quinta-feira, 29 de maio de 2008

La Vie de Bohème
(Boheemielämää)
Baseado na obra de Henry Murger, que deu origem à famosa ópera de Puccini, La Bohème, essa adaptação feita por Kaurismäki é na verdade um sátira sem rédeas ao propagado charme da vida boêmia, em nada se assemelhando ao texto original de Murger. Filmado na França, com diálogos em francês, o filme é todo feito com atores finlandeses - e já de partida se tem uma noção da pilhéria que é o filme. A história é simples: um grupo de amigos boêmios e pobres fazem o que podem para levar adiante umas vidas sem muito propósito. Rodolfo, um deles, conhece Mimi numa situação bastante peculiar e acaba se apaixonando por ela. O fim, já se sabe, é trágico. Todos os elementos dos filmes de Kaurismäki estão, todavia, aqui presentes: o humor refinado, o tom humanista, a melancolia e um toque de nihilismo. Tudo isso regado a excelentes atuações, direção magistral e boa fotografia. Legendas exclusivas!


Créditos: Makingoff - frombr
Gênero: Comédia
Diretor: Aki Kaurismäki
Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento: 1992
País de Origem: França
Idioma do Áudio: Francês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0105750/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 856 kbps
Áudio Codec: MPEG-1 Audio layer 3
Áudio Bitrate: 127 Kbps
Resolução: 640x352
Formato de Tela: Widescreen (4:2:0)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 700 Mb
Legendas: Em anexo

Elenco

Matti Pellonpää ... Rodolfo
Evelyne Didi ... Mimi
André Wilms ... Marcel
Kari Väänänen ... Schaunard
Christine Murillo ... Musette
Jean-Pierre Léaud ... Blancheron

Premiação

- Berlin International Film Festival, 1992 (Forum of New Cinema);
- European Film Awards, 1992 (Melhor ator e melhor ator coadjuvante);
- Jussi Awards, 1993 (Melhor diretor).

LEMBREM-SE DE FAZER O REGISTRO NO MAKINGOFF ANTES DE FAZER O DOWNLOAD
Arquivo(s) anexado(s) Arquivo anexado Aki_Kaurismaki_La_Vie_de_boheme_1992_.3963021.TPB.torrent -filme
Arquivo anexado Boheme.zip - legendas

Marina, veja só





Rogério Grassetto Teixeira da Cunha

A reboque de sua saída do Ministério do Meio Ambiente, todos os veículos de comunicação, não apenas os alternativos e os ligados ao meio ambiente, foram inundados por artigos e análises sobre seu ato. No caso da grande mídia corporativa, isso se deu possivelmente com vistas a tirar também mais uma casquinha do governo, como de costume. É interessante avaliar o conteúdo destes textos, pois eles funcionam como um termômetro do pensamento das forças econômicas que ditam a linha editorial destes veículos. Tomemos o mais emblemático deles, Marina: a revista Veja.

Na edição de 21 de maio, saiu uma matéria-artigo (já que a revista não faz reportagens, mas apenas textos editoriais, com conteúdo abertamente opinativo e tendencioso) sobre a sua saída. Veja, Marina, que os autores tentaram (ou fingiram tentar), sem sucesso, equilibrar a defesa de algumas de suas posturas com posições desenvolvimentistas, mais ao gosto dos leitores da publicação e das forças econômicas por trás dela. Tentaram, no entanto, defender uma linha impraticável: de que é possível conciliar "a equação" crescimento econômico e preservação ambiental. Veja, Marina, que uma das frases iniciais a seu respeito ("Marina teve de sair porque não soube solucionar essa equação") é lapidar.

Creio que não se pode dizer que você não soube "solucionar essa equação" por duas razões. Em primeiro lugar, penso que você nem queria encontrar essa solução. Conhecedora como é da problemática ambiental, certamente compreende que simplesmente não há como conciliar crescimento constante e eterno (a irreal base da noção de desenvolvimento tal como entendida atualmente) com preservação. Sabe que são passíveis de discussão outras questões, tais como se devemos tolerar algum grau de destruição para almejarmos certo crescimento econômico e uma melhor qualidade de vida para a população, ou como buscar formas de desenvolvimento e distribuição de renda que não estejam baseadas no crescimento eterno.

A segunda razão pela qual a afirmação da revista erra em relação à sua atuação é que nunca lhe foram dadas as ferramentas e o poder necessários para buscar caminhos alternativos de desenvolvimento. Dada a conjuntura de forças atual, é muito difícil ter alguém com peso suficiente para trilhar tais caminhos. Quem quer que ocupe a pasta passaria e passará pelas mesmas dificuldades. Isto é, se tiver interesse em tentar...

Veja, Marina, que o texto segue com outra passagem brilhante: "para dar o salto econômico de que necessita, o Brasil não pode abrir mão de seu potencial agropecuário ou de investir na geração de energia. Tampouco pode destruir um bioma que é ao mesmo tempo um patrimônio nacional a ser preservado e um foco de interesse internacional". Sabemos que o Brasil necessita menos de um salto econômico que de um desenvolvimento mais justo e distribuidor de riqueza gerada.

Além disso, o que querem eles dizer com "potencial agropecuário"? Já exploramos uma quantidade de terras cuja produção seria suficiente para alimentar com sobras toda nossa população e, de quebra, fornecer combustível para a frota nacional. E ainda sobraria espaço para exportação de alguns excedentes. Não precisamos mais explorar este "potencial". Mesmo que concordemos com a necessidade de crescimento econômico por certo tempo, não precisaríamos baseá-lo no crescimento da exportação de produtos agrícolas in natura ou apenas minimamente processados. O passivo ambiental no campo é grande e a geração de empregos proporcionalmente a outros setores é menor. E, como você bem sabe, no Brasil, explorar este potencial significa, sim, destruição.

Quanto à energia, há inúmeras outras formas mais racionais de obtê-la sem violar os últimos grandes rios do Brasil em bom estado de preservação. Aqui, novamente, a construção das usinas significa destruir parte do bioma. Não há como "solucionar esta equação". É uma coisa ou outra. Pode-se destruir mais ou menos, mas a destruição sempre ocorrerá.

Inegavelmente séria, você, discípula de Chico Mendes, até que tentou, e desculpe-me por colocar isso de forma tão direta, mas a revista acerta quando diz que você "nunca passou de um ícone, uma peça de marketing exibida pelo governo Lula para mostrar uma suposta vocação ambientalista". Depois de tantas esperanças acumuladas, você merecia um governo melhor. Na verdade, nós todos merecíamos. Porém, a revista desliza quando afirma que enquanto você "se mostrou apenas um ícone, Minc é um ambientalista que se adequou às políticas de desenvolvimento". O erro aqui é um só, o verbo usado na sentença. "Cedeu", "foi seduzido" ou "foi cooptado" seriam redações mais precisas que "se adequou". Isto porque sabemos dolorosamente que, tal como estas políticas são aplicadas por aqui, não há como conciliá-las com real preservação ambiental. Para adequar-se a elas não precisamos de um ambientalista, bastaria um tecnocrata.

Veja, Marina, que a visão de mundo da revista desnuda-se de vez logo em seguida ao dizer que sua postura "era de preservação incondicional da Amazônia, admitindo apenas ilhas de agricultura de subsistência e de proteção de pequenas comunidades, como a de seringueiros e castanheiros". E que o seu discurso "eficiente na teoria e para conquistar a simpatia internacional (...) bateu de frente com as necessidades práticas do país, como a construção de estradas, a mineração, a geração de energia elétrica, a agricultura e a pecuária".

Ao colocar as coisas nestes termos, sutilmente atacam a sua imagem, ao retratar-te como uma pessoa visionária, lunática, fora da realidade. Na verdade, os alucinados são eles.

