terça-feira, 2 de novembro de 2010

Grande Banda...

Dire Straits

Todos os créditos ao blog Lagrimapsicodélica, do qual temos a rádio online com muita música legal... Não deixem de visitá-lo, vale a pena!
 
Dire Straits foi uma banda de rock britânica formada em 1977 por Mark Knopfler (guitarra e vocais), seu irmão David Knopfler (guitarra), John Illsley (baixo) e Pick Withers (bateria). Embora formada em uma época em que o punk rock reinava absoluto, decidiram lidar com as convenções do rock clássico, firmando-se em uma sonoridade mais leve, que agradou ao público cansado do som superproduzido do rock dos anos 70. Não tardou para que a banda se tornasse conhecida mundialmente, ganhando o status de disco de platina logo em seu primeiro álbum.
Entre suas canções mais conhecidas estão "Sultans of Swing", "Lady Writer", "Romeo and Juliet", "Private Investigations", "So Far Away", "Money for Nothing", "Walk of Life", "Your Latest Trick" e "Brothers in Arms".
Apesar do grande sucesso, a banda terminou sem estardalhaços em 1994, quando Mark Knopfler expressou o desejo de não mais fazer turnês em larga escala, passando imediatamente a se dedicar integralmente à sua carreira solo.
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1978 - Dire Straits: Download
1979 – Communiqué: Download
1979 - Live At The Rockpalast: Download
1980 - Making Movies: Download
1981 - Live At The BBC: Download
1982 - Extended Dance Play: Download
1982 - Love Over Gold: Download
1984 – Alchemy: Download
1985 - Brothers In Arms: Download
1985 - Live In San Antonio: Download
1985 - Rare Live Songs: Download
1988 - Money For Nothing: Download
1991 - On Every Street: Download
1992 - Live In Basel: Download
1993 - On The Night: Download
1995 – Rare: Download
1998 - Live At The Royal Albert Hall: Download
1998 - Sultans Of Swing: Download
1999 - Dire Straits & Jam With: Download
1999 - The Very Best Of Dire Straits: Download

Ao invéz de um papa fascista, essa deveria ser a coordenação católica mundial

Há tempos a Amazônia sofre com a exploração predatória de seus recursos naturais e com o desrespeito às populações tradicionais que habitam a maior floresta do mundo. Missionários católicos estrangeiros, como prevê a Teologia da Libertação, lutam para reescrever essa história

Por Carlos Juliano Barros
 
Frei Henri des Roziers é o número um da lista dos jurados de morte pelos latifundiários paraenses

À primeira vista, é difícil acreditar que um carismático francês de 76 anos, de fala lenta e andar compassado por conta da saúde debilitada, encabece a lista dos jurados de morte pelos fazendeiros e madeireiros que transformaram o Pará num apimentado caldeirão de conflitos fundiários. Henri des Roziers, advogado e frei dominicano que há quase três décadas escolheu o Brasil como palco de sua militância social e religiosa, já não anda mais sem a sombra de seguranças pagos por um programa de proteção do Governo Federal. Depois do assassinato da freira norte-americana Dorothy Stang, ocorrido em fevereiro do ano passado em Anapu, às margens da rodovia Transamazônica, não lhe restou alternativa. Desde então, é acompanhado dia e noite por dois policiais que se revezam para garantir sua integridade. Um deles, por sinal, é filho de Raimundo Ferreira Lima, o Gringo, conhecido sindicalista do sul do estado morto em 1980 por se envolver, assim como Frei Henri e Dorothy, na luta pela reforma agrária.
O processo de ocupação da Amazônia desenhado nos últimos quarenta anos deixou um saldo preocupante de crimes contra o meio-ambiente e os direitos humanos. De acordo com dados oficiais, mais de 16% da cobertura original da maior floresta do mundo já foram devastados - área equivalente aos territórios de França e Portugal juntos. Somam-se a isso o desrespeito às populações tradicionais e a superexploração do trabalho de milhares de migrantes que enxergaram na imensidão verde um meio de driblar a escassez de emprego nos seus locais de origem, principalmente no semi-árido nordestino.
Gado na rodovia PA 150: a expansão da pecuária e da soja é uma das principais causas do desmatamento e do trabalho escravo na região Norte do Brasil
A Amazônia pagou um preço muito caro pela noção de progresso associada ao fomento de atividades agropecuárias e de extração de madeira e minérios - desenvolvidas por grandes grupos empresariais e poderosos latifundiários vindos, em sua maioria, do sul do Brasil. Depois do golpe de 1964, a vontade dos militares de "integrar para não entregar" o norte ao restante do país incendiou a disputa por terras. Somente no Pará, onde os conflitos revelam sua face mais sangrenta, ocorreram 772 assassinatos de lideranças sindicais, trabalhadores rurais e defensores dos direitos humanos entre 1971 e 2004 - uma assustadora média de duas mortes por mês.
Na raiz dos movimentos populares de resistência a essa ocupação desordenada encontra-se uma instituição que, se não possui mais a mesma influência de tempos atrás, faz sentir seu legado quando se analisa o atual cenário político nacional: a Igreja Católica. Ela teve participação decisiva na gestação de expoentes da esquerda, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo. E, principalmente no campo, ainda constitui um importante espaço de articulação de militantes que se dedicam à causa da reforma agrária.
Por essa razão, não é difícil encontrar na região norte do Brasil missionários estrangeiros que, da mesma forma que Henri des Roziers, deixaram seus países para mergulhar no meio do povo marginalizado, onde o poder público é incapaz de oferecer assistência adequada à população. Religiosos que acreditam que a Igreja Católica não deve só confortar espiritualmente seus fiéis, mas também se empenhar na resolução dos problemas urgentes dos excluídos.

Opção radical pelos pobres
 

Essa linha progressista do catolicismo ganhou contornos fortes quando, em 1968, bispos de todo o continente se reuniram na cidade colombiana de Medellín - marco do surgimento da doutrina que ficou conhecida por Teologia da Libertação. Uma leitura do evangelho influenciada por conceitos da filosofia marxista, que passou a contestar a miséria de boa parte das populações de países como Brasil e Peru. "Quem primeiro formulou essa opção pelos pobres contra a pobreza, a favor da vida e da liberdade, foi a Teologia da Libertação. É marca registrada da Igreja Latino-Americana", afirma Leonardo Boff, ex-frade franciscano e um dos principais pensadores dessa corrente.
A princípio, quando os militares tomaram o Palácio do Planalto, os dirigentes da Igreja enxergaram com bons olhos a iniciativa, por medo da escalada mundial do comunismo. Contudo, quando vieram à tona as denúncias sobre abusos cometidos pela ditadura, os setores engajados da instituição se mostraram mais antenados aos anseios reprimidos do povo, conquistando espaço entre os fiéis. Naquela época, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de cada dez pessoas, nove se declaravam católicas. Hoje, esse índice caiu para 70%. Números que atestam a importância da Igreja na sociedade quando aconteceu o golpe de 1964.
Já na década seguinte, a fama progressista do catolicismo nacional espalhou-se pelo mundo inteiro, atraindo interesse daqueles que buscavam sintonia entre a leitura da Bíblia e a vontade de lutar contra as injustiças sociais. De acordo com dados do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), dos 2.447 religiosos que hoje moram na região norte, 40% vêm de outros países. Porém, é impossível afirmar com precisão quantos desses missionários estão de fato engajados em alguma ação social. Certamente, a maior parte cumpre apenas com as obrigações cotidianas em paróquias e conventos, sem se envolver em qualquer tipo de militância. Entretanto, não é nada desprezível a parcela de padres, irmãos e irmãs que não percorrem milhares de quilômetros somente para pregar e arrebanhar fiéis - como fizeram os jesuítas com os índios brasileiros, séculos atrás.
No Brasil, os ideais da Teologia da Libertação ecoaram mais alto no campo do que na cidade, fortalecendo a luta pela terra. Prova disso é que muitas lideranças do maior movimento social do país, o MST, formaram-se nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Essas entidades surgiram em meados dos anos 60, depois de uma série de mudanças introduzidas pelo Papa João XXIII no sentido de popularizar a Igreja Católica em todo o mundo. Por meio delas, um grande número de fiéis do interior do país, que não contavam com assistência regular de um sacerdote nos locais onde moravam, passou a organizar as celebrações por conta própria.
O frei dominicano francês Xavier Plassat dedica sua vida à luta pela reforma agrária e ao combate ao trabalho escravo
"Na Europa, o cristão é um consumidor de serviços feitos pelo padre. No Brasil, ocorreu a responsabilização dos leigos. Mas isso não implica necessariamente uma Igreja libertária. Essa reorientação foi provocada pela situação de opressão e pela presença de intelectuais orgânicos de esquerda ligados a ela", explica o frei dominicano francês Xavier Plassat. Os encontros religiosos foram um dos poucos espaços públicos de discussão que o regime militar não aboliu. Era natural, portanto, que nas CEBs também se fizessem debates a respeito da realidade social e política brasileira. "A Teologia da Libertação aproveitou esse envolvimento popular", acrescenta Frei Xavier. Nomes como o da atual ministra do meio-ambiente, a acreana Marina Silva, despontaram dessas comunidades.
A "opção radical pelos pobres" da Igreja Católica saiu do papel com o advento, por todo o país, de pastorais que lidam com os mais variados públicos, como detentos, moradores de rua e profissionais do sexo. Mas uma delas merece destaque pelo importante papel de resistência à ocupação predatória da Amazônia Em 1975, quando a floresta havia se convertido num balaio de crimes graves como assassinatos, grilagem de terra e violação de direitos trabalhistas, foi fundada a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Atualmente, ela constitui um dos principais núcleos de pesquisa sobre problemas fundiários do Brasil. Além disso, mantém um corpo de agentes religiosos e leigos para organizar trabalhadores e defender seus direitos, em nome de uma reforma agrária que respeite a agricultura familiar e o modo de vida típico do camponês.

