sexta-feira, 2 de julho de 2010

Técnicas fascistas dos "donos da terra"...

A tática do latifúndio em ano eleitoral


Por Igor Felippe Santos no blog escrevinhador


O agronegócio intensificou a ofensiva contra os movimentos sociais do campo e contra a Reforma Agrária no mês de abril, com o lançamento da campanha “Vamos Tirar o Brasil do Vermelho – Invasão é Crime”, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Como não conseguiram criar escândalos na CPMI contra a Reforma Agrária, no Congresso Nacional, para desmoralizar os movimentos sociais, os latifundiários lançaram mão dos veículos de comunicação de massa para alcançar seus objetivos. Para fazer frente às mobilizações dos trabalhadores Sem Terra, os ruralistas colocaram propaganda na televisão, inserções em telas de aeroportos e nos cinemas e criaram uma página na internet.
A presidente da CNA, Kátia Abreu (DEM-TO), protocolou também no Ministério da Justiça a proposta de um Plano Nacional de Combate às Invasões de Terra, com medidas para a repressão preventiva aos protestos dos trabalhadores rurais.
De um lado, tentam assustar a sociedade e convencê-la a se colocar contra as lutas dos Sem Terra; de outro, propõem medidas legais que institucionalizam a repressão aos movimentos sociais, com pressão sobre o Poder Executivo e Poder Judiciário. Por isso, querem recolher um milhão de assinaturas em abaixo-assinado que solicita a criação de “medidas preventivas para conter os crimes e a violência que caracterizam as invasões de terras, de forma a garantir paz a quem vive e trabalha na zona rural por todo o Brasil”.
Dessa forma, o latifúndio intensifica a sua campanha contra a Reforma Agrária e para consolidar o agronegócio, buscando desmoralizar os movimentos sociais, inviabilizar políticas de fortalecimento dos assentamentos e acabar com os mecanismos legais para a desapropriação de terras e preservação ambiental.
Na campanha, os movimentos sociais do campo são acusados principalmente de violentos e criminosos. Kátia Abreu chegou a comparar os trabalhadores rurais organizados com o tráfico de drogas, com a indústria da pirataria e até com a pedofilia. Um absurdo.
Em relação às políticas para fortalecimento dos assentamentos, os ataques são os de sempre: recursos públicos seriam desviados para a realização de ocupações de terras. Na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) contra a Reforma Agrária, essa acusação vem sendo desmontada, porque as entidades demonstraram o trabalho realizado e o resultado positivo das políticas públicas.
Eleições
Em período eleitoral antecipado, os ruralistas fazem dos ataques aos movimentos sociais do campo, especialmente ao MST, uma plataforma para levantar recursos para a campanha e votos dos setores mais conservadores. Na medida em que avançam com suas propostas, tentam tirar do caminho a atualização dos índices de produtividade, acabar com as políticas públicas e os convênios de entidades sociais com os governos.
No debate político, o agronegócio atua para enquadrar as candidaturas a deputado, senador, governador e presidente da República, impedindo a discussão de medidas que fortaleçam a pequena agricultura e a Reforma Agrária. Também forçam declarações dos candidatos contra as ocupações de terras, para que se transformem em compromissos políticos no futuro.
Até agora, os milhões investidos na campanha da CNA criaram mais fumaça do que efeito político real, mas a sociedade brasileira precisa ficar atenta porque, com o recrudescimento do debate eleitoral, os movimentos sociais do campo seráão usados como bode expiatório para assustar os setores médios e dar coesão política às frações mais conservadoras do país.

Iniciativas da campanha da direita

  • Página na Internet: foi criada a uma página com acusações contra os movimentos sociais do campo, principalmente de violência contra funcionários de fazendeiros.
  • Inserções na TV: Entrou no ar na televisão um comercial contra as ocupações de terras, com denúncia de supostas violências dos sem-terra.
  • Inserções em cinemas
  • Propaganda em telas de aeroportos
  • Abaixo-assinado em defesa de Plano Nacional de Combate às Invasões
  • Foi protocolada no Ministério da Justiça a proposta de criação de um Plano Nacional de Combate às Invasões, que pede “medidas preventivas para conter os crimes e a violência que caracterizam as invasões de terras, de forma a garantir paz a quem vive e trabalha na zona rural por todo o Brasil”. José Serra (PSDB) e o vice-presidente José de Alencar (PRB) assinaram.

Os objetivos do agronegócio

  • Desmoralização dos movimentos
  • Enfraquecer os protagonistas da luta pela terra, os movimentos sociais do campo, com acusações de violência.
  • Mudança na legislação
  • Criar um ambiente político favorável a mudanças na legislação no Congresso, que inviabilizem a realização da Reforma Agrária, e destruir o Código Florestal.
  • Fim das políticas públicas
  • Acabar com os convênios dos governos com entidades sociais para fortalecer os assentamentos, sustentando que a Reforma Agrária não tem resultados positivos.
  • Eleição de ruralistas
  • Dar projeção aos candidatos do agronegócio em ano eleitoral, para ampliar a bancada ruralista, eleger governadores e o presidente da República.
  • Travar o debate político
  • Impedir o debate sobre a Reforma Agrária nas eleições e enquadrar todas as candidaturas dentro dos seus interesses econômicos
  • Criminalizar ocupações de terras
  • Implementar plano de combate às ocupações, convencendo a sociedade de que as ocupações de terras são um crime.
Igor Felippe Santos é jornalista, editor da página do MST e integrante da Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

FIFA, a máfia do futebol.....



A Fifa controla o dinheiro, marca os adversários e dribla a Justiça

Flavia Tavares, de O Estado de S. Paulo

Enquanto o English Team sofria para passar às oitavas contra a Eslovênia, o escocês Andrew Jennings desfiava o sarcasmo adquirido ao longo da vida de repórter investigativo na Inglaterra, na BBC e em grandes jornais. Com a pontaria muito mais calibrada que a dos artilheiros desta Copa do Mundo, o jornalista vai relatando casos de corrupção que apurou para produzir seus três livros sobre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e outro sobre a Federação Internacional de Futebol (Fifa) – mesmo sendo o único jornalista do mundo banido das coletivas da entidade desde 2003.

O jornalista inglês Andrew Jennings relata em livro casos de corrupção dentro da FIFA um dos escândalos relatados por ele em 2006, no livro Foul! The Secret World of Fifa (não traduzido no Brasil), teve um desfecho na sexta-feira. Altos dirigentes da organização máxima do futebol receberam propina, admitiu a Justiça suíça. Mas eles não serão punidos porque a lei do país, que é sede da Fifa, permitia o “bicho” na época.

Os figurões pagarão apenas os custos legais e suas identidades não serão reveladas. “É por isso que meu segundo livro sobre o tema será uma comparação da Fifa com o crime organizado”, conta. Ele optou por publicar a obra depois das eleições na entidade, em maio de 2011, embora duvide que alguém vá enfrentar o dono da bola, Joseph Blatter. “Ninguém ousa desafiar a Fifa porque eles controlam o dinheiro. E a imprensa cala”, dispara Jennings.

Em suas investigações sobre a Fifa, o que o senhor descobriu?

A Fifa é comandada por um pequeno grupo de homens – não há mulheres em altos postos da entidade e isso fala por si – que está lá há muitos anos. São homens em quem não devemos confiar e contra quem temos provas contundentes. Eles podem continuar no poder porque controlam o dinheiro. E tornam a vida dos dirigentes das confederações nacionais muito boa e fácil. Fico envergonhado porque ninguém se manifesta contra esse poder.

Como os dirigentes se manifestariam?

Zurique, sede da Fifa, é uma Pyongyang do futebol. O líder fala e os outros agradecem. Numa democracia é esperado que haja discordância, oposição. Na Fifa, não há. Eles têm um congresso a que, ironicamente, chamam de parlamento. São cerca de 600 delegados – acho que são 2 ou 3 por país representado, e são 208 países. Se você chegasse de Marte acharia que o mundo é perfeito, porque todos concordam. É vergonhoso. Nisso, a CBF é tão culpada quanto todas as outras confederações.

Que instrumentos a Fifa usa para manter esse poder?
A Fifa dá cerca de US$ 250 mil por ano para cada país investir em futebol. Na Europa, não precisamos desse dinheiro. A indústria do futebol fatura o suficiente para se alimentar. Mas é uma forma de a Fifa se manter. Esse dinheiro nunca é auditado. Na Suíça, a propina comercial não era ilegal até pouco tempo, apenas o suborno de oficiais do governo. O caso que eu conto no meu livro é justamente sobre um esquema de propinas pagas pela International Sport and Leisure (ISL), empresa que negociava os direitos televisivos e de marketing da Fifa. A história é cheia de detalhes, mas no final a ISL só foi responsabilizada pelo fato de gerenciar mal seus negócios enquanto devia para outras empresas.