Analisemos o que a revista entende por "necessidades práticas do país". Não me consta que você fosse contra a construção de estradas, mineração, novas fontes de geração de energia, nem muito menos contra o agronegócio. Acredito que era e continua sendo contra estradas na Amazônia (o grande vetor de desmatamento na região), apesar de que, no governo, você não tinha condições políticas de seguir atacando projetos como o da pavimentação da BR-163. Era contra a mineração ilegal ou mesmo o desregramento da legalizada e contra a instalação de usinas hidrelétricas na Amazônia (pois sabe do impacto que elas causarão por lá e que haveria como suprir a demanda de outras formas). E era, sim, contra a expansão desenfreada e desregrada da pecuária e da agricultura nos biomas brasileiros, desrespeitando as leis, gerando desmatamento e prejudicando a imagem do Brasil no exterior. Não contra o agronegócio em si, pois é uma pessoa sensata.

Continuo com a opinião de que você cedeu demais em alguns pontos (como a divisão do Ibama) e errou em outros (como as concessões de florestas públicas). Porém, várias de suas derrotas (a liberação dos transgênicos, a importação de pneus usados, o licenciamento das usinas no rio Madeira, entre outras) foram na verdade devidas à pouca força política do Ministério. Somando-se a isto, temos a mentalidade desenvolvimentista reinante e que impregnou o governo até a alma, que ainda se aliou a forças predatórias e criou uma base de apoio extremamente ampla e heterogênea onde estão incluídas várias das forças ruralistas mais nocivas ao meio ambiente. Com isto, manteve e até reforçou o já grande poder destas forças. Lula foi ainda seduzido, de corpo e alma, pelo agronegócio nacional e se tornou voluntariamente um arauto do mesmo. Incorporou a noção subdesenvolvida do papel principal que nos é reservado pelas forças políticas mundiais, de fornecedor de commodities agrícolas, de celeiro, granja e, mais recentemente, de futura bomba de combustível do mundo.

Neste contexto todo, apesar de suas falhas e derrotas, acho que você fez o possível politicamente. E, se tivesse estômago para tal, acho que deveria ter continuado no ministério, pois talvez conseguisse continuar brecando um pouco a sanha predatória. Talvez conseguisse colocar algumas condições para as obras destruidoras, o que o nosso ministro "acelerador-de-licenças", cheio de bravatas verbais e coletes de bolinhas, possivelmente não tentará com a mesma disposição. A sua imagem iria desgastar-se mais e mais perante os ambientalistas, é verdade, mas a causa é nobre. Se você fosse ficando no ministério, a despeito da vontade de Lula de mandá-la às favas, e não se demitisse, mas forçasse o presidente a fazê-lo, conseguiria com isto causar um impacto muito maior. Mas acho que não faria isto. Todos temos nossos limites.

Rogério Grassetto Teixeira da Cunha é biólogo e doutor em Comportamento Animal pela Universidade de Saint Andrews.

E-mail: rogcunha@hotmail.com



A pergunta é do jornalista Paulo Henrique Amorim ao comentar o escândalo de corrupção envolvendo o governo tucano de Yeda Crusius. Em uma nota intitulada “Roubalheira no Rio Grande do Sul é dos tucanos”, ele comenta o comportamento discreto e seletivo da imprensa sobre o caso:

"O Ministério Público Federal, no Rio Grande do Sul, pediu indiciamento dos acusados de fraudar o sistema de concessão de carteira de habilitação no Rio Grande do Sul. A pequena nota da Folha (de São Paulo) ignora dois fatos importantes: o esquema estava indissoluvelmente ligado à caixa do PSDB no Rio Grande do Sul. Era uma ligação tão íntima quanto a de Ricardo Sérgio de Oliveira com as campanhas de Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
A segunda circunstância que a Folha ignora é que há uma acusação grave de que a Governadora Yeda Crusius não tomou as providências que deveria tomar, quando soube que herdara de Germano Rigotto aquela “usina de roubalheira”. Se o escândalo tivesse estourado no colo do Governador Olívio Dutra, a fúria do PiG e da Folha teria sido de intensidade diferente".

Créditos:

Comentário interessante:

paulo disse...

Se fosse o governo Olívio, com certeza a chamada reportagem investigativa estaria em ação. Já saberíamos se O Sr. Olívio tem netos e onde estudariam, quanto custaria os estudos, onde morariam os filhos e possíveis familiares de cônjuges. O local de trabalho dos mesmos. Estaria sob investigação financiamentos da Caixa, renda salarial e ganhos dos últimos 20 anos. Alguém de Brasília já teria sido citado. O Senador Simon viria a público falar e moral e ética. A palavra impeachment não só estaria na boca de todo mundo que até no jardim de infância se saberia escrever. O ilustre Dep. Vieira faria uma veemente declaração na tribuna do Congresso falando sobre os horrores nunca visto aqui no RS. Trariam para depôr o Sr. Diógenes, enfim, saberíamos o que é pertinente e impertinente para as investigações.

Brasil - A festa dos arrozeiros

Laerte Braga -Adital


O ministro Mangabeira Unger está propondo ao governo uma rede de indústrias na Amazônia como forma de permitir o desenvolvimento da Região e o manejo ecológico da floresta.

Ricardo Boechat leu um editorial da REDE BANDEIRANTES no JORNAL DA BAND, oito pontos de audiência, onde a empresa afirma que a política desastrada de Lula para a região, falava da demarcação das terras indígenas, "deixou até de ouvir o Exército".

Os latifundiários que ocupam a Reserva Raposa do Sol, território indígena, invadiram terras que não lhes pertencem na obsessão da segurança nacional, da integridade do território brasileiro e da soberania do País. Disfarce para vigarice, entreguismo e borduna. Já foram indenizados pelo poder público alguns anos depois para sair de uma área onde existe a maior população indígena do Brasil por quilômetros quadrado.

É desnecessário falar da GLOBO. É ponta de lança nesse discurso dúbio que representa interesses de empresas nacionais e estrangeiras, parceiras na cobiça da Amazônia. A rede e qualquer veículo da chamada grande mídia.

O problema está na demarcação de terras indígenas.

Se olharmos a proposta do ministro, o editorial lido por Boechat, a argumentação dos arrozeiros, a campanha da mídia, o desgoverno de Lula, pelo menos o desencontro entre o que fala o ministro da Justiça Tarso Genro e os delírios macarrônicos mas entreguistas de Mangabeira Unger, é só fardar um Heleno Augusto da vida para falar em nacionalismo e entregar tudo. Tal e qual foi feito na ditadura militar e por governos como o de FHC.

O de Lula não entrega e nem deixa de entregar, olha para outro lado.

Pouco antes de ler o editorial da REDE BANDEIRANTES o JORNAL DA BAND mostrou índios protestando contra a construção de uma hidrelétrica no Paraná. Como se fossem animais, algo assim como um Ermírio de Moraes, que desmata um ou dois estados e enche de eucalipto em nome do progresso.

Breve nas farmácias chá de eucalipto contra todos os males da economia nacional. E imensas áreas desertificadas no futuro por conta do mesmo progresso. Vão gerara empregos. É o lugar comum da destruição.

O mesmo JORNAL DA BAND exibiu matéria do jornal NEW YORK TIMES onde se fala que os brasileiros somos irresponsáveis para cuidar da Amazônia, o pulmão do mundo.

Entrega então.

O que Mangabeira Unger quer é o mesmo que Heleno quer, só que disfarçado em desenvolvimento. E o que Heleno quer é o mesmo que Mangabeira quer, só que em forma de porrete.

Os culpados são os índios, viva os arrozeiros, os plantadores de eucalipto, as grandes madeireiras manejando a floresta (seria para rir não fosse trágico), viva a VALE, viva a ARACRUZ.

Há uma lógica simples nessa história toda. A do modelo.

Ou se opta pelo modelo vida ou se escolhe o modelo progresso desvairado cheio de empregos, mas no frenesi do capitalismo.

Quando um norte-americano como Mangabeira Unger afirma que é preciso descentralizar a questão das licenças ambientais para os governos dos estados está escancarando as portas para a destruição e a corrupção. Entregando o ouro.

