Em uma entrevista exclusiva à Catarse, Onir de Araújo, advogado do
estudante Hélder Santos que veio da Bahia para estudar história em
Jaguarão - RS, também está sofrendo ameaças devido as denúncias de
violência policial e racismo feitas pelo jovem em março deste ano. As
denúncias geraram um inquérito militar e o afastamento dos brigadianos
envolvidos. Desde então várias pessoas, inclusive o advogado, estão
sofrendo ameaças que, segundo as vítimas, partiram dos brigadianos.
Assista a reportagem do Coletivo Catarse.
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Blogueiros cobram banda larga melhor, marco regulatório e internet livre
Carta do II BlogProg – Brasília – Junho de 2011
Desde o I Encontro Nacional dos Blogueir@s Progressistas, em agosto de
2010, em São Paulo, nosso movimento aumentou a sua capacidade de
interferência na luta pela democratização da comunicação, e se tornou
protagonista da disseminação de informação crítica ao oligopólio
midiático.
Ao mesmo tempo, a blogosfera consolidou-se como um espaço fundamental no cenário político brasileiro. É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas. Tem sido o contraponto às manipulações dos grupos tradicionais de comunicação, cujos interesses são contrários à liberdade de expressão no país.
Este movimento inovador reúne ativistas digitais e atua em rede, de forma horizontal e democrática, num esforço permanente de construir a unidade na diversidade, sem hierarquias ou centralismo.
Na preparação do II Encontro Nacional, isso ficou evidenciado com a realização de 14 encontros estaduais, que mobilizaram aproximadamente 1.800 ativistas digitais, e serviram para identificar os nossos pontos de unidade e para apontar as nossas próximas batalhas.
O que nos une é a democratização da comunicação no país. Isso somente acontecerá a partir de intensa e eficaz mobilização da sociedade brasileira, que não ocorrerá exclusivamente por conta dos governos ou do Congresso Nacional.
Para o nosso movimento, democratizar a comunicação no Brasil significa, entre outras coisas:
a) Aprovar um novo Marco Regulatório dos meios de comunicação. No governo Lula, o então ministro Franklin Martins preparou um projeto que até o momento não foi tornado público. Nosso movimento exige a divulgação imediata desse documento, para que ele possa ser apreciado e debatido pela sociedade. Defendemos,entre outros pontos, que esse marco regulatório contemple o fim da propriedade cruzada dos meios de comunicação privados no Brasil.
b) Aprovar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) que atenda ao interesse público, com internet de alta velocidade para todos os brasileiros. Nos últimos tempos, o governo tem-se mostrado hesitante e tem dado sinais de que pode ceder às pressões dos grandes grupos empresariais de telecomunicações, fragilizando o papel que a Telebrás deveria ter no processo. Manifestamos, ainda, nosso apoio à PEC da Banda Larga que tramita no Congresso Nacional (propõe que se inclua, na Constituição, o acesso à internet de alta velocidade entre os direitos fundamentais do cidadão).
c) Ser contra qualquer tipo de censura ou restrição à internet. No Legislativo, continua em tramitação o projeto do senador tucano Eduardo Azeredo de controle e vigilância sobre a internet – batizado de AI-5 Digital. Ao mesmo tempo, governantes e monopólios de comunicação intensificam a perseguição aos blogueiros em várias partes do país, num processo crescente de censura pela via judicial. A blogosfera progressista repudia essas ações autoritárias. Exige a total neutralidade da rede e lança uma campanha nacional de solidariedade aos blogueiros perseguidos e censurados, estabelecendo como meta a criação de um “Fundo de Apoio Jurídico e Político” aos que forem atacados.
d) Lutar pelo encaminhamento imediato do Marco Civil da Internet, pelo poder executivo, ao Congresso Nacional.
e) Fortalecer o movimento da blogosfera progressista, garantindo o seu caráter plural e democrático. Com o objetivo de descentralizar e enraizar ainda mais o movimento, aprovamos:
- III Encontro Nacional na Bahia, em maio de 2012.
A Comissão Organizadora Nacional passará a contar com 15 integrantes:
- Altamiro Borges, Conceição Lemes, Conceição Oliveira, Eduardo Guimarães, Paulo Henrique Amorim, Renato Rovai e Rodrigo Vianna (que já compunham a comissão anterior);
- Leandro Fortes (representante do grupo que organizou o II Encontro em Brasília);
- um representante da Bahia (a definir), indicado pela comissão organizadora local do III Encontro;
- Tica Moreno (suplente – Julieta Palmeira), representante de gênero;
- e mais um representante de cada região do país, indicados a partir das comissões regionais (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte). As comissões regionais serão formadas por até dois membros de cada estado, e ficarão responsáveis também por organizar os encontros estaduais e estimular a formação de comissões estaduais e locais.
Os blogueir@s reunidos em Brasília sugerem que, no próximo encontro na Bahia, a Comissão Organizadora Nacional passe por uma ampla renovação.
f) Defender o Movimento Nacional de Democratização da Comunicação, no qual nos incluímos, dando total apoio à luta pela legalização das rádios e TVs comunitárias, e exigindo a distribuição democrática e transparente das concessões dos canais de rádio e TV digital.
g) Democratizar a distribuição de verbas públicas de publicidade, que deve ser baseada não apenas em critérios mercadológicos, mas também em mecanismos que garantam a pluralidade e a diversidade. Estabelecer uma política pública de verbas para blogs.
h) Declarar nosso repúdio às emendas aprovadas na Câmara dos Deputados ao projeto de Lei 4.361/04 (Regulamentação das Lan Houses), principais responsáveis pelos acessos à internet no Brasil, garantindo o acesso à rede de 45 milhões de usuários, segundo a ABCID (Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital).
Brasília, 19 de junho de 2011
Ao mesmo tempo, a blogosfera consolidou-se como um espaço fundamental no cenário político brasileiro. É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas. Tem sido o contraponto às manipulações dos grupos tradicionais de comunicação, cujos interesses são contrários à liberdade de expressão no país.
Este movimento inovador reúne ativistas digitais e atua em rede, de forma horizontal e democrática, num esforço permanente de construir a unidade na diversidade, sem hierarquias ou centralismo.
Na preparação do II Encontro Nacional, isso ficou evidenciado com a realização de 14 encontros estaduais, que mobilizaram aproximadamente 1.800 ativistas digitais, e serviram para identificar os nossos pontos de unidade e para apontar as nossas próximas batalhas.
O que nos une é a democratização da comunicação no país. Isso somente acontecerá a partir de intensa e eficaz mobilização da sociedade brasileira, que não ocorrerá exclusivamente por conta dos governos ou do Congresso Nacional.
Para o nosso movimento, democratizar a comunicação no Brasil significa, entre outras coisas:
a) Aprovar um novo Marco Regulatório dos meios de comunicação. No governo Lula, o então ministro Franklin Martins preparou um projeto que até o momento não foi tornado público. Nosso movimento exige a divulgação imediata desse documento, para que ele possa ser apreciado e debatido pela sociedade. Defendemos,entre outros pontos, que esse marco regulatório contemple o fim da propriedade cruzada dos meios de comunicação privados no Brasil.
b) Aprovar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) que atenda ao interesse público, com internet de alta velocidade para todos os brasileiros. Nos últimos tempos, o governo tem-se mostrado hesitante e tem dado sinais de que pode ceder às pressões dos grandes grupos empresariais de telecomunicações, fragilizando o papel que a Telebrás deveria ter no processo. Manifestamos, ainda, nosso apoio à PEC da Banda Larga que tramita no Congresso Nacional (propõe que se inclua, na Constituição, o acesso à internet de alta velocidade entre os direitos fundamentais do cidadão).
c) Ser contra qualquer tipo de censura ou restrição à internet. No Legislativo, continua em tramitação o projeto do senador tucano Eduardo Azeredo de controle e vigilância sobre a internet – batizado de AI-5 Digital. Ao mesmo tempo, governantes e monopólios de comunicação intensificam a perseguição aos blogueiros em várias partes do país, num processo crescente de censura pela via judicial. A blogosfera progressista repudia essas ações autoritárias. Exige a total neutralidade da rede e lança uma campanha nacional de solidariedade aos blogueiros perseguidos e censurados, estabelecendo como meta a criação de um “Fundo de Apoio Jurídico e Político” aos que forem atacados.
d) Lutar pelo encaminhamento imediato do Marco Civil da Internet, pelo poder executivo, ao Congresso Nacional.
e) Fortalecer o movimento da blogosfera progressista, garantindo o seu caráter plural e democrático. Com o objetivo de descentralizar e enraizar ainda mais o movimento, aprovamos:
- III Encontro Nacional na Bahia, em maio de 2012.
A Comissão Organizadora Nacional passará a contar com 15 integrantes:
- Altamiro Borges, Conceição Lemes, Conceição Oliveira, Eduardo Guimarães, Paulo Henrique Amorim, Renato Rovai e Rodrigo Vianna (que já compunham a comissão anterior);
- Leandro Fortes (representante do grupo que organizou o II Encontro em Brasília);
- um representante da Bahia (a definir), indicado pela comissão organizadora local do III Encontro;
- Tica Moreno (suplente – Julieta Palmeira), representante de gênero;
- e mais um representante de cada região do país, indicados a partir das comissões regionais (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte). As comissões regionais serão formadas por até dois membros de cada estado, e ficarão responsáveis também por organizar os encontros estaduais e estimular a formação de comissões estaduais e locais.
