quarta-feira, 18 de março de 2009

Sobre a mídia...

a circulação de jornais e as mudanças na mídia

Um estudo amplo sobre os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) – que audita a tiragem de jornais e revistas – e do Ibope – para TV e rádio – comprova que a última década foi de mudanças estruturais. Essas modificações reduziram sensivelmente o papel e a influência da chamada grande mídia – categoria onde entram a Rede Globo, os jornais Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense. E um sensível aumento de competidores, da imprensa do interior e dos jornais populares.

Por Luis Nassif, em seu blog



Entre as TVs abertas, a Globo tinha um share de audiência de 50,7% em 2001. Chegou a bater em 56,7% em 2004 – coincidindo com a queda de audiência do SBT. Hoje está em 40,6% – coincidindo com a subida da TV Record – que saiu de 9,2% em 2001 para 16,2%.

Nas três últimas semanas, o Jornal Nacional deu 26% de audiência em São Paulo. Seis anos atrás, era de 42%. Nessa época, quando o JN caiu para 35% houve um reboliço na Globo. A ponto de edições do JN terem blocos de 22 minutos com várias matérias de apelo.

Aparentemente, perdeu esse pique.

O que interessa

Com os jornais da chamada grande mídia, repete-se o mesmo fenômeno. O estudo dividiu os jornais entre tradicionais (Folha, Estado, Globo, JB e Correio Braziliense), jornais das capitais, jornais do interior e jornais populares.

De 2001 a 2009, os tradicionais perderam 300 mil exemplares diários – de 1,2 milhão para 942 mil, queda de 25%. Os jornais de capitais (excetuando os do primeiro grupo) cresceram de 1,2 milhão para 1, 37 milhão – crescimento de 10,5%. Os jornais populares passaram de 663 mil para 1,2 milhão – alta de 85%. E os jornais do interior saltaram de 300 mil para 552 mil – alta de 83,5%.

Não apenas isso. Nos últimos anos, gradativamente os jornais estão se desvencilhando da pauta da chamada grande mídia. Antes, havia um processo de criação de ondas concêntricas em torno dos temas levantados pelo núcleo central, com os demais jornais acompanhando as manchetes e as análises.

De alguns anos para cá, essa dependência cessou. Um estudo de caso analisou bem essa diferença de enfoque. Lula esteve em São Paulo. Anunciou que as informações do INSS seriam fornecidas em três horas. Os grandes jornais e o JN deram destaque para a visita a uma sinagoga (para repercutir a questão do Holocausto) e para intrigas políticas. Todos os jornais populares, do interior e das capitais, deram destaque àquilo que interessava diretamente ao seu leitor: a diminuição dos prazos de informações do INSS.

Caminho longo

Esse exemplo sintetiza a armadilha na qual se meteu nos últimos anos a chamada grande mídia. Perdeu-se a noção dos temas relevantes ao leitor. Em vez de buscar a informação útil, enrolaram-se no chamado jornalismo de intriga – sempre procurando frases ou enfoques que privilegiassem conflitos.

Enquanto isto, os jornais populares – com exceção dos paulistanos (Agora, Diário de S.Paulo e Jornal da Tarde), que não decolaram – passaram a tratar dos temas de interesse de seu público, assim com os jornais de interior e da capital.

Vai ser um longo trajeto para recuperar os princípios do jornalismo.




Apicultores uruguaios em Emergência Nacional por causa de agroquímicos









Adital -

A Sociedade Apícola do Uruguai (SAU) exige, desde o final de ano passado, que se proíbam as aspersões com Fipronil, que provocaram a morte de milhares de colméias no país. A Rede de Ação em Praguicidas e suas alternativas para América Latina (RAP-AL Uruguai) acompanha a demanda da SAU.

Esta Rede vem denunciando os perigos do Fipronil desde o ano 2004. Além disso, se exige a realização de estudos de impacto ambienta deste e de outros inseticidas. O Fipronil foi estabelecido como substituto do Mirex (para combater formigas) pelo Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP) no ano de 2004, quando na França já tinha sido suspensa a venta do produto.

RAP-AL denuncia que essa substância afeta particularmente as abelhas, mas também peixes e aves, e que é nociva para a saúde humana e animal em geral. Entre 2005 e 2008, as importações de Fipronil se multiplicaram vinte vezes no Uruguai. No mês de dezembro passado, houve no Uruguai uma praga de insetos em vários departamentos.

Segundo a coordenadora de RAP-AL Uruguai, Maria Isabel Cárcamo, o governo recomendou o uso do Fipronil para combatê-las. Para RAP-AL, isso "foi uma aberração terrível porque matou milhares de colméias em todo o país". os departamentos mais afetados foram Colonia, Florida, Paysandu e Flores. Em finais de fevereiro de 2009, a Direção Geral de Serviços Agrícolas (DGSA) resolveu uma restrição parcial do uso do Fipronil, proibindo seu uso "em floração de cultivos, prados e campos naturais".

RAP-AL entende que embora isso possa ser considerado um "avanço", "é a todas luzes insuficiente". Segundo Cárcamo, a restrição "nada diz de que não possa seguir usando em outros cultivos onde não haja floração".

A nota é da Púlsar

terça-feira, 17 de março de 2009

Enquanto isso em El Salvador....

Candidato da FLMN vence eleições presidenciais






Adital

Cerca de 7 milhões de cidadãos salvadorenhos vivem sob expectativas de mudanças no país. Depois de vinte anos de governo do partido de direita Aliança Republicana Nacionalista (Arena), a esquerda Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), fundada em 1992 e formada por quatro movimentos guerrilheiros e o Partido Comunista, chega ao poder por meio da candidatura do jornalista Maurício Funes a Presidência da República.

Logo após o anúncio feito pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) de que Funes vencia por 51,2% dos votos contra 48,7% do candidato governista Rodrigo Ávila, com 92,02% de urnas apuradas, partidários da FMLN saíram às ruas para comemorar a vitória esperada desde 1992. Durante 12 anos (1980-1992), El Salvador viveu uma guerra civil que deixou cerca de 75 mil mortos e que chegou ao fim com os acordos de paz de Chapultepec.