Violência x Resistência

Com a decadência da economia da borracha, que até os anos 20 consistia na principal fonte de divisas da região, o garimpo, a madeira e a pecuária provocaram uma espécie de corrida para o norte do país - a que se assiste até hoje. A partir dos anos 40, o Estado tomou algumas medidas para tentar disciplinar esse novo ímpeto "colonizador", através da instalação de bancos e aeroportos. No começo da década de 60, a abertura da BR 010, batizada de Belém-Brasília, provocou um grande fluxo migratório em direção àquela área.
Mas foi com os militares que o processo de ocupação se desenrolou a pleno vapor. Em 1966, com o intuito de atrair investimentos através da concessão de benefícios a empresários, foi criada a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Projetos de ampla envergadura - da extração de minérios à criação de pastos, passando pela plantação intensiva de eucaliptos para a produção de celulose - nasceram nesse período. A retirada do ferro da maior jazida do mundo, localizada na Serra dos Carajás (PA), é um dos exemplos mais conhecidos. Para fornecer a energia necessária a essas atividades, foram construídas hidrelétricas de grande porte, como a de Tucuruí, também localizada no Pará. Novas estradas retalharam a mata a fim de garantir o escoamento da produção e facilitar o povoamento, como a Cuiabá-Santarém (BR 163) e a famosa Transamazônica.
Entretanto, a estratégia de ocupação do "vazio demográfico" do norte do Brasil, representada por slogans do tipo "uma terra sem homens para homens sem terras", não correspondeu ao sonho de uma multidão de migrantes pobres que chegavam à Amazônia de todas as partes do Brasil. "O governo usou a floresta como forma de desviar a atenção dos movimentos organizados dos principais focos de tensão fundiária, como Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco. Em vez de realizar uma verdadeira reforma agrária, fez uma política de assentamentos, jogando os agricultores em lotes sem qualquer infra-estrutura", explica Paulo Santilli, professor de antropologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). As medidas desenvolvimentistas também não pouparam os povos indígenas. Pelo contrário: "na década de 70, seu contingente populacional atingiu o nível mais baixo em toda história: pouco mais de 60 mil", completa Santilli.
O massacre de 19 sem-terras, em Eldorado dos Carajás (PA), há dez anos, chamou a atenção do mundo para os conflitos fundiários na Amazônia 
Com a perseguição implacável da ditadura a sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda, a Igreja era a única instituição de porte nacional com capacidade de fazer frente aos desmandos dos militares e de apoiar a classe trabalhadora. "A primeira década de atuação da CPT foi uma fase heróica, de enfrentamento e formação de verdadeiras lideranças", conta Frei Xavier, que coordena a pastoral de Araguaína, no norte do Tocantins. Essa parte do estado, apelidada de Bico do Papagaio devido a seu formato geográfico, já foi uma das áreas de maior ebulição fundiária do Brasil.
Frei Xavier segue os passos do Padre Josimo Tavares, assassinado em 1986 por incentivar os posseiros a resistirem contra a expulsão das áreas que ocupavam há gerações. "Ele abria a bíblia para as comunidades e dizia que o direito à terra era algo sagrado, que não bastava rezar junto, mas que era necessário formar um sindicato, um partido que representasse a classe trabalhadora. A CPT dava esperança às comunidades ameaçadas", resume. Vinte anos após a morte de Padre Josimo, a apropriação ilegal de áreas que pertencem à União mediante violência e falsificação de escrituras - prática conhecida popularmente por "grilagem" - ainda deixa muitos militantes da Igreja e dos movimentos sociais de cabelo em pé. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estima que pelo menos 100 milhões de hectares tenham sido abocanhados de maneira criminosa, em todo país. Mais da metade deles estão na região Norte.
Compromisso Social
Na França, não é muito comum que a Igreja se ocupe do debate dos problemas do país, postura que incomodava Frei Henri des Roziers. As notícias sobre a barbárie da ditadura militar despertaram nele a vontade de conhecer o Brasil. "O que me motivou não foi o problema da terra, e sim a questão dos direitos humanos", conta. Logo nos primeiros meses, ele passou uma temporada na diocese de Goiás Velho (GO), comandada pelo bispo D. Tomas Balduíno, presidente nacional da CPT. "Esse estágio me impressionou muito. Senti pela primeira vez uma coerência entre as lutas sociais e a minha interpretação do evangelho. Era a primeira vez que ficava feliz por participar das celebrações", garante. Depois da experiência, não teve dúvidas quanto ao destino a seguir, e entrou para a pastoral da terra. Por quase dez anos, trabalhou na região do Bico do Papagaio, onde se espantou com a violência policial e a omissão do poder judiciário que vitimavam os posseiros. Mas foi no Pará, estado em que atualmente reside, que ele fez história ao participar, em 2000, da acusação que levaria pela primeira vez na história do país um fazendeiro à prisão pelo assassinato de um trabalhador rural.
Hoje, na CPT de Xinguara (PA), o advogado e missionário Henri tenta pôr na cadeia latifundiários que submetem à condição de escravos peões vindos de estados nordestinos pobres, como Maranhão e Piauí. Seres humanos descartáveis que sobrevivem da chamada expansão da fronteira agrícola amazônica. Mão-de-obra pouco qualificada que realiza serviços pesados - como o desmatamento da floresta para formação de pastos, plantações de soja e algodão - sem direito a salário e até mesmo a liberdade para abandonar as fazendas. Essa prática vem de longa data: as primeiras denúncias sobre escravidão contemporânea foram feitas na década de 70 pelo espanhol D. Pedro Casaldáliga, então bispo de São Félix do Araguaia (MT).
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que desde 1995 designou um grupo especial de auditores para fiscalizar propriedades do interior do Brasil, mais de 15 mil pessoas já foram resgatadas desde o início das operações, principalmente no Pará, Mato Grosso e Tocantins. Apesar de o Código Penal prever reclusão de até oito anos para esse crime, apenas um fazendeiro até hoje foi condenado na Justiça Comum. Mesmo assim, sua sentença foi revertida para distribuição de cestas básicas.
O combate ao trabalho escravo também consome a maior parte do tempo de Frei Xavier Plassat. Mas ele também acha que, nos últimos anos, a CPT vem encarando novas missões. "Quando cheguei ao Brasil, em meados da década de 80, o principal desafio era lutar contra a grilagem e resistir à expulsão. Hoje, precisamos pensar com os trabalhadores rurais uma outra maneira de se relacionar com a terra e rever o sistema de produção, permitindo o desenvolvimento da agricultura familiar", afirma.
Apesar da valiosa atuação das pastorais, é fato que institucionalmente a Igreja Católica brasileira não possui mais o mesmo vigor na defesa dos direitos básicos das populações excluídas. Frei Xavier, por exemplo, diz que a CPT de Araguaína sequer é convidada pelo bispo para participar das assembléias diocesanas, reflexo das nomeações de dirigentes menos progressistas durante o longo pontificado do conservador João Paulo II. "Nós atuamos praticamente como uma ONG, buscando financiamentos de agências de cooperação internacional", diz. Mas também não se pode dizer que os preceitos da Teologia da Libertação estejam em decadência absoluta. Ainda existem muitos religiosos brasileiros e estrangeiros que enxergam no evangelho a motivação para lutar por uma sociedade igualitária, olhando por regiões onde a presença do Estado ainda é rarefeita. A Amazônia só tem a agradecer a Deus por isso.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Almada: “Não deixemos que a vitória nos faça esquecer que o inimigo é forte”



Bem-vinda, presidente Dilma Roussef

Por Izaías Almada no ESCREVINHADOR

Bem que o Brasil do atraso tentou, o Brasil da calúnia, da infâmia, da subserviência, o Brasil que perdeu a noção da História e da realidade em que vive e da realidade que o cerca. Não adiantou o cidadão e candidato José Serra e a oposição que representa construírem uma estratégia eleitoral torpe, baseada no ódio, na intolerância e no preconceito, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou que parte de sua acertada estratégia política está cumprida ao eleger sua candidata e sucessora.
Vitória da perspicácia, da sensibilidade no trato das coisas políticas, da coragem pessoal em confrontar, à sua maneira, a oligarquia que deixou o governo em 2002. E o fez com paciência e tentativas de diálogo e – sobretudo – com o conhecimento do seu povo. É preciso reconhecer: haja sociologia para explicar 83% de aprovação popular a um governo no Brasil. Já disse alguém que a política é a arte do possível. Para muitos, infelizmente, ainda é difícil entender isso. À direita e à esquerda.
Ontem, 31 de outubro de 2010, venceu o Brasil que quer continuar mudando, que busca alternativas para se tornar um país mais soberano e menos injusto. Venceu o povo brasileiro mais sofrido e humilde. Venceu novamente a esperança. Ou, para os menos otimistas, a possibilidade de se continuar tendo esperança. E ouso dizer também que, mais do que o Brasil, venceu a nova América Latina de Chávez, Morales, Correa, Lugo, Cristina e Nestor, Castro, Funes, Mujica e Ortega.

