quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Lei de licença-maternidade abre debate sobre direitos da mulher

Com caráter facultativo, lei não atinge todas as trabalhadoras brasileiras; especialistas avaliam que o modo como a norma está sendo aplicada gera conflitos entre os direitos da mulher e a responsabilidade do Estado e das empresas



Sancionada no último dia 9 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a nova lei que amplia a licença-maternidade em dois meses recebe o apoio de especialistas no que diz respeito à saúde e desenvolvimento da criança.


Entretanto, no que se refere ao campo de trabalho e conquistas das mulheres na sociedade, há opiniões divergentes. A falta de políticas públicas voltadas ao cuidado com as crianças é apontada como uma falha no sistema brasileiro, que torna a norma de licença-maternidade insuficiente às necessidades de mães e filhos.


O projeto de lei traz como característica a facultatividade, tanto para empresa quanto para a funcionária. No entanto, feministas defendem que esse caráter limita o direito da mulher, já que, para ter acesso ao benefício, ela depende da escolha do empregador em participar do Programa Federal.


Eneida Dutra, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) para as áreas de Trabalho e Previdência, alega que a facultatividade abre espaço para pressões quanto à escolha que a funcionária fará. “Esperamos que não haja assédio moral para deixar a mulher insegura em relação à opção pela extensão”, observa.


Dutra explica que o modo como a lei foi elaborada não constitui um direito de fato às trabalhadoras brasileiras, pois é limitado. “Torna-se um benefício e não um direito, porque o direito é universal”, resume. Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC 30/2007), de autoria da deputada Ângela Portela (PT-RR), busca a obrigatoriedade do direito a todas as trabalhadoras. Contudo, ainda está em tramitação no Congresso Nacional.


Entretanto, para a senadora Patrícia Saboya (PDT/CE), autora do projeto de lei que amplia a licença-maternidade, essa é uma forma de chamar o empresariado a ter uma consciência social. “Isso porque só adere ao Programa Empresa Cidadã, criado pelo projeto, a empresa que, por ter responsabilidade social, acredita que possa abrir mão de dois meses do trabalho de sua funcionária em troca de lhe conceder um tempo que trará benefícios a seu filho por toda a vida dele. Aliás, uma das grandes vantagens do projeto é ajudar a consolidar, aos poucos, no país, essa cultura da responsabilidade social, fazendo com que as empresas percebam que, ao adotar essa prática, ajudam toda a sociedade”, defende.


Mercado de trabalho


Patrícia Saboya defende, ainda, que a ampliação da licença não acarretará danos para o desempenho profissional das mulheres nem para o desenvolvimento das atividades das companhias. Para ela, esse aumento “terá um efeito altamente benéfico para as próprias empresas. Isso porque as funcionárias, ao retornarem ao trabalho, estarão muito motivadas, mais tranqüilas e com a sensação do dever cumprido”.


No entanto, dúvidas como instabilidade profissional e perda de competitividade frente ao mercado de trabalho são levantadas pelo empresariado e organizações feministas. Uma das preocupações é com a possibilidade de que os empregadores passem a optar pela contratação de funcionários do sexo masculino por conta do período de afastamento que uma funcionária ficará de suas atividades se engravidar.


Para a feminista Sonia Coelho, da equipe técnica da Sempreviva Organização Feminista e membro da Marcha Mundial das Mulheres, tal afirmação não pode ser feita de imediato, pois os resultados virão com o tempo. Ela afirma que o mercado de trabalho “não pode prescindir do trabalho das mulheres”.


Sonia explica que existem trabalhos que somente as mulheres podem realizar, com sensibilidade e agilidade, como trabalhos manuais, devido a sua experiência em trabalhos domésticos. E que se as empresas colocassem homens para fazer, eles levariam muito tempo para aprender e isto seria prejudicial para o próprio empregador. “O mercado de trabalho lucra com o trabalho das mulheres, e, sobretudo, com as desigualdades entre homens e mulheres”, alega.


A senadora Patrícia Saboya também acredita que isso não ocorrerá. “Esse mesmo argumento foi usado quando a Constituição de 1988 estabeleceu a licença-maternidade de quatro meses. De lá para cá, o que vimos foi exatamente o contrário. A cada dia, as mulheres conquistam mais e melhores espaços no mercado de trabalho”, opina.


Eneida Dutra, no entanto, teme que a mulher seja alvo de discriminação por conta do aumento da licença-maternidade. Ela afirma que prefere acreditar na “maturidade do empresariado brasileiro” para que esse tipo de situação não ocorra.


Ascensão profissional


Outro ponto questionado se refere à ascensão profissional da mulher. Francisco Gadelha, presidente do Conselho Temático Permanente de Relações do Trabalho e Desenvolvimento Social da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), alega que a licença-maternidade estendida prejudicará o desempenho e o crescimento na carreira da mulher. Já que, ao sair de licença, ela se desconectará do mundo do trabalho e, quando retornar, estará desatualizada em relação àquele que a substitui, e terá de se readaptar, o que levará algum tempo.


Gadelha reconhece que a mulher tem alcançado destaque no mercado de trabalho e melhor qualificação nos concursos públicos, além de possuir maior escolaridade que os homens. Mas defende que o afastamento do emprego por seis meses impedirá que ela ascenda a cargos melhores. “Isso a prejudica, já que ela ainda enfrenta dificuldades para se impor no mercado de trabalho: as mulheres ocupam somente 11% dos cargos de chefia”, acrescenta.


A especialista em trabalho e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Claudia Mazzei Nogueira, no entanto, rebate que essa é a lógica empresarial, que visa somente a acumulação de lucros. “Sempre que há a possibilidade de acumular ganhos, há uma prevenção muito grande do empresariado”, explica, referindo-se ao custo que trará para a empresa esse período de afastamento e substituição da funcionária em licença.