Definir o modelo e desenhar a Amazônia brasileira a partir do Brasil e não de quem busca o soldo em Wall Street via Washington.

Os caras descobriram as palavras chaves. Emprego e progresso.

Onde? Vão destruir a Amazônia e a acumulação será em São Paulo, no enclave FIESP/DASLU. Nos cofres da ARACRUZ ou da VALE.

E nem estou tocando na questão estratégica de domínio da América do Sul. Como a "democracia" tem produzido resultados desfavoráveis aos donos do mundo torna-se necessário trazer a borduna de volta e como se fosse uma pílula de cianureto, disfarçada em azeitona de martini, de preferência misturado e não batido, ao estilo James Bond.

Não existe um projeto para a Amazônia brasileira no Brasil. Existe em Wall Street e em Washington. Os atores são cooptados como Mangabeira Unger, Augusto Heleno, arrozeiros. Os assistentes de direção desse filme são muitos. Ermírio de Moraes, Paulo Stak, banqueiros internacionais. Os alvos são as riquezas da floresta e governos democráticos com projetos para seus países além da biruta do aeroporto Lula, que toca ora o vento de Mangabeira, ora o vento de Tarso, de vez em quando fica estática perplexa na falta de ventos de Jobim.

A GLOBO, na irresponsabilidade do espetáculo e na pressa da audiência, derrubou um avião na terça-feira em São Paulo. A GLOBONEWS noticiou que uma aeronave da empresa PANTANAL havia caído sobre um prédio em São Paulo.

Checada a notícia, o piloto da aeronave, ao levantar vôo em Congonhas e sobrevoar parte da cidade de São Paulo, percebeu um incêndio num prédio. Avisou aos bombeiros.

Os arsenais contra Lula já estavam montados para o JORNAL NACIONAL. Aeroporto próximo a prédios, não ia deixar de ser citada a "falta de ranhuras" e todo o foco seria deslocado para o que já não existe, próximo de ser o que os americanos chamam de pato manco, mas de olho na presunção que governar é cair de quatro e fazer de conta que PAC e PPP (Programa de Aceleração do Crescimento e Parceria Público Privada) vão transformar o Brasil numa nova China.

A nova China é só uma potência controlada por um partido dominado pelo capital e pela burocracia com milhões morrendo de fome. O socialismo reinventado no delírio do tal progresso, a política Delfim Neto, "deixar o bolo crescer para repartir".

A "queda" do avião é o nível de responsabilidade e compromisso que a mídia tem com o Brasil e os brasileiros. Imagine a floresta Amazônica transformada numa grande plantação de eucaliptos sob a batuta de madeireiros, arrozeiros, criadores de gado e tente imaginar o futuro do País.

Quem entrega o que?

Por detrás de tudo isso existe um discurso afinado, combinado no vestiário onde o Brasil se estrepa.

E os culpados são os índios.

É o mesmo discurso que mata palestinos há sessenta anos. Augusto Heleno ainda vira um Ariel Sharon de verdade. Mangabeira Unger vai ser chefe do Estado Maior.

Querem fazer disso aqui um Oriente Médio.

Por trás do arroz está o petróleo da Venezuela. O gás da Bolívia. Até chegarem aos palestinos que vivem na Tríplice Fronteira (e a água do Aqüífero Guarani) e nos transformarem numa base política, econômica e militar para assegurar o domínio dos "negócios".

E a cocaína de Uribe e família.

Não sei como a GLOBO ou a BAND não foram entrevistar o papagaio que perdido citou o endereço do dono e assim conseguiu voltar para casa.

Só falta dizer que os índios possuem armas de destruição em massa e podem representar sério risco para a humanidade, a democracia, a justiça, etc, etc.

Vem aí a Quarta Frota.

A GLOBO e a BAND vão recebê-la com flores e mimos com que costumam agradar os colonizadores.

Os "morros do capitalismo" vão soltar foguetes avisando que a droga chegou.


* Jornalista

quarta-feira, 28 de maio de 2008


O esquema desmontado pela Operação Rodin, informa a denúncia do MP federal, envolvia o desvio de verbas provenientes do Detran para empresas prestadoras de serviços à autarquia. A fraude ocorreu entre julho de 2003 e novembro de 2007, através de duas fundações vinculadas à Universidade Federal de Santa Maria, a Fatec (Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia) e a Fundae (Fundação para o Desenvolvimento e Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura) contratadas sem licitação e a preços superfaturados pelo Detran. A Fatec e a Fundae faziam o repasse de verbas mensal para empresas subcontratadas prestadoras de serviços. A fraude teria desviado aproximadamente 44 milhões de reais dos cofres públicos.

Conforme a avaliação da juíza Simone Barbisan Fortes, ocorreu um ajuste prévio, no qual pessoas com grande influência política (lobistas) conseguiram obter junto a órgãos públicos do Estado do Rio Grande do Sul, para as Fundações de Apoio, contratos para prestação de determinados serviços. “Contratadas, sem licitação, as fundações subcontrataram empresas e pessoas para a realização dos serviços, superfaturados, de forma a beneficiar, primeiramente, os próprios lobistas, e, ainda, também os dirigentes do órgão contratador e das fundações”.

Esse lobby, prossegue, se valeu da reputação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), “para obtenção dos contratos públicos, em cujo preço são embutidos, além do valor do próprio serviço, a "remuneração" dos lobistas, pela obtenção do contrato, e, em muitas situações, o superfaturamento, também destinado a corromper funcionários públicos”.

Confira as denúncias oferecidas pela Justiça Federal contra alguns dos principais acusados de liderar o esquema:

Lair Ferst – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa, falsidade ideológica e extorsão.

José Fernandes – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa, falsidade ideológica.

Paulo Sarkis – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa e passiva.

Carlos Ubiratan dos Santos – formação de quadrilha, dispensa indevida de licitação, peculato-desvio, falsidade ideológica, corrupção ativa.

Antônio Dorneu Maciel – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, corrupção passiva, peculato-desvio.

Flávio Vaz Netto – formação de quadrilha, dispensa indevida de licitação, peculato-desvio, corrupção passiva, concussão.

Carlos Dahlem da Rosa: formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa.


Luiz Paulo Rosek Germano – formação de quadrilha, locupletamento em dispensa de licitação, peculato-desvio, corrupção ativa.

Clique AQUI para ver a íntegra da decisão da Justiça Federal de Santa Maria

Créditos:

terça-feira, 27 de maio de 2008

Sobre as contradições do jornalismo


Por Venício A. de Lima

No final da tarde de terça-feira (20/5) fui surpreendido com telefonema de pessoa de minha família, em Minas Gerais, preocupada em saber se eu estaria viajando ou se estava em Brasília. Estava em Brasília, por quê? "Acabamos de ouvir na rádio Itatiaia de Belo Horizonte que um avião de passageiros havia se chocado com um prédio nas proximidades do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, provocando grande incêndio. Como você sempre viaja, queríamos ter certeza de que não estaria entre as vítimas de mais esse acidente aéreo."

Depois do telefonema, tomei conhecimento de que o canal GloboNews, da operadora de TV a cabo NET, havia interrompido a transmissão ao vivo de depoimentos na CPI dos cartões para "informar" que um avião da empresa Pantanal acabara de cair sobre um prédio na Zona Sul de São Paulo, próximo ao aeroporto de Congonhas. Durante mais de cinco minutos, a GloboNews mostrou imagens de fumaça sobre a cidade e do incêndio que teria sido provocado pelo choque de um avião com o prédio.

Numa inversão da lógica que tem presidido a análise do fluxo das notícias, quase simultaneamente a GloboNews pautou os principais sites online – UOL, Folha OnLine, Terra, iG, Estadão – que passaram a "informar", em manchete, sobre a queda do avião e sobre o incêndio. A partir daí, a "informação" passou também a ser transmitida por emissoras de rádio em todo o país.