Os blogueir@s reunidos em Brasília sugerem que, no próximo encontro na Bahia, a Comissão Organizadora Nacional passe por uma ampla renovação.
f) Defender o Movimento Nacional de Democratização da Comunicação, no qual nos incluímos, dando total apoio à luta pela legalização das rádios e TVs comunitárias, e exigindo a distribuição democrática e transparente das concessões dos canais de rádio e TV digital.
g) Democratizar a distribuição de verbas públicas de publicidade, que deve ser baseada não apenas em critérios mercadológicos, mas também em mecanismos que garantam a pluralidade e a diversidade. Estabelecer uma política pública de verbas para blogs.
h) Declarar nosso repúdio às emendas aprovadas na Câmara dos Deputados ao projeto de Lei 4.361/04 (Regulamentação das Lan Houses), principais responsáveis pelos acessos à internet no Brasil, garantindo o acesso à rede de 45 milhões de usuários, segundo a ABCID (Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital).
Brasília, 19 de junho de 2011
Por Miguel do Rosario no OLEO DO DIABO
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encontro de blogueiros progressistas,
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movimentos sociais
A luta dos agricultores em Marabá
Por Elaine Tavares
Mais de sete mil
agricultores se manifestam na Transamazônica em Marabá. Uma luta
escondida, não divulgada, de uma gente que precisa fazer os maiores
sacrifícios para ser ouvida. Enquanto os grandes empresários, os
latifundiários e as multinacionais levam o que querem desse governo, os
trabalhadores não encontram eco nas suas reivindicações.
Marcadores:
movimentos sociais,
reforma agrária,
solidariedade
O “nacionalismo” naval da Folha está furado
Por Brizola Neto no TIJOLACO
Quando a gente fala que a mídia manipula a informação, não está dizendo que ela mente.
Está dizendo que distorce, aumentando um lado, reduzindo o outro.
Vejam o caso da manchete – e mais quase toda uma página interna da edição de hoje da Folha de S. Paulo.
Aí vem a conta marota.
Como foram compradas 22 plataformas e, destas, só três foram
integralmente construídas aqui, tem-se que 3/22 é igual a 13,6%. E
então, 87% dão estrangeiras. Arredondando, 90%, não é?
Aí você, pacientemente, lê toda a matéria. A repórter Leila Coimbra jamais escreve a expressão 90%,
senão uma vez, para dizer que das 48 plataformas da petroleira privada
OSX, 90% serão construídas no Brasil, no estaleiro que o grupo
empresarial de Eike Batista está começando a construir no Porto do Açu,
em sociedade com a sul-coreana Hyundai Heavy Industries, e que será,
segundo os planos, o maior estaleiro das Américas.
Como a empresa já achou e extrai petróleo, é óbvio que ela não iria
esperar ficar pronto o estaleiro e que o estaleiro produzisse as
plataformas, não é? Até porque, é evidente, um estaleiro não é simples
como “fazer um puxadinho” e construir uma plataforma não é fazer um
toldo de varanda. Portanto, nada mais natural que, na fase inicial, ela
comprasse quatro plataformas em estaleiros que fazem uma atrás da outra.
Mas vá lá, é uma empresa privada e, se a Folha não se incomoda em que
a Vale – segundo ela, empresa privada também, embora o estado tenha a
maioria das ações do consórcio controlador – faça navios lá fora, é
estranho que se incomode com o fato de a OSX fazê-lo. E, como se viu,
nem é o caso.
Bom, sobram então, dos 15 equipamentos utilizados no gráfico que
ilustra a matéria, 11 equipamentos pertencentes à Petrobras, e só três
deles feitos no exterior: a TLP-61 e os navios-plataforma (FPSO) Santos
e Angra dos Reis.
E por que? Os dois FPSO foram comprados porque se destinam aos
sistemas definitivos de exploração dos campos de Tupi e Lula, os
primeiros do pré-sal. Eles substituem outros, afretados no exterior, que
fizeram os testes de longa duração, mas que não têm capacidade de
suportar o megavolume – 100 mil barris/dia – que os poços terão na sua
operação comercial. Foi, portanto, uma opção de velocidade na entrada
de operação do pré-sal.
Opção que, de forma alguma, substitui ou reduz o empenho da Petrobras
em desenvolver a indústria naval e petrolífera nacionais. Tanto que os
FPSO apontados como tendo “parte nacional, parte estrangeira” são, na
sua maioria, cascos comprados e reformados estruturalmente no exterior –
eles têm previsão de ficarem ancorados no poço por 20 anos, não podem
vir á terra para pequenos reparos – e convertidos aqui em
navios-plataforma. O P-58 está no Estaleiro Estaleiro Rio
Grande – que vai
fazer oito outros FPSO, chamados “replicantes” – e o P-52 no Estaleiro
Atlântico Sul, em Pernambuco. Lá, também, será sendo feito o “Cidade de
São Paulo”, que tem apenas o casco importado da China.
Aliás, uma das características comuns a muitos navios-plataforma do
tipo FPSO é serem construídos, por opção econômica, a partir de cascos
de antigos navios petroleiros de grande capacidade – os chamados VLCC, Very Large Crude Carriers
– que não são mais competitivos como navios de longo curso mas que se
prestam perfeitamente – por sua enorme capacidade de tanques - à
operação quase estacionária de um navio-plataforma. Daí a necessidade de
reforma do casco, em geral em dique seco, para reforçar suas
características estruturais. O complexo não é o casco, mas a construção
de uma plataforma de petróleo sobre ele.
E
a TLP-61? É simples, é uma plataforma de um tipo diferente, pioneira no
Brasil. E não está sendo feita no exterior, não. Está sendo feita no Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis.
Mas, como é uma plataforma de outro tipo, diferente de todas já
utilizadas pela Petrobras, a execução do projeto implicará a utilização
de uma balsa especial para a etapa de mating (acoplamento do casco ao
convés). A balsa existente no Brasfels, utilizada na construção de
P-52, P-51 e P-56, não se encaixa à P-61, por que a distância entre
suas colunas é menor do que em plataformas semissubmersíveis, como as
que usa a Petrobras. Assim, a nova balsa será construída no estaleiro
da Keppel Fels em Singapura, junto com uma parte do convés e dos topsides da plataforma, que chegam ao estaleiro brasileiro no fim deste ano.
Agora, se a Folha se preocupa tanto com a questão da nossa
capacidade de construir aqui plataformas para a exploração de petróleo,
ao ponto de dedicar uma capa do caderno de economia à nossa
“incapacidade” de fazê-las, porque dedicou, no dia da inauguração da
P-52, no início deste mês, a plataforma com maior índice de
nacionalização já alcançado (73%), apenas dois parágrafos de uma pequena
matéria, como voc~e pode ver na reprodução publicada aí ao lado?
Seria isso o que o neoacadêmico Merval Pereira disse outro dia,
desqualificando os blogs, a “capacidade de hierarquizar a notícia” da
grande mídia?
Crise na europa derruba empregos e Brasil se torna a nova Meca dos imigrantes
Entre 2003 e 2007, a Espanha recebeu dezenas de milhares de imigrantes,
mas a crise econômica que persiste no país está alterando o fluxo
migratório. Sem emprego no presente e sem perspectivas para o futuro, os
estrangeiros procuram saídas em outros lugares. E o Brasil virou meta
para os latino-americanos de baixa formação. De acordo com quatro
relatórios que investigam as respostas dos imigrantes diante da
crise, o Brasil aparece entre os três destinos preferidos de
sul-americanos hispânicos (junto com Estados Unidos e Argentina) como
opção para conseguir emprego.
Uma pesquisa da agência de empregos Randstad revelou que 65% dos
imigrantes ilegais na Espanha estão pensando ou decididos a trocar a
Europa por outro mercado se não encontrarem trabalho até 2012. Os
estudos antecipam um fluxo que já pode ter começado. Em 2010, pela
primeira vez nos últimos 35 anos, a Espanha registrou uma taxa de saída
de população ativa maior do que a de entrada.
No ano passado, 48 mil imigrantes chegaram e 43 mil estrangeiros
retornaram aos seus países de origem, mas 90 mil espanhóis também foram
morar no exterior. O ritmo de redução é tão vertiginoso que em cinco
anos o fluxo de chegada pode ser praticamente nulo. Pelas previsões da
Fundação de Estudos de Economia Aplicada, se a crise se mantiver como
agora, em 2014 chegariam apenas 3 mil imigrantes.
Saídas
Josep Oliver, professor de economia da Universidade Autônoma de
Barcelona e um dos autores do Anuário de Imigração da Espanha, do
Ministério do Interior, disse que “80% dos imigrantes não têm outras
saídas além do aeroporto rumo a mercados com melhores opções, como o
Brasil, que oferece oportunidades sólidas”. A pesquisa Mobilidade
Laboral, da Randstad, indica que a Espanha perdeu interesse para o
trabalhador estrangeiro de baixa formação.
A razão é o perfil destes imigrantes, cujos currículos se limitam a
ofícios relacionados a áreas que não se reativam, como serviços e
construção. O setor de construção foi precisamente o que detonou a crise
de desemprego. De 2008 a 2010 quebraram mais de 200 mil empresas do
ramo, que davam trabalho a 70% dos imigrantes sul-americanos, segundo
dados oficiais.
