sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Le Monde diplomatique Brasil

Josetxo Ezcurra - Rebelion

Sobre Gaza, sobre Israel, sobre nós


O direito dos Estados está acima do direito dos povos. Entre Israel e Palestina, um lobby israelense em Washington. Está feita a declaração: aos que querem a terra, ela lhe será dada, uma cova rasa, mais exatamente. Mas não se iludam: Somos todos Palestinos!

Sílvia Ferabolli, Cláudio César Dutra de Souza




Aqui na Europa, manifestações eclodiram por toda parte. Em Paris, uma marcha contra o holocausto palestino reuniu quase 100 mil pessoas. Em Londres, prédios universitários foram ocupados e milhares de estudantes reuniram-se em frente à embaixada israelense exigindo o fim do massacre contra o povo palestino. Outras capitais européias também assistiram várias formas de mobilização popular contra o avanço de Israel sobre o mais famoso bantustão do mundo – a Faixa de Gaza, o campo de extermínio daqueles que vivem a luta e morrem pela causa palestina.

Infelizmente, os milhões de cidadãos que expressaram sua repulsa contra a política israelense em manifestações que varreram o globo, não encontraram eco em suas ações por parte de seus chefes de Estado. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi o único líder de uma nação que ousou ouvir o clamor popular e expulsou o embaixador israelense de seu país. Tivessem outras lideranças seguido o exemplo de Chávez na América Latina, África, Ásia, Europa e América do Norte, o isolamento diplomático israelense seria tamanho que não haveria alternativa a Tel-Aviv a não ser o recuo. Contudo, esse não foi o caso. Para além dos clássicos e inócuos chamados de paz, nenhum presidente, primeiro-ministro, rei, chanceler ou sultão ousou desafiar Israel com aquela que é uma das mais radicais armas que a diplomacia internacional possui: a ruptura das relações diplomáticas e o erigir de pesadas sanções políticas e econômicas.

Para entender a apatia da diplomacia internacional frente às ações de política externa israelense é necessário compreender como funciona a ordem internacional e como ela é promotora e perpetuadora de relações de dominação entre Estados opressores e povos oprimidos.

Vivemos dentro de uma lógica política internacional onde o direito dos Estados está acima do direito dos povos. Israel, como um Estado, teria o direito de se defender contra aquilo que ele considera ser uma ameaça a sua sobrevivência estatal, nesse caso, as ações do Hamas. Os palestinos, por seu turno, não possuem um Estado e, portanto, nenhum direito dentro de uma lógica estatal internacional perversa que nega aos povos do mundo qualquer direito para além daquele que seu próprio Estado lhe provém. Fora do Estado, a vida não é possível, já sentenciava Thomas Hobbes, o pai do pensamento realista, e dominante, das Relações Internacionais.

O grande problema que emerge dessa constatação é que embora os Estados interajam em um sistema anárquico, onde não existe uma autoridade central e cada Estado é soberano e, portanto, dono do direito de agir como melhor lhe convir, existe, sim, aquilo que se chama de ordem internacional, cuja responsabilidade pela sua manutenção é das grandes potências. Na atual configuração sistêmica que, embora apresente alguns contornos multipolares no campo econômico, em termos de liderança política e estratégica, é claramente unipolar. Só há um país capaz de fazer Israel parar – os Estados Unidos da América. E por que não o fazem? John Mearsheimer e Stephen Walt, já em 2006, ofereciam uma resposta: o lobby israelense em Washington.

Numa tentativa de compreender o porquê dos Estados Unidos comprometerem seus imperativos de interesse nacional no Oriente Médio pelo massivo apoio a Israel, mesmo quando esse deixa de ser um patrimônio estratégico com o fim da Guerra Fria, Mearsheimer e Walt acabam por revelar uma história de bastidores movida a bilhões de dólares de grupos lobistas israelenses e sustentada por uma poderosa indústria do holocausto. Para aqueles que insistem em ver Israel como um pequeno David que luta para se defender do monstruoso Golias representado pelos árabes-palestinos, selecionamos alguns pontos da obra The Israel Lobby in Washington, que podem lançar luz sobre o atual debate em torno da política expansionista israelense e a condescendência norte-americana para com seu aliado incondicional no Oriente Médio.
“Depois da formação de um grande exército, na esteira do estabelecimento de nosso Estado, nós aboliremos a partilha e expandiremos nosso Estado para toda a Palestina”

No que concerne à suposta fraqueza israelense, Mearsheimer e Walt argumentam que ela é inverídica, na medida em que Israel derrotou os árabes nas Guerras de 1948-49 e 1967, sem a ajuda de forças externas. Foi após essa última vitória que Israel começou a ser considerado um patrimônio estratégico para os Estados Unidos. Conseqüentemente, começou a receber ajuda financeira norte-americana - Israel é o maior receptor de ajuda externa estadunidense no mundo, imediatamente seguido pelo Egito, cuja ajuda está condicionada à manutenção de relações diplomáticas com Israel, enquanto a ajuda aos israelenses não prevê nenhum condicionante.

Quanto ao fator democracia, tal argumento se enfraquece por aspectos da democracia israelense que são estranhos aos valores fundamentais ocidentais: Israel foi explicitamente fundado como um Estado judaico e a cidadania é baseada no princípio da consangüinidade. Dado esse conceito de cidadania, não se estranha que os 1,3 milhões de árabes-israelenses sejam tratados como cidadãos de segunda classe.

Quanto ao Holocausto, os autores argumentam que não há dúvida de que os judeus sofreram historicamente devido ao anti-semitismo e que a criação do Estado de Israel foi, sim, uma resposta apropriada a um longo histórico de crimes contra o povo judaico. Porém, a criação de Israel envolveu crimes adicionais contra um povo absolutamente inocente: os palestinos.

Especificamente no que concerne à disposição de Israel de aceitar a criação de um Estado palestino, dentro da lógica “segurança para Israel e justiça para os palestinos”, como se fosse possível conciliar os imperativos de segurança israelense com o direito à existência do povo palestino, Mearsheimer e Walt nos informam que nunca houve, na proposta sionista, a intenção de dividir o território da Palestina em dois Estados. Como Ben-Gurion sentenciou no final dos anos 1930: “Depois da formação de um grande exército, na esteira do estabelecimento de nosso Estado, nós aboliremos a partilha e expandiremos nosso Estado para toda a Palestina”. Ou seja, desde o princípio, aceitar a idéia de dois Estados foi apenas uma manobra tática israelense, não um objetivo real. Ainda, para alcançar o objetivo de fundação de seu Estado, os sionistas teriam de expulsar um grande número de árabes do território que viria a se tornar Israel. Ben-Gurion viu esse problema claramente já em 1941: “É impossível imaginar a evacuação geral da população árabe senão pela força – e força brutal!” Essa oportunidade veio com a Guerra de Independência (1948-49), quando as forças israelenses forçaram o exílio de mais de 700 mil palestinos. Ou seja, se o povo que formou originalmente o Estado israelense sofreu, também fez, e faz, outro povo sofrer tanto ou mais.
“Os judeus estão loucos”!

Por fim, a tese dos “israelenses virtuosos” versus os “árabes malditos”. De acordo com Mearsheimer e Walt, acadêmicos israelenses de esquerda têm mostrado que os sionistas foram qualquer coisa, menos benevolentes com os árabes-palestinos. A resposta sionista à resistência palestina à criação do Estado de Israel envolveu atos explícitos de limpeza étnica, incluindo execuções, massacres e estupros. A média de mortes nesses mais de 60 anos de conflito é de 3.4 palestinos mortos para cada israelense – a proporção de mortes de crianças é de 5.7 crianças palestinas mortas para cada uma israelense. Tanto é que Ehud Barak uma vez admitiu que se ele tivesse nascido palestino, certamente teria se juntado a uma organização terrorista. Talvez, dissesse melhor, e com mais clareza, uma organização de resistência á uma ocupação externa.

A reflexão de Nidal Basal, um menino palestino de 12 anos, feita durante o período mais intenso das ações militares israelenses na Faixa de Gaza, reflete a perplexidade de milhões de cidadãos pelo mundo. Em resposta a Nidal, esclarecemos que Israel não enlouqueceu, malgrados os bombardeios contra escolas da ONU e a proibição de evacuação civil da região. Dificilmente poderíamos crer que ações militares planejadas e postas em prática em um período do ano em que o presidente da União Européia, Nicolas Sarkozy, em final de mandato, tira férias no Brasil e que o governo dos Estados Unidos vive uma transição de poder, sejam atos impensados de loucura e selvageria despropositada. Nesse caso, haveria atenuantes, como na justiça criminal, ao julgar um cidadão que tenha agido sob “forte emoção” ou que estivesse em algum estado alterado de consciência. Ao contrário, se há premeditação, motivos torpes ou incapacidade de defesa da vítima tudo isso constitui-se em agravantes que poderiam gerar penas mais severas em um julgamento criminal.