Para Sonia Coelho, “as empresas se utilizam desse argumento numa forma de abaixar salários e rebaixar as mulheres”. Segundo a lei, têm direito a gozar do benefício apenas mulheres que estejam empregas formalmente, que possuam registro em carteira, não as que estejam na informalidade.


Sonia explica, no entanto, que muitas mulheres continuam em trabalhos precarizados, com baixos salários, e essa medida complica mais a situação delas, pois as deixam à margem de mais um direito. Para ela, é necessário “olhar a situação das mulheres como um todo, como estão inseridas no mercado de trabalho”.


Outra crítica à nova lei diz respeito às sugestões de vetos à proposta original que se concretizaram na sanção presidencial. O presidente Lula vetou o parágrafo que concedia isenção fiscal às empresas enquadradas no Simples (tratamento tributário diferenciado e favorecido para microempresas e empresas de pequeno porte) que permitissem o aumento da licença-maternidade de suas funcionárias, assim como o artigo que isentava patrões e funcionárias do pagamento da contribuição previdenciária nos dois meses a mais da licença.


Para a professora Claudia Mazzei Nogueira, os vetos são nocivos à aplicação da lei e à aceitação por parte do empresariado. Segundo ela, a norma incentivava a participação de um número maior de empresas, mas, da forma como está agora, prejudica tanto estas como as funcionárias.


A senadora Patrícia Saboya disse que já esperava os vetos, que acabaram comprometendo a abrangência da proposta. Mas, para ela, o fato de a lei ter sido sancionada demonstrou “avanço no campo dos direitos”.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Governadores do PSDB são contra redução de jornada dos professores !!!
A lei 11.738 que criou o piso salarial profissional nacional do magistério –– R$ 950 para jornada de 40 horas –– também determina alterações na jornada de trabalho e, conseqüentemente, nos planos de cargos e salários dos Estados e municípios brasileiros. Entre estas alterações, o professor deverá dedicar, no mínimo, um terço da jornada a atividades extraclasse, como correção de provas e planejamento de aulas. Embora ainda não seja a ideal, a nova jornada representa um avanço, pois, além de possibilitar a criação de empregos, promoverá um salto na qualidade de ensino e nas condições de trabalho dos professores.

Para suprir a nova jornada será preciso contratar cerca de 60 mil professores em São Paulo. Atualmente, na rede pública paulista, existem duas jornadas: a inicial, de 24 horas, e a básica, de 30 horas. Na jornada inicial, o professor cumpre 20 horas em sala de aula e quatro em atividade extraclasse (16,66% da totalidade das aulas); na jornada básica, 25 horas em sala de aula e cinco em atividade extraclasse (16,66% da totalidade das aulas). Se o professor tem jornada de 40 horas, cumpre 33 em sala de aula e sete em atividade extraclasse, o que representa 17,5% da totalidade das aulas.

Pela nova proposta aprovada, por exemplo, o professor com jornada de 40 horas cumprirá 27 horas em sala de aula e 13 –– um terço da jornada –– em atividades extraclasse. Outro avanço da lei 11.738: a determinação de que abonos e gratificações não poderão ser contabilizados para atingir o piso de R$ 950 para 40 horas até 2010.

Governadores do PSDB não querem cumprir a lei. Setores do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), liderados especialmente pelos governos de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, Estados que adotam a política educacional do PSDB, informaram que entrarão com uma Ação Direta de Inconstitucionalida de (Adin) no Supremo em relação à lei 11.738. Os secretários questionam os parágrafos que determinam a reserva de 33% da carga horária para atividades extraclasse e o que regulamenta o piso, sem integrar em sua composição gratificações e abonos.

Em São Paulo, a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, já afirmou que não concorda com a lei, principalmente na determinação da nova jornada para atividades extraclasse. Em declarações na grande imprensa, a secretária informou que, para adequar-se à nova lei o Estado deverá gastar mais de R$ 1,4 bilhão. Mais uma vez, a administração do PSDB deixa patente que, em seu projeto político, educação pública é considerada gasto público e não investimento voltado aos interesses dos filhos da classe trabalhadora.

Nova jornada melhora condições de trabalho. Não daremos trégua ao governo para garantirmos a redução da jornada sem redução do salário, possibilitando mais emprego para a categoria. Manteremos a mobilização para pressionar a Secretaria da Educação a cumprir integralmente a lei federal.

Para o autor do projeto que resultou na lei 11.738, senador Cristovam Buarque, ao contrário do que vêm alegando as secretarias estaduais de Educação, “a lei poderá trazer economia, pois o professor adoecerá menos e não precisará ser substituído”. Esta declaração reafirma a luta da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) contra a lei das faltas (lei 1.041) elaborada pelo governo estadual.

Audiências públicas discutirão lei. A Apeoesp já solicitou à Assembléia Legislativa (Alesp), por meio do deputado Roberto Felício, líder da bancada do PT, a realização de uma audiência pública para discutir o piso salarial nacional e a mudança de jornada do professor. A audiência deverá acontecer em setembro.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) também realizará audiências nas regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-oeste para debater a importância da lei 11.738 para os professores e para a escola pública. Na Região Sudeste, a audiência deverá acontecer em São Paulo.

Maria Izabel Azevedo Noronha é presidenta da Apeoesp e integrante do Conselho Nacional de Educação
Fonte : http://www.jornalde piracicaba. com.br/capa/ default.asp? acao=viewnot&idnot=20358&cat=115



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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Frejat - Intimidade Entre Estranhos (2008)




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Créditos:UmQueTenha

Uruguai teme riscos de grande emigração e baixa natalidade


Duas recentes pesquisas realizadas no Uruguai chamam a atenção sobre os problemas demográficos que o país enfrentará nas próximas décadas, se o governo não empreender políticas ativas para modificar as atuais tendências em matéria de população. Uma é a pesquisa coletiva "Demografia de uma Sociedade em Transição", da Faculdade de Ciências Sociais, e a outra é "A População do Uruguai nas Próximas Décadas", de Juan José Calvo e encomendada pelo escritório das Nações Unidas em Montevidéu.