Os miasmas da intolerância e de um fascismo travestido de faniquitos democráticos não muito bem explicados em manifestos e editoriais jornalísticos, em telejornais e revistas de final de semana, em violência e profanação religiosa, em tentativa de manipulação da opinião do eleitor, nos últimos três meses, ou se quisermos, nos últimos oito anos, não foram suficientes para desviar milhões de eleitores brasileiros da rota de um desejo sincero de ver o Brasil mais justo, mais independente e de olhos postos no futuro e não no passado.
Retomando a História interrompida com a morte de Getúlio Vargas e traumatizada pelo golpe civil/militar de 1964, que derrubou um governo eleito democraticamente, a vitória de Dilma Roussef faz uma ponte com nosso passado ainda recente e relança as bases de um protagonismo popular para o futuro, fazendo o país voltar ao leito democrático de onde foi retirado pela força de tanques e baionetas apoiados pelo Departamento de Estado norte americano, esse mesmo Estado que continua a insistir com sua política de desestabilizar governos eleitos democraticamente, como a Venezuela de Chávez, a Bolívia de Evo Morales, a Honduras de Manuel Zelaya ou o Equador de Rafael Correa. E que, com certeza, não dará tréguas ao governo de Dilma Roussef. É bom que não nos esqueçamos disto no calor e na alegria da vitória.
No vácuo da repressão policial/militar da ditadura, com a sua falta de garantias democráticas plenas, instalou-se também no Brasil, em anos mais recentes, a ditadura do poder econômico, impondo-se entre nós o pensamento e a prática hegemônica neoliberal, assumida por uma social democracia encantada com a possibilidade de chegar ao poder político, como de fato chegou, com a chamada redemocratização do país na metade dos anos oitenta. E com o sonho de lá permanecer por pelo menos 20 anos, no dizer de alguns de seus caciques, começando com a imoral compra de votos para a reeleição do seu até então maior ideólogo, Fernando Henrique Cardoso, o presidente das privatarias e traidor do povo brasileiro. Essa prática política encantou àqueles que olharam o país e a História com o binóculo posto ao contrário.
Nesses últimos cinquenta anos de História, tanto uma, a ditadura, quanto o outro, o poder econômico imposto pelo Consenso de Washington, tiveram a seu lado aquele que pode ser considerado o mais forte aliado do mundo contemporâneo: a força do quarto poder, a mídia. Jornais, rádios, televisões, revistas, em grande parte subsidiados ideologicamente por pensadores e acadêmicos de dentro e de fora do país, fizeram de seus editoriais e matérias jornalísticas a apologia diária do paraíso para o capital transnacional, com seus deslumbrados e submissos defensores internos, ao mesmo tempo em que combatiam e dilapidavam as garantias e a defesa dos direitos dos trabalhadores através do arrocho salarial, da terceirização de serviços, do aumento do desemprego, do desestímulo às reivindicações de inúmeras categorias profissionais, da privatização de empresas nacionais estratégicas, agindo contra os interesses nacionais, da criminalização dos movimentos sociais, mantendo intacto – de certa maneira – o arcabouço repressivo ditatorial com um inquestionável conservadorismo na sua prática política.
Tudo isso sustentado por uma democracia e uma Constituição, aquela que melhor se pôde arranjar em 1988, a tal Constituição Cidadã, um imenso tratado com quase quinhentos artigos, tamanho o número de interesses a serem contemplados e acomodados, e que ainda assim, na prática, vem sendo solapada e substituída no dia a dia por um mecanismo anacrônico denominado Medida Provisória, que sempre poderá agradar ou desagradar a gregos e troianos, conforme os interesses de momento e o grupo que estiver no poder político.
Em verdade, passamos a viver a partir da segunda metade dos anos 80 um arremedo de democracia. Dá para o gasto, é claro, pois sempre podemos encher a boca e dizer que vivemos num país democrático, e sob vários aspectos isso é verdade, muito embora os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com as honrosas exceções de sempre, se deixaram ou ainda se deixam escorregar tentadoramente por caminhos tortuosos, para dizer o menos, quando fica bastante evidente a verdadeira luta de classes no país.
A recente campanha eleitoral deixou à mostra como muitos brasileiros entendem a democracia: um regime de privilégios que é preciso manter a ferro e fogo, sempre e quando para isso se use tais “privilégios” para arrasar o adversário, assassinar sua reputação, atribuindo-lhe as piores qualidades morais e profissionais. São os democratas de fins de semana, dos almoços dominicais com a família. Hipocrisia que a campanha do candidato José Serra mostrou à perfeição.
Nesse quadro político e institucional, os homens que queriam governar “por 20 anos” descuidaram-se e o sentimento de mudanças que permeava partidos de esquerda e movimentos sociais desde o período ditatorial, soube se movimentar, mesmo com suas divergências, contradições e até defecções, criando condições para que o país buscasse alternativas para o sufoco neoliberal.
Incrédulos com a vitória do metalúrgico semi-analfabeto em 2002, os serviçais e bajuladores da “Casa Grande”, fiéis leitores da cartilha econômica do neoliberalismo, apostaram suas fichas no fracasso e na incompetência do operário, sem jamais esconder o seu preconceito de classe e seu espírito impatriótico. À medida que o tempo avançou e o fracasso esperado do governo Lula não vinha, os órgãos de comunicação social foram mais uma vez acionados com bastante virulência no ano de 2005, pois nova derrota eleitoral seria o início do desastre.
De nada adiantou a campanha moralista naquela altura, curiosamente liderada por alguns dos políticos mais imorais e corruptos do país, alguns deles felizmente defenestrados nas recentes eleições, ou as CPIs policialescas instaladas nas duas casas do Congresso Nacional, onde a pregação intolerante contra o Partido dos Trabalhadores e a esquerda de um modo geral chegou a ser defendida com o chamamento à eliminação “dessa gente” da política brasileira. Bravatas, arrogância e intolerância substituíam os discursos políticos daquilo que se poderia esperar de uma oposição minimamente civilizada, se é que se pode chamar de civilizados um grande número de dilapidadores do patrimônio nacional em beneficio próprio.
Acuado, o governo soube esperar a hora do contra ataque. E o fez no seu segundo mandato, aprofundando as suas políticas sociais e de infraestrutura econômica. Lula se reelegeu em 2006 e chega a 2010, no final do seu governo, com um índice de popularidade “nunca visto antes na história desse país”. E mais: sai o operário e entra uma mulher. Impensável no Brasil de dez anos atrás.
O desafio que tem pela frente a presidente Dilma Roussef é enorme, a começar pela guerra diária que lhe imporá a vetusta oligarquia brasileira e sua velha mídia incompetente, desonesta e oportunista.
Mas, guerra é guerra e o povo, atento e organizado, sempre que chamado, irá se manifestar através de sindicatos, dos movimentos sociais, das entidades estudantis e dos partidos políticos comprometidos com a soberania do país e das suas conquistas sociais, fazendo avançar essas conquistas. E também através de uma nova mídia que se forma pela internet ou – o que espera o país – ver alguns jornais, revistas e televisões tendo que se ajustar a um novo marco regulatório para a comunicação social, tornando-a verdadeiramente democrática.
De hoje em diante toda atenção é pouca, porque o conservadorismo, agora efetivamente de mãos dadas com o emergente fascismo tupiniquim não irá descansar. E essa é uma união mais do que perigosa. Alguém já disse que para onde pender o Brasil, deverá pender a América Latina. Não deixemos que a vitória nos faça esquecer que o inimigo é forte e continuará sua insidiosa luta no dia a dia das calúnias, das mentiras, dos factóides, tentando minar a confiança do povo no seu novo governo.
Felicidades, presidente Dilma Roussef! Seja bem-vinda.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).

Os derrotados da eleição

A guerra acabou. Dilma Rousseff é presidente do Brasil. Para chegar até aqui, teve que enfrentar uma das batalhas mais violentas da história da República. E venceu.
Derrotou não só seu adversário, José Serra, mas também um exército implacável, cruel e muito poderoso: os principais grupos de comunicação do país. Estes são os grandes derrotados nesse dia de glória para a democracia.
Os milhões de votos recebidos pela candidata petista são a prova gigantesca de que os brasileiros nunca mais se deixarão ser manipulados. Nem permitirão ser tratados como gente ignorante. O povo, definitivamente, não é bobo.
Durante meses, houve um bombardeio incessante de manchetes, chamadas, apelos, boatos e factoides. Um massacre impiedoso, orquestrado. Em fiapos de verdade, urdiram uma rede de mentiras e preconceitos.
Não bastou ser atacada durante o horário eleitoral gratuito. Isso faz parte do jogo. Infame foi ser fustigada diariamente pela propaganda política voluntária dos barões da mídia.
Dilma Rousseff e milhões de brasileiros enfrentaram o maior jornal do país, a Folha de S.Paulo. E a maior emissora de TV, a Globo. A revista de maior tiragem, a Veja. Nessa tropa de choque incansável também perfilam os jornais O Estado de S.Paulo e O Globo. Turma da pesada.
Nos próximos dias, sempre às 10h e às 16h, vamos usar este espaço para detalhar a forma como esses derrotados agiram do alto de seus palanques. Como pisotearam a liberdade de imprensa.
Cada um com seus soldados. Ou capangas. Tanto poder para quê? Tanta arrogância, fulminada pela força das urnas. Os que escrevem e entrevistam e ditam editoriais ficaram mudos. Quem manda, senhores do universo, é quem lê, quem ouve, quem vê. Os vitoriosos. Deste Brasil.