Caso o triunfo da esquerda seja confirmado pelo TSE, Funes assumirá a presidência no dia 1º de junho deste ano. No encerramento das votações, o presidente do TSE, Walter Araujo, afirmou que o processo eleitoral tinha sido transparente, tranquilo, pacífico e maciço. Dados preliminares revelam que a participação popular ficou em 60% dos 4,2 milhões que estavam aptos a votar, o que significa 6% a mais do que nas eleições legislativas e municipais de 18 de janeiro deste ano.

Observadores internacionais afirmaram que o processo eleitoral transcorreu sem maiores incidentes, embora o observatório e centro de monitoramento da FMLN tenha recebido milhares de denúncias sobre irregularidades ocorridas no domingo. Cerca de 100 mensagens por hora chegavam na instituição, muitas das quais a entidade conseguiu comprovar e documentar.

O candidato arenista reconheceu a vitória de Funes. Ávila afirmou que a eleição foi apertada e a mais dura enfrentada pela Arena. Por sua vez, o futuro presidente salvadorenho, Maurício Funes, disse que queria ser o "verdadeiro presidente da verdadeira reconstrução do país". Declarou ainda o desejo em ser "o presidente da justiça social e a mudança na segurança".

O país centro-americano é economicamente bastante dependente dos Estados Unidos e tem uma taxa de pobreza de 35% e 40% de desempregados e empregos precários. Além dos 7 milhões de cidadãos salvadorenhos residentes, existem outros 2,5 milhões de salvadorenhos vivendo atualmente nos EUA. O presidente Barack Obama já adiantou que pretende trabalhar com qualquer um dos eleitos.

mídia democrática.....

Elite mundial tentará

controlar a internet

Eduardo Guimarães

Hoje já vou começar chutando o pau da barraca, fazendo logo uma afirmação peremptória sobre o que não aconteceu e sobre o que não tenho prova nenhuma de que acontecerá.

E o que é melhor: todos os esquerdistas concordarão comigo e todos os direitistas, discordarão.

Mas o melhor mesmo vem é agora: o meu lado é que estará certo.

Antes de prosseguir, porém, quero dizer uma coisa aos que terão dado um sorrisinho ao ler o que escrevi acima, dizendo a si mesmos que esquerda e direita não existem mais, que a esquerda brasileira não é esquerda coisa nenhuma etc.: não me venham com essa, meninos.

Como é que não existem mais esquerda e direita? Essas pessoas são contra programas sociais, não aceitam negros nas universidades, dizem que programas de transferência de renda são esmolas... E não são de direita?

Tá bom...

Bem, mas retomando. A afirmação peremptória que fiz se deve a um fato óbvio, de que, como está, para as elites não pode ficar.

Vocês viram o que fizemos no caso da ditabranda da Folha de São Paulo? Será que tantos se deram conta do que a internet é capaz de fazer? Resposta: não. Sobrou gente de esquerda e de direita que menosprezou o que fizemos.

O mais importante, porém, é que a casa caiu, caros reacionários. Hoje, qualquer um pode acordar um dia, decidir criar um blog e encher a paciência de herdeiros ultra-mimados, ultra-ricos e ultra-influentes até eles babarem nas suas horrorosas e ridiculamente caras gravatas Hermès.

Com o avanço da tecnologia, a tendência crescente é a de que acabará sendo possível igualar mega grupos empresariais a uma pequena equipe de Zés Manés como eu, por exemplo, contanto que tenham uns bons computadores e redes.

As elites daslunianas-tucano-pefelês que, com nomes trocados, infectam os quatro cantos da Terra, não irão aceitar isso. Tiveram todo aquele trabalho para se apoderarem da invenção de Johannes Gutemberg justamente porque a capacidade de falar para muitos sempre foi sinônimo de poder. Não farão por menos, agora.

Aliás, acho que foi no site do Luiz Carlos Azenha que li uma excelente matéria sobre especulações acerca de uma possível implementação de “níveis” na internet que diferenciariam um Zé Mané como este de um grupo empresarial como o da família Frias, por exemplo. Só não me lembro como.

Não importa. Os projetos virão. Terão que vir, para as elites mundiais. Sem controlar a internet, o principal poder que as tornou o que são – o poder, repito, de falar sozinhas para muitos –, será pulverizado.

Imaginem uma situação em que uma Folha ou uma Veja dissessem alguma daquelas muitas empulhações que costumam dizer e eu, euzinho, pudesse desmascará-las no mesmo nível de audiência.

Se a internet continuar incluindo cada vez mais gente – e nesse ritmo estonteante –, logo, logo esse sonho que escrevi acima poderá virar realidade.

Alguém acredita que os Jardins ou a Barra da Tijuca permitirão isso?

Resta àqueles que se dedicam a tornar o mundo mais igual preocuparem-se com isso. Um passo nesse sentido, aliás, deverá ser a Conferência Nacional de Comunicação, da qual participarei. As discussões começarão no próximo dia 25 na Câmara Municipal de São Paulo.

Julgo, pois, da maior importância que todos tenham bem claro nas mentes que a tentativa da elite mundial de controlar a internet e de barrar a possibilidade de cidadãos comuns falarem tanto quanto as corporações, é uma inexorabilidade.

A tentativa dos muito ricos de controlarem a internet virá, e forte. Muito forte. Tomara que, quando vier, a humanidade já esteja preparada. Só que o tempo urge.




segunda-feira, 16 de março de 2009

A má-fé de um jornal que advoga a causa de um bandido


O objetivo é aliviar o lado criminoso de Daniel Dantas

Está em curso no Brasil uma campanha maciça e forte contra o delegado Protógenes Queiroz. O objetivo é aliviar o lado do bandido banqueiro Daniel Dantas, fazendo-o passar por vítima de um “endoidecido” (segundo a expressão do ex-presidente FHC), ou seja, de um endemoniado, um possesso, alguém que deveria arder no fogo do inferno, para todo o sempre.