Não houve punição?

Como eu disse, o pagamento de propina não era ilegal na Suíça. Portanto, não havia crime a ser punido. As acusações contra a Fifa foram retiradas e a entidade foi multada em 5,5 milhões de francos suíços (cerca de US$ 5 milhões) para custos legais.

Por que os governos não se envolvem ou a Justiça não faz algo?

Porque a sede da Fifa é na Suíça e a lei lá é muito permissiva. Para outros países, é inaceitável que esses homens se safem tão facilmente e que os altos dirigentes riam da nossa cara desse jeito. O que me deixa enojado é que os líderes dos países – o primeiro-ministro britânico, o presidente Lula e todos os outros – façam negócio com essas pessoas. Eles deveriam lhes negar vistos, deveriam dizer que não querem se relacionar com dirigentes tão corruptos. E tenho certeza de que, se os governantes se voltassem contra a corrupção da Fifa, teriam apoio maciço dos torcedores/eleitores.

Por que todos são tão complacentes?

Suponhamos que você seja uma torcedora fanática pelo seu time. Você vai à Copa do Mundo, mas como sempre há escassez de ingressos. Você então compra suas entradas de cambistas, mesmo sabendo que parte desse ágio vai voltar para o bolso da Fifa, já que ela é suspeita de liberar esses ingressos para os ambulantes. Você não pode provar, claro, mas você sabe. As pessoas não são estúpidas. Os governos menos ainda, eles podem investigar o que quiserem. Mas não investigam a Fifa porque os políticos simplesmente ignoram os torcedores. É o que já está acontecendo com a Copa de 2014. Qualquer brasileiro com mais de 10 anos sabe que a corrupção já está instalada. Por que ninguém faz nada?

Por quê?
É difícil saber. Se um país relevante enfrentasse a Fifa ela recuaria. Ou você acha ela excluiria o Brasil de uma Copa? Eles conseguem enganar países pequenos, esquecidos pelo mundo. Mas, se o Brasil dissesse não à corrupção, provavelmente a América Latina se uniria a vocês. E você acha que esses líderes latino-americanos nunca discutiram a possibilidade de um levante, de fazer o que os europeus já deveriam ter feito há tempos? Acho que lhes falta coragem.

O Brasil tentou fazer uma investigação, por meio de uma CPI.

Tentou e foi ao mesmo tempo uma vitória para o país e uma grande decepção, porque pararam de investigar no meio. O povo vai ter de pressionar os políticos a fazer algo. É realmente uma pena que o Brasil tenha chegado tão longe na investigação e tenha desistido no caminho. Havia provas para seguir em frente, para tirar a CBF das mãos do Ricardo Teixeira e, quem sabe, colocar auditores independentes lá dentro. A Justiça também poderia ser mais ativa. Por mais que eles tenham comprado alguns juízes, não compraram todos, certamente.

Sabendo de tudo isso o senhor ainda consegue curtir o futebol, se divertir com ele?

Sim, porque a corrupção não está tão infiltrada nos jogos, embora chegue a essa ponta também. Ela fica mais nos bastidores. Há exceções, como na Copa de 2002, em que a Espanha e a Itália foram roubadas grotescamente. Era importante para a Fifa que a Coreia do Sul passasse adiante. Não foi culpa dos jogadores, mas as razões políticas e econômicas se impuseram. Na Coreia, o beisebol é mais popular do que o futebol. Se eles fossem desclassificados, os estádios se esvaziariam. Neste ano, todos ficaram de olho nos jogos de times africanos. Blatter também precisa de um time do continente nas oitavas. A questão é que, quando assistimos às partidas, assistimos aos atletas, ao esporte, então, é possível confiar. É fácil punir um árbitro corrupto e a maioria não é corrompida.

Então, a corrupção não interfere tanto no esporte?

Cada centavo que os dirigentes tiram ilicitamente da Fifa ou das organizações nacionais é dinheiro que eles tiram do esporte e de investimentos. Portanto, estão desviando de nós, torcedores, e dos atletas que jogam no chão batido em países subdesenvolvidos. Eles tiram dos pobres.

É possível para os jogadores, técnicos e dirigentes se manterem distantes da corrupção no futebol?

Bom, o dinheiro normalmente é tirado do orçamento do marketing, não afeta jogadores e técnicos dos times nacionais. Uma coisa interessante é o comitê de auditoria interna da Fifa. Um dos membros é José Carlos Salim, que foi investigado muitas vezes no Brasil. Por que você acha que ele está lá? Para fingir que não vê.

A corrupção no futebol começa nos clubes e se espalha ou vem de cima para baixo?

Sempre haverá um nível de roubalheira em todas os escalões. Para isso temos leis e, às vezes, conseguimos aplicá-las. Mas a pior corrupção está na liderança mundial. Quase todos os países assinam tratados internacionais anticorrupção, mas não fazem nada quanto aos desmandos da Fifa e do COI. E, quando algum governante tenta ir atrás de dirigentes de futebol corruptos, a Fifa ameaça suspender o país. Só que ela faz isso com os pequenos. Fizeram isso com Antígua! Suspenderam o país minúsculo que ousou processar o dirigente nacional. Ninguém falou nada. Eu escrevi sobre isso porque tenho fãs lá que me avisaram do caso.

O senhor se sente uma voz solitária na imprensa?

Não confio na cobertura esportiva das agências internacionais. Em outras áreas elas são ótimas. Não no esporte. É uma piada. Apresento documentários com denúncias graves sobre a Fifa na BBC, num programa de jornalismo investigativo chamado Panorama, e dias depois a BBC Sport faz um programa inteiro em que Joseph Blatter apresenta alegremente a nova sede da Fifa em Zurique.

O senhor acompanhou a briga do técnico Dunga com a imprensa brasileira?

Não vou comentar o episódio porque não acompanhei de perto. Posso dizer que a imprensa inglesa e a da maioria dos países é puxa-saco. E sem razão para isso. A desculpa é que os editores têm medo de perder o acesso às seleções e à Fifa. Bobagem. Ora, eu fui banido das coletivas da Fifa sete anos atrás e ainda consegui escrever um livro e fazer várias reportagens. A imprensa deve atribuir as responsabilidades às autoridades. Se não fizer isso, é relações públicas. Tenho milhares de documentos internos da Fifa que fontes me mandam e não param de chegar. Por que só eu faço isso?

A cobertura se concentra mais no evento esportivo em si e nas negociações de jogadores?

Exato, também porque a chefia das redações tende a se concentrar nos assuntos de política nacional, internacional e na economia e deixar o esporte em segundo plano.

O que o senhor espera da Copa no Brasil, em 2014?

Há algumas semanas, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deu um piti público cobrando o governo brasileiro para que acelerasse as construções para a Copa. Estranhei muito, porque não imagino que o governo brasileiro se recusaria a financiar uma Copa. Vocês são loucos por futebol, estão desenvolvendo sua economia, têm recursos e podem achar dinheiro para isso. Uma fonte havia me dito que Valcke e Ricardo Teixeira tinham tirado férias juntos, estavam de bem. Então, o que está por trás dessa gritaria? É pressão para o governo brasileiro colocar mais dinheiro público nas mãos da CBF. Mundialmente, as empreiteiras têm envolvimento com corrupção. Dá para sentir o cheiro daqui.

Três de seus livros são sobre as Olimpíadas. As falcatruas acontecem em qualquer esporte ou são predominantes no futebol?

Sou cuidadoso ao falar disso. Sei que a liderança da Fifa é muito corrupta – e venho publicando isso há mais de dez anos sem que eles tenham me processado nem uma vez sequer, o que diz muito. O COI era muito pior sob o comando de Juan Antonio Samaranch (morto em abril deste ano), que presidiu a entidade de 1980 a 2001. Ele era um fascista e o fascismo é, além de tudo, uma pirâmide de corrupção. Samaranch trabalhou ao lado do generalíssimo Franco. Essa cultura franquista e fascista se transformou em uma cultura gângster.

A corrupção no COI diminuiu com a saída de Samaranch?

Vou ilustrar com uma história. No meu site publiquei uma foto de Blatter cumprimentando um mafioso russo, em 2006, em um encontro com dirigentes do país. O russo foi quem fez o esquema em Salt Lake, na Olimpíada de Inverno de 2002, para que os conterrâneos ganhassem o ouro em patinação artística. Pois bem, Blatter, Havelange e muitos outros da Fifa são parte do comitê do COI. Essa é a dica de como a Rússia está agindo para sediar a Copa de 2018.

Foi assim que o Brasil conseguiu a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016?