Aos poucos foram aparecendo os desmentidos: da Infraero, da Pantanal e da própria Central Globo de Comunicação que, em comunicado, informou:

"A respeito do incêndio ocorrido hoje à tarde em São Paulo, a GloboNews, como um canal de noticias 24 horas, pôs no ar imagens do fogo assim que as captou. Como é normal em canais de notícias, apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens. A primeira informação sobre a causa do incêndio recebida pela Globo News foi a de que um avião teria se chocado com um prédio na região do Campo Belo, Zona Sul de São Paulo. Naquele momento bombeiros e Infraero ainda não tinham informação sobre o ocorrido. As equipes da própria Globo News constataram que não havia ocorrido queda de avião e desde então esclareceu que se tratava de um incêndio em um prédio comercial. Poucos minutos depois o Corpo de Bombeiros confirmou tratar-se de um incêndio em uma loja de colchões."

Não havia acidente. Nenhum avião havia se chocado com qualquer prédio. Na verdade, tratava-se de um incêndio em loja de colchões no bairro paulistano de Moema.

Há vinte meses

Foi impossível não lembrar de uma outra situação envolvendo o jornalismo das Organizações Globo. Esta última ocorrida em 29 de setembro de 2006, quando um jato Legacy derrubou o Boeing que fazia o vôo Gol 1907, de Manaus para Brasília, matando quase uma centena de pessoas.

Naquela época, ao contrário de outras emissoras de TV e sites na internet, a TV Globo demorou a noticiar o acidente que ocorreu antes do Jornal Nacional. Como estávamos às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais de 2006, houve uma grande polêmica em torno do assunto. A Globo sempre alegou que não poderia ter dado a notícia sem primeiro checar os fatos. A emissora temia as eventuais repercussões que uma notícia dessas – não confirmada – poderia causar na vida de milhares de pessoas.

Agora a GloboNews deu a "informação" falsa sobre o "acidente". Sites e emissoras de rádio reproduziram a "informação" e só depois se deram ao trabalho de checar para ver se era verdadeira. Não era.

Deixo a meu eventual leitor as devidas conclusões sobre a qualidade e a responsabilidade do jornalismo que continua a ser praticado no Brasil.

Satyricon de Fellini - RE(POSTAGEM)

Satyricon de Fellini
de Federico Fellini



Sinopse:
Esta é a livre adaptação de Fellini da famosa peça de Petronius, que faz uma crônica da vida na Roma antiga. Encolpio (Martin Potter) e seu amigo Ascilto (Hiram Keller) disputam o afeto do jovem Gitone (Max Born). Quando Encolpio é rejeitado, ele começa uma jornada na qual encontra todos os tipos de pessoas e de acontecimentos, entre eles uma orgia e um desfile de prostitutas na Roma antiga. Durante a orgia, organizada por Trimalchio (Mario Romagnoli), encontra um ex-escravo que menosprezou a mulher em troca dos prazeres oferecidos por um jovem garoto.

Título Original: Fellini - Satyricon
Gênero: Drama
Origem/Ano: ITA/FRA/1969
Direção: Federico Fellini
Roteiro: Petronius e Federico Fellini

Formato: rmvb
Áudio: Italiano
Legendas: Português
Duração: 123 min
Tamanho: 423 MB
Partes: 5
Servidor: Rapidshare
Créditos: F.A.R.R.A - zé qualquer

Elenco:
Martin Potter ... Encolpio
Hiram Keller ... Ascilto
Max Born ... Gitone
Salvo Randone ... Eumolpo
Mario Romagnoli ... Trimalcione
Magali Noël ... Fortunata
Capucine ... Trifena
Alain Cuny ... Lica
Fanfulla ... Vernacchio
Danika La Loggia ... Scintilla
Giuseppe Sanvitale ... Abinna
Genius ... Liberto arricchito
Lucia Bosé ... La matrona
Joseph Wheeler ... Il suicida
Hylette Adolphe ... La schiavetta
 

TORRENT DO FILME AQUI

 TORRENT DA LEGENDA AQUI

Outros filmes do mesmo diretor:




Jornalismo de Esgoto é isso aí!


Quadrilha denunciada


A juíza da 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, Simone Barbisan Fortes, aceitou a denúncia contra 40 das 44 pessoas indiciadas pelo Ministério Público Federal, acusadas de envolvimento no desvio de cerca de R$ 44 milhões do Detran/RS. A juíza também informou que está suspenso o sigilo sobre o processo, excluindo-se o sigilo bancário e fiscal dos denunciados, além de parte dos conteúdos de escutas telefônicas. Assim, a peça de denúncia elaborada pelo Ministério Público Federal torna-se pública a partir de hoje. Os bens de todos os indiciados pela Polícia Federal seguirão bloqueados. Os réus começarão a ser ouvidos no dia 19 de agosto.

Os quatro nomes excluídos da denúncia foram: Ronaldo Etchechury Morales (ex-presidente da Fatec), Luis Felipe Tonelli de Oliveira, Sérgio de Moraes Trindade e Jorge Alberto Viana Hossler. Simone Barbisan Fortes considerou que não havia indícios suficientes contras essas pessoas.

Segundo a denúncia aceita pela Justiça Federal, a fraude no Detran iniciou em 2003, a partir do trabalho de Lair Ferst e José Fernandes junto à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), contando com a participação ativa do ex-reitor desta universidade, Paulo Sarkis. Durante três anos e meio, a quadrilha montada por eles desviou dinheiro público de forma organizada e sistemática. O empresário e lobista tucano Lair Ferst, que depôs ontem na CPI do Detran e negou qualquer envolvimento com desvio de dinheiro público, foi denunciado por seis crimes, entre eles, formação de quadrilha, corrupção e falsidade ideológica.

créditos:

Por uma nova resistência palestina

No 60º aniversário de Israel, Ignácio Ramonet entrevista Mustafá Barghouti, líder da Iniciativa Nacional Palestina. Ele vê o Estado judeu dominado pelo aparato industrial-militar e propõe, contra a ocupação de seu país, uma luta de massas e não-violenta. alternativa à Al Fatah e ao Hamás


Ignacio Ramonet


Nascido em 1954 em Jerusalém, Mustafá Barghouti é médico, formado nas universidades de Moscou, Jerusalém e Stanford. É secretário-geral da Al-Mubadara (Iniciativa Nacional Palestina), organização política laica criada em 2002, com participação ativa de Edward Said [1]. Foi ministro da Informação no governo palestino de união nacional constituído em 2007, depois das eleições legislativas. Em 2006, foi candidato à presidência. Obteve um terço dos votos, derrotado pelo atual presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas. Líder da principal organização de resistência de massa, militante da não-violência, o Dr. Barghouti adota, como referência, o modelo de Gandhi, pai da independência da Índia, na luta contra os britânicos, em estratégia de não-violência. Na sociedade palestina, atormentada por 60 anos de conflitos, cansada da corrupção da Al Fatah e descrente do fundamentalismo religioso do Hamás, o apoio popular às teses da Al-Mubadara não pára de aumentar – especialmente entre os grupos laicos. Barghouti conta também com significativo apoio internacional, como se viu na recente visita que lhe fez, em Ramallah, mês passado, o ex-presidente Jimmy Carter, dos EUA. O movimento pacifista israelense também o apóia.

Mustafá Barghouti trabalha por uma sociedade palestina edificada sobre os princípios de uma democracia radical, enraizada nos movimentos sociais e baseada nos princípios éticos e de transparência da boa governança e do respeito aos direitos humanos. Para alcançar a plena soberania, Barghouti prega a resistência determinada, mas pacífica, contra a ocupação. (Ignacio Ramonet)

14 de maio de 2008 marca o 60º aniversário da criação de Israel e do que os palestinos chamam a Nakba, a catástrofe. Neste momento, qual sua opinião sobre o estado atual das relações entre Israel e os palestinos?