Os estrangeiros entrevistados na pesquisa responderam que querem sair
da Espanha, mas temem crises políticas e econômicas na América Latina e
só vêem bonança financeira no Brasil, onde criticam a falta de
segurança pública. Mais ainda assim estão convencidos de que se não
encontrarem emprego até 2012, o caminho é o aeroporto. Estados Unidos,
Brasil ou Argentina, na ordem dos mais votados.
Alta formação
O Brasil também aparece como opção para espanhóis de alta formação.Um
estudo elaborado pela consultora Adecco e pela Universidade de Navarra
indica que os espanhóis com alto grau de formação e que também foram
atingidos pela crise colocam o Brasil como um dos seis destinos
preferidos para emigrar por emprego. O mercado brasileiro é visto como
opção para 55% dos entrevistados, junto com Alemanha, França,
Grã-Bretanha, Estados Unidos e Argentina.
O perfil médio dos interessados em cruzar o Atlântico é de homens,
entre 25 e 35 anos, com formações em engenharia, arquitetura,
informática, medicina, biologia e investigação científica.
– Que engenheiro ou arquiteto não quer ir para o Brasil, de olho nas
obras de infraestrutura? Está tudo por fazer, e agora há também
recursos, referências de empresas espanholas já estabelecidas e a
abertura ao (idioma) espanhol. Essas pessoas entendem que insistir aqui é
uma perda de tempo. O Brasil cresce a uma velocidade que nenhum país da
Europa pode se comparar – disse o professor de Economia da Universidade
de Navarra Sandalio Gómez, autor do relatório apresentado em janeiro.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística confirmam a tendência.
Até janeiro de 2011, havia 1,8 milhão de espanhóis morando em outros
países; 92.260 no Brasil, um aumento de 10.071 pessoas em um ano no
território brasileiro.
Problemas
Mas, apesar das oportunidades, o país perde para outros destinos em
vários quesitos. Os entrevistados da pesquisa ressaltam insegurança,
falta de serviços públicos de qualidade, instabilidade econômica e
jurídica para quem quer criar um negócio próprio e a distância de seus
lugares de origem como barreiras a levar em consideração. O governo
espanhol reforça estas conclusões. A diretora-geral do Departamento de
Emigração, (que estuda as condições dos espanhóis em outros países),
Pilar Pin, define como impedimentos as carências nos sistemas de
seguro-desemprego, rede púbica de saúde e educação e a legislação
trabalhista.
Em um relatório oficial apresentado em maio depois de uma visita a
Brasília, Pin afirmou que o Brasil tem “enorme potencial com seus
iminentes eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, além de
obras para abastecimento de energia, proteção ambiental e turismo”.
Apesar disso, o relatório observa: “A legislação de implantação de
empresas no Brasil é restritiva demais. Nossos trabalhadores vão com
licença de obra. No final do contrato encontram muitas dificuldades para
estabelecer-se por conta própria”.
Mesmo assim, segundo o relatório, as autoridades brasileiras calculam
que faltam 1,9 milhão de profissionais de alta qualificação. Uma lacuna
que os espanhóis poderiam ocupar.
Marcadores:
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trabalho e renda
Eleições no Cpers: Sul21 entrevista os três candidatos
Vivian Virissimo
Marcada para a próxima terça-feira (28), a eleição para a diretoria
do Cpers acontece em meio a um contexto decisivo para os
professores. Centrada em torno de temas historicamente caros para a
categoria, como melhoria de salários, plano de carreira e alteração na
previdência, a disputa mobiliza três chapas.
A atual líder da entidade, Rejane de Olveira, a ex-presidente Simone
Goldschmidt, ambas ligadas ao PT, e Luiz Afonso Medeiros, ligado ao PDT,
disputam o voto do magistério. O Sul21 encaminhou, por e-mail, seis perguntas para os três candidatos.
Rejane de Oliveira
Chapa 1: “Em frente: para manter e conquistar”
Qual sua posição sobre as alterações na previdência estadual,
previstas no pacote encaminhado pelo governador Tarso Genro à
Assembleia?
Nós não concordamos, pois as mudanças visam solucionar os ditos
problemas financeiros do Estado, retirando direitos dos servidores. Mais
uma vez, é sobre os ombros dos trabalhadores que querem jogar os
alegados problemas.
Que tipo de repercussão uma mudança no plano de carreira dos
professores terá para a categoria e para a melhoria da qualidade do
ensino?
Nós defendemos o atual plano de carreira. Ele tem avaliação interna,
valoriza a habilitação e a experiência, esta por meio dos triênios. Além
disso, não podemos cegar os olhos para o que está acontecendo. O
governo tem que cumprir a lei do piso nacional, porém alega dificuldades
financeiras. Faz fortes movimentos para reduzir os gastos com os
trabalhadores, como cortar o pagamento das RPVs, aumentar a contribuição
para a previdência. Ora, neste contexto, mexer no plano de carreira
pode significar a perda de boa parte do que conquistamos com o Piso
Nacional. E não pode haver melhoria na qualidade de ensino se o estado
continuar fechando cada vez mais as torneiras para os educadores. O
governador Tarso se comprometeu, tanto no debate entre os candidatos
como na negociação com o CPERS em não mexer no plano. Agora vamos ver se
é um governador que tem palavra, ou não.
O governador sinaliza com a implantação de um sistema de avaliação dos professores. Qual é sua opinião?
O que não concordamos é que se possa fazer avaliação do educador
apenas a partir dos resultados dos alunos. Mesmo pública, uma escola da
periferia não tem as mesmas condições de outra em bairro de classe
média. Não podemos admitir que professores e funcionários de escola que
já sofrem mais para educar em comunidades socialmente vulneráveis venham
ser penalizados pelo baixo desempenho que possa ter uma comunidade
exposta, por exemplo, a drogas e violência. Não basta dar um giz e um
quadro negro para que os educadores mudem a realidade das pessoas. É
preciso um bom projeto político pedagógico e formação continuada. É
necessário estruturar as escolas, dando condições para a aprendizagem e
para o trabalho. Tem que haver bons laboratórios, bibliotecas com acervo
adequado, material pedagógico, além de salário digno para que os
educadores possam acessar a internet, comprar revistas, livros, jornais e
não tenham que trabalhar em três turnos para sobreviver.
Sobre o cumprimento da lei do piso nacional do magistério,
quais poderiam ser as estratégias adotadas pelo sindicato para
consolidar este direito?
Lei não é só para o povo cumprir. Os governantes também estão
sujeitos. Aqui no Rio Grande do Sul fizemos a primeira greve do País em
defesa do piso. E é assim, na luta, que garantiremos sua implantação.
Vamos continuar cobrando do governo a imediata implantação do piso, ao
mesmo tempo em que lutamos contra toda e qualquer retirada de direitos.
Qual deve ser a postura do Cpers em relação à Secretaria da Educação e ao governo estadual?
O CPERS deve ter a mesma postura que teve com governos anteriores: de
independência, lutando por uma educação pública de qualidade e
colocando sempre professores e funcionários de escola em primeiro lugar.
Por fim, que análise se pode fazer da conjuntura atual da educação pública no Rio Grande do Sul?
Não é possível falar em educação de qualidade sem investimento na
escola pública, valorização profissional – que passa pela implementação
do piso nacional – projeto político pedagógico debatido com a comunidade
escolar, condições de trabalho e formação continuada. A educação
precisa de investimentos urgentes e não de cortes. Já está provado que
poupar, cortando da educação, só atrasa o estado. Mas, infelizmente, as
propostas apresentadas até aqui pelo atual governo sinalizam para a
tentativa de reduzir direitos dos educadores, já que o estado terá que
cumprir a lei do piso. Nós lutaremos para que seja implementada a lei do
piso para professores e funcionários de escola sem que sejam retirados
direitos dos educadores.
Simone Goldschmidt
Chapa 2: “Unidos pela Educação”
Qual é sua posição sobre as alterações na previdência estadual previstas no Pacote do governo Tarso?
Não concordamos. A transferência de responsabilidade do pagamento das
aposentadorias dos novos servidores para um fundo de previdência
capitalizado não garante nada. Além disso, entendemos que alíquota
diferenciada é inconstitucional. Os servidores que teriam descontos de
16,5% em seu salário poderiam derrubar facilmente a decisão na Justiça.
Que tipo de repercussão uma mudança no plano de carreira dos professores terá para a categoria e para a qualificação do ensino?
Não propomos e não estamos discutindo mudanças no plano de carreira.
Queremos a implantação da lei do piso, que envolve aumento salarial, um
terço da carga horária dedicada ao planejamento, além de investimentos
na área da educação. Não temos dúvidas que essas ações qualificariam a
educação no Rio Grande do Sul e no Brasil.
O governo sinaliza com a implantação de um sistema de avaliação dos professores. Qual é sua opinião?
Não temos problemas com avaliação, mas é preciso refletir sobre os
objetivos da avaliação. Se for para valorizar, investir e melhorar as
condições de trabalho, podemos realizar um extenso debate sobre o tema.
Mas, temos que lembrar que nosso plano de carreira já nos avalia. Sendo
assim, basta levar a sério esse instrumento. Se a ideia é avaliar para
demitir ou dar prêmios uma vez por ano, somos totalmente contrários. Os
prêmios não são salários, não contam para aposentadoria e servem somente
para governos “fazerem de conta” que usam os 60% dos recursos do FUNDEB
que deveria ser utilizado para pagamento de pessoal.