Por Jorge Barreiro, para o Terra Magazine(www.vermelho.org.br)



À pergunta que tanto preocupa os uruguaios e que intitula as subseqüentes linhas, os autores respondem com um sonoro "não". No entanto, ambas as pesquisas concluem que a sociedade uruguaia enfrentará sérios problemas sociais e econômicos nas próximas décadas, se as atuais tendências demográficas se mantiverem inalteradas.


Para chegar a semelhante conclusão é necessário fazer referência às particulares tendências demográficas deste país na segunda metade do século 20, pelo menos no contexto latino-americano e dos chamados países "em desenvolvimento".


O Uruguai experimentou muito cedo no século 20 o que os especialistas chamam de primeira "transição demográfica", ou seja, a diminuição das taxas de fertilidade e mortalidade (que tem como um de seus resultados o envelhecimento da população). A primeira por razões educativas e culturais e a segunda como conseqüência das melhorias sanitárias, que aumentaram a expectativa de vida.

Apenas Cuba seguiu uma evolução similar no contexto latino-americano. Entre os anos 90 do século passado e a primeira década do século 21, aconteceu no Uruguai o que se denomina a "segunda transição" demográfica, que somou à primeira a inclinação a uma maior autonomia e realização individual própria das sociedades pós-modernas, e que, entre outras coisas, implica na postergação da idade de casamento e do primeiro filho, na opção por uma vida de solteiro em caráter permanente e no aumento do número de divórcios.


As últimas estatísticas disponíveis antes da realização de ambas as pesquisas indicam que o número de nascimentos caiu em 19% na década de 1996-2006 e que a taxa de fertilidade está em 2,08 filhos por mulher, ou seja, equivalente à taxa mínima de reposição.

A demógrafa Adela Pellegrino assegura que essa taxa de fecundidade já é inferior à de reposição, o que quer dizer que a população uruguaia já não tem a capacidade de se manter naturalmente no nível atual.


Combinação paradoxal


O Uruguai já é o país de população mais velha da América Latina e o de mais baixo crescimento demográfico depois de Cuba. Cresce a uma taxa de cinco por mil, ou seja, a população aumenta em 16 mil a 18 mil pessoas a cada ano... menos que o número de uruguaios que emigram a cada ano, segundo as "não de todo rigorosas" estatísticas oficiais.


A estrutura de faixas etárias e a taxa de fertilidade do Uruguai são uma autêntica exceção na América Latina e se assemelha mais com a dos países mais desenvolvidos como mostra os quadros ao lado, que, além disso, apresentam as projeções futuras, as quais sugerem uma intensificação da queda da natalidade e do envelhecimento da população, com os conseqüentes problemas sociais e econômicos.


O Uruguai seguiu, como se pode observar, uma evolução demográfica mais parecida com a dos países mais desenvolvidos do planeta. Mas apesar das projeções apontarem que, neles, a estrutura de idades será no futuro próximo uma questão mais problemática que neste país, não foram disparados lá os alarmes que parecem estar na ordem do dia por aqui. É que no Uruguai deve ser somada aos fenômenos descritos, uma emigração sem precedentes em termos relativos. Na Europa, ao contrário, o envelhecimento da população tem sido em parte amortecido por uma tendência oposta: a recepção de imigrantes jovens.


Emigração


Pelo menos desde a década de 60 do século passado, o Uruguai se converteu em um país de emigração. A partida para o estrangeiro é uma característica estrutural do país que já não depende de ciclos econômicos. Inclusive em períodos de bonança econômica e queda do desemprego, os uruguaios continuam a deixar o país.


Calcula-se que entre 1963 e 2006 deixaram o Uruguai 600 mil pessoas, das quais retornaram algo mais que 120 mil. Estas cifras podem resultar ainda mais significativas se for levado em conta que o Uruguai tem 3,3 milhões de habitantes. Isso quer dizer que um pouco mais de 15% do total de uruguaios vive fora do país. Se forem contabilizados seus filhos nascidos no exterior, a cifra é horripilante. É como se sete milhões de colombianos ou cinco milhões de argentinos vivessem fora de seu país. No contexto latino-americano o Uruguai é um dos países com maior porcentagem de emigrantes. Na última década deixaram o país cerca de 15 mil pessoas por ano, segundo dados não muito rigorosos, o que supõe praticamente a mesma quantidade que o crescimento anual da população.


Mas o tema da emigração adquire ainda mais relevância ao se levar em conta que os emigrantes são mais jovens que a média da população. Segundo a análise dos dados sobre a emigração do período mais recente (2000-2006), mais da metade dos uruguaios que partiram para o estrangeiro tinham entre 20 e 30 anos no momento da partida. Parece desnecessário ressaltar que este buraco dos emigrantes acentua os problemas demográficos do país, porque nesta faixa estão as pessoas em idade reprodutiva. Ainda assim, as pesquisas não confirmam a suposição há muito defendida quanto a esses emigrantes contarem com nível de educação superior à média da população uruguaia: os profissionais liberais, as pessoas com formação universitária e os executivos respondem por 9,8% do total de emigrantes, ante 14,7% na população uruguaia em geral. Não obstante, a grande maioria dos que deixaram o país não pertence aos estratos mais pobres da sociedade nem à população estruturalmente pobre, mas sim consistem de pessoas que sofreram reduções de renda por conta da crise do começo do milênio, e por isso se viram reduzidas à pobreza. Um dado significativo é que 40% dos emigrantes alegam ter optado por esse caminho por "falta de trabalho", e outros 25% por "baixa renda".