 Marco Antonio Araújo

domingo, 31 de outubro de 2010

Acabou...ultrapassamos mais uma dificuldade, até quando continuarão???

ACABOU!!!!
Dilma ganhou! o povo ganhou! o Brasil ganhou!
Quem perdeu?
A direita, conservadora e fascista, preconceituosa e que tem aversão a que os pobres ascendam socialmente.
Isso é fato.Mas foi com muita dificuldade.
Os instrumentos usados por essa extrema direita, aliada ao Opus Dei, da Igreja Católica, aos empresários predadores, aos evangélicos fundamentalistas e a "grande mídia" manipuladora, foi de uma baixeza sem tamanho, nunca antes visto no Brasil.
Ainda bem que na internet, tivemos uma participação bastante positiva no sentido de desmascarar os engôdos e as mentiras proporcionadas pela imprensa corrupta e entreguista.
Infelismente, a internet ainda não contempla boa parte daquele povo que ascendeu socialmente.
Então o que vimos foi uma enorme massa de pessoas contempladas com projetos de ascensão social mas completamente desprovidas de consciência política, ainda viscejando naquela "consciência intransitiva", como nos ensinou Paulo Freire.
Esse, me parece, foi o grande entrave que facilitou as dificuldades de eleger uma candidata, de um governo com mais de 80% de aprovação pela população.
As pessoas, ainda dentro dessa "consciência intransitiva" não conseguem distinguir aquilo que é feito como um projeto social de melhoria da qualidade de vida dos excluídos, daquilo que parece uma oferta de peixe, sem ensinar a pescar.Então, votam em pessoas, em esteriótipos culturais, em mentiras, em manipulações enganosas, enfim, nos medos que sempre foi impingido aos necessitados, por parte daqueles que detinham o poder e mandavam no país, os senhores da Casa Grande.
Passado esse momento de euforia, temos que trabalhar nesse sentido. Não basta dar o pão, temos que ensinar a pescar, e nesse caso, proporcionar mecanismos de libertação consciencial.Para que todos possam sair dessa consciência nula e subserviente e ingressar numa "consciência crítica" que possibilitará  as transformações necessárias a continuidade dos avanços sociais, sem termos que passar por esse sofrimento de que uma simples eleição possa deixar todos horripilados e temerosos de um retorno daquilo que odiamos, eleger políticos comprometidos com interesses pessoais e de fora do país.
Está na hora de o PT e o governo, começar a se preocupar com as pessoas, no sentido de libertá-las, não só economicamente mas também consciencialmente, aliás, como faz Chavez na Venezuela, onde a grande massa populacional assistida possui uma capacidade de julgamento político bastante crítico.
E, também, proporcionar ao nosso país uma democratização midiática, organizando uma nova regulamentação para nossa mídia, a fim de que a participação popular e socialista possa tambem ser representada ao povo.
Essas duas questões são fundamentais quando se deseja avançar na justiça social atendendo as necessidades de todos aqueles que ao longo do tempo foram alijados da participação e da autoria, deixando de serem coadjuvantes para serem protagonistas do crescimento social brasileiro.






Tendências da Barbárie e Perspectivas do Socialismo

James Petras*
 
 James Petras
Introdução
As sociedades e Estados ocidentais caminham inexoravelmente para condições que aparentam barbárie; acontecem mudanças estruturais que invertem décadas de benefícios sociais e submetem os trabalhadores, recursos naturais e a riqueza das nações à exploração, pilhagem e roubo, baixando o nível de vida e criando patamares de descontentamento sem precedentes.
A barbárie torna-se mais evidente nas guerras genocidas, organizadas e dirigidas pelos EUA e pela Europa Ocidental. A destruição imperial de sociedades inteiras é acompanhada pela desarticulação, assassínios e exílio do actual núcleo científico secular e artístico da sociedade iraquiana e pelo fomento de conflitos étnico-religiosos retrógrados e sátrapas. A barbárie imperial manifesta-se na aplicação sistemática de castigos cruéis e pouco habituais, torturas sancionadas pelo governo e assassinatos transfronteiras fazendo parte da política de Estado. O imperialismo bárbaro é conduzido pelos militaristas e sionistas que tentam destruir os adversários, as suas economias e sociedades, em contraste com os imperialistas tradicionais que procuram controlar e explorar os recursos e os trabalhadores especializados. As práticas barbáricas são o resultado dos formuladores das políticas e os seus assessores infiltrados em instituições barbáricas: médicos e psicólogos aconselham e participam nas torturas; académicos propagam doutrinas («guerras justas») que defendem guerras bárbaras; responsáveis militares projectam e praticam crimes contra a humanidade para garantir promoções, salários maiores e pensões lucrativas. Os grandes meios de comunicação social transmitem os eufemismos triunfalistas oficiais apoiando os deslocamentos em massa das populações, atribuindo crimes de guerra às vítimas e aplaudindo os carrascos. Em suma, a barbárie começa com a elite urbana e filtra até ao trabalhador manual provinciano.
Vamos continuar definindo os processos económicos, políticos e militares que impulsionam o processo de declínio e decomposição e seguir com um relato da resposta popular das massas às suas condições em deterioração. As profundas mudanças estruturais que acompanham o crescimento da barbárie tornam-se a base para analisar as perspectivas do socialismo no século XXI.

