Esquerda
- Os sinais da nova tormenta estão à vista há algum tempo. A FAO
alertou que os preços do arroz, trigo, açúcar, cevada e carne
continuarão altos ou vão registar significativos aumentos em 2011.
Por
Thalif Deen, IPS
Nações Unidas – A Organização das Nações Unidas
(ONU), que tenta ajudar cerca de mil milhões de pessoas famintas no
mundo, antecipa outra crise alimentar neste ano.
E os sinais da nova tormenta estão à
vista há algum tempo. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e a Alimentação (FAO), com sede em Roma, alertou, na semana passada,
que os preços mundiais do arroz, trigo, açúcar, cevada e carne
continuarão altos ou vão registar significativos aumentos em 2011,
talvez replicando a crise de 2007-2008.
Rob
Vos, director de políticas de desenvolvimento e análise no Departamento
de Economia e Assuntos Sociais da ONU, disse à IPS que o aumento dos
preços já afectava vários países em desenvolvimento. Afirmou que nações
com a Índia e outras da Ásia oriental e do sudeste já sofrem inflação de
dois dígitos, devido ao aumento nos preços dos alimentos e da energia.
Na Bolívia, o governo foi obrigado a reduzir os subsídios de alguns dos
alimentos da cesta básica, já que estavam a fazer disparar o défice
fiscal.
No curto prazo, além de os
pobres serem afectados e mais gente poder ser arrastada para a pobreza,
essa alta também dificultará a recuperação dos países que enfrentam
maior inflação e cairá o poder aquisitivo dos consumidores em geral,
afirmou Rob, economista-chefe da ONU. Alguns bancos centrais estão a
endurecer as suas políticas monetárias, e governos vêem-se obrigados a
apertar o cinto fiscal, acrescentou.
Frederic
Mousseau, director de políticas do Instituto Oakland, com sede na
cidade norte-americana de San Francisco, disse à IPS que Moçambique já
havia sofrido, em Setembro, revoltas populares pelos altos preços do
pão, nas quais morreram 13 pessoas. "Manifestações afectaram cerca de 30
países em 2008, e isto poderia repetir-se, já que a situação não mudou
nos últimos três meses", afirmou Frederic, autor do livro "O desafio dos
altos preços dos alimentos: uma revisão das respostas para combater a
fome".
Os países mais vulneráveis são
os mais dependentes das importações e os menos capazes de enfrentar com
políticas públicas o aumento dos preços nos mercados, acrescentou
Frederic. Isto diz respeito a muitas das nações mais pobres, com menos
recursos, menos instituições e menos mecanismos públicos para apoiar a
produção de alimentos, explicou. No final do ano passado, houve
protestos na China pelos altos preços da merenda para estudantes
secundários, e na Argélia pelo aumento da farinha, do leite e do açúcar.
Os
argelinos voltaram às ruas na semana passada para protestar contra as
duras condições económicas. As manifestações acabaram com três mortos e
centenas de feridos, enquanto na vizinha Túnis distúrbios similares
causaram pelo menos 20 vítimas fatais. Segundo o índice da FAO divulgado
na semana passada, os preços de cereais, sementes oleaginosas, lácteos,
carnes e açúcar continuam a aumentar por seis meses consecutivos.
"Estamos
a entrar em terreno perigoso", disse Abdolreza Abbasian, economista da
FAO, a um jornal londrino. Frederic explicou que os preços começaram a
aumentar em 2010, depois das más colheitas na Rússia e na Europa
oriental, em parte devido aos incêndios durante o Verão boreal. Agora,
as severas inundações que afectam a Austrália, quarto maior exportador
mundial de trigo, provavelmente afectarão a produção desse cultivo e
pressionarão ainda mais os preços para cima, previu.
"Qualquer
outro acontecimento, como outro desastre climático nalgum país
exportador, ou uma nova alta do petróleo, sem dúvida alguma disparará os
preços e fará com que a situação seja pior do que em 2008, ameaçando,
portanto, o sustento de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo",
acrescentou.
Entretanto, Frederic
esclareceu que não se trata de um problema de escassez, como ocorreu em
2007-2008. "Não se pode usar a palavra escassez se for considerado que
mais de um terço dos cereais produzidos no mundo são usados como
alimento para animais, e que uma parte cada vez maior é usada para fazer
combustíveis", afirmou. De facto, no mundo foram produzidas 2,232
biliões de toneladas de cereais em 2008, uma quantidade sem precedentes,
destacou.
O nível de produção para o
período 2010-2011 é levemente menor do que em 2008. Ao contrário
daquele ano, quando o arroz foi o responsável pelo aumento dos preços,
desta vez é o trigo. Em todo caso, deve-se a uma combinação de factores:
má colheita numa parte do mundo supõe uma pressão sobre o mercado, o
qual envia sinais negativos aos especuladores. Estes, então, começam a
comprar e os preços disparam.
Foto de frankfarm, FlickR
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Alimentos: sintomas da nova crise mundial
O ATRASO DO PROGRESSO
‘No lugar dos valores da vida, preferiu-se o poder, o sucesso e a riqueza por si mesmos’ (Freud, 1930)
Quem
analisa o século passado, da urbanização mundial, encontra um traço
profético nessa afirmação do ‘pai da psicanálise’. No Brasil, o
desenvolvimento econômico também tem se baseado na exacerbação da
cultura individualista e na degradação da esfera pública. Mas não há
progresso real se não se supera a desigualdade e o atraso político.
Nesses aspectos essenciais continuamos mal.
Entre
nós, onde os 10% mais ricos ainda ganham 40 vezes mais que os 10% mais
pobres, o abismo social ganha tom de tragédia: enlutados, vejamos a
condição da maioria absoluta dos vitimados nas enchentes de verão.
Não
se culpe o destino ou uma fatalista ‘ira divina’ e sim a falta de
prioridade para políticas públicas que poderiam amenizar essa dor
indizível. Não se atribua tudo a fenômenos naturais, alguns de fato
inéditos. O imprescindível planejamento urbano raramente desce de
virtuosas Leis Orgânicas, Planos Diretores e Estatuto das Cidades para a
vida. Os insuficientes investimentos em macro-drenagens, contenções e
programas habitacionais contrastam com os custos adicionais bilionários
da reforma do recém-reformado Maracanã, por exemplo. No plano global, as
políticas contra o aquecimento, que implicariam em mudanças drásticas
do nosso modo de produzir e consumir, não avançam com a celeridade das
crescentes oscilações climáticas.
O
país emergente que celebra crescimento tem sua dimensão política
soterrada pela avalanche do interesse menor, alimentado pela enchente do
desinteresse coletivo. A comovente e episódica onda de solidariedade
não tem conseguido transformar-se em torrente cidadã permanente.
Promessas de prevenção das autoridades vão embora com as águas de março
ou fecham-se após as chuvas de abril.
Ocupar
função pública, salvo exceções, não é mais missão de serviço e sim
carreira promissora, inclusive com plano de vencimentos e oportunidades
de negócios alentadores. Muitos no Executivo, no Legislativo e no
Judiciário distanciam-se da sociedade, fechados em estamentos que se
auto-regulam e tornam-se espaço de interesses privados. A moeda de troca
nas alianças políticas é a distribuição de cargos e empenhos para
consolidação dos ‘currais’ modernos de legitimação pelo voto – até nos
recursos para a Defesa Civil! Os palácios só costumam ter alguma conexão
com as praças quando ocorrem tragédias ou nos períodos bienais de
captação de votos. Hannah Arendt lembrava que “a
sociedade burguesa, baseada na competição e no consumismo, gerou apatia
e hostilidade em relação à vida pública, não somente entre os
excluídos, mas também entre elementos da própria burguesia”.