Se considerarmos que a emigração no Uruguai abarca, em maior medida que em outros países latino-americanos, o núcleo familiar completo, os envios de fundos do exterior não são importantes ou consideráveis como acontece no caso de algumas outras nações (em termos tanto absolutos quanto relativos). De modo que se torna necessário sinalizar que, para a sociedade uruguaia como um todo, as inconveniências causadas pela imigração superam consideravelmente os benefícios.


Calvo insiste em que não se trata, ao contrário do que supõe a forma de visão complexada que muitas vezes acompanha as sociedades pequenas, de levar a população a atingir um determinado número ("um Uruguai de seis milhões de habitantes!", por exemplo), e sim de "atingir metas qualitativas: a equidade, a criatividade, a capacidade de incorporar inovações, a qualidade, a diversidade, o cosmopolitismo". As pessoas não deveriam estar sujeitas a planos estatais de crescimento ou receber estímulos econômicos para que tenham mais filhos, e sim deveriam estar livres para "escolher o tipo e o tamanho da vida que consideram mais propícios, em decisões livres e bem fundadas".


"As pessoas deveriam poder exercer o direito de viver no local que preferem, e as migrações, tanto dentro quanto para fora de um país, não deveriam ter por motivo um horizonte de limitação de oportunidades". Para não nos estendermos demais, os índices de natalidades registrados entre as mulheres uruguaias não são uniformes: há casais pobres que têm mais filhos do que gostariam e outros casais das camadas médias da sociedade que prefeririam ter mais crianças do que têm.


Deixando de lado quaisquer visões catastróficas, as pesquisas na verdade trazem tranqüilidade aos espíritos patrióticos: os uruguaios não vão desaparecer (hoje, um em cada dois mil habitantes de nosso planeta é uruguaio, e em 2050 essa proporção se reduzirá a um em 2.500, mas não vamos nos extinguir). Mas ainda assim, os números apontam que, se persistirem as tendências atuais, chegaremos a crescimento populacional nulo ou possivelmente negativo, com todas as conseqüências que isso poderia acarretar.

Chávez explica expulsão de "defensores dos direitos humanos"


O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que ordenou pessoalmente a expulsão do país de dois representantes da Human Rights Watch (HRW) por fazerem "o trabalho sujo dos ianques".


A chancelaria venezuelana comunicou a expulsão do diretor para as Américas da HRW, o chileno José Miguel Vivanco, e de seu assessor, o norte-americano Daniel Wilkinson, que apresentaram em Caracas um relatório criticando a situação dos “direitos humanos” na Venezuela.


"Ontem chegou à Venezuela um destes personagens que andam fazendo o trabalho sujo dos ianques e começou a dar declarações, então chamei o chanceler e lhe disse: expulse-o daqui", revelou Chávez.


"Não vamos permitir que estrangeiros venham aqui para julgar o povo venezuelano", disse o presidente.


Chávez reafirmou que o governo norte-americano está por trás de um complô para derrubá-lo e assassiná-lo, e que a visita dos representantes da HRW à Venezuela faz parte deste plano.


"O presidente dos Estados Unidos (George W. Bush) está desesperado porque sabe que tem os dias contados e trata de fazer qualquer coisa para incendiar não apenas a Venezuela, mas todo o continente", afirmou.


O relatório apresentado por Vivanco, chamado de "Uma década do governo Chávez: intolerância política e oportunidades perdidas para o progresso dos direitos humanos", acusa o governo venezuelano de manipular o Poder Judiciário e de enfraquecer o sistema democrático.


Segundo o ministro venezuelano de Comunicações e Informação, Andrés Izarra, a "Human Rights Watch é uma ferramenta ativa no processo de desestabilização" e está ligada aos setores golpistas.


A HRW, que tem sede em Washington, "é uma organização de fachada dos interesses mais bastardos da oligarquia venezuelana e do imperialismo americano", e o governo Chávez não vai "tolerar mais este tipo de ingerência".


Uma gigantesca manifestação apoiou a decisão do governo venezuelano de expulsar os provocadores da HRW. A convocação foi feita através da emissora de televisão VTV pelo ministro de Informações, Andrés Izarra, que também afirmou que a HRW faz parte de um "plano para gerar um golpe e inclusive o magnicídio" do presidente Chávez.


"O plano está em andamento" e a ONG "é só um dos atores" do complô, uma "organização de fachada dos Estados Unidos para intervir nos países", afirmou Izarra.


Uma nota da Chancelaria informou que a expulsão foi decidida "com base nos valores constitucionais de defesa da soberania nacional e a dignidade do povo venezuelano".


Além disso, argumentou que Vivanco e Wilkinson entraram no país com visto de turismo, o que lhes impedia, segundo a Chancelaria, de realizar atividades à margem da "expansão e recriação".


No comunicado, o governo diz notificar a ambos "a obrigação de abandonar de maneira imediata a pátria do Libertador Simón Bolívar".


Da redação, com agências(www.vermelho.org.br)


domingo, 21 de setembro de 2008

Que violonista....fantástico....

O presente infindável



Frei Betto

No século XX, a arte cinematográfica introduziu um novo conceito de tempo. Não mais o conceito linear, histórico, que perpassa a Bíblia e, também, as obras de Aleijadinho ou Sagarana, de Guimarães Rosa. No filme, predomina a simultaneidade. Suprimem-se as barreiras entre tempo e espaço. O tempo adquire caráter espacial, e o espaço, temporal. No cinema, o olhar da câmara e do espectador passa, com toda a liberdade, do presente para o passado e, deste, para o futuro. Não há continuidade ininterrupta.