Sobre o cumprimento da lei do piso nacional, quais poderiam
ser as estratégias adotadas pelo sindicato para consolidar esse direito?
Foi aprovado na assembleia do CPERS que o sindicato buscasse negociar
com o governo um calendário de implantação do piso. Porém, a atual
direção não encaminhou nenhuma proposta. Temos que, primeiramente,
buscar nossa reivindicação através do diálogo. Caso não surta efeito,
temos várias formas de fazer pressão em favor da categoria. Hoje, vários
estados brasileiros (Alagoas, Amapá, Minas Gerais, Santa Catarina,
Ceará, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Sergipe) estão em greve pelo
cumprimento do piso. Afinal, ele é garantido por lei e, inclusive, já
foi confirmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Qual deve ser a postura do CPERS em relação ao Governo do Estado e à Secretaria de Educação?
Uma postura completamente independente e crítica, mas com respeito e
busca de negociação para avanços da categoria e da educação. Quando o
diálogo não for possível, intensifica-se a mobilização. A pressão tem
que vir pela capacidade de aglutinação de forças, com uma intensa
valorização da base.
Qual é a análise que se pode fazer da conjuntura atual da educação pública no RS?
A educação, não só no Rio Grande do Sul como no País, sofre as
consequências de décadas de descaso. Vemos falta de professores em
escolas, muitos contratos emergenciais, necessidade de concursos
públicos, além de precariedade na estrutura física de instituições de
ensino. Nós exigimos que os governos invistam fortemente na área para
que tenhamos uma educação qualificada e que nos deixe orgulhosos de
dizermos que somos professores.
Luiz Afonso Medeiros
Chapa 3: “Muda Cpers – Educação Já”
Qual é sua posição sobre as alterações na previdência estadual previstas no Pacote do governo Tarso?
Somos radicalmente contra o pacote. Consultados que fomos por nosso
partido sobre nossa posição em relação ao pacote informamos da nossa
posição e sugerimos que o PDT aproveitasse a ocasião para abandonar a
base de apoio do governo, pois este pacote fere o compromisso do PDT em
relaçao a defesa dos funcionários públicos.
Que tipo de repercussão uma mudança no plano de carreira dos professores terá para a categoria e para a qualificação do ensino?
Somos a favor da implantação imediata do piso nacional, ele junto com
nosso plano de carreira garantirão uma inegável melhoria na auto-estima
do professor e com certeza isto na qualidade do ensino no nosso Estado.
O governo sinaliza com a implantação de um sistema de avaliação dos professores. Qual é sua opinião?
Nós educadores não podemos ter preconceito contra avaliação, pois
isto é um dos nossos fundamentos profissionais. Da mesma forma que
avaliamos nossos alunos não podemos ter receios de sermos avaliados.
Sobre o cumprimento da lei do piso, quais poderiam ser as estratégias adotadas pelo sindicato para consolidar esse direito?
O piso nacional é uma lei de autoria do senador Cristóvam Buarque, o Coordenador Nacional do Educaçao Já, nosso movimento,
vamos com a sua força e credibilidade e nossa histórica tradição de mobilização e luta pressionar o governo Tarso a cumprir sua palavra empenhada na campanha eleitoral.
vamos com a sua força e credibilidade e nossa histórica tradição de mobilização e luta pressionar o governo Tarso a cumprir sua palavra empenhada na campanha eleitoral.
Qual deve ser a postura do CPERS em relação ao Governo do Estado e à Secretaria de Educação?
De absoluta independência, com capacidade de diálago e firmeza na defesa dos nossos interesses.
Qual é a análise que se pode fazer da conjuntura atual da educação pública no RS?
Temos tudo neste momento para darmos um salto de qualidade na
educação pública do nosso Estado. Até porque os atuais dirigentes
educacionais têm postura e prática democrática. O governo anterior,
especialmente no período em que a secretaria foi dirigida de forma
autoritária, prepotente e tecnocrática, a partir de falsas premissas e
conceitos, retrocedeu. A substituição da então secretaria mostrou o
equívoco do governo em patrocinar este método de gestão, que só angariou
antipatias, críticas e mal estar entre nós educadores, este período
rivalizou com um período até hoje é abominado por todos os educadores
que foi o periodo do calendário rotativo, de triste memória a todos
professores e comunidade escolar.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
O efeito Al Jazeera
Em
poucos anos, a rede de televisão Al Jazeera alterou profundamente a
paisagem midiática nos países árabes e criou um espaço público
transnacional, transformando-se num protagonista decisivo das mudanças
drásticas que vêm abalando a região desde o final do ano passado
|
por Mohammed El Oifi no LeMondeDiplomatique-Brasil |
No dia 2 de março, em discurso perante os membros da comissão das
relações exteriores do Senado estadunidense, Hillary Clinton pronunciou
as palavras que o emir do Qatar e os dirigentes da Al Jazeera esperavam
desde 2001. Os Estados Unidos, explicou a secretária de Estado, “estão
perdendo a guerra da informação” no mundo por causa dos grandes canais
de TV privados norte-americanos “que difundem milhões de spots publicitários e debates entre especialistas”, ao passo que “a audiência da Al Jazeera nos Estados Unidos vem crescendo porque ela oferece verdadeiras informações”.
E Hillary acrescentou, dirigindo-se precisamente aos senadores: “Gostem
disso ou não, [a Al Jazeera] é realmente poderosa”.Ela está no processo
de “mudar as mentes e os comportamentos”.1
Ainda que motivada por interesses específicos – Hillary Clinton estava
defendendo o orçamento de seu ministério –, tal reconhecimento do papel e
do impacto internacional da Al Jazeera adquire uma ressonância
particular dentro do contexto das transformações atuais do mundo árabe.
No plano regional, o canal impôs seu ritmo e suas regras de
funcionamento no contexto midiático, marginalizando dessa forma alguns
de seus concorrentes de língua árabe e perturbando o jogo dos outros.
Nesse sentido, o desafio lançado ao vivo a seus empregadores por Hafez
Al-Mirazi, o apresentador-estrela do canal saudita Al-Arabiya, o
principal concorrente da Al Jazeera,2 reveste-se de um
significado de peso. Ao comentar a queda do regime de Hosni Mubarak, o
jornalista egípcio lamentou que o veículo para o qual ele trabalhava não
se atrevia a “dizer uma palavra sequer a respeito do rei Abdala e do
regime saudita”. Ele concluiu seu discurso com um ultimato: “Se nós não
podemos expressar nossa opinião, é melhor parar com tudo. No próximo
programa, faremos uma experiência: falaremos a respeito do impacto[da
revolução no Egito]sobre a Arábia Saudita. Se der certo, a Al-Arabiya é
mesmo um canal independente; se não, eu agradeço e me despeço de todos
vocês”.3 Aquela foi sua última aparição no canal controlado
pelos interesses sauditas. Sua revolta revela o impasse no qual
desembocou a estratégia midiática de Riad e a incapacidade dos
responsáveis se adaptarem às novas realidades políticas. Mas esse
episódio também anuncia o retorno do Egito, emancipado da tutela
paralisante do presidente Hosni Mubarak, ao jogo midiático árabe, o que
constituirá provavelmente o principal evento na região ao longo dos
próximos anos.
Desde sua fundação, em novembro de 1996, o canal de informação 24 horas
Al Jazeera revolucionou o sistema midiático regional, transformando sua
estrutura e suas regras de funcionamento e questionando o equilíbrio de
forças políticas que o sustenta.4 Não faltam aqueles que lhe
atribuem um papel mais importante que o das redes sociais no processo
que desencadeou as revoltas que abalam o mundo árabe. Assim, segundo
Julian Assange, o cofundador do WikiLeaks, as redes Twitter e Facebook
“exerceram de fato um papel, mas este não é comparável àquele da Al
Jazeera”.5
FIM DO MONOPÓLIO SAUDITA
Os veículos de comunicação árabes singularizam-se pela existência –
tornada possível por uma língua comum – de uma esfera compartilhada que
transcende os Estados e os públicos nacionais, e cuja gênese remonta ao
final do século XIX. As rivalidades interárabes passaram pelo controle
desse espaço público, um campo no qual os países do Golfo, entre outros a
Arábia Saudita e o Qatar, tomaram a iniciativa. Após a saída de cena do
Egito, em decorrência da morte em 1970 do presidente Gamal Abdel
Nasser, e do Iraque, em consequência da invasão do Kuait em 1990, a
Arábia Saudita assumiu o controle da maior parte dos veículos de
comunicação pan-árabes. Em meados dos anos 1990, o lançamento da Al
Jazeera pelo emir do Qatar, o xeque Hamad bin Khalifa al-Thani,
caracterizou o fim do monopólio saudita.