Desde
os primórdios os povos enfrentam dois desafios: adequar-se à natureza,
para não perecer, e limitar o poder, para as maiorias não serem
escravizadas por poucos. Caminhamos entre intenções cruzadistas e suas
guerras nada santas, entre avanços tecnológicos que propiciariam o bem
viver e relações de dominação que excluem amplos setores desses
benefícios.
É imperativo o resgate da vida pública cooperativa, transparente, participativa. Res publica
livre do interesse mercantil e/ou demagógico – inclusive em relação ao
solo urbano. As centenas de mortes que se repetem a cada ano nos
interpelam de forma dramática.
*Chico Alencar é professor de História e deputado federal (PSOL/RJ)
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Pochmann: “O Brasil já podia ter acabado com a miséria”
Pedro Venceslau, Marcelo Cabral e Conrado Mazzoni (redacao@brasileconomico.com.br)
O líder do Ipea diz que a meta da presidente Dilma de erradicar a pobreza absoluta até 2014 é factível.
Dentro do organograma do segundo escalão do governo federal, o economista Marcio Pochmann comanda um dos órgãos mais estratégicos.
Cabe ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) instrumentalizar com dados e diretrizes todos os ministérios, além, claro, da própria presidente Dilma Rousseff.
Alvo de cobiça entre aliados e disputado por diversas pastas, o Ipea deve seguir sob o comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos, como revela Pochmann em entrevista ao Brasil Econômico.
A presidente Dilma Rousseff estabeleceu como meta a erradicação da miséria. Não é um projeto ousado demais?
Foi o Ipea que identificou que era possível o Brasil superar a pobreza até 2015, e em alguns estados em 2011 ou 2012. Nós sofremos crítica de alguns colegas que diziam ser uma miragem. Mas a então candidata Dilma entendeu que isso podia ser um compromisso de campanha. Agora é um compromisso de governo. É plausível.
O senhor já se reuniu com o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), onde o Ipea está instalado?
Conversamos na semana passada sobre como ajudá-lo a organizar a SAE. Se vocês querem saber se vai haver mudança na direção do Ipea, não tenho como responder. Nós não tratamos sobre isso. Não temos mandato. Os cargos são de confiança.
Há quem defenda que o Ipea deixe a SAE e vá para o Ministério do Planejamento. O que acha disso?
Ocorreu uma competição entre ministros para ver onde ficaria o Ipea. O que ouvimos em Brasília foi que os ministérios de Ciência Tecnologia, Planejamento e Fazenda se mostraram interessados.
Posso estar equivocado, mas acredito que ele não sai da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
O Ipea, que foi criado em 1964, pertencia, na sua origem, à Presidência da República. Foi parte responsável pela Secretaria de Planejamento. Em seus 46 anos esteve subordinado a diferentes ministérios. Nos anos 60 e 70 teve um papel inteligência dentro do governo, porque os ministérios não tinham assessoria técnica.
O Ipea chegou a ter 1200 servidores. Hoje temos 600. Demorou para ele encontrar sua vocação.
Existem ainda hoje correntes de pensamento diferentes no Ipea? Ele ainda se divide entre "fiscalistas" e "desenvolvimentistas"?
Em cada área existem visões diferentes. Essa é a riqueza da instituição. Essa idéia de desenvolvimentista e fiscalista é uma visão meio primitiva que se tinha do Ipea do passado. Estamos em outro patamar. Isso seria limitar a discussão. Quem faz essa divisão são os viúvos do Ipea do passado.
O Ipea tem um orçamento de R$ 302 milhões de reais. O órgão está blindado da disputa entre PT e PMDB por cargos do segundo escalão do governo?
O orçamento era de R$ 190 milhões quando chegamos, em 2007. Do ponto de vista político, não é uma boa área para se ter influência. O Ipea é uma instituição transparente. Há acesso livre aos pesquisadores. Temos comissão de ética e ouvidoria.
O Ipea pretende reforçar suas análises regionais?
Temos uma representação no Norte-Nordeste e outra no Rio de Janeiro. Falta a região Sul. Não dá para pensar o Brasil olhando apenas de Brasília.
O governo vai criar uma nova definição sobre o conceito de miséria no país. Que elementos serão usados para se definir o que é ser miserável no Brasil?
Nós somos um país que não tem uma definição oficial de pobreza. No mundo todo, essa definição é arbitrária.
Indicadores não faltam, o que nós precisamos ter é uma linha administrativa: miserável é aquele que ganha até um determinado valor por mês. Essa definição precisa ter um parâmetro razoável.
É preciso, ainda, haver uma identificação das diferentes formas da manifestação da pobreza. Há um movimento de redução da miséria nos últimos 30 anos. Antes, nos anos 90, a cada dez brasileiros, quatro eram miseráveis. Hoje, a cada dez, um é miserável. Estamos lidando, portanto, com o núcleo duro da pobreza extrema. É preciso reconhecer que essa pobreza extrema não é homogênea, mas diferenciada.
Em que sentido ela é diferenciada?
Por exemplo: existe o pobre estrutural, o das grandes cidades, das pequenas, os de mais idade. Como você vai conseguir uma porta de saída para alguém que tem mais de 70 anos de idade.
É preciso uma definição clara sobre as formas como se manifesta a pobreza. Como a pobreza rural de pessoas mais velhas se enfrenta de um jeito, nas cidades, de outro. O país mais rico do mundo, que é os Estados Unidos, tem o maior programa de assistência de renda. É maior que o Brasil. É maior parcela do mundo assistida. Em todas as economias do mundo há segmentos que não conseguem viver com suas próprias pernas. Outros segmentos podem ser incluídos.
A meta da presidente Dilma de acabar com a pobreza é viável?
O Brasil já podia ter acabado com a miséria no final dos anos 70. Miséria absoluta é o cara não ter o que comer. Isso não é um problema de escassez de alimentos, mas de má distribuição. Vamos acabar de forma tardia. A presidenta disse que a meta é 2014.
Qual a sua análise da situação macroeconômica do Brasil?
De certa maneira temos uma situação de acomodação que era esperada em 2011 devido ao fato que estávamos crescendo em um ritmo muito forte em 2010. Uns acham que nosso problema é ajuste fiscal.
Acham já superamos esse tema tal qual ele foi colocado nos anos 90. A prioridade era essa. Ajuste fiscal é um meio, não o fim. Hoje o fim é o desenvolvimento. Temos que ver medida se ajusta as finanças públicas para viabilizar o desenvolvimento.
Neste âmbito, precisamos olhar quais são as despesas que podem ser reduzidas, aquelas que são improdutivas. Estamos gastando entre 5% e 6% do PIB em pagamento dos juros da dívida.
Isso não gera emprego. Como reduzir o peso da dívida e os juros, que estão em um patamar muito alto, é um bom debate. Do ponto de vista do tempo, vem se reduzindo. Há possibilidade de redução do gasto público, mas temos que olhar quais gastos. O compromisso da presidente de terminar seu mandato com a taxa de juros em 2% real é razoável.
O peso do funcionalismo prejudica o investimento?
Essa é uma visão primitiva de quem não conhece bem o país e outros países. O Brasil não tem muitos funcionários públicos. Temos 11% da população que são ocupadas em serviços públicos, nos Estados Unidos é 16,5%. Na Europa é de 25%. Nos países escandinavos, que são competitivos, 40% da força de trabalho é de funcionários públicos.
O aperto monetário é inevitável?
A aposta de elevação dos juros é uma medida muito pesada para as circunstâncias que estamos vivendo hoje. Quando a taxa de juros se eleva, ela atua sobre todos os setores do sistema econômico. Isso leva a mudanças de decisões.
Quais seriam as alternativas para evitar a alta de juros?
A ampliação das exportações em alguns setores, a redução de impostos, uma política de Incentivos a elevação da produtividade. Temos que ser mais criativos. É claro que, para o Banco central, eleva-se o juro e garante a meta. Mas quais as consequências? Se você elevar a taxa de juros, eleva o gasto público com juros da dívida.
Qual o impacto do câmbio hoje na economia brasileira?