É assim mesmo, quando a razão sai por uma porta, entra pela janela o Sobrenatural de Almeida – como diria Nelson Rodrigues. Se pela razão e pelo Direito não se pode salvar a pele de Dantas, pela desqualificação e a desconstituição pública através do apelo a imagens terríveis e supranaturais talvez se possa pelo menos anular o seu denunciador mais destemido.

O jornal Zero Hora, mostrando a má-fé de uma manchete (acima), se filia aos partidários de Torquemada e associados do bandido-banqueiro. O plural do vocábulo “fazenda” passa a idéia de que Protógenes é mesmo um incendiário enlouquecido, quando o próprio corpo do texto, informa que não, que o correto delegado está incentivando a ocupação de terras do mais novo latifundiário brasileiro, o indizível Daniel Dantas, e apenas deste.

Aliás, os crimes que imputam a Protógenes – investigação ilegal, escutas não-autorizadas, arapongagem criminosa, etc. – são os mesmos que o ex-ouvidor da Secretaria de Segurança da governadora Yeda denuncia como prática corriqueira no setor público estadual. Ainda não escutei nenhuma vestal da direita guasca condenar os excessos cometidos pela arapongagem de bombachas.

Acaso estarei eu, ficando surdo? Ou os que guardam o fogo sagrado da moral e da ética maragata estão - por ora - de férias?

domingo, 15 de março de 2009

Nouriel Roubini: ações que podem evitar o pior da crise

www.vermelho.org.br

Com a contração da atividade econômica mundial no mesmo ritmo dos últimos três meses de 2008, a recessão em forma de U poderá se tornar uma séria depressão em L ou estagdeflação. A escala e a velocidade da recessão global não têm precedentes, ao menos desde a Crise de 1929, com a queda livre do Produto Interno Bruto (PIB), da renda, do consumo, da produção industrial, do emprego, das exportações e importações e do investimento em imóveis residenciais. Muitos mercados emergentes estão à beira de uma inegável crise financeira, a começar pela Europa Central e Oriental.

Por Nouriel Roubini



Os estímulos fiscal e monetário têm sido mais agressivos nos Estados Unidos e na China. Ainda são insuficientes na Zona do Euro e no Japão, onde os formuladores de políticas públicas estão “atrás da curva”.

É improvável que estímulos débeis levem a uma recuperação econômica sustentável. Sem uma reação forte dos EUA, a China não terá como voltar a crescer às suas taxas históricas. A recuperação americana requer consumo em queda, aumento da poupança privada e déficits comerciais menores.

Isso significa que o crescimento da China e de outros países superavitários, como o Japão e a Alemanha, dependerá muito mais da demanda interna do que das exportações líquidas.

No entanto, a demanda está anêmica nesses países, tanto cíclica quanto estruturalmente. Tal anemia explica-se pela fragilidade da renda da população, porque os lucros e a poupança das corporações são entesourados, em vez de transferidos aos acionistas na forma de dividendos. A recuperação da economia mundial não pode ocorrer sem um rápido e ordenado ajuste dos desequilíbrios das contas correntes globais.

Prossegue o ajuste na poupança e no consumo dos EUA. Os gastos pessoais em janeiro subiram, em um soluço temporário determinado por fatores transitórios. Os recursos de poupança aumentaram 5%, mas continua o massacre nos mercados e das instituições financeiras.

O debate sobre a nacionalização dos bancos beira o surreal. Barack Obama comprometeu-se em apoiar o sistema financeiro com 9 trilhões de dólares, dos quais 2 trilhões já foram desembolsados, para contemplar as garantias, os investimentos, a recapitalização e as provisões para liquidez.

O sistema financeiro americano está de fato estatizado, uma vez que o Federal Reserve se tornou fonte de empréstimos de única e primeira instância e o Tesouro, o “gastador” de primeira e única instância.

A única questão é se os bancos deveriam também ser nacionalizados de direito e não apenas de fato. Mesmo neste caso, a distinção é apenas entre a nacionalização parcial e a total. Com os 36% de participação no Citi, porcentual que em breve deve aumentar, o governo é o maior acionista do conglomerado. Por que tanta controvérsia sobre a nacionalização? O Citi está parcialmente estatizado e a única questão é se deveria passar plenamente para as mãos do Estado.

A não ser que os formuladores de políticas públicas do mundo inteiro comecem a caminhar, em vez de dormirem ao volante, e iniciem um contra-ataque esmagador, ao estilo Colin Powell, poderemos nos defrontar com uma depressão de vários anos ou uma estagdeflação nunca vista desde a Grande Depressão. Uma política agressiva precisa contemplar:

- A massiva e não ortodoxa flexibilização da política monetária para descongelar os mercados de crédito, mesmo que isso implique os bancos centrais se tornarem mais generosos com as garantias e tomarem mais risco de crédito.

- Um agressivo e abrangente estímulo fiscal, mais do lado dos gastos do que dos tributos, com alívio fiscal para os agentes econômicos com maior propensão a gastar, como os pobres, os desempregados e os governos municipais e estaduais.

- Um rápido processo de aquisição dos bancos insolventes, com a completa estatização e limpeza dos ativos tóxicos, para posterior reprivatização.

- Um forte incentivo às instituições financeiras para ampliarem a oferta de crédito, o que sanaria a falta de coordenação dos empréstimos, negados até a empresas e famílias com histórico de bons pagadores.

- O uso apropriado e construtivo do crédito, com exigências adequadas de capital, marcação a mercado transparente, evitando-se os tardios e destrutivos rebaixamentos de ratings pelas agências de classificação de riscos.

- A redução automática do valor de face das dívidas hipotecárias e outros débitos de mutuários insolventes, porque o estudo caso a caso tende a ser ineficiente.

- A duplicação imediata dos recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a provisão de liquidez e de linhas de crédito para os mercados emergentes sob estresse financeiro e de liquidez. Os condicionantes para os empréstimos devem ser rígidos para economias debilitadas e abrandados para as que exibem fundamentos mais sólidos.