Em função da escolha do local para estabelecê-la, das modalidades de
recrutamento de seus jornalistas e de suas opções ideológicas, a Al
Jazeera introduziu uma tripla ruptura em relação à fórmula saudita. Até
então, dominava a ideia segundo a qual apenas os veículos árabes
instalados no exterior podiam gozar de uma liberdade relativa. A
emigração de uma parte da imprensa libanesa rumo à Europa após o advento
da guerra civil, em 1975, havia reforçado essa tese. O império
midiático saudita estava radicado em Londres e na Itália, e tirava
proveito da presença maciça de jornalistas árabes, sobretudo libaneses,
que se tornaram os aliados – alguns dirão os mercenários – dos emires
sauditas. A Al Jazeera pôs em xeque esse pressuposto, demonstrando que
um veículo de comunicação pan-árabe instalado num país da região podia
beneficiar-se de uma grande liberdade. Progressivamente, os veículos
sauditas começaram a retornar para a região, entre outros para os
Emirados Árabes Unidos – mas não para a Arábia Saudita.
Para motivar a simpatia e a identificação do público, os criadores da
Al Jazeera quiseram que o conjunto dos funcionários do canal fosse
representativo das diversas nações árabes; com isso, estava encerrada a
era de dominação dos jornalistas libaneses e das estruturas sauditas.
De modo previsível, as dissensões no âmbito das equipes jornalísticas
são frequentes, conforme demonstra a demissão coletiva de cinco
apresentadoras do canal ocorrida no dia 25 de maio de 2010. Alguns
veículos de comunicação árabes repercutidos pela imprensa internacional
enfatizaram a existência de práticas de assédio moral, além da vontade
do canal de impor um código de vestimenta rigoroso.6 Segundo
explica uma das jornalistas demitidas, Joumana Namnour, as verdadeiras
razões dessa revolta nada têm a ver com o modo de se vestir, sendo de
ordem profissional,7 pois as apresentadoras achavam
lastimável o pouco poder que lhes era dado. Assim como, por exemplo,
nenhum dos numerosos programas políticos do canal é atribuído a uma
mulher.
Um exame minucioso da identidade ideológica da Al Jazeera e de sua
linha editorial revela a prevalência de um equilíbrio sutil entre três
tendências: pan-árabe, islamizante e liberal.
O sucesso da Al Jazeera, o interesse e até mesmo a paixão que ela
suscita nos públicos de língua árabe podem ser explicados não apenas
pela maneira inovadora com a qual ela aborda a atualidade, mas também
pela liberalidade em seus procedimentos. Ao dar a palavra à oposição, em
cada país árabe, para comentar as verdades oficiais, a Al Jazeera
oferece aos telespectadores verdadeiros debates contraditórios. A
diversidade dos participantes, tanto do ponto de vista de sua
nacionalidade, de sua sensibilidade ideológica e política quanto de seu
local de residência, permitiu a circulação das ideias e dos pontos de
vista, promovendo a abolição das fronteiras nacionais e driblando todas
as censuras. Assim, o canal participou de maneira decisiva da formação
de um espaço público árabe transnacional.8 Estruturado por
canais de TV por satélite e por jornais pan-árabes, aos quais se
acrescentam a internet, os blogs e as redes sociais, esse espaço
tornou-se um centro de gestação onde se formam opiniões e preferências
políticas a respeito de todas as questões que agitam a região.
Esse pluralismo, decorrente da multiplicação dos meios de informação
transfronteiriços criados por Estados concorrentes, quer pela Arábia
Saudita (Al-Arabiya), pelos Estados Unidos (Al-Hurra) ou pelo Irã
(Al-Alam), resultou numa configuração político-midiática inédita na qual
se sobrepõem uma esfera midiática pluralista relativamente livre e
regimes políticos nacionais autoritários. Exacerbada pela audácia e
influência da Al Jazeera, essa contradição exerceu uma pressão constante
sobre poderes desestabilizados por essa circulação da informação. A
maturação dos processos revolucionários no mundo árabe deve muito a essa
tensão entre a ordem política e a ordem midiática.
Em razão do caráter artificial e até mesmo da inexistência de
estruturas partidárias e sindicais suscetíveis a organizar o debate
público, a Al Jazeera deixou progressivamente de ser um canal de TV
ordinário. Ao longo dos últimos dez anos, foi na sua tela que foram
debatidas todas as grandes questões que interessam aos povos da região.
Ela passou a ser objeto de disputa em todos os conflitos, como, por
exemplo, no Afeganistão e na Palestina.
Daqui para frente, quer ela emane do interior,9 quer do exterior do mundo árabe,10
a crítica das orientações do canal é parte integrante do jogo político
no Oriente Médio. Na maioria dos casos, ela objetiva pôr na defensiva o
governo do Qatar, pressupondo que a linha editorial da TV nada mais é do
que a tradução midiática da diplomacia do Estado do Qatar. No entanto,
tudo indica – nem que seja por sua cobertura das revoluções desses
últimos meses – que a Al Jazeera tornou-se um fenômeno árabe, um espelho
da evolução regional que extrapola muito amplamente a vontade de Doha.
TRATAMENTO MILITANTE DAS REVOLUÇÕES
Embora a Al Jazeera seja popular, ela não deixa de ser um canal
controverso por razões que, aliás, não raro revelam ser contraditórias.
Alguns deploram sua abertura para os israelenses (ela foi o primeiro
canal por satélite a entrevistar dirigentes do Estado hebreu), outros,
suas “tendências islâmicas”. Seu “antiamericanismo” é contrabalançado
pela presença no Qatar do comando da 5ª Frota estadunidense, o que faz
do emirado uma das ferramentas de domínio que os Estados Unidos exercem
sobre o Oriente Médio.
Sua cobertura militante das revoluções árabes, sobretudo na Líbia e no
Iêmen, e seu apoio à intervenção militar da Otan foram denunciados como
sendo uma ingerência nos assuntos internos dos países árabes. A ausência
da oposição saudita ou qatariana em sua programação, sua timidez ao
abordar os eventos ocorridos no Bahrein,11 além de sua
crítica incipiente da intervenção das forças sauditas e aliadas nesse
reino são interpretadas como uma vontade de preservar o status quo
no Golfo. Mostra da sensibilidade da Al Jazeera às evoluções regionais
foi anúncio, no final de abril, da demissão do responsável pelo
escritório do canal em Beiruth, Ghassan Ben Jeddou, por divergências com
relação à cobertura da Líbia e da Síria, que ele julgava muito parcial.
A tese dos detratores que apresentavam o canal como uma mera “oficina
islâmica” foi abalada por sua abordagem favorável das revoltas nos
países na África do Norte e no Oriente Médio, nas quais os islâmicos são
quase invisíveis. Além disso, o lançamento da Al Jazeera em inglês, em
2006, contribuiu para desmentir a imagem construída pelas traduções
parciais e os trechos fora de contexto difundidos pelo Instituto de
Pesquisa sobre a Mídia do Oriente Médio (MEMRI – Middle East Media
Research Institute), com o objetivo de apresentar a Al Jazeera como um
veículo de comunicação antiocidental e até mesmo antissemita.12
Ilustração: Scott Peterson / Getty Images
1 Cf. “Hillary Clinton, ‘Viewership of Al Jazeera is going up in the United States because it’s real news’”, YouTube.com, 2 de março de 2011.
2 Mohammed El Oifi, “Le face-à-face Al-Arabiya/Al-Jazeera: un duel diplomatico-médiatique”, Revue Moyen-Orient, n.6, Paris, junho de 2010.
3 Programa Studio Al Qahira, Al Arabiya, 12 de fevereiro de 2011.
4 Yves Gonzalez-Quijano e Tourya Guaaybess (dir.), Les Arabes parlent aux Arabes: La révolution de l’information dans le monde arabe, Actes Sud, Arles,2009.
5 Le Monde, 11 de março de 2011.
6 Ver artigo do jornal saudita Al Hayat publicado em 30 de maio de 2010, http://international.daralhayat.com/internationalarticle/146817.
7 Ver http://wn.com/Talk_of_the_Town__Joumana_Nammour (consultado em 21 de abril de 2011).
8 Mohammed El Oifi, “Influence without power: Al Jazeera and the Arab public sphere”. In: Mohamed Zayani, The Al Jazeera Phenomenon Critical Perspectives on New Arab Media, Pluto Press, Londres,2005.
9 Mamoun Fandy, (Un)Civil War of Words: Media and Politics in the Arab World, Praeger Security International, 2007.
10 Zvi Mazel, “Al Jazeera et le Qatar: le sombre empire des Frères musulmans?”, Controverse, www.controverses.fr Paris, n.13, março de 2010.
11 Ler “Al Jazeera a perdu sa fièvre révolutionnaire au Bahreïn”, 13 de abril de 2011.
12 Ler “Désinformation à l’israélienne”, Le Monde diplomatique, setembro de 2005.
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Fim de pesadelo: Battisti agora é imigrante legal no Brasil
Depois da vitória por 6 a 3 no Supremo Tribunal Federal, uma
mais categórica ainda no Conselho Nacional de Imigração: por 14 a 2, o
colegiado, vinculado ao Ministério do Trabalho, concedeu nesta
quarta-feira (22) autorização de permanência para o escritor italiano
Cesare Battisti, que poderá residir e trabalhar no Brasil, como
imigrante legal, por tempo indeterminado.
Por Celso Lungaretti, em seu blog
Em termos jurídicos, é o ponto final
dos apuros de Battisti, depois de debater-se durante sete anos num
pesadelo kafkiano. Ele deixara as fileiras da ultraesquerda italiana em
1979 e reconstruíra a vida no exílio, acabando por tornar-se um
respeitado novelista na França, ao abrigo da Lei Mitterrand.