Na votação em Copenhague, que deu a sede olímpica para o Rio de Janeiro, o nível de investigação jornalística foi ridículo, só víamos a praia de Copacabana com o povo feliz. Há um grupo no COI que já foi denunciado por receber propina no escândalo da ISL – e quem acompanha a entidade sabe quem eles são. Os dirigentes dos países só precisam pagar umas seis ou sete pessoas para conseguir o voto. Existe, com certeza, uma sobreposição entre os métodos da Fifa e do COI. Mas a cultura das duas entidades não é tão estrita quanto à de uma máfia, é mais como se fossem máfias associadas, apoiadas umas nas outras. Coca-Cola, redes de fast-food, Adidas, você acha que essas companhias não sabem o que está acontecendo? Eles não são estúpidos. A cara de pau é tamanha que Jacques Rogue, presidente do COI, disse em Turim, em 2006, que o COI e o McDonald’s compartilham os mesmos ideais. Será que ele não sabe quanto a obesidade infantil é um problema gravíssimo em vários países? Ou faz parte do jogo ceder a esses interesses?

Modelo econômico e dependência

  Waldemar Rossi  - Correio da Cidadania 
 
O Estado de S. Paulo do dia 27 último, em seu caderno sobre Economia, dá destaque para o fato de que o Brasil está importando mais do que em qualquer outro tempo. Importação de material que já deveria estar sendo fabricado no Brasil há décadas.
 
Importamos de tudo, desde máquinas, computadores e todos os seus componentes a minerais não metálicos, tecidos, carros em larga escala, além das bugigangas que vêm da China e de outros países asiáticos. São rios de dinheiro que saem, garantindo emprego naqueles países, enquanto nossa juventude fica à mercê do desemprego ou dos baixos salários e trabalhos precários.
 
Desde os tempos da ditadura militar, de tão triste memória, que o Brasil adotou um modelo econômico dependente do capital transnacional (à época chamado de multinacional), predador, em profundo prejuízo para a economia e para o povo brasileiro.
 
Convém não esquecermos que Getúlio Vargas vinha pondo em prática um modelo de desenvolvimento industrial nacionalista, isto é, com tecnologia nacional – embora retardatária em relação à Europa e Estados Unidos –, amparada nos recursos financeiros acumulados pelos barões do café e do leite, além, é claro, dos maravilhosos "incentivos" do próprio governo que direcionava dinheiro do orçamento nacional (dinheiro do povo, portanto) para garantir que a indústria crescesse aqui sem depender do capital internacional. Tratava-se, sem dúvidas, de um modelo capitalista, porém escorado numa concepção nacionalista.
 
Quem mudou definitivamente essa direção da nossa economia foram os militares, aliados históricos do imperialismo estadunidense, com o apoio político da famigerada UDN (União Democrática Nacional), partido de extrema-direita da época. A adoção do modelo industrial multinacional viria a colocar o Brasil sob a total dependência do capital alienígena, que sempre visou nos explorar ao máximo. Depois de alguns anos de grandiosa produção em larga escala, o modelo começou a mostrar seu "canto de sereia" que levou milhões de brasileiros a se deslocarem do campo para os grandes centros em busca da felicidade alardeada pela mídia. Entrou em declínio de produção e de vendas, gerando desemprego e todas as suas graves conseqüências.
 
Porém, o capital aqui instalado não aceitou reduzir seus lucros e nem perder o controle sobre nossa economia. Jogou pesado para assegurar que os que viessem suceder os governos militares estivessem sob seu comando. E conseguiu. O grande vilão da nova fase da vida política do país – chamada de "democrática" – viria a ser principalmente o PSDB, um partido composto de "cidadãos" que tinham sido de esquerda anos antes, mas que já tinham sido cooptados pelo poder do capital neoliberal, via FHC, que fora guinado a ministro de Relações Exteriores.
 
Se não foi o único vilão da época, o tucanato se prestou a fazer o grande jogo de colocar o país ainda mais dependente do capital transnacional. Nossas empresas estatais, estratégicas para o desenvolvimento econômico nacional, foram "leiloadas" e entregues "de mãos beijadas" às grandes empresas, em sua maioria estrangeiras (americanas, européias, japonesas...).
 
Por outro lado, o mesmo tucanato ampliou consideravelmente a política de produção do setor primário – extração mineral e produção agropecuária – para a exportação. Objetivo: garantir a entrada de dólares, que o governo foi comprando com dinheiro do orçamento federal, a juros elevadíssimos, para fazer o "superávit-primário", e com isso garantir os compromissos com a agiotagem das Dívidas Externa e Interna, sem reduzi-las, porém.
 
Se os tucanos traíram o povo brasileiro, a política "lulo-petista" não deixou por menos. Somos hoje muito mais dependentes do capital internacional e vivemos ao sabor dos seus humores. Assim, a cada oscilação do mercado internacional - que vai se tornando cada vez mais freqüente -, a economia brasileira se põe em sobressaltos. Em pouco tempo, as aparentes recuperações da economia e do emprego entram novamente em recesso. E quem sofre as conseqüências desse vai e vem da economia em crise são em primeiríssimo lugar os trabalhadores.
 
No início do governo Lula (2003), os movimentos sociais de âmbito nacional se organizaram, desenvolveram amplo debate sobre os rumos da política econômica nacional aplicada também pelo governo petista. Apresentaram documento apontando para os "gargalos" que vêm travando o desenvolvimento econômico do país, indicando onde o dinheiro do povo deveria ser aplicado para que, em poucos anos, pudéssemos alcançar a nossa autonomia, gerando postos de trabalho permanentes, promovendo distribuição de renda e, de fato, ir progressivamente eliminando a pobreza e a miséria reinantes em nosso país, desde os tempos coloniais.
 
No entanto, Lula virou as costas para os movimentos sociais, que foram parte importante para sua eleição. Mas o documento está "guardado na lata do lixo do Palácio do Planalto" e o povo paga um preço muito caro por tamanho desprezo para com as suas necessidades vitais. Não é por menos que os grandes empresários nacionais e internacionais estão felicíssimos com o desempenho do governo petista, pois nunca poderiam imaginar que o lulo-petismo fosse mais eficaz que o tucanato.
 
Não se iludam os amantes e defensores incondicionais da política lulista. O tempo se encarregará de revelar o grau de tamanha traição, como vem mostrando o que foi a traição nacional dos militares golpistas, pois "um governo que semeia ventos fará seu povo colher tempestades".
 
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Exame de próstata...

Reproduzo do blog do Azenha...

 Check-up da próstata, fazer ou não?