Depois de 60 anos de espoliação, 41 anos de ocupação, 17 anos da Conferência de Madri, 15 anos dos acordos de Oslo, e de várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU, especialmente a 242 (1967) e a 338 (1973), à procura de uma solução justa e durável para décadas de conflitos entre Israel e os palestinos, não sou otimista. Já teríamos de estar mais perto da paz.

E não estão?

Não. Ao contrário. O problema é cada dia mais complicado e mais complexo, dada a intransigência das autoridades de Israel. E isto, seja qual for a atitude dos palestinos. Já se tentou tudo: resistência armada, resistência não-violenta, participação, não-participação etc. Sem qualquer resultado concreto. A cada dia que passa, a situação fica mais difícil, na Palestina.

O senhor esquece a intransigência do Hamás

Hoje, fala-se muito do Hamás, nos jornais, na televisão. Há 20 anos, o Hamás não existia. Nem existia o Hizbollah libanês. Israel, de certo modo, provoca o surgimento destes grupos, por sua atitude de afrontamento sistemático contra os palestinos. Para ser objetivos, temos de reconhecer também que o Hamás e o Hizbollah são resultado da intransigência de Israel. Mas, desde o final dos anos 1980, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) tem-se mostrado disposta a negociar e a encontrar soluções.

Mas os atentados não cessaram. E é compreensível que a população em Israel preocupe-se com a segurança. O senhor não acha?

Acho. Mas, como médico, posso garantir que um dos erros mais graves, que se pode cometer é confundir causas e sintomas de uma doença. Quem age assim corre o risco de matar o doente.

O que se vê é que, em sua prática de propaganda, Israel mistura muito habilmente sintomas e causas. Praticamente todos os veículos de comunicação que noticiam o conflito palestino-israelense dão destaque à violência. Mas esquecem sempre de dizer que a violência é sintoma, manifestação da doença, do mal-estar, expressão de uma outra coisa. Esta outra coisa, de que ninguém fala, é a causa. São poucos os que lembram que a causa da violência é a ocupação da Palestina por Israel. Esquecem de dizer que – como aconteceu na França, por exemplo, de 1940 a 1944 – a pior de todas as violências é a ocupação.

O senhor vê semelhanças entre a situação dos palestinos hoje e a dos franceses sob a ocupação alemã?

Não, não quero comparar situações tão diferentes. O que estou dizendo é que a ocupação da França, entre 1940 e 1944, não foi causada pela violência da Resistência. Tampouco a violência dos indianos revoltados contra a presença colonial dos ingleses foi causa da colonização inglesa na Índia. A causa sempre é a ocupação. A violência contra a ocupação é sintoma. “Causa” e “sintoma” são conceitos completamente diferentes, que não podem ser confundidos. Os veículos de comunicação, a midia, mistura sistematicamente os dois conceitos. E confunde tudo.

Na Palestina, pede-se aos que vivem sob ocupação que garantam a segurança dos ocupantes. A mídia começou por confundir a mente dos israelenses, e aos poucos confundiu o mundo todo

Talvez porque os palestinos cometem atentados contra civis israelenses.

É uma situação estranha, e efetivamente trágica. Na Palestina, pede-se aos que vivem sob ocupação que garantam a segurança dos ocupantes. É surreal. Para explicar uma situação muito simples – um país foi ocupado, seus habitantes defendem-se contra os ocupantes –, chegamos a ponto de confundir: as vítimas seriam os agressores, e os agressores, as vítimas. Começaram por confundir a mente dos próprios israelenses. Depois, pouco a pouco confundiram todas as mentes.

E como o senhor explica este processo?

Existe, em Israel, um importante complexo militar-industrial, semelhante ao que, desde 1960, o presidente Eisenhower denunciava, nos EUA. E este complexo militar-industrial lucrou muito com as sucessivas guerras de Israel contra os Estados árabes, assim como lucra com o conflito contra os palestinos.

Como o senhor define este complexo militar-industrial?

É muito mais sofisticado que seu homólogo norte-americano. Pode-se defini-lo como um complexo militar-industrial-computacional. É alimentado por todas as guerras que se sucederam desde 1948. E faz de tudo para manter os enfrentamentos e a conflitualidade em geral, à custa dos próprios cidadãos israelenses, eles mesmos as primeiras vítimas.

Israel é, não só uma potência nuclear mais importante, por exemplo, que a França; também se tornou um dos principais exportadores mundiais de armas e de dispositivos de segurança.

O senhor não estará exagerando?

Segundo estatísticas recentes, Israel é o quarto maior exportador de armas do mundo: depois de EUA, Rússia e França. Mas não se contenta com exportar armas. Cada vez mais, Israel exporta dispositivos eletrônicos de segurança, sistemas de alerta e de defesa, técnicas de controle, equipamentos de vigilância e prevenção etc. E, como o senhor sabe, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a venda destes produtos aumentou muito.

O senhor realmente acredita que o caráter de exportador de armas, de Israel, determina sua política em relação aos palestinos?

Sim. Porque não se compreende a evolução de Israel, se não se analisa a evolução do aparato militar. No começo, entre 1920 e 1948, quando a Palestina era administrada pela Grã-Bretanha, havia a Hagana, a organização militar clandestina judaica que obteve as primeiras vitórias – mediante atentados – contra os britânicos; e o grupo Stern, que aterrorizava os palestinos. Naquele momento, eram civis em funções militares. Depois, outras organizações armadas, como o Irgun, fundiram-se com as duas primeiras, para constituir o exército israelense. O exército profissionalizou-se; mas, pouco a pouco, os civis deixaram de comandar os militares. A situação inverteu-se. E os generais começaram a comandar a sociedade israelense.

Os militares influenciaram tanto? Israel, afinal de contas, é uma democracia.

Sim, mas que estranha democracia! Nesta democracia, os militares muitas vezes exercem funções determinantes. Pense, por exemplo, em Ariel Sharon, Ehoud Barak, Benyamin Netanyahou, Yitzhak Rabin ou Menahem Begin. Todos militares ou egressos de organizações militares. Todos foram primeiros-ministros de Israel.

O exército israelense tem grande número de oficiais e os renova constantemente. Do ponto de vista militar, é bom, porque o alto oficialato é jovem e conhece bem as técnicas mais modernas de guerra. Mas, também conseqüência do rápido turn-over, as forças armadas aposentam um número muito grande de generais. Estes, liberados das funções militares, passam a interessar-se pela política. E não raras vezes alcançam os cargos mais altos da vida civil. O exército, assim, ocupa também muitos postos políticos no governo e no serviço público.

E então, conduzidos os postos políticos, os jovens generais aposentados põem-se a procurar o que fazer. Assim chegam às indústrias de armas e passam a se interessar pela exportação de sistemas de segurança.

O complexo industrial-militar de Israel é o principal responsável pela guerra sem fim. Exerce enorme influência na política e faz tudo para manter o conflito, à custa dos próprios cidadãos israelenses

A guerra como indústria de exportação...

É isto. Os conhecimentos adquiridos no exército ou nas atividades de repressão, eles os põem a serviço de empresas especializadas em segurança e na prevenção de ataques ou em controles sobre a vida dos cidadãos. Assim, Israel tornou-se um dos maiores exportadores mundiais de sistemas de vigilância e segurança.

Por esta mesma lógica, pode-se dizer que Israel usa, em vários sentidos, a Cisjordânia e Gaza como laboratórios para testar e aperfeiçoar novas técnicas de controle de indivíduos. São técnicas que também, adiante, poderão ser exportadas.

Não há dúvidas de que muitos países têm interesse em comprar a grande experiência dos militares israelenses nesta matéria.

Há rumores sobre a presença de oficiais norte-americanos nas invasões da Cisjordânia, onde observam e estudam os métodos de vigilância, de controle, de prevenção e de repressão criadas pelos especialistas israelenses. Em seguida, usam-nas no Iraque.