Não é algo homogêneo. Alguns setores, apesar da valorização cambial, estão relativamente bem. Outros estão em dificuldade enorme, sobretudo o industrial. O problema de ter uma taxa só de câmbio é que qualquer mudança sobre ela é boa para uns e ruim para outros. O melhor seria apostar em medidas pontuais para os setores específicos em dificuldades.
Dentro do organograma do segundo escalão do governo federal, o economista Marcio Pochmann comanda um dos órgãos mais estratégicos.
Cabe ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) instrumentalizar com dados e diretrizes todos os ministérios, além, claro, da própria presidente Dilma Rousseff.
Alvo de cobiça entre aliados e disputado por diversas pastas, o Ipea deve seguir sob o comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos, como revela Pochmann em entrevista ao Brasil Econômico.
A presidente Dilma Rousseff estabeleceu como meta a erradicação da miséria. Não é um projeto ousado demais?
Foi o Ipea que identificou que era possível o Brasil superar a pobreza até 2015, e em alguns estados em 2011 ou 2012. Nós sofremos crítica de alguns colegas que diziam ser uma miragem. Mas a então candidata Dilma entendeu que isso podia ser um compromisso de campanha. Agora é um compromisso de governo. É plausível.
O senhor já se reuniu com o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), onde o Ipea está instalado?
Conversamos na semana passada sobre como ajudá-lo a organizar a SAE. Se vocês querem saber se vai haver mudança na direção do Ipea, não tenho como responder. Nós não tratamos sobre isso. Não temos mandato. Os cargos são de confiança.
Há quem defenda que o Ipea deixe a SAE e vá para o Ministério do Planejamento. O que acha disso?
Ocorreu uma competição entre ministros para ver onde ficaria o Ipea. O que ouvimos em Brasília foi que os ministérios de Ciência Tecnologia, Planejamento e Fazenda se mostraram interessados.
Posso estar equivocado, mas acredito que ele não sai da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
O Ipea, que foi criado em 1964, pertencia, na sua origem, à Presidência da República. Foi parte responsável pela Secretaria de Planejamento. Em seus 46 anos esteve subordinado a diferentes ministérios. Nos anos 60 e 70 teve um papel inteligência dentro do governo, porque os ministérios não tinham assessoria técnica.
O Ipea chegou a ter 1200 servidores. Hoje temos 600. Demorou para ele encontrar sua vocação.
Existem ainda hoje correntes de pensamento diferentes no Ipea? Ele ainda se divide entre "fiscalistas" e "desenvolvimentistas"?
Em cada área existem visões diferentes. Essa é a riqueza da instituição. Essa idéia de desenvolvimentista e fiscalista é uma visão meio primitiva que se tinha do Ipea do passado. Estamos em outro patamar. Isso seria limitar a discussão. Quem faz essa divisão são os viúvos do Ipea do passado.
O Ipea tem um orçamento de R$ 302 milhões de reais. O órgão está blindado da disputa entre PT e PMDB por cargos do segundo escalão do governo?
O orçamento era de R$ 190 milhões quando chegamos, em 2007. Do ponto de vista político, não é uma boa área para se ter influência. O Ipea é uma instituição transparente. Há acesso livre aos pesquisadores. Temos comissão de ética e ouvidoria.
O Ipea pretende reforçar suas análises regionais?
Temos uma representação no Norte-Nordeste e outra no Rio de Janeiro. Falta a região Sul. Não dá para pensar o Brasil olhando apenas de Brasília.
O governo vai criar uma nova definição sobre o conceito de miséria no país. Que elementos serão usados para se definir o que é ser miserável no Brasil?
Nós somos um país que não tem uma definição oficial de pobreza. No mundo todo, essa definição é arbitrária.
Indicadores não faltam, o que nós precisamos ter é uma linha administrativa: miserável é aquele que ganha até um determinado valor por mês. Essa definição precisa ter um parâmetro razoável.
É preciso, ainda, haver uma identificação das diferentes formas da manifestação da pobreza. Há um movimento de redução da miséria nos últimos 30 anos. Antes, nos anos 90, a cada dez brasileiros, quatro eram miseráveis. Hoje, a cada dez, um é miserável. Estamos lidando, portanto, com o núcleo duro da pobreza extrema. É preciso reconhecer que essa pobreza extrema não é homogênea, mas diferenciada.
Em que sentido ela é diferenciada?
Por exemplo: existe o pobre estrutural, o das grandes cidades, das pequenas, os de mais idade. Como você vai conseguir uma porta de saída para alguém que tem mais de 70 anos de idade.
É preciso uma definição clara sobre as formas como se manifesta a pobreza. Como a pobreza rural de pessoas mais velhas se enfrenta de um jeito, nas cidades, de outro. O país mais rico do mundo, que é os Estados Unidos, tem o maior programa de assistência de renda. É maior que o Brasil. É maior parcela do mundo assistida. Em todas as economias do mundo há segmentos que não conseguem viver com suas próprias pernas. Outros segmentos podem ser incluídos.
A meta da presidente Dilma de acabar com a pobreza é viável?
O Brasil já podia ter acabado com a miséria no final dos anos 70. Miséria absoluta é o cara não ter o que comer. Isso não é um problema de escassez de alimentos, mas de má distribuição. Vamos acabar de forma tardia. A presidenta disse que a meta é 2014.
Qual a sua análise da situação macroeconômica do Brasil?
De certa maneira temos uma situação de acomodação que era esperada em 2011 devido ao fato que estávamos crescendo em um ritmo muito forte em 2010. Uns acham que nosso problema é ajuste fiscal.
Acham já superamos esse tema tal qual ele foi colocado nos anos 90. A prioridade era essa. Ajuste fiscal é um meio, não o fim. Hoje o fim é o desenvolvimento. Temos que ver medida se ajusta as finanças públicas para viabilizar o desenvolvimento.
Neste âmbito, precisamos olhar quais são as despesas que podem ser reduzidas, aquelas que são improdutivas. Estamos gastando entre 5% e 6% do PIB em pagamento dos juros da dívida.
Isso não gera emprego. Como reduzir o peso da dívida e os juros, que estão em um patamar muito alto, é um bom debate. Do ponto de vista do tempo, vem se reduzindo. Há possibilidade de redução do gasto público, mas temos que olhar quais gastos. O compromisso da presidente de terminar seu mandato com a taxa de juros em 2% real é razoável.
O peso do funcionalismo prejudica o investimento?
Essa é uma visão primitiva de quem não conhece bem o país e outros países. O Brasil não tem muitos funcionários públicos. Temos 11% da população que são ocupadas em serviços públicos, nos Estados Unidos é 16,5%. Na Europa é de 25%. Nos países escandinavos, que são competitivos, 40% da força de trabalho é de funcionários públicos.
O aperto monetário é inevitável?
A aposta de elevação dos juros é uma medida muito pesada para as circunstâncias que estamos vivendo hoje. Quando a taxa de juros se eleva, ela atua sobre todos os setores do sistema econômico. Isso leva a mudanças de decisões.
Quais seriam as alternativas para evitar a alta de juros?
A ampliação das exportações em alguns setores, a redução de impostos, uma política de Incentivos a elevação da produtividade. Temos que ser mais criativos. É claro que, para o Banco central, eleva-se o juro e garante a meta. Mas quais as consequências? Se você elevar a taxa de juros, eleva o gasto público com juros da dívida.
Qual o impacto do câmbio hoje na economia brasileira?