*Nouriel Roubini é professor de Economia da Universidade de Nova York e sócio da consultoria RGE Monitor. Obteve o ph.D. na Universidade Harvard, sob orientação do economista Jeffrey Sachs.



sábado, 14 de março de 2009

Pena de Morte para Protógenes Pinheiro Queiroz

Pedro Profirio - Patria Latina



“No final das contas, o delegado (que seria o mocinho) tem tudo para ser crucificado como o “bandido” de toda a história, enquanto Daniel Dantas e seus poderosos aliados e parceiros saem completamente ilesos e inocentados de todo o escândalo”. (Jorge Serrão, “Alerta Total” ) Alerta total
Começa pelo nome: Protógenes – isso é nome de um tira da pesada? De acordo com a Enciclopédia Britânica, Protógenes foi o nome de um pintor grego que viveu por volta dos anos 390 a 200 antes de Cristo. Como todos os pintores de sua época, seus trabalhos foram destruídos pelo tempo, restando apenas relatos na literatura acerca de sua existência e de suas obras. No Dicionário do Significados dos Nomes, quer dizer “o primogênito”.
Nome grego, portanto. E da época em que só se falava em Sócrates (470-399 AC), o primeiro filósofo de responsa. Como é que um homem com a marca de um artista vai se meter a tira num país da impunidade, como bem definiu o malandro Bezerra da Silva em seu samba sobre os políticos canalhas?
Esperava o que, esse insólito policial? Achava que ir ganhar uma medalha por mexer em caixa de maribondo? E logo com o que há de mais protuberante nesses podres poderes?
Quanta petulância. Vai querer o que? Cavoucar as mazelas de uma República inebriada pelo mel do poder lambuzado? Não tem pra ninguém, cara. Tá todo mundo mareado pelo cruzeiro de ilusões multicores. Quem chega ao topo, manda e desmanda. Não adianta espernear.

Delegado atrevido
O delegado atrevido fez concurso, ralou para ganhar o distintivo. Um ministro do Supremo Tribunal Federal não precisa queimar a mufa. Ganha do presidente amigo a mais cobiçada cadeira da magistratura para o resto da vida. E, como é público e notório, o que a Justiça decide não se discute: cumpre-se. Inda mais se for a Justiça Superior. Mais o quê? Meter-se com um personagem poderoso, para o qual todos se agacham como se diante da galinha dos ovos de ouro?
O delegado Protógenes Pinheiro Queiroz brincou com fogo desde quando começou a trabalhar como agente federal. Mexeu com boa parte do nosso PIB. Sabe o que é PIB? É isso mesmo. Diz-se da turma que consta do pódio do sistema. Abusou, sem dúvida. Agindo como um autêntico “ET”, criou uma falsa idéia de que no Brasil, finalmente, a cana não seria só para ladrão de galinha.

Folha Corrida
Veja seu histórico: Foi quem efetuou a prisão de Paulo Maluf, do contrabandista Law King Chong, de Daniel Dantas, de Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
Estiveram sob sua coordenação, em parceria com a Promotoria de São Paulo as investigações do caso Corinthians/MSI, por evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Os envolvidos nas fraudes da arbitragem do futebol Brasileiro, em 2005, foram investigados por ele e pelos promotores Roberto Porto e José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco.
Queiroz também presidiu o inquérito sobre remessas ilegais de dinheiro para paraísos fiscais, que desvendaram movimentações de cerca de cinco milhões de dólares, das quais o ex-prefeito Celso Pitta seria o principal beneficiário. O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) foi investigado no mesmo inquérito. Foi seu o relatório que terminou o inquérito sobre desvio de dinheiro da Prefeitura de São Paulo, concluindo que "os cofres públicos foram pilhados" durante os governos de Maluf (1993-96) e Pitta (1997-2000).
Participou da operação que prendeu o comerciante Law King Chong, o maior contrabandista do Brasil. King Chong estava disposto a pagar 1,5 milhão de dólares ao presidente da CPI, deputado Luiz Antônio Medeiros para obter favores, mas suas conversas foram registradas.
Foi quem comandou a Operação Satiagraha, desde seu início até o dia 14 de julho de 2008, quando se afastou "voluntariamente, por motivos pessoais", a "conselho" da cúpula da Polícia Federal. Curiosamente Protógenes teria comentado com aliados que esse afastamento desmerece seu trabalho, e causa um prejuízo muito grande à investigação.
No dia 16 de julho o presidente Lula determinou ao seu ministro da justiça Tarso Genro que combinasse com a cúpula da Polícia Federal o retorno de Queiroz ao comando das investigações na Operação Satiagraha. Entretanto tal não ocorreu, e o último ato de Queiroz nesse inquérito foi indiciar formalmente Daniel Dantas, do Banco Opportunity, e mais nove pessoas investigadas na Operação Satiagraha no dia 18 de julho de 2008, sob acusação de gestão fraudulenta e formação de quadrilha.
Com tanta imprudência, você queria o que? Como as mais altas proeminências dos nossos podres poderes estão querendo comer-lhe o fígado, não será surpresa se alguma dessas vestais sugerir o restabelecimento da pena de morte com o objetivo de permitir a execução de todos os policiais e juizes que ousarem mexer com os donos do Brasil. A começar por esse Protógenes.