Contudo, poderíamos pensar que, ao invés de indivíduos mentalmente perturbados, estivéssemos à mercê de burocratas frios, cuja presença do “outro” fosse apenas um detalhe incômodo entre um objetivo matematicamente traçado e a sua efetiva concretização. Compreendemos com Hannah Arendt a banalidade do mal e nos chocamos profundamente ao pensarmos no quanto os mais perigosos assassinos podem ser pessoas tão afáveis e cultas, que apreciam a arte e amam as crianças e os animais. Eichmann em seu julgamento em Jerusalém nada mais fez do que mostrar-se um burocrata obediente às ordens de seu chefe, mesmo que elas fossem o extermínio de um povo. Assassinos podem ser pessoas muito agradáveis e cordatas. Podem ser eu ou você em uma situação específica tal como a situação de guerra quando o inimigo é todo aquele que não utiliza o nosso uniforme e nem compactua de nossa ideologia.
Itzhak Shamir chamava os palestinos de “gafanhotos”. O general Raphael Eitn, de “baratas”. O Ministro da Defesa, Ben-Eliezer, os definiu como “piolhos” ...

Como pode um Estado considerado uma democracia tão avançada e com expoentes intelectuais de alto calibre perpetrar atos como esses que assistimos na Faixa de Gaza, onde a matança indiscriminada de civis inocentes de forma cruel e arbitrária coloca Israel par a par com as piores das históricas ditaduras do Terceiro Mundo? Em Gaza, uma população encontra-se à mercê de um Estado anômico e sociopático que age premeditada e milimetricamente no intuito de exterminar o maior número de seres humanos contrários aos seus planos expansionistas e imperiais. Todavia, o discurso manifesto é o de eliminar a ameaça terrorista do Hamas (democraticamente eleito e, portanto, apoiado por grande parte dos palestinos). Contudo, é de se perguntar como reconhecer os membros do Hamas no meio da massa indistinta no território de Gaza. Eles usam uniformes, estão reunidos em uma sede oficial a decidir os rumos de sua atuação presente e futura? É evidente que não. Em Gaza, cada cidadão é potencialmente um apoiador, um simpatizante ou possui algum conhecido dentro do Hamas, logo, cada ser humano é um alvo em potencial.

Falamos em seres humanos, mas aqui cabe uma correção, pois os palestinos não parecem estar classificados nessa condição, segundo o ponto de vista de diversos líderes israelenses. Itzhak Shamir os chamava de “gafanhotos”. O general Raphael Eitn os chamou de “baratas”. O Ministro da Defesa, Ben-Eliezer, os definiu como “piolhos” e para o ex-primeiro-ministro Menahem Begin, os palestinos eram “bestas caminhando sobre dois pés”. Por fim, a primeira-ministra Golda Meir chamava-os de “animais de duas patas”. Para Ehud Olmert eles seriam o que nesse exato momento? Certamente, qualquer coisa, menos humanos.

Alguém acredita que o Estado de Israel corre um sério perigo que ameaça efetivamente a sua existência? O Hamas tem um poder definitivamente devastador e que pode causar sérios danos à infra-estrutura e aos cidadões israelenses, motivo mais do que suficiente para um ataque desse porte? As armas que o Hamas possui são modernas e letais e isso constitui-se em um motivo plenamente justificável para que os corpos de palestinos inocentes apodreçam a céu aberto? A resposta a todas essas perguntas é evidentemente negativa e só Israel e os Estados Unidos têm o cinismo de sustentá-las seriamente.

Convencionando que a paz (para si) é um dos objetivos de Israel, aliado com a sua lendária necessidade de segurança, convém lembrar que a paz e a prosperidade caminham de mãos dadas. Após esses trágicos bombardeios, justificáveis tão somente dentro da ótica distorcida do agressor, o proto-Estado palestino vai demorar vários anos para conseguir retornar ao grau de miserabilidade anterior a dezembro de 2008. Sem contar o luto das famílias que perderam seus entes queridos, suas casas, sua história e sua dignidade. Os cemitérios são, sem dúvida, locais em que existe uma grande paz, afinal, os mortos não têm necessidades, queixas ou reivindicações de qualquer ordem. Aos que querem a terra, ela lhe será dada, uma cova rasa, mais exatamente. Como a paz poderá ser feita nessas condições é algo que nos perguntamos e que os líderes israelenses nunca respondem de forma conveniente. O que sabemos, com certeza, é que o governo norte-americano é tão responsável pela atual política genocida israelense contra os palestinos quanto os são as lideranças sionistas dentro e fora de Israel. Os Estados Unidos podem, mas optam por não parar Israel, temendo a reação de um lobby que, pelo poder financeiro de seus membros e a ideologia da indústria do holocausto, ameaça não só tornar Israel o ator central de um teatro de horrores que envergonha a humanidade como também acabar, definitivamente, com a legitimidade da já cambaleante Organização das Nações Unidas.

Não tenhamos ilusões quanto à capacidade de influência dos milhões de cidadãos espalhados pelo mundo que saíram às ruas para protestar contra o flagelo impetrado aos palestinos em nome da pax israelense, que encontra na pax americana a sua parceira ideal no perpetrar de crimes de guerra. Enquanto a lógica que dominar o mundo for aquela do direito dos Estados e não a do direito dos povos, nossa voz não será ouvida e o futuro da humanidade – o nosso futuro – será decidido à nossa revelia. Não nos iludamos: SOMOS TODOS PALESTINOS!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

genocidio de Gaza...

Gaza: "Uma enorme derrota para Israel"

por Jean Bricmont
Entrevistado por Leila Lallali [*]

Qual é sua opinião sobre a situação atual na Faixa de Gaza?

Penso que é importante constatar que, além dos horrores cometidos e dos sofrimentos suportados, trata-se de uma enorme derrota para Israel. Não podemos avaliar quem ganha ou quem perde se não levarmos em conta as relações de força aí envolvidas. É quando Moscou ou Leningrado resistem aos alemães que estes perdem, bem antes de Stalingrado. Ora, no caso de Gaza, as relações de força são ainda mais desequilibradas do que no Líbano em 2006, e, entretanto, Israel não ganha, então sua derrota é ainda maior. Com efeito, é preciso compreender o que seria para Israel ganhar (o que se passou mais ou menos em 1967): soldados que se rendem ou fogem, dirigentes do Hamas presos e levados a Israel para serem julgados como "terroristas". Ora, nada disso se passa em Gaza. Ademais, é preciso ter em conta o efeito ideológico ligado à monstruosidade dos crimes, à revolta que eles inspiram, não somente no mundo árabe, mas em todo o "terceiro mundo", e também, em parte, na Europa. É preciso reconhecer o valor da emissora de televisão Al Jazeerah, e também da Internet, que permitiram que as pessoas realmente se informassem.

O senhor pensa que a agressão israelense a Gaza foi causada pelos foguetes do Hamas, ou existem outros objetivos?

Israel não me mantém informado de seus planos secretos, e, enquanto cientista, não gosto de especular muito. Então, não sei nada sobre isso. Há talvez objetivos eleitorais. O que é evidente é que os tiros de foguete, situados em um contexto global, não podem justificar a agressão. É evidente que teria sido necessário abandonar o bloqueio e negociar com o Hamas. Também evidente, e inquietante, é o fato de que nós mal podemos ver que objetivo os israelenses perseguem e podem racionalmente esperar atingir. Qualquer observador objetivo se dá conta de que este ataque não pode senão reforçar o Hamas, assim como a hostilidade com relação a Israel. Há qualquer coisa de profundamente irracional nesta atitude israelense, e, de certo modo, é isso o que há de mais inquietante.

Israel desafia o mundo e a Organização das Nações Unidas não é capaz de impedir que isso ocorra; como fazer face a este Estado?

Primeiramente, é preciso compreender que a impotência das Nações Unidas deve-se inteiramente ao bloqueio dos Estados Unidos. A Assembléia Geral e mesmo o Conselho de Segurança podem ter boas posições (mas é preciso lembrar que há o direito de veto). Logicamente, visto a força militar de Israel, não é evidente que se pudesse agir neste plano. Entretanto, podemos utilizar a arma . As sanções dependem de estados e é pouco provável que a Europa e os Estados Unidos as adotem. Por outro lado, podemos admirar a atitude da Bolívia e da Venezuela que, embora situadas longe do conflito, adotam posições de princípio notáveis, e das quais poderíamos esperar que inspirem estados que são geográfica e culturalmente mais próximos da Palestina.

O boicote é uma arma cidadã, que se desenvolve muito fortemente na Grã-Bretanha. Ela foi utilizada com sucesso contra a África do Sul e eu não vejo por que, por fim, ela não poderia ser eficaz contra Israel.

Como se situa a Europa quanto ao que se passa na Faixa de Gaza?

De que Europa falamos? A senhora sabe, assim como eu, que a Europa não está unida (não mais que a Liga Árabe aliás) e que os governos não refletem suas opiniões públicas. Ademais, é preciso dar-se conta de que o problema central reside nos Estados Unidos, particularmente no Congresso e no Senado. A Europa tem muita dificuldade em tomar uma posição independente dos Estados Unidos e, mesmo se ela o fizesse, isso não mudaria grande coisa enquanto os Estados Unidos apoiam cegamente Israel. O que não quer dizer que a Europa não devesse fazer nada – se ela se distanciasse dos Estados Unidos quanto a esta questão, isso reforçaria aqueles que, nos Estados Unidos, pensam que o apoio a Israel custa caro demais para algo que não lhe diz respeito tanto assim.

Qual é o interesse da Europa em sustentar a agressão israelense a Gaza?