Não é algo homogêneo. Alguns setores, apesar da valorização cambial, estão relativamente bem. Outros estão em dificuldade enorme, sobretudo o industrial. O problema de ter uma taxa só de câmbio é que qualquer mudança sobre ela é boa para uns e ruim para outros. O melhor seria apostar em medidas pontuais para os setores específicos em dificuldades.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Ibama, Belo Monte e um rolo compressor
Leonardo Sakamoto em seu blog
O blog Político, da revista Época,
informa que a saída do presidente do Ibama, oficializada hoje, não se
deu por motivos pessoais, como alega sua carta de demissão, e sim por
conta de pressões para emitir uma licença ambiental para usina de Belo
Monte, talvez a mais polêmica das obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC):
Belo Monte derruba presidente do Ibama
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), Abelardo Bayma, pediu demissão do cargo por
discordar da emissão da licença definitiva para a implantação da Usina
Hidroelétrica de Belo Monte, prevista para ser construída no rio Xingu,
no Pará. Em carta enviada à ministra do Meio Ambiente, Izabela Teixeira,
Abelardo alegou motivos pessoais para pedir exoneração do cargo. Mas
revelou a amigos que deixou o posto depois de ter sido pressionado pela
diretoria da Eletronorte a emitir a licença definitiva em nome do IBAMA
para a instalação da usina. Ele estava no cargo desde abril do ano
passado e é funcionário de carreira da autarquia.
Em reuniões com a diretoria da Eletronorte há dez dias, Abelardo
se negou a emitir a licença definitiva para a construção da usina. Ele
argumentou que o IBAMA não poderia emitir o documento porque o projeto
ainda está cheio de pendências ambientais. Abelardo admitiu que o IBAMA
poderia emitir a licença para a instalação e não a definitiva. A
construção de Belo Monte foi um dos motivos que levou ao pedido de
demissão da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Ela discordava da
implantação da usina alegando que a obra causará fortes danos
ambientais na região com o alagamento de uma área de aproximadamente 500
km2.
Marina Silva e a então ministra-chefe da Casa Civil, a presidenta
Dilma Rousseff, que defende a antecipação dos prazos para a conclusão
da usina, prevista inicialmente para outubro de 2015, um ano após o
mandato presidencial. Para conseguir antecipar a conclusão, como quer
Dilma, é preciso que o Ibama antecipe as licenças, mas o instituto alega
que há falhas técnicas a serem reparadas no projeto. A previsão é que
Belo Monte gere mais de 11 mil megawats para atender a uma população de
26 milhões de pessoas na região Norte.
Há uma outra versão que diz que a licença que não foi concedida não
era a definitiva, mas uma especial para a obra. De qualquer forma, o
ponto é o seguinte: Belo Monte será um grande gerador de impactos
sociais e ambientais. Por exemplo, o Ministério Púbnlico Federal avalia
em cerca de 40 mil o total de atingidos – incluindo populações tradicionais e indígenas.
Como já disse aqui em um post dias atrás, não adianta o governo
federal elevar a questão dos direitos humanos nas relações
internacionais e não executar o mesmo internamente. Se quiser fazer
valer os direitos humanos em regiões rurais, a presidenta Dilma Rousseff
terá que comprar brigas com áreas que lhe são importantes, como o setor
elétrico. Coisa que, acredito, não vá fazer, muito pelo contrário.
Incluída no PAC e no Plano Decenal de Energia (2007-2016), Belo Monte
está planejada para ter uma potência máxima de 11,1 mil MW, mas a
produção média estimada pela Eletrobrás é de 4.796 MW.
Lutou-se na ditadura não apenas por liberdade civis e políticas, mas
por direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Desse ponto de
vista, como justificar diferenças entre o discurso de uma época em que
abríamos grandes estradas em rito sumário para o momento em que
construímos gigantescas hidrelétricas em rito sumário, xingando os
opositores de “arautos do atraso”?
Educação e redução das desigualdades regionais são focos para erradicação da miséria
Felipe Prestes no Sul21
Desigualdade histórica
Desenvolvimento regional e qualificação
Como medir a pobreza
A erradicação da miséria é uma das metas da presidenta Dilma
Rousseff, que já anunciou a criação de um PAC para cuidar desta missão.
Para que todos os brasileiros tenham condições de viver com dignidade,
especialistas apontam que o governo federal terá de dar atenção
especial às desigualdades regionais. Os estudos mais recentes mostram
que as zonas rurais das regiões Norte e Nordeste ainda são importantes
bolsões de miséria. Mas a pobreza extrema é também um problema em todo o
país, especialmente nas áreas periféricas das grandes cidades. Nestas
localidades o desenvolvimento econômico já chegou, mas não incluiu a
todos. É preciso apostar, principalmente, na qualificação destes
excluídos, por meio da educação.
Os estudos mais recentes mostram que as regiões Norte e Nordeste
ainda apresentam as maiores incidências de miserabilidade. Estados como
Alagoas e Maranhão em 2008 apareciam ainda com mais de 30% de
extremamente pobres segundo pesquisas de instituições como o IPEA e o Centro de Políticas Sociais da FGV. O estudo “Geografia da Pobreza”,
da FGV, aponta que o Nordeste, em 2008, tinha 30,69% de miseráveis
(cerca de 16 milhões de pessoas), e o Norte, 19,07% (pouco mais de três
milhões de cidadãos), considerando a faixa de miséria ter renda
domiciliar per capita abaixo de R$ 137.
Entretanto, em números absolutos, a região Sudeste é a segunda região
com mais pobreza extrema. Os 9,68% de miseráveis no Sudeste significam
quase oito milhões de pessoas. E as regiões Sul e Centro-Oeste também
apresentam números significativos de extremamente pobres. O Sul tem
cerca de dois milhões de miseráveis (7,29%), e o Centro-Oeste, 1,5
milhão de cidadãos (10,49%).
“Do ponto de vista da presença de pessoas pobres no total de sua
população, o Norte e o Nordeste são as regiões com maiores bolsões. Por
outro lado, é necessário considerar que mesmo as regiões ricas como São
Paulo ainda tem um contingente absoluto de pobres considerável”, afirma
Márcio Pochmann. Ex-diretora da Sudene e integrante do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social durante os oito anos de Governo Lula,
a economista Tânia Bacelar chega a conclusão semelhante. “A pobreza no
Brasil tem dois endereços: o Norte e o Nordeste, em especial na zona
rural, e as grandes cidades em todo o país”.
Desigualdade histórica
Bacelar e Pochmann também concordam no diagnóstico para os altos
índices de pobreza extrema nas regiões Norte e Nordeste. Segundo ambos, o
olhar especial dado pelo Governo Lula a estas regiões não foi
suficiente para colocá-las em igualdade com as demais, porque a
desigualdade histórica era muito grande. “Na transição de um país rural
para a sociedade urbana e industrial nós tivemos uma concentração das
oportunidades econômicas nas regiões Sul e Sudeste do país. Nos anos
setenta tivemos uma expansão da fronteira agrícola que permitiu ao
Centro-Oeste ser o celeiro agroalimentar brasileiro. As regiões Norte e
Nordeste convivem ainda com mazelas herdadas deste baixo dinamismo
historicamente acumulado”, explica Pochmann.
“No século XX o Nordeste perdeu o trem do desenvolvimento industrial.
Não houve investimentos em infraestrutura e em ciência e tecnologia”,
afirma Tânia Bacelar. A economista diz que o presidente Lula “deu um
empurrão” para a região ao realizar investimentos, como a construção de
estradas, da ferrovia Transnordestina e a transposição do Rio São
Francisco. Além disso, a Petrobras passou a ter no Governo Lula atuação
bem mais significativa no Nordeste. Bacelar explica ainda que as
políticas sociais como o Bolsa-Família tiveram grande impacto nas
regiões menos desenvolvidas do país.