Matéria de encomenda
Com a palavra o inquieto repórter JORGE SERRÃO, editor do “Alerta Total”:
“O poderoso e bem articulado esquema de defesa do banqueiro Daniel Valente Dantas está por trás da publicação da reportagem de capa da revista Veja: “A Tenebrosa máquina de espionagem do Dr Protógenes”. A matéria tem o objetivo tático de desmoralizar, desqualificar e desacreditar as investigações comandadas pelo delegado federal Protógenes Queiroz na Operação Satyagraha. A intenção fica explícita quando o texto se encerra, na página 191 da revista, informando que um dos arquivos de computador do delegado indica que “ele estava se dedicando a escrever uma autobiografia. Título: Protógenes, a Lenda”.
O que não parece lenda é o trabalho produzido – e não completamente divulgado – do delegado. O processo da Satyagraha, para facilitar a eventual punição de poderosos envolvidos, corre em “segredo de Justiça”. Se Protógenes e sua equipe eventualmente cometeram erros, irregularidades ou ilegalidades durante a investigação, tal questão deveria ser apurada com isenção pela Justiça. Até agora só vazou para a mídia amestrada o conteúdo de eventuais situações nas quais o investigador teria cometido excessos ou abusos de autoridade – o que também precisa ser comprovado judicialmente. O que não vaza, estranhamente, é a ligação direta, real e comprovada de Daniel Dantas com todos os poderes da República.
O feitiço da reportagem da Veja tem tudo para se voltar contra o feiticeiro por causa da reação que já provocou nos bastidores políticos, neste final/começo de semana. Um dos mais indignados com a matéria – apenas porque foi citado nela, sem explicações mais completas – foi o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA). O filho do falecido ACM, que sempre se pautou pela discrição, ameaça ocupar esta semana a tribuna do Senado para cobrar que seja divulgada e aberta publicamente a relação completa de quem tem relações com Daniel Dantas.
O senador garante, nos bastidores, que todo mundo tem. Algumas ligações são comprometedoras politicamente. Outras são meros negócios praticados dentro da legalidade. ACM Júnior garantiu a amigos que não teve negócios ilegais com Daniel Dantas. O senador suspeita que a citação de seu nome nas investigações de Protógenes –classificada de “misteriosa” e sem aplicação pela revista – foi uma mera manobra ilusionista para esconder outros fatos muito mais graves que a reportagem não quis mostrar e que as investigações (em sigilo) podem ocultar no final do processo”.
E você o que acha?

coluna@pedroporfirio.com

Mais uma perda para a CUT...

Contag rechaça divisionismo sindical e se desfilia da CUT


A noite desta sexta-feira (13) é histórica para o sindicalismo brasileiro. A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), maior entidade sindical rural do país, decidiu se desfiliar da CUT. Dos 2.559 delegados presentes no 10º Congresso Nacional da categoria — que acontece no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília —, 1.440 votaram pela saída da central. Apesar do uso irrestrito da máquina cutista, a proposta de manter a filiação obteve apenas 1.109 votos.

Por Carla Santos



Imagens do plenário refletem a disputa desta sexta

“A CUT jogou pesado, mas não teve jeito. A ampla maioria do plenário votou pela desfiliação porque não concorda com a pluralidade sindical defendida pela CUT”, afirmou ao Vermelho David Wylkerson de Souza, secretário-geral da Contag e vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). “O significado dessa mudança será uma Contag mais unida, com seus sindicatos e federações com maior poder de decisão. A votação foi uma resposta ao divisionismo.”

Os problemas com a CUT se iniciaram com o apoio da central ao desmembramento das bases representadas pelas entidades filiadas à Contag. As principais razões apontadas pelas lideranças para a desfiliação foram a proliferação de entidades que se dizem representantes dos trabalhadores na agricultura familiar e um projeto em tramitação no Congresso que estabelece a separação da representação dos assalariados.

“O resultado da votação demonstra a capacidade de entendimento político dos trabalhadores rurais em defesa de uma Contag mais autônoma, na luta pelo projeto de desenvolvimento rural sustentável”, disse no Portal CTB Pascoal Carneiro, secretário-geral da CTB, presente no Congresso da Contag.

Não ao dinheiro e à chantagem

Segundo David, a CUT baixou o nível e apelou na tentativa de evitar a derrota consolidada nesta sexta. “Assistimos a uma aula de como não se fazer sindicalismo durante esse congresso. Muitos dos delegados relataram que, na porta de entrada do ginásio, foi oferecido até R$ 100 por crachá de delegado favorável a desfiliação.”

Além da suposta tentativa de compra de votos, David relata que a central produziu materiais gráficos enganosos e investiu no deslocamento de cerca de 50 de seus melhores militantes para evitar a desfiliação. “Enfrentamos um poderio econômico muito grande e pressão de toda a natureza”, disse o secretário-geral da Contag.

As denúncias vão além, segundo David. “O pior foi a chantagem. Muitos cutistas argumentaram que, se a Contag se desfiliasse, acabaria perdendo espaço de diálogo com o governo federal e não teria mais chances de obter recursos para seus projetos. Falaram em isolamento. Fizeram um verdadeiro terrorismo psicológico.”

Na avaliação da liderança, o comportamento de muitos dos cutistas é o reconhecimento da decisão do plenário. “Tudo isso que foi feito demonstra o desespero cutista ao perceber a derrota anunciada. Mas a vontade de autonomia frente às centrais, aos governos, e a defesa da unicidade sindical foi mais forte que a pressão e o dinheiro. O que valeu foi a vontade da grande maioria”, reflete David.

O futuro da Contag

Sobre a filiação a uma nova central, ele diz que o momento é de conscientização. “Buscaram vincular o debate da desfiliação à filiação em outras centrais. Muitos cutistas tentaram queimar a CTB. Porém, o momento é de debate sobre a importância das centrais sindicais no país. É preciso que se faça um trabalho de conscientização. A partir disso, com maturidade e sem pressão, a base poderá novamente propor a filiação a uma nova central”, defende.

Fundada em 22 de dezembro de 1963, no Rio de Janeiro, a Contag é a maior entidade sindical de trabalhadores rurais do Brasil. Na época de sua fundação existiam 14 federações e 475 sindicatos de trabalhadores rurais. Hoje, compõem a base da entidade 27 federações, que reúnem cerca de 4 mil sindicatos rurais e 20 milhões de trabalhadores do campo. Neste sábado, o 10º Congresso elegerá a nova diretoria da entidade. Apenas uma chapa disputa a eleição.

Apesar da derrota, a CUT continua a ser a maior central sindical do país. Mas a histórica derrota sofrida na Contag se insere num crescente quadro de perdas cutistas — que já teve em suas bases a maioria dos sindicatos que agora estão ligados à Intersindical, à Coluntas e à própria CTB.

Quadro da votação do 10º Congresso da Contag:
Total de votantes: 2.559
Votos pela desfiliação à CUT: 1.440
Votos pela manutenção da filiação: 1.109


sexta-feira, 13 de março de 2009

Do Blog da Eunice Couto...