A Onda Crescente da Barbárie

Na sociedade antiga a «barbárie» e os seus portadores, «os bárbaros», foram encarados como ameaças de invasores exteriores de regiões afastadas que desciam sobre Roma e Atenas. Nas sociedades ocidentais contemporâneas, os bárbaros vieram de dentro, da elite da sociedade, apostados em impor uma nova ordem que destrói o tecido social e a base produtiva da sociedade, transformando meios de vida estáveis num dia a dia inseguro e em deterioração.
A chave para a barbárie contemporânea encontra-se nas profundas estruturas do Estado e da economia. Elas incluem:
1. A ascendência de uma elite financeira e especulativa que pilhou biliões de dólares dos aforristas, investidores, pessoas com hipotecas, consumidores e Estados, sugando enormes recursos da economia produtiva para uma elite parasitária infiltrada dentro do Estado e numa economia de papel.
2. Uma elite política militarista que se encontra num estado de guerra permanente desde os meados do século passado. Guerras intermináveis, assassínios transfronteiras, terrorismo de Estado, suspensão das garantias tradicionais levaram a uma concentração de poderes ditatoriais, prisões arbitrárias, torturas e negação de habeas corpus.
3. No meio de uma profunda recessão económica, grandes gastos do Estado na construção de um império económico e militar à custa da economia interna e o nível de vida reflectem a subordinação da economia local às actividades do Estado imperial.
4. Crimes e corrupção ao mais alto nível, em todas as esferas da actividade do Estado e negócios – desde as compras do Estado às privatizações, aos subsídios para os super-ricos – estimulam o crescimento do crime internacional de cima para baixo, a lumpenização da classe capitalista e um Estado onde a lei e ordem caíram em desgraça.
5. Como resultado dos grandes custos de construção do império e da pilhagem pela oligarquia financeira, o peso socio-económico recaiu em cheio sobre os ombros dos salários e trabalhadores assalariados, pensionistas e trabalhadores por conta própria, criando um abaixamento da mobilidade a longo prazo e em larga escala. Com a perda de empregos e a perda de empregos bem remunerados, a execução de hipotecas dispara em flecha e a classe média estável e trabalhadora encolhe e é obrigada a aumentar as suas horas e anos de trabalho.
6. À medida que as guerras imperiais se espalham pelo mundo atingindo populações inteiras, com bombardeamentos continuados e operações de terror clandestinas, geram-se redes de terroristas opositoras que também atingem civis nos mercados, nos transportes e nos espaços públicos. O mundo parece um mundo Hobbesiano, sem regras, de «todos contra todos».
Na realidade, o «mundo occidental» (EUA/UE/NATO/Israel e seus satélites) estão empenhados numa «guerra total» contra os povos do mundo, que resistem a submissão imperialista e sionista. A «guerra total» tal como é praticada pelo Ocidente, significa que
(a) não existe distinção entre alvos militares e civis – todos são sempre considerados dignos de destruição. Num sentido perverso de ironia totalitária, ao bombardear os civis, os poderes imperiais transformam uma guerra de guerrilha numa «guerra popular»: guerras totais unem comunidades, famílias, clãs aos lutadores da resistência.
(b) As guerras totais utilizam todos os meios para aniquilar o inimigo – armas de envenenamento em massa (urânio enfraquecido), esquadrões de morte, execuções sumárias, bombardeamento indiscriminado de aldeias com drones teleguiados, prisões em massa de homens adultos nas regiões de grande conflito. Como resultado da «guerra total» imperial como padrão de conflito, a oposição replica, atingindo civis, incluindo professores, médicos e tradutores utilizados pelas agências internacionais.
7. O crescente extremismo étnico-religioso ligado ao militarismo existe entre os cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, substituindo a solidariedade internacional de classe por doutrinas de supremacia racial e penetrando com profundidade as estruturas do Estado e da sociedade,
Um dos mais flagrantes resultados do período pós 2ª Guerra Mundial tem sido a influência sem precedentes da configuração do poder Judaico-Sionista e o seu papel central dentro do Estado imperial dos EUA, juntando as bárbaras práticas imperiais dos EUA e Israelitas. Essas incluem torturas sistemáticas, sanções económicas, bombardeamento de civis e outros crimes contra a humanidade. Às longas guerras de Israel contra os povos árabes e muçulmanos – mais de 60 anos e continuam – juntam-se agora aos estrategas sionistas em Washington que promovem guerras prolongadas, em série e que seguem a agenda israelita incitando uma islamofobia histérica através dos grandes meios de comunicação social e a academia. Hoje, o Judeo-fascismo está infiltrado no governo israelita (3 ministros), exército, ordens religiosas e sectores significativos da população.
8. O desaparecimento do colectivismo providêncial Europeu e Asiático – na ex-URSS e China – retirou as pressões de competição sobre o capitalismo ocidental e animou-o a revogar todas as concessões de previdência concedidas aos trabalhadores no período pós 2ª Guerra Mundial.
9. O desaparecimento do Comunismo e a integração da social-democracia no sistema capitalista conduziu a um forte enfraquecimento da Esquerda, que os protestos sociais esporádicos dos movimentos sociais não conseguiram substituir.
10. Tendo em vista o actual ataque em grande escala contra o nível de vida dos trabalhadores e da classe média, existem protestos ocasionais na melhor das hipóteses e impotência política no mínimo.
11. A exploração maciva do trabalho nas sociedades pós-revolucionárias, como na China e Vietname, inclui a exclusão de centenas de milhões de trabalhadores emigrantes dos serviços públicos elementares de ensino e saúde. A pilhagem sem precedentes e o confisco pelos oligarcas domésticos e multinacionais de milhares de empresas públicas estratégicas lucrativas na Rússia, nas repúblicas ex-Soviéticas, Europa do Leste, os Balcãs e países Bálticos representou a maior transferência da riqueza pública para o privado e no mais curto período de toda a história.
Em suma, a «barbárie» surgiu como uma realidade definidora, produto da emergência nos EUA de uma classe parasitária dominante militarista sionizada e financeira. Os bárbaros estão aqui e agora, presentes dentro das fronteiras das sociedades e Estados ocidentais. São dominantes e prosseguem agressivamente uma agenda que reduz continuamente o nível de vida, transfere a riqueza pública para os seus cofres privados, pilham recursos públicos, destroem direitos constitucionais na sua busca de guerras imperiais, segregando e perseguindo milhões de trabalhadores imigrantes e promovendo a desintegração e diminuição de uma classe média e trabalhadora estável. Mais do que nunca na história recente, 1% da população do topo controla uma parte cada vez maior da riqueza e os recursos nacionais.

Mitos e Realidades do Capitalismo Histórico

O corte, sustentado e em larga escala, dos direitos e disposições sociais, salários, segurança no emprego, pensões e salários demonstra a falsidade das ideias de um progresso linear do capitalismo. O retrocesso, fruto do maior poder da classe capitalista, demonstra a validade da proposição marxista de que a luta de classes é a força motora da história – pelo menos, na medida em que a condição humana é considerada o centro da história.
A segunda premissa falsa é que os Estados com base em «economias de mercado» precisam da paz e o corolário de que os «mercados» derrotam o militarismo, é refutada pelo facto de que a economia de mercado principal, os Estados Unidos, tem estado num estado de guerra constante desde os princípios de 1940; activamente empenhados em guerras, em quatro continentes, até aos dias de hoje. Com novas guerras maiores e mais sangrentas no horizonte. A causa e resultado da guerra permanente, é o crescimento de um «Estado nacional securitário» monstruoso que não reconhece quaisquer fronteiras nacionais e absorve a maior parte do orçamento nacional.
O terceiro mito do capitalismo “avançado” maduro é que ele revoluciona constantemente a produção através da inovação e da tecnologia. Com o crescimento da elite militarista e financeira especulativa, as forças produtivas têm sido pilhadas e a “inovação” fica principalmente pela criação de instrumentos financeiros que exploram os investidores, roubam os activos e aniquilam o emprego produtivo.
Enquanto o império cresce, a economia interna diminui, o poder fica centralizado no executivo, os poderes legislativos são cortados e nega-se à cidadania uma representatividade real e até mesmo um veto através de processos eleitorais.

A Resposta das Massas ao Crescimento da Barbárie

O crescimento da barbárie no nosso seio criou uma repulsa pública maciça contra o seus principais autores. As sondagens mostram repetidamente:
1. Um desgosto profundo e repulsa contra todos os partidos políticos.
2. Vastas maiorias sentem uma grande desconfiança em relação à elite empresarial e política.
3. Maiorias rejeitam a concentração do poder empresarial e o abuso deste poder, principalmente pelos banqueiros e financeiros.
4. Existe um questionamento generalizado das credenciais democráticas dos dirigentes políticos que actuam ao mando da elite empresarial e promovem as políticas repressivas do Estado de segurança nacional.
5. Uma grande maioria rejeita a pilhagem dos cofres do Estado para salvar os bancos e a elite financeira, ao mesmo tempo que impõem programas regressivos de austeridade na classe média e trabalhadora.

A Transição do Imperialismo Económico para o Bárbaro

Os EUA têm estado envolvidos em guerras imperiais contínuas há mais de 60 anos. A guerra tem sido endémica ao sistema imperial: na maioria dos casos tem sido para garantir recursos económicos, quotas de mercado e a exploração de mão-de-obra barata. A dialéctica entre expansão militar e conquista, domínio político através de regimes colaborantes e acesso económico privilegiado para as corporações multinacionais dos EUA (CMC) foi efectivamente o carácter definidor do imperialismo dos EUA. Hoje, a dialéctica imperial já não funciona. O crescimento do capital financeiro e a fuga das CMC dos EUA para o estrangeiro, para Estados asiáticos soberanos enfraqueceu o papel do capital industrial como motor da expansão imperial. Hoje, existem novos mecanismos que fomentam as guerras imperiais – militarismo e sionismo – que olham para as guerras e conquista militar como «um fim em si mesmo». Não capturam recursos ou quotas de mercado, destroem-nos, como demonstram as guerras dos EUA no Iraque, Afeganistão, Somália, Iémen, Honduras e noutros locais. Estas guerras destroem a riqueza das nações. Elas enfraquecem o tesouro americano. Não enriquecem as corporações (excepto temporariamente as empresas de mercenários de guerra) e não levam a uma remessa de lucros para os EUA/UE.
As guerras imperiais, que destroem a sociedade civil, o Estado e desarticulam as sociedades modernas seculares, criam alianças com as colectividades clericais e étnicas mais retrógradas que compartilham as tendências assassinas bárbaras dos seus apoiantes e patrocinadores imperiais.

