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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 19 de setembro de 2010
Gremio de periodistas demanda a proteção a repórteres
sábado, 18 de setembro de 2010
Brilhantes Páginas na História da Medicina Árabe
A medicina foi uma das primeiras ciências que apareceram
na civilização árabe islâmica, depois da ciência da religião e da
própria língua árabe.
A evolução da medicina árabe e sua prosperidade são lembradas em várias ocasiões, o próprio profeta Maomé (Muhammad) diz: “Oh servos de Deus que estão doentes, o Deus poderoso não permitiu doença sem que a mesma tenha cura, aprenda de seu conhecimento e ignore a ignorância.” E disse o Imã AL shafaay: “Não conheço ciência, depois do Halal e do Haram (ciências da religião), mais nobre que a medicina.”
Dois médicos apareceram no seio do Islam, AL Hareth Ben kaldeh AL thaqafi e seu filho AL Nadir, da cidade de AL Taef. AL Hareth gozava de enorme prestígio e era chamado de “Médico dos Árabes”. Acompanhou o tratamento de importantes nomes como Saad ben Abi Waqas, conquistando para a medicina a atenção de Califas e Emires Omíadas e Abássidas, o que constituiu um importante fator para o desenvolvimento e prosperidade da medicina.
Outro importante fator que ajudou a fazer a medicina árabe prosperar foi a tradução para a língua árabe de textos dos mais variados campos da medicina de outras civilizações, especialmente o que foi traduzido da medicina grega dos volumes de Hipócrates e Galeno, entre outros. Os grandes médicos , árabes e muçulmanos, eram unidos pela estrutura do conhecimento entre a filosofia e a medicina, assim como os médicos gregos. Portanto a Filosofia era a origem e o critério para os médicos de então, o que fez com que tivessem uma visão holística do ser humano, capacitando–os acessar todos os elementos da estrutura humana com parte do sistema da medicina, pesquisando e elaborando o mecanismo de interação entre estes elementos.
Os filósofos árabes e muçulmanos até o século V da Higra (século XI d.C), acreditavam que a medicina não é uma ciência por sim mesma, sendo o estudo filosófico componente indispensável para que se tornasse completa. E talvez isto nos esclareça a razão da afirmação do filósofo AL Farabi (932 d.C), (Medicina Aplicada), no livro “Estatístico das Ciências” de que segundo a tradição árabe, ser filósofo era condição para ser médico, sendo uma característica árabe a distinção entre o Médico e alguém que praticava apenas o ato de “medicar”. O médico era considerado “sábio”, pois além de deter a técnica da medicina , detinha também o conhecimento filosófico, diferentemente de quem se utilizava apenas da técnica médica. Não há dúvidas de que feitos de médicos árabes e mulçumanos como Al Razi, Ibn Sina (Avicena) e Eben Rachid, dentre outros, os projetaram ao topo da história da civilização humana.
O Senso Crítico
Para construir uma clara imagem na história da medicina árabe, os médicos árabes se utilizaram do senso crítico. As traduções do grego, entre outras línguas, foi um fator relevante no início de sua ascensão, no entanto rapidamente assimilaram seu criticismo e corrigiram seus excessos, numa época em que ninguém ousaria criticar as opiniões dos médicos gregos como Hipócrates e Galeno. O médico árabe Dr. AL Razi (926 d.C ), no seu livro intitulado “Dúvidas sobre Galeno”, respondeu aos que o contestavam em sua crítica a Galeno dizendo: Aquele que não ousa se utilizar da crítica, não pode ser considerado filósofo.
Também Ibn Sina no livro “Estatuto da Medicina” aponta várias contradições na medicina de Galeno; Por outro lado, Ibn Nafis , não hesitou em citar no livro “Estudo da Anatomia” o trabalho crítico de Galeno no campo da anatomia, e sua importância quanto à afirmação do senso crítico que guiou a medicina árabe a uma evidente independência dos conceitos da medicina grega.
Totalitarismo
A idéia que se destaca na medicina árabe totalitarista é a relação entre o que é material e o que é moral ou psicológico na vida humana, a chamada relação dialética. A medicina grega focava primeiramente nas causas físicas da doença, a medicina indiana nas causas mentais e psicológicas da doença, já a medicina árabe considera os dois lados juntos, com a mesma importância. Se o médico, por exemplo, falha no diagnóstico material, busca analisar também o lado psicológico. Há vários volumes psiquiátricos nos acervos da literatura médica árabe.
O médico “yohanna ben massouih” classificou em seu livro intitulado “ al Malikhouliah “ causas, sintomas e tratamentos. Assim como “Honein Ben Ishaac” também escreveu no livro intitulado “Tadbeer El Soudauin” e Al Razi, especialista em psiquiatria, escreveu o livro “A medicina Psiquiátrica” e continuou na mesma linha no livro “AL mansouri”, que trata das enfermidades do corpo ao mesmo tempo em que trata da alma. Tais livros demonstram na história da medicina, o quão avançado estava à medicina árabe na área da psiquiatria.
Fairawoi Ibn Abi Asibah , enfatizou as habilidades de Ibn Sina neste campo ao relatar: “certo dia Ibn Sina (Avicena) me chamou a atenção para falar de um paciente que após o exame clínico teve certeza de que não sofria de nenhum mal físico, mas sim de males psicológicos. Ibn Sina mandou chamar o homem que conhecia todos os bairros da cidade e suas ruas, fez então que enumerasse todos os bairros da cidade, nome por nome, enquanto isso Ibn Sina media o pulso do paciente, sentia a variação da pulsação e percebia as mudanças na sua expressão. Durante o exame notou que o paciente era afetado quando ouvia o nome de um bairro em especial na cidade. Então Ibn Sina mandou que mencionasse os nomes das ruas daquele bairro até descobrir exatamente a rua que afetava o paciente... E assim por diante até chegar a mencionar a lembrança das casas e seus moradores individualmente, chegando ao nome de certa mulher. Então Ibn Sina concluiu que aquele homem a amava, e o tratamento ideal seria que se casasse com ela, somente assim, se curaria”.
A Tolerância e a Medicina
A tolerância sempre foi um feito essencial da sociedade árabe islâmica, em especial no campo da medicina, profissão que não pode ser restrita à religião, raça ou sexo, mas estudada e exercida para todos os que vivem nas regiões árabes, não importando quem seja o paciente.
Trabalharam nos califados Omíadas e Abássidas médicos de diversas nacionalidades e religiões, todos eram respeitados e admirados. No Califado Omíada de Damasco, por exemplo, havia médicos cristãos importantes como Ibn Athal, que tratava o próprio califa Ben Abi Sfian (60 Hegira / 680 d.C); O médico Ibn ِAbjar que trabalhou no palácio do califa Amer ben AbdelAziz ( 101 Hegira / 720 d. C ). Também serviram no palácio Omíada médicos de diversas origens, como o cristão Jorjes Ben Bakhtisho, médico do califa Abi Jaafar AL Mansouri (158 Hegira / 775 d.C), e assim seguiram seus filhos e netos no serviço da família Abássida por mais de três séculos.
Os Abássidas também trouxeram médicos da Índia para Bagdá , o que favoreceu a tradução de literatura médica da língua Hindu para o Árabe.
Médicos judeus também trabalharam no palácio do Califado Fatímida no Egito, como Musa Ben Azar, seus filhos e netos, e médicos cristãos como Mansur Ben Sahlan.
Na Corte de Salah AL Din Al Ayoubi (Saladino), (589 Hegira / 1193 d. C), serviram diversos médicos cristãos, apesar do conflito com os cruzados, como Assad ben AL Mutran e Abi al Faraj al Nassrani, além do famoso médico judeu Musa Bin Maimoun.
Os estatutos hospitalares árabes demonstravam importantes aspectos da tolerância na medicina árabe. Entre as normas está explicitamente descrita a não discriminação no tratamento de muçulmanos e não mulçumanos, árabes e não árabes.
As portas dos hospitais estavam sempre abertas para o tratamento de todos que viviam nas regiões árabes e islâmicas, não importando a raça ou a religião. Um fato histórico confirma isto; Durante uma epidemia deflagrada nos dias do Califa Abássida Muntaqadar Billah (320 Hegira / 932 d.C), o ministro Ali Bin Issa ordenou ao então ‘presidente’ dos médicos em Bagdá, Sanan Bin Tabet, o envio de médicos para cuidar dos pacientes nas vilas rurais. A equipe de médicos alcançou uma cidade rural chamada “sawar” habitada em sua maioria por judeus. Então os médicos escreveram pedindo autorização para se estabelecerem no local e tratar os habitantes, na resposta foram informados de que de acordo com os estatutos hospitalares de Bagdá, não se faz diferença no tratamento de muçulmanos e não muçulmanos, com isso estavam autorizados a tratar de todos, sem fazer distinções.
Presidente dos Médicos
O pioneirismo da ciência médica árabe foi constatado em diversos temas, um deles foi na criação do posto de “Presidente dos Médicos”. O primeiro a ocupar este posto foi o Califa Abássida Harun AL Rashid (193 Hegira / 809 d.C). O cargo de presidente permaneceu durante quase todas as eras da História Islâmica até os dias dos Mamelucos. O centro da presidência ficava na capital, Bagdá, e sua função era a administração dos médicos, hospitais e demais assuntos relacionados à saúde. O próprio Califa Abássida era quem apontava o presidente dos médicos.
Uma de suas importantes funções era a de aplicar exames de capacitação a farmacêuticos e médicos na época. O exame para farmacêuticos apareceu durante o governo do Califa AL Mamun (218 heriga / 832 d.C). Al Mamun foi o primeiro a ficar atento para supostos farmacêuticos charlatões, que receitavam remédios alternativos aos prescritos.
AL Mamum testou todos os farmacêuticos ao pedir um remédio que não existia, muitos afirmaram ter o remédio, mas trouxeram medicamentos diferentes. Desde então os farmacêuticos tinham de passar por exame para adquirir a licença para trabalhar.
Durante o Califado de AL Mutasim Billah (227 Hegira / 842 d.C), todos os farmacêuticos da região foram novamente Submetidos a um teste, os reprovados foram expulsos da cidade, os que insistiam em permanecer foram executados.
Já o exame para médicos começou na época do governo do califa Abássida, Al Montaqadar Billah, antes destes exames, para o exercício da profissão bastava conhecer tratamentos e ter lido algum livro de medicina de algum autor conhecido da época. Havia pessoas com capacidade e que exerciam a prática da medicina sem nenhuma restrição, mas com o passar do tempo, o caos tomou conta da profissão. Certa vez o califa soube da morte de um homem por erro médico em Bagdá, então promulgou a ordem que proibia outros doutores a exercerem a profissão antes de passarem pelo exame do Presidente dos Médicos, que então era Sanan Ben Tabet. Os aprovados no exame receberam um certificado que permitia o exercício da profissão. Alem de um manual listando as doenças e o tratamento correto para as mesmas.
Oitocentos e sessenta doutores foram aprovados. Alguns não foram submetidos aos exames devido à tradição e grande fama. Muitos deles já trabalhavam a serviço do califado por hereditariedade.
Os Hospitais
Os hospitais são uma maravilha a parte na história da medicina árabe, pois ofereciam um local de enorme efervescência cultural e científica, servindo a propósitos variados, além da atividade médica. Possuíam fontes, salões de leitura, bibliotecas, capelas e dispensários. As escolas médicas introduziram um grande número de drogas (químicas e herbáceas).
Entre os medicamentos introduzidos pelos árabes destacam-se o âmbar, almíscar, cravo-da-índia, pimenta, gengibre, noz-moscada, cânfora, sena, cassis e a noz-vômica. Desenvolveram métodos de extração, técnicas de destilação e cristalização, que possibilitaram o estudo e desenvolvimento de medicamentos até então desconhecidos, além de serem essenciais à formação da farmácia e da química.