Sejam estes rumores verdadeiros ou não, é direito dos palestinos perguntar se é normal que a democracia israelense seja comandada por exportadores de armas e indústrias de segurança que, naturalmente, lucram com a guerra e rejeitam a paz.

Isto explicaria, na sua opinião, por que, depois do “Mapa do Caminho”, de abril de 2003, e da conferência de Annapolis, em novembro de 2007, houve tão pequenos avanços na direção da paz?

O célebre “Mapa do Caminho”, redigido há cinco anos pelo “Quarteto” (EUA, ONU, Rússia e União Européia) fracassou. Ali se fixavam, essencialmente, dois objetivos: 1) Israel pararia a colonização; e 2) os palestinos garantiriam a segurança dos israelenses. Mas cinco anos depois do “Mapa do Caminho” a colonização foi intensificada. E, mesmo depois de Annapolis, Olmert anunciou novas construções nas colônias!

E quanto à segurança dos israelenses?

A Palestina não tem exército, nem soberania, nem controle sobre as fronteiras. Mesmo assim, exigem que garanta a segurança dos israelenses; em especial, a segurança de colonos que, como o nome diz, colonizam terras palestinas, confiscadas aos palestinos, que foram expulsos, manu militari, de suas propriedades.

O “Mapa do Caminho” só fala da segurança dos israelenses. Só dela. A segurança dos ocupantes deve ser garantida pelos ocupados. Jamais se viu idéia semelhante!

Mas o “Mapa do Caminho” foi aceito e adotado pelos representantes da Autoridade Palestina.

Segurança é também segurança social, segurança do emprego, segurança da propriedade, segurança para ir e vir etc. Ora, os palestinos vivem privados de todas estas seguranças. E exige-se que os palestinos, que vivem privados de todas estas seguranças, responsabilizem-se e garantam a segurança dos que ocupam seu país. É o mundo às avessas!

Sou defensor ativo da não-violência. Mas repare: em 2000, a proporção entre o número de mortos palestinos e o de israelenses era 4 por 1. Nos três primeiros meses de 2008, já é de 46 por 1!

Contudo, nada justifica atentados contra populações civis.

Concordo integralmente. Mas – e falando só da segurança física – consideremos os números oficiais, das estatísticas israelenses. Em 2007, foram mortos 13 israelenses, dos quais quatro soldados e quatro colonos, em confrontos armados. No mesmo período, 404 palestinos foram mortos por israelenses. Os números crescem em proporções alucinantes. O senhor sabe que sou defensor empenhado da não-violência, mas os números não podem ser ignorados.

Em 2000, a proporção entre o número de mortos palestinos e o número de mortos israelenses era 4 por 1. Para cada israelense morto, havia 4 palestinos mortos. Em 2006, a proporção chegou a 27 por 1! Em 2007, foi de 31 por 1! E nos três primeiros meses de 2008, já é de 46 por 1!

De 2000 até hoje, foram mortas cerca de mil crianças palestinas. Depois da conferência de Annapolis, em novembro de 2007, foram mortos mais de 330 palestinos. Cerca de quarenta crianças. Não faz sentido falar de segurança para um lado, ficando o outro lado sem qualquer tipo de segurança.

Por que a situação deteriorou-se a tal ponto?

Em minha opinião, por três razões. Pela fraqueza do campo da paz, em Israel; pela fraqueza dos palestinos; e por causa do grande silêncio internacional. Além do mais, as autoridades israelenses estão convencidas de que merecem total impunidade. Podem fazer tudo, sem risco de sofrer qualquer sanção nem, sequer, de receber crítica séria. Por isto, também, alguns dirigentes políticos israelenses estabelecem hoje um verdadeiro apartheid.

O que o leva a dizer isto?

Tomemos o exemplo da água, que é bem escasso e precioso nesta região semi-árida. Se se consideram as fronteiras de 1967, a Cisjordânia pode contar com, em média, 936 milhões de metros cúbicos de água. Mas só 132 milhões estão concretamente acessíveis aos palestinos. O restante, 804 milhões de metros cúbicos, são reservados aos colonos israelenses. Isto significa que um palestino só pode usar, por ano, 50 metros cúbicos de água para todas as necessidades da vida: para beber, lavar-se, cozinhar, para a agricultura, a indústria etc. Por outro lado, cada colono ilegal tem garantidos, por ano, 2.400 metros cúbicos de água, 48 vezes mais! É um escândalo.

Ironia cruel é que, além do mais, são os palestinos que, essencialmente, financiam esta água. Cada palestino paga 5 shekels [cerca de 1 euro] por unidade de água, quando, pela mesma unidade, um colono paga menos da metade deste preço.

O senhor pode citar outro exemplo?

Sim. Acontece o mesmo, também, em matéria de energia. Ao longo dos últimos anos, as autoridades israelenses destruíram a única empresa que produzia energia elétrica na Cisjordânia. Começaram por proibir que a empresa comprasse novos geradores. Depois, obrigaram-na a fornecer energia aos colonos por preço reduzido. Resultado: a empresa perdeu condições de continuar a produzir eletricidade e ficou obrigada a comprar a eletricidade vendida em Israel. Conseqüência disto é que, hoje, a Cisjordânia importa de Israel toda a energia que consome. Também neste caso a energia é vendida aos palestinos por preço duas vezes superior ao cobrado dos colonos. Os colonos pagam, por unidade de energia elétrica, apenas 6,3 shekels; pela mesma unidade, os palestinos pagam 13 shekels.

Assim, os palestinos contribuem para financiar a própria colonização. O que é ainda mais injusto, porque há diferença abissal entre a riqueza de Israel e a miséria dos palestinos. Há quatro anos, a renda anual média por habitante, na Palestina, equivalia a 1.600 dólares (cerca de 1.000 euros). Hoje, não passa de 800 dólares. A renda anual média por habitante, em Israel, já chega a 24 mil dólares. É 36 vezes maior!

Apesar desta enorme disparidade, os palestinos são obrigados a importar de Israel a maior parte dos produtos que consomem. Ao preço de mercado, fixado conforme o padrão de vida israelense. Em resumo, temos de viver com produtos tão caros quanto em Israel. E nossa renda é 36 vezes menor...

Uma das "inovações" da ocupação israelense é a segregação de estradas Se eu tomar uma via para israelenses, serei imediatamente preso e condenado a seis meses de prisão — ainda que esteja a pé

Quando o senhor disse “apartheid”, supus que falasse da barreira de separação.

Sim, também há este Muro do Apartheid e mais centenas de pontos de controle, que impedem a livre circulação dos palestinos. E há, sobretudo, uma “segregação de estradas”. É uma inacreditável medida de discriminação, que jamais se adotou antes, em país algum. É uma das inovações da ocupação israelense. Não houve, sequer, na África do Sul em tempos de apartheid; nem nos EUA em tempos de segregação racial. Nestes países houve, sim, linhas de ônibus diferentes para brancos e para negros, ou bancos diferentes, nos mesmos ônibus, para brancos e para negros. Mas os ônibus circulavam pelas mesmas estradas.

Na Palestina, as autoridades israelenses de ocupação construíram estradas reservadas exclusivamente aos colonos e aos israelenses. São interditadas ao tráfego de palestinos. Se eu, por exemplo, embora deputado do Parlamento palestino e ex-ministro, tomar uma destas estradas – e mesmo que esteja a pé – serei imediatamente preso e condenado a seis meses de prisão.

A mesma segregação aplica-se aos palestinos de Jerusalém Leste. Que sequer saíram de suas casas. São palestinos que vivem há séculos em Jerusalém. Eles não se mudaram para Israel. Aconteceu que, um dia, em 1967, Israel, por conquista militar, "mudou-se” para lá. E então, imediatamente, cerca de 340 mil palestinos passaram a ser “residentes temporários”.

O que significa isto?