A TV, cujo advento ocorreu no fim da década de 1930, leva isso ao seu paroxismo. Frente à simultaneidade de tempos distintos, a única âncora é o aqui-e-agora do (tele)espectador. Não há durabilidade nem direção irreversível. A linha de fundo da historicidade - na qual se apóiam o relato bíblico e os paradigmas da modernidade, incluindo um de seus frutos diletos, a psicanálise - dilui-se no coquetel de eventos onde todos os tempos se fundem. Dercy Gonçalves está morta e, sobre sua tumba, os clipes a exibem viva, interpretando sua personagem irreverente e desbocada.

Aos poucos o horizonte histórico se apaga como as luzes de um palco após o espetáculo. A utopia sai de cena, o que permite aos filósofos da desgraça vaticinarem: "A história acabou". Ao contrário do que adverte Coélet, no Eclesiastes, não há mais tempo para construir e tempo para destruir; tempo para amar e tempo para odiar; tempo para fazer a guerra e tempo para estabelecer a paz. O tempo é agora. E nele se sobrepõem construção e destruição, amor e ódio, guerra e paz.

A felicidade, que em si resulta de um projeto temporal, reduz-se então ao mero prazer instantâneo, epidérmico, derivado, de preferência, da dilatação do ego (poder, riqueza, fama etc.) e dos "toques" sensitivos (ótico, epidérmico, gustativo etc.). A utopia é privatizada. Resume-se ao êxito pessoal. A vida já não se move por ideais nem se justifica pela nobreza das causas abraçadas. Basta ter acesso ao consumo que propicia valor e conforto: uma boa posição social, a casa na praia ou na montanha, o carro de luxo, o kit eletrônico de comunicações (telefone celular, computador etc.), as viagens de lazer. Uma ilha de prosperidade e paz imune às tribulações circundantes de um mundo movido à violência. O Céu na Terra - prometem a publicidade, o turismo, o novo equipamento eletrônico, o banco, o cartão de crédito etc.

Nem a fé escapa à subtração da temporalidade. O Reino de Deus deixa de situar-se "lá na frente" para ser esperado "lá em cima". Mero consolo subjetivo, a fé reduz-se à esperança de salvação individual.

Graças às novas tecnologias de comunicação, agora o tempo está confinado ao caráter subjetivo. Experimentá-lo é ter uma consciência tópica do presente. Se na Idade Média o sobrenatural banhava a atmosfera que se respirava e, no Iluminismo, a esperança de futuro justificava a fé no progresso, agora importa o presente imediato. Busca-se, avidamente, a sua perenização. Somos todos eternamente jovens, cultuamos o corpo como quem sorve o elixir da juventude. Morreremos todos saudáveis e esbeltos...

Pulverizam-se os projetos nesse tempo cíclico, onde no mesmo rio corre sempre a mesma água. Outrora, havia namoro, noivado e casamento. Agora, fica-se. Após anos de casado, pode-se voltar ao tempo de namoro e, de novo, ao de casado.

A destemporalização da existência alia-se à desculpabilização da consciência. Uma mesma pessoa vive diferentes experiências sem se perguntar por princípios éticos, políticos ou ideológicos. Não há pastores e bispos corruptos e utopias que resultaram em opressão? A TV não mostra o honesto de ontem pilhado na vigarice de hoje? O bandido não faz gestos humanitários? Onde a fronteira entre o bem e o mal, o certo e o errado, o passado e o futuro?

"Tudo que é sólido se desmancha no ar" irrespirável dessa pós-modernidade, cuja temporalidade fragmenta-se em cortes e dissolvências, close-ups e flash-backs, muitas nostalgias (vide a bossa nova) e poucas utopias.

Se há algo de positivo nessa simultaneidade, nesse aqui-e-agora, é a busca da interioridade. Do tempo místico como tempo absoluto. Tempo síntese/supressão de todos os tempos. Eis que irrompe a eternidade - eterna idade. Pura fruição. Onde a vida é terna.

Nas artes, música e poesia se aproximam, de modo exemplar, dessa simultaneidade que volatiliza o tempo, imprimindo-lhe caráter atemporal. Na música, nossos ouvidos captam apenas a articulação de umas poucas notas. No entanto, perdura na emoção a lembrança de todas as notas que já soaram antes. Em si, a melodia é inatingível, assim como o poema, uma sucessão rítmica de sílabas e palavras sutis. O que existe é a ressonância da nota e da palavra em nossa subjetividade. Então, a seqüência se instaura em nós. Não é o tempo fatiado em passado, presente e futuro. É o presente infindável. O tempo infinito. Como no amor, em que o cotidiano é apenas a marcação ordinária de uma inspiração extraordinária.

Frei Betto é escritor, autor de "A obra do Artista – uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros.

Um (quase) desabafo do Azenha...

NA INTERNET, UM LEITOR VALE MAIS DO QUE 100 EDITORES

Luiz carlos Azenha

Estou passando mal de tanto ler e ouvir besteiras a respeito da crise econômica nos Estados Unidos.

Na CNN Internacional duas jornalistas (?) comemoravam a recuperação da bolsa de Nova York como se tivessem acabado de assistir a um filme com final feliz.

Nenhum contexto, nenhuma informação relevante além do óbvio.

Eu sei que o papel da mídia corporativa é o de disseminar propaganda como se fosse informação.

Eu sei que o nível de formação crítica dos jornalistas despencou mais que a Bovespa no início da semana.

Eu sei que o Jornalismo a serviço do crime organizado está colocando em risco uma das ferramentas mais importantes para o exercício de minha profissão, que é o sigilo de fonte.

Ainda assim eu fico surpreso com a absoluta incapacidade de 99% da mídia, inclusive de comentaristas experimentados, de dizer algo ou dar espaço a alguém que diga algo que fuja do óbvio e do convencional.