Havia dois tipos de hospitais, Fixos e Móveis, e é importante notar que os árabes conheciam estes dois tipos de atendimento mesmo antes do aparecimento do Islã. Os historiadores são unânimes quanto ao primeiro hospital fixo construído durante o islã, durante o reinado do Califa Omíada AL Walid ben Abd Elmalek, na cidade de damasco, para o qual trouxe médicos famosos fornecendo a eles toda infra-estrutura disponível na época.
O mais famoso foi “AL Nuri”, na cidade de Damasco, construído pelo rei, Nur El din zanki (579 Hegira / 1174 d.C.). O primeiro hospital construído durante a era Abássida foi no governo do Califa Harun AL Rashid, na cidade de Bagdá, e seguiu-se o movimento de construção de hospitais na capital Abássida até o início do séculoX, somando aproximadamente oito hospitais. No Egito a construção de hospitais começou durante o governo de Amro Bin AL Aas. Mais tarde surgiu na região, talvez, o mais famoso hospital de então chamado “almansuri” também conhecido por “Qalaoun”, pois foi construído pelo sultão mameluco Al Mansour Qalaoun (1289 d.C).
Há registro de mais de 34 hospitais em todo território islâmico. O hospital de Bagdá, fundado pelo califa Al-Mutkadir, foi o maior do século X. Al-Razi praticou e ensinou nele. Foi onde implantou o princípio de se recolher e guardar o histórico clínico para ser utilizado em discussões de casos, no aprendizado.
O hospital de Damasco foi o mais suntuoso. Servia também de escola médica, com uma das maiores bibliotecas da época. Os convalescentes eram internados em pavilhões, organizados em orfanato, biblioteca e enfermarias especiais, que atendiam feridas, afecções oculares, diarréias, transtornos da mulher e febres. Cada paciente recebia uma ajuda de cinco moedas de ouro para cuidar da família até sua volta ao trabalho.
Todos tinham as portas abertas para paciente de todas as classes sociais e de todas as origens territoriais ou crença religiosa.
Hospitais Móveis
Os árabes foram realmente pioneiros em hospitais móveis, desconhecidos em outras civilizações. Tais hospitais eram transferidos de um lugar para o outro para cuidar das populações rurais. Estes hospitais continham uma equipe médicas e assistentes, equipados de instrumentos e remédios, transportados de uma vila pra outra em animais.
Este tipo de ‘hospital móvel’ era muito comum na época do Califado Abássida de Muntaqadar Bllah.
Ibn AL Siba relata em “Ayoun Alanba” (Olhos da Notícia), que o ministro Ali Bin Aissa escreveu um comunicado ao então presidente dos médicos em Bagdá, Sanan Ben Tabet, ordenando que fosse feito todo o esforço necessário para o atendimento da população, fornecimento de remédio e tratamento para todos, em todos os lugares.
Saúde dos Prisioneiros
Em tempos em que as prisões de outras nações pareciam mais “cemitérios Pra Vivos” , nas prisões árabes a saúde dos presos era inspecionada com freqüência, conforme ordens do Califa Muntaqader ao Presidente dos Médicos. As prisões tinham que ser inspecionadas para investigar a saúde dos presos, garantindo a eles o tratamento necessário. Evitando assim epidemias dentro e fora das prisões.
O impacto da medicina árabe na renascença ocidental
Enquanto a medicina Árabe vivia seus tempos áureos, a medicina ocidental vivia no obscurantismo e no subdesenvolvimento, baseando seus diagnósticos e tratamentos em mitos. O príncipe árabe Osama Bin Monqadhr, em suas notas, aponta as barbaridades praticadas pelos médicos europeus no tratamento dos seus doentes durante as cruzadas (sec. Xd. C) na região da Síria. Ele citou que na medicina européia prevalecia a idéia, de que as doenças eram causadas por espíritos maléficos como punição por pecados cometidos, conforme ensinava a Igreja na época, e que a cura era obtida não com tratamento ou remédios, mas com o perdão dado pela Igreja que proibia a medicação de seus fiéis e ordenava que fossem queimados os livros de medicina em circulação, considerados bruxaria e um desafio a Deus. No entanto, desde o séc. XI d.C. a medicina árabe começou a ter reflexos no ocidente, através da região da Sicília, Espanha e também pelo conhecimento adquirido pelos cruzados em regiões árabes.
Diversas obras foram traduzidas do árabe para o latim, uma figura importante neste processo foi “Constantino, o africano” (1087 d.C.), que comercializava remédios em Tunis. Ele importou para a Europa várias obras traduzidas do árabe para o latim. Quando se estabeleceu na Itália traduziu para o latim outras importantes obras de Ali bin Alabas, Ibn Jazar, Costa Bin Luka e Honein Ibn Sahac, alem dos volumes traduzidos do Grego de Galeno e Hipócrates.
Certamente as interpretações de Constantino foram à base da escola de medicina de Salermo em meados do séc. XI d.C, escola que se tornou uma ponte que trazia os conhecimentos da medicina árabe para a Europa.
Para o bem da civilização ocidental veio para a cidade de Toledo, Espanha, em meados do séc. XII d.C. um cientista chamado Girard Cremona 1187d.C (da cidade de Cremona - norte da Itália) a procura de um livro traduzido do árabe chamado “AL Mojsti” conhecido como “Alktab al Azzem” (O Grande Livro), do escritor Grego Ptolomeu. E se surpreendeu por encontrar em Toledo, vários outros manuscritos científicos remanescentes escritos em árabes, então se empenhou no estudo da língua árabe e na tradução destes achados para o latim, primeiramente com a ajuda de um assistente e depois sozinho. Ele que pretendia fazer apenas uma viagem curta a Toledo, acabou por permanecer lá por muitos anos até sua morte. Historiadores afirmam que Girard, traduziu sozinho um quarto de todos os livros traduzidos do árabe para o Latim, mais de oitenta livros sobre Medicina, Filosofia, Astronomia, Engenharia, Matemática entre outros.
Os primeiros livros de medicina traduzidos para o latim por Girard foram “alqanun” (A Lei) de Ibn Sina; “Madkhal Ila aL-tob” (Introdução à Medicina), do AL Razi ; e “AL Jiraha” (A Cirurgia), de Zahraoui. Girard também traduziu um considerável volume de obras Gregas do árabe para o Latim, como as obras de Hipócrates e Galeno.
Historiadores concordam que dos árabes e de suas brilhantes obras de medicina traduzidas do árabe para o latim surgiram as bases para a renascença da medicina na Europa.
Com isso a medicina árabe teve bases sólidas, compreensivas e criativas e é das mais brilhantes páginas da história da civilização árabe, e de toda humanidade.
Os árabes não apenas legaram seus próprios conhecimentos para o mundo, como também possibilitaram a existência hoje dos conhecimentos gregos tanto na medicina como em outros campos científicos. Fato histórico que libertou o ocidente das “prisões” da idade média e o fez renascer pela difusão do conhecimento e do espírito crítico, preservados, elaborados ou implementados pelos árabes e divulgados para o ocidente permitindo a ascensão e a evolução da medicina para como a conhecemos hoje.
Fonte: Arabesc
Original em árabe. Tradução: Jean Ajluni
A evolução da medicina árabe e sua prosperidade são lembradas em várias ocasiões, o próprio profeta Maomé (Muhammad) diz: “Oh servos de Deus que estão doentes, o Deus poderoso não permitiu doença sem que a mesma tenha cura, aprenda de seu conhecimento e ignore a ignorância.” E disse o Imã AL shafaay: “Não conheço ciência, depois do Halal e do Haram (ciências da religião), mais nobre que a medicina.”
Dois médicos apareceram no seio do Islam, AL Hareth Ben kaldeh AL thaqafi e seu filho AL Nadir, da cidade de AL Taef. AL Hareth gozava de enorme prestígio e era chamado de “Médico dos Árabes”. Acompanhou o tratamento de importantes nomes como Saad ben Abi Waqas, conquistando para a medicina a atenção de Califas e Emires Omíadas e Abássidas, o que constituiu um importante fator para o desenvolvimento e prosperidade da medicina.
Outro importante fator que ajudou a fazer a medicina árabe prosperar foi a tradução para a língua árabe de textos dos mais variados campos da medicina de outras civilizações, especialmente o que foi traduzido da medicina grega dos volumes de Hipócrates e Galeno, entre outros. Os grandes médicos , árabes e muçulmanos, eram unidos pela estrutura do conhecimento entre a filosofia e a medicina, assim como os médicos gregos. Portanto a Filosofia era a origem e o critério para os médicos de então, o que fez com que tivessem uma visão holística do ser humano, capacitando–os acessar todos os elementos da estrutura humana com parte do sistema da medicina, pesquisando e elaborando o mecanismo de interação entre estes elementos.
Os filósofos árabes e muçulmanos até o século V da Higra (século XI d.C), acreditavam que a medicina não é uma ciência por sim mesma, sendo o estudo filosófico componente indispensável para que se tornasse completa. E talvez isto nos esclareça a razão da afirmação do filósofo AL Farabi (932 d.C), (Medicina Aplicada), no livro “Estatístico das Ciências” de que segundo a tradição árabe, ser filósofo era condição para ser médico, sendo uma característica árabe a distinção entre o Médico e alguém que praticava apenas o ato de “medicar”. O médico era considerado “sábio”, pois além de deter a técnica da medicina , detinha também o conhecimento filosófico, diferentemente de quem se utilizava apenas da técnica médica. Não há dúvidas de que feitos de médicos árabes e mulçumanos como Al Razi, Ibn Sina (Avicena) e Eben Rachid, dentre outros, os projetaram ao topo da história da civilização humana.
O Senso Crítico
Para construir uma clara imagem na história da medicina árabe, os médicos árabes se utilizaram do senso crítico. As traduções do grego, entre outras línguas, foi um fator relevante no início de sua ascensão, no entanto rapidamente assimilaram seu criticismo e corrigiram seus excessos, numa época em que ninguém ousaria criticar as opiniões dos médicos gregos como Hipócrates e Galeno. O médico árabe Dr. AL Razi (926 d.C ), no seu livro intitulado “Dúvidas sobre Galeno”, respondeu aos que o contestavam em sua crítica a Galeno dizendo: Aquele que não ousa se utilizar da crítica, não pode ser considerado filósofo.
Também Ibn Sina no livro “Estatuto da Medicina” aponta várias contradições na medicina de Galeno; Por outro lado, Ibn Nafis , não hesitou em citar no livro “Estudo da Anatomia” o trabalho crítico de Galeno no campo da anatomia, e sua importância quanto à afirmação do senso crítico que guiou a medicina árabe a uma evidente independência dos conceitos da medicina grega.
Totalitarismo
A idéia que se destaca na medicina árabe totalitarista é a relação entre o que é material e o que é moral ou psicológico na vida humana, a chamada relação dialética. A medicina grega focava primeiramente nas causas físicas da doença, a medicina indiana nas causas mentais e psicológicas da doença, já a medicina árabe considera os dois lados juntos, com a mesma importância. Se o médico, por exemplo, falha no diagnóstico material, busca analisar também o lado psicológico. Há vários volumes psiquiátricos nos acervos da literatura médica árabe.
O médico “yohanna ben massouih” classificou em seu livro intitulado “ al Malikhouliah “ causas, sintomas e tratamentos. Assim como “Honein Ben Ishaac” também escreveu no livro intitulado “Tadbeer El Soudauin” e Al Razi, especialista em psiquiatria, escreveu o livro “A medicina Psiquiátrica” e continuou na mesma linha no livro “AL mansouri”, que trata das enfermidades do corpo ao mesmo tempo em que trata da alma. Tais livros demonstram na história da medicina, o quão avançado estava à medicina árabe na área da psiquiatria.