Perspectivas do Socialismo

As esperanças ténues do socialismo existem fora da Europa e dos Estados Unidos. Mesmo nas regiões de guerra anti-imperialista de grande intensidade como no Golfo, Ásia do Sul, o Corno de África, as principais forças de resistência são dirigidas por movimentos islâmicos que rejeitam os programas socialistas seculares. Movimentos liderados por movimentos islâmicos podem enfraquecer o império mas também são contra e reprimem quaisquer movimentos operários abertamente marxistas. Na América Latina, os regimes nacionalistas têm enfraquecido o garrote do imperialismo americano sobre a sua política externa e criaram oportunidades para que a classe capitalista local ganhasse novos mercados, mas também se desradicalizaram, desmobilizaram e cooptaram os antigos movimentos de classe independentes e sindicatos dirigidos pelos marxistas e socialistas.
Na medida em que o socialismo existe como fenómeno de massas – e não apenas entre os académicos e os intelectuais que comparecem nas conferências uns dos outros – encontra-se entre sectores dissidentes dos mineiros bolivianos, trabalhadores industriais e do sector público, sindicatos, sectores dos sem-terra brasileiros e espalhando-se entre minorias nos sindicatos e movimentos camponeses em toda a região. Somente na Venezuela, com o Presidente Chávez, um programa socialista tem um apoio popular do Estado e das massas populares, apesar de co-existirem grandes contradições entre «Estado» e «regime».
Na Ásia, as recentes ondas de greves dos trabalhadores, num quadro de um passado revolucionário socialista, dá substância à esperança de um renascimento socialista de massas baseado na militância da classe operária e do campesinato. O mesmo se aplica ao Vietname, onde a militância dos trabalhadores procura organizações de classe independentes contra a exploração selvagem do capital estrangeiro e oligarcas locais «comunistas». Na Índia, guerrilheiros camponeses controlam vastas extensões de regiões tribais e estabeleceram um «poder duplo» em certos domínios, sujeitos a cerco militar e missões de busca e destruição. Protestos de massas na Grécia, Espanha, França e Itália mostram uma grande hostilidade dos trabalhadores contra os programas de austeridade de classe selectivos. Teoricamente, poderiam constituir uma base para o renascimento de uma política marxista; mas de momento, nenhum partido revolucionário importante ou movimento existe para transformar as greves num projecto de poder político.
Embora as perspectivas do socialismo, nomeadamente nos EUA, estejam bastante distantes e actualmente quase invisíveis, certas situações poderiam provocar um ressurgimento radical – que infelizmente pode «virar à direita» antes de olhar para a esquerda. Em qualquer caso, as perspectivas de socialismo nos EUA e na Europa Ocidental envolvem um processo longo e difícil, baseado na (re)criação da consciência e organização de classe.
A ofensiva capitalista tem certamente um grande impacto nas condições objectivas e subjectivas das classes trabalhadoras e médias, aumentado a miséria e criando uma onda crescente de descontentamento pessoal, mas não ainda movimentos anti-capitalistas massivos ou mesmo uma resistência organizada dinâmica.
Grandes mudanças estruturais requerem um acerto de contas com as actuais circunstâncias adversas e a identificação de novas entidades e formas de luta de classes e de transformação.
Um dos principais problemas é a necessidade de recriar uma economia produtiva e reconstruir um novo operariado industrial, tendo em conta anos de pilhagem financeira e de desindustrialização. Não necessariamente as indústrias «sujas» do passado, mas certamente novas indústrias que utilizem e inventem novos recursos energéticos limpos.
Em segundo lugar, as sociedades capitalistas altamente endividadas necessitam de uma mudança fundamental no militarismo e construção de império muito caros para uma espécie de austeridade baseada na classe, que imponha sacrifícios e reformas estruturais aos sectores da banca, financeiros e sectores de retalho de grande importação, substituindo pela produção local as importações de consumo baratas.
Em terceiro lugar, a redução dos sectores financeiro e de retalho exige a melhoria das qualificações dos trabalhadores e empregados deslocados, bem como mudanças no sector das TI para se adaptar às mudanças da economia. Mudanças paradigmáticas do salário em dinheiro para salário social, em que o ensino público gratuito ao mais alto nível e cuidados de saúde universais e pensões adequadas substituam o consumismo financiado pelo endividamento. Estas mudanças podem tornar-se a base para fortalecer a consciência de classe contra o consumismo individual.
A questão que se põe é saber como transportar movimentos laborais e sociais enfraquecidos, fragmentados em retracção ou na defensiva para uma posição de lançar uma ofensiva anti-capitalista.
Talvez muitos factores subjectivos e objectivos trabalhem para esse fim. Em primeiro lugar, existe uma rejeição crescente de largas maiorias contra os políticos incumbentes e em particular contra as elites financeiras e económicas que são claramente identificadas pela quebra das condições de vida e desigualdades crescentes. Em segundo lugar, existe uma opinião popular, partilhada por milhões, de que os actuais programas de austeridade são claramente injustos – com os trabalhadores a pagarem pelas crises criadas pela classe capitalista. Contudo, estas maiorias são mais «anti» situação do que pró transformação. A transição do descontentamento privado para acção colectiva é uma questão em aberto sobre quem e como, mas a oportunidade existe.
Vários factores objectivos podem desencadear uma mudança qualitativa do descontentamento de raiva passivo num movimento anti-capitalista massivo. Uma recessão muito acentuada, o fim da actual recuperação anémica e o aparecimento de uma recessão/depressão mais profunda e prolongada, podem desacreditar ainda mais os actuais governantes e os seus apoiantes económicos.
Em segundo lugar um período de austeridade interminável e profundo iria desacreditar a noção actual da classe dirigente da «dor necessária para ganhos futuros» e abrir as mentes e movimentar as entidades para procurar soluções políticas no sentido obter ganhos imediatos infringindo dor nas elites económicas
Guerras imperiais sem fim e não vitoriosas que sangram a economia, acabam por criar a consciência de que a classe dirigente «sacrificou o país» sem «qualquer propósito útil».
Talvez, a combinação de uma nova fase da recessão, a austeridade perpétua e guerras imperiais irracionais possam virar o actual mal-estar das massas e lançar hostilidade contra a elite política e económica, para os movimentos, partidos e sindicatos socialistas…

* Professor (Emeritus) de Sociologia na Universidade Binghamton de Nova York e professor adjunto na Universidade Saint Mary, no Canadá. Recebeu numerosas distinções profissionais e académicas.
É autor de mais de 60 livros e de centenas de artigos especializados na área da Sociologia, e de mais de 2.000 artigos de opinião publicados em jornais internacionais de grande projecção. Actualmente colabora com regularidade no jornal mexicano La Jornada, contribui para o Conter Punch e Atlantic Free Press, e integra o colectivo editorial de Canadian Dimension.

HOJE É O DIA!!!



VOTE COM ORGULHO

Hoje, a esperança progressista de todo o mundo dirige seu olhar para o Brasil. Dois projetos de futuro confrontam-se aqui numa síntese dos antagonismos históricos realçados pela crise econômica mundial. Trata-se de decidir a quem pertence o destino da sociedade e do desenvolvimento no século XXI: ao escrutínio da cidadania organizada e ativa –que não restringe sua participação ao momento do voto-- ou à supremacia das finanças desreguladas, cujos impulsos irracionais, mais uma vez evidenciados nesta crise, esfarelam ciclicamente não apenas a riqueza fictícia, mas os direitos que sustentam a convivência compartilhada e, cada vez mais, os recursos que formam as bases da vida na Terra. A América Latina representa hoje a fronteira do mundo onde o embate entre essas duas lógicas evolui de forma cada vez mais nítida e veloz a favor das forças populares. A eleição brasileira representa sem dúvida o grande guarda-chuva político que influenciará decisivasmente o passo seguinte da história regional . As diferentes concepções de desenvolvimento e de estratégia internacional ficaram claramente demarcadas ao longo da campanha que desemboca agora na urna eletrônica. Por isso, hoje, vote 13, vote com orgulho, vote pelo Brasil. Mas também pelo futuro de uma América Latina mais justa e solidária.

O QUE ESTÁ EM JOGO HOJE NAS URNAS?

O aborto ou os 70 bilhões de barris do pré-sal; uns seis trilhões de dólares; o maior impulso industrializante do país desde Vargas? Quais valores estão em jogo, esses, confirmados hoje nos 15 bilhões de barris, só no poço de Libra, ou os da água benta falsa de Serra? Se prevalecer o modelo tucano de exploração, o pré-sal vira remessa de lucros e exportação de óleo bruto nas mãos das petroleiras internacionais. Perde-se seu efeito multiplicador numa cadeia de suprimento industrial da ordem de 55 mil itens, desde plataformas e navios, a válvulas, aço e parafusos. Porém mais que isso, perder-se-ia a chance histórica deste país eliminar a miséria e abrir uma avenida de ampla convergência de oportunidades e direitos para as gerações do presente e do futuro. Qual é a discussão mais relevante? É essa, por isso não sai no Jornal.
(Carta Maior; 31-10)