Significa sursis [2]. A qualquer momento, poderão ter cassado o direito de residir em Jerusalém. Um exemplo: só muito raramente Israel fornece autorização para construir, a palestinos residentes em Jerusalém Leste — e sempre depois de muita demora e longas obstruções. Se um daqueles palestinos decidir construir uma casa na Cisjordânia, porque quer se casar ou por outro motivo qualquer, perderá, imediatamente, o direito de residir em Jerusalém, onde nasceu!

Ao mesmo tempo, um judeu, recém-chegado de qualquer parte do mundo, recebe imediatamente, ao chegar a Israel, a cidadania israelense e o direito a uma casa na Cisjordânia, se quiser. A partir do instante em que ponha os pés em Israel, esta pessoa tem mais direitos que um palestino nascido aqui, cuja família vive aqui há séculos, quando não há milênios.

Há séculos, se não há milênios, os judeus têm sido vítimas de segregação, de perseguição, de racismo. Na Europa, foram vítimas, até, de uma monstruosa tentativa de exterminação. Não é normal que Israel acolha todos os que desejem viver protegidos contra o anti-semitismo?

Sou o primeiro a condenar o anti-semitismo e a reconhecer que os judeus sofreram terrivelmente, no genocídio pelos nazistas. Como meu amigo Edward Said, digo que nós, palestinos, temos de ter consciência de que o Holocausto foi um crime monstruoso. Mas isto não significa, de modo algum, aceitar a idéia de que o genocídio absolveria o sionismo, e justificaria os sofrimentos infligidos aos palestinos.

O fato de ter sofrido tantas perseguições não dá aos judeus o direito de praticar, por sua vez, uma política de ocupação, contra um povo ao qual não se pode atribuir qualquer responsabilidade pelos crimes cometidos contra os judeus. Aqui e agora, é Israel, sua política de segregação e de injustiça, que rouba milhares de vidas palestinas. Eu acrescentaria que os que nos perseguem hoje não são as vítimas diretas do Holocausto. Tenho quase certeza de que, se soubessem o que os palestinos estão sofrendo, os judeus de hoje não aceitariam as políticas de Israel. O que sofremos hoje os faria lembrar os próprios sofrimentos pelos quais passaram os judeus.

Há famílias palestinas nas quais marido e mulher não podem viver juntos. Se um deles, por exemplo, sair de Jerusalém Leste para encontrar o outro na Cisjordânia, perderá o direito de residente e, portanto, seu ganha-pão, em Jerusalém. É terrível.

Ainda mais terrível é o silêncio internacional, diante de todas estas injustiças. Chegamos a pensar que o mundo não quer tomar conhecimento de nossa tragédia. Que fechou olhos, boca e orelhas. A desgraça palestina está órfã.

A Palestina precisa de uma alternativa. Propomos uma saída não-fundamentalista, e somos pela não-violência. Mas não nos opomos à resistência: ela é legítima, desde que não faça vítimas entre os civis

Fale-me sobre sua organização, Al-Mubadara, a Iniciativa Nacional Palestina.

Com um dos fundadores da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o Dr. Haidar Abdel-Shafi [falecido em 25/9/2007], com Ibrahim Dakkak, Edward Said e outros intelectuais, decidimos, em junho de 2002, fundar este novo movimento, a Iniciativa Nacional Palestina (INP) .

Estávamos chocados com os acordos de Oslo, de 1993. Participei da delegação palestina à Conferência de Madrid, em 1991. Oslo não passou de instrumento para nos enganar. O verdadeiro objetivo de Oslo foi desmantelar o projeto palestino de soberania. Os acordos de Oslo substituíram a idéia de independência e soberania, pela idéia da Autoridade Palestina. Foi um truque, um golpe-de-mão. Na prática, Oslo tentou criar um bantustão [3].

Por que a OLP aceitou firmar aqueles acordos?

Penso que a OLP foi apanhada numa armadilha. De fato, Yasser Arafat estava muito inquieto. Ao tornar-se presidente da nova Autoridade, deixaria de ser chefe da OLP. Mas tampouco desejava criar um líder alternativo, permitindo que se elegesse um novo chefe que o substituísse à frente da OLP. Por isto preferiu diluir sua organização no bojo da Autoridade Palestina.

O senhor, várias vezes, acusou de corrupção a Autoridade Palestina.

Sim, temos denunciado uma grande corrupção. Corrupção que, indiscutivelmente, é encorajada por Israel, que deu à Autoridade palestina o monopólio de inúmeros serviços e obras. Isto, inevitavelmente, levaria, como levou, a fraudes, extorsões, enriquecimentos ilícitos. Então, muitos cidadãos desiludiram-se e voltaram-se para o Hamás, organização que, sim, é fundamentalista, mas que, a partir de uma posição de integridade, denunciava a desonestidade e o aviltamento moral da Autoridade Palestina.

A Iniciativa Nacional Palestina representa uma solução, uma alternativa, à Autoridade Palestina?

Não só à Autoridade. Pensamos que a Palestina carece, sim, de uma alternativa. Mas que não seja fundamentalista. Propomos uma alternativa não-fundamentalista. E somos pela não-violência. Mas não nos opomos à resistência. Porque a resistência, de um povo que vive sob ocupação é legítima, reconhecida e autorizada também pelo Direito internacional, desde que não faça vítimas entre os civis.

A Iniciativa Nacional Palestina prega a resistência não-violenta?

Sim. Nossa idéia é a resistência não-violenta, de massas. Penso, por exemplo, na primeira Intifada ou “a guerra das pedradas”, iniciada em dezembro de 1987, que salvou a OLP do desastre. É um bom exemplo de resistência não-violenta, de massas.

Se tivéssemos podido concluir as negociações com Israel naquele momento, sem desperdiçar os resultados da primeira Intifada [que durou até setembro de 1993], não teria havido Oslo, e teríamos uma paz sustentável. Mas os israelenses optaram por assinar aqueles acordos com uma liderança da OLP que, naquele momento, estava enfraquecida.

Hoje, a maioria dos palestinos está decepcionada, reduzida a uma escolha binária: ou o Fatah, subserviente e corrupto, ou o Hamás, religioso fundamentalista. A Iniciativa Nacional Palestina constitui uma alternativa, para conduzir a resistência.

O senhor acredita que a resistência não-violenta seja opção realista?

Temos de entender bem. Partimos de uma estratégia de quatro faces: 1) fomentar a resistência não-violenta, de massas; 2) ajudar a população a resistir, estimulando as forças de cada um e ajudando na vida diária; 3) buscar apoio em forte movimento de solidariedade internacional, como o que houve contra o apartheid na África do Sul; e 4) sob liderança unificada.

O fracasso do mundo árabe é conseqüência de não haver um único regime realmente democrático. Politicamente desprezados e socialmente empobrecidos, os cidadãos voltam-se ao fundamentalismo religioso

De que modo o senhor espera alcançar a massa-crítica necessária para que sua estratégia dê resultados?

O Fatah e o Hamás dependem da força. Queremos a democracia. A questão da democracia é decisiva para nós. A democracia é condição fundamental para que haja paz. A paz só será durável e sustentável se for negociada entre formações democráticas. Nenhum partido pode impor-se aos demais pela força. Não há nem jamais haverá democracia se o poder político depender da força. Seja em Gaza seja na Cisjordânia, nem o Hamás nem o Fatah são democráticos. Em vez de gastar energia disputando entre eles os cargos da administração, o Hamás e o Fatah melhor fariam se apostassem na democracia. A verdade é que os dois partidos praticam modalidades particularmente inaceitáveis de violência interna: o clientelismo e o nepotismo.

Quanto a isto, a INP é muito diferente do Hamás e do Fatah, que permanecem enraizados nos defeitos e desvios da sociedade tradicional. Seus partidos tendem a converter-se em tribos. Não digo que as duas organizações sejam idênticas; há diferenças entre elas. O Hamás, por exemplo, não é corrompido e, no plano político, é partido muito coerente. Mas há pontos em que os dois são semelhantes. Sobretudo, porque ambos tendem ou ao clientelismo ou ao nepotismo.