Quem lhe disse que ela age por interesse? Penso que, se refletirmos bem, ela não tem interesse algum a longo prazo em sustentar Israel (e em se alienar de tantas pessoas no mundo). Mas quem, entre os homens ou mulheres políticos europeus, ou homens ou mulheres de negócios, vai fazer esta análise? E quem, a supor que ele ou ela o faça, vai ousar dizê-lo? Não se pode compreender nada do que se passa na Europa e nos Estados Unidos enquanto não se leva em conta o fator do medo – medo das organizações sionistas, de suas campanhas de difamação e intimidação. É por isso que eu penso que as organizações de solidariedade deveriam antes de tudo combater este sentimento de medo, sustentando todos aqueles que dão passos, mesmo pequenos e mesmo imperfeitos, na boa direção, isto é, de mais independência com relação a Israel.

O senhor pensa que Barack Obama vai mudar a política americana, ou ele vai seguir os rastros de Bush?

Novamente, não gosto de fazer previsões – nós veremos; mas todos os sinais que Obama deu durante sua campanha mostram um apoio sem falha a Israel. Mesmo se nós supomos que era uma tática (pois ele sabia que não seria eleito se fosse abertamente contrário às organizações sionistas), é preciso não esquecer que um presidente não é um ditador e que ele deverá levar em conta essas mesmas relações de força às quais se submeteu completamente durante sua campanha. Além disso, o Congresso e o Senado acabam de votar uma resolução totalmente pró-israelense sobre o conflito em curso; se Obama tinha a menor intenção de mudar alguma coisa, ele está avisado de que tem duas câmaras contra si.

Como o senhor vê o futuro das relações internacionais sob a administração Obama?

Haverá sem dúvida mais "diplomacia", mas, como observa Chomsky, Condoleeza Rice falava também de diplomacia. Sobretudo a primeira administração Bush foi todo o tempo partidária da guerra, mesmo se sozinha contra o resto do mundo. Posteriormente, o discurso mudou, e mudará ainda mais com Obama. Mas, no fundo, o que realmente ocorrerá? Meu temor é de que o entusiasmo, em parte legítimo, provocado pela eleição de um negro faça calar os críticos da política americana ou, pior, que as vozes críticas sejam acusadas de racismo. O problema é que Obama terá muito mais "legitimidade" que Bush, ao menos se tomarmos este no fim de seu governo. Ora, o que limita a nocividade dos Estados Unidos não são as intenções de seus dirigentes, mas sobretudo a oposição popular à sua política, o que será muito mais difícil com Obama do que com Bush.

Para o povo palestino, a única esperança é de que a crise econômica leve a uma tomada de consciência, nos Estados Unidos, de que muitas coisas não vão bem em sua política e, na verdade, lhes causam danos; e uma das mais importantes destas é o apoio cego a Israel.

[*] Jornalista, argelina.

O original encontra-se em Ech-chourouk, edição de 21/janeiro/2009.
Créditos: www.resistir.info
A versão em francês encontra-se em http://www.legrandsoir.info/spip.php?article7934
Tradução: Fernanda Correia de Oliveira


Agencia Carta Maior


Balanço do Fórum e do outro mundo possível

Os que acreditam que o fim do Fórum Social Mundial é o intercâmbio de experiências devem estar contentes. Para os que chegaram a Belém angustiados com a necessidade de respostas urgentes aos grandes problemas que o mundo enfrenta, ficou a frustração, o sentimento de que a forma atual do FSM está esgotada, que se o FSM não quer se diluir na intranscendência, tem que mudar de forma e passar a direção para os movimentos sociais. A análise é de Emir Sader.

Um balanço do FSM de Belém não deve ser feito em função de si mesmo. Ele não nasceu como um fim em si mesmo, mas como um instrumento de luta para a construção do “outro mundo possível”. Nesse sentido, qual o balanço que pode ser feito do FSM de Belém, do ponto de vista da construção desse “outro mundo”, que não é outro senão o de superação do neoliberalismo, de um mundo pósneoliberal?

Duas fotos são significativas dos dilemas do FSM: uma, a dos 5 presidentes que compareceram ao FSM – Evo, Rafael Correa, Hugo Chavez, Lugo e Lula -, de mãos dadas no alto; a outra, a fria e burocrática de representantes de ONGs brasileiras em entrevista anunciando o FSM. Na primeira, governos que, em distintos níveis, colocam em prática políticas que identificaram, desde o seu nascimento, o FSM: a Alba, o Banco do Sul, a prioridade das políticas sociais, a regulamentação da circulação do capital financeiro, a Operação Milagre, as campanhas que terminaram com analfabetismo na Venezuela e na Bolívia, a formação das primeiras gerações de médicos pobres no continente, pelas Escolas Latinoamericanas de Medicina, a Unasul, o Conselho Sulamericano de Segurança, o gasoduto continental, a Telesul – entre outras. A cara nova e vitoriosa do FSM, nos avanços da construção do posneoliberalismo na América Latina.

Na outra, ONGs, entidades cuja natureza é fortemente questionada, pelo seu caráter ambíguo de “não-governamentais”, pelo caráter nem sempre transparente dos seus financiamentos, das suas “parcerias”, dos mecanismos de ingresso e de escolha dos seus dirigentes – a ponto que, em países como a Bolivia e a Venezuela, entre outros, as ONGs se agrupam majoritamente na oposição de direita aos governos. Sua própria atuação no espaço que definem como “sociedade civil” só aumenta essas ambigüidades. Entidades que tiveram um papel importante no inicio do FSM, mas que monopolizaram sua direção, constituindo-se, de forma totalmente não democrática, como maioria no Secretariado original, deixando os movimentos sociais, amplamente representativos, como a CUT e o MST, em minoria.

A partir do momento em que a luta antineoliberal passou de sua fase defensiva à de disputa de hegemonia e construção de alternativas de governo, o FSM passou enfrentar o desafio de se manter ainda sob a direção de ONGs ou passar finalmente ao protagonismo dos movimentos sociais. No FSM de Belém tivemos a primeira alternativa, no momento daquela fria e burocrática entrevista coletiva das ONGs. E tivemos, como contrapartida, sua formidável cara real, com os povos indígenas e o Forum PanAmazonico, com os movimentos camponeses e a Via Campesina, com os sindicatos e o Mundo do Trabalho, com os movimentos feministas e a Marcha Mundial das Mulheres, os movimentos negros, os movimentos de estudantes, os de jovens – com estes confirmando que são a grande maioria dos protagonistas do FSM.

O FSM transcorreu entre os dois, entre a riqueza, a diversidade e a liberdade dos seus espaços de debate, e as marcas das ONGS, refletidas na atomização absoluta dos temas, na inexistência de prioridades – terra, água, energia, regulação do capital financeiro, guerra e paz, papel do Estado, democratização da mídia, por exemplo. À questão: o que o FSM tem a dizer e a propor de alternativas diante da crise econômica global e diante dos epicentros de guerra – Palestina, Iraque, Afeganistão, Colômbia -, que propostas de construção de um modelo superados do neoliberalismo e de alternativas políticas e de paz para os conflitos, a resposta é um grande silêncio. Houve várias mesas sobre a crise, nem sequer articuladas entre si. As atividades, “autogestionadas”, significam que os que detêm recursos – ONGs normalmente entre eles – conseguem programar suas atividades, enquanto os movimentos sociais se vêem tolhidos de fazer na dimensão que poderiam fazê-lo, para projetar-se definitivamente como os protagonistas fundamentais do FSM.

Para os que acreditam que o fim do FSM é o intercâmbio de experiências, devem estar contentes. Para os que chegaram angustiados com a necessidade de respostas urgentes aos grandes problemas que o mundo enfrenta, a frustração, o sentimento de que a forma atual do FSM está esgotada, que se o FSM não quer se diluir na intranscendência, tem que mudar de forma e passar a direção para os movimentos sociais.

Surpreendente a quantidade e a diversidade de origem dos participantes, notáveis as participações dos movimentos indígenas e dos jovens, em particular, momento mais importante do FSM a presença dos presidentes – cujas políticas deveriam ter sido objeto de exposição e debate com os movimentos sociais de maneira muito mais ampla e profunda. Triste que todo esse caudal não fosse ouvido, nem sequer por internet, a respeito do próprio FSM, das duas formas de funcionamento, da sua continuidade – outro sintoma do envelhecimento das conduções burocráticas dadas ao FSM. No dia seguinte ao final do FSM, reuniu-se o Conselho Internacional, de maneira fria e desconectada do que foi efetivamente o FSM, em que cada um – seja desconhecida ONG ou importante movimento social – tinha direito a dois minutos para intervir.

O “Outro mundo possível” vai bem, obrigado. Enfrenta enormes desafios diante dos efeitos da crise, gestada no centro do capitalismo e para a qual se defendem bastante melhor os que participam dos processos de integração regional do que os que assinaram Tratados de Livre Comercio. Enfrentam a hegemonia do capital financeiro, a reorganização da direita na região, tendo no monopólio da mídia privada sua direção política e ideológica. Mas avança e deve-se se estender, sempre na América Latina, para El Salvado, com a provável vitória de Mauricio Funes, candidato favorito, da Frente Farabundo Marti à presidência, em 15 de março próximo.