Será que o mercado financeiro chantageou os governos? Será que os grandes bancos poderiam ter se juntado aos governos para oferecer soluções? Ou eles deram no pé e deixaram a conta pendurada com os contribuintes?

São perguntas para as quais não se vê respostas na cobertura midiática.

Ainda bem que temos a internet. A lucidez, nessa hora, parece ficar por conta dos "amadores", como o N. Ramos, de Plano, no Texas, que deixou uma mensagem altamente recomendada por outros leitores do New York Times. Ele escreveu:

Esse Nenhum Banqueiro Deixado para Trás (piada com o programa governamental Nenhuma Criança Deixada para Trás) nada fará pela família média, que terá salários estagnados e menos renda disponível depois de pagar os custos mais altos de energia, alimentação, saúde e educação. Quem vai me salvar? Tenho dois filhos que vão se formar no ensino médio e nos perguntamos onde vamos conseguir dinheiro para pagar a faculdade. Empregos? Não conseguem encontrar. Nossos pequenos investimentos sumiram. Os Estados Unidos não têm dinheiro para a infraestrutura decadente, educação, saúde, mas encontraram dinheiro para salvar os bancos? Onde eles encontraram dinheiro se nossa dívida nacional está perto de U$ 15 trilhões !!! Nós, contribuintes, estamos sendo roubados e o futuro de nossas crianças destruído... Estamos a caminho de ser um país do terceiro mundo.

Não vi um artigo sequer, até agora, que lidasse com as preocupações do leitor cujo texto acabo de reproduzir. É espantoso constatar que o Jornalismo perdeu completamente a relação com os interesses do cidadão comum

Será que os jornalistas -- ou pelo menos os jornalistas que opinam -- perderam o contato com a realidade das pessoas comuns? Será que perderam a capacidade de empatia com os leitores, ouvintes e telespectadores?

Não sei exatamente o que é, mas tem alguma coisa muito errada aí.

Homenagem aos gauchos colorados...

mais socialismo na rede....

Seja Bem-vindo ao Projeto Democratização da Leitura e Filmes!

O PDL é uma das maiores referências de biblioteca virtual livre em língua portuguesa da internet, com um acervo alimentado por centenas de colaboradores em todo o mundo e uma história de 5 anos de existência. Todo os e-books são produzidos e geridos pelos próprios usuários, que fazem do site um grande centro de troca de novidades e discussões relacionadas à área. O acesso é livre e independe de registro ou qualquer forma de pagamento.


Ateus.net - Sitio que disponibiliza uma variedade de literatura e afins de autores (nem sempre) ateus...

DominioPublico.gov - Sitio do Ministério da Educação com literatura somente brasileira...mas em grande quantidade....

ElogioDoRevolucionario - Sitio com sinopses de filmes(ótimos) que direciona para o makingoff onde poderão ser compartilhados, muito bem organizados por temáticas...facilitando o encontro do que se busca....possui um fórum interessante nesse endereço





sábado, 20 de setembro de 2008

21 de setembro, Dia Internacional contra a Monocultura de Árvores...


Montanhas de papel. Crescente Injustiça from WRM on Vimeo.

Produzido pelo Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)

Os riscos para a saúde do plástico das garrafas

Cientistas britânicos analisaram as concentrações de bisfenol A na urina de 1455 adultos americanos, descobrindo que os maiores níveis deste químico estavam ligados a um aumento de 39% no risco de desenvolver diabetes, problemas cardíacos e anormalidades nas enzimas hepáticas.


Autoridades dos EUA mantêm confiança neste químico

O bisfenol A (BPA), um químico usado no fabrico de muitas embalagens, garrafas de plástico e latas de comida, pode estar ligado ao aumento da prevalência de problemas cardíacos, de diabetes e de anormalidades nas enzimas hepáticas. Esta é a conclusão de um estudo publicado esta semana no Journal of the American Medical Association (JAMA), mas as autoridades dos EUA mantêm a confiança neste composto, detectado no corpo de 90% dos americanos.

"Confiamos nos estudos que analisámos para dizer que a margem de segurança é adequada", disse Laura Tarantino, da Food and Drug Administration (FDA), o organismo encarregado de regulamentar que produtos podem ou não ser usados nos EUA. "Não recomendamos a ninguém que mude os seus hábitos ou mude a forma como usa estes produtos porque, neste momento, não temos provas que sugiram a necessidade de o fazerem", acrescentou. As autoridades europeias tinham chegado à mesma conclusão em Julho.

Os cientistas da Universidade de Exter, no Reino Unido, analisaram as concentrações de BPA na urina de 1455 adultos norte-americanos. Os resultados mostram que os maiores níveis de concentração estavam ligados a um aumento de 39% no risco de desenvolver diabetes e problemas cardíacos. Quando o grupo era dividido em quatro, segundo os níveis de BPA, verificava-se que aquele com a taxa mais elevada tinha um risco três vezes maior de doenças cardiovasculares que os que apresentavam menos concentração do químico. No caso da diabetes, o risco era 2,4 vezes superior.

O BPA é utilizado na produção de plástico policarbonato, um material transparente e resistente ao impacto. Mais de dois milhões de toneladas métricas deste químico, que imita a forma como o estrogéneo actua no corpo humano, foram fabricadas em 2003, havendo anualmente um aumento de seis a dez por cento na procura.

Apesar de reconhecer não haver problemas com esta substância, Tarantino deixou algumas sugestões para os consumidores que queiram limitar as quantidades de BPA que ingerem: evitem aquecer a comida nas embalagens de plástico, uma vez que o calor ajuda a libertar esta substância.