OS VOTOS DO BEM

Não faltou disposição aos deputados que defenderam insistentemente a derrubada do veto. Muitas horas de discussão e defesa aos servidores estaduais e aos serviços públicos que o governo estadual busca destruir através de sua política nefasta, que retira direitos do povo para alardear o tal "déficit zero" inexistente.

Adão Villaverde - PT
Daniel Bordignon - PT
Dionilso Marcon - PT
Elvino Bohn Gass - PT
Fabiano Pereira - PT
Marisa Formolo - PT
Raul Pont - PT
Ronaldo Zulke - PT
Stela Farias - PT
Nelson Härter - PMDB
Adroaldo Loureiro - PDT
Gerson Burmann - PDT
Gilmar Sossella - PDT
Kalil Sehbe - PDT
Paulo Azeredo - PDT
Cassiá Carpes - PTB
José Sperotto - DEM
Marquinho Lang - DEM
Paulo Borges - DEM
Miki Breier - PSB
Raul Carrion - PCdoB

INIMIGOS DO POVO GAÚCHO

Na tarde de ontem (12), após três dias de discussão, foi votado o veto da governadora ao projeto que abonava as faltas dos servidores públicos que aderiram à greve no final de 2008. Apesar da atividade sindical e da defesa de vários deputados da oposição, o veto foi mantido com o voto dos INIMIGOS DO POVO GAÚCHO listados abaixo:

+Alberto Oliveira - PMDB
+Alceu Moreira - PMDB
+Alexandre Postal - PMDB
+Álvaro Boessio - PMDB
+Edson Brum - PMDB
+Gilberto Capoani - PMDB
+Luiz Fernando Záchia - PMDB
+Sandro Boka - PMDB
+Adolfo Brito - PP
+Francisco Appio - PP
+Frederico Antunes - PP
+Jerônimo Goergen - PP
+João Fischer - PP
+Marco Peixoto - PP
+Pedro Westphalen - PP
+Adilson Troca - PSDB
+Coffy Rodrigues - PSDB
+Jorge Gobbi - PSDB
+Nelson Marchezan Jr. - PSDB
+Paulo Brum - PSDB
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A estes senhores daremos a resposta na eleição de 2010. Se a memória falhar, sempre haverá um trabalhador para lembrar quem são os inimigos do povo, afinal o seu voto prejudica a sociedade gaúcha, retirando-lhe o direito a serviços públicos de qualidade, iniciados com o devido respeito aos servidores públicos de carreira.

Do Le Monde-Brasil

Agricultura patenteada

Há cinco anos as plantações de algodão de Burkina Faso, as maiores da África Ocidental, vêm sendo contaminadas por organismos geneticamente modificados. E ao que tudo indica, o país é apenas o ponto de partida para a expansão dessa tecnologia, que traz enormes benefícios a empresas como a Monsanto

Françoise Gérard

Há algum tempo, o pequeno Burkina Faso, um dos Estados mais pobres do mundo, se lançou discretamente na cultura de organismos geneticamente modificados (OGM). Em princípio, com o algodão BT [1]. Revelada ao grande público em 2003, a parceria do país com a gigante americana de sementes Monsanto suscitou controvérsia entre a população rural e as associações locais, por representar um teste para o desenvolvimento dos OGMs em toda a África Ocidental.

Como Burkina Faso acabou se envolvendo com a empresa famosa por seu herbicida “Roundup” e seu “agente laranja”? [2] A sacrossanta “luta contra a pobreza”, para a qual os OGMs trariam sua contribuição, dinamizando a agricultura do país, parece ser apenas um pretexto e as reais motivações dos parceiros estão só começando a aparecer, após muita pressão dos agricultores locais.

Apesar de Burkina Faso ter assinado a Convenção sobre Diversidade Biológica, de 1992, e o Protocolo de Cartagena sobre biossegurança, de 2000, isso não impediu que desse início, em segredo, às primeiras experiências com algodão BT, já em 2001. O desrespeito é evidente: esses tratados internacionais estipulam que os países signatários devem dotar-se de um aparato legislativo e tomar todas as precauções antes de começar a cultura de OGMs. Além disso, comprometem- se a informar a população dos perigos e a não tomar nenhuma decisão sem ampla consulta pública.

No entanto, foi só em 2003, durante uma oficina sobre biossegurança realizada em Uagadugu, a capital, que a Liga dos Consumidores soube da existência dessas experiências e divulgou para a população aquilo que o Instituto do Meio Ambiente e da Pesquisa Agrícola (Inera) tinha dissimulado. A Monsanto sustentou que as experiências estavam sendo realizadas em “espaços confinados”. No entanto, omitiu que as redes que protegiam essas plantações estavam rasgadas, possibilitando a contaminação do entorno por meio do ar.

Após quase cinco anos da chegada da cultura de OGMs, o Parlamento de Burkina Faso ratificou, em abril de 2006, o Regime de Segurança em Biotecnologia. A lei tem como objetivo “garantir a segurança humana, animal e vegetal e a proteção da diversidade biológica e do meio ambiente”, segundo seu artigo 22, sendo a Agência Nacional pela Biossegurança (ANB) encarregada pela avaliação dos riscos. Ora, segundo seus oponentes, é exatamente porque os riscos são incontroláveis que essas culturas são contestadas... [3]

A Monsanto escolheu Burkina Faso porque o país é o maior produtor de algodão da África Ocidental, à frente do Mali, Benim e Costa do Marfim. Além disso, sua situação geográfica o torna o Cavalo de Tróia da biotecnologia na região. Afinal, as fronteiras na África são porosas, facilitando as trocas involuntárias e a contaminação “acidental” de plantações livres de OGMs, o que traz enormes benefícios às empresas que pregam essa tecnologia. Uma vez infectada uma plantação, não há como voltar atrás. Isso possibilita não só a cobrança de royalties sobre essas plantas geneticamente modificadas, que nem sequer foram adquiridas pelos agricultores, como também condiciona o controle técnico aos produtos daquela empresa específica. Por exemplo: um OGM responde preferencialmente aos herbicidas produzidos pela mesma empresa que o desenvolveu, em geral mais caro.