Fairawoi Ibn Abi Asibah , enfatizou as habilidades de Ibn Sina neste campo ao relatar: “certo dia Ibn Sina (Avicena) me chamou a atenção para falar de um paciente que após o exame clínico teve certeza de que não sofria de nenhum mal físico, mas sim de males psicológicos. Ibn Sina mandou chamar o homem que conhecia todos os bairros da cidade e suas ruas, fez então que enumerasse todos os bairros da cidade, nome por nome, enquanto isso Ibn Sina media o pulso do paciente, sentia a variação da pulsação e percebia as mudanças na sua expressão. Durante o exame notou que o paciente era afetado quando ouvia o nome de um bairro em especial na cidade. Então Ibn Sina mandou que mencionasse os nomes das ruas daquele bairro até descobrir exatamente a rua que afetava o paciente... E assim por diante até chegar a mencionar a lembrança das casas e seus moradores individualmente, chegando ao nome de certa mulher. Então Ibn Sina concluiu que aquele homem a amava, e o tratamento ideal seria que se casasse com ela, somente assim, se curaria”.
A Tolerância e a Medicina
A tolerância sempre foi um feito essencial da sociedade árabe islâmica, em especial no campo da medicina, profissão que não pode ser restrita à religião, raça ou sexo, mas estudada e exercida para todos os que vivem nas regiões árabes, não importando quem seja o paciente.
Trabalharam nos califados Omíadas e Abássidas médicos de diversas nacionalidades e religiões, todos eram respeitados e admirados. No Califado Omíada de Damasco, por exemplo, havia médicos cristãos importantes como Ibn Athal, que tratava o próprio califa Ben Abi Sfian (60 Hegira / 680 d.C); O médico Ibn ِAbjar que trabalhou no palácio do califa Amer ben AbdelAziz ( 101 Hegira / 720 d. C ). Também serviram no palácio Omíada médicos de diversas origens, como o cristão Jorjes Ben Bakhtisho, médico do califa Abi Jaafar AL Mansouri (158 Hegira / 775 d.C), e assim seguiram seus filhos e netos no serviço da família Abássida por mais de três séculos.
Os Abássidas também trouxeram médicos da Índia para Bagdá , o que favoreceu a tradução de literatura médica da língua Hindu para o Árabe.
Médicos judeus também trabalharam no palácio do Califado Fatímida no Egito, como Musa Ben Azar, seus filhos e netos, e médicos cristãos como Mansur Ben Sahlan.
Na Corte de Salah AL Din Al Ayoubi (Saladino), (589 Hegira / 1193 d. C), serviram diversos médicos cristãos, apesar do conflito com os cruzados, como Assad ben AL Mutran e Abi al Faraj al Nassrani, além do famoso médico judeu Musa Bin Maimoun.
Os estatutos hospitalares árabes demonstravam importantes aspectos da tolerância na medicina árabe. Entre as normas está explicitamente descrita a não discriminação no tratamento de muçulmanos e não mulçumanos, árabes e não árabes.
As portas dos hospitais estavam sempre abertas para o tratamento de todos que viviam nas regiões árabes e islâmicas, não importando a raça ou a religião. Um fato histórico confirma isto; Durante uma epidemia deflagrada nos dias do Califa Abássida Muntaqadar Billah (320 Hegira / 932 d.C), o ministro Ali Bin Issa ordenou ao então ‘presidente’ dos médicos em Bagdá, Sanan Bin Tabet, o envio de médicos para cuidar dos pacientes nas vilas rurais. A equipe de médicos alcançou uma cidade rural chamada “sawar” habitada em sua maioria por judeus. Então os médicos escreveram pedindo autorização para se estabelecerem no local e tratar os habitantes, na resposta foram informados de que de acordo com os estatutos hospitalares de Bagdá, não se faz diferença no tratamento de muçulmanos e não muçulmanos, com isso estavam autorizados a tratar de todos, sem fazer distinções.
Presidente dos Médicos
O pioneirismo da ciência médica árabe foi constatado em diversos temas, um deles foi na criação do posto de “Presidente dos Médicos”. O primeiro a ocupar este posto foi o Califa Abássida Harun AL Rashid (193 Hegira / 809 d.C). O cargo de presidente permaneceu durante quase todas as eras da História Islâmica até os dias dos Mamelucos. O centro da presidência ficava na capital, Bagdá, e sua função era a administração dos médicos, hospitais e demais assuntos relacionados à saúde. O próprio Califa Abássida era quem apontava o presidente dos médicos.
Uma de suas importantes funções era a de aplicar exames de capacitação a farmacêuticos e médicos na época. O exame para farmacêuticos apareceu durante o governo do Califa AL Mamun (218 heriga / 832 d.C). Al Mamun foi o primeiro a ficar atento para supostos farmacêuticos charlatões, que receitavam remédios alternativos aos prescritos.
AL Mamum testou todos os farmacêuticos ao pedir um remédio que não existia, muitos afirmaram ter o remédio, mas trouxeram medicamentos diferentes. Desde então os farmacêuticos tinham de passar por exame para adquirir a licença para trabalhar.
Durante o Califado de AL Mutasim Billah (227 Hegira / 842 d.C), todos os farmacêuticos da região foram novamente Submetidos a um teste, os reprovados foram expulsos da cidade, os que insistiam em permanecer foram executados.
Já o exame para médicos começou na época do governo do califa Abássida, Al Montaqadar Billah, antes destes exames, para o exercício da profissão bastava conhecer tratamentos e ter lido algum livro de medicina de algum autor conhecido da época. Havia pessoas com capacidade e que exerciam a prática da medicina sem nenhuma restrição, mas com o passar do tempo, o caos tomou conta da profissão. Certa vez o califa soube da morte de um homem por erro médico em Bagdá, então promulgou a ordem que proibia outros doutores a exercerem a profissão antes de passarem pelo exame do Presidente dos Médicos, que então era Sanan Ben Tabet. Os aprovados no exame receberam um certificado que permitia o exercício da profissão. Alem de um manual listando as doenças e o tratamento correto para as mesmas.
Oitocentos e sessenta doutores foram aprovados. Alguns não foram submetidos aos exames devido à tradição e grande fama. Muitos deles já trabalhavam a serviço do califado por hereditariedade.
Os Hospitais
Os hospitais são uma maravilha a parte na história da medicina árabe, pois ofereciam um local de enorme efervescência cultural e científica, servindo a propósitos variados, além da atividade médica. Possuíam fontes, salões de leitura, bibliotecas, capelas e dispensários. As escolas médicas introduziram um grande número de drogas (químicas e herbáceas).
Entre os medicamentos introduzidos pelos árabes destacam-se o âmbar, almíscar, cravo-da-índia, pimenta, gengibre, noz-moscada, cânfora, sena, cassis e a noz-vômica. Desenvolveram métodos de extração, técnicas de destilação e cristalização, que possibilitaram o estudo e desenvolvimento de medicamentos até então desconhecidos, além de serem essenciais à formação da farmácia e da química.
Havia dois tipos de hospitais, Fixos e Móveis, e é importante notar que os árabes conheciam estes dois tipos de atendimento mesmo antes do aparecimento do Islã. Os historiadores são unânimes quanto ao primeiro hospital fixo construído durante o islã, durante o reinado do Califa Omíada AL Walid ben Abd Elmalek, na cidade de damasco, para o qual trouxe médicos famosos fornecendo a eles toda infra-estrutura disponível na época.
O mais famoso foi “AL Nuri”, na cidade de Damasco, construído pelo rei, Nur El din zanki (579 Hegira / 1174 d.C.). O primeiro hospital construído durante a era Abássida foi no governo do Califa Harun AL Rashid, na cidade de Bagdá, e seguiu-se o movimento de construção de hospitais na capital Abássida até o início do séculoX, somando aproximadamente oito hospitais. No Egito a construção de hospitais começou durante o governo de Amro Bin AL Aas. Mais tarde surgiu na região, talvez, o mais famoso hospital de então chamado “almansuri” também conhecido por “Qalaoun”, pois foi construído pelo sultão mameluco Al Mansour Qalaoun (1289 d.C).
Há registro de mais de 34 hospitais em todo território islâmico. O hospital de Bagdá, fundado pelo califa Al-Mutkadir, foi o maior do século X. Al-Razi praticou e ensinou nele. Foi onde implantou o princípio de se recolher e guardar o histórico clínico para ser utilizado em discussões de casos, no aprendizado.
O hospital de Damasco foi o mais suntuoso. Servia também de escola médica, com uma das maiores bibliotecas da época. Os convalescentes eram internados em pavilhões, organizados em orfanato, biblioteca e enfermarias especiais, que atendiam feridas, afecções oculares, diarréias, transtornos da mulher e febres. Cada paciente recebia uma ajuda de cinco moedas de ouro para cuidar da família até sua volta ao trabalho.
Todos tinham as portas abertas para paciente de todas as classes sociais e de todas as origens territoriais ou crença religiosa.
Hospitais Móveis
Os árabes foram realmente pioneiros em hospitais móveis, desconhecidos em outras civilizações. Tais hospitais eram transferidos de um lugar para o outro para cuidar das populações rurais. Estes hospitais continham uma equipe médicas e assistentes, equipados de instrumentos e remédios, transportados de uma vila pra outra em animais.
Este tipo de ‘hospital móvel’ era muito comum na época do Califado Abássida de Muntaqadar Bllah.
Ibn AL Siba relata em “Ayoun Alanba” (Olhos da Notícia), que o ministro Ali Bin Aissa escreveu um comunicado ao então presidente dos médicos em Bagdá, Sanan Ben Tabet, ordenando que fosse feito todo o esforço necessário para o atendimento da população, fornecimento de remédio e tratamento para todos, em todos os lugares.
Saúde dos Prisioneiros
Em tempos em que as prisões de outras nações pareciam mais “cemitérios Pra Vivos” , nas prisões árabes a saúde dos presos era inspecionada com freqüência, conforme ordens do Califa Muntaqader ao Presidente dos Médicos. As prisões tinham que ser inspecionadas para investigar a saúde dos presos, garantindo a eles o tratamento necessário. Evitando assim epidemias dentro e fora das prisões.
O impacto da medicina árabe na renascença ocidental
Enquanto a medicina Árabe vivia seus tempos áureos, a medicina ocidental vivia no obscurantismo e no subdesenvolvimento, baseando seus diagnósticos e tratamentos em mitos. O príncipe árabe Osama Bin Monqadhr, em suas notas, aponta as barbaridades praticadas pelos médicos europeus no tratamento dos seus doentes durante as cruzadas (sec. Xd. C) na região da Síria. Ele citou que na medicina européia prevalecia a idéia, de que as doenças eram causadas por espíritos maléficos como punição por pecados cometidos, conforme ensinava a Igreja na época, e que a cura era obtida não com tratamento ou remédios, mas com o perdão dado pela Igreja que proibia a medicação de seus fiéis e ordenava que fossem queimados os livros de medicina em circulação, considerados bruxaria e um desafio a Deus. No entanto, desde o séc. XI d.C. a medicina árabe começou a ter reflexos no ocidente, através da região da Sicília, Espanha e também pelo conhecimento adquirido pelos cruzados em regiões árabes.
Diversas obras foram traduzidas do árabe para o latim, uma figura importante neste processo foi “Constantino, o africano” (1087 d.C.), que comercializava remédios em Tunis. Ele importou para a Europa várias obras traduzidas do árabe para o latim. Quando se estabeleceu na Itália traduziu para o latim outras importantes obras de Ali bin Alabas, Ibn Jazar, Costa Bin Luka e Honein Ibn Sahac, alem dos volumes traduzidos do Grego de Galeno e Hipócrates.
Certamente as interpretações de Constantino foram à base da escola de medicina de Salermo em meados do séc. XI d.C, escola que se tornou uma ponte que trazia os conhecimentos da medicina árabe para a Europa.