por Conceição Lemes

O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os brasileiros. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde, era de que, em 2002, ocorressem no país 25.600 novos casos da doença. Para 2010, calcula 52.350.
Um salto de 104% em nove anos devido especialmente ao aumento de diagnósticos. Nisso, a mídia tem ajudado, estimulando a detecção precoce. Há duas estratégias. Uma, para indivíduos que apresentam sintomas ou sinais iniciais da doença. É o diagnóstico precoce. Outra, àqueles aparentemente saudáveis, sem qualquer sinal ou sintoma. É o que os médicos denominam rastreamento.
O diagnóstico precoce é inquestionável. É consenso no mundo inteiro. O mesmo não acontece com rastreamento destinado à população masculina em geral.
“Eu não tenho dúvida de que é preciso rastrear, detectar e tratar o câncer de próstata em homens saudáveis, assintomáticos”, afirma urologista Sidney Glina, professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do ABC. “O câncer de próstata só mata menos do que o de pulmão. O óbito ocorre, em média, 12 anos após o seu início. Se aos 50 anos o indivíduo tem câncer de próstata e não se tratar vai morrer com 62. Portanto, o rastreamento tem impacto positivo na vida.”
“Não se tem ainda grandes evidências de que diminua a mortalidade se o câncer de próstata for tratado antes de os sintomas aparecerem, fazendo o paciente viver mais e melhor”, diverge o clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP. “Além disso, o tratamento tem efeitos colaterais importantes.”
Essa discordância no meio acadêmico retrata um grande debate que ocorre no mundo inteiro.
Sociedades de especialistas, como a American Cancer Society, American Urology Association e Sociedade Brasileira de Urologia, são a favor do rastreamento. Recomendam anualmente o toque retal e do PSA em homens saudáveis, sem sintomas, a partir dos 50 anos. Caso exista história familiar de câncer de próstata, a partir dos 40.
Já a US Preventive Services Task Force e a Canadian Task Force, respeitados organismos multidisciplinares independentes, e o National Institute of Cancer, dos EUA, contra-indicam o check-up anual em homens assintomáticos, sem histórico familiar. No Brasil, o Inca e o Centro de Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo também.
TEM ALGUMA DIFICULDADE PARA URINAR?
Estranhou? Ficou confuso, por que não é o que normalmente aparece na mídia?
Calma. Antes de avançarmos, atente aos sintomas abaixo e responda:
* É comum a sensação de não esvaziar completamente a bexiga aós terminar de urinar?
* Tem vontade urinar menos de 2 horas após ter urinado?
* Ao urinar, parou e recomeçou várias vezes?
* O jato de urina anda fraco?
* Tem de fazer força para começar a urinar?
* Tem de se levantar duas, três, quatro vezes à noite para urinar?
Quanto mais sim, maior a intensidade dos sintomas. Mas eles – atenção! – não significam que a doença seja maligna ou benigna. É apenas o que o homem está sentindo em decorrência de prováveis alterações na próstata.  Vá ao médico.
O que tem a ver dificuldade de urinar com próstata? Muito. A razão é a posição dela. Situada logo abaixo da bexiga e em frente ao reto, ela fica em volta da uretra.
A próstata é uma glândula, seu formato e tamanho assemelham-se ao de uma castanha portuguesa e pesa cerca de 20 gramas. É órgão fundamental do aparelho reprodutor masculino. Sua função principal é produzir a secreção que participa do esperma, o líquido expelido pelos homens durante a ejaculação. A secreção prostática representa 30% do volume ejaculado. Serve como meio de transporte, alimento e proteção para os espermatozóides durante o seu percurso na vagina rumo à fertilização. E, ao contrário do que muitos imaginam, não tem nenhum papel na ereção peniana.
“Três enfermidades podem afetar a próstata”, explica Glina.  “A prostatite [infecção], a hiperplasia benigna [crescimento benigno da glândula] e o câncer.”
Imagine uma maçã. A casca equivale à região periférica da glândula: é onde nasce a maioria dos cânceres. O miolo, onde ficam os caroços, é a zona central: local onde mais freqüentemente ocorrem as prostatites. A parte maior, que é a polpa, equivale à região de transição: é onde surge a hiperplasia benigna da próstata, disparado a mais freqüente das enfermidades da glândula.
“Geralmente no início, o câncer de próstata é silencioso, não dá sintomas”, previne Lichtenstein. “Independentemente disso, ao sentir dor ou desconforto na micção ou notar alguma mudança no fluxo da urina, não empurre com a barriga, busque ajuda médica, pois alguma alteração há.”
OPERAÇÃO ÀS VEZES DESNECESSÁRIA E MUTILANTE
Especificamente em relação ao câncer de próstata, sabe-se que:
1) A genética é fator importante. Homem cujo pai ou irmão teve câncer de próstata antes dos 60 anos tem 3 a 10 vezes mais risco de desenvolver a doença do que a população em geral.
2) Obesidade e alimentação parecem favorecer a doença. Na Ásia, é baixa a incidência . Porém, quando os asiáticos migram para os países ocidentais, a geração seguinte tem a mesma prevalência que a população branca.
3) A sua incidência aumenta após os 50 anos. É considerado um câncer da terceira idade, já que 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.
4) Estudos demonstram a presença de câncer de próstata em 30% das necropsias feitas em homens acima de 80 anos. Porém, menos de 5% desses óbitos são devido ao tumor. Ou seja, em um grande contingente de homens a doença jamais evoluirá.
5) Há dois tipos de tumores de próstata. Os que crescem rapidamente e se espalham para outros órgãos (metástases), podendo levar à morte em alguns meses, se não diagnosticados e tratados bem cedo. E os que se desenvolvem lentamente – demoram aproximadamente 15 anos para atingir 1 centímetro cúbico –, e não chegam a dar sinais durante a vida e nem ameaçar a saúde do homem. Esse segundo tipo corresponde à maioria dos casos.
“A questão é que não existe exame que nos permita saber se o tumor é do primeiro ou do segundo tipo”, adverte Lichtenstein. “Operam-se então homens sem necessidade, e a cirurgia pode causar disfunção erétil [antes denominada impotência sexual] e incontinência urinária.”
“Provavelmente tratamos mais do que seria preciso”, reconhece Glina, “e o tratamento é mutilador, e o pós-operatório, chato. Esse é o problema”.
A cirurgia chama-se prostatectomia radical. Feita com anestesia geral, remove a glândula inteira e os tecidos ao redor. Incontinência urinária é um dos riscos. A operação pode lesar a musculatura que segura a urina na bexiga. Em conseqüência, 2% a 5% perdem totalmente a capacidade de conter a urina e têm de usar fralda o tempo todo. Cerca de 10% deixam escapar um pouco quando riem, tossem ou fazem esforço e precisam usar um pequeno absorvente.
Outro risco é a disfunção erétil. Inicialmente, todos ficam impotentes. Com o tempo, 30% a 50% recuperam naturalmente a ereção. Mas em 50% a 70% a cirurgia causa disfunção erétil, já que os nervos da ereção passam ao lado da próstata e muitas vezes não dá para preservá-los. A disfunção erétil pode ser tratada com medicamentos orais, injeções no pênis e prótese peniana.
“Em alguns casos, pode ser feita radioterapia em vez da cirurgia”, avisa Glina. “A radioterapia provoca menos efeitos colaterais.”
PSA AUMENTADO NÃO SIGNIFICA SEMPRE TUMOR MALIGNO
E o PSA? E o toque retal?– muitos já devem estar cobrando.
O toque retal é o teste mais usado. Porém, como somente as porções posterior e lateral da próstata podem ser palpadas, 40% a 50% dos tumores ficam fora do seu alcance. Daí ser usado em combinação com a dosagem do PSA no sangue.
O antígeno prostático específico é produzido pelas células epiteliais da próstata e não pela célula cancerosa, especificamente. Resultado: o PSA altera-se não apenas quando há câncer, mas também prostatite e hiperplasia benigna da próstata, assim como após a ejaculação e a realização de citoscopia (endoscopia das vias urinárias).
PSA abaixo de 4 ng/ml é considerado normal. Porém, hoje se usa mais 3 a 3,5. Para alguns especialistas, resultado negativo só quando o PSA for abaixo de 2,5 ng/ml. Ou seja, não há consenso.
“Como o PSA alterado não diferencia a doença, torna-se necessária a biópsia da próstata, feita em 18 a 20 fragmentos”, afirma Glina. “Cerca de 70% dos casos  não são positivos para câncer, pois o PSA é um mau marcador tumoral. Mas é o único que temos. Infelizmente, ainda não há um método melhor para separar o tumor maligno das demais doenças.”
“O PSA elevado é apenas o início do processo que pode passar pela biópsia e chegar à cirurgia”, salienta Lichtenstein. “A biópsia é incômoda e gera muita ansiedade. Se for câncer, opera-se, correndo o risco dos efeitos colaterais. Por isso, não vale a pena fazer check-up prostático anual em homens saudáveis. Acaba-se operando demais.”
“Vale a pena, sim, ‘ir atrás’ do tumor de próstata em homens saudáveis”, reafirma Glina. “O diagnóstico precoce terá impacto na sobrevida, principalmente nos mais jovens. Já há dados no mundo todo, inclusive do DataSUS de São Paulo, mostrando que a mortalidade pelo câncer de próstata vem caindo. Isso se deve ao fato de rastrear o câncer próstata entre os homens saudáveis após os 50 anos e a partir dos 40, em quem tem história familiar desse tumor.”
“Mas se for do tipo que não mata e o indivíduo ficar apenas com os ônus da cirurgia?”, Lichtenstein vai ao x da  questão. “Só tem sentido o rastreamento no dia em que houver um marcador para o tumor agressivo, ou tratamento que não deixe seqüelas ou evidências científicas de que o que tratar o câncer da próstata antes de os sintomas aparecerem faz o indivíduo viver mais ou melhor. Enquanto isso, check-up anual de próstata em homens saudáveis, sem antecedentes familiares , não deve ser política de saúde pública.”
DISCUTATUDO ISSO COM SEU MÉDICO
Sidney e Arnaldo são médicos muito competentes, atualizados e éticos. Além disso, amigos. Mas essa discussão é sem fim.  É um Fla-Flu, mesmo, pelo menos por enquanto. E não estão sozinhos.
No mundo inteiro, a comunidade científica busca uma resposta consistente, definitiva,  para esta pergunta: a procura de câncer de próstata em homens saudáveis, sem histórico familiar da doença, traz benefícios, reduzindo a mortalidade?
A expectativa era a de que dois grandes estudos – um europeu e outro estadunidense – com milhares de homens, divulgados em 2009, responderiam a questão. Mas não, ela continua em aberto.
O estudo estadunidense acompanhou 75 mil pacientes durante 11 anos. Concluiu que não há diferença de mortalidade entre rastrear ou não homens homens saudáveis, assintomáticos, acima dos 50 anos. Esse estudo foi contestado no mundo inteiro, pois  58% dos participantes do grupo controle fizeram o PSA por conta própria.
O estudo europeu envolveu 180 mil homens por 10 anos. Verificou que para evitar uma morte foram necessários 1.400 PSA e 50 tratamentos, dos quais 20 ou 30 ficaram impotentes. Para os epidemiologistas, é número muito alto de diagnósticos e de disfunção erétil para salvar uma vida.
Daí a US Preventive Services Task Force, a Canadian Task Force, o National Institute of Cancer, dos EUA, o Inca e o Centro de Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo continuarem não recomendando a avaliação em homens aparentemente saudáveis, sem histórico familiar.
“Só se recomenda o rastreamento populacional, quando o exame é fácil de fazer, detecta a doença no início, ela é frequente e o tratamento precoce muda o curso dela”, esclarece Lichtenstein. “Isso está comprovado para hipertensão, diabetes e câncer do colo do útero. Para o câncer de próstata, ainda não.”
“Só que quando o câncer de próstata dá sintomas, a doença já se disseminou”, alerta Glina.  “Aí, o tratamento é paliativo, não há mais chance de cura.”
Diante desses prós e contras, o que fazer?
Se você tem histórico familiar de câncer de próstata, não há o que discutir. A recomendação é unânime:  faça a avaliação  anual a partir dos 40 anos. Isso implica toque retal e PSA.
Tendo dor, desconforto ou sintomas urinários, procure ajuda médica também, qualquer que seja a sua idade.
Se você tem 50 anos ou mais, está saudável, a decisão de fazer o check-up anual de próstata é sua. Discuta com o seu médico. Questione-os sobre os prós e contras.
O economista Carlos Vieira, 59 anos, faz desde os 50: “Fico mais tranqüilo”.
O colega de trabalho Marcos Pacheco, 57, não: “Enquanto não estiver comprovado que vale a pena em homens saudáveis, não farei. Pelo menos, até os sintomas aparecerem – se aparecerem — vou ser feliz”.
Mas qualquer que seja a sua decisão, cuidado com os espertalhões. “Tem médico que fala que opera com robô e garante 100% de potência no pós-operatório”, alerta Glina. “Isso é mentira.”