Em 2004, contudo, a Itália o escolheu como alvo de uma cruzada vingativa, aproveitando a histeria que grassava nos países do Primeiro Mundo desde o atentado ao WTC, insuflada ad nauseam pela indústria cultural.
Para os estadunidenses, foi uma chance de, sob falsos pretextos, invadirem países soberanos e submetê-los à sua vontade. Os italianos, mais modestos, contentaram-se em desencadear uma perseguição tão espetaculosa quanto inútil, impingindo a lorota de que um personagem secundário dos anos de chumbo seria terrível terrorista – tal qual, séculos atrás, queimavam mulheres fogosas como bruxas e judeus como infiéis.
Depois da bilionária campanha para fazer com que a França desonrasse o compromisso solene que assumira com os perseguidos políticos italianos, os linchadores peninsulares se transferiram com armas e bagagens para o Brasil, onde, ao lado dos quinta-colunas tupiniquins que lhes serviram de escudeiros, acabam de sofrer uma acachapante derrota.
A qual, vale repetir, é definitiva: as escaramuças legais anunciadas pela Itália não têm a mais ínfima possibilidade de alterarem o resultado do jogo após o apito final do árbitro. Servem apenas para alimentar, entre os direitistas e os videotas de lá, uma ilusão que talvez ajude a salvar o premiê Silvio Berlusconi da degola. Espero que não.
Tradição de família
Neto, filho e irmão mais novo de comunistas, engajou-se naturalmente na Juventude do PCI e, aos 13 anos, já participava dos protestos estudantis que marcaram o 1968 europeu.
Depois, no cenário radicalizado do pós-1968, o ardor da idade, também naturalmente, o foi conduzindo cada vez mais para a esquerda: do PCI à Lotta Continua, desta à Autonomia Operária, até desembocar no Proletários Armados para o Comunismo, pequena organização regional com cerca de 60 integrantes.
Participou de assaltos para sustentar o movimento – as expropriações de capitalistas – e não nega. Mas, assustado com a escalada de violência desatinada – cujo ápice foi a execução do sequestrado premiê Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas – desligou-se em 1978, logo após o primeiro assassinato reivindicado por um núcleo dos PAC, do qual só tomou conhecimento a posteriori, recebendo-o com indignação.
Já era um mero foragido sem partido quando os PAC vitimaram outras três pessoas, no ano seguinte.
Detido, foi condenado em 1981 pelo que realmente fez (participação em grupo armado, assalto e receptação de armas), mas a uma pena rigorosa demais (12 anos), característica dos anos de chumbo na Itália, quando se admitia até a permanência de um suspeito em prisão preventiva por mais de dez anos.
Resgatado em outubro de 1981, por uma operação comandada pelo líder dos PAC, Pietro Mutti, abandonou a Itália, a luta armada e a própria participação política, ocultando-se na França, depois no México, onde iniciou sua carreira literária.
Aceitando a oferta do presidente François Mitterrand – abrigo permanente para os perseguidos políticos italianos que se comprometessem a não desenvolver atividades revolucionárias em solo francês –, levava existência pacata e laboriosa há 14 anos, quando, em 2004, a Itália o escolheu como alvo.
Tinha sido figura obscura e irrelevante nos anos de chumbo, quando cerca de 600 grupos e grupúsculos de ultraesquerda se constituíram na Itália. O fenômeno ganhou maiores proporções porque muitos militantes sinceros de esquerda foram levados ao desespero pela traição histórica do PCI, que tornou a revolução inviável num horizonte visível ao mancomunar-se com a reacionária, corrupta e mafiosa Democracia Cristã.
Destes 600, um terço esteve envolvido em ações armadas.
Por quê eu?
Nem os PAC tinham posição de destaque na ultraesquerda, nem Battisti era personagem destacado dos PAC. Foi apenas a válvula de escape de que o delator premiado Pietro Mutti e outros arrependidos, em depoimentos escandalosamente orquestrados, serviram-se para obter reduções de pena: estava a salvo no exterior, então poderiam descarregar sobre ele, sem dano, as próprias culpas.
Num tribunal que só faltou ser presidido por Tomás de Torquemada, Battisti acabou sendo novamente julgado na Itália e condenado à prisão perpétua em 1987.
A sentença se lastreou unicamente no depoimento desses prisioneiros que aspiravam a obter favores da Justiça italiana – cujas grotescas mentiras se evidenciaram, p. ex., na atribuição da autoria direta de dois homicídios quase simultâneos a Battisti, tendo a acusação de ser reescrita quando se percebeu a impossibilidade material de ele estar de corpo presente em ambas as cidades.
Depois, provou-se de forma cabal que Battisti não só fora representado por advogados hostis (pois defendiam os arrependidos cujos interesses conflitavam com os dele), como também falsários (pois forjaram as procurações que os davam como seus patronos).
Battisti escapara das garras da Justiça italiana, então valia tudo contra ele. Mas, ainda, como vilão menor.
Passou a ser encarado como um vilão maior quando alcançou o sucesso literário. Tinha muito a revelar sobre o macartismo à italiana dos anos de chumbo, tantas vezes denunciado pela Anistia Internacional e outros defensores dos direitos humanos.
Foi aí, em 2004, que a Itália direcionou suas baterias contra Battisti, investindo pesado em persuasões e pressões para que a França esquecesse a palavra empenhada por um presidente de verdade, François Mitterrand.
Ao mesmo tempo que concedia a extradição antes negada, a França, por meio do seu serviço secreto, facilitou a evasão de Battisti. A habitual duplicidade francesa.
Vítima de dois sequestros no Brasil
E o pesadelo se transferiu para o Brasil, onde o escritor teve a infelicidade de encontrar, no STF, dois inquisidores dispostos a tudo para entregarem o troféu a Silvio Berlusconi.
Preso em março de 2007, seu caso deveria ter sido encerrado em janeiro de 2009, quando o então ministro da Justiça Tarso Genro lhe concedeu refúgio.
Mas, ao contrário do que estabelecia a Lei do Refúgio, bem como a jurisprudência consolidada em episódios anteriores, o relator Cezar Peluso manteve Battisti sequestrado, na esperança de convencer o STF a revogar (na prática) a Lei e jogar no lixo a jurisprudência.
Apostando numa hipótese coerente com suas convicções pessoais (conservadoras, medievalistas e reacionárias), Peluso manteve encarcerado quem deveria libertar.
Ele e o então presidente Gilmar Mendes atraíram mais três ministros para sua aventura que, em última análise, visava erigir o Supremo em alternativa ao Poder Executivo, esvaziando-o ao assumir suas prerrogativas inerentes. A criminalização dos movimentos sociais também fazia, obviamente, parte do pacote.
Foram juridicamente aberrantes as duas primeiras votações, em que o STF, por 5x4, derrubou uma decisão legítima do ministro da Justiça e autorizou a extradição de um condenado por delitos políticos, ao arrepio das leis e tradições brasileiras.
Como na nossa ditadura militar, delitos políticos foram falciosamente metamorfoseados em crimes comuns – a despeito da sentença italiana, dezenas de vezes, imputar a Battisti a subversão contra o Estado italiano e enquadrá-lo numa lei instituída exatamente para combater tal subversão!
A blitzkrieg direitista foi detida na terceira votação, quando Peluso e Mendes tentavam automatizar a extradição, cassando também uma prerrogativa do presidente da República, condutor das relações internacionais do Brasil.
Contra este acinte à Constituição insurgiu-se um ministro legalista, Carlos Ayres Britto. Também por 5x4, ficou definido que a decisão final continuava sendo do presidente da República, como sempre foi.
Sabendo que Luiz Inácio Lula da Silva não cederia às afrontosas pressões italianas, o premiê Silvio Berlusconi já se conformava com a derrota em fevereiro de 2010, pedindo apenas que a pílula fosse dourada para não o deixar muito mal com o eleitorado do seu país.
Mesmo assim, quando Lula encerrou de vez o caso, Peluso apostou numa nova tentativa de virada de mesa. Ao invés de libertar Battisti no próprio dia 31 de dezembro de 2010, que era o que lhe restava fazer segundo o ministro Marco Aurélio de Mello e o grande jurista Dalmo de Abreu Dallari, manteve-o, ainda, sequestrado.
E o sequestro, desta vez, saltou aos olhos e clamou aos céus. Só não viu quem não quis.
O próprio STF acabou decidindo, por dois terços dos votos (só Ellen Gracie embarcou na canoa furada de Peluso e Mendes), que não havia mais motivo nenhum para o processo prosseguir nem para Battisti ser mantido preso.
Agora, com sua situação de imigrante legal regularizada, Battisti finalmente encontrará a paz que veio buscar entre nós, acreditando que fôssemos todos brasileiros cordiais. Para sorte dele e em benefício da imagem do país junto a quem não usa antolhos, alguns ainda somos...
Fonte: Blog Náufragos da Utopia
Em 2004, contudo, a Itália o escolheu como alvo de uma cruzada vingativa, aproveitando a histeria que grassava nos países do Primeiro Mundo desde o atentado ao WTC, insuflada ad nauseam pela indústria cultural.
Para os estadunidenses, foi uma chance de, sob falsos pretextos, invadirem países soberanos e submetê-los à sua vontade. Os italianos, mais modestos, contentaram-se em desencadear uma perseguição tão espetaculosa quanto inútil, impingindo a lorota de que um personagem secundário dos anos de chumbo seria terrível terrorista – tal qual, séculos atrás, queimavam mulheres fogosas como bruxas e judeus como infiéis.