Para o bem da civilização ocidental veio para a cidade de Toledo, Espanha, em meados do séc. XII d.C. um cientista chamado Girard Cremona 1187d.C (da cidade de Cremona - norte da Itália) a procura de um livro traduzido do árabe chamado “AL Mojsti” conhecido como “Alktab al Azzem” (O Grande Livro), do escritor Grego Ptolomeu. E se surpreendeu por encontrar em Toledo, vários outros manuscritos científicos remanescentes escritos em árabes, então se empenhou no estudo da língua árabe e na tradução destes achados para o latim, primeiramente com a ajuda de um assistente e depois sozinho. Ele que pretendia fazer apenas uma viagem curta a Toledo, acabou por permanecer lá por muitos anos até sua morte. Historiadores afirmam que Girard, traduziu sozinho um quarto de todos os livros traduzidos do árabe para o Latim, mais de oitenta livros sobre Medicina, Filosofia, Astronomia, Engenharia, Matemática entre outros.
Os primeiros livros de medicina traduzidos para o latim por Girard foram “alqanun” (A Lei) de Ibn Sina; “Madkhal Ila aL-tob” (Introdução à Medicina), do AL Razi ; e “AL Jiraha” (A Cirurgia), de Zahraoui. Girard também traduziu um considerável volume de obras Gregas do árabe para o Latim, como as obras de Hipócrates e Galeno.
Historiadores concordam que dos árabes e de suas brilhantes obras de medicina traduzidas do árabe para o latim surgiram as bases para a renascença da medicina na Europa.
Com isso a medicina árabe teve bases sólidas, compreensivas e criativas e é das mais brilhantes páginas da história da civilização árabe, e de toda humanidade.
Os árabes não apenas legaram seus próprios conhecimentos para o mundo, como também possibilitaram a existência hoje dos conhecimentos gregos tanto na medicina como em outros campos científicos. Fato histórico que libertou o ocidente das “prisões” da idade média e o fez renascer pela difusão do conhecimento e do espírito crítico, preservados, elaborados ou implementados pelos árabes e divulgados para o ocidente permitindo a ascensão e a evolução da medicina para como a conhecemos hoje.
Fonte: Arabesc
Original em árabe. Tradução: Jean Ajluni
CAMPANHA NACIONAL DE VACINAÇÃO CONTRA O GOLPE
Nas
eleições de 2010 o Brasil corre o sério e real risco de novamente ser
contaminado pelo vírus do golpe, desta vez tendo como vetores setores da
ultradireita representados por emissoras de TV e rádio, jornais e
“formadores de opinião", como religiosos das mais diferentes crenças,
incitados principalmente pela candidatura de José Serra à Presidência da
República. Por isso, leia com atenção e divulgue este aviso!
Sintomas
· * Um
jornal paulistano divulgou ficha falsa classificando Dilma Roussef de
terrorista e assassina e e-mails acusam a ex-ministra de assassina e
bandida
· * Com
o início da propaganda eleitoral diversas crises e acusações sem provas
passaram a figurar por manchetes de jornais e destaques em TV
· *
Com o crescimento de Dilma nas pesquisas, os ataques se intensificaram e
jornais e TV só usam agenda negativa contra a candidata
· *
Blogs e publicações a favor de Dilma passaram a ser acusados de “blogs
sujos” enquanto blogs de ataque à honra e nome de Dilma proliferaram na
rede
· * A venda ilegal de sigilo feita por encomenda na Delegacia da Receita em Mauá é transformada em “crise” contra a candidata
· * A
quebra do sigilo de milhares de pessoas é transformada em acusação
contra Dilma e a violação do sigilo de 60 milhões de outras, feita pela
filha do candidato tucano e denunciada pela revista Carta Capital, é
solenemente ignorada
· * José Serra transforma seu programa eleitoral na televisão em agenda diária de acusações e ilações falsas
· * A esposa do candidato José Serra, em campanha em Nova Iguaçu (RJ) acusa Dilma de “matar criancinhas”
· *
Um ex-condenado com negócios nebulosos é transformado em herói da
probidade e gera crise envolvendo a Casa Civil da Presidência para
atingir Dilma
Indícios próximos
* Apesar
da manutenção dos índices de votação de Dilma nas pesquisas, os tucanos
prometem “bala de prata “ e mais baixaria e acusações
* Religiosos
católicos e evangélicos distribuem vídeo acusando Dilma de crimes e
misturando pedofilia, infanticídio, homossexualidade com a campanha do
PT
* O
candidato José Serra aumenta a agressividade contra jornalistas que lhe
fazem perguntadas apontadas “incômodas” ou “inconvenientes”
* O
presidente do PSDB Sérgio Guerra promete “campanha mais agressiva” até o
dia da votação, vale dizer mais baixaria, crises e acusações inundadas
* Espalha-se
pela internet a informação de que a campanha de Serra prepara uma
acusação grave para a véspera da eleição quando não há mais tempo para
se dar resposta e se esclarecer qualquer fato.
Vetores
Rede Globo de Televisão – Jornais “O Globo”; “Folha de S. Paulo”; “O Estado de S. Paulo” e revistas “Veja” e “Época”
Risco iminente
O
vírus pretende espalhar o medo e a dúvida com base nas acusações
falsas, gerando graves danos ao sistema democrático brasileiro e
provocando assim o golpe tão esperado que desprezará o resultado da
vontade popular e trará de volta ao poder a elite insensível e desumana
que se empenhará na desnacionalização dos recursos nacionais;; na venda
do patrimônio público; no desmanche das conquistas sociais do povo e na
volta aos tempos da UDN da ditadura; do FHC e do FMI
Prevenção
* Divulge
este alerta a todas as pessoas de seu relacionamento. Alerte quem você
conhece sobre o risco das denúncias em véspera de eleição
* Não assista a TV Globo ou leia os jornais vetores entre o dias 1º e 3 de outubro
* Duvide
de qualquer denúncia que surja após o fim do horário eleitoral gratuito
quando os fatos não mais podem ser desmentidos em cadeia nacional de
rádio e televisão.
* Vote por seu país e por sua independência, como cidadão, sem tutela e manipulação
Não querem só calar Carta Capital. Querem matá-la
Brizola Neto no Tijolaço
Os
donos da grande mídia no Brasil adoram montar seminários para dizer que
a liberdade de imprensa está ameçada no país. Seus argumentos são
ridídulos e nem mesmo eles acreditam nisso, tanto que ousam as maiores
irresponsabilidades com a certeza de que nada lhes acontecerá.
Jornalistas estrangeiros, que trabalham em veículos respeitáveis,
afirmam que o Brasil desfruta de uma liberdade de imprensa difícil de
ver em outros lugares.
Se alguém acredita no apreço que esse grupo tem pela liberdade de
imprensa ,veja o que acontece agora, quando a revista Carta Capital é
intimada por ofício da procuradora eleitoral Sandra Cureau a apresentar a
relação da publicidade e dos valores recebidos do governo federal em
2009 e 2010. Ninguém deu um pio. Pior ainda, nem uma linha. O assunto só
circulou na blogosfera, já que a grande mídia tenta aparentar que Carta
Capital não existe.
Se tal medida fosse tomada em relação à Veja ou Folha de S.Paulo, por
exemplo, todos os jornais estariam escrevendo editoriais, o instituto
Millenium já teria convocado o Reinaldo Azevedo e o Jabor para bradarem
contra censura e o totalitarismo no país e a Sociedade Interamericana de
Imprensa alardearia o fato além das nossas fronteiras.
É claro que dessa turma não podemos esperar nada. Mas temos que
exigir que a sociedade e principalmente os órgãos de classe se
manifestem. Cadê a Associação Brasileira de Imprensa? Onde estão os
sindicatos de jornalistas? A Ordem dos Advogados do Brasil? É preciso
denunciar a tentativa de censura que fazem a um veículo da imprensa
brasileira que ousa desafiar a voz comum e pratica um jornalismo de
personalidade e qualidade únicos.
Disse mais cedo: quem cria um estado de intimidação e vassalagem no
Brasil não é o Estado, mas o statablishment, o poder empresarial.
Mino Carta, diretor de redação da Carta Capital, não pode ficar se
defendendo sozinho, embora tenha talento bastante para isso, como ao
responder a Bob Fernandes, do Terra Magazine,
sobre a intenção do ofício da dra. Cureau. “A senhora Cureau entende
que nós somos comprados pelo governo federal, via publicidade. Se ela se
dedicasse, ou se dedicar, porém, à mesma investigação junto às demais
editoras de jornais, revista, e outros órgãos da mídia verificaria,
verificará, talvez com alguma surpresa, que todos eles têm publicidade
de instituições do governo em quantidade muito maior e com valor maior
do que Carta Capital.”
E ainda completou: “Aliás, me ocorre recordar que durante o governo
tucano de Fernando Henrique Cardoso, dito FHC, fomos literalmente
perseguidos pela absoluta ausência de publicidade do governo federal. E a
pergunta que faço é a seguinte: então, alguém, inclusive na mídia, se
incomodou com isso? Ninguém considerou esse fato estranho? Uma revista
de alcance nacional não receber publicidade alguma enquanto todas as
demais recebiam?”
A indagação de Mino Carta é óbvia. Se hoje a grande mídia busca
silenciar Carta Capital, no governo dos tucanos ela tinha o apoio do
governo para isso. Não só silenciá-la, mas se possível asfixiá-la
economicamente até a morte.
Mas enganam-se. Em pouco tempo, se houver uma ação aguda de um
governo comprometido com a liberdade de informação, e a internet chegar à
toda a população, eles estarão reduzidos ao monopólio do…. nada…
Escrevam o que digo, vamos enfrentar uma batalha pesadíssima no
Congresso para abrir a internet a todos os brasileiros. Os “donos” da
informação farão de tudo – como vocês já viram que eles são capazes –
para, em nome de sua arrogância empresarial, continuarem negando ao povo
brasileiro o direito de saber a verdade.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Renato: sentindo seu poder ameaçado, direita apela para golpismo
Acompanhando de perto a disputa política nacional e nos estados, nas candidaturas majoritárias e proporcionais, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo faz, nesta entrevista, uma análise do quadro eleitoral, fala sobre a tática denuncista da direita e trata da necessidade de os comunistas intensificarem a campanha nestes dias que antecedem o 3 de outubro. “Quando a direita percebe que está perdendo espaço e pode perder poder, sempre caminha para as vias golpistas”, afirma.
Renato: Serra passou a adotar a tática de tentar desmontar a candidatura da Dilma
Partido Vivo: O país se
aproxima de mais uma eleição geral. O que o quadro atual aponta de
perspectivas e que balanço é possível fazer do processo até o momento?
Renato Rabelo: As eleições vão entrando numa fase decisiva. Na disputa pela Presidência da República, a tendência de vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno está consolidada e dificilmente será revertida. Para os governos estaduais, muitos quadros também estão definidos. Mas, para a Câmara e Senado, é agora que começa a haver uma definição mais nítida. No Brasil inteiro, vai se esboçando a vitória de toda a base de apoio ao governo Lula e à sua sucessora. Esse quadro comprova aquilo que a gente vem afirmando há algum tempo: de que há uma tendência objetiva de o povo, em função dos bons resultados do governo, do prestígio de Lula, de sua liderança, querer a continuidade. Afinal, não foram poucas as conquistas. Mesmo com a crise, a economia conseguiu retomar seu ritmo rapidamente, apresentando inclusive crescimento acentuado neste ano; o emprego formal cresceu em níveis elevados, comparativamente com a situação que a gente tinha no Brasil; a distribuição de renda passou a ser efetiva e há mobilidade social no país. Esse anseio geral de continuidade é bom para que possamos avançar ainda mais.
RR: Sim, é por tudo isso que o José Serra, ao entrar na campanha, teve muita dificuldade de saber como deveria se situar. Serra procurou, num primeiro momento, colocar-se como candidato da situação: “vou fazer melhor do que Dilma porque tenho mais experiência”. Depois, ele viu que isso não estava dando resultados porque as pessoas não são ingênuas. E mais recentemente, já que não conseguiu projeção, Serra passou a adotar a tática de tentar desmontar a candidatura da Dilma. Serra foi mostrando que sua candidatura não tem rumo, nem finalidade muito clara. Perdendo espaço gradativamente, hoje lança mão de factoides e cria escândalos com a ajuda da grande mídia para ver se consegue reverter a situação. Querer ligar a candidatura da Dilma a irregularidades que sempre existiram e existirão na Receita Federal é uma forçação de barra muito grande; e vai ficando claro para o povo que isso é calúnia.