terça-feira, 29 de junho de 2010

Na Argentina, TV Pública inteligente e polêmica questiona o monopólio da mídia

Por Flamarion Maués


Programa “6,7,8”, da TV Pública argentina, desnuda os interesses por trás do noticiários dos grandes meios de comunicação do país

Voltei de Buenos Aires recentemente. Estive na cidade por alguns dias e uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a forte polarização política que existe lá e em todo o país. De um lado, setores do governo, peronistas de diversos matizes, setores da esquerda e a maior parte da população mais pobre, que apoiam o governo da presidenta Cristina Fernandez de Kirchner. De outro, a oposição, composta por diversos partidos, inclusive setores do peronismo, pelos dirigentes do “campo” (agropecuária) e por quase toda a grande imprensa, capitaneada pelos jornais Clarín e La Nación, os dois maiores do país e donos de canais de TV e rádios. O nível de conflito político é alto, talvez maior do que o nosso nesse período já quase eleitoral, sendo que lá a eleição é só no ano que vem.
Uma das frentes mais radicalizadas nesta disputa é justamente a dos meios de comunicação. A presidenta Kirchner comprou a briga com os grandes grupos que monopolizam a mídia no país, e está batendo de frente com eles. Aprovou no Congresso a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, mais conhecida como “Ley de medios”, que só não entrou ainda em vigor porque os grandes grupos monopolistas e os setores políticos que os apoiam estão usando todos os recursos jurídicos possíveis para evitar que isso ocorra. Mas tudo indica que a lei, que fere de morte os privilégios que estes grupos têm hoje, controlando TVs (aberta e a cabo), rádios, jornais, internet etc., vai mesmo começar a vigorar ainda este ano. Com a nova lei, simplesmente não poderá mais haver grupos de sejam proprietários de todos estes meios ao mesmo tempo, nem em nível local e muito menos em nível nacional. No Brasil, por exemplo, seria uma lei que atingiria fortemente o poder da Globo.

Logomarca do programa “6,7,8” da TV Pública argentina.

Um dos elementos mais interessantes nesta batalha que vem sendo travada contra os grandes grupos que controlam a mídia é o programa televisivo “6,7,8”, exibido diariamente pela TV Pública (do governo federal). Trata-se de um programa dedicado, segundo seu apresentador, Luciano Galende, a fazer “uma resenha crítica dos meios de informação na Argentina”. O programa é muito bem feito, e bate pesado nos grandes jornais, rádios e TVs, desmascarando seus interesses, suas manipulações grosseiras e seu falso distanciamento ao noticiar e comentar os principais fatos políticos, sociais e econômicos. E bate de frente com os jornalistas que fazem o papel de porta-vozes desses interesses, principalmente aqueles articulistas que, do alto de uma pretensa “autoridade” jornalística ou profissional, se dedicam a defender os interesses do patrão, do grande capital, dos reacionários etc. Se compararmos ao Brasil, seriam as mírians leitão, os alis kamel, sardembergs, diogos mainardis e outros desse naipe.
O programa estreou a cerca de dois anos e vem aumentando sua audiência e repercussão, o que com certeza incomoda muita gente.
É um programa que a gente não está acostumado a ver no Brasil – e acho mesmo que em poucas partes do mundo haverá algo que se assemelhe a “6,7,8”. Não há meias palavras nem luva de pelica, a crítica é direta e aberta. Mas é uma crítica em geral bem feita, fundamentada, e quase sempre ilustrada com imagens ou textos que deixam aquele que é objeto da crítica em situação delicada, pois fica difícil negar certas coisas diante de evidências irrefutáveis.
Por exemplo, há poucos dias uma famosa apresentadora de TV, algo como uma Hebe Camargo argentina, confessou em seu programa que em 1977, durante a ditadura militar que matou pelo menos 15 mil argentinos, um sobrinha sua (e o marido da sobrinha) foi sequestrada pela repressão. Graças à sua intervenção junto a um general que conhecia, sua sobrinha foi solta, mas o marido continua desaparecido até hoje. No programa foram mostradas as imagens dessa mesma apresentadora, em 1978, durante o mundial de futebol na Argentina, afirmando que havia uma campanha orquestrada para “denegrir” o país no exterior, que na Argentina todos viviam bem e em liberdade. Ela foi uma das que apoiou a campanha da ditadura “nosotros argentinos somos derechos y humanos”, que visava desacreditar as denúncias de violações de direitos humanos que ali ocorriam naquele exato momento. Isso um ano após ela ter acionado o general amigo para livrar a sua sobrinha da tortura. Quer dizer, fica desmascarada a conivência, mais do que isso, o apoio dessa senhora à brutal repressão que houve no país. Ela sabia o que acontecia e apoiva o que era feito. Não há como ela negar isso. E o programa desnuda essa situação, com imagens que não podem ser desmentidas.
E desse mesmo modo vários outros temas são abordados. É impressionante a capacidade da produção do programa de achar imagens e textos em seus arquivos que desmontam as opiniões atuais de muitos dos comentaristas dos grandes meios de comunicação. Diante desses “desmentidos” feitos por sua própria voz e imagem, como reagir e negar a exatidão da crítica?
E, é claro, o programa elege seus amigos. Neste momento, Maradona é o maior desses amigos, por ter enfrentado a mídia e ter assumido posições políticas mais à esquerda e mais governistas.
O programa é montado de forma inteligente. Um apresentador, cinco debatedores fixos e dois convidados diferentes a cada dia. Esta bancada debate as matérias feitas pela produção, matérias sempre em tom forte, de denúncia e desmascaramento do que está sendo dito pelos grandes meios. Os debatedores são muito perspicazes, e os convidados quase sempre são muito simpáticos aos pontos de vista defendidos no programa.
Essa é uma das críticas que “6,7,8” recebe, a de não abrir espaço ao contraditório. É apenas em parte correta, pois para fazer a crítica da grande mídia o programa exibe o que a grande mídia diz. A diferença é que desmonta o que é dito, ao contrário do que estamos acostumados a ver, ou seja, tal comentarista fala um absurdo e fica por isso mesmo, não há debate ou contraditório. E quase todos os comentaristas da grande mídia dizem – por que será? – a mesma coisa, pensam do mesmo jeito. Com “6,7,8” o quadro muda. Estes comentaristas têm resposta, muitas vezes com base em coisas que ele mesmo disse em outros momentos. É claro que estes comentaristas não gostam nada disso, e acusam o programa de “constranger” sua liberdade de opinião, um argumento totalmente falacioso.
Outra crítica a “6,7,8”, esta mais consistente, é que se trata de um programa “oficialista”, ou seja, governista, pró-Kirchner. De fato é, e eles assumem isso, o que não deixa de ser uma postura pouco usual na TV, em qualquer parte. O programa não se assume exatamente como pró-governo, mas sim como a favor das principais linhas políticas que norteiam o governo, o que não significa concordar e aprovar tudo o que o oficialismo faz. Há críticas ao governo e aos seus membros, claro que não com a mesma intensidade que as feitas aos que estão do outro lado, mas o programa não é acrítico. E nem busca aquela postura, em geral falsa, do tipo “somos independentes e criticamos a todos da mesma maneira, estamos acima das diferenças entre os lados em disputa”.
Outra de suas características interessantes é que, vira e mexe, os debatedores do programa criticam as matérias feitas pela produção de “6,7,8”. Deve-se dizer que a produção – comandada por Diego Gvirtz – é mais oficialista que a bancada de debatedores, e por vezes tem a mão muito pesada em relação às críticas a certos jornalistas e comentaristas da oposição. E os debatedores do programa não deixam barato, criticam o seu próprio programa no ar, sem problemas.
Enfim, trata-se de uma experiência inovadora na TV, a começar pelo fato de se propor a fazer uma críticas dos meios de comunicação no veículo mais popular dentre todos eles, a TV, e não apenas aquela crítica mais teórica, mas sim a crítica direta, dando nome aos bois e usando as imagens dos outros canais de TV para fazer isso.
É certo que algumas das críticas feitas ao programa são corretas, mas sem dúvida é um espaço que oxigena a TV argentina, e sem dúvida está tendo repercussões importantes. Hoje, os jornalistas e comentaristas de todos os meios sabem que estão sob a lupa crítica de “6,7,8”, e que não podem sair falando coisas impunemente, haverá cobrança pelo que foi dito. Não se trata de censura, de nenhuma maneira, mas de debate público.
Para quem quiser dar uma olhada, “6,7,8” pode ser assistido pelo site da TV Pública argentina: www.tvpublica.com.ar. O programa vai ao ar às 21 horas todos os dias, menos sábado. Vale a pena.