Já não se pode dizer o mesmo do FSM, que parece girar em falso, não se colocar à altura da construção das alternativas com que se enfrentam governos latinoamericanos e da luta de outras forças para passar da resistência à disputa hegemônica. Para isso as ONGs e seus representantes tem, definitivamente, que passar a um papel menos protagônico no FSM, deixando que os movimentos sociais dêem e tônica. Que nunca mais existam conferências como aquela de Belém, que nunca mais ONGs se pronunciem em nome do FSM, que os movimentos sociais – trata-se do Forum Social Mundial – assumam a direção formal e real do FSM, para que a luta antineoliberal trilhe os caminhos da luta efetiva por “outro mundo possivel” – de que a América Latina é o berço privilegiado.



Fotos: Eduardo Seidl

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Isso é na Bolivia...e por aqui????

Para enfrentar guerra da informação, Bolívia lança jornal estatal

No dia 22 de janeiro, começou a circular na Bolívia mais um jornal, "El Cambio. Não se trata de mais um jornal, mas sim de um diário estatal. Segundo o diretor do novo diário, Delfin Arias Vargas, a missão do novo jornal não é a de ser governamental. "Esse jornal não pode ser do governo, ele é estatal. Estamos manejando a informação como pensamos que se deve, como um bem social ao qual o povo boliviano tem direito", explica Vargas.

LA PAZ - Em 22 de janeiro, mesma data em que o presidente Evo Morales Ayma completou três anos à frente do governo boliviano e apenas três dias antes do referendo popular que consagrou a nova Constituição do país, começou a circular na Bolívia mais um jornal, El Cambio. A ver: nao se trata de mais um jornal, mas sim de um diário estatal. "A verdade nos faz livres" é o mote que acompanha o título do jornal em sua capa. E foi de liberdade jornalística que falou Evo na entrevista em que lançou a publicaçao: "[Aos jornalistas do novo diário] lhes pedimos não tergiversar nem mal-interpretar, como fazem alguns meios de comunicação". "Todos mentem e por isso precisamos ter nosso próprio diário. Pela primeira vez o Estado terá seu próprio jornal, o qual será distribuído todo dia com a verdade."

O diretor do novo diário, Delfin Arias Vargas, explica que foram dois os estopins para a decisão de lançar o jornal: primeiro, a forte campanha dos meios de comunicação contra a nova Constituição, ao longo dos últimos meses; segundo, uma reportagem do jornal La Prensa, em dezembro, que acusou Evo de estar vinculado aos donos de 33 caminhões de contrabando que foram liberados de forma irregular num posto aduaneiro da região de Cobija - fato ocorrido em agosto. A relação de Evo com os criminosos seria provada por um vídeo distribuído por um deputado da oposição - ao qual o governo acusou de ter forjado a suposta prova.

Mas a missão do novo jornal, que vem sendo publicado em formato tablóide, com 16 páginas, não é a de ser "pró-governamental", diz Delfin, que encontramos na última sexta-feira em seu escritório ainda improvisado, nas dependências do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), no bairro de Sopocachi, em La Paz. "Esse jornal não pode ser do governo, ele é estatal. Estamos manejando a informação como pensamos que se deve, como um bem social ao qual o povo boliviano tem direito", vai explicando ele, em meio a interrupções de vários pedidos para assinar ordens de compra de materiais ou de gente que lhe avisa das providências que estão sendo tomadas para transformar o antigo depósito em uma redação jornalística. Pudera, entre a ordem de Evo para que fosse formado o diário, em 4 de janeiro, e ida de sua primeira edição às bancas, passaram-se meros 18 dias, segundo conta o jornalista.

A rapidez foi possível, conta ele, porque a base da equipe de El Cambio foi formada a partir dos profissionais da Agência Boliviana de Informação (ABI), a qual era comandada por Delfin até o inìcio do ano. Outra parte dos profissionais foi selecionada nas últimas semanas. "Aqui não há militantes, há jornalistas profissionais. Em nenhum momento se perguntou se eram filiados a algum partido ou movimento social, o que examinamos foi seu currículo profissional", conta ele, que, junto com parte dos demais jornalistas que chefiam a equipe de 30 pessoas, atuou nos anos 80 no jornal Presencia. Esse diário, conta ele, era ligado à Igreja Católica e foi referência de bom jornalismo no país até o início dos anos 90.

Depois da passagem pelo Presencia, Delfin conta que ainda atuou alguns anos na imprensa comercial do país, em jornais como La Razón e La Prensa: "Conheço de dentro como esses jornais manejam a informação. Antigamente ainda era possível atuar porque havia um respeito à notícia, não a manipulavam como agora, restringiam-se às páginas de opinião. Hoje estão lidando com a informação sem nenhum respeito, tratam-na como bem comercial, não social". A subida ao poder de Evo gerou efeitos poderosos na mídia comercial, segundo ele: "Esse respeito à informação ocorria quando não havia ameaca ao velho sistema político. Quando ele caiu, com o início do governo de Evo, os meios de comunicação viraram trincheiras, hoje eles fazem oposição política frontal".

O jornalista conta que a direita recebeu com agressividade a criaçao de El Cambio: "Dizem que estamos violando a liberdade de expressão. Mas olhe como está o país, apesar de se terem cometido vários abusos, não há nenhum jornalista preso ou processado aqui. A liberdade de imprensa é plena na Bolívia e não vamos permitir que ela seja rompida. Só que não podemos também permitir que ela não seja usada para tratar a informação como bem social que é".

Na primeira edição de El Cambio, que imprimiu cerca de 5 mil exemplares distribuidos pelo país - a tiragem ainda está aumentando, conforme a capacidade de distribuição, e ainda não está estabilizada -, foi publicada uma entrevista exclusiva com Evo. Delfin foi um dos entrevistadores e conta que o próprio presidente lhe afirmou, logo após esse encontro: "Ele nos disse que está apoiando o jornal, mas não quer propaganda do governo, quero que dêem informacoes corretas sobre nossa gestão. 'Voces devem dar uma aula de jornalismo aos meios comerciais', ele completou".

Mesmo com o aval público de Evo, Delfin conta que foi procurado por diversos dirigentes partidários e de movimentos sociais na semana seguinte ao lançamento do jornal: "Cada um quer nos dar sua receita, eles nos dizem 'agora temos nosso jornal, vamos poder golpear a direita também', e eu até entendo, porque estão desesperados para que haja mais meios alternativos no país. Só que o que nós faremos será simplesmente tratar a informação como bem social, com um manejo plural, responsável e veraz da informação. Isso nos fará independentes".

Para ele, comunicação "estatal" é algo muito diferente de simplesmente "defender o governo": "Quem tem de fazer defesa do governo é o Soberania, que é o semanário do MAS [partido de Evo]. Nós somos outra coisa, não vamos virar governamentais". Ele tampouco pensa em concorrer com a mídia comercial: "Nós não queremos nos comparar com ninguém, só queremos ser uma alternativa para a população".

A receita da equipe de Delfin para o diário estatal inclui espaço inclusive para a oposição ao governo. "Eu tenho pedido à equipe mais presença da oposição, aliás. Se dizem algo que merece destaque, tem de estar no jornal", diz ele, quando pergunto se não houve reclamação de algum integrante do governo pelo destaque em capa dado na edição do dia da entrevista a declarações de Ruben Costa, prefeito de Santa Cruz que é um dos mais duros adversários do governo.

Na seção internacional, El Cambio vem publicando artigos de diversas fontes, inclusive desta Carta Maior. O futebol também é destaque. No dia em que conversamos, o Cambio tambem destacava na capa a derrota do Real Potosí para o Palmeiras, por 5 a 1. "Neste país, somos todos fanáticos por futebol, do motorista de ônibus ao presidente. Cobrir futebol aqui é um serviço social. No futebol, quando joga nossa seleção nacional, nao há 'media luna', estamos todos unidos". diz ele, em referência à região oriental do país, foco da oposição e de idéias separatistas.

Os próximos passos do diário incluem a instituição de mecanismos de controle social, agora consagrados pela nova Constituição: "O mecanismo não está definido. Vamos fazer, só que ainda não sabemos como. Por enquanto, estamos tratando de trazer pluralidade às páginas de opinião". Para Delfin, o maior desafio é a auto-sustentação: "É o mais importante para nós. Esse diário não pode ser um peso para o Estado". Por enquanto, o jornal tem publicado anúncios de empresas estatais e é vendido em banca a 2 bolivianos (o equivalente a R$ 0,70).

Um pouco da Itália...

Por Astrid Lima


Estamos em pleno inverno europeu, mas um um forte vento, o Scirocco, proveniente da África, forma túneis de ar quente que rasgam o frio na cidade de Roma. Dentro deste corredor de calor, com cartazes que se movem ao ritmo do vento, centenas de médicos e enfermeiras estão reunidos na frente de Palazzo Montecitorio, a Câmara dos Deputados italiana, com velas nas mãos.

Nas camisetas brancas está escrito: “Médicos, não espiões”.

É a manifestação convocada pelos Médicos sem Fronteiras, pela Sociedade italiana dos Médicos das Migrações e pelo Observatório Italiano sobre a Saúde Global contra uma proposta de decreto do governo italiano, que obriga o médico a denunciar às autoridades todos os clandestinos que se apresentarem como pacientes.

Este decreto, claramente racista, está em contradição com o Texto Único sobre a Migração, que prevê que o acesso à estrutura sanitária por estrangeiros irregulares não deve comportar nenhum tipo de advertência às autoridades, com a mesma paridade de tratamento aplicada a todos os cidadãos italianos.

São poucas linhas, mas de grande demonstração de civilização. Na prática, afirma-se que o médico deve respeitar o paciente independente da sua nacionalidade, religião, cor, sexo, condição social, politica.