Depois da bilionária campanha para fazer com que a França desonrasse o compromisso solene que assumira com os perseguidos políticos italianos, os linchadores peninsulares se transferiram com armas e bagagens para o Brasil, onde, ao lado dos quinta-colunas tupiniquins que lhes serviram de escudeiros, acabam de sofrer uma acachapante derrota.
A qual, vale repetir, é definitiva: as escaramuças legais anunciadas pela Itália não têm a mais ínfima possibilidade de alterarem o resultado do jogo após o apito final do árbitro. Servem apenas para alimentar, entre os direitistas e os videotas de lá, uma ilusão que talvez ajude a salvar o premiê Silvio Berlusconi da degola. Espero que não.
Tradição de família
Neto, filho e irmão mais novo de comunistas, engajou-se naturalmente na Juventude do PCI e, aos 13 anos, já participava dos protestos estudantis que marcaram o 1968 europeu.
Depois, no cenário radicalizado do pós-1968, o ardor da idade, também naturalmente, o foi conduzindo cada vez mais para a esquerda: do PCI à Lotta Continua, desta à Autonomia Operária, até desembocar no Proletários Armados para o Comunismo, pequena organização regional com cerca de 60 integrantes.
Participou de assaltos para sustentar o movimento – as expropriações de capitalistas – e não nega. Mas, assustado com a escalada de violência desatinada – cujo ápice foi a execução do sequestrado premiê Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas – desligou-se em 1978, logo após o primeiro assassinato reivindicado por um núcleo dos PAC, do qual só tomou conhecimento a posteriori, recebendo-o com indignação.
Já era um mero foragido sem partido quando os PAC vitimaram outras três pessoas, no ano seguinte.
Detido, foi condenado em 1981 pelo que realmente fez (participação em grupo armado, assalto e receptação de armas), mas a uma pena rigorosa demais (12 anos), característica dos anos de chumbo na Itália, quando se admitia até a permanência de um suspeito em prisão preventiva por mais de dez anos.
Resgatado em outubro de 1981, por uma operação comandada pelo líder dos PAC, Pietro Mutti, abandonou a Itália, a luta armada e a própria participação política, ocultando-se na França, depois no México, onde iniciou sua carreira literária.
Aceitando a oferta do presidente François Mitterrand – abrigo permanente para os perseguidos políticos italianos que se comprometessem a não desenvolver atividades revolucionárias em solo francês –, levava existência pacata e laboriosa há 14 anos, quando, em 2004, a Itália o escolheu como alvo.
Tinha sido figura obscura e irrelevante nos anos de chumbo, quando cerca de 600 grupos e grupúsculos de ultraesquerda se constituíram na Itália. O fenômeno ganhou maiores proporções porque muitos militantes sinceros de esquerda foram levados ao desespero pela traição histórica do PCI, que tornou a revolução inviável num horizonte visível ao mancomunar-se com a reacionária, corrupta e mafiosa Democracia Cristã.
Destes 600, um terço esteve envolvido em ações armadas.
Por quê eu?
Nem os PAC tinham posição de destaque na ultraesquerda, nem Battisti era personagem destacado dos PAC. Foi apenas a válvula de escape de que o delator premiado Pietro Mutti e outros arrependidos, em depoimentos escandalosamente orquestrados, serviram-se para obter reduções de pena: estava a salvo no exterior, então poderiam descarregar sobre ele, sem dano, as próprias culpas.
Num tribunal que só faltou ser presidido por Tomás de Torquemada, Battisti acabou sendo novamente julgado na Itália e condenado à prisão perpétua em 1987.
A sentença se lastreou unicamente no depoimento desses prisioneiros que aspiravam a obter favores da Justiça italiana – cujas grotescas mentiras se evidenciaram, p. ex., na atribuição da autoria direta de dois homicídios quase simultâneos a Battisti, tendo a acusação de ser reescrita quando se percebeu a impossibilidade material de ele estar de corpo presente em ambas as cidades.
Depois, provou-se de forma cabal que Battisti não só fora representado por advogados hostis (pois defendiam os arrependidos cujos interesses conflitavam com os dele), como também falsários (pois forjaram as procurações que os davam como seus patronos).
Battisti escapara das garras da Justiça italiana, então valia tudo contra ele. Mas, ainda, como vilão menor.
Passou a ser encarado como um vilão maior quando alcançou o sucesso literário. Tinha muito a revelar sobre o macartismo à italiana dos anos de chumbo, tantas vezes denunciado pela Anistia Internacional e outros defensores dos direitos humanos.
Foi aí, em 2004, que a Itália direcionou suas baterias contra Battisti, investindo pesado em persuasões e pressões para que a França esquecesse a palavra empenhada por um presidente de verdade, François Mitterrand.
Ao mesmo tempo que concedia a extradição antes negada, a França, por meio do seu serviço secreto, facilitou a evasão de Battisti. A habitual duplicidade francesa.
Vítima de dois sequestros no Brasil
E o pesadelo se transferiu para o Brasil, onde o escritor teve a infelicidade de encontrar, no STF, dois inquisidores dispostos a tudo para entregarem o troféu a Silvio Berlusconi.
Preso em março de 2007, seu caso deveria ter sido encerrado em janeiro de 2009, quando o então ministro da Justiça Tarso Genro lhe concedeu refúgio.
Mas, ao contrário do que estabelecia a Lei do Refúgio, bem como a jurisprudência consolidada em episódios anteriores, o relator Cezar Peluso manteve Battisti sequestrado, na esperança de convencer o STF a revogar (na prática) a Lei e jogar no lixo a jurisprudência.
Apostando numa hipótese coerente com suas convicções pessoais (conservadoras, medievalistas e reacionárias), Peluso manteve encarcerado quem deveria libertar.
Ele e o então presidente Gilmar Mendes atraíram mais três ministros para sua aventura que, em última análise, visava erigir o Supremo em alternativa ao Poder Executivo, esvaziando-o ao assumir suas prerrogativas inerentes. A criminalização dos movimentos sociais também fazia, obviamente, parte do pacote.
Foram juridicamente aberrantes as duas primeiras votações, em que o STF, por 5x4, derrubou uma decisão legítima do ministro da Justiça e autorizou a extradição de um condenado por delitos políticos, ao arrepio das leis e tradições brasileiras.
Como na nossa ditadura militar, delitos políticos foram falciosamente metamorfoseados em crimes comuns – a despeito da sentença italiana, dezenas de vezes, imputar a Battisti a subversão contra o Estado italiano e enquadrá-lo numa lei instituída exatamente para combater tal subversão!
A blitzkrieg direitista foi detida na terceira votação, quando Peluso e Mendes tentavam automatizar a extradição, cassando também uma prerrogativa do presidente da República, condutor das relações internacionais do Brasil.
Contra este acinte à Constituição insurgiu-se um ministro legalista, Carlos Ayres Britto. Também por 5x4, ficou definido que a decisão final continuava sendo do presidente da República, como sempre foi.
Sabendo que Luiz Inácio Lula da Silva não cederia às afrontosas pressões italianas, o premiê Silvio Berlusconi já se conformava com a derrota em fevereiro de 2010, pedindo apenas que a pílula fosse dourada para não o deixar muito mal com o eleitorado do seu país.
Mesmo assim, quando Lula encerrou de vez o caso, Peluso apostou numa nova tentativa de virada de mesa. Ao invés de libertar Battisti no próprio dia 31 de dezembro de 2010, que era o que lhe restava fazer segundo o ministro Marco Aurélio de Mello e o grande jurista Dalmo de Abreu Dallari, manteve-o, ainda, sequestrado.
E o sequestro, desta vez, saltou aos olhos e clamou aos céus. Só não viu quem não quis.
O próprio STF acabou decidindo, por dois terços dos votos (só Ellen Gracie embarcou na canoa furada de Peluso e Mendes), que não havia mais motivo nenhum para o processo prosseguir nem para Battisti ser mantido preso.
Agora, com sua situação de imigrante legal regularizada, Battisti finalmente encontrará a paz que veio buscar entre nós, acreditando que fôssemos todos brasileiros cordiais. Para sorte dele e em benefício da imagem do país junto a quem não usa antolhos, alguns ainda somos...
Fonte: Blog Náufragos da Utopia
Marcadores:
Direitos Humanos,
politica internacional,
solidariedade
terça-feira, 21 de junho de 2011
Lançada em São Paulo campanha pelo Estado da Palestina já
Entidades do movimento social brasileiro, associações da comunidade árabe e palestina no Brasil e partidos de esquerda, realizaram na noite da última segunda-feira (20) em São Paulo, na sede nacional do PCdoB, uma reunião em que lançaram a campanha “Pela Criação do Estado da Palestina Já!” Como convidado de honra participou do encontro o embaixador da Autoridade Nacional Palestina no Brasil, Ibrahim al-Zeben.
As organizações presentes eram
PCdoB, PT, MST, CUT, CTB, UJS, Cebrapaz, Comissão Pastoral da Terra,
Fearab, Fepal, Portal Arabesq, Portal Vermelho, Sociedade Palestina de
São Paulo, Sociedade Palestina de Uruguaiana, Comunidade Maronita
Libanesa El Marada e Partido Comunista Libanês. O deputado estadual
Adriano Diogo (PT-SP) também compareceu à sede do PCdoB para levar apoio
à causa palestina.