*Flamarion Maués é editor de livros e historiador.

CINEMA MUDO


UM POUCO SOBRE O CINEMA MUDO

Desde o início, inventores e produtores tentaram casar a imagem com um som sincronizado. Mas nenhuma técnica deu certo até a década de 20. Assim sendo, durante 30 anos os filmes eram praticamente silenciosos sendo acompanhados muitas vezes de música ao vivo, outras vezes de efeitos especiais e narração e diálogos escritos presentes entre cenas.

O ilusionista francês, Georges Méliès começou a exibir filmes em 1896, quando ganhou uma "filmadora". Ele foi pioneiro em alguns efeitos especiais. Seu filme "Le Voyage dans la Lune" (ou "Viagem à Lua") de apenas 14 minutos foi o primeiro a tratar sobre o assunto de alienígenas.
Edwin S. Porter que se tornou camaraman de Thomas Edison usou pela pirmeira vez a técnica de edição de imagens. Em seu filme "Life of an American Fireman" de 1903 é possível ver duas imagens diferentes mas que ocorreram simultâneamente, a visão de uma mulher sendo resgatada por um bombeiro e a mesma cena com a visão do bombeiro resgatando a mulher. Em "The Great Train Robbery" (1903), um dos primeiros westerns do cinema, o grande legado foi o "cross-cutting" com imagens simultâneas em diferentes lugares. Mas o mais importante em Porter, foi que o final do filme "The Great Train Robbery" teve que ser mudado, por motivos morais e éticos, visto que originalmente os bandidos se saiam bem no final, o que passava uma idéia de impunidade ao povo, se mostrava a partir dai, um cinema "educador".
O desenvolvimento de filmes fez crescer os nickelodeons, pequenos lugares de exibição de filmes onde se pagava o ingresso de 1 nickel.Onde se juntavam uma grande quantidade de pessoas, chamando a atenção da elite para o poder de influencia daquelas exibições. O filmes também começaram a crescer em duração. Antes um filme durava de 10 a 15 minutos. Em 1906, o filme australiano "The Story of the Kelly Gang" tinha 70 minutos sendo lembrado até hoje como o primeiro longa metragem da história do cinema. Depois do filme australiano, a Europa começou a produzir filmes até mais longos: "Queen Elizabeth" (filme francês de 1912), "Quo Vadis?" (filme italiano de 1913) e "Cabiria" (filme italiano de 1914, este último com 123 minutos de duração.


Pelo lado americano, o diretor D. W. Griffith conseguia destaque. Seu filme, "The Birth of a Nation" (ou "O Nascimento de uma nação") de 1915, foi considerado um dos filmes mais populares da época do cinema mudo, causou polêmica porque foi mal-interpretado, onde um simples retrato da sociedade americana foi considerado uma glorificação da escravatura, segregação racial e promoção do aparecimento da Ku Klux Klan e Intolerance (1916) já "Intolerance: Love's Struggle Throughout the Ages" (ou "Intolerância") é considerado uma das grandes obras do cinema mudo, apesar da grande massa nao ter entendido a proposta de quatro historias simultaneas, achando o filme muito confuso.
Em 1907, os irmãos Lafitte criaram os filmes de arte na França com a intenção de levar as classes mais altas ao cinema já que estes pensavam ser o cinema para classes menos educadas.


EM HOLLYWOOD
Até esta época, Itália e França tinham o cinema mais popular e poderoso do mundo mas com a Primeira Guerra Mundial, a indústria européia de cinema foi arrasada. Os Eua começaram a destacar-se no mundo do cinema fazendo e importando diversos filmes. Thomas Edison tentou tomar o controle dos direitos sobre a exploração do cinematógrafo. Alguns produtores independentes emigraram de Nova York à costa oeste em pequeno povoado chamado Hollywoodland, graças a Griffith, que já o sugeria. Lá encontraram condições ideais para rodar: dias ensolarados quase todo ano, diferentes paisagens que puderam servir como locações e quase todos as etnias como, negros, brancos, latinos, indianos, indios orientais e etc, um "banquete" de coadjvantes. Assim nasceu a chamada "Meca do Cinema", e Hollywood se transformou no mais importante centro da industria cinematográfica do planeta.
Nesta época foram fundados os mais importantes estúdios de cinema (Fox, Universal, Paramount) controlados por judeus (Daryl Zanuck, Samuel Bronston, Samuel Goldwyn, etc.) que viam o cinema como um negócio. Lutaram entre si e as vezes para competir melhor, juntaram empresas assim nasceu a 20th Century Fox (da antiga Fox) e Metro Goldwyn Meyer (união dos estúdios de Samuel Goldwyn com Louis Meyer). Os estúdios encontraram diretores e atores e com isso nasceu o "star system", sistema de promoção de estrelas e com isso, de ideologias e pensamentos de Hollywood.
Começaram a se destacar nesta época comédias de Charlie Chaplin e Buster Keaton, aventuras de Douglas Fairbanks e romances de Clara Bow. Foi o próprio Charles Chaplin e Douglas Fairbanks junto a Mary Pickford e David Wark Griffith que acabaram criando a United Artist com o motivo de desafiar o poder dos grandes estúdios.


O CINEMA NO MUNDO
Em alternativa a Hollywood existiam vários outros lugares que investiam no cinema e contribuiam para seu desenvolvimento.
Na França, os cineastas entre 1919 e 1929 começaram um estilo chamado de Cinema Impressionista Francês ou cinema de vanguarda (avant garde em francês). Se destacaram nesta época o cineasta Abel Gance com seu filme épico "J’Accuse" e Jean Epstein com seu filme "A queda da casa de Usher" de 1929
Na Alemanha surgiu o expressionismo alemão donde se destacam os filmes "Das Cabinet des Dr. Caligari" ("O gabinete do doutor Caligari") de 1920 do diretor Robert Wiene, "Nosferatu", "Phantom" ambos de 1922 e do diretor Friedrich Wilhelm Murnau e Metrópolis de Fritz Lang de 1929.


Na Espanha surgiu o cinema surrealista donde se destacou o diretor Luis Buñel. "Un Perro andaluz" (ou "Um Cão Andaluz" em português) de 1928 foi o filme que mais representou o cinema surrealista de Buñel.
Na Rússia se destacou o cineasta Serguei Eisenstein que criou uma nova técnica de montagem, chamada montagem intelectual ou dialéctica. Seu filme de maior destaque foi "The Battleship Potemkin" (ou br: "O Encouraçado Potemkin", pt: "O Couraçado Potemkin") de 1925.
Infelizmente, cerca de 90% dos filmes mudos se perderam. De fato, a maioria dos filmes mudos foi derretida a fim de recuperarem o nitrato de prata, um componente caro.





fonte do texto: Wikipédia via Cine-cult-classic

Paraguai, herança da ditadura e da exploração econômica...