Está no próprio juramento de Hipócrates: Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

É um belo juramento, apesar de velho e superado em alguns trechos. Nele ainda é intrínseca a necessidade de qualificar a prática médica, a ciência desses modernos curandeiros, mesmo em uma sociedade muito mais complexa do que aquela de séculos atrás.

Se começa jurando por Apolo, por Esculápio, por Higia e Panacéia, deuses ligados à saúde, à cura, à luz e ao sol; e eu imagino, ali, naquele momento, o jovem médico, tão nervoso quanto um presidente eleito dos Estados Unidos, jurando, porém, por algo que vai além de um mandato, de sistemas eleitorais, de geopolíticas, de impérios. Nas suas mãos estão depositados vida, morte e ética:

estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito;

Se o exercício da medicina dependesse desse simples juramento, não existiria algo como a saúde privada, como os hospitais particulares, como as operações cirúrgicas onde tudo é contabilizado: sala operatória, enfermeiros, instrumentos, remédios, anestesistas, período de internação. Onde não há acesso sem antes a verificação do cartão de crédito.

A cada toque de caixa de um plano de saúde eu me pegunto quanto vale uma vida humana. Qual é a sua cotação, que preço vai curar uma ferida, sarar uma fratura, deter uma hemorragia, extirpar um tumor, fazer continuar a respirar.

Que rosto tem o gerente, o burocrata, o técnico, o promotor de vendas e todos aqueles que decidem quais são os percentuais de lucro sob os quais não é possível descer.

Que dinheiro é esse que tem sua origem na dor humana, nos seus medos e males? E que país é aquele em que o único sistema sanitário possível é o privado?

Na Itália a saúde pública ainda é de qualidade, acessível a todos, e é considerada, junto com a francesa, uma das melhores do mundo. Ainda não foi vencida pela barbárie dos camelôs sanitários, das clínicas sustentadas com carnês mensais e com manuais de subterfúgios que ensinam como obter o máximo do lucro com o mínimo dos custos.

Ainda é possível encontrar em um mesmo quarto de uma maternidade uma jovem italiana, uma cigana, uma africana, uma ex-jogadora da seleção nacional de Vôlei. Mulheres iguais diante da maternidade.

Neste pais é ainda possível que um simples cidadão – pobre ou clandestino — possa desfrutar do mesmo hospital, dos mesmos médicos do Papa, do presidente da República ou de um magnata, como Berlusconi.

Mas é noite em Roma. E ao frio se alterna um calor estranho, impossível, provocado pelo vento e pela areia do Saara, que me suscitam imagens de antigos rituais.

“Nós não denunciaremos ninguém”, declara, orgulhoso, um cirurgião ortopédico do Policlínico Gemelli, considerado um dos maiores hospitais italianos, o mesmo que acolheu tantas vezes João Paulo II.

Aquele pequeno grupo de médicos na frente do parlamento italiano, iluminados pelas luzes das velas, reivindicam a simples possibilidade de serem fiéis ao próprio juramento: curar sem mediocridades como denunciar o próximo, monetarizar a vida, medí-la em documentos, siglas ou carimbos.

Curar todos os homens, porque este é uma antiquíssima e mítica arte, que tem a cumplicidade dos deuses, mas que foi construída com o conhecimento da humanidade inteira.


Astrid Lima é brasileira e vive na Itália, e encontrou uma forma de matar saudades do Brasil: escrevendo coisas assim para O Malfazejo.

O Cloaca News ta ficando famoso...

Cloaca News: “Globo, Folha, Estadão, Veja, Bandeirantes e RBS fazem parte da mídia golpista”

No Blog do Bentes

Com apenas três meses de existência e muitos – muitos – textos que chamam a atenção pela agressividade e precisão no que diz respeito em “desmascarar” aquilo que julgam como sendo parte da “máfia midiática que infesta nosso país”, o blog Cloaca News, criado por um profissional anônimo que garante ter passagens pelas Organizações Globo e Editora Abril, ganhou notoriedade quando publicou, no dia 7 de janeiro deste ano, um artigo denunciando que a jornalista Renata Malkes – correspondente de O Globo e do Globo News em Israel e autora do blog O outro lado da Terra Santa (o Oriente Médio que você nunca viu) – manteve, no passado, um segundo blog – o Balagan – onde publicava textos de cunhos racistas e preconceituosos contra o povo palestino e os árabes em geral.

A divulgação, que repercutiu pela Internet a ponto de Renata Malkes publicar uma “Nota de esclarecimento” em seu blog atual, no site de O Globo, não foi e nem é a única que atrai a atenção dos muitos leitores que o blog parece acumular nesse curto intervalo de tempo. Artigos temperados por títulos como “Paulo Henrique Amorim: Sou um despirocado que publica manchetes mentirosas” (01/02/2009), “Senador imbecil ofende 93% dos brasileiros” (30/01/2009) e “A imprensa gangaceira de Aécio Neves” (20/01/2009) revelam a linha editorial adotada pelo até então anônimo blogueiro, ou, como prefere ser chamado, “cloaqueiro”, cuja única pista dada sobre si mesmo é sua cidade: Porto Alegre (RS).

Na entrevista transcrita a seguir, concedida ao Blog do Bentes por email* o “cloaqueiro” fala sobre esses e outros assuntos, como a situação da imprensa brasileira, concessões públicas de rádio e tevês, liberdade na Internet, Blogs e outros temas co-relacionados ao exercício do Jornalismo no Brasil.

*As respostas do Cloaca News foram transcritas exatamente como foram respondidas, incluindo termos usados entre aspas e letras escritas estrategicamente em maiúsculas.

Como, quando, onde e porquê foi criado o blog Cloaca News?

Cloaca News – O blog Cloaca News estreou no dia 31 de outubro de 2008, às 6 horas. Sua base geográfica está em Porto Alegre. Sua criação adveio da profunda indignação de seu criador com as práticas desonestas de manipulação por parte dos principais conglomerados da informação brasileiros – e que, mui apropriadamente, o jornalista Luis Nassif denominou "jornalismo de esgoto". O blog, nesse caso, surgiu com uma alternativa viável, sem custo, para denunciar e execrar esse comportamento da chamada imprensa corporativa, dentro de uma perspectiva muito particular, baseada na visão de mundo e na bagagem político-cultural de seu criador.

Quem integra sua equipe de redatores e colaboradores?

CN – A equipe do Cloaca News é composta de um pauteiro, um repórter, um pesquisador de imagens, um redator, um editor, um "advogado" e um Diretor de Redação, sendo que todas essas atribuições estão delegadas a uma única pessoa – ninguém menos que este que lhe escreve – que acaba agora de acumular, também, a função de assessor de imprensa. O nome desta multivalente criatura, por enquanto, é mantido em segredo, por motivos que serão aclarados mais adiante.

Qual a principal fonte de informação usada pela equipe para a redação de artigos de opinião?

CN – As fontes de informação do Cloaca News são de diversas naturezas. A mais corriqueira é a própria imprensa corporativa, por meio de seus jornais, revistas, rádios, tevês e portais de Internet. Também recorremos às agências internacionais de notícias (Reuters, UPI, BBC etc.), portais de ONGs, blogs de terceiros, almanaques, enciclopédias... Isso quando não vamos, nós mesmos, cobrir determinado evento pessoalmente.

Cloaca é o nome científico de certa parte do corpo dos animais. Porque fizeram tal escolha?

CN – Na Roma Antiga, lá pelas priscas do século VI a.C., Tarquínio Prisco, também conhecido como Tarquínio, o Soberbo, construiu a Cloaca Maxima, uma portentosa rede de esgotos que virou referência para o resto do mundo civilizado. Quando o Império Romano caiu, ela ainda funcionava bem. O termo atravessou os séculos e foi parar no dicionário Aurélio, designando:

1. Fossa ou cano que recebe dejeções e imundícies.
2. Coletor de esgoto.
3. V. latrina (3).
4. P. ext. Lugar imundo.
5. Aquilo que cheira mal, que é imundo.

A alusão que você faz em sua pergunta é a zoológica, que define a cloaca como a "câmara na extremidade do canal intestinal das aves e dos répteis, na qual se abrem os ureteres e os ovidutos". Considerando que nosso blog lida com o "jornalismo de esgoto", julgamos ter espancado sua dúvida onomástica.

Boa parte dos artigos publicados usa termos comumente usados em jornais tidos como populares. O Cloaca News representa essa tendência?

CN – Teremos o maior prazer em responder a essa pergunta com mais propriedade se você puder nos apontar um ou mais exemplos daquilo que a questão sugere. Podemos adiantar, no entanto, que temos um certo hábito de salpicar algumas de nossas postagens com palavras pouco usuais no dia-a-dia. Faz parte de nosso modo de construir uma ironia. Vez ou outra, o sangue se nos ferve e vai à cabeça, ocasião em que pegamos mais pesado e partimos para adjetivos mais contundentes, tais como: pulha, sicofanta, mequetrefe, patife, velhaco... Mas, como você poderá constatar, JAMAIS empregamos o baixo calão. A propósito: conhece a história da freirinha no convento? Em sua clausura, a freirinha costurava um velho manto. De repente, a agulha escapa do dedal e lhe perfura o dedo indicador. “Ai, caralho! Furei meu dedo, porra! Puta merda, falei ‘caralho’! Ah! Foda-se! Eu não queria mesmo ser freira!!!”