Sutilmente, os OGMs estão, portanto, se impondo, sem que os cidadãos percebam. Se o Benim renovou por cinco anos uma moratória em relação aos OGMs, o Mali acaba de ceder à pressão e autorizar as experiências com algodão BT.

Burkina Faso era o ponto fraco da região: seu presidente, Blaise Compaoré, tentava reatar os laços com a “comunidade internacional” depois de ter apoiado ativamente Charles Taylor – que agora responde à justiça internacional [4] – durante a mortífera guerra civil da Libéria, nos anos 1990. Ele era suspeito de ter alimentado o tráfico de armas e diamantes na sub-região. Em alguns anos, seu país se tornou aluno modelo das instituições financeiras internacionais e da Organização Mundial do Comércio (OMC). A parceria com a Monsanto constituiu, assim, um gesto político de boa vontade com os Estados Unidos, extremamente descontentes com a atitude de Compaoré na Libéria.

A partir de 2003, o ministro da Agricultura, Salif Diallo, fez do algodão OGM sua principal bandeira. A União Nacional dos Produtores de Algodão (UNPCB), dirigida por François Traoré, depois de ter manifestado suas preocupações com a nova tecnologia, mudou de opinião em troca de 30% das ações da Sociedade de Fibras Têxteis (Sofitex), principal empresa de algodão de Burkina, privatizada a pedido do Banco Mundial.

Em seguida, os agricultores dissidentes criaram o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Agropastoral (Syntap) em violenta oposição aos OGMs. O líder rural Ousmane Tiendrébéogo se revolta: “Aqui só existe a agricultura, não temos o direito de jogar roleta russa com nosso futuro”.

À frente da UNPCB encontram-se três empresas de algodão: a Sofitex, na região oeste, a Sociedade de Algodão de Gourma (Socoma), na região leste, e a Faso Coton, na região central, que constituem um cartel que, junto com os produtores, fixa o preço anual. Em 2008, o quilo do algodão estava em 165 francos CFA (R$ 0,80). As empresas fornecem – a crédito – os insumos, os inseticidas e os herbicidas necessários; depois, quando é feita a colheita, elas vêm recolher a matéria-prima.

Essa relação, herdada do sistema colonial, é uma faca de dois gumes, pois não dá autonomia ao produtor. Proprietário de sua parcela, ele pode, teoricamente, abandonar o algodão se considerar o lucro insignificante, e adotar outra cultura rentável, como o gergelim. [5] Mas, na realidade, sua dívida e seu baixo nível de instrução, assim como os produtos fornecidos pelas empresas, o tornam dependente do sistema. Yezuma Do, produtor, conta a pressão que sofrem: “Eles vieram com as autoridades e a polícia para nos dizer que, no ano que vem, todos nós produziremos o BT, porque é melhor para nós. Mas eles não nos dizem os preços das sementes. E, se recusarmos, a UNPBC nos avisou que não poderemos descaroçar nosso algodão convencional na região”. Cansado de brigar, Do considera renunciar à cultura do algodão, junto com vários vizinhos.

Propriedade intelectual

A UNPCB e as empresas de algodão constituíram a Associação Interprofissional do Algodão de Burkina (AICB). Em comum acordo com os pesquisadores do Inera e da Monsanto, a AICB supervisiona a formação dos técnicos e dos produtores. É ela quem fixará os preços das sementes BT para 2009. O círculo está fechado.

Em 2008, 12 mil hectares de algodão BT, do tipo Bollgard II, foram cultivados a fim de obter sementes para 300 a 400 mil hectares, tendo a ANB autorizado a produção comercial do algodão BT para 2009.

O que acontecerá realmente? Se a semente do algodão convencional retirada da colheita só custa 900 francos CFA (R$ 4,30) o hectare, por outro lado os direitos de propriedade intelectual (DPI) devidos à Monsanto podem ultrapassar os 30 mil francos CFA (R$ 144) por hectare. [6] As empresas de algodão se contentam em tranquilizar os produtores prometendo-lhes que o preço não excederá seus meios.

Uma frente anti-OGM foi constituída pelos agricultores: a Associação para a Conservação do Patrimônio Genético Africano (Copagen). É integrada também por alguns grupos de países vizinhos, como Benim, Mali, Costa do Marfim, Niger, Togo e Senegal. Apesar de suas capacidades financeiras restritas, a Copagen organizou, em fevereiro de 2007, uma caravana pela sub-região a fim de sensibilizar e informar as populações rurais do perigo que elas correm. Essa manifestação foi concluída com uma marcha de protesto nas ruas de Uagadugu. Nos cartazes, podia-se ler: “Não à imposição das multinacionais”, “Cultivar orgânicos é proteger nosso meio ambiente”, “Os acordos de parcerias econômicas [APE] [7] e os OGMs não são a solução para a África, eles são é contra nós. Pare – pense – resista”.

Um participante resumia assim o problema: “Se é isso, o OGM, nós não o queremos! Será que os responsáveis trabalham verdadeiramente para o nosso bem? É preciso desde já divulgar a informação e a sensibilização sobre os OGMs. Eles nunca passarão pela África”.

Contudo, a frente pró-OGM não economiza nos gastos; beneficiando-se do apoio do governo, organiza coletivas de imprensa, tem suas viagens de estudo totalmente pagas, faz excursões de campo, divulga filmes “de informação”... Os folhetos impressos em papel brilhante da Monsanto descrevem um mundo idílico com a ajuda das estatísticas do Inera. Eles sustentam que as sementes OGM, Bollgard II, trarão um aumento médio de renda de 45%, uma redução de pesticidas de seis para duas aplicações, uma diminuição de custos de 62% – portanto, uma economia de 12.525 francos CFA por hectare (R$ 62) – e, consequentemente, um benefício para a saúde dos produtores e para o meio ambiente.