Partido Vivo: Acredita que a direita brasileira e sua maneira de exercer a oposição política tenham mudado a partir de Lula?
RR: O fato é que a oposição foi ficando cada vez mais sem alternativa de projeto para o país porque seu projeto era respaldado pelas prédicas neoliberais. E Lula procurou enfrentar essa situação com uma saída que considerávamos híbrida, mantendo alguns aspectos dessa política macroeconômica, mas, ao mesmo tempo procurando fazer um grande esforço para alcançar o desenvolvimento do país, enquanto FHC governava ao sabor do mercado. O resultado é que o Brasil ficou mais preparado para enfrentar a crise. Ficou evidente que o projeto da oposição não permitiu ao Brasil retomar o desenvolvimento depois de décadas de estagnação. A gente caminha para uma eleição em que a direita pode ter uma grande derrota. Pela primeira vez, o Congresso Nacional pode passar por uma grande renovação não só quantitativa, favorável ao governo que continuará Lula, mas talvez qualitativa, com a formação de uma maioria no Senado e na Câmara afinada com o próximo governo. Sempre existiu defasagem no parlamento: o governo Lula, por exemplo, foi eleito com 60% dos votos válidos, mas não conseguia ter maioria no Congresso. A oposição pode sofrer um grande revés.
Partido Vivo: Assim como em 2006, os demo-tucanos e seus aliados têm procurado levar a disputa para o segundo turno no tapetão, como demonstra o uso das últimas denúncias. Como você vê esse tipo de manobra? O denuncismo atual guarda semelhanças com 2006?
RR: Essa é sempre a fórmula que esses setores de direita usam no Brasil, uma medida nomeadamente golpista. Quando ela percebe que está perdendo espaço e pode perder poder, sempre caminha para as vias golpistas. Desde Getúlio Vargas, só para ficar na história mais recente, é este o método. Em 2002, a direita tentou impedir que Lula se elegesse; em 2006, teve o caso dos aloprados já no final das eleições porque ia se confirmando a tendência de vitória de Lula. Agora, com a possibilidade de eleger sua sucessora já no primeiro turno, esse setor procura também desesperadamente uma forma de desgastá-la; no fundo, imaginava que Serra manteria a dianteira. Além disso, é importante salientar que no Brasil formou-se uma situação política em que a grande mídia mostra nitidamente que ela não quer a continuidade do governo Lula e nem a vitória de sua sucessora. Ela tomou partido não apenas em editoriais – todos são sempre contra o governo e contra Dilma – mas há todo um trabalho no noticiário e nas manchetes dando peso exacerbado a isso que eles chamam de escândalo, para criar um impacto na população contra a candidatura de Dilma. É um trabalho orquestrado, ostensivo. A mídia busca irregularidades que sempre existiram dando grande destaque, para ver se a partir dali cria uma comoção contra a candidata. E tudo que o Serra fala sobre isso, a mídia repercute. Se o Serra já sabia da quebra de sigilo da sua filha desde 2009, porque somente agora isso é tratado? Este fato mostra que se trata de uso puramente eleitoral.
Partido Vivo: Mudando de assunto, a formação de um núcleo de esquerda para nortear a base governista é factível?
RR: É sempre uma luta a construção de um núcleo de esquerda dentro de uma frente ampla. E nesse núcleo consideramos também a presença do PT, além do PCdoB, PSB e o PDT. Agora, isso vai depender do resultado das eleições. O esforço é que a esquerda cresça em representação na Câmara e no Senado, além de aumentar o número de governadores. O crescimento da campanha de Dilma e dessa base de apoio beneficia a esquerda. A formação desse núcleo vai depender da dimensão do que a esquerda vai conseguir nestas eleições; é a correlação de forças que define o papel que a esquerda terá. Se crescer no parlamento, evidentemente que a possibilidade de um núcleo de esquerda se concretizar torna-se algo mais efetivo.
Partido Vivo: Candidaturas como as de Netinho – que está na frente em São Paulo –; Vanessa Grazziotin – que já apresenta vantagem sobre Artur Virgílio no Amazonas e está em segundo lugar – e Edvaldo Magalhães – que tem crescido no Acre – têm se mostrado bastante promissoras. Elas surpreendem o partido? Que avaliação faz da disputa do PCdoB por cadeiras no Senado?
RR: Hoje, podemos eleger um senador negro em São Paulo – um homem de origem humilde que expressa o interesse das camadas populares, das periferias – além de lideranças reconhecidas em estados como os da Amazônia, uma região estratégica para o país e para o PCdoB dentro daquilo que a gente define como um projeto nacional.
Estamos sempre trabalhando naquela linha de acumulação eleitoral. Desde 2004 procuramos participar progressivamente das eleições majoritárias porque é uma eleição em que o partido se apresenta para toda a população. De maneira geral, é um esforço enorme que o PCdoB tem feito para ter uma participação mais ampla nos pleitos, de lançar candidaturas majoritárias nas eleições de base – as municipais – o que projetou muitas lideranças do PCdoB em 2008. Em 2006 fizemos um esforço de ir além das candidaturas à Câmara, lançando nomes também ao Senado; o PCdoB foi, então, o quinto partido mais votado para o Senado. Aumentamos o esforço para ter candidaturas fortes nas majoritárias e proporcionais, em muitos casos com nominatas próprias, o que o PCdoB nunca teve nessa dimensão. O partido pode ter uma grande votação e a possibilidade real de conquistar três vagas no Senado, podendo ter uma bancada de quatro, com o Inácio Arruda eleito em 2006, algo que nunca teve. Com essa conquista em 2010, podemos ter em 2012 uma quantidade muito maior de candidaturas a prefeitos e, em 2014, podemos ter mais candidaturas aos governos dos estados, além de ter cada vez mais candidatos ao Senado.
Partido Vivo: Como vê a situação no Maranhão e o desempenho do candidato Flávio Dino?
RR: É a primeira candidatura do PCdoB ao governo de estado e a valorizamos muito. O Maranhão é um estado que tem tido uma importância crescente, com a implantação de refinarias, portos, a descoberta de grandes reservas de gás etc. A segunda questão é que o Flávio Dino vai se colocando como uma liderança de grande prestígio no estado; foi um deputado muito destacado na Câmara e ganhou mais projeção nas eleições passadas, em São Luis, quando teve uma grande votação para a prefeitura. Ele vai sendo um escoadouro do forte sentimento de renovação que há no estado, o desejo de ter políticos mais identificados com os anseios do povo e do estado. Por isso, acreditamos muito na sua candidatura. Pesquisa no Maranhão nunca foi forte. No caso da disputa à prefeitura, se tivéssemos seguido as pesquisas, ele não teria chances; e no final, Flávio Dino foi ao segundo turno e teve grande votação. O certo é que há a possibilidade de o Flávio crescer nessa reta final e chegar ao segundo turno.
Partido Vivo: Que preocupações o partido, seus candidatos e militantes devem ter nesta reta final de campanha?
RR: Este é um momento muito importante porque é quando, de fato, o povo decide em quem votar. Boa parte da população não acompanha a evolução política e vai começar a se atualizar para definir suas opções agora. Daí a importância de se dar um volume maior de campanha para todos os nossos candidatos e aos que apoiamos. Temos de estar nas ruas fazendo um grande esforço mobilizador para que o povo receba, inclusive, maior orientação sobre a hora de votar. Ele terá de votar seis vezes, ou seja, é importante que tenha sua cola – aliás, a própria Justiça Eleitoral está falando nisso. Também é importante ter os documentos em mãos porque agora é uma exigência que o eleitor tenha um documento oficial com foto além do título. Além disso, é preciso que nossos candidatos e militantes estejam em contato com a população porque é a última chance de se transmitir ideias e propostas. Pela proximidade das eleições, esta também é a fase em que as pessoas estão mais atentas para ouvir o que os candidatos têm a dizer.
Da redação do Vermelho
Priscila Lobregatte
Renato Rabelo: As eleições vão entrando numa fase decisiva. Na disputa pela Presidência da República, a tendência de vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno está consolidada e dificilmente será revertida. Para os governos estaduais, muitos quadros também estão definidos. Mas, para a Câmara e Senado, é agora que começa a haver uma definição mais nítida. No Brasil inteiro, vai se esboçando a vitória de toda a base de apoio ao governo Lula e à sua sucessora. Esse quadro comprova aquilo que a gente vem afirmando há algum tempo: de que há uma tendência objetiva de o povo, em função dos bons resultados do governo, do prestígio de Lula, de sua liderança, querer a continuidade. Afinal, não foram poucas as conquistas. Mesmo com a crise, a economia conseguiu retomar seu ritmo rapidamente, apresentando inclusive crescimento acentuado neste ano; o emprego formal cresceu em níveis elevados, comparativamente com a situação que a gente tinha no Brasil; a distribuição de renda passou a ser efetiva e há mobilidade social no país. Esse anseio geral de continuidade é bom para que possamos avançar ainda mais.
Leia também:
Partido Vivo: Vêm daí as dificuldades de José Serra se posicionar?RR: Sim, é por tudo isso que o José Serra, ao entrar na campanha, teve muita dificuldade de saber como deveria se situar. Serra procurou, num primeiro momento, colocar-se como candidato da situação: “vou fazer melhor do que Dilma porque tenho mais experiência”. Depois, ele viu que isso não estava dando resultados porque as pessoas não são ingênuas. E mais recentemente, já que não conseguiu projeção, Serra passou a adotar a tática de tentar desmontar a candidatura da Dilma. Serra foi mostrando que sua candidatura não tem rumo, nem finalidade muito clara. Perdendo espaço gradativamente, hoje lança mão de factoides e cria escândalos com a ajuda da grande mídia para ver se consegue reverter a situação. Querer ligar a candidatura da Dilma a irregularidades que sempre existiram e existirão na Receita Federal é uma forçação de barra muito grande; e vai ficando claro para o povo que isso é calúnia.
Partido Vivo: Acredita que a direita brasileira e sua maneira de exercer a oposição política tenham mudado a partir de Lula?
RR: O fato é que a oposição foi ficando cada vez mais sem alternativa de projeto para o país porque seu projeto era respaldado pelas prédicas neoliberais. E Lula procurou enfrentar essa situação com uma saída que considerávamos híbrida, mantendo alguns aspectos dessa política macroeconômica, mas, ao mesmo tempo procurando fazer um grande esforço para alcançar o desenvolvimento do país, enquanto FHC governava ao sabor do mercado. O resultado é que o Brasil ficou mais preparado para enfrentar a crise. Ficou evidente que o projeto da oposição não permitiu ao Brasil retomar o desenvolvimento depois de décadas de estagnação. A gente caminha para uma eleição em que a direita pode ter uma grande derrota. Pela primeira vez, o Congresso Nacional pode passar por uma grande renovação não só quantitativa, favorável ao governo que continuará Lula, mas talvez qualitativa, com a formação de uma maioria no Senado e na Câmara afinada com o próximo governo. Sempre existiu defasagem no parlamento: o governo Lula, por exemplo, foi eleito com 60% dos votos válidos, mas não conseguia ter maioria no Congresso. A oposição pode sofrer um grande revés.
Partido Vivo: Assim como em 2006, os demo-tucanos e seus aliados têm procurado levar a disputa para o segundo turno no tapetão, como demonstra o uso das últimas denúncias. Como você vê esse tipo de manobra? O denuncismo atual guarda semelhanças com 2006?