Entre a chamada “grande imprensa”, existe algum veículo “preferido” para os artigos e comentários do blog?

CN – Não. Todos são “preferidos”. Não discriminamos ninguém.

Quem, na visão da equipe, integra o grupo que faz parte da “imprensa golpista” – termo usado no cabeçalho do blog?

CN – Por ordem aleatória, destacamos: todos os veículos das Organizações Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, revista Veja (representando o grupo Abril), a Rede Bandeirantes, e, pela importância regional e pelo estrago que é capaz de fazer, o Grupo RBS, da famiglia Sirotsky. São eles que pautam os demais golpistinhas espalhados pelo país.

Alguns dos membros do Cloaca têm experiência em alguns dos veículos citados nos artigos? Em grandes grupos de comunicação?

CN – Sim. Na Globo e na Abril. Agora, talvez você entenda o motivo pelo qual o nome do "cloaqueiro" deve permanecer em segredo.

O Cloaca News já enfrentou algum tipo de retaliação (política, econômica) por conta de suas opiniões?

CN – Ainda não.

Já houve algum processo judicial contra o Cloaca News?

CN – Não. Nem estamos com essa bola toda. Ainda assim, nosso Departamento Jurídico sempre cuida para que nossas palavras não incorram em crime de opinião.

Por usar um espaço teoricamente “livre”, a Internet, o Cloaca News sente-se plena e completamente independente?

CN – Sim, plena e completamente independente.

Como o blog é mantido? Há algum apoio?

CN – Como a maioria dos blogs independentes, somos mantidos pela determinação pessoal, pelo desprendimento e pelo prazer de dizer o que pensamos da forma que nos der na telha. O único apoio, no caso, é o moral, que nos chega pelos nossos poucos mas devotados leitores.

Existe uma corrente que quer “profissionalizar” os blogs, tornando-os veículos de fato alternativos e economicamente auto-sustentáveis. O Cloaca News concorda com essa tendência? Existe essa intenção por parte da equipe?

CN – Há vários blogs “profissionais”, a maioria deles abrigados nos portais das grandes corporações. De nossa parte, não entramos nisso para ganhar dinheiro. De todo modo, se surgir um patrocinador disposto a bancar as despesas aqui de casa, tais como água, luz, telefone, Internet, escola do filho, supermercado, gasolina, lazer, IPTU, IPVA e mais a manutenção de nosso iate e o aluguel da marina, pode apostar que topamos, desde que, é claro, ele não tente nos pautar. Por enquanto, sequer cogitamos essa hipótese.

O que o blog tem a dizer a respeito da imprensa brasileira? Ela exerce bem o seu papel?

CN – Vamos separar os conceitos. Uma coisa é a instituição “Imprensa”, pela qual temos o maior respeito e até paixão. Outra coisa é o jornalismo a serviço de interesses escusos, principalmente partidários. É desse último caso que nos ocupamos, tentando, na medida de nossas limitações (físicas e intelectuais), desnudá-lo. Considerando que a oligarquia midiática politizou até a previsão do tempo, nossa opinião é: não, a “imprensa brasileira” não exerce bem o seu papel, visto que desviou-se do interesse público para os interesses de um pequeno grupo de compadres.

E o que dizer do uso de concessões públicas? A Rede Globo teve sua concessão renovada pelo Congresso sem amplo debate. O que pensam disso?

CN – De verdade? Mesmo com “amplo debate” a Globo renovaria todas as suas concessões, já que a maioria dos parlamentares é proprietária de meios de comunicação concessionários. Ademais, por que meio a população tomaria conhecimento do “amplo debate”? Se dependesse de nossa caneta, declararíamos a perempção de todas as concessões da Globo, por todos os abusos e falcatruas que o grupo já cometeu e continua cometendo.

Na Venezuela, Hugo Chávez não renovou a concessão da RCTV, o que provocou grande repercussão mundial, sobretudo nos meios de comunicação brasileiros. Vocês concordam com a medida adotada por Chávez?

CN – Concordamos, sim. Eram golpistas assumidos.

O Observatório da Imprensa, criado por Alberto Dines, é dedicado à crítica da imprensa. O que pensam deste site?

CN – Felizmente, nesse caso, a criatura é maior que seu criador. O Observatório tem a vantagem de ser democrático e pluralista. É alimentado por uma infinidade de colaboradores qualificados (alguns, nem tanto). É um fórum que frequentamos desde sua criação. No caso de Dines, a despeito de sua bela biografia, já não temos por ele o respeito de outrora. Dines passou a usar seu espaço para destilar seu ressentimento contra o Presidente Lula, abdicando da missão de "observar" a imprensa. Pior que isso, passou a agir como defensor da mídia corporativa, como se as críticas pontuais aos veículos da máfia midiática estivessem sendo feitas à instituição “imprensa”.

Hoje, no Brasil, existe, na opinião de vocês, algum veículo (rádio, jornal, revista, emissora de TV) que seja uma fonte confiável de informação? Até que ponto, na visão da equipe, a informação é manipulada no Brasil em favor de grupos políticos?

CN – Em tese, praticamente todas seriam confiáveis, não fossem seus comprometimentos políticos não manifestos.

Há esperança para a imprensa brasileira?

CN – Bem que gostaríamos de ser mais otimistas. Na verdade, nossa esperança está na tecnologia, que nos “libertará” do jugo do cartel da informação. Estão aí os blogs, que não nos deixam à mercê dos Al Capones da notícia.

O que a sociedade civil pode fazer para ajudar?

CN – Cobrar. Exigir respeito à sua inteligência. E, na pior das hipóteses, não consumir.

Como o Cloaca News chegou à informação de que a jornalista Renata Malkes, correspondente de O Globo e da Globo News em Israel, mantinha o blog “Balagan” (já deletado) em que fazia alusões preconceituosas ao povo palestino?

CN – Também temos o nosso Garganta Profunda, que nos deu uma pista. Uma vez encontrado o Balagan, seu próprio conteúdo fez a caveira da moça. Os que leram atentamente o que postamos, viram que não lhe fizemos qualquer acusação. E, muito menos, lhe insultamos.

Como souberam de sua prisão (posteriormente negada por ela) no Líbano?

CN – Depois que a “bomba” estourou, remexemos os arquivos do blog “O outro lado Terra Santa”, que a jornalista mantém no portal de O Globo. Ali, encontramos um relato que ela fez de uma confusão em que se metera, sem entrar em detalhes. Fizemos uma busca com palavras-chave e datas próximas. Acabamos encontrando a notícia publicada por um jornal canadense sobre o episódio. Até prova em contrário, não temos motivos para duvidar do Corriere Canadese.

Em seu blog, a jornalista deixou uma nota de esclarecimento, onde se dizia vítima de “boatos espalhados pela Internet”. Ela não citou as fontes dos supostos boatos. O que vocês pensam disso? São de fato boatos as informações que circulam? Os “boatos” a que se refere a jornalista são postagens do Cloaca News?

CN – Publicamos DUAS postagens sobre essa jornalista. Em nenhuma delas há qualquer coisa que possa ser chamada de “boato”. Publicamos fatos consumados. O primeiro: ela manteve um blog em que manifestava suas opiniões sobre várias coisas, inclusive sobre os árabes em geral e os palestinos em particular. Demos os links. Só isso. Portanto, os “boatos” foram escritos por ela mesma. Outro fato: a notícia de sua prisão no Líbano, dada pelo Corriere Canadese. Deixamos bem claro que a informação era desse jornal. De todo modo, nosso alvo não era a jornalista em si, mas seus empregadores, que sonegaram ao público o currículo de militante sionista de sua correspondente. A pergunta que fizemos aos leitores do Cloaca News foi: você consegue imaginar pessoa mais isenta para mostrar “o Oriente Médio como você nunca viu”?

Vocês podem citar alguns blogueiros corporativos cujo trabalho corresponderia ao “jornalismo de esgoto”, termo usado por Luis Nassif em relação à Veja?

CN – Vamos pinçar apenas alguns mais graúdos: a dupla Mainardi/Azevedo, de Veja; Josias de Souza, da Folha; Miriam Leitão, SarDEMberg e Noblat, da Globo (este último, por sinal, um grande barrigueiro)...

A midia de esgoto e sua mediocridade....

Folha debocha do Fórum Social de Belém


Não chega a ser novidade, mas é sempre irritante quando isso acontece: a imprensa corporativa brasileira (com raríssimas exceções) não consegue cobrir o ''Fórum Social Mundial'' de outra forma que não seja ''folclorizando'' o que se passa por lá.

Por Rodrigo Vianna, em seu blog*


Na primeira página desta sexta-feira, a Folha traz a fotografia de Hugo Chávez cantando ao lado da filha de Che Guevara, sob o título: Karaokê no Fórum Mundial. Não há nenhuma informação sobre o que se discutiu no histórico encontro dos presidentes, que reuniu Chávez, Morales, Lugo Correa e Lula.

Na página interna, entre os milhares de participantes do Fórum, a Folha escolheu (para ilustrar a ''reportagem'') um rapaz deitado na grama, de frente pro rio.

Claro que nada disso é mentira. Chávez cantou e o rapaz deitou na grama (aliás, a vista para o rio - a partir da Universidade Federal do Pará - é belíssima; o rapaz tem toda razão em aproveitar a rica paisagem paraense).