O dia decisivo. E a paz do dever cumprido



Brizola Neto no TIJOLACO

Chegamos ao dia decisivo.
Foram meses que ensinaram muito a todos nós.
Creio que o primeiro ensinamento foi algo que todos partilhamos: do mais humilde dos brasileiros ao próprio presidente Lula.
O de que não existe caminho para justiça social no Brasil que não passe pelo desenvolvimento econômico e pela afirmação de nossa soberania como nação.
Acho que todos entendemos que, reescrevendo a frase que ficou famosa nos tempos do “milagre econômico” da ditadura, o bolo só cresce se for mais bem dividido e só é mais bem dividido quando cresce.
Progresso econômico e progresso social são duas faces inseparáveis de um Brasil que quer e precisa crescer.
De fato, basta examinar todos os indicadores econômicos e sociais para que se veja que o governo Lula disparou em realizações e em popularidade no seu segundo mandato, ao assumir claramente sua natureza nacional e popular, deixando à beira do caminho aqueles que defendiam, embora com menos ferocidade, as mesmas regras neoliberais que marcaram o governo FHC.
Numa palavra, foi finalmente o governo Lula quem retomou a linha de afirmação nacional, econômica e social que marcou a vida brasileira nas décadas de 30, 40, 50 e até mesmo na década de 60, pois o progresso desse país tinha uma força inercial que nem mesmo a ditadura militar, embora com seus componentes entreguistas, conseguiu romper de imediato.
A década final do regime autoritário, marcada pela estagnação,  foi sucedida primeiro pela nulidade de Sarney, o energúmeno, e depois, pelo neoliberalismo privatista se afirmou com a nova ditadura: a do pensamento único.
Em 1995, com Fernando Henrique Cardoso, o viés subalterno que passou a comandar a vida brasileiro sentiu-se seguro ao ponto de rasgar o véu da hipocrisia e declarar que sua missão era sepultar definitivamente o que chamaram de Era Vargas, significando com isso o seu desejo de alienar todas as riquezas desta nação e conformar o Brasil a uma condição colonial.
Mas manter o Brasil como colônia, embora o venham conseguindo há cinco séculos, é algo que não se consegue se há liberdade.
Um grande e maravilhoso país, com um grande e generosa população só pode ser pequeno se nos aceitarmos assim, se nos desprezarmos como povo e como nação. Se vivermos na tristeza e no silêncio.
Foi por isso que suprimiram a liberdade em 64. Foi por isso que a deformaram, com o poder midiático, na eleição de Collor e, depois, com a ideia de que a história dos conflitos pela afirmação das nações era passado e a globalização e o mercado eram fenômenos divinos e invencíveis.
Daí nos vem o segundo ensinamento: se a liberdade de imprensa sempre foi uma ferramenta da rebeldia generosa e da decência humana, o direito à comunicação, que a engloba, é ainda maior: é o fundamento da liberdade e da democracia.
Controlá-lo, desde os tempos em que os livros dependiam do imprimatur dos senhores dos feudos terrestres e celestiais, sempre foi a chave do poder.
É verdade que os meios tecnológicos, pouco a pouco, foram eliminando estes “privilégios de impressão”, culminando nesta maravilhosa ferramenta que é a internet.
Mas um a um, o poder sempre procurou se apoderar deles e desvirtuar o seu sentido libertário, fazendo dele não apenas o que deve também ser, diversão e entretenimento, mas diversionismo e entorpecimento.
E, sejamos realistas, os espaços que abrimos aqui, na internet, ainda são pequenos e pouco significativos perto das estruturas de manipulação e mentira que dominam e que, também aqui, conseguem montar.
Um governo popular, no Brasil, tem de encarar a democratização da comunicação como a espinha dorsal de sua sobrevivência política.
Porque os inimigos de um Brasil popular contam com quase toda a comunicação, com suas máquinas de produzir mentiras, de distorcer verdades e de deformar consciências.
Outro dia, num evento na Carta Capital exortou os políticos a não terem medo da grande imprensa.
Concordo com ele, mas é preciso que o Governo também não a tema, como vem sendo tristemente verdadeiro há décadas.
Procurei praticar aqui, tanto quanto pude, este conselho.
Este pequeno espaço, que começamos a abrir há menos de um ano e meio, modestamente, procurou não ter este medo, nem viver em função de vantagens, poder ou sucesso eleitoral.Nunca, apesar dos conselhos para que o fizesse, deixei de lado as grandes lutas para cair no terreno estéril e falso da promessa, da cooptação, da formação de grupos de interesse.
Hoje, no dia em que se encerra uma etapa importante da luta histórica de nosso povo, o corpo está extenuado, mas a consciência serena.
Este mês, 1,2 milhão de acessos ao Tijolaço e , sobretudo, os mais de 15 mil comentários postados desde 1º de outubro mostram que este se tornou um lugar de encontro, para dividir ideias, angústias, revoltas e paixões.
Para dividirmos o que somos de verdade, pois é o que somos de verdade o melhor que podemos dar uns aos outros.
A minha gratidão a todos os que colaboraram neste processo, lendo, criticando, sugerindo, me dando até uns “foras” de vez em quando.
Carregar este sobrenome e escrever sob um título que identifica a luta de um grande homem é um enorme peso para alguém tão pequeno.
Mas se cada um de nós, nas nossas pequenas forças, pudermos, cada um, conduzir um grão de areia, é certo que juntos podemos fazer uma montanha.
A minha gratidão e reconhecimento a todos, e que o destino sorria a este povo tão sofrido.
Viva o povo brasileiro, razão de ser do Brasil!
PS. Em cumprimento da legislação eleitoral, não farei postagens mencionando candidatos  hoje, dia das aleições, até o fechamento das urnas. A tela de Di Cavalcanti que encima este post, chamada “Mulheres Protestando”, diz tudo

sábado, 30 de outubro de 2010

IstoÉ: as mamatas da família de Paulo Preto no governo Serra



À medida que são esmiuçados os passos de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, nos subterrâneos do governo tucano, vão ficando cada vez mais claras as relações comprometedoras do ex-diretor do Dersa com as empreiteiras responsáveis pelas principais obras de São Paulo.
Em agosto, quando trouxe a denúncia formulada por dirigentes do PSDB do sumiço de pelo menos R$ 4 milhões dos cofres da campanha de José Serra à Presidência, IstoÉ revelou que a maior parte da dinheirama fora arrecadada junto a grandes empreiteiras responsáveis pela construção do rodoanel.

Agora é descoberto um elo ainda mais forte entre o engenheiro e as construtoras da obra, considerada uma das vitrines do governo tucano em São Paulo. A empresa Peso Positivo Transportes Comércio e Locações Ltda., de propriedade da mãe e do genro do ex-diretor do Dersa, prestou serviços para as obras do lote 1 do trecho sul do rodoanel por um período de, pelo menos, três meses no ano de 2009.

A informação foi confirmada à IstoÉ pela Andrade Gutierrez/Galvão, do consórcio de empreiteiras contratado pela obra. Os serviços consistiram no fornecimento de guindastes para o transporte e a elevação de cargas.

“A empresa Peso Positivo, assim como outros fornecedores prestadores de serviços do consórcio, é contratada sempre de acordo com a legislação em vigor. A decisão de contratar prestadores de serviços é exclusivamente técnica”, alega a Andrade Gutierrez.

Arquivos da Junta Comercial de São Paulo mostram que a Peso Positivo foi criada em 30 de julho de 2003, com capital social de R$ 100 mil. Os sócios são Maria Orminda Vieira de Souza, mãe de Paulo Preto, 85 anos, e o empresário Fernando Cremonini, casado com Tatiana Arana Souza, filha do ex-diretor do Dersa, que trabalha no cerimonial do Palácio dos Bandeirantes, a sede do governo de São Paulo, e que já prestara serviços para a administração de José Serra à frente da Prefeitura de São Paulo.

Tantas coincidências fizeram o PT pedir à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo que investigasse as relações da Peso Positivo com o rodoanel. “É uma relação incestuosa que existe entre Paulo Preto, sua filha e José Serra”, afirmou o líder do PT na Assembleia, Antônio Mentor.

A confirmação da ligação entre as empreiteiras do rodoanel e a Peso Positivo, obtida por IstoÉ, mostra que as suspeitas tinham fundamento. E também derruba de maneira cabal a versão de Cremonini, apresentada na última semana em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Segundo ele, a empresa “nunca teve clientes” na construção civil. “Meus maiores clientes são a Petrobras e a Votorantim Metais”, afirmou o empresário. “A única coisa que o Paulo me deu nestes anos todos foi a mão da filha e uma bicicleta.”

O íntimo relacionamento de Paulo Preto com as empreiteiras do rodoanel não se restringe ao negócio envolvendo uma empresa de familiares. Na última semana, denúncia da Folha de S.Paulo revelou que Paulo Preto, um dia após assumir a diretoria do Dersa, assinou uma alteração contratual na obra. Essa mudança permitiu às empreiteiras fazer alterações no projeto do rodoanel e até utilizar materiais mais baratos.

No acordo assinado por Paulo Preto em maio de 2007 ficou definido que, em vez de ganharem de acordo com a quantidade, tipo de serviço ou material usado na obra, as empreiteiras receberiam um “preço fechado” no valor de R$ 2,5 bilhões. Para quem conhece os meandros do mundo da construção civil, a impressão que fica ao analisar as mudanças é de que o diretor do Dersa preferiu privilegiar as empreiteiras, em detrimento da qualidade do empreendimento e da boa gestão do dinheiro do contribuinte.

A iniciativa de Paulo Preto também tinha outro propósito: o de adequar o andamento da obra ao timing eleitoral. É que o acordo teve como contrapartida das empreiteiras a garantia de acelerar a construção do trecho sul para entregá-lo até abril deste ano, quando José Serra (PSDB) saiu do governo para se candidatar.

O cronograma foi cumprido a contento. Agora, as empreiteiras apresentam um fatura extra de R$ 180 milhões. Essa espécie de taxa de urgência soma-se, portanto, aos adicionais de R$ 300 milhões já pagos em 2009.

As suspeitas sobre a maneira como Paulo Vieira de Souza atuava no Dersa extrapolam os limites geográficos da cidade de São Paulo. Recaem também sobre a fase III das obras de ligação das rodovias Carvalho Pinto e Presidente Dutra, no município de São José dos Campos.

Desde que assumiu a diretoria de engenharia do Dersa, ele assinou dois aditivos sobre o convênio de R$ 84 milhões. Um desses aditivos previu a “implantação da marginal Capuava”, que nunca foi entregue. Onde foi parar o R$ 1,1 milhão, relativo à execução desse trecho, ninguém sabe dizer.

“O dinheiro simplesmente desapareceu”, acusa o vereador de São José dos Campos Wagner Balieiro (PT). “Tive uma reunião com os diretores do Dersa e ninguém conseguiu me explicar por que a marginal não foi executada, embora o dinheiro tenha sido pago”, afirma Balieiro.