RR: Essa é sempre a fórmula que esses setores de direita usam no Brasil, uma medida nomeadamente golpista. Quando ela percebe que está perdendo espaço e pode perder poder, sempre caminha para as vias golpistas. Desde Getúlio Vargas, só para ficar na história mais recente, é este o método. Em 2002, a direita tentou impedir que Lula se elegesse; em 2006, teve o caso dos aloprados já no final das eleições porque ia se confirmando a tendência de vitória de Lula. Agora, com a possibilidade de eleger sua sucessora já no primeiro turno, esse setor procura também desesperadamente uma forma de desgastá-la; no fundo, imaginava que Serra manteria a dianteira. Além disso, é importante salientar que no Brasil formou-se uma situação política em que a grande mídia mostra nitidamente que ela não quer a continuidade do governo Lula e nem a vitória de sua sucessora. Ela tomou partido não apenas em editoriais – todos são sempre contra o governo e contra Dilma – mas há todo um trabalho no noticiário e nas manchetes dando peso exacerbado a isso que eles chamam de escândalo, para criar um impacto na população contra a candidatura de Dilma. É um trabalho orquestrado, ostensivo. A mídia busca irregularidades que sempre existiram dando grande destaque, para ver se a partir dali cria uma comoção contra a candidata. E tudo que o Serra fala sobre isso, a mídia repercute. Se o Serra já sabia da quebra de sigilo da sua filha desde 2009, porque somente agora isso é tratado? Este fato mostra que se trata de uso puramente eleitoral.
Partido Vivo: Mudando de assunto, a formação de um núcleo de esquerda para nortear a base governista é factível?
RR: É sempre uma luta a construção de um núcleo de esquerda dentro de uma frente ampla. E nesse núcleo consideramos também a presença do PT, além do PCdoB, PSB e o PDT. Agora, isso vai depender do resultado das eleições. O esforço é que a esquerda cresça em representação na Câmara e no Senado, além de aumentar o número de governadores. O crescimento da campanha de Dilma e dessa base de apoio beneficia a esquerda. A formação desse núcleo vai depender da dimensão do que a esquerda vai conseguir nestas eleições; é a correlação de forças que define o papel que a esquerda terá. Se crescer no parlamento, evidentemente que a possibilidade de um núcleo de esquerda se concretizar torna-se algo mais efetivo.
Partido Vivo: Candidaturas como as de Netinho – que está na frente em São Paulo –; Vanessa Grazziotin – que já apresenta vantagem sobre Artur Virgílio no Amazonas e está em segundo lugar – e Edvaldo Magalhães – que tem crescido no Acre – têm se mostrado bastante promissoras. Elas surpreendem o partido? Que avaliação faz da disputa do PCdoB por cadeiras no Senado?
RR: Hoje, podemos eleger um senador negro em São Paulo – um homem de origem humilde que expressa o interesse das camadas populares, das periferias – além de lideranças reconhecidas em estados como os da Amazônia, uma região estratégica para o país e para o PCdoB dentro daquilo que a gente define como um projeto nacional.
Estamos sempre trabalhando naquela linha de acumulação eleitoral. Desde 2004 procuramos participar progressivamente das eleições majoritárias porque é uma eleição em que o partido se apresenta para toda a população. De maneira geral, é um esforço enorme que o PCdoB tem feito para ter uma participação mais ampla nos pleitos, de lançar candidaturas majoritárias nas eleições de base – as municipais – o que projetou muitas lideranças do PCdoB em 2008. Em 2006 fizemos um esforço de ir além das candidaturas à Câmara, lançando nomes também ao Senado; o PCdoB foi, então, o quinto partido mais votado para o Senado. Aumentamos o esforço para ter candidaturas fortes nas majoritárias e proporcionais, em muitos casos com nominatas próprias, o que o PCdoB nunca teve nessa dimensão. O partido pode ter uma grande votação e a possibilidade real de conquistar três vagas no Senado, podendo ter uma bancada de quatro, com o Inácio Arruda eleito em 2006, algo que nunca teve. Com essa conquista em 2010, podemos ter em 2012 uma quantidade muito maior de candidaturas a prefeitos e, em 2014, podemos ter mais candidaturas aos governos dos estados, além de ter cada vez mais candidatos ao Senado.
Partido Vivo: Como vê a situação no Maranhão e o desempenho do candidato Flávio Dino?
RR: É a primeira candidatura do PCdoB ao governo de estado e a valorizamos muito. O Maranhão é um estado que tem tido uma importância crescente, com a implantação de refinarias, portos, a descoberta de grandes reservas de gás etc. A segunda questão é que o Flávio Dino vai se colocando como uma liderança de grande prestígio no estado; foi um deputado muito destacado na Câmara e ganhou mais projeção nas eleições passadas, em São Luis, quando teve uma grande votação para a prefeitura. Ele vai sendo um escoadouro do forte sentimento de renovação que há no estado, o desejo de ter políticos mais identificados com os anseios do povo e do estado. Por isso, acreditamos muito na sua candidatura. Pesquisa no Maranhão nunca foi forte. No caso da disputa à prefeitura, se tivéssemos seguido as pesquisas, ele não teria chances; e no final, Flávio Dino foi ao segundo turno e teve grande votação. O certo é que há a possibilidade de o Flávio crescer nessa reta final e chegar ao segundo turno.
Partido Vivo: Que preocupações o partido, seus candidatos e militantes devem ter nesta reta final de campanha?
RR: Este é um momento muito importante porque é quando, de fato, o povo decide em quem votar. Boa parte da população não acompanha a evolução política e vai começar a se atualizar para definir suas opções agora. Daí a importância de se dar um volume maior de campanha para todos os nossos candidatos e aos que apoiamos. Temos de estar nas ruas fazendo um grande esforço mobilizador para que o povo receba, inclusive, maior orientação sobre a hora de votar. Ele terá de votar seis vezes, ou seja, é importante que tenha sua cola – aliás, a própria Justiça Eleitoral está falando nisso. Também é importante ter os documentos em mãos porque agora é uma exigência que o eleitor tenha um documento oficial com foto além do título. Além disso, é preciso que nossos candidatos e militantes estejam em contato com a população porque é a última chance de se transmitir ideias e propostas. Pela proximidade das eleições, esta também é a fase em que as pessoas estão mais atentas para ouvir o que os candidatos têm a dizer.
Da redação do Vermelho
Priscila Lobregatte
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
O futuro da esquerda
Wladimir Pomar no Correio da Cidadania | |
O fim da civilidade, decretado pela direita tucano-pefelista, neste
último mês de campanha, está trazendo à luz pelo menos três aspectos da
realidade brasileira.
Primeiro, a natureza reacionária e antidemocrática dos novos
representantes políticos da burguesia financeira e da burguesia agrária.
Segundo, a oposição de grandes parcelas das camadas populares e das
classes médias a tal reacionarismo. E, terceiro, as clivagens da
esquerda diante dessa polarização.
A nova direita política é, em grande parte, formada por parcelas
oriundas da intelectualidade política democrática e de esquerda que se
defrontou com a ditadura militar. No curso da emergência das lutas
operárias e populares e da formação do PT, assim como da ofensiva
ideológica e política do neoliberalismo, muitos de seus membros se
transformaram no oposto do que representaram no passado.
Com isso, repetem uma experiência histórica peculiar da esquerda
brasileira, que teve em Carlos Lacerda seu expoente mais significativo.
Quem conheceu esse personagem da história brasileira certamente se
lembrou dele ao assistir ao candidato Serra deblaterando sobre a suposta
tolerância de Lula com "quem rouba", e qualificando a candidata Dilma
de "envelope fechado". A grande desvantagem de Serra é que não tem a
oratória de Lacerda, nem um ambiente de conspiração militar
generalizada. Mas a natureza golpista e reacionária é a mesma.
Essa truculência tucano-pefelista também está colocando em evidência
algo que uma parte da esquerda se nega a ver. Isto é, que grandes massas
do povo brasileiro consideram as atuais eleições como um acerto de
contas com a herança de FHC e depositam uma firme confiança em Lula e no
PT. Ou seja, além de encararem as atuais eleições como polarizadas e
plebiscitárias, grandes parcelas do povo estão convictas de que as
mudanças implantadas pelo governo Lula, mesmo contendo erros e
problemas, relacionados ou não com suas alianças políticas, apontam para
um caminho seguro de transformação social e política.
Uma parte da chamada esquerda democrática se encontra perdida na enseada
tucano-pefelista, sem se dar conta de que está dormindo com o inimigo. É
doloroso ver candidatos dessa esquerda, com discursos de mudanças
democráticas e populares, sendo apresentados por FHC, Serra, César Maia e
outros personagens que quase quebraram o Brasil e levaram o povão ao
desemprego e à miséria.
A parte da esquerda que se considera revolucionária está na oposição.
Embora procure se distanciar da direita que também é oposição, seu
inimigo principal e alvo de seus ataques tem sido o governo Lula e a
esquerda que apóia Dilma. Na prática, o povão acaba confundindo-a com
seus inimigos de direita.
A maior parte da esquerda, que apóia Dilma, também se debate diante da
realidade complexa do país. Isto parece ser mais evidente dentro do PT,
onde havia uma corrente que pregava abertamente a impossibilidade de uma
eleição polarizada e trabalhava para construir pontes com o tucanato. A
evolução da campanha eleitoral, apesar da ausência de ataques petistas
ao tucanato, está demonstrando que aquela corrente estava totalmente
enganada, pelo desconhecimento da natureza antidemocrática e reacionária
do tucano-pefelismo.
Também é dentro do PT que continuam se apresentando brechas relacionadas
com a tibieza em adotar procedimentos ideológicos, políticos e
organizativos condizentes com um partido de esquerda que quer
transformar o Estado e a sociedade. Um partido desse tipo não pode ter
aloprados, filiados facilmente cooptáveis por dinheiro fácil, nem
agentes infiltrados que possam navegar tranqüilamente por suas fileiras.
Se o PT não adotar procedimentos que o blindem contra os arrivistas e
oportunistas que procuram fazer carreira em qualquer partido que seja
governo, aquelas brechas podem se tornar voçorocas, deixando-o indefeso
diante das armações que tendem a crescer nas disputas institucionais.
Nessas condições, a vitória do PT e Dilma não representará apenas um
acerto de contas com a ideologia e as políticas neoliberais, condensadas
na candidatura Serra. Nem apenas um impacto muito sério na esquerda que
se aliou à direita, formal ou informalmente, nos ataques ao governo
Lula e à candidatura Dilma. Ela deverá representar também uma
reestruturação ideológica, política e organizativa do PT, se esse
partido quiser enfrentar com sucesso os desafios para aprofundar as
mudanças democráticas, econômicas e sociais que as camadas populares
reclamam.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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terça-feira, 14 de setembro de 2010
Eduardo Galeano: 70 anos de América Latina
No último 3 de setembro aniversariou um importante nome do jornalismo
e da literatura latino-americanos: o uruguaio Eduardo Galeano completou
70 anos de vida. E, com a data, celebra-se também sua importante
contribuição para o imaginário social dos povos da América Latina, e
também o marcante papel na luta contra o regime militar uruguaio, que
durou de 1973 a 1984.
“Para os que
concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América
Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos, outros ganharam. Mas
acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a
história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se
disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial”, escreveu
Galeano em 1971, no livro As Veias Abertas da América Latina, que fala
sobre o processo de exploração colonial pelo qual passou o continente
americano desde sua descoberta até o neo-colonialismo da Revolução
Industrial.
Anos mais tarde, em
1976, deixou o Uruguai rumo ao exílio na Espanha após ter seu nome
incluído em uma lista de execuções do regime militar, liderado pelo
ditador Jorge Videla.
Para falar sobre
vida e obra do jornalista uruguaio, a Revista Fórum entrevistou o
professor Alexandre Barbosa, mestre e doutorando em Ciências da
Comunicação pela ECA-USP. Especialista em Jornalismo Internacional,
Borges é o idealizador do site www.latinoamericano.jor.br.
Fórum: Na sua opinião, qual a importância de Eduardo Galeano para o jornalismo e literatura latino-americanos?