Mas a FDA é acusada, por parte de cientistas e grupos de protecção dos consumidores, de ignorar estudos feitos em animais. Alguns mostram que este químico, mesmo em doses reduzidas, pode provocar alterações no cérebro dos fetos e recém-nascidos, na próstata, nas glândulas mamárias e modificar a idade de puberdade das fêmeas.

Fonte:Ecoblogue

Brand Upon The Brain!


Brand Upon The Brain!
(Brand Upon The Brain!)
Brand.Upon.the.Brain.2006.DVDRip.XviD-VoMiT

Créditos:

makingoff - seu saraiva

Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Sinopse:


O jovem personagem Guy Maddin é marcado pela convivência com a mãe protetora e tirânica e o pai cientista, que trabalha secretamente no porão. Guy passa seus dias pouco estimulantes numa misteriosa ilha, acompanhado da irmã adolescente. Seus amigos são crianças abandonadas que vivem num orfanato. Depois que os pais, que recentemente adotaram algumas delas, começam a perceber feridas nas cabeças de seus filhos, chegam à ilha os detetives mirins Wendy e Chance Hale. Enquanto a investigação avança, os garotos são guiados para as mais sombrias regiões da revelação e da opressão. A busca perde perigosamente o controle quando terríveis segredos da família de Guy são revelados. Fonte.


Informações sobre o filme e release:

Gênero: Drama / Fantasia / Ficção
Diretor: Guy Maddin
Duração: 98 minutos
Ano de Lançamento: 2006
País de Origem: EUA / Canadá
Idioma do Áudio: Inglês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0443455/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 867 Kbps
Áudio Codec: MPEG-1 Layer 3
Áudio Bitrate: 126
Resolução: 544x304
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 17.982 FPS
Tamanho: 716 Mb
Legendas: Em anexo


Elenco:

Gretchen Krich (Mother)
Sullivan Brown (Young Guy Maddin)
Maya Lawson (Sis)
Katherine E. Scharhon (Chance Hale / Wendy Hale)
Todd Moore (Father)
Andrew Loviska (Savage Tom)
Kellan Larson (Neddie)
Erik Steffen Maahs (Older Guy Maddin)
Cathleen O'Malley (Young Mother)
Clayton Corzatte (Old Father)
Susan Corzatte (Old Mother)
Megan Murphy (Murderous Sister)
Annette Toutonghi (Murderous Sister)
David Lobo (Oarsman)
Eric Lobo (Oarsman)

Premiações e curiosidades:

*Participou da Seleção Oficial dos Festivais de Berlim, Toronto e Nova Iorque.

*Na 31ª Mostra de Cinema de São Paulo, o filme ganhou uma exibição multimídia, com música e narração ao vivo, com a voz de Marília Gabriela.

*Trata-se de um 'filme-espetáculo', onde em várias apresentações, contou com música e narração ao vivo.

Crítica:

O cineasta canadense Guy Maddin criou para uma linguagem particular, uma assinatura própria, extraída do próprio passado do cinema, do fascínio dos filmes mudos, especialmente do expressionismo alemão. Para dar um brilho especial ao seu novo filme “Brand Upon the Brain!”, a seção Fórum do 57º Festival de Berlim preparou um evento especial, com projeção no palco do Deutsche Oper Berlin, a Ópera de Berlim, com a Orquestra Volkswagen (com 34 músicos), direção musical do maestro Jason Staczek, mais três sonoplastas de um estúdio de som norte-americano (Foley Artists), e a eletrizante narração da atriz e diretora italiana Isabella Rossellini.

O espetáculo era aguardado como o principal acontecimento do festival. A previsão se confirmou no último dia 15 de fevereiro com a Ópera de Berlim lotada e uma estrondosa ovação a Guy Maddin. O cineasta canadense teve retrospectiva completa de sua obra na 28ª Mostra Internacional de Cinema. “Brand Upon the Brain!” recria com paixão toda linguagem de urgência de um filme mudo expressionista, um terror sofisticado e cheio de maneirismos.

O fascínio pelo passado está também na história original do filme. Um menino que se chama Guy como o diretor, vive prisioneiro em uma ilha com um farol. É uma ilha que isola muitas outras crianças órfãs.

Guy Maddin reinventa uma linguagem e segue único na recriação de um gênero que nos brinda com toda a atmosfera e as riquezas de expressão que explodiram com o próprio nascimento do cinema. Como se não bastassem todos os restauros de antigos filmes mudos que anualmente fazem a alegria dos cinéfilos, temos também Guy Maddin com o seu atrevido cinema que lança ainda mais luz sobre esta fascinante e assombrosa magia. Não por acaso, todos os seus personagens em “Brand Upon the Brain!” são afetados pelos enigmas do passado. Decifrá-los irá significar liberdade. Guy Maddin e seus personagens alcançam esta plenitude decodificando a rica linguagem do cinema dos pioneiros. Fonte.

Downloads abaixo:

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Arquivo anexado legenda.rar

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Bolivia...

Assistam esse vídeo, que não é mostrado pelo PIG brasileira(globo e afilhadas, e demais estações abertas). Em espanhol mas com imagens de campesinos que sobreviveram ao massacre executado por paramilitares fascistas e sicários peruanos e brasileiros, contratados pelo governador Leopoldo Fernandez.


O papel de bom, à custa de quem?



O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, afirmou que a crise econômica que atinge os Estados Unidos – e como conseqüência os demais povos do mundo – não tem resposta definitiva; no entanto, ele diz que o mesmo não se pode dizer sobre os desastres naturais que atingiram a Ilha e todas as tentativas de colocar um preço sob a dignidade dos cubanos.


