Dudow. Inspirado pela situação de
desemprego de 6 milhões de alemães, cenário próprio para a ascensão de
uma propalada tábua de salvação como o nazismo, o dramaturgo revela em
imagens as teses socialistas para discutir aquele ambiente de medo e
pobreza.
A crise alemã é demonstrada tanto na vertente coletiva, quando
centenas de jovens disputam uma chance de emprego rodando a cidade com
suas bicicletas, quanto na visão individual, no destino de um rapaz que
se suicida pressionado pela família. Embora não traduzido na versão do
DVD, o subtítulo original do filme guarda um significativo
questionamento dos realizadores com a pergunta A Quem Pertence o Mundo?
Mas quem resume o pensamento dominante entre a população no período é um
anônimo personagem, que ao ver o corpo do jovem suicida exclama: “Um
desempregado a menos!” Ainda no pacote, um complemento a essa
investigação de um momento delicado da Alemanha está no curta Como Vive o
Trabalhador Berlinense, realizado um ano antes por Dudow.
O domínio nazista naturalmente preocupava Brecht e o obrigou a uma
vida de peregrinação, primeiro em países escandinavos e depois nos
Estados Unidos, onde se radicou em Los Angeles. Premido pelas mesmas
contingências de exílio, o diretor austríaco Fritz Lang encontraria em
Hollywood o melhor autor possível para seu roteiro de Os Carrascos
Também Morrem, de 1943. Tornou-se um clássico essa reconstituição de tom
noir do assassinato em Praga do oficial da SS Reinhard Heydrich.
Conhecido por “carniceiro” ou “carrasco”, sua morte gerou um violento
contra-ataque da Gestapo, que exterminou duas aldeias tchecas.
Ainda que a opção de Lang vá no sentido cinematográfico do gênero, no
caso suspense e ação, o recado de Brecht é alcançado nas entrelinhas,
com a preocupação didática de sempre. O cinema talvez perca um tanto
desse aspecto em relação ao teatro, linguagem onde atualmente fica mais
visível sua influência, que culmina com a fundação do grupo Berliner
Ensemble em 1949.
Assinar:
Postagens (Atom)