Quais são suas chances de sucesso?

O futuro depende de nossa capacidade para convencer os palestinos quanto à eficácia de nossa estratégia de quatro pontos, de que já falamos. Além disto, temos uma agenda social. Exigimos respeito ao Estado de direito, aos direitos ligados à cidadania, aos direitos das mulheres, das crianças, dos portadores de deficiências, aos direitos sociais. Em resumo, respeito integral aos direitos humanos. E entendemos que esta agenda social deve estar diretamente articulada à nossa agenda política.

Que fórmula política o senhor preconiza, para pôr fim a este conflito interminável?

Somos pela solução dos dois Estados, que nos parece a melhor. É o modo mais fácil de pôr fim a tantos sofrimentos. Mas não sei se esta solução ainda é viável. Porque, para implementar a solução dos dois Estados, Israel tem de demolir o Muro do apartheid, parar definitivamente a colonização e demolir os prédios dos colonos — o que jamais fez. E prossegue a colonização, selvagem ou autorizada. Continuam a construir prédios e a colonização, na verdade, está avançando. Entre 1993 e 2006, o número de colonos mais que duplicou. São mais de 230 mil em Jerusalém Leste e mais de 250 mil na Cisjordânia. Já são 25% da população da Cisjordânia e ocupam mais de 40% de nosso território. Se isto continuar, não se pode prever o que acontecerá. O que posso garantir é que os palestinos jamais aceitarão que os convertam em alguma espécie de escravos de um bantustão.

Ao mesmo tempo, posso também garantir que, se os israelenses aceitarem a solução dos dois Estados, nos termos da Conferência de Madri, os palestinos a aceitarão. Até o Hamás aceitará.

E se não aceitarem?

Neste caso, resta a solução de um só Estado, no qual co-habitem israelenses e palestinos. Esta solução só será viável se este Estado for realmente democrático, sem segregação nem discriminações. Mas, em termos profundos, sinto que devemos nos preparar para uma longa luta contra um novo tipo de apartheid.

O que os palestinos e os Estados árabes podem esperar?

O mundo árabe está dividido, manipulado, também, por Israel, que é o adversário mais astuto que o mundo árabe jamais enfrentou. Está em condições lastimáveis, por razões internas: ausência de democracia, regimes instáveis. E por serem instáveis e vulneráveis, estes regimes precisam do Ocidente.

O fracasso do mundo árabe é conseqüência de não haver, em todo o mundo árabe, um único regime realmente democrático. Politicamente desprezados e socialmente empobrecidos, os cidadãos voltam-se ao fundamentalismo religioso. Mas é preciso lembrar que o mundo árabe também é caracterizado pela ausência de inúmeros direitos – sobretudo os direitos da mulher e dos mais jovens. Ora, a população é muito jovem. Na Palestina, por exemplo, 70% dos habitantes têm menos de 30 anos. Estes jovens precisam de mudanças, de novas visões de mundo, de perspectivas novas — em resumo, de esperança. E nada vêem à frente. Se não lhes oferecermos alguma esperança, os jovens vão, eles também, aderir ao fundamentalismo. Um dos problemas dos principais partidos árabes tradicionais é que não fazem o trabalho de formação da juventude. Assim, deixam o campo livre para a ação dos movimentos religiosos.

A opção por permanecer aqui é o maior acerto estratégico dos palestinos. O povo a tomou espontaneamente. Nossa sociedade é mais avançada que os dirigentes e mantém viva uma incrível atitude de resistir, de recomeçar

Em março de 2002, na Cúpula Árabe de Beirute, a Arábia Saudita propôs uma “iniciativa de paz árabe”. O senhor acha que esta proposta continua atual?

A “iniciativa de paz árabe” prevê três pontos: 1) o fim da ocupação por Israel, da Cisjordânia, de Jerusalém Leste, da Faixa de Gaza e do Golan; 2) o direito de retorno, para os refugiados palestinos; e 3) sendo atendidos estes dois primeiros pontos, Israel será reconhecido pelo conjunto do mundo árabe.

Mas Israel não deseja esta solução. Basta ver que sua reação a esta proposta foi reocupar a Cisjordânia, cometendo um massacre. Em seguida, em abril de 2003, os EUA tiraram da cartola o “Mapa do Caminho”, com o objetivo, precisamente, de neutralizar a “iniciativa de paz árabe”. Seja como for, a experiência mostra que Israel destrói sistematicamente qualquer possibilidade de haver um Estado palestino independente e viável.

E, de modo geral, o mundo árabe deixa barato...

Exatamente. Sobretudo, porque há enorme contradição entre as ambições dos líderes árabes, de um lado, e, de outro lado, as aspirações das sociedades árabes. Os dirigentes vivem quase sempre separados do povo e desconfiam do povo.

Há extremistas, em Israel, que propõem expulsar os palestinos para além do rio Jordão. Isto o preocupa?

Expulsar os palestinos é, sim, o objetivo manifesto dos extremistas israelenses. Mas é também o objetivo dissimulado, oculto, mascarado, de todo o establishment israelense. Evidentemente, não podem fazer abertamente o que fizeram em 1948 – como Ilan Pappé, historiador israelense, denunciou magistralmente. Hoje, limitam-se a criar condições de vida que são insuportáveis para os palestinos. Estão apostando no desalento, na desesperança, no cansaço, no medo. Estão apostando na idéia de que, dado que a vida torna-se literalmente impossível aqui, os palestinos partirão, mais dia menos dia. Estimulam os palestinos a partir, a emigrar.

Atualmente, os israelenses gostariam de anexar Gaza ao Egito, como antes de 1967, para se desembaraçar de 40% do problema palestino.

Em 1967, ante o avanço fulgurante das forças armadas de Israel, alguns palestinos partiram. Mas a maioria ficou. Porque lembraram-se dos que fugiram em 1948 e que estão, até hoje — aqui mesmo, na Cisjordânia, em Gaza, no Líbano ou na Jordânia — em campos de refugiados. Não quiseram sofrer a mesma humilhação nem passar pelo calvário pelo qual ainda passam os refugiados-expulsos de 1948.

O senhor tinha 13 anos em 1967. Lembra-se da chegada das forças israelenses?

Sim, é claro. Era muito jovem, mas lembro que meu pai nos disse: “Nós ficaremos. Não nos moveremos daqui. Melhor morrer na nossa terra, do que como errantes sem teto.” A escolha por não nos mover daqui é o maior acerto estratégico dos palestinos. Ironia, sim, é que seja estratégia muito bem-sucedida que não foi pensada ou decidida por qualquer equipe de especialistas. Foi decisão coletiva que o povo tomou espontaneamente. Como a primeira Intifada, iniciada em dezembro de 1987. Isto mostra que o povo palestino está mais avançado que os dirigentes. E que mantém viva uma incrível atitude de resistir, de recomeçar.

Em 1967, não partimos. Os israelenses não conseguiram assustar-nos para expulsar-nos. Continuamos aqui.

Em meio a tanta violência, por que o senhor ainda aposta na não-violência? Seu projeto não lhe parece um pouco utópico?

Muita gente diz que Israel só entende o idioma da força. Neste sentido, Israel comporta-se como todas as demais potências coloniais. Nenhum Estado colonialista jamais entendeu por que os colonizados queriam vê-lo pelas costas. Aconteceu, por exemplo, com o Estado francês na Argélia, com o Estado inglês na Índia, no Quênia, no Iêmen.

Mas para mim, não há só a força militar. Foi a força da não-violência que pôs fim ao colonialismo na Índia e ao regime racista do apartheid na África do Sul.

Se conseguirmos mobilizar uma maioria de cidadãos palestinos, a favor da idéia de uma resistência de massa, não-violenta, creio que começaremos a ter paz nesta região. Uma paz justa para os dois lados, fundada em justiça e democracia. E que nos leve a uma prosperidade partilhada.

Tradução: Caia Fittipaldi
caia.fittipaldi@uol.com.br