No dia em que a equipe de futebol do Paraguai, na copa do mundo joga contra o Japão, tentando pela primeira vez, chegar às quartas de finais desse torneio, Juremir Machado faz uma reflexão do país vizinho, que se assemelha muito aos demais da america latina, como consequencia dos saques e da espolição sofrida ao longo da colonização e das ditaduras militares. leia abaixo o texto na íntegra que foi publicado no Correio do Povo...


Triste Paraguai


O jornal espanhol “El Pais” fez a reportagem sobre o Paraguai que a mídia brasileira não faz por conservadorismo. Mostrou que um pequeno exército guerrilheiro, com cerca de 20 integrantes, o EPP (Exército do Povo Paraguaio), é o resultado da miséria absoluta gerada por um país de grandes fazendeiros fora da lei, reunidos numa tal de Associação Rural, cujo principal objetivo é forçar a derrubada da mata nativa que resta e evitar o pagamento de impostos sobre a exportação de soja e carne. Segundo a matéria do “El Pais”, o Paraguai tinha até pouco tempo fazendas com mais de 400 mil hectares, uma delas com mais de 300 km de frente cercados. Ou seja, o horror como latifúndio.
Quem se importa com isso no Brasil? A nossa mídia está mais preocupada em chamar o presidente Fernando Lugo de populista e em contar os seus filhos. A reportagem revela aspectos sensacionais: “A Comissão de Verdade e Justiça, criada com a ajuda da ONU, estima que 64% das cessões realizadas desde 1954 – desde a chegada ao poder do ditador Alfredo Stroessner – foram ilegais: centenas de milhares de hectares de terras invadidos e dezenas de milhares de agricultores despojados e maltratados”. Deve ser por isso que a direita, em qualquer lugar, sempre rejeita propostas de criação de comissões da verdade. O generoso Brasil deu asilo ao ditador Stroessner.
O primeiro presidente “democrático”, segundo o jornal “El Pais”, não fez melhor pelos seus compatriotas: “O ex-presidente Andrés Rodríguez, por exemplo, que expulsou Stroessner quando este fechou sua firma de câmbio, já tinha se apossado de milhares de hectares e aproveitou o cargo para se apoderar de outros 2 mil. Foi o primeiro presidente democrático, para dizer algo, mas segundo o governo dos EUA o general Rodríguez também era o chefe do chamado Cartel do Paraguai, encarregado, como o próprio Stroessner, de proteger os bandos de traficantes de maconha e as fabulosas redes de contrabando que operavam e operam no país”.
Não me lembro de ter lido isso em jornais como o Estadão? A minha memória, em todo caso, é muito fraca.
O Brasil tem parte nesse latifúndio. Boa parte das terras da região onde transitam os guerrilheiros do EPP pertence a empresas verde-amarelas, entre as quais a tal Mate Laranjeira. O negócio, ao que parece, é espetacular: imposto zero, a utopia de muitos liberais brasileiros, Estado mínimo, lei do mais forte, mão de obra barata, quase escrava, ausência de custo do trabalho, inexistência de sindicatos para incomodar e terras fartas e férteis a dar com um pau. O pau é dado no lombo da peonada para que ela seja produtiva. Um paraíso nada falso. Problemas surgem vez ou outra. Por exemplo, um fazendeiro sequestrado e um resgate a pagar. Aí, sim, os produtores rurais reclamam a presença do Estado.
Um jovem paraguaio cansado de guerra compreendeu tudo, o que se pode apreciar nesta fórmula genial: “Os fazendeiros só querem o exército, e não o Estado".
É um fenômeno muito comum, do qual o Brasil não escapa. Ainda há muitos “investidores” e “produtores” que do Estado só querem a repressão, a mão armada, de preferência, gratuita, ou paga com impostos de outros.
O sonho de alguns é que a massa pague impostos para armar os exércitos capazes de reprimi-la.
Triste Paraguai.
Tão longe, tão próximo.
O jornal “La Nacíon” espantou-se, porém, unicamente com a descoberta de uma cartilha do EPP, que publicou e transformou numa prova de que algo vai mal no Paraguai.
O resto, claro, vai muito bem.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Reflexões de Fidel...

Eu bem que gostaria de estar enganado


Quando estas linhas sejam publicadas no jornal Granma amanhã sexta-feira, o dia 26 de julho, data em que sempre recordamos com orgulho a honra de ter resistido os embates do império, ficará distante, apesar de que faltam apenas 32 dias.

Os que determinam cada passo do pior inimigo da humanidade ­―o imperialismo dos Estados Unidos, uma mistura de mesquinhos interesses materiais, desprezo e subestimação às demais pessoas que habitam o planeta― calcularam tudo com precisão matemática.

Na reflexão do dia 16 de junho escrevi: “Entre jogo e jogo da Taça Mundial de Futebol, as diabólicas notícias vão sendo colocadas de pouco e pouco, de maneira que ninguém se ocupe delas”.

O famoso evento esportivo tem entrado em seus momentos mais emocionantes. Durante 14 dias, as equipes integradas pelos melhores futebolistas de 32 países têm estado competindo para avançar rumo à fase de oitavos de final; depois virão sucessivamente as fases de quartos de final, semifinais e o final do evento.

O fanatismo esportivo cresce incessantemente, cativando centenas e talvez milhares de milhões de pessoas em todo o planeta.

Contudo, haveria que se perguntar quantos sabem que desde o dia 20 de junho naves militares norte-americanas, incluído o porta-aviões Harry S. Truman, escoltado por um ou mais submarinos nucleares e outros navios de guerra com mísseis e canhões mais potentes do que os velhos couraçados utilizados na última guerra mundial entre 1939 e 1945, navegavam rumo ás costas iranianas através do canal de Suez.

Junto das forças navais ianques avançam barcos militares israelitas, com armamento igualmente sofisticado, para inspecionar toda a embarcação que parta para exportar e importar produtos comerciais que o funcionamento da economia iraniana precisa.

O Conselho de Segurança da ONU, a proposta dos Estados Unidos, com o apoio da Grã-bretanha, a França e Alemanha, aprovaram uma dura resolução que não foi vetada por nenhum dos cinco países que ostentam esse direito.

Outra resolução mais dura foi aprovada por acordo do Senado dos Estados Unidos.

Com posterioridade, uma terceira, ainda mais dura, foi aprovada pelos países da Comunidade Européia. Tudo aconteceu antes de 20 de junho, o que motivou uma viagem urgente do Presidente francês Nicolás Sarkozy à Rússia, segundo notícias, para entrevistar-se com o chefe de Estado desse poderoso país, Dmitri Medvédev, com a esperança de negociar com o Irã e evitar o pior.

Agora se trata de calcular quando as forças navais dos Estados Unidos e do Israel se desdobrarão frente às costas do Irão, para se juntar ali aos porta-aviões e demais navios militares norte-americanos que estão de plantão nessa região.

O pior é que, igual do que os Estados Unidos, Israel, o seu gendarme no Oriente Médio, possui moderníssimos aviões de ataque e sofisticadas armas nucleares fornecidas pelos Estados Unidos, que o tornou a sexta potência nuclear do planeta por seu poder de fogo, entre as oito reconhecidas como tais, que incluem a Índia e o Paquistão.

O Xá da Pérsia fora derrocado pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini em 1979 sem empregar uma arma. Os Estados Unidos depois lhe impuseram a guerra àquela nação com a utilização de armas químicas, cujos componentes forneceu ao Iraque junto da informação requerida por suas unidades de combate e que foram empregues por estas contra os Guardiães da Revolução. Cuba sabe disso porque na altura era, como temos explicado outras vezes, Presidente do Movimento de Países Não- Alinhados. Sabemos bem dos estragos que causou em sua população. Mahmud Ahmadineyad, hoje chefe de Estado no Irão, foi chefe do sexto exército dos Guardiães da Revolução e chefe dos Corpos dos Guardiães nas províncias ocidentais do país, que suportaram o peso principal daquela guerra.

Hoje, em 2010, tanto os Estados Unidos quanto Israel, após 31 anos, subestimam o milhão de homens das Forças Armadas do Irão e sua capacidade de combate por terra, e às forças de ar, mar, e terra dos Guardiães da Revolução.

A elas se acrescentam os 20 milhões de homens e mulheres, entre 12 e 60 anos, escolhidos e treinados sistematicamente por suas diversas instituições armadas entre os 70 milhões de pessoas que habitam o país.