Alexandre Barbosa:
Galeano foi além do jornalismo e da literatura. Muitos, tanto na
academia quanto no jornalismo, enxergam sua obra apenas do ponto de
vista literário. De fato, ele escreveu obras belíssimas, como Palavras
Andantes e Memórias do Fogo. Esta última, uma crônica da história
latino-americana contada de maneira poética. Porém, mesmo na literatura e
principalmente no jornalismo, Galeano é essencial para a construção de
um pensamento de resistência latino-americana. Sua obra mais conhecida,
As Veias Abertas da América Latina, é uma leitura que não pode faltar na
vida de qualquer cidadão deste continente.
Fórum: De que maneira ele contribuiu para o imaginário histórico do continente latino-americano?
Barbosa: Enquanto a
indústria jornalística insistia na visão de que as alianças com os
países centrais do capitalismo eram uma alternativa para o atraso da
região, Galeano mostrou como a riqueza da Europa e dos EUA foi
construída com base na exploração dos recursos naturais e humanos da
América Latina. A cidade boliviana de Potosí, que tem mina de estanho e
prata, hoje é uma região pobre, que enriqueceu os cofres dos países
ibéricos. A miséria da América Central é a riqueza dos comerciantes
norte-americanos.
Como a escrita de
Galeano tem forte apelo de denúncia, seu texto flui e serve de
inspiração para os movimentos que hoje pregam uma nova ordem da política
e da economia latino-americana. Ao ler a obra de Galeano, é possível
entender melhor como funcionam os governos de Evo Morales e Rafael
Correa. Quem leu As Veias Abertas da América Latina jamais teria coragem
de criticar a ação boliviana de nacionalização dos recursos minerais.
Fórum: Galeano
participou ativamente de movimentos culturais contrários à ditadura
uruguaia de 1973. Para você, qual obra dele melhor representa a
resistência contra o regime militar?
Barbosa: Galeano e
outros da classe artística e jornalística podem ser considerados parte
de um movimento que Michael Löwy chamou de Romantismo Revolucionário
que, entre outras características, entende as manifestações artísticas
como instrumentos de denúncia, resistência e revolução.
Há contos e
crônicas belíssimas de Galeano sobre a ditadura uruguaia. Recomendo a
leitura de um texto sobre os desenhos que a filha de um preso levava
para o pai no cárcere. O guarda proibia imagens e desenhos de pássaros,
pois eles eram sinônimos de liberdade. Um dia, a filha desenhou uma
árvore com frutas e o desenho passou. O pai elogiou o desenho e filha
confidenciou-lhe que os pássaros estavam escondidos entre as folhas...
Fórum: Hoje em dia,
Eduardo Galeano figura como um dos maiores nomes da literatura na
América Latina, ao lado de Gabriel García Marquez e outros. O que ainda
podem fazer para estabelecer um ponto de reflexão nos povos do
continente contra a dominação cultural e ideológica?
Barbosa: É
essencial seguir estudando as obras desses dois autores. Além de As
Veias Abertas da América Latina, um latino-americano não pode se
considerar latino-americano sem ler Cem Anos de Solidão, de García
Marquez. Um curso sobre América Latina tem de incluir uma discussão
sobre “As Veias Abertas” e um debate sobre a metáfora da cíclica
história do continente que está encarnada em “Cem Anos”.
Tanto Galeano
quanto Gabo continuam fortes em suas posições. Continuam a defender a
América Latina e suas lutas. Gabo mantém a FPNI (Fundación Nuevo
Periodismo Iberoamericano), que incentiva a construção de um jornalismo
que tenha olhar latino-americano. A última obra de Galeano, Espelhos, se
dedica às histórias esquecidas não só da América Latina, mas de todo o
mundo.
Fonte: Revista Fórum
Ramadã à brasileira: como os muçulmanos de São Paulo passam o mês sagrado do Islã
O relógio da família Jarouche, que mora em São Bernardo
do Campo, região metropolitana de São Paulo, toca às cinco horas da
manhã. Eles acordam, fazem uma refeição leve e se preparam para fazer a fajr, primeira oração do dia. A mãe, Fátima, e a filha mais velha, Tamara, fazem o wudu,
o ritual de lavar as mãos antes das orações e rezam em casa. O pai e o
filho Youssef vão à mesquita e, em seguida, saem para o trabalho.
Por volta do mesmo horário, a chegada dos fiéis para a primeira oração do dia na mesquita xiita do Brás, na zona leste de São Paulo, se mistura com a de lojistas que montam barracas. Dentro da mesquita, alguns poucos fiéis começam a ler o Alcorão em voz alta, e o som da frase “Allahu Akbar" (“Deus é o maior!”, em árabe), a voz do imame (sacerdote), transmitida pelos alto-falantes chamando para oração, mistura-se com o sucesso de Lady Gaga que toca do outro lado da rua.
Leia mais:
Galeria de imagens: Muçulmanos no Brasil celebram o Ramadã
Islã ganha adeptos no Brasil como religião que une povos perseguidos
Islamismo cresce na periferia como instrumento para largar coisas ruins
Glossário explica termos mais comuns no islamismo
Em um cenário nada típico, começa o dia dos muçulmanos que vivem no Brasil durante o Ramadã, mês sagrado do calendário islâmico. Durante 30 dias, a rotina dos fiéis é alterada. Do nascer ao pôr do sol, não podem comer nem beber nada. A exceção ao jejum é para pessoas doentes, mulheres grávidas, lactantes ou em período menstrual. As crianças começam a praticá-lo aos poucos, a partir dos sete anos e começam completamente aos 14 anos.
Laisa Beatris/Opera Mundi
A mesquita xiita do Brás em São Paulo, instantes antes da primeira oração
Esta segunda-feira (6/9), é o 27º dia do Ramadã, uma data especial porque foi na noite entre os dias 26 e 27 do mês sagrado do islamismo que o profeta Maomé teria recebido a primeira revelação do Alcorão.
Vizinhos
Se não fossem pelas reclamações dos não-muçulmanos que moram perto da mesquita, os fiéis da mesquita do Brás seriam chamados para fazer oração pelo adhan – som emitido pelos alto-falantes no minarete, como acontece em algumas mesquitas do Brasil e é comum em outros países. Em São Bernardo do Campo, os vizinhos fizeram uma reclamação e a prática foi proibida.
“Chamava antes, aí o povo começou a reclamar. A gente reza às cinco da manhã, mas não tocava às cinco da manhã. Tocava meio-dia, tocava às 15h e às 20h. Ai o povo [os vizinhos] começou a fazer abaixo assinado, começou a reclamar”, contou Tamara Jarouche. Segundo Fátima, os vizinhos se sentiam incomodados porque o chamado é feito em árabe e eles diziam não poder entender o que estava sendo dito.
Laisa Beatris/Opera Mundi
Tamara mostra o relógio que a família usa para saber o horário das orações
Este é apenas um dos contratempos que os brasileiros que são fiéis do Islã enfrentam para fazer a resignação do Ramadã. No Brasil, alguns muçulmanos encontram dificuldades para interromper o trabalho e rezar, contou o jovem xeque Mohamad al-Bukai, da mesquita sunita do Brás. O problema é mais comum entre aqueles que não são autônomos e que não trabalham para outros muçulmanos.
No Egito, onde 90% da população é muçulmana, o governo implementou o horário de inverno para adiantar em uma hora o pôr do sol durante o Ramadã. Nos Emirados Árabes Unidos, um decreto religioso autorizou os operários expostos ao calor a quebrar o jejum para não terem problemas de saúde. Na Arábia Saudita, a jornada de trabalho foi trocada.
Convivência
Para Youssef Jarouche, um dos maiores problemas de fazer o Ramadã no Brasil é que a maioria da população não está de jejum.
“Sinto uma boa dificuldade no Brasil. Porque, como não tem muitos muçulmanos, você vê todo mundo na rua diferente de você, todo mundo comendo, fazendo outras coisas que você não pode fazer”, disse Youssef.
Sua irmã Tamara conta que, atualmente, estuda em um colégio islâmico e, portanto, as dificuldades diminuíram. Mas nem sempre foi assim: quando estudava em outro colégio, ela ficava com outros colegas muçulmanos, sentada na escada durante o intervalo para não ver os outros comendo.
Já Aisha – como prefere ser chamada Jeane Pires Manzolini, que se converteu ao Islã há um ano e meio – afirma que não sente dificuldades para conviver com não-islâmicos, mas que o mais difícil é suportar a sede nos dias quentes e secos. “Sinto falta da água; da água eu sinto bastante”, disse. Atualmente, ela recorre à Justiça para incluir em seu registro o nome islâmico que escolheu, em homenagem à terceira esposa do profeta Maomé.
Purificação
O jejum – um dos cinco pilares do Islã, praticado por cerca de 1 bilhão de fiéis pelo mundo e mais de 1,5 milhão no Brasil – não é visto pelos muçulmanos como punição, mas como uma “purificação espiritual que enfraquece o corpo e fortalece a alma”.
“O jejum serve para que você também pense nas pessoas que não podem comer, que não podem beber, que têm dificuldades para isso. Para que você se compadeça, seja solidário com eles e entenda o que eles estão passando”, afirmou Aisha.
Além do jejum, há o acréscimo de uma oração não obrigatória, o tarawih, que significa " oração dos descansos", feita após a quinta reza do dia, o ichá. As outras orações diárias são fajr, zuhr, asr e maghrib.
Desjejum
O relógio da família muçulmana no ABC volta a tocar pouco depois das 17h. Enquanto Fátima prepara o jantar, pega uma tâmara, come, e grita para avisar a filha que é hora de quebrar o jejum. Fátima, Tâmara e Leila, a caçula de sete anos, esperam os homens para fazer a refeição.
O Ramadã – que, em árabe, significa “ser ardente” – começou no dia 11 de agosto no Egito, na Arábia Saudita, na Indonésia, nos Emirados Árabes Unidos, na Jordânia, na Síria, nos territórios palestinos, no Marrocos, na Argélia, na Tunísia, na Líbia, no Afeganistão, na Malásia e em Cingapura. Os xiitas do Irã e do Iraque começam no dia 12, assim como os indianos e os paquistaneses, que esperam que a lua marque o início do nono mês do calendário islâmico. O Ramadã é considerado sagrado porque se acredita que foi nesse período que o Alcorão, o livro sagrado para o islamismo, foi revelado ao profeta Maomé em Meca.
Para o ano gregoriano de 2010, o equivalente ao último dia do Ramadã será 9 de setembro. Ao chegar ao final do mês sagrado, os muçulmanos se reúnem em clubes, associações, nas mesquitas e nas próprias casas para um almoço em família, e realizam grande festa religiosa.
Por volta do mesmo horário, a chegada dos fiéis para a primeira oração do dia na mesquita xiita do Brás, na zona leste de São Paulo, se mistura com a de lojistas que montam barracas. Dentro da mesquita, alguns poucos fiéis começam a ler o Alcorão em voz alta, e o som da frase “Allahu Akbar" (“Deus é o maior!”, em árabe), a voz do imame (sacerdote), transmitida pelos alto-falantes chamando para oração, mistura-se com o sucesso de Lady Gaga que toca do outro lado da rua.
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Galeria de imagens: Muçulmanos no Brasil celebram o Ramadã
Islã ganha adeptos no Brasil como religião que une povos perseguidos
Islamismo cresce na periferia como instrumento para largar coisas ruins
Glossário explica termos mais comuns no islamismo
Em um cenário nada típico, começa o dia dos muçulmanos que vivem no Brasil durante o Ramadã, mês sagrado do calendário islâmico. Durante 30 dias, a rotina dos fiéis é alterada. Do nascer ao pôr do sol, não podem comer nem beber nada. A exceção ao jejum é para pessoas doentes, mulheres grávidas, lactantes ou em período menstrual. As crianças começam a praticá-lo aos poucos, a partir dos sete anos e começam completamente aos 14 anos.