Desenvolvimento regional e qualificação
Para o presidente do IPEA, Márcio Pochmann, após o avanço das
políticas sociais de âmbito nacional, o país está diante de um ‘núcleo
duro’ da pobreza, que precisa ser combatido com foco em políticas
regionais em paralelo às políticas nacionais. “Estamos observando uma
convergência entre expansão econômica e melhor repartição destes ganhos
na sociedade. Mas para os próximos anos, a continuidade desta trajetória
implica em maior sofisticação das políticas públicas, considerando que
estaremos diante de um núcleo duro da pobreza extrema. É preciso ter em
vista especificidades regionais, é difícil chegar a esta pobreza
consolidada em determinados lugares”, afirma o presidente do IPEA Márcio
Pochmann. Para o pesquisador, o compromisso político assumido por Dilma
Rousseff só será concretizado se for feito um esforço comum entre o
governo federal, os poderes executivos estaduais e municipais, e a
sociedade civil.
Segundo o estudo “Geografia da Pobreza”, da FGV, em 2008, mais de 34%
dos moradores de áreas rurais no país estavam abaixo da linha da
miséria. Tânia Bacelar afirma que esta questão se aprofunda ainda mais
nas regiões Norte e Nordeste. “Há um hiato em termos de padrão de vida,
especialmente entre as zonas rural do Norte e do Nordeste e o resto do
país. Na zona rural do Nordeste há, por exemplo, 33% de analfabetismo
enquanto a média nacional é de 9%”. A doutora em economia aponta que há
também em outras regiões do país localidades com menor dinâmica
produtiva.
No Rio Grande do Sul, isto se aplica às metades Sul e Oeste do estado
e, em especial, à Região Noroeste. O economista da FEE Adelar
Fochezatto explica que os últimos dados que mostram índices de pobreza
por município do estado se baseiam no censo de 2000. Entretanto, os
dados do censo de 2010 já mostram que há um êxodo populacional nestas
regiões, o que dá fortes indícios de que elas continuam sendo as regiões
com maior índice de pobreza extrema.
Fochezatto ressalta, contudo, que o maior número de pessoas abaixo da
linha da pobreza extrema está mesmo na Região Metropolitana de Porto
Alegre. “A participação de famílias pobres no total de famílias dos
municípios é maior na Região Noroeste. Mas o número é pequeno na Região
Noroeste, porque são municípios pequenos. Se a gente for pensar onde
estão os pobres em números absolutos, eles estão na Região
Metropolitana”.
Fochezatto explica as diferenças entre a miséria da Grande Porto
Alegre e a das regiões menos desenvolvidas do estado. “A gente pode
falar de dois tipos de pobreza. A pobreza por insuficiência de
desenvolvimento, lá daquela região (Noroeste), por exemplo. As pessoas
são pobres porque não têm alternativa. Já a pobreza da Região
Metropolitana é decorrente de exclusão do processo de desenvolvimento. O
desenvolvimento não incorpora todo mundo. Muitos ficam excluídos. Boa
parte destes excluídos sai, inclusive, das regiões de menor
desenvolvimento”.
A explicação de Fochezatto, não é diferente do que diz Tânia Bacelar.
“No meio urbano, geralmente você tem pessoas (abaixo da linha de
pobreza extrema) que não têm qualificação para se inserir vida da
cidade, que não tiveram oportunidade. Em regiões menos desenvolvidas, as
pessoas até têm ocupação, mas a atividade econômica é muito frágil”,
explica a ex-diretora da Sudene.
Para Fochezatto, as ações para combater a pobreza extrema precisam
ser no sentido de levar o desenvolvimento para regiões de economia
retraída. “Lá é preciso pensar em empreendedorismo. Criar e atrair
empresas, fazer convênios para produção de merendas escolares no campo.
Alternativas para promover o emprego”. Nas grandes cidades, segundo o
economista, é preciso investir na qualificação da mão-de-obra e em criar
frentes de trabalho, investindo, por exemplo, em obras públicas.
O investimento em educação é um dos pontos-chave para a redução da
miséria segundo Adelar Fochezatto. Um estudo recente da FEE, em parceria
com a Secretaria de Justiça e Desenvolvimento Social do estado, mostrou
que a pobreza extrema aparece no Rio Grande do Sul em maior número
entre os jovens de até 20 anos e em entre os que têm menores índices de
escolaridade. “Fazer com que estes jovens se mantenham na escola e
tenham ensino de qualidade é um dos grandes desafios”, aponta.
Como medir a pobreza
Uma das intenções da presidenta Dilma é criar uma linha oficial de
miséria no país. O presidente do IPEA, Márcio Pochmann, foi um dos que
sugeriu a criação do índice. “O critério é subjetivo. O que é
miserabilidade? A gente (do IPEA) tem um critério, um quarto de salário
mínimo per capita, outros têm outros valores”, explica.
Um dos índices é o dos Objetivos do Milênio das Nações Unidas, de um
dólar per capita por dia – valor bem menor que os utilizados pelo IPEA e
por outros institutos de pesquisa. Foi com base neste valor da ONU que o
governo federal conseguiu retirar 28 milhões de pessoas da linha da
miséria, o que não deixa de ser um grande feito. Pelo IPEA, os números
são mais modestos. Entre 1995 e 2008, 13,1 milhões de brasileiros
deixaram a pobreza extrema, segundo o instituto.
Mas um índice oficial de pobreza não é para saber se quem divulga
dados está mais ou menos correto, e sim para que o governo possa
estabelecer políticas para uma faixa determinada de pessoas. “Há
governos que têm uma linha oficial de pobreza, como é o caso dos Estados
Unidos. Pode-se achar que está errado, mas é sobre estes que o governo
vai tratar como prioridade. Do ponto de vista do governo, o que
interessa é ter um horizonte para que estabeleça qual é o segmento sobre
o qual vai atuar de maneira mais privilegiada e para ter condições de
saber se esta interferência é exitosa”, explica Pochmann.
Uma questão a ser analisada é que os índices que são geralmente
utilizados para medir pobreza se baseiam apenas na renda. Assim, se o
Brasil erradicar a miséria isto não significa que não haverá mais
brasileiros analfabetos, ou vivendo ao lado de esgoto a céu aberto, por
exemplo. E os serviços públicos costumam demorar mais para chegar do que
a renda. “Os programas de transferência são os programas geralmente de
menor custo, porque é tão somente a transferência da renda. Agora, um
programa de saúde, por exemplo, precisa do equipamento necessário para
operar, pessoas qualificadas”, explica Pochmann.
Ainda assim, o pesquisador defende que os indicadores de renda são
eficazes para que mostrar quem vive em situação de vulnerabilidade
social. “O indicador de renda é o indicador mais fácil de você
identificar onde estão os pobres e os mais pobres entre os pobres. É
claro que a pobreza não é só uma questão de renda. Mas você observando,
atuando sobre aqueles que menos recebem, certamente estará atuando sobre
os que têm mais dificuldades de acesso a outros aspectos que podem
definir a pobreza de maneira mais ampla”, diz o presidente do IPEA.
Tânia Bacelar acredita que o governo federal deve utilizar vários
índices para considerar a pobreza e a miséria. Ela ressalta, por
exemplo, que o programa Luz Para Todos foi, para muitas pessoas, mais
importante que o Bolsa-Família. “Acho que podemos ampliar o conceito de
pobreza. Concordo que a renda é o aspecto prioritário, já que ela é
necessária até para que se possa comer. Só que a pobreza é muito mais do
que a renda. O pobre pode morrer, por exemplo, de uma doença que já não
mata quase ninguém”.
Tráfico de órgãos: um relatório devastador
Em
meio a críticas e deboche, relatório apresentado recentemente no
Conselho Europeu reacende as discussões sobre a possibilidade dos
prisioneiros do Exército de Libertação do Kosovo (UCK) terem sido
vítimas de tráfico de órgãos.
|
por Jean-Arnault Dérensno diplo-br |
Caiu como uma bomba o relatório sobre tráfico de órgãos apresentado
pelo deputado suíço Dick Marty diante do Conselho Europeu , que
apontavam como vítimas os prisioneiros do Exército de liberação do
Kosovo (UCK) 1. As alegações contidas no documento não são
novas: esse tráfico já foi evocado nas memórias publicadas, em 2008,
pela antiga Procuradora Geral do Tribunal penal internacional da ex-
Iugoslávia (TPIY), Carla Del Ponte2. E em Kosovo, a hipótese
de tal tráfico é um “boato” que circula há muito tempo. Da mesma
maneira, a investigaçãopublicada em 2009 pelos jornalistas Altin
Raxhimi, Michael Montgomery e Vladimir Karaj confirmou a existência de
um verdadeiro “arquipélago” de centros secretos de detenção da UCK na
Albânia3.