Fonte: IstoÉ via Patria Latina

Empresas alemãs lucram com a escravidão infantil no Usbequistão

Todo outono, crianças do Usbequistão são obrigadas a trabalhar na colheita do algodão, por um pequeno pagamento. Empresas alemãs estão entre as que lucram com essa violação dos direitos humanos.

No Usbequistão, as férias de verão começam em meados de setembro, quando o calor diminui. Ela dura cerca de dois meses, mas muitas crianças quase não veem seus pais durante esse tempo. São obrigadas a servir a seu país colhendo algodão.

Um obscuro ritual que data do antigo regime soviético se desenrola durante a temporada de colheita, no outono, nessa república da Ásia Central, quando o presidente Islam Karimov mobiliza as massas. Cerca de 2 milhões de escolares são então obrigados a trabalhar nos campos colhendo o "ouro branco", como é chamado o algodão desde o tempo do ditador soviético Josef Stalin. Além do gás natural e do ouro, o algodão é uma das mais importantes fontes de divisas para a elite usbeque. O preço do algodão está atualmente no nível mais alto desde que começou seu comércio há 140 anos.

Mas os jovens colhedores de algodão não veem muito desse lucro. Nazira tinha apenas 11 anos quando trabalhou nos campos no ano passado. Durante um mês inteiro, ela, seus professores e as outras crianças de sua classe em uma aldeia perto de Andijan, no leste do Usbequistão, começavam a colher às 7 da manhã e trabalhavam até as primeiras horas da noite.

As crianças tinham de cumprir sua cota de 10 quilos por dia. "Eu mal conseguia apanhar 3 quilos", relata Nazira. Ela ganhava 60 sums por quilo (0,03 euro). Depois de um mês de trabalho, deu o dinheiro para sua mãe. "Ela o usou para comprar um boné de inverno para mim, mas não foi suficiente e teve de pagar um pouco a mais."

Surras por não cumprir as cotas

As crianças um pouco mais velhas que foram enviadas para trabalhar na região se saíram ainda pior. Seus professores simplesmente ficavam com os salários das crianças. As que não cumpriam as cotas também eram surradas. Os poucos pais que objetaram ao recrutamento forçado de seus filhos foram assediados por professores que visitaram suas casas.

Em outubro de 2008, Umida Donisheva, uma garota de 17 anos, se enforcou em uma árvore na borda de um campo de algodão. Segundo o rápido relatório de um site de notícias usbeque, Umida não conseguiu suportar a pressão de seus professores para colher cada vez mais algodão.

Segundo Joanna Ewart-James, da Anti-Slavery International [Antiescravidão Internacional], o que está acontecendo no Usbequistão é simplesmente "escravidão infantil". Embora o Usbequistão tenha assinado a convenção da ONU contra as piores formas de escravidão e negue qualquer desvio, pouco mudou para as crianças das áreas rurais, diz Ewart-James.
A ativista participou recentemente de conferências internacionais sobre algodão no Texas (EUA) e em Liverpool (Inglaterra). Representantes dos principais revendedores, como a americana Cargill, o grupo suíço Reinhart e a empresa alemã Otto Stadtlander, de Brêmen, estavam lá, mas Ewart-James afirma que foi ridicularizada quando tentou abordar a questão da mão-de-obra infantil.

O clima otimista da indústria poderá ser um pouco abalado esta semana. Uma queixa foi depositada contra sete negociantes de algodão europeus na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo a acusação, as empresas violaram princípios da OCDE para companhias multinacionais, ao lucrar com o trabalho infantil usbeque.

Na Alemanha, o Centro Europeu para Direitos Humanos e Constitucionais (ECCHR na sigla em inglês) está fazendo uma queixa contra a Stadtlander, uma grande negociante de algodão europeia com mais de 100 milhões de euros em vendas anuais. Durante anos a empresa teve um escritório em Tashkent, onde mantém boas relações com o governo Karimov.

Violações dos direitos humanos

Embora a ECCHR ainda seja uma organização relativamente jovem, já obteve uma vitória contra a rede de supermercados Lidl, que havia afirmado em seus anúncios que seus produtos eram produzidos sob condições de trabalho justas. A Stadtlander ajuda e aprova violações de direitos humanos, diz a coordenadora do ECCHR, Miriam Saage-Maass, mas ela nota que é um caso contestado.

Ao contrário da Lidl, a firma baseada em Brêmen não faz em sua publicidade qualquer alegação sobre o tratamento justo dos trabalhadores. Além de perguntas embaraçosas, a Stadtlander tem pouco a temer no momento. E as diretrizes da OCDE estão cheias de regulamentações de metas, ou o que Saage-Maass, que também é advogada, chama de "lei branda" sem dentes. Embora a lei internacional da Organização Mundial de Comércio inclua dispositivos sobre discriminação, eles só se aplicam a produtos e à livre movimentação de bens. As condições sob as quais os produtos são feitos não são críticas para os guardiões do livre comércio.

A queixa também se destina a expor uma brecha legal absurda, qual seja, que as empresas que lucram com violações dos direitos humanos são quase intocáveis juridicamente. Seria útil se as diretrizes da OCDE incluíssem sanções como a suspensão da ajuda econômica. Mas Saage-Maass vê poucas evidências de interesse na maioria dos escritórios de contato da OCDE em países individuais. "Com frequência eles são muito ineficazes", ela diz.

A direção da Otto Stadtlander ignorou as solicitações do ECCHR durante mais de um ano, acrescenta Saage-Maass. A companhia também não quis responder às perguntas do "Spiegel".

"Nova parceria" da Alemanha com Karimov

O bom relacionamento da Stadtlander com o Usbequistão está totalmente de acordo com as políticas do governo alemão. Uma "nova parceria" liga a Alemanha ao presidente Karimov, e soldados alemães embarcam para o Afeganistão de uma base militar alemã no Usbequistão.

Karimov, uma ex-autoridade comunista, se converteu ao capitalismo sem abandonar suas atitudes stalinistas. Ele é eleito a intervalos irregulares por uma maioria absurda de votos. Até os candidatos da oposição admitiram votar nele. Críticos do regime em seu país supostamente foram mergulhados em água fervente. O governo também já disparou contra a população, como fez em Andijan em 2005, quando mais de 700 membros da oposição teriam sido mortos.

Isto levou muitos países europeus a pedir sanções, mas a Alemanha não os acompanhou. Pelo contrário, ministros alemães visitaram o país com grandes delegações empresariais.

O governo alemão não se dispõe a dizer como a parceria melhorou as condições para as crianças, mas uma porta-voz menciona um "sistema de monitoramento" e o "diálogo regular".

Bancos alemães também lucram com o comércio de algodão. Um deles é o Commerzbank, parcialmente estatal, que tem um escritório em Tashkent. O banco participou do financiamento de contratos de algodão para clientes europeus no Usbequistão "durante anos", diz um porta-voz. O Deutsche Bank também financia negócios no Usbequistão.

Varejistas como C&A e Walmart hoje tentam não estocar roupas que contenham algodão do Usbequistão. Mas é difícil rastrear o algodão usbeque, que os negociantes misturam com o produto de outros países.

Agricultores ganham um terço do valor de exportação

Apesar de seus abundantes recursos naturais, a população do Usbequistão é tão pobre quanto sempre foi. As fazendas são operadas de modo ineficiente, com equipamento antiquado. Em Sheikh Lar, uma aldeia a noroeste da cidade de Samarkand, não se veem mais as colheitadeiras que eram usadas na era soviética. Embora os agricultores sejam oficialmente autônomos, eles alugam a terra do governo, compram fertilizantes de empresas estatais e têm de cumprir suas cotas. Eles recebem um terço do preço de exportação, enquanto o governo Karimov coleta o resto.

A cultura do algodão também é enormemente prejudicial ao meio ambiente. A irrigação das fazendas de algodão é o principal motivo pelo qual o mar de Aral, no oeste do Usbequistão, encolheu para apenas um décimo de seu tamanho original. As 24 espécies de peixes antes encontradas no lago estão extintas. O desemprego na região é de 70%.

Umida Niyasova, uma ativista de direitos humanos do Usbequistão que já esteve nas prisões de Karimov, hoje documenta em Berlim a situação de seu país. Ela recebe relatórios de acidentes de trabalho e condições de higiene indizíveis nos acampamentos perto dos campos. O pai de uma garota que foi obrigada a colher algodão na região de Jisak, no sudoeste, acaba de contatá-la. "A polícia manteve os pais sob vigilância durante horas antes que eles pudessem ver sua filha", diz Niyasova.

A Stadtlander pinta uma imagem diferente do Usbequistão. Nos últimos anos a empresa alemã patrocinou uma comemoração do festival de primavera usbeque na Bolsa de Algodão em Brêmen (noroeste da Alemanha). "Plov", um cozido usbeque, foi servido e dançarinas do país em vestidos brilhantes se apresentaram enquanto grandes cartazes mostravam a visão de Karimov das cidades do futuro.

Poderia ser um programa de TV transmitido diretamente do Usbequistão.

Fonte: Der Spiegel via VERMELHO
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves/UOL