Laisa Beatris/Opera Mundi
A mesquita xiita do Brás em São Paulo, instantes antes da primeira oração
Esta segunda-feira (6/9), é o 27º dia do Ramadã, uma data especial porque foi na noite entre os dias 26 e 27 do mês sagrado do islamismo que o profeta Maomé teria recebido a primeira revelação do Alcorão.
Vizinhos
Se não fossem pelas reclamações dos não-muçulmanos que moram perto da mesquita, os fiéis da mesquita do Brás seriam chamados para fazer oração pelo adhan – som emitido pelos alto-falantes no minarete, como acontece em algumas mesquitas do Brasil e é comum em outros países. Em São Bernardo do Campo, os vizinhos fizeram uma reclamação e a prática foi proibida.
“Chamava antes, aí o povo começou a reclamar. A gente reza às cinco da manhã, mas não tocava às cinco da manhã. Tocava meio-dia, tocava às 15h e às 20h. Ai o povo [os vizinhos] começou a fazer abaixo assinado, começou a reclamar”, contou Tamara Jarouche. Segundo Fátima, os vizinhos se sentiam incomodados porque o chamado é feito em árabe e eles diziam não poder entender o que estava sendo dito.
Laisa Beatris/Opera Mundi
Tamara mostra o relógio que a família usa para saber o horário das orações
Este é apenas um dos contratempos que os brasileiros que são fiéis do Islã enfrentam para fazer a resignação do Ramadã. No Brasil, alguns muçulmanos encontram dificuldades para interromper o trabalho e rezar, contou o jovem xeque Mohamad al-Bukai, da mesquita sunita do Brás. O problema é mais comum entre aqueles que não são autônomos e que não trabalham para outros muçulmanos.
No Egito, onde 90% da população é muçulmana, o governo implementou o horário de inverno para adiantar em uma hora o pôr do sol durante o Ramadã. Nos Emirados Árabes Unidos, um decreto religioso autorizou os operários expostos ao calor a quebrar o jejum para não terem problemas de saúde. Na Arábia Saudita, a jornada de trabalho foi trocada.
Convivência
Para Youssef Jarouche, um dos maiores problemas de fazer o Ramadã no Brasil é que a maioria da população não está de jejum.
“Sinto uma boa dificuldade no Brasil. Porque, como não tem muitos muçulmanos, você vê todo mundo na rua diferente de você, todo mundo comendo, fazendo outras coisas que você não pode fazer”, disse Youssef.
Sua irmã Tamara conta que, atualmente, estuda em um colégio islâmico e, portanto, as dificuldades diminuíram. Mas nem sempre foi assim: quando estudava em outro colégio, ela ficava com outros colegas muçulmanos, sentada na escada durante o intervalo para não ver os outros comendo.
Já Aisha – como prefere ser chamada Jeane Pires Manzolini, que se converteu ao Islã há um ano e meio – afirma que não sente dificuldades para conviver com não-islâmicos, mas que o mais difícil é suportar a sede nos dias quentes e secos. “Sinto falta da água; da água eu sinto bastante”, disse. Atualmente, ela recorre à Justiça para incluir em seu registro o nome islâmico que escolheu, em homenagem à terceira esposa do profeta Maomé.
Purificação
O jejum – um dos cinco pilares do Islã, praticado por cerca de 1 bilhão de fiéis pelo mundo e mais de 1,5 milhão no Brasil – não é visto pelos muçulmanos como punição, mas como uma “purificação espiritual que enfraquece o corpo e fortalece a alma”.
“O jejum serve para que você também pense nas pessoas que não podem comer, que não podem beber, que têm dificuldades para isso. Para que você se compadeça, seja solidário com eles e entenda o que eles estão passando”, afirmou Aisha.
Além do jejum, há o acréscimo de uma oração não obrigatória, o tarawih, que significa " oração dos descansos", feita após a quinta reza do dia, o ichá. As outras orações diárias são fajr, zuhr, asr e maghrib.
Desjejum
O relógio da família muçulmana no ABC volta a tocar pouco depois das 17h. Enquanto Fátima prepara o jantar, pega uma tâmara, come, e grita para avisar a filha que é hora de quebrar o jejum. Fátima, Tâmara e Leila, a caçula de sete anos, esperam os homens para fazer a refeição.
O Ramadã – que, em árabe, significa “ser ardente” – começou no dia 11 de agosto no Egito, na Arábia Saudita, na Indonésia, nos Emirados Árabes Unidos, na Jordânia, na Síria, nos territórios palestinos, no Marrocos, na Argélia, na Tunísia, na Líbia, no Afeganistão, na Malásia e em Cingapura. Os xiitas do Irã e do Iraque começam no dia 12, assim como os indianos e os paquistaneses, que esperam que a lua marque o início do nono mês do calendário islâmico. O Ramadã é considerado sagrado porque se acredita que foi nesse período que o Alcorão, o livro sagrado para o islamismo, foi revelado ao profeta Maomé em Meca.
Para o ano gregoriano de 2010, o equivalente ao último dia do Ramadã será 9 de setembro. Ao chegar ao final do mês sagrado, os muçulmanos se reúnem em clubes, associações, nas mesquitas e nas próprias casas para um almoço em família, e realizam grande festa religiosa.
Fonte: OperaMundi
A batalha Venezuela
Por Ignacio Ramonet - Adital
Na pugna pela supremacia ideológica na América Latina, dois
confrontos decisivos se desenvolverão nas próximas semanas: eleições
legislativas na Venezuela, no dia 26 de setembro; votação presidencial
no Brasil, no dia 3 de outubro. Se a esquerda democrática não ganhar
nesse país gigante, o pêndulo político se inclina majoritariamente, em
escala continental rumo às direitas que já governam no Chile, na
Colômbia, na Costa Rica, em Honduras, no México, no Panamá e no Peru.
Porém, essa eventualidade é pouco provável: é inverossímil que José
Serra, do PSDB (centro-direita) consiga impor-se a Dilma Rousseff, do
Partido dos Trabalhadores (PT), apoiada pelo muito popular Luiz Inácio
Lula da Silva, presidente atual, que, se não fosse impedido pela
Constituição, facilmente poderia ser reeleito para um terceiro mandato.
Em consequência, as forças conservadoras internacionais concentram
todos os seus ataques sobre a outra frente -a Venezuela- para tentar
debilitar ao presidente Hugo Chávez e à revolução bolivariana. O eu está
em jogo é a eleição dos 165 deputados da Assembleia Nacional (não
existe Senado na Venezuela). Com uma particularidade: quase todos os
legisladores que estão terminando seus mandatos são chavistas, pois a
oposição, na eleição anterior de 2005, boicotou o processo eleitoral.
Dessa vez não o fará; existe um sem fim de partidos e de organizações
díspares (1), aglutinados pelo rancor antichavista; apresentam-se sob o
estandarte comum da Mesa da unidade Democrática (MUD) contra o Partido
Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) (2), do Presidente Chávez.
Inevitavelmente, o governo bolivariano contará com menos deputados na
nova Assembleia. Em que proporção? Poderá continuar executando seu
programa de grandes reformas? A oposição terá a força de colocar freio à
revolução?
Tais são os desafios. 60% dos cargos são repartidos de modo nominal;
os 40% restantes, de modo proporcional. A lista que obtenha mais de 50%
dos votos receberá 75% das vagas reservadas ao escrutínio proporcional.
Isso é importante porque a Constituição prevê que as leis orgânicas
devem ser votadas pelos dois terços dos deputados e as leis que
habilitam o presidente a legislar por decreto devem ser votadas pelas
quintas partes dos legisladores. Em outras palavras: bastaria à oposição
obter 56 vagas (sobre 165) para impedir a adoção de leis orgânicas e 67
vagas para impossibilitar a aprovação de leis habilitantes. Quando, até
agora, as principais reformas puderam ser realizadas graças
precisamente a leis habilitantes.
Daí que a batalha Venezuela mobiliza tantas energias e que as
campanhas internacionais de difamação contra o presidente Hugo Chávez
resumem malignidade. Nesses últimos meses, as investidas têm sido
alternadas. Primeiro, insistiram nos problemas de abastecimento de água e
de cortes de energia elétrica (já solucionados), jogando-os para o
Governo, sem mencionar sua causa climática: a seca do século que atingiu
ao país. Depois, continuaram repetindo até a exaustão as imputações sem
provas do ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, sobre uma suposta
"Venezuela santuário de terroristas". Denúncias abandonadas hoje pelo
novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, após seu encontro com
Hugo Chávez, em Santa Marta, no dia 10 de agosto, no qual este, uma vez
mais, reiterou que as guerrilhas devem abandonar a luta armada: "O mundo
de hoje não é o dos anos 60. Não há condições na Colômbia para que
possam tomar o poder. Em troca, converteram-se na principal desculpa
para o império penetrar na Colômbia a fundo e daí agredir a Venezuela, o
Equador, a Nicarágua e Cuba" (3).
Contra toda evidência, os meios de ódio continuam sustentando que, na
Venezuela, as liberdades políticas estão cerceadas e que uma suposta
censura impede a liberdade de expressão. Omitem assinalar que 80% das
emissoras de rádio e dos canais de televisão pertencem ao setor privado,
enquanto que somente 9% deles são públicos (4). Oo que, desde 1999,
foram realizadas quinze eleições democráticas nunca questionadas por
nenhum organismo supervisor internacional. Como realça o jornalista José
Vicente Rangel: "Cada venezuelano pode filiar-se a qualquer partido
político, sindicato, organização social ou associação e mobilizar-se por
todo o território nacional para debater suas ideias e pontos de vista
sem nenhuma limitação" (5).
Após a chegada de Hugo Chávez à presidência, foi quintuplicado o
investimento social em comparação ao investido no período de 1988 e
1998; decisão chave para que a Venezuela tenha alcançado quase todas as
Metas do Milênio fixadas pela ONU para 2015 (6). A pobreza baixou em
49,4% em 1999; a 30,2% em 2006; e a indigência passou de 21,7% a 7,2%
(7).
Esses resultados esperançadores merecem realmente tanto ódio?
Ignácio Ramonet, jornalista, sociólogo e diretor da versão espanhola de Le Monde Diplomatique.
Notas:
(1) Acción Democrática (social-demócrata), Alianza Bravo Pueblo
(derecha), Copei (demócrata cristiano), Fuerza Liberal (ultraliberal),
La Causa R (ex comunistas), MAS (Movimiento al socialismo), Movimiento
Republicano (neoliberal), PPT (Patria para todos), Podemos (Por la
democracia social), Primero Justicia (ultraliberal) e Un Nuevo Tiempo
(social-liberal).
(2) Criado em 2007, agrupa a maioria das forças políticas que apóiam a revolução bolivariana (Movimiento Quinta República, Movimiento Electoral del Pueblo, Movimiento Independiente Ganamos Todos, Liga Socialista, Unidad Popular Venezolana, etc.). O Partido Comunista da Venezuela (PCV) não se integrou no PSUV, porém, o respalda e é seu aliado nessas eleições.
(3) Clarín, Buenos Aires, 25 de julho de 2010.
(4) Também não divulgam que em Honduras, por exemplo, nos seis primeiros meses deste ano, nove jornalistas já foram assassinados.
(5) www.abn.info.ve/node/12781
(6) http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/specials/2009/chavez_10/newsid_
7837000/7837964.stm
(7) www.radiomun
(2) Criado em 2007, agrupa a maioria das forças políticas que apóiam a revolução bolivariana (Movimiento Quinta República, Movimiento Electoral del Pueblo, Movimiento Independiente Ganamos Todos, Liga Socialista, Unidad Popular Venezolana, etc.). O Partido Comunista da Venezuela (PCV) não se integrou no PSUV, porém, o respalda e é seu aliado nessas eleições.
(3) Clarín, Buenos Aires, 25 de julho de 2010.
(4) Também não divulgam que em Honduras, por exemplo, nos seis primeiros meses deste ano, nove jornalistas já foram assassinados.
(5) www.abn.info.ve/node/12781
(6) http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/specials/2009/chavez_10/newsid_
7837000/7837964.stm
(7) www.radiomun
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