O relatório de Marty traz, no entanto, várias informações novas,
permitindo compreender melhor os mecanismos desse tráfico. Centenas de
prisioneiros capturados pelo UCK – principalmente sérvios do Kosovo e
provavelmente romenos e albaneses acusados de “colaboração” – teriam
sido deportados para a Albânia, em 1998 e 1999. Aprisionados em vários
pequenos centros de detenção – entre eles a famosa “casa amarela” da
pequena cidade de Rripë, perto de Burrel, visitada pelos inspetores do
TPIY –, alguns deles teriam alimentado o tráfico de órgãos. Os
prisioneiros eram conduzidos para uma pequena clínica situada em Fushë
Kruja, a 15 km do aeroporto internacional de Tirana, assim que alguns
clientes demonstravam interesse em receber órgãos. Eles eram, então,
abatidos com um tiro na cabeça antes que os órgãos, principalmente, os
rins, fossem retirados. Esse tráfico era dirigido pelo “grupo da
Drenica”, um pequeno núcleo de combatentes da UCK reunidos em torno de
duas figuras chaves: Hashim Traçi, atual primeiro-ministro de Kosovo e
Shaip Muja, então responsável pela brigada médica do UCK e, hoje,
conselheiro da saúde do mesmo Hashim Thaçi.
O relatório deixa muitas perguntas sem respostas, principalmente o
número exato de prisioneiros vítimas desse tráfico. A justiça sérvia,
por sua vez, fala de 500 pessoas deportadas à Albânia. Também não se
sabe quais foram os parceiros estrangeiros desse tráfico e, sobretudo,
quem foi beneficiado. O relatório revela, no entanto, que 60 pacientes
do hospital universitário de Jerusalém teriam se beneficiado de um
transplante renal em 2001, número excepcionalmente elevado.
É importante dar ao suposto crime seu devido valor. Se o tráfico é
comprovado, trata-se de um crime medonho contra a humanidade, que se
situa, na ordem do horror, do mesmo nível do massacre genocida de
Srebrenica. Outro ponto determinante é o fato de que o tráfico estaria
ocorrendo até 2001, ou seja, até dois anos depois da entrada das tropas
da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Kosovo e da
instauração do protetorado das Nações Unidas sobre o território. O
relatório nota, aliás, que a partir de junho de 1999, a fronteira entre a
Albânia e o Kosovo não estava submetida a nenhum controle real.
O relatório suscitou um clamor de protestos e de desmentidos. Alguns
quiseram desqualificar Marty, apresentando o autor como um “adversário
da independência do Kosovo” e até mesmo como um “inimigo do povo
albanês”. O primeiro-ministro da Albânia, Sali Berisha, o rotulou
abertamente de “racista”. Como suporte para essas afirmações, é
frequentemente citada uma entrevista dada por Marty, em março de 2008,
para o site da Rede Voluntária, na qual ele critica, sob o ponto de
vista da legalidade internacional, a proclamação da independência do
Kosovo4. Essa tomada de posição não traduz de maneira nenhuma
uma “aversão” em relação ao povo albanês, nem ao povo do Kosovo, e o
relatório de Marty não seria nem mais, nem menos legítimo se seu autor
estivesse de acordo com a proclamação da independência, sob esse mesmo
ponto de vista jurídico. Nota-se, enfim, que a imprensa da Albânia
critica explicitamente o discurso “antiamericanista” de Marty, uma vez
que este já revelou, em 2006, o escândalo das prisões secretas da CIA na
Europa. Algumas declarações oficiais de Tirana, nesses últimos dias,
associam o suposto “antiamericanismo” do relator e seu preconceito
“antialbanês”.
Alguns acusam igualmente Marty de “preconceitos políticos”, pois ele
publicou seu relatório alguns dias depois das eleições parlamentares
organizadas em Kosovo, em 12 de dezembro, que foram manchadas por
fraudes grosseiras cometidas, principalmente, ao que parece, pelo
Partido Democrático do Kosovo (PDK), do qual Thaçi faz parte. Esse
argumento é fácil de ser rejeitado, pois a concomitância das datas é
apenas uma coincidência. As eleições foram antecipadas e a data fixada
somente no início de novembro.
Por sua vez, diretamente acusado, Thaçi usou de artilharia pesada para
responder a Marty. Em uma entrevista publicada em 30 de dezembro no
Tages Anzeiger, de Zurique, ele retoma as acusações de racismo e chega
até comparar o relatório à “propaganda de Goebbels”5. Do lado
oposto, o assunto foi igualmente superexplorado no contexto político
suíço, algumas semanas depois da adoção pelo referendum de uma lei que
prevê a expulsão dos “estrangeiros delinquentes”. A presidente da
Confederação, Micheline Calmy-Rey, preferiu então “adiar” o recebimento
do “prêmio da diáspora” que deveria lhe ser atribuído, no fim de
dezembro, pela embaixada do Kosovo, em Berna. Os albaneses, além de
alimentarem os números de crimes na Suíça, seriam também “traficantes de
órgãos”. Entende-se que alguns não querem reconhecer essa incriminação
coletiva.
Vários comentaristas estimam que seria “impossível” atribuir tal crime
aos albaneses e tentam “relativizar” a importância do relatório
lembrando a amplitude dos crimes cometidos pelos sérvios, no Kosovo e em
outros lugares dos Balcãns. É surpreendente a mudança de muitos, que
apresentaram Del Ponte como uma heroína da justiça internacional, quando
ela perseguia os criminosos de guerra sérvios e passaram ao ponto de
colocar em dúvida sua saúde mental, desde o momento em que ela evocou
esse tráfico. Florence Hartman, antiga porta voz de Del Ponte, a
criticou em várias entrevistas como irresponsável por ter apresentado
“como fatos reconhecidos, simples hipóteses”, ressaltando que as
investigações conduzidas pelo TPIY não tinham encontrado provas
conclusivas. Contudo, essas investigações, especialmente na famosa “casa
amarela” de Rripë, nunca puderam ser levadas a termo, em parte por
causa da recusa de colaboração das autoridades albaneses6.
Mesmo esperando uma investigação séria e sistemática que possa trazer à
tona a realidade do tráfico de órgãos e que acusações sejam
eventualmente pronunciadas pelo tribunal competente, se pode considerar
como verídicos vários fatos. A princípio, os corpos de centenas de
sérvios e de outros prisioneiros do UCK nunca foram encontrados e é
pouco provável que estejam sob o pequeno território do Kosovo, onde
todos os eventuais lugares de chacinas e valas comuns já foram
identificados e revirados. Também é certo que um número importante
desses prisioneiros foi deportado para a Albânia, onde o UCK tinha uma
rede de centros de detenção. Devemos admitir também que mais de dez anos
depois dos fatos, é muito provável que esses prisioneiros estejam hoje,
na maioria, mortos. Seus corpos tampouco foram descobertos na Albânia7.
Por outro lado, a existência de um tráfico de órgãos em Kosovo,
alimentado por “voluntários” que vão vender seus rins já foi comprovado.
Pacientes, principalmente israelenses, vão à clínica Medicus de
Prístina para receber os órgãos saudáveis. Esse tráfico implica um
personagem muito inquietante, um cirurgião turco chamado Yusuf Erçin
Sönmez, conhecido por “Doutor Abutre”, atualmente foragido. O caso da
clínica Medicus, cujo processo acaba de ser aberto em Prístina, não está
obrigatoriamente ligado ao eventual tráfico de órgãos praticado, dez
anos antes, com prisioneiros do UCK, mas as coincidências chamam atenção8.