Nada parece mais aleatório que a “renda média” em um país submetido a uma pluviometria inconstante. Se não chove, a população rural acaba obrigada a realizar até duas ou três semeaduras sucessivas. Quando o preço das sementes é insignificante, trata-se “apenas” de um aumento de trabalho. Mas, quando se devem quitar os DPIs, quanto renderá um hectare de algodão? Além disso, parece que o gene milagroso é sensível à seca e que degenera à medida que a planta cresce.

Último inconveniente: durante um curso organizado pela União Européia, do qual participava François Traoré, os produtores de algodão foram intimados a guardar um estoque de pesticidas por segurança, em caso de necessidade. O que significa que o recurso aos produtos químicos não diminui, com certeza.

Efetivamente, dois fenômenos podem ocorrer: a aparição de lagartas resistentes ao gene (em quatro ou cinco anos) ou de pragas secundárias não dominadas por essa tecnologia. Os Estados Unidos e a Índia já experimentaram esse problema. E curiosamente, na reunião do Comitê do Conselho Internacional do Algodão (CCIC) [8] em Uagadugu, de 17 a 21 de novembro de 2008, ao ser exaltado o êxito espetacular do algodão BT indiano (seis anos consecutivos de rendas crescentes), nenhuma menção foi feita à onda de suicídios entre os pequenos produtores, arruinados por uma produção bem inferior ao que lhes foi apresentado.

Argumentos sedutores

Quanto à redução dos gastos, é bem imprudente calcular um número agora, já que a Monsanto guarda cuidadosamente o segredo do preço dos DPI, que se acrescentará ao dos insumos e herbicidas. Se os rendimentos forem melhores [9], a diferença irá para pagar o custo extra dos DPI.

O argumento mais sensível para os produtores continua sendo o da diminuição dos pesticidas, que a Monsanto apresenta de forma sedutora. Frequentemente, durante os dias de semeadura, os agricultores dormem nos campos com toda sua família, se expondo assim à toxicidade agressiva desses produtos. Ora, poder-se-ia utilizar um inseticida natural tirado do neem, uma árvore comum na África Ocidental, como mostram experiências realizadas no Mali, em 10% dos algodoais, pela Companhia Malinesa para o Desenvolvimento dos Têxteis (CMDT).

Em 2001, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou um projeto de gestão integrada da produção e do controle de predadores naturais, visando reduzir, e até suprimir, a utilização de pesticidas. Contudo, nada foi feito para que esse programa passasse do estado de experiência piloto. E mais: “A UNPCB se comporta como uma milícia no centro do mundo rural, reforçando a política da Sofitex, que nos impõe insumos e inseticidas sem nos dar a possibilidade de recusá-los”, protesta Do.

Entre as soluções alternativas aos OGMs existe o algodão orgânico sustentável que a associação Helvetas lançou no Mali, em 2002, e em Burkina Faso, em 2004. Sem produto químico, com adubo orgânico (gratuito) e colheita de primeira qualidade, o solo se regenera em vez de se degradar. O quilo de algodão é pago a 328 francos CFA (R$ 1,60) ao produtor, contra 165 francos CFA (R$ 0,80) para o convencional. A cadeia produtiva já reúne cerca de 5 mil pequenos produtores em cerca de 7 mil hectares divididos em três regiões: a oeste, ao centro e a leste de Burkina Faso.

Mas vários fatores parecem frear sua expansão: além das pressões tonitruantes da Monsanto, aliada às instituições financeiras internacionais, o transporte do adubo orgânico pressupõe, no mínimo, um burro e uma charrete. E raros são os agricultores que dispõem de algum meio de deslocamento. Segundo Abdoulaye Ouedraogo, responsável pela cadeia produtiva do algodão na Helvetas-Burkina: “Aqui não há futuro para os OGMs. Primeiro, por razões climáticas. Depois, porque os pequenos produtores não seguirão nunca as orientações. Eles se preocupam primeiro em encher os celeiros para alimentar a família: o algodão vem apenas depois. Não é como nos Estados Unidos, onde se pratica a monocultura a perder de vista”.

O furor pró-OGM se explica, então, não apenas pela vontade das transnacionais, mas também pelo enriquecimento que isso gera para uma classe privilegiada, em detrimento dos interesses do país.



[1] O algodão BT é uma variedade local à qual foi acrescentado um gene tirado de uma bactéria do solo, o bacillus thuringiensis, mortal para algumas pragas do algodão.

[2] Nome dado ao herbicida – extremamente tóxico para o ser humano – muito utilizado pelo exército dos Estados Unidos no Vietnã a fim de destruir as colheitas e provocar a desfolhação das florestas, impedindo assim os vietnamitas de se esconder.

[3] Aurélien Bernier, “La poudre aux yeux de l’évaluation des OGM” (Poeira nos olhos da avalização dos OGMs), Le Monde Diplomatique, novembro de 2006.

[4] No caso,o Tribunal Especial para a Serra Leoa, por ter apadrinhado, nesse país, a Frente Revolucionária Unida (RUF), movimento rebelde responsável por crimes contra a humanidade.

[5] Uma associação italiana lançou um programa para a exportação extremamente vantajosa para os produtores. Temendo a concorrência com o algodão, as autoridades fizeram o programa fracassar.

[6] Ver o site da associação Grain, que dispõe de documentação bem completa: www.grain.org.

[7] Os Acordos de Parceria Econômica (APE) são acordos comerciais pelos quais a União Europeia tenta desenvolver o livre-comércio com os países do Sul. Considerando a oposição manifestada pela população e várias associações, as negociações, iniciadas em 2000, não puderam ser concluídas com todos os países. Ver a página “stop APE” no site da Associação pela Taxação das Transações Financeiras para a Ajuda aos Cidadãos (Attac) : www. france.attac.org/spip.php?rubrique1039

[8] O Conselho Internacional do Algodão reúne todos os anos os maiores produtores de algodão do mundo e seus parceiros. Suas previsões para 2009 são pessimistas. secretariat@icac.org

[9] Salif Diallo prometia rendas de 3 a 3,5 toneladas por hectare… As melhores experiências OGM só deram uma média de 1,3 tonelada por hectare.