As escolhas são sintomáticas. Passam a imagem de que tudo, em Belém, não passa de deboche e descompromisso. É o oposto do que vi por lá. Passei por Belém no início da semana. Vi centenas de pessoas reunidas em escolas, ginásios, auditórios, debatendo formas de superar a barbárie neoliberal. Ou, simplesmente, se articulando para batalhas futuras.

Nada disso está nos jornais.

Ao fazer esse tipo de cobertura, a Folha talvez imagine que esteja ajudando a esvaziar o Fórum. A ''grande imprensa'' não percebeu que ocorre justamente o contrário: é a imprensa que se esvazia, ao tratar de forma canhestra um evento que reúne no Brasil quase cem mil pessoas de todas as partes do mundo.

Para ler sobre o Fórum, e sobre o encontro dos presidentes em Belém, já sei que é preciso buscar em outro lugar. Não nos nosso jornais.
Sugiro o bom artigo de Gilberto Maringoni, na Carta Maior.

Abaixo, alguns trechos do Maringoni:

''O que leva chefes de executivo a abrirem espaço em suas agendas para comparecerem a um encontro dessa natureza? Certamente votos é o que não vêm buscar. Mas procuram solidificar ou recompor vínculos objetivos e simbólicos com setores da sociedade que alicerçaram suas trajetórias e, em última análise, sustentam suas administrações. O caminho não é de mão única. O encontro ganha peso e densidade política internacional com isso.
(...)
Nem tudo é tranquilo, no entanto. As duas atividades desta quinta com os chefes de Estado envolveram uma disputa, estabelecida entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o governo Lula. Descontentes com o que avaliam serem os poucos avanços da reforma agrária, os dirigentes do movimento decidiram não convidar o presidente brasileiro para a atividade do período da tarde.
(...)
Em um diálogo inédito, os quatro mandatários ouviram previamente demandas de representantes dos movimentos, o que levou Morales a lembrar que ''somos presidentes originários das lutas sociais continentais''. O líder boliviano era o mais entusiasmado de todos. Acabara de vencer o plebiscito que aprovou por larga maioria a nova constituição do país, reduzindo o espaço institucional da oposição de direita.
(...)
Nos tórridos dias de Belém, muitos se queixam de falhas na organização. É natural, mas tudo acaba se articulando. Davos, por sua vez, aparenta funcionar com a precisão dos outrora famosos relógios suíços. Mas a desorganização que suas diretrizes provocaram no mundo tem poucos paralelos na história recente...''

(Clique aqui para ver o texto completo)


Agora, volto eu.

Não é só a Folha. Ouvia , há pouco, a rádio Bandeirantes de São Paulo. No ar, mais uma vez, a tentativa de ''folclorizar'' o encontro de Belém. Um jovem jornalista reproduziu trecho do discurso de Chávez , em que o venezuelano dizia que milhares de empregos se perderão graças à crise mundial, e que a Venezuela sofreria menos porque lá se constrói o socialismo.

O jovem jornalista, em tom irônico, debochou.
''Esse foi o Chávez, que estava acompanhado de uma tropa em Belém, hem! Sabe quem estava ao lado dele? O ''companheiro'' Evo...''

Não era o ''presidente'' Evo Morales. O jornalista queria deixar claro que se tratava de um ''companheiro'', como a demarcar o campo: é da turma dos petistas, índios, chavistas. Não é da nossa laia.

Joelmir Betting, que estava no estúdio, pareceu encampar o deboche, lembrando: ''... e o presidente da Colômbia não estava lá em Belém.''

O jovem jornalista adorou: ''ah, não, Uribe deve ter mais o que fazer, está preocupado com as Farc''.

Aí, Joelmir completou: ''não, não, é que o Uribe preferiu ir a Davos, na Suiça''

O jovem jornalista caiu do cavalo: ''ah, então não é preocupação com as Farc''.

E eu fiquei a rir sozinho no carro... Joelmir pode ser o que for. Mas não briga com os fatos.

Os novos-ricos do jornalismo - esses garotos criados lendo só a Folha e O Globo - não conseguem nem fazer ironia. Eles, sim, são folclóricos.

Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/





terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Vigie a mídia

Eduardo Guimarães

Sei que irão me trucidar por dizer isto, mas não concebo a idéia de não ler jornal, de não assistir telejornais, de não deslizar pelos meandros da programação imbecilizante das tevês, de, enfim, não dar mergulhos eventuais em cada parte dessa grande mídia que, queiram os amigos ou não, ainda exerce uma enorme, uma descomunal influência sobre o país.

Como sempre digo, prefiro verdades terríveis a mentiras sem fim. O poder da mídia pode ser uma terrível verdade, mas dizer que esse poder não tem capacidade de transtornar a vida da nação é uma mentira que precisa ter fim, pois, do contrário, esse poder a que me refiro só tenderá a crescer.

Por outro lado, se você for inteligente, se souber usar a lógica, se tiver sensibilidade e sangue-frio suficientes para ver através da indignação que brota ante a mentira, ante o engodo, ante a tentativa de manipular espíritos, poderá extrair daquilo que lhe ofende a consciência os meios para combater essa que é uma anomalia perniciosa de nossa forma de organização social.

Escolhi lutar. Como? Denunciando, apontando erros, identificando estratégias, lendo nas entrelinhas.

Uma coisa é certa: eles (a elite diminuta e conservadora e sua mídia) têm mais informações do que nós (o conjunto da sociedade) sobre muitos setores da realidade contemporânea, ainda que tenhamos informações sobre outros que eles não levarem em conta constitui sua maior fraqueza.

Procuro fazer isso e com foco, responsavelmente. Em vez de sair atirando para tudo quanto é lado, elejo um grupo de veículos poderosos e eminentes (os mais poderosos e eminentes) e os analiso a fundo, de forma a ter conhecimento e autoridade nas minhas críticas.

Não entrarei em digressão escrevendo um rol de meios de comunicação em cada tipo de mídia. Direi que, quando se trata de jornal, escolhi ler o maior em tiragem de exemplares pagos, a Folha, e, de sua leitura, consigo extrair muita informação, até porque o jornal controla um instituto de pesquisas de opinião e de mercado que ostenta os maiores níveis de acerto.

A esta altura, meu leitor médio deve estar bufando e com vontade de me esganar, pois pessoas que dedicam leitura a alguém como eu passaram da fase de ser manipuladas pela mídia, mas, se tivermos o bom senso de ver como a mídia ainda consegue induzir multidões a comportamentos literalmente irracionais, acalmaremo-nos e esperaremos que eu termine de expor minha idéia.

Escrevo sem pressa, para aqueles que gostam de ler e de raciocinar. Assim, depois de tudo isto é que caio no assunto, agora que já lhes preparei o espírito para discutirem comigo, ainda que silenciosamente, a leitura que fiz da Folha de São Paulo do primeiro domingo de fevereiro.

A manchete principal de primeira página diz o que todos estão carecas de saber e que em parte explica por que seria impossível nosso sistema financeiro ter sucumbido à crise que pôs de joelhos o sistema financeiro internacional: “Ganho de banco no país é o mais alto do mundo”.

Pudera, com o spread mais alto do mundo nossos bancos só poderiam ser os mais rentáveis. Onde está a novidade? Na idéia “jamais alardeada à exaustão” de que o governo “popular” de Lula está muito longe de ser “popular”, pois deixa os bancos ganharem aqui o que não ganham em lugar nenhum? Ora, não me façam rir...

Mas onde está a necessidade de repisar acusação feita tantas vezes? Talvez a resposta comece a aparecer no primeiro editorial da Folha na edição do jornal em tela, que trata de brigar contra fenômeno que o veículo vê ocorrer “Nos EUA, no Brasil ou em qualquer outra sociedade”, conforme se vê na última frase do editorial.

A teoria do texto intitulado “Tempo de pacotes” é a de que “ainda que um período recessivo tenda a corroer com rapidez a popularidade de um governante [nota do editor: Ó esperança, és a última que morre], é inegável que o maior risco, no momento, vai na direção oposta. Trata-se de confundi-lo [o governante] com uma espécie de salvador da pátria [A quem se referirá isto, hein?], cujas resoluções antes se comemoram que analisam.

Esperto, o editorialista não foi direto ao ponto, preferindo comer o mingau pelas beiradas, dizendo que a teoria acima refere-se a Barack Obama, que estaria tendo “senso certeiro da simbologia” com as primeiras medidas que tomou, que calaram montes de bocas que haviam reverberado a idéia alucinada de que ele não assumiria tomando medidas de impacto já de saída, depois de uma campanha calcada no lema “change”.

Note-se, porém, que o editorial conclui dizendo que em vez de uma crise muitas vezes desgastar um governante, converte-o em “salvador da pátria” tanto nos EUA quanto no... Brasil.

Bingo!

Podem me dizer apressado, mas eu já venho desconfiando de que a população brasileira viu no noticiário alarmista sobre a crise que ela não é nossa e que o Brasil, além de ter se preparado para ela como nenhum outro país se preparou, está sendo bem conduzido na tormenta.

Logo em seguida, na mesma página A2, vem Clóvis Rossi criticar os defensores do neoliberalismo, que hoje se calam e não são cobrados, e atribuir ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, acerto em prever que o capitalismo desregulamentado era um risco. Sobre o Brasil, não falou quem combateu a desregulamentação. Tudo isso depois que Lula discursou criticando os arautos da globalização.

De certo, a manchete de primeira página já desqualificava Lula como crítico da desregulamentação porque os bancos brasileiros são os que mais ganham, ainda que a regulamentação brasileira não difira de qualquer outra que há no mundo, nem nos regimes bolivarianos, porque desregulamentar o mercado financeiro deixou de ser ponto de vista para se tornar imposição que até aqui desafiar significava a virtual quebra de um país.

Mas não haveria de ficar por aí, a tese tinha que ser vendida por completo, o que coube à indefectível Eliane Cantanhêde, que na imperdível coluna “Múltiplas personalidades” completa o serviço, mas deixa escapar uma enormidade, o que torna sua coluna deste domingo imperdível, devido ao que reproduzo o texto logo abaixo:

*

ELIANE CANTANHÊDE

Múltiplas personalidades

PARIS - Há dois Lulas, ou muitos Lulas. O deste momento, de crise nos países ricos e de fórum de países pobres, é o Lula de esquerda, que se vira de costas para Davos e de frente para Belém.

Se fosse hora de crescimento mundial, Lula certamente estaria em Davos com os líderes dos países desenvolvidos, enaltecendo a estabilidade e o ajuste fiscal. Como não é, ficou no Brasil mesmo para se encontrar com Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo.

Ironizou "o deus mercado" e os ricos, mandando o FMI ensinar a Obama como gerir os EUA. E aproveitou para, apesar dos cortes no Orçamento, prometer mais um milhão de habitações e ampliação do Bolsa Família para os jovens. Ou seja: um olho na crise, outro na sua popularidade hoje e na campanha de Dilma Rousseff amanhã.

Esses dois Lulas, que se alternam entre o Fórum Econômico e o Fórum Social, dividem opiniões. Como ficou claro num encontro de jornalistas sobre América Latina na Espanha, semana passada.

Em almoços e jantares, brasileiros criticavam o "oportunismo" e o lado marqueteiro de Lula, sempre tirando vantagem de tudo - inclusive dos êxitos alheios. Nas reuniões plenárias e mesas redondas, espanhóis, argentinos, venezuelanos, equatorianos... elogiavam a liderança política e o sucesso administrativo do Brasil e de Lula.

De onde, afinal, vem a boa fama de Lula no mundo? De onde os jornalistas internacionais tiram tanta simpatia por ele? Principalmente da imprensa brasileira, que, por exemplo, como tinha de ser, registrou todo o seu falatório e toda a sua desenvoltura no Fórum de Belém.

Isso mostra como as notícias sobre Lula e seu governo têm imenso espaço e repercussão, soterrando as críticas. Tudo o que ele diz, faz, promete e anuncia tem destaque. O resto fica confinado aos espaços de análise e de opinião.

Está explicada, portanto, a azia de Lula com a imprensa: ele chora de barriga cheia, muito cheia.

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Francamente, pessoal, sempre vi premeditação na má vontade com que a imprensa brasileira trata Lula, mas essa coluna me abalou tal percepção. A jornalista parece não ter percebido a enormidade que disse.

Eliane simplesmente reconheceu um fato citado por dez entre dez críticos da mídia grande nacional: enquanto é enorme a má vontade com Lula nessa imprensa, no resto do mundo e no Brasil ele se tornou um dos líderes políticos mais admirados.

Eliane, no texto em questão, confessa que não entende por que Lula é tão admirado, já que essa entidade guardiã da verdade suprema do universo, formada pelos jornais e tevês do eixo São Paulo - Rio, detesta o presidente.

Se imprensa, governos e cidadãos do mundo todo, e até a maioria esmagadora dos brasileiros, admiram Lula - penso que pelos resultados de seu governo -, será que o problema não está na imprensa tupiniquim?

Aliás, o texto de Eliane é tão bobo, tão ingênuo, que a poucas páginas dali o ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva, com seu estilo de minimizar as graves e reiteradas práticas anti-jornalísticas da Folha, faz um comentário que se choca com o que diz a colunista.

Eliane afirma, na coluna acima reproduzida, que o noticiário é generoso com Lula e que as críticas que se faz a ele ficam confinadas nos espaços destinados a opinião. O ombudsman da Folha, na mesma edição do jornal, mostra como o noticiário não é sempre tão isento assim.

Vejam como suas críticas demolem a teoria de Eliane Cantanhêde sobre isenção do noticiário:

"Carlos Eduardo Lins da Silva – ombudsman da Folha

No dia 24, o jornal acertou ao usar o adjetivo "suposto" em referência ao célebre grampo contra o presidente do STF. Mas, quando o tema era manchete diária, não foi cauteloso. Não demonstrava dúvida sobre o "grampo ilegal". Esse episódio, em que o jornal embarcou acriticamente em informação sem a ter obtido ou comprovado autonomamente, deveria servir para estabelecer determinação pétrea: nenhuma informação exclusiva revelada por outros pode ser considerada verdadeira sem confirmação própria.

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Na quinta, o jornal deu manchete para a ampliação de R$ 873 milhões em gastos sociais do governo federal. Ressaltou ter ocorrido um dia após cortes no Orçamento de R$ 37 bilhões, que não estiveram na capa de quarta. Se o que envolvia valores maiores não era relevante para a primeira página, por que 3% deles foram manchete? Havia assuntos mais importantes, como os entraves a importações e o pacote econômico de Obama.

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Na terça, pela segunda vez em poucas semanas, título de submanchete da capa passa a impressão de que números de desemprego se referem ao Brasil, embora sejam internacionais.

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Como vocês vêem, se ficarmos lendo só as notícias de que gostamos, lendo só os articulistas com os quais concordamos, e se ignorarmos gente que é capaz de causar comoção social quando quer, não teremos como saber o que eles sabem.

Agora, por exemplo, com esse falatório sobre crises não derrubarem popularidade de governantes porque eles acabam sendo vistos como “salvadores da pátria”, a manchetona de primeira página, toda essa pantomima nos leva aonde?

Quem vocês acham que é esse governante que o editorial diz que há no Brasil e que a crise, em vez de desmoralizar, elevou ao status de “salvador da pátria”? O que significa isso, que eles têm informações de que Lula, em vez de cair na impopularidade, manteve-se popular ou até tornou-se mais popular?

A mim pareceu isso que acabo de dizer. Eles têm o Datafolha, sabem mais do que nós. E vocês, como entenderam? Não importa. Tenho certeza de que a maioria percebeu por que temos que vigiar a mídia. E com lupa.

Desmistificando Dan Brown...

O CÓDIGO DA VINCI, OU A DEFESA DO “SANGUE AZUL”

Fausto Brignol

Todos os que leram “O CÓDIGO DA VINCI”, de Dan Brown, devem ter ficado um pouco decepcionados com o final de típico “happy-end” norte-americano.

No fim, o mocinho fica com a mocinha e o mundo continua girando como sempre. Tudo está bem e podemos dormir tranqüilos.

Depois daquelas incríveis peripécias que duram quase 24 horas, percebe-se que, na verdade, nada foi revelado. Nada de novo. Nada que seja, comprovadamente, verdade.

Mas o que surpreende, de fato, é a incrível cara-de-pau com que o autor defende os privilégios da aristocracia e da nobreza.

Baseado na falsa e romanceada tese que Maria Madalena teria tido uma filha de Jesus e que essa filha teria dado origem à casa dos Merovíngios, de onde provieram os reis da França e, depois, de outras dinastias européias, Dan Brown defende, descaradamente, a sacralização da monarquia.

Para os milhões de leitores que leram e acreditaram nas informações contidas no livro foi passada uma mensagem subliminar de que a nobreza, a monarquia, é algo sagrado a ser preservado indefinidamente - mesmo nos países democráticos, mas com uma casa real sustentada pelos impostos cobrados ao povo.

O livro também é claramente sionista, na medida em que a filha de Jesus e Madalena seria descendente das casas de Judá e Benjamin, respectivamente, e, portanto, teria o direito ao trono assegurado.

Simples assim. A tese do Direito Divino ressuscitada em pleno séc. XXI.

É claro que o autor tenta encobrir essa tese através de um romance de muita ação, com múltiplas informações superpostas, colocadas de maneira a parecerem verdades incontestes.

As novas informações somente parecem “novas” pela forma de “thriller” com que foi escrito o romance.

Autores bem mais conceituados que Dan Brown, como Juan Atienza, em “O Legado Templário” e Umberto Eco em “O Pêndulo de Foucault” trataram de questões como Santo Graal, Templários, neopaganismo, etc., de uma maneira séria e desmistificadora.

Ao contrário de Dan Brown, que, em seu livro, coloca em destaque e relevo a burguesia e a monarquia como os únicos e legítimos detentores da verdade.

Devemos sempre ficar atentos quanto a esse tipo de literatura, porque o imperialismo cultural e a massificação não se fazem apenas através de revistas, jornais e mídia televisiva. E temos uma nova geração sedenta de novidades e disposta a aceitar qualquer "verdade" que se lhes imponha. Principalmente sob a forma de romance.

Quanto à “Santa Ceia”, de Leonardo Da Vinci... Se Maria Madalena é João, onde está o apóstolo João? Teria ido ao banheiro?

O escritor português Bernardo Sanchez da Motta faz uma crítica muito lúcida sobre "O Código Da Vinci". Leia aqui.