As reações da mídia, da classe política e mais amplamente da sociedade albanesa, especialmente na diáspora9,
lembram a negação, há muito tempo demonstrada por grandes setores da
opinião sérvia face aos crimes cometidos por seu próprio exército. Os
dois argumentos centrais são os mesmos: “nosso povo não pode ter
cometido tal atrocidade”, e “nosso povo foi vítima de crimes ainda
piores do que esses que lhes são imputados”. A realidade dos crimes
cometidos pelas forças sérvias no Kosovo não invalida, no entanto, a
hipótese de que alguns albaneses tenham cometido outro crime,
particularmente infame.
O problema é que “o povo albanês” não é de forma alguma culpado desse
eventual tráfico, assim como “o povo sérvio” não tem que suportar a
responsabilidade pelo massacre genocida de Srebrenica: esses crimes têm
seus culpados e cabe à justiça definir a responsabilidade pessoal. Essa é
a única forma de evitar que povos inteiros, e as gerações futuras,
carreguem o fardo penoso de uma responsabilidade coletiva. No Kosovo,
somente Albin Kurti, o governante do movimento Vetëvendosja
(“Autodeterminação”) parece ter compreendido o verdadeiro significado do
que está em jogo. Ele pediu oficialmente que a Justiça se ocupe do
dossiê de Thaçi, estimando que essa seria a única forma de limpar a
honra da totalidade dos combatentes e de simpatizantes do UCK da
suspeita de uma responsabilidade coletiva10.
Na Albânia, uma das raras vozes críticas que se levantou foi a do
ensaísta Fatos Lubonja, antigo prisioneiro político do regime stalinista
e grande figura de esquerda. Em uma matéria publicada pelo jornal
Panorama, Lubonja ousa estabelecer um paralelo entre esse suposto crime e
o ocorrido em Srebrenica, enfatizando que os albaneses correm o risco,
de agora em diante, de suportar o peso arrasador em seu consciente
coletivo. Denunciando a “frente patriótica”, que se forma de Tirana à
Prístina, para recusar que seja feita uma investigação, ele escreve: “a
acusação é certamente pesada, mas recusar a investigação que a
confirmaria ou a desmentiria é ainda pior. Essa recusa faz de todos nós
culpados e creio que a maioria dos albaneses não gostaria de se sentir
envolvido nesse tipo de crime”11.
As criticas de Marty apontam a ausência de provas fornecidas para seu
relatório. A resolução adotada por unanimidade pela Comissão da
assembleia parlamentar do Conselho da Europa pede justamente que as
investigações sejam diligentes para encontrar essas provas. Na voz da
sua representante de política externa, Catherine Ashton, a União
Europeia avaliou que essa investigação deveria ser dirigida pela missão
europeia Eulex, encarregada de ajudar as instituições do Kosovo na
construção do Estado de direito. Sempre repetindo suas críticas, o
governo albanês comunicou que não se oporia. Por sua vez, Del Ponte
levantou o problema da jurisdição competente para julgar tal assunto: o
TPIY não poderia mais abrir novos dossiês e seria necessário criar um
tribunal ad hoc, ou transmitir o dossiê a Corte Penal internacional (CPI)12.
Enfim, as responsabilidades que apontam o relatório não concernem
somente a Thaçi e os antigos dirigentes da guerrilha albanesa. No seu
livro, Del Ponte explica o muro no qual ela se chocou, quando tentou, a
partir de 2000, conduzir investigações sobre os supostos crimes do UCK,
citando nomeadamente o chefe da missão da ONU, Bernard Kouchner, assim
como o general francês Valentin, então comandante-chefe da KFOR. Para
tentar explicar esse bloqueio, ela escreve: “Estou certa de que os
responsáveis da MINUK e mesmo da KFOR temem por suas vidas e pela vida
dos membros de suas missões”. Indo mais longe, ela acrescenta: “no
espírito da MINUK e da KFOR, [Hashim] Thaçi e [o antigo chefe militar da
UCK, Agim]. Ceku não representava unicamente um perigo para segurança
de seu pessoal e o cumprimento das suas missões: eles colocariam em
perigo toda a construção do processo de paz nos Bálcãs”13.
Em entrevista publicada em 21 de dezembro pelo jornal sérvio Politka, o
capitão canadense Stu Kellock, antigo chefe do departamento de polícia
de Minuk, declara: “Não posso afirmar que Kouchner conhecia o tráfico de
órgãos, mas é impossível que não tenha tido informações sobre o crime
organizado no Kosovo.” De fato, a luta contra o crime organizado
representava uma das prioridades das missões internacionais. O capitão
Kellock explica igualmente que “toda crítica contra Hashim Thaçi e os
seus” era imediatamente rejeitada nos “círculos onde [ele] trabalhava”14.
Por “realismo político”, vários países ocidentais optaram por jogar a
“carta” política que representava Thaçi. É sabido que este último era
aconselhado, já durante a guerra, por agentes de certos serviços de
informação, especialmente a DGSE francesa. A implicação direta de Thaçi
em várias atividades ilegais (extorção, lavagem de dinheiro etc.) está
igualmente comprovada. Por causa da preocupação de não “queimar” um
precioso aliado político, os “protetores” ocidentais de Thaçi escolheram
passar uma esponja em seus “pecados veniais”. Se uma investigação
confirma a implicação de Thaçi em um abjeto tráfico de órgãos, seus
“protetores” ocidentais correm o risco de serem prejudicados.
Interrogado por um jornalista sérvio sobre o tráfico de órgãos em 27 de
fevereiro, quando estava fazendo uma viagem oficial ao Kosovo,
Kouchner, então ministro dos Negócios Estrangeiros, explodiu de rir,
antes de exclamar: “eu tenho cara de quem vende órgãos?”, e de sugerir
ao jornalista “para ir se tratar”15. O riso de Kouchner ecoa hoje de maneira sinistra.
Jean-Arnault Dérens redator-chefe do Courrier des Balkans.
1 O relatório está disponível no site do Conselho Europeu.
2 Tradução francesa: Carla Del Ponte, A caçada. Os criminosos de guerra e eu, Paris, Heloïse d`Ormesson, 2009.
3 Ler Altin Raxhimi, Michael Montgomery e
Vladimir Karaj, “ Albânia e Kosovo: os campos da morte do UCK”, O
Correio dos Bálcãs, 10 de abril de 2009.
4 “Dick Marty: “A independência do Kosovo nao foi decidida na Prístina”, voltairenet.org, 12 de março de 2008.
5 “Martys Vorgehen erinnert mich an Goebbels”, Tages Anzeiger, 30 de dezembro de 2010.
6 Ler Ben Andoni, “Tráfico de órgãos na
Albânia: na “clínica fantasma” de Carla Del Ponte”, O Correio dos
Bálcãs, 19 de maio de 2008.
7 Lembremos que as autoridades albanesas
tinham se recusado de acessar, em 2003, os pedidos dos investigadores
do TPIY, que gostariam de fazer as exumações no cemitério de Rrïpe.
Essa recusa foi oficialmente justificada por “razões culturais”.
8 Ler Tráfico de órgãos: a vasta rede do “Doutor Abutre”, cirurgião turco” O Correio dos bálcãs, 21 de dezembro de 2010.
9 Ler Blerim Shabani & Sevdail
Tahiri, “O relatório de Dick Marty sacode a diáspora albanofone na
suíça”, albinfo.ch, 20 de dezembro de 2010.
10 Ler “Kosovo: Vetëvendosje pede que Thaçi seja apresentado a justiça”, O Correio dos Bálcãs, 18 de dezembro de 2010.
11 Fatos Lubonja, “Pse refusohet raporti i Dick Marti?”, Panorama, 22 de dezembro de 2010.
12 Ler “ Tráfico de órgãos de UCK: Carla
Del Ponte pela transmissão do dossiê a CPI” , O Correio dos bálcãs, 23
de dezembro de 2010.