Num artigo intitulado “O papel de bom, à custa de quem?”, divulgado nesta quinta-feira (17), Fidel Castro destaca que quando o governo dos Estados Unidos ofereceu hipocritamente US$ 100 mil como ajuda frente à catástrofe ocasionada pelo furacão Gustav, com prévia inspeção no local para comprovar os estragos, foi-lhe respondido que Cuba não poderia aceitar doação alguma do país que a bloqueia.


Leia abaixo a íntegra do novo artigo, reproduzido pela Agência Prensa Latina:


O papel de bom, à custa de quem?


Quando o governo dos Estados Unidos ofereceu hipocritamente US$ 100 mil como ajuda frente à catástrofe ocasionada pelo furacão Gustav com prévia inspeção no local para comprovar os estragos, foi-lhe respondido que Cuba não poderia aceitar doação alguma do país que a bloqueia; que os estragos já tinham sido calculados e o que reclamávamos era que não fosse proibida a exportação dos materiais indispensáveis e os créditos associados às operações comerciais.


Alguns no Norte se esgoelaram gritando que a rejeição de Cuba era inconcebível.


Quando o Ike poucos dias depois açoitou o país desde Punta de Maisí ao Cabo de San Antonio, os vizinhos do Norte foram um pouco mais hábeis. Amenizaram a linguagem. Falaram de aviões prontos para partir com produtos no valor de US$ 5 milhões; que não teriam a necessidade de serem avaliados, porque já o haviam feito por seus próprios meios, que não podem ser outros que os de espiar o nosso país. Desta vez sim, pensaram, que poriam a Revolução em aperto; se atreveriam a recusar a oferta, buscariam problemas com a população? Talvez pensaram que ninguém havia visto as imagens divulgadas pela televisão dos Estados Unidos quando as forças de ocupação da ONU distribuíam alimentos no Haiti à população faminta que os disputava através de uma cerca de arame farpado, dando lugar inclusive a crianças feridas.


A fome nesse país é fruto do saque histórico e sem piedade dos povos. Ali mesmo, em Gonaïve, nossos médicos arriscavam sua vida assistindo à população dessa cidade, bem como o fazem em quase cem por cento dos municípios dessa nação. Essa cooperação prossegue ali como em dezenas de nações do mundo, apesar dos furacões. À nova e astuta nota foi respondido categoricamente que: “nosso país não pode aceitar uma doação do governo que nos bloqueia, ainda que está disposto a comprar os materiais indispensáveis que as empresas norte-americanas exportam aos mercados, e solicita a autorização para o fornecimento dos mesmos, bem como dos créditos que são normais em todas as operações comerciais''.


“Se o governo dos Estados Unidos não o deseja fazer definitivamente, o de Cuba solicita que ao menos o autorize durante os próximos seis meses, especialmente se levam em conta os estragos ocasionados pelos furacões Gustav e Ike, e que ainda faltam os meses mais perigosos da temporada ciclônica”.


Não foi feita com arrogância, porque não é o estilo de Cuba. Na própria nota pode-se apreciar como se expressava com modéstia a idéia de que para nós bastava que a proibição fosse suspendida por um limitado período de tempo.


O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Carlos Gutiérrez, descartou na sexta-feira (12) que o bloqueio fosse levantado de forma temporária.


É óbvio que o governo desse poderoso país não pode compreender que a dignidade de um povo não tem preço. A onda de solidariedade com Cuba, que abarca países grandes e pequenos, com recursos e até sem recursos, desapareceria no dia em que Cuba deixasse de ser digna. Equivocam-se rotundamente os que em nosso país se desagradem por isso. Se em vez de cinco milhões fosse um bilhão, encontrariam a mesma resposta. O dano em milhares de vidas, sofrimentos e mais de US$ 200 bilhões que custaram o bloqueio e as agressões ianques, não podem ser pagas com nada.


No relatório oficial parcial foi explicado ao povo que em menos de dez dias o país havia sido afetado em mais de US$ 5 bilhões. Mas também foi explicado que essas cifras eram a preços históricos e convencionais, que nada tinham que ver com a realidade. Não deve ser esquecida nunca a explicação bem clara de que “os cálculos das perdas em moradias são sobre a base de preços históricos e convencionais, e não os valores reais a preços internacionais. Basta assinalar que para dispor de uma moradia duradoura que resista aos mais fortes ventos, requer-se um elemento indispensável que escasseia muito: a força de trabalho. Esta é igualmente necessária para um conserto temporário como para uma construção duradoura. Dita força tem que ser repartida em todos os demais centros de produção e serviços, alguns significativamente afetados, pelo o que o valor real de uma moradia no mundo e a amortização do investimento correspondente é muitas vezes maior.”


O golpe da natureza foi contundente, mas também é alentador saber que não haverá trégua nem descanso em nossa luta.


A crise econômica que atinge os Estados Unidos, e como conseqüência os demais povos do mundo, não tem resposta definitiva; no entanto, sim a têm os desastres naturais em nosso país e toda tentativa de pôr preço a nossa dignidade.


Fidel Castro Ruz
16 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma guerra que começou há muito tempo


Os conflitos que a Bolívia enfrenta hoje são uma nova etapa de uma antiga guerra. A história do país é uma história de massacres de indígenas, camponeses e trabalhadores, desde os tempos coloniais até hoje. A diferença, hoje, é que a oligarquia boliviana está sendo governada por um "índio", algo inaceitável para ela. Clique AQUI para ler o artigo do economista boliviano Ramiro Lizondo Diaz, professor da Universidade Autônoma de Barcelona.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Em época de eleições...

Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Juca Chaves - As Músicas Proibidas de Juca Chaves (1968)




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Créditos: UmQueTenha

A invasão bárbara

No ensino, ao contrário do que sempre ocorreu, o professor terá de partir partir do mundo real para o pedagógico. Isso significa que a escola começa se alimentar da inteligência coletiva que emerge da rede. Uma revolução não-televisionada, