terça-feira, 19 de junho de 2007

Revés em Gaza para a doutrina Bush
Ali Abunimah [*]

Tomada dos serviços de segurança palestinos em Gaza. A dramática derrota em Gaza das milícias apoiadas pelos EUA e por Israel, infligida pela forças leais ao Hamas, representa um enorme revés para a doutrina Bush na Palestina.

Antecedentes

Desde que o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas nos territórios ocupados, em Janeiro de 2006, elementos da liderança do movimento Fatah, há muito dominante, incluindo o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas e seus conselheiros, conspiraram com Israel, os Estados Unidos e os serviços de inteligência de vários Estados árabes para derrubar e enfraquecer o Hamas. Este apoio incluiu canalizar armas e dezenas de milhões de dólares para incontáveis milícias, particularmente a "Força de Segurança Preventiva" encabeçada em Gaza pelo senhor da guerra Mohammad Dahlan , um aliado próximo de Israel e dos Estados Unidos e pertencente à "Guarda Presidencial" de Abbas. O vice-conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Elliott Abrams — o mesmo que ajudou a desviar dinheiro para os Contras da Nicarágua na década de 1980 e que foi condenado por mentir ao Congresso no escândalo Irão-Contra — liderou o esforço para montar estes Contras palestinos. (Este antecedente foi extensamente pormenorizado em numerosos artigos publicado nos últimos meses por The Electronic Intifada ). Abrams também é conhecido por ter ajudado a encobrir massacres e atrocidades cometidas pelas milícias e esquadrões da morte apoiados pelos EUA em El Salvador.

Duas revelações recentes mostram a extensão da conspiração: em 7 de Junho, o jornal Haaretz relatou que "altos responsáveis do Fatah na Faixa de Gaza pediram a Israel que lhes permitisse receber grandes carregamentos de armas e munições de países árabes, incluindo o Egipto". Segundo aquele jornal israelense, o Fatah pediu a Israel "carros blindados, centenas de rockets RPG para furar blindagens, milhares de granadas de mão e milhares de balas de munições para armas de pequeno calibre", tudo para ser utilizado contra o Hamas.

Desde o momento da sua vitória eleitoral, o Hamas actuou pragmaticamente e com a intenção de integrar-se na estrutura política existente. Ele observou durante mais de um ano um cessar fogo unilateral em relação a Israel e parou com os ataques suicidas a civis israelenses que o haviam tornado notório. Num memorando confidencial escrito em Maio e publicado esta semana por The Guardian, o envio superior das Nações Unidas, Alvaro de Soto, confirmou que foi sob a pressão dos EUA que Abbas recusou ao Hamas o convite inicial para constituir um "governo de unidade nacional". De Soto pormenoriza que os conselheiros de Abbas ajudaram activamente a cortar a ajuda de Israel-EUA-União Europeia e o cerco dos palestinos sob ocupação, o que conduziu a um aumento maciço da pobreza para milhões de pessoas. Estes conselheiros empenharam-se junto aos Estados Unidos numa trama para "provocar a morte prematura do governo [Autoridade Palestina] liderado pelo Hamas", escreveu De Soto.

Apesar de uma sangrenta tentativa de golpe contra o Hamas por parte das forças lideradas por Dahlan, em Dezembro de Janeiro, o Hamas ainda concordou em aderir a um "Governo de Unidade Nacional" com o Fatah promovido pela Arábia Saudita na cimeira de Meca. Os conselheiros de Dahlan e de Abbas estavam determinados a sabotar isto, continuando a acumular armas e recusando-se a colocar as suas milícias sob o controle de um ministro do Interior neutro que, frustrado, acabou por demitir-se.

Um revés para os Estados Unidos e Israel

O núcleo da estratégia americana na Ásia Sudoeste e Central, particularmente no Afeganistão, Iraque, Palestina e Líbano, é estabelecer regimes fantoches que combatam inimigos da América em seu lugar. Esta estratégia parece estar a fracassar por toda a parte. Os Taliban estão a ressurgir no Afeganistão. Apesar do seu "acréscimo" ("surge") de tropas os EUA não estão mais próximos de subjugar a resistência no Iraque e não podem confiar nem mesmo no exército iraquiano que ajudaram a montar. O exército libanês, que os EUA esperavam reforçar como contrapeso ao Hizbollah, actuou fracamente contra umas poucas centenas de combatentes estrangeiros enfiados no campo de refugiados Nahr al-Bared (embora tenha provocado mortes e devastação entre muitos refugiados palestinos inocentes). Agora, em Gaza, deu-se o último fracasso.

A política de Israel é uma versão local da estratégia americana — ela também foi tentada e fracassou. Ao longo de mais de duas década Israel confiou numa milícia sua procuradora, o Exército Libanês do Sul, a fim de ajudá-lo a impor a ocupação no sul do Líbano. Em 2000, quando as forças israelenses retiraram-se precipitadamente, esta milícia entrou em colapso tão rapidamente quanto as forças de Dahlan e muitos dos seus membros fugiram para Israel. O Hamas agora está a referir-se à derrota das forças de Dahlan como uma "segunda libertação de Gaza".

Um elementos persistente da estratégia israelense tem sido tentar circunscrever a resistência palestina através da tentativa de criar lideranças traidoras. Na década de 1970 Israel ainda via a OLP como verdadeira representante da resistência. Assim, montou as "ligas de aldeia" colaboracionistas na Cisjordania como alternativa. Em 1976, permitiu eleições municipais na Cisjordania num esforço para dar alguma legitimidade a esta liderança alternativa. Quando candidatos filiados à OLP varreram o quadro, Israel começou a assassinar os presidentes de municipalidades OLP com carros bombas ou forçá-los ao exílio. Uma vez que alguns líderes exilados da OLP, nomeadamente Yasser Arafat, tornar-se subempreiteiros coniventes com a ocupação (uma acomodação formalizada pelos Acordos de Oslo), emergiu uma nova força de resistência na forma do Hamas. Os esforços israelenses para apoiar Dahlan e Abbas, o sucessor de Arafat, como alternativas de traição agora explodiram espectacularmente.

No rastro do colapso do Fatah em Gaza, o Haaretz relatou que o primeiro-ministro israelenses Ehud Olmert aconselhará o presidente Bush a manter Gaza isolada da Cisjordania. Isto pode ser encarado como uma tentativa de escorar Abbas, cuja sobrevivência Israel considera essencial para manter a ficção de que não domina directamente milhões de palestinos privados de direitos de cidadania. Um colapso total da Autoridade Palestina exporia a obrigação legal de Israel, como poder ocupante, de providenciar o bem estar dos palestinos que subjuga.

E como ficam agora os palestinos sob a ocupação?

Abbas declarou um "estado de emergência" e demitiu Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro do Hamas, assim como o "governo de unidade nacional". O "estado de emergência" é meramente retórico. Todo o controle que ele tinha em Gaza acabou-se e Israel, de qualquer forma, tem o controle completa da Cisjordania.

Haniyeh, num discurso transmitido esta noite ao vivo na Al-Jazeera, rejeitou os "apressados" movimentos de Abbas e alegou que eles resultavam de pressões do exterior. Ele emitiu uma declaração com 16 pontos, dentre eles que o "governo de unidade" representava a vontade de 96 por cento dos palestinos sob ocupação expressa nas urnas eleitorais. Reafirmou o compromisso do seu movimento para com a democracia e o sistema político existente e que o Hamas não imporia mudanças no modo de vida das pessoas. Haniyeh disse que o governo continuaria a funcionar, restauraria a lei e a ordem e reafirmou o compromisso do Hamas para com a unidade nacional e o acordo de Meca. Conclamou todos os membros do Hamas a observarem uma amnistia geral beneficiando quaisquer combatentes da sua segurança capturados (isto seguia-se a relatos dos media de um punhado de execuções sumárias de combatentes do Fatah). Enfatizou também que a luta do Hamas não era com o Fatah como todo, mas apenas contra aqueles elementos que estiveram a colaborar activamente — uma referência clara a Dahlan e outros conselheiros de Abbas. Ele retratou a tomada de controle do Hamas como um último recurso na sequência da escalada de ilegalidades e tentativas de golpe de colaboracionistas, listando muito alegados crimes que acabaram por esgotar a paciência do Hamas. Haniyeh enfatizou a unidade de Gaza e da Cisjordania como "partes inseparáveis da nação palestina" e reiterou um apelo aos sequestradores do correspondente da BBC Alan Johnston a libertarem-no imediatamente.

O contraste entre a acção de Abbas e a resposta do Hamas é gritante. Abbas, empurrado talvez pelo mesmo grupo de conselheiros, parece estar a escalar a confrontação e a fazer isso quando não há razão para acreditar que possa vencer. O Hamas, enquanto se mantém firme e a partir de uma posição de força, fala numa linguagem de conciliação, enfatizando novamente que o Hamas tem um problema apenas com um pequeno grupo dentro do Fatah, não com as suas bases. Abbas, Dahlan e seus apoiantes precisam manter uma atitude sóbria — eles podem ser tentados a dominar o Hamas na Cisjordania, mas a escala da sua derrota em Gaza teria de conte-los.

Ambas as lideranças estão confinadas. Abbas parece estar inteiramente dependente do apoio estrangeiro e israelense, e incapaz de tomar decisões independentes de uma clique corrompida e venal. O Hamas, quaisquer que tenham sido as suas intenções, é provável que se descubra em Gaza sob um cerco ainda mais duro.

Abbas, apoiado por Israel e pelos EUA, apelou a uma força multinacional em Gaza. O Hamas rejeitou-a, dizendo que esta seria considerada como uma "força de ocupação". Na verdade, eles têm razão em estarem suspeitosos: durante décadas Israel e os EUA bloquearam apelos a uma força internacional de protecção para os palestinos. A força multinacional, receia o Hamas, não estaria ali para proteger os palestinos dos seus ocupantes israelenses, mas para desempenhar o papel de procurador (proxy) na protecção dos interesses de Israel que as forças de Dahlan já não são capazes de executar e para conter a resistência — tal como a força multinacional era suposta fazer no Líbano após a guerra de Julho de 2006.

Líderes sábios em Israel e nos Estados Unidos reconheceriam que o Hamas não é um fenómeno passageiro, e que nunca poderão criar líderes fantoches que sejam capazes de competir contra um movimento de resistência popular. Mas não há sinais de sabedoria: os EUA pediram agora a Israel para "afrouxarem o seu domínio" na Cisjordania a fim de dar uma ajuda a Abbas. Embora a doutrina Bush tenha sofrido um golpe, o povo palestino não ganhou uma grande vitória. O jogo sórdido às suas custas continua.

[*] Cofundador da publicação online The Electronic Intifada e autor de One Country: A Bold Proposal to End the Israeli-Palestinian Impasse .

O original encontra-se em http://electronicintifada.net/v2/article7030.shtml

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Os três grupos poluidores



Danilo Pretti Di Giorgi

As recentes propostas e declarações dos mais importantes líderes políticos mundiais sobre possíveis soluções para o aquecimento global têm mostrado que ainda há um longo caminho a ser trilhado para encontrarmos uma saída para o dilema. Como o assunto dominou as expectativas em torno das reuniões do G8 e do G5, realizadas na Alemanha no começo de junho, foi possível levantar dados para uma análise mais aprofundada com base nas declarações publicadas na mídia. Os maiores poluidores (os países que efetivamente têm poder para influenciar os rumos desta história) estão, grosso modo, divididos em três grandes grupos.

O primeiro, formado principalmente pelos paises da União Européia, aparece à primeira vista como o mais consciente no que diz respeito ao futuro das condições de vida no planeta. Participaram ativamente da idealização do Protocolo de Kyoto e todos assinaram o documento. Mas pouca gente comenta que nenhum está caminhando para cumprir as metas por eles mesmos estabelecidas de redução de 8% nas emissões até 2012 (que, não custa lembrar, estão muito abaixo do necessário). À exceção de Inglaterra, França e Alemanha, que registraram modestas reduções desde 2000, a maior parte dos países do continente apresentou aceleração desde o começo do século.

É importante ressaltar, ao falar de Europa, que estamos nos referindo a países com pouco espaço para expansão econômica ou para aproveitamento territorial, com baixo crescimento demográfico ou em alguns casos negativo. Nações onde é mais simples administrar a redução da emissão de CO² do que em outras com amplas áreas livres e inexploradas, que registram crescimento populacional mais pronunciado, como Estados Unidos, Brasil e China, apenas citando alguns exemplos.

O segundo grupo, liderado pelos EUA, ao lado principalmente do Japão e da Austrália, coloca a imposição de metas aos países ditos “em desenvolvimento” como pré-requisito para assumir algum compromisso.

O terceiro grupo (o nosso), composto pelas tais “nações emergentes”, que tem à frente Brasil, Índia e China, tenta esquivar-se das metas afirmando serem os países ricos os grandes responsáveis históricos pela concentração de CO² na atmosfera. Segundo o raciocínio dominante neste grupo, os desenvolvidos teriam enriquecido exatamente poluindo o mundo e agora estariam tentando lhes tirar este “direito”.

O resultado é que o produto das discussões referentes ao clima nos encontros de lideres mundiais na Alemanha foi nulo. Mas vejamos as propostas e declarações.

A chanceler alemã, Angela Merkel, do primeiro grupo, sugeriu a redução de 50% nas emissões até 2050, mas sem um mecanismo que incluísse compromissos obrigatórios para grandes cortes nas emissões.

Liderando o segundo grupo, Bush sugeriu “diversas reuniões internacionais” entre os 15 maiores poluidores, para estabelecer metas de redução de emissões. Detalhe: as metas seriam para quando o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012! E, segundo sua sugestão, cada país definiria sua própria meta de redução. Assim como no caso da alemã, uma proposta imprecisa e sem efeito prático.

Hu Jintao, presidente da China, país que vem apresentando índices de destruição por segundo jamais sonhados, afirmou que cabe aos países ricos “tomar a iniciativa”, pois “para os países em desenvolvimento, obter crescimento econômico e melhorar a vida de suas populações são as principais prioridades". Lula foi na mesma linha: “os países em desenvolvimento têm o direito de crescer como os ricos cresceram e ter a mesma qualidade de vida que eles conquistaram”. Além disso, Lula, de olho nos dólares americanos, está jogando todas as fichas no etanol, uma falácia no que diz respeito a efeitos de redução no aquecimento global.

Lula me fez sentir vergonha de ser brasileiro no ano passado ao negar-se publicamente a assumir qualquer tipo de meta para redução nos desmatamentos da Amazônia. Parar o desmatamento é uma obrigação do Brasil, independente de pressões internacionais, até porque não me parece muito inteligente ver a destruição da floresta tropical como caminho para o aumento do PIB nacional.

Quando nosso presidente coloca-se contra imposições internacionais deste tipo, demonstra sede por divisas a qualquer custo, mesmo que seja com a destruição da floresta. Nunca é demais lembrar que 75% das emissões brasileiras têm origem em queimadas e desmatamento. Reduzir estas emissões a zero pode significar ao mesmo tempo nossa contribuição efetiva para as necessárias reduções globais e um colchão de gordura para permitir o tão propalado desenvolvimento, mas em bases limpas.

É animador o avanço nas discussões sobre a questão climática em todo o mundo, fato que se reflete na mudança no discurso de líderes como George Bush, para quem até pouco tempo atrás o problema parecia simplesmente não existir. Mas não é difícil perceber que a consciência sobre a gravidade da situação, inclusive de seus impactos futuros sobre a economia, ainda não chegou ao nível necessário para que as mudanças de comportamento em todas as esferas da sociedade saiam das palavras para a prática. As discussões no sentido das atitudes a serem tomadas para a efetiva redução das emissões ainda são embrionárias. Definir metas é importante, mas o essencial é definir os passos que deverão ser dados pela humanidade para que as metas sejam atingidas, o que ainda não começou a acontecer.

Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.

Email: digiorgi@gmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

"Há múltiplos modelos para a esquerda"

Em entrevista ao jornal argentino Página 12, o sociólogo e vice-presidente da Bolívia, Alvaro García Linera fala da experiência do governo Evo Morales. Segundo ele, o que a Bolívia está atravessando hoje é um processo de ampla luta e redistribuição do poder
Redação - Carta Maior
A nova realidade de um país onde as velhas elites passaram a compartilhar o poder com os indígenas, e as complexas relações entre Estado e movimentos sociais são temas de uma entrevista que o sociólogo e vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, concedeu ao jornal argentino Página 12 (11/06/2007). Na entrevista, Linera defende que há múltiplos modelos para a esquerda e explica assim o que está acontecendo em seu país: “o que a Bolívia está atravessando hoje é, essencialmente, um processo de ampla e generalizada luta e redistribuição do poder (...) Apostamos num processo de redistribuição pactuado do poder com um novo núcleo articulador: o movimento indígena”. Indagado sobre o papel do Estado nesse processo dirigido pelos movimentos sociais, Linera responde que é garantir a sustentabilidade do mesmo, através do controle dos recursos naturais.Ele fala de um governo dos movimentos sociais e da tensão inerente a essa forma de governo: “Nós falamos sempre de um governo dos movimentos sociais. Parece uma contradição. Todo Estado é, por definição, um monopólio, ao passo que um movimento social é, por definição, uma democratização e uma socialização. Como vai haver, então, um Estado dos movimentos sociais? É uma tensão evidente, mas é o que acontece na Bolívia hoje”. Para Linera, essa tensão é inevitável e saudável: “Tem que ser assim e não é, como pensam alguns, um defeito, mas uma virtude. A esta coexistência de forças capitalistas e pós-capitalistas na estrutura econômica corresponde uma tensão, dentro do Estado, entre um Estado de direito moderno com monopólio de coerção legítima e da violência simbólica legítima, como dizia (Pierre) Bourdieu, com uma instância de socialização das decisões através dos movimentos sociais”.Uma contradição virtuosaA natureza e as implicações dessa tensão, segundo ele, vão muito além do debate de (Toni) Negri e (John) Holloway, que falam de um momento de resistência dos movimentos sociais, mas não de governo. “Tem que se manter assim viva. É uma contradição. São processos que têm que avançar juntos. Corresponde aos movimentos sociais dirigir isso, mas cabe ao Estado, através da propriedade dos recursos naturais, garantir a base de sustentabilidade desse processo. Isso se faz ampliando a base moderna de nossa economia em tempos de globalização, impulsionando processos de modernização - e não, como antes, de exclusão – da economia familiar e urbana e garantindo a transferência do excedente econômico para o setor artesanal e para o setor micro-empresarial. O Estado tem um papel de potencializador desses núcleos mediante a apropriação do excedente econômico e sua transferência”.O papel que os movimentos sociais desempenham na experiência boliviana está alicerçado em um ciclo histórico de mobilizações, assinala o vice-presidente. Essas mobilizações acabaram por definir as grandes linhas de ação do governo Evo Morales em temas como hidrocarbonetos, água, terra e Assembléia Constituinte. “O programa não foi inventado por cinco pessoas que se sentaram ao redor de uma mesa, mas foi construído pelos movimentos sociais no grande ciclo de mobilizações 2000-2005. Nos tomamos isso e o levamos ao governo. O partido se apropriou dessas grandes linhas, não as impôs”. A idéia de um governo dos movimentos sociais, prossegue Linera, é comprovada quando se entende o que é o MAS (Movimento ao Socialismo): “no fundo é uma coalizão, flexível e negociada, de movimentos sociais. O MAS não tem uma estrutura partidária, o que não necessariamente é bom”. Três desfechos possíveisE é essa relação estreita entre partido e movimentos sociais, defende o sociólogo, que dá vigor e legitimidade a propostas como a modificação da Lei INRA (Instituto Nacional de Reforma Agrária) sobre a propriedade da terra. “Segundo os opositores, seria o cenário de uma guerra civil. Ela se fez através da ação dos movimentos sociais. Aconteceram assembléias, se acordou uma proposta que foi levada ao parlamento. O governo, através dos ministérios e dos blocos parlamentares, atuou subordinado à proposta dos movimentos sociais”. Outro exemplo citado por Linera é o da Assembléia Constituinte, proposta elaborada da mesma forma: um processo de mobilização prévio que implica deliberação e gera um respaldo. “Desde que chegamos ao governo definimos uma estratégia de distribuição pactuada do poder. O que a Bolívia está atravessando hoje é, essencialmente, um processo de luta e redistribuição do poder”.O desfecho desse processo de mobilizações, historicamente, pode ter três desfechos observa ainda o sociólogo: “Que o setor emergente desloque diretamente, mediante qualquer meio possível, o bloco anterior. Que este bloco de poder antigo consiga derrotar, reprimir, cooptar ou esmagar o bloco emergente. Ou que se consiga redistribuir o poder entre ambos. Como governo, optamos pela terceira opção. Apostamos num processo de redistribuição pactuado do poder com um novo núcleo articulador: o movimento indígena”. Mas, segundo ele, essa opção não equivale a uma escolha por uma via reformista: “Nosso objetivo é pactuá-lo. Temos dado passos importantes neste sentido e estamos dispostos a dar outros. Acontece que é preciso ver com uma certa distância o que está ocorrendo na Bolívia: uma ampliação das elites, uma ampliação dos direitos e uma redistribuição da riqueza. Isso, na Bolívia, é uma revolução.”Está em curso um projeto pós-capitalista?De fato, não se trata de uma mudança menor. Os setores que governaram a Bolívia por décadas foram obrigadas a compartilhar o poder com os índios. “Nunca mais vão poder tomar decisões sem consultá-los. Se conseguirem entender isso, não haverá complicações. Estão muito acostumados a mandar sozinhos, por tradição, por herança, por hábito, por costume e por formação. Os indígenas sempre eram os que serviam a mesa cozinhavam, cuidavam das crianças, eram pedreiros. Que agora sejam presidentes, ministros ou chanceleres obviamente é um golpe duro a esta lógica. Mas é a lógica da igualdade e da democracia. No fundo, estamos diante de um amplo processo de igualitarização social e democratização das decisões. Há setores que entendem e aceitam isso”, diz Linera. Mas, além da resistência das velhas elites bolivianas, ele identifica problemas também no campo da esquerda.“A bem da verdade, há um setor do nosso bloco que acredita que, agora que chegou o momento, é preciso monopolizar tudo. É um grande erro, porque muitas vezes gera maiores condicionamentos. Mas creio que gradualmente, por aproximações sucessivas, vamos construindo um processo no qual o bloco deslocado do controle absoluto e o bloco emergente, mas que também não vai ter o controle absoluto, articulam mecanismos para redistribuir o poder”. O poder central, esclarece, não é tanto a distribuição do poder, mas a aceitação de um novo núcleo articulador, que é o movimento indígena. Indagado sobre se o MAS lidera um projeto pós-capitalista, Linera diz que a Bolívia tem espaço e potencial para o desenvolvimento de relações de produção capitalistas. A diferença em relação ao passado, esclarece, é que, “agora buscamos mudar certas características”. Ele explica:“No topo já não estão mais os investimentos estrangeiros, mas o Estado produtivo. Já não se trata de um capitalismo endogâmico e especulativo, como o que se construiu nos anos 1970, mas um capitalismo produtivo, que reconhece uma diversidade de atores econômicos com capacidade de acumulação: o setor empresarial tradicional, evidentemente, mas também outros setores, como o empresarial não tradicional, que emerge do mundo popular indígena e que conseguiu construir, por cima do Estado, por fora e às vezes contra o Estado, mecanismos de acumulação muito interessantes, ainda que obviamente dentro da informalidade. Este setor, mesmo que esteja menos reconhecido, pode ser muito mais eficiente, em termos estritamente econômicos, que aquele que cresceu a partir do Estado”. Linera identifica, por outro lado, um outro tipo de potencial:“Há outro potencial não capitalista, ou pós-capitalista, dentro da estrutura social e econômica boliviana, que são as forças comunitárias tradicionais. Então, nossa estrutura social tem, por um lado, um potencial de desenvolvimento de um capitalismo produtivo mais diverso que o que havia até agora, mas também um potencial presente nas comunidades não capitalistas. Encontram-se fragmentadas, golpeadas e dispersas, resultado dos anos de colônia e república, mas têm em seu interior a potencialidade pós-capitalista. É uma estrutura muito ampla: 90% da economia camponesa é de tipo familiar-comunitário”. Esse potencial não capitalista, conclui, pode ser economicamente relevante porque não é meramente tradicional ou de auto-sustentação. “Nosso grande desafio como governo é potencializar essas estruturas pós-capitalistas, converter a comunidade numa força pós-capitalista”.

domingo, 17 de junho de 2007

Assembléia de SP engaveta decisões contra governo desde 99

A morosidade dos deputados na apreciação dos pareceres é mais um exemplo da baixa produtividade do Legislativo paulista e destoa do ritmo de gastos da Casa

Silvia Amorim, do Estadão

SÃO PAULO - Exatos 1.432 pareceres do Tribunal de Contas do Estado (TCE) que condenaram contratos ou licitações do governo paulista estão parados há anos na Assembléia Legislativa de São Paulo à espera de votação. Os deputados são obrigados, por lei, a apreciar cada um desses processos e, em casos de irregularidades, encaminhá-los para investigação do Ministério Público Estadual. Nos últimos oito anos, entretanto, o maior Legislativo do País tem engavetado pareceres que chegam do seu órgão auxiliar, o TCE. Desde 1999, não foi submetido à votação um único projeto de decreto legislativo (PDL) - como são chamados quando entram na Casa.
A morosidade dos deputados na apreciação dos pareceres é mais um exemplo da baixa produtividade do Legislativo paulista e destoa do ritmo de gastos da Casa. O jornal O Estado de S. Paulo revelou no início deste mês que, somente em abril, os 94 parlamentares paulistas pediram R$ 1,019 milhão de reembolso à Assembléia por diversos tipos de despesas, como combustível para os veículos oficiais, hospedagem, alimentação, entre outros. Só de gasolina, foi gasto naquele mês R$ 131 mil, dinheiro suficiente para dar 13 voltas ao redor da Terra ou percorrer 576 vezes a distância de 1.121 quilômetros entre as cidades de Rosana e Bananal, extremos oeste e leste do Estado.
O engavetamento dos pareceres começou no segundo mandato do governador Mário Covas. Antes, cem casos, em média, eram votados por ano. Em 1998, isso caiu para 56 e, de lá para cá, nenhum. A maioria desses pareceres refere-se a irregularidades em obras da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e no Departamento de Estradas e Rodagem (DER), campeões nas condenações do TCE. Os problemas vão desde questões técnicas nos contratos ou licitações a situações mais graves, como indícios de favorecimento em licitações ou pagamentos acima do previsto a empreiteiras.
Segundo a presidência da Assembléia, os casos mais graves, que envolvem dano ao erário, são encaminhados automaticamente à Promotoria pelo TCE, independentemente de ser votado pelos parlamentares. O Legislativo, entretanto, não soube informar quantos dos 1.432 estão nessa situação.
O presidente do TCE, Antônio Roque Citadini, confirmou que a Corte remete parte dos processos aos promotores, mas disse não haver um levantamento sobre esse número. “Não posso dizer nem se isso é a maioria ou minoria dos processos que estão na Assembléia.” A oposição acusa os governistas de protelarem a votação desses projetos para evitar a apuração das irregularidades e, assim, poupar o governo estadual de eventual desgate político ou escândalo.

ActMon Computer Monitoring 5.2


Grava todas as atividades no computador, incluindo Chat, e-mail, e sites visitados. Muito útil para o controle das atividades dos filhos e para controle profissional. O programa também pode registrar as senhas utilizadas durante o login do Windows 2000 ou XP. A proteção de arquivos faz deste programa realmente invisível. Além disso, ele gravará todas as informações confidenciais em arquivos com encriptação 256-bit AES.

ActMonComputerMonitoring.zip (Inglês)
Tamanho: 1.6 MB

sábado, 16 de junho de 2007

literatura árabe!!!

Edward Said

Nessa seção estão livros e artigos escritos pelo escritor palestino Edward Said.


Do Wikipedia:
Edward Wadie Said (árabe:إدوارد سعيد; Jerusalém, 1 de Novembro de 1935 - Nova Iorque, 25 de Setembro de 2003) foi um intelectual, crítico literário e activista da causa palestina.

Edward Said nasceu em Jerusalém, cidade que na época integrava o Mandato Britânico da Palestina, no seio de uma família cristã de classe alta. O seu pai tinha emigrado para os Estados Unidos antes da Primeira Guerra Mundial e regressou à Palestina como cristão e cidadão americano, desagradando-lhe as suas raízes árabes.

Edward cresceu entre Jerusalém e a cidade egípcia do Cairo. Em Jerusalém Ocidental frequentou o colégio anglicano St. Georges Academy e depois o Victoria College no Cairo, onde a família se fixou em 1947. Por insistência do pai, Said foi enviado para a escola Mount Hermon no Massachusetts, Estados Unidos, em 1951.