13 Carla Del Ponte, A Caçada, op.cit., pp.460-461.
14 Ler Rade Maroevic, “Kusner je morao
da zna”, Politika, 21 de dezembro de 2010, e R.S.V., “Tráfico de órgãos:
kouchner sabia”, O Correio dos Balcãs, 29 de dezembro de 2010
15 O vídeo desse encontro circula muito na internet. Podemos consultar no Dailymoton.
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
"Tropas" italianas ocupam a mídia, parte do STF e do Congresso
[Laerte Braga]
As “tropas” do Duce Sílvio Berlusconi ocuparam parte do
STF – Supremo Tribunal Federal –, do Congresso Nacional e designaram
orientadores para as chamadas quintas colunas, a mídia privada no
Brasil.
Os “soldados” italianos, ao contrário do que acontece em qualquer guerra, não chegam ao Brasil fardados e armados, mas com malas coloridas carregadas de democracia verde e com liquidez em qualquer canto do mundo. São todas as malas e fardas da grife Armani.
No STF ocuparam e
montaram o seu quartel general no gabinete do ministro presidente César
Peluzo. O gabinete do ministro Gilmar Mendes serve ao setor de
“inteligência” – não confundir com a outra –.
Já
a mídia recebeu orientadores para definir a melhor estratégia com
vistas à extradição de Cesare Battisti. A mídia privada no Brasil atua
ligada a grupos estrangeiros, lembra aquelas “empresas de exportação”
que a CIA – Agência Central de Inteligência – monta para justificar
operações de sequestro, tortura, assassinatos, etc, tudo revelado pelo
site WikiLeaks.
Em
contrapartida e em relação ao Uruguai, o governo de Sílvio Calígula
Berlusconi negou a extradição do capitão Jorge Troccoli, responsável por
prisões, tortura, estupros, sequestros e assassinatos durante a
ditadura militar naquele país e um dos principais operadores da Operação
Condor (ação conjunta dos serviços de tortura das ditaduras militares
envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, sob supervisão
direta dos EUA).
A
alegação do governo de Sílvio Calígula Berlusconi é que o torturador
tem dupla nacionalidade. Em anos anteriores o mesmo aconteceu em relação
ao Brasil, no caso do banqueiro Salvatore Cacciola (preso em Mônaco).
Há
notícias, ainda não confirmadas dadas as dificuldades de obter
informações junto aos “militares” italianos que ocupam partes de setores
públicos do Brasil, que entendimentos estão sendo mantidos entre esse
invasores e deputados do DEM e do PSDB – favoráveis à extradição de
Battisti –, além de grupos e deputados de outros partidos. Sabe-se que a
Monsanto interessada em aumentar seus privilégios no Brasil está
tentando o apoio do deputado Cláudio Vacarezza e os latifundiários
mantêm entendimentos diretos com Aldo Rebelo, aquisição recente do
plantel transgênico e do desmatamento.
O
governo da Itália em nota oficial disse que a invasão desses setores se
deve ao fato que “o melhor produto de exportação do Brasil são as
mulatas e não propriamente os nossos juristas”.
A
decisão visa garantir a “lei” e Sílvio Calígula Berlusconi está
reformando o Coliseu para o combate Battisti versus leões especialmente
adquiridos pela justiça italiana para justiçar o jornalista e escritor
que ganhou o status de refugiado numa das últimas decisões do
ex-presidente Lula, antes de deixar o governo.
Com
relação à mídia privada “brasileira”, os orientadores italianos vão
apenas orientar os agentes tipo William Bonner, William Waack, Alexandre
Garcia, Eraldo Pereira (funcionário de Gilmar Mendes), jornais como
Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Estado de Minas, redes menores,
revistas como Veja, para manter o fogo de artilharia sobre a decisão do
presidente Lula e reforçar a expressão “terrorista” sobre Cesare
Battisti.
A
orientação é ignorar que o julgamento de Battisti foi à revelia, com
base em provas inconclusivas e um acordo entre o governo do Duce Sílvio
Calígula Berlusconi e dois delatores (delação premiada), reforçando a
dor e o sofrimento de eventuais vítimas da luta armada naquele país.
Já
a dor das vítimas da repressão aqui no Brasil, ou o caso do capitão
estuprador dos fuzileiros navais do Uruguai, essa é para deixar de lado.
Não
está confirmado, dado ao quadro confuso e ao cerco que as “tropas”
italianas mantêm sobre a parte do território brasileiro ocupado, mas
fontes extra oficiais garantem que é fato, que os italianos querem um
horário especial para adentrar – isso mesmo, adentrar – à célebre casa
do BBB-11 e lá restaurarem suas energias para futuros combates.
Ao
que se saiba não há vetos nem de Boninho, diminutivo de Nero e nem da
direção da Globo, braço dos serviços de inteligência da colônia
norte-americana que ainda teimam em chamar de Itália.
Ao
certo se sabe que o capitão uruguaio Jorge Troccoli será nomeado
diretor geral do novo Coliseu. Caberá a ele, entre outras coisas, afiar
os dentes dos leões antes de entrarem na arena e aplicar as chibatadas,
choques elétricos, pau de arara, etc, estupro, nos presos e presas a
serem justiçados.
Em
troca será declarado herói nacional da Itália e terá direito a um
monumento à direita de Mussolini (Berlusconi pretende introduzi-lo no
Coliseu, ao lado do seu).
O
governo brasileiro até agora se mantém em silêncio. Espera que haja
reações por parte de ministros do STF cujos gabinetes ainda não foram
ocupados por “tropas” italianas. O grande temor de alguns setores é que o
norte-americano Nelson Jobim, disfarçado de ministro da Defesa do
Brasil, possa querer interferir no processo e garantir a invasão com um
arremedo do IV Frota norte-americana.
Obama
viria – a informação não é oficial, mas veio da Casa Branca – com a
missão de assumir o comando das cervejarias brasileiras. Hillary Clinton
seria recebida por Susana Vieira e seu namorado e para despistar e não
despertar indignação dos brasileiros, ambas passeariam com cobertura
total da Globo, em shoppings do Rio acompanhadas de suas respectivas
cachorrinhas.
Tudo deve ser gravado para um programa exclusivo de Fausto Silva e cogita-se de uma despedida especial do Casseta e Planeta.
Eliane
Catanhêde e colunistas da Veja, Estado de S. Paulo, ficarão
encarregados de fornecer análises fajutas, mas recheadas de
“fundamentos” oriundos das malas dos invasores, assegurando que está
tudo na mais perfeita ordem.
Se
a situação apertar, o transexual do BBB-11 mostra ao vivo, a cores e
sem cortes, sua condição, assegurando os custos de toda a operação com
telefonemas para responder sobre se é vero ou não.
As medalhas de “meus heróis” serão entregues por Pedro Bial.
Em
homenagem a Plínio Salgado e a Plínio Oliveira, dois “mártires” da luta
fascista no Brasil, ao final todos se reunirão no Projac para gritar
ANAUÊ.
O general
José Elito que quer que seja esquecida toda a barbárie da ditadura
militar brasileira será homenageado e prestará continência,
simultaneamente, às bandeiras da colônia Itália e da corte, EUA.
Agentes do Mossad farão a segurança.
Se
a coisa apertar vão transferir o quartel general para a sede da Opus
Dei no Brasil, o palácio do governo de São Paulo e instalar os serviços
de inteligência no esquema FIESP/DASLU, com a contrapartida do
contrabando e sonegação.
Aécio Neves vai ficar de plantão para qualquer emergência. Haverá uma ambulância superequipada para qualquer contratempo.
|
Equador avança na Educação..
Correa qualifica de histórica Lei de Educação no Equador |
Escrito por Erica Soares no Prensa Latina | |||||
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