O governo dos Estados Unidos elaborou um plano para levar a cabo um movimento político que, apoiando-se no consumismo capitalista, dividisse os iranianos e derrocasse o regime.

Tal esperança já é inócua. Resulta risível pensar que com as naves de guerra estadunidenses, unidas às israelitas, despertem as simpatias de um só cidadão iraniano.

Por minha parte acreditava inicialmente, ao analisar a atual situação, que a contenda começaria pela península da Coréia, e ali estaria o detonante da segunda guerra coreana que, por sua vez, daria lugar de imediato à segunda guerra que os Estados Unidos lhe imporiam ao Irão.

Agora, a realidade muda as coisas em sentido inverso: a do Irão desatará de imediato à da Coréia.

A direção da Coréia do Norte, que foi acusada do afundamento do “Cheonan”, e sabe de sobra que foi afundado por una mina que os serviços de inteligência ianque conseguiram colocar no casco dessa nave, não esperará um segundo em agir logo que no Irão se inicie o ataque.

É muito justo que a torcida do futebol desfrute a seu bel-prazer das competições da Taça do Mundo. Cumpro apenas com o dever de fazer um apelo ao nosso povo, pensando sobretudo em nossa juventude, plena de vida e esperanças, e especialmente em nossas maravilhosas crianças, para que os fatos não nos apanhem por surpresa, absolutamente desprevenidos.

Doe-me pensar em tantos sonhos concebidos pelos seres humanos e as assombrosas criações das que têm sido capazes em apenas uns poucos milhares de anos.

Quando os sonhos mais revolucionários se estão cumprindo e a Pátria se recupera firmemente, eu bem gostaria estar enganado!




Fidel Castro Ruz

A esquerda sem alternativa??

A poesia do passado
Escrito por Emiliano Morais - Correio da Cidadania 
 
Os últimos dias na chamada imprensa alternativa - Brasil de fato, Correio da Cidadania, entre outros - foram marcados com uma questão um tanto insólita. Os teóricos da chamada esquerda em declínio (sim, em declínio por ser uma esquerda sem projeto) tomaram parte numa batalha épica.
 
Os setores desta esquerda atrelada à governabilidade, tendo no ápice das referências Lula e o PT, acreditam desgraçadamente que sendo seu projeto “democrático popular” uma espécie de política social-democrata atenderá aos anseios do povo numa fase de um capitalismo redimido. E através desta redenção do capital elevará do inferno aos céus uma sociedade mais igualitária. Observem o termo, igualitária. Notem que na gramática deste protótipo de esquerda a palavra socialismo não tem tradução.
 
Os Satãs, tomando a palavra no seu original grego que significa “os adversários”, se revestem de todo tipo de nuance para, de uma forma ou outra, se caracterizarem como o outro, numa posição de embate no grande coliseu das eleições. Mas de Satãs “os adversários” passam a diabos, “os acusadores”, e sem projetos que os caracterizam como alternativa no grande palco do “circo e pão” (eleições), lançam-se no pragmatismo das desqualificações todos os gladiadores.
 
Nesta luta titânica não foi reservado lugar para um exorcista, e Deus e Diabo, atraídos pelo mesmo engodo, sem apresentar uma alternativa para o país nos seus respectivos projetos, vagueiam entre afirmar o Estado burguês e negá-lo conservando-o, caracterizando assim alternativas “democráticas” que não mudam de conteúdo, apenas de forma. E mais uma vez na história a esquerda brasileira titubeia entre a necessidade de uma alternativa ao capitalismo e o “santo princípio liberal”.
 
Os gladiadores definem o princípio “Democrático” que norteia as suas elaborações programáticas com um gáudio: democracia, igualdade e liberdade. Tão pobre anseio robespieriano se a abstração tivesse ido um pouco mais além, pois está exposta no programa liberté, fraternité e egalité. Este sonho iluminista custou a cabeça de um dos maiores expoentes da revolução francesa e agora, como tragédia, retorna ao ideário da esquerda eleitoreira. Os mortos tolhem os vivos, como dizia Marx.
 
Primeiro tomemos o conceito “democracia” para análise. A democracia é um importante princípio da doutrina liberal, isso para não retomarmos seu original em grego, que nas palavras de Luiz Antônio Cunha consiste no igual direito de todos em participarem do governo através de representantes de sua própria escolha. Essa elaboração baseia-se nas formulações de Rousseau, ideólogo da moderna doutrina democrática.
 
É bom lembrar que o próprio Rousseau sabia das limitações da real aplicação deste princípio, das dificuldades práticas para a existência de um governo da maioria dos cidadãos.
 
Rousseau afirmou que, “tomando o termo em rigorosa acepção, nunca existiu, e nunca existirá, verdadeira democracia. É contra a ordem natural que o grande número governe e que o pequeno seja governado. Não se pode imaginar que o povo permaneça incessantemente reunido para dar despacho aos negócios, e com facilidade se vê que, para esse efeito, não poderia estabelecer comissões sem mudar a forma de administração”. Por esse motivo a representatividade vem como a forma mais eficaz para aplicação de tal princípio.
 
O conceito poderia ser digestivo caso houvesse possibilidade de aplicação apenas de um dos princípios liberais, coisa extremamente inaplicável, pois, ao se aplicar um, todos vem à tona, não conseguem caminhar soltos, estão extremamente interligados.
 
Ao aplicar o princípio democracia, vossos programas se viram obrigados a considerar de importância ímpar aplicar outro princípio liberal: igualdade.
 
A igualdade, como pretendem os senhores, tenta transparecer uma nova forma de igualdade, uma igualdade de valores e paridade que não seja desigualdade entre os indivíduos. A igualdade é somente aplicada no modo de produção capitalista e este presume somente a igualdade perante a lei. Como na natureza os homens não são iguais em talento e capacidades, também não podem ser iguais na posse. E, para resolver tal problema, condiciona a igualdade somente junto à lei, igualdade de direitos entre os homens, igualdade de direitos civis.
 
Com diz Cunha, “todos têm, por lei, iguais direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à proteção das leis”. Marx, em a “Crítica ao programa de Gotha”, afirmou que este igual direito é direito desigual para trabalho desigual. Não reconhece nenhuma diferença de classes, porque cada um é apenas tão trabalhador como o outro. Mas reconhece tacitamente o desigual dom individual — e, portanto, (a desigual) capacidade de rendimento dos trabalhadores — como privilégio natural que uma nova sociedade precisa estabelecer na desigualdade entre indivíduos desiguais.
 
Ao transcender a igualdade logo se é conduzido à “liberdade”, outro princípio que juram ser de uma necessidade popular, porém apenas transfigurada em outro princípio liberal.
 
Na liberdade se exalta a livre organização da sociedade civil, conclamam os defensores da livre expressão, da movimentação (e aqui não conseguem ir além de explicar o nada), convocam os deuses em nome da livre atividade política e de organização dos(as) cidadãos(ãs). Esse princípio liberal que a ele empresta o próprio nome pleiteia antes de tudo a liberdade individual, e a partir daí todas as outras: econômica, intelectual, religiosa e política. A liberdade na priori liberal é a liberdade que os indivíduos têm na defesa da ação e das potencialidades, por isso está tão ligada ao princípio do individualismo. Por tal, não é de se admirar o fato de não ter aparecido na base do enfrentamento dos projetos.
 
Na luta pela transformação da sociedade capitalista em uma sociedade socialista, os proletários precisam munir-se de instrumentos que os botem em força superior aos burgueses, seu projeto não pode confundir-se com anseios liberais (burgueses) e nem com anseios social-democratas (aliança do trabalhador com a pequena burguesia). Seu projeto precisa trazer conteúdo novo e de caráter transformador, revolucionário. Um projeto de classe, da classe proletária, caráter que em momento algum foi planificado pela esquerda na disputa eleitoral.
 
Florestan Fernandes sabiamente afirmou que “na periferia do mundo capitalista e de nossa época não existem ‘simples palavras’. Se a massa dos trabalhadores quiser desempenhar tarefas práticas, específicas e criadoras, ela tem de se apossar primeiro de certas palavras chaves – que não podem ser compartilhadas com outras classes que não estão empenhadas ou não podem realizar aquelas tarefas sem se destruir ou se prejudicar irremediavelmente”.
 
Apegada a conteúdos burgueses, mais uma vez a esquerda brasileira perde a oportunidade de unificar-se na elaboração de uma plataforma única para a disputa política, aguardando somente as ações das movimentações de massas para a composição de um projeto de transformação socialista, já que é só na ação “prático-teórica” que é possível tal elaboração. Dividem-se no casulo que a história os reservou e garganteiam como feirantes o que de bom têm em vossas barracas programáticas.
 
Emiliano Morais é membro da direção do MST-MG.
Contato: emilianomorais@gmail.com