Estudou na Universidade de Princeton e depois na Universidade de Harvard, onde concluiu o seu doutoramento subordinado ao escritor Joseph Conrad. Em 1963 ingressou como docente na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde ensinou durante as quatro décadas seguintes Inglês e Literatura Comparada. Foi também professor nas universidades de Harvard, John Hopkins e Yale.

Em 1970 casou com Mariam Cortas, com quem teve um filho e uma filha.

Apaixonado pela música clássica, Edward fundou com o seu amigo israelita Daniel Barenboim em 1999 a West-Eastern Divan Orchestra, cujo objectivo é unir na mesma orquestra jovens músicos de Israel e dos países árabes.

Edward Said faleceu aos 67 anos após uma longa batalha de dez anos com a leucemia.


Os títulos foram traduzidos de diversos idiomas para o português para a nossa Biblioteca Virtual, para facilitar a escolha do item desejado.

Os livros abaixo estão em diversos idiomas - eles serão citados ao lado do nome de cada obra. Tradutores como o do Google podem ser utilizados para compreender o conteúdo.

*Para salvar o item desejado clique com o botão direito do mouse e selecione a opção "Salvar destino como..."

*Para a procura de um título específico, aperte 'Ctrl + F' e digite o nome ou parte do mesmo.

A Função Pública dos Intelectuais (Inglês)

Arqueologia dos Mapas do Caminho (Inglês)

Arrogância Imperial Cega (Inglês)

Entre Dois Mundos (Espanhol)

O Humanismo como Resistência (Espanhol)

Orientalismo (Inglês)

Os Estados Unidos Alternativo (Inglês)

Palestina (Inglês)

Sionismo Pelo Ponto de Vista de Suas Vítimas (Inglês)

Um Povo Com Necessidade de Liderança (Espanhol)



LEGIÃO URBANA - Discografia


1984

1986

1987

1989





1991

1992a

1992b

1993





1996

1997

1999

2003

Enviar SMS de Graça - Muito Bom



Ele centraliza de uma maneira fácil e simples todos o serviços de envio de SMS da operadoras de Telefonia Celular, muito pratico para quem gosta de enviar mensagem SMS.

Atualmente ele está na versão 2.51, já existe a versão 2.52, mais ainda esta em fase de desenvolvimento.Descrição do Desenvolvedor.

O jSMS é um software desenvolvido em Java para enviarmensagens de texto a celulares das operadoras Amazônia Celular, BrasilTelecom, Claro, CTBC, Nextel, Oi, Telemig, Vivo e TIM (é necessário sercliente desta última operadora). Totalmente portável, funciona emLinux, Windows e Mac OS.

Site do Desenvolvedor e Donwload http://jsms.com.br/
O PSOL cruzou outra barreira




Qual a estratégia correta para o socialismo? Apontar a proa diretamente para a ruptura socialista? Ou apontá-la, primeiro, para a conquista do estado burguês, a fim de promover reformas na economia capitalista e, em seguida, para a transição socialista?

Em torno dessa questão, 683 delegados esgrimiram seus argumentos durante três dias, no I Congresso do PSOL, realizado, no Rio de Janeiro, nos dias 7,8 e 9 deste mês, em clima de festa e alvoroço, premiado com a presença de numerosa juventude.

Venceu a segunda proposta com um resultado contundente: 413 a 270.

A controvérsia pode parecer acadêmica. Não é. Dois partidos distintos decorrem logicamente de cada uma dessas posições. Não que a tese vencedora deixe de constituir uma contribuição para a retomada da luta socialista após a catástrofe da virada petista. Mas, sem dúvida, apresenta sérios riscos de uma recidiva petista - um partido que perdeu sua identidade tragado pela lógica da política eleitoral burguesa. Obviamente, os que a sustentam não têm a menor intenção de caminhar nessa direção. O problema não é a vontade: é a lógica. Se der à disputa eleitoral a mesma prioridade da luta direta de massas e à formação de núcleos, o PSOL corre o risco de se tornar mais uma legenda eleitoral. Correr o risco de um erro não é incidir nele e, sem dúvida, as lideranças que venceram o I Congresso estão tomando todas as providencias para que as exigências da disputa eleitoral não impeçam a realização das outras tarefas.

Por mais que a imprensa conservadora procure ver indícios de racha nessa polarização, a realidade é bem outra: o partido saiu unido do encontro e deu mais um passo na direção de se constituir num instrumento importante para a luta da esquerda.

Agora, é tocar para diante e preparar os congressos estaduais. Convém que eles tenham regimentos internos claros e aprovados previamente e por todos conhecido, porque a mágica de fazer um congresso sem regimento interno, como ocorreu no Rio, pode funcionar uma vez, mas duas é querer demais.

Estudantes voltam às ruas por RCTV; Chávez os chama de ‘peões do Império’

Cerca de 10 mil venezuelanos foram às ruas na última quinta (14) em mais um ato contra o fechamento da RCTV, que fez parte do cerco midiático que resultou na breve deposição de Hugo Chávez, há cinco anos. Apesar da pressão, governo não dá sinal de recuo.