As entidades organizarão no mês de novembro uma convenção nacional de solidariedade com a Palestina, cuja preparação envolverá uma série de ações, entre elas um seminário de aprofundamento e estudo no mês de julho.
Para o embaixador Ibrahim al-Zeben, “as organizações do movimento social brasileiro e os partidos presentes mais uma vez abrem os olhos da militância para os problemas da Palestina, mais uma vez os nossos amigos do Brasil dão a cara e brindam suas mãos e seu coração em apoio à Palestina”.
Ele explicou por que agora a questão palestina emerge com tanta força, a ponto de ser submetida às Nações Unidas: “Estamos melhor que antes, com a perspectiva de restaurar a unidade nacional e transformar a OLP”. Segundo sua análise, a “Primavera Árabe” abriu as portas e ajudou o Fatah e o Hamas a se darem conta da situação e reconstruíssem a unidade nacional. O representante da ANP no Brasil lembrou Yasser Arafat que dizia que o povo é mais avançado que as lideranças. “As massas disseram ‘chega´ de divisão e pediram a unidade nacional para já”, pontuou AL-Zeben, que defendeu também a necessidade de criar em breve um governo representativo de todos os palestinos".
O embaixador não poupou críticas ao governo israelense, “cada vez mais intransigente e negativo em relação aos direitos dos palestinos”. Ele fez o balanço de 15 anos de negociações, chegando à conclusão de que “os palestinos tudo fizeram, mas houve uma constante negativa por parte do governo de Israel”. O embaixador destacou ainda o papel positivo da diplomacia brasileira.
Ibrahim al-Zeben anunciou que a ANP vai tomar posições importantes nas próximas semanas: “Vamos solicitar assento como membro pleno da ONU. A solicitação vai ser feita pela Liga Árabe”. Sabendo que será uma luta difícil e complexa para fazer valer a decisão palestina nas instâncias da ONU, AL-Zeben disse que mais do que nunca seu povo necessitará do apoio da comunidade internacional. “Acreditamos no apoio do Brasil e consideramos que este precisa do apoio do movimento popular”.
A reunião foi unânime no apoio à reivindicação de criar o Estado da Palestina já.
Da redação do VERMELHO
As entidades organizarão no mês de novembro uma convenção nacional de solidariedade com a Palestina, cuja preparação envolverá uma série de ações, entre elas um seminário de aprofundamento e estudo no mês de julho.
Para o embaixador Ibrahim al-Zeben, “as organizações do movimento social brasileiro e os partidos presentes mais uma vez abrem os olhos da militância para os problemas da Palestina, mais uma vez os nossos amigos do Brasil dão a cara e brindam suas mãos e seu coração em apoio à Palestina”.
Ele explicou por que agora a questão palestina emerge com tanta força, a ponto de ser submetida às Nações Unidas: “Estamos melhor que antes, com a perspectiva de restaurar a unidade nacional e transformar a OLP”. Segundo sua análise, a “Primavera Árabe” abriu as portas e ajudou o Fatah e o Hamas a se darem conta da situação e reconstruíssem a unidade nacional. O representante da ANP no Brasil lembrou Yasser Arafat que dizia que o povo é mais avançado que as lideranças. “As massas disseram ‘chega´ de divisão e pediram a unidade nacional para já”, pontuou AL-Zeben, que defendeu também a necessidade de criar em breve um governo representativo de todos os palestinos".
O embaixador não poupou críticas ao governo israelense, “cada vez mais intransigente e negativo em relação aos direitos dos palestinos”. Ele fez o balanço de 15 anos de negociações, chegando à conclusão de que “os palestinos tudo fizeram, mas houve uma constante negativa por parte do governo de Israel”. O embaixador destacou ainda o papel positivo da diplomacia brasileira.
Ibrahim al-Zeben anunciou que a ANP vai tomar posições importantes nas próximas semanas: “Vamos solicitar assento como membro pleno da ONU. A solicitação vai ser feita pela Liga Árabe”. Sabendo que será uma luta difícil e complexa para fazer valer a decisão palestina nas instâncias da ONU, AL-Zeben disse que mais do que nunca seu povo necessitará do apoio da comunidade internacional. “Acreditamos no apoio do Brasil e consideramos que este precisa do apoio do movimento popular”.
A reunião foi unânime no apoio à reivindicação de criar o Estado da Palestina já.
Da redação do VERMELHO
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oriente medio,
palestina,
sionismo,
solidariedade
Maria do Rosário: Compromisso com a história, com a memória e com a verdade
Maria do Rosário - Sul21
Quero inaugurar esse espaço agradecendo imensamente ao Sul21
pelo convite para fazer parte do time de colunistas desse jovem e tão
vitorioso canal de comunicação, que democratiza a informação no nosso
Rio Grande do Sul e no mundo todo, uma vez que a internet rompeu todas
as barreiras físicas. É uma honra poder relatar o nosso trabalho para os
leitores e leitoras.
Desde que assumiu a Presidência da República do nosso país, a
presidenta Dilma Rousseff tem sido muito enfática na defesa
inquestionável dos Direitos Humanos. Com muita determinação, ela
posicionou o governo pela coerência nessa questão. Isso significa que só
vamos defender lá fora, no cenário internacional, o que executamos aqui
no Brasil, com o nosso povo. E não são poucos os desafios. Na
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República temos a
responsabilidade por políticas de proteção e defesa dos direitos das
crianças e adolescentes, das pessoas com deficiência, dos idosos, da
população em situação de rua, pela afirmação da livre orientação sexual,
de liberdade religiosa, contra a tortura e o trabalho escravo, enfim,
com uma série de segmentos, sempre enfrentando as discriminações e
preconceitos. O nosso grande desafio é que todas as pessoas se percebam
como detentoras de direitos e que possam contar com o Estado para
garanti-los.
Mas há um tema especial que nos é muito valioso. A semente da
democracia sempre esteve presente nos corações dos brasileiros, mesmo
nos momentos mais difíceis. Para o Brasil não existe hierarquia entre os
direitos econômicos, sociais e culturais e os direitos civis e
políticos. Todo ser humano tem direito à alimentação, ao emprego, à
moradia digna e a paz social. Da mesma forma, todo ser humano tem o
direito à liberdade de opinião, de expressão e de escolher seus
governantes.
Foi na luta pelo exercício dessas liberdades que o povo brasileiro
superou a um regime autoritário e reconquistou a democracia. Essa luta
se deu com o sofrimento de milhares e com a vida de muitos, aos quais
sempre devemos nossa homenagem e reconhecimento.
O direito à memória e à verdade é aspecto integrante dos Direitos
Humanos, e instrumento fundamental para o fortalecimento da nossa
democracia. O resgate da história do nosso país no período da Ditadura
Militar (1964-1985) merece toda a prioridade e é nesse sentido que
estamos atuando.
O governo publicou essa semana a sentença do Brasil no caso da
Guerrilha do Araguaia, episódio que marcou a história política
brasileira e uma geração de homens e mulheres que nos antecederam e
lutaram pela democracia. Ao publicarmos essa sentença, decidida pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos, reafirmamos o compromisso com a
continuidade das buscas para identificar e entregar os restos mortais
dos desaparecidos políticos aos seus familiares. Precisamos elucidar os
fatos ocorridos durante a Ditadura Militar em respeito à nossa história,
mas sobretudo em reconhecimento aos familiares daqueles que foram
mortos ou estão desaparecidos, e aos que viveram aquele período e
empenharam suas vidas generosamente porque acreditavam na liberdade e na
democracia. As famílias não realizaram até hoje o ritual de despedida
e, por isso, não exerceram o direito milenar de velar seus entes
queridos, uma forma encontrada pela humanidade para absorver a perda
junto aqueles que se solidarizam com a nossa dor.
Por isso mesmo devemos dar seguimento ao processo de reconhecimento
da responsabilidade do Estado por graves violações de Direitos Humanos,
com vistas à sua não repetição, de forma a caracterizar uma consistente
virada de página sobre esse momento da história do país. E esse
reconhecimento se dará com uma oportunidade única que temos de
reconciliação da nossa história, com a aprovação da Comissão da Verdade.
Isso significa mais do que demonstrar a necessidade de assegurar o
direito à memória e reparar, mas a real possibilidade de dar as futuras
gerações a responsabilidade de prevenir que períodos de exceção e
práticas ocorridas nesses anos nunca mais se repetirão.
É nesse sentido que estamos trabalhando, com uma firme determinação
de que precisamos agir para garantir a efetividade dos direitos para
todas as pessoas, enfrentando as violações e resgatando as lacunas
incompletas da nossa história. O desafio é muito grande, mas muito
motivador. Como disse Norberto Bobbio, (…) “Poder-se-iam multiplicar os
exemplos de contraste entre as declarações solenes e sua consecução,
entre a grandiosidade das promessas e a miséria das realizações. Já que
interpretei a amplitude que assumiu atualmente os debates sobre os
direitos do homem como um sinal do progresso moral da humanidade, não
será inoportuno repetir que esse crescimento moral não se mensura pelas
palavras, mas pelos fatos.”
* Pedagoga, mestre em educação, deputada federal e ministra de Estado
Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
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