CARACAS – Pelo menos dez mil estudantes foram às ruas da capital venezuelana na tarde da quinta-feira (14) em mais um protesto contra a não renovação da concessão da Rede Caracas de Televisão (RCTV). As manifestações, que haviam baixado de intensidade nos últimos dias, ganharam novo fôlego com esta passeata que percorreu cerca de cinco quilômetros, entre a praça Brion, em Chacaíto, e a avenida Universidade, na região central da cidade.

Para Arturo Sênior, 20, do Centro Estudantil de Comunicação Social da Universidade Católica, “nossa luta é pela liberdade de expressão, sem vinculação a tendências políticas”. Ligado ao partido oposicionista El Nuevo Tiempo, ele faz questão de frisar o pluralismo do movimento, ao mesmo tempo em que busca retirar qualquer conotação política do ato. Há uma evidente preocupação de evitar quaisquer possíveis vinculações entre os estudantes e os partidos políticos tradicionais. Quase não se vê nas passeatas gente com mais de 30 anos.
O governo venezuelano aparentemente não tem lidado com habilidade em relação ao movimento estudantil. O presidente Hugo Chávez tem se referido aos jovens como “peões do Império”, o que leva a uma natural exacerbação dos ânimos.

Interesses privados

“Não poderia ser de outra forma, pois esta foi a primeira medida revolucionária a atingir diretamente o coração dos interesses privados”, diz Aram Aramonian, 61, diretor da Telesur, o canal latino-americano montado pela associação dos governos da Venezuela, Cuba, Argentina e Uruguai. Segundo ele, a não renovação da concessão deveria ser vista muito mais como uma medida legal e administrativa do que como uma censura, como argumentado pela oposição. “Temos apenas 20% de emissoras estatais na Venezuela e não existe esta supremacia do setor estatal segundo alegam”, diz ele.

Com opinião oposta, Teodoro Petkoff, 75, proprietário do jornal Tal Cual, de oposição, é enfático em sua análise: “Chávez está pagando um preço muito alto por seu ato, tanto interna, quanto externamente”, afirma. “E não é apenas entre os setores de direita, como George W. Bush ou o ex-presidente mexicano Vicente Fox, mas entre seus aliados”.

As marchas estudantis têm merecido generosos espaços na imprensa escrita – que as têm convocado – e menos na televisiva. A rede Venevisión, a maior do país, de propriedade de Gustavo Cisneros, a maior fortuna da Venezuela, quase ignora as manifestações. “Ele, que foi o maior articulador do golpe de Estado de 2002, fez um acordo com Chávez pouco antes do referendo revogatório de agosto de 2004”, lembra Petkoff. Segundo ele, em troca de não ser molestado, foi cooptado pelo governo.

“Cisneros é um empresário e quer dinheiro, sem se importar com quem está no governo”, pontua Aram. Sua rede de televisão, uma das mais agressivas contra Chávez há cinco anos, agora se comporta docilmente em relação ao governo. Com a perda do sinal aberto por parte da RCTV, o negócio de Cisneros deve ampliar sua fatia na captação do bolo publicitário televisivo.


Improvisação

Se no mérito a não renovação de uma concessão pública deveria ser vista com naturalidade, no método tem predominado a improvisação na ação governamental. A nova emissora, que ocupa o espaço da RCTV no espectro televisivo chama-se Teves, trocadilho com “Te vês”, numa referência a intenção de que o venezuelano se reconheça na nova programação. No entanto, a grade de programas é pobre e de baixa qualidade. Predominam documentários, novelas argentinas e noticiários quase burocráticos.

A emissora foi montada às pressas, poucas semanas antes de entrar no ar, o que aumenta o contraste com a rede anterior. Com uma grade repleta de novelas e atrações populares, a RCTV alcançava todo o território venezuelano. Assim, a não renovação não é vista neste período inicial como um ganho pelos telespectadores.

Uma pesquisa do Instituto Datanálisis dava conta, antes da não renovação da concessão, que 80% da população seria contra o ato. Não há novas pesquisas, mas, aos poucos, Chávez parece ganhar a batalha. Não há sinal de recuo na posição oficial.

A RCTV fez parte do cerco midiático que resultou na breve deposição de Chávez há cinco anos. O golpe se consumou quando a oposição tomou a sede e cortou o sinal do canal 8, estatal, impedindo o presidente da República de se dirigir ao país. Esta foi a grande novidade daquele golpe. Ao invés do cerco militar do palácio de governo, como nas quarteladas clássicas, houve um isolamento comunicacional, que cortou o contato entre o governo e a população.

O primeiro ato do dirigente imposto pelas elites empresariais e militares, Pedro Carmona, foi fechar todas as instituições representativas do país, do Congresso à Suprema Corte, passando pela Procuradoria Geral do Estado.Tais fatos não são lembrados pelos que acusam o governo de agir de forma discricionária no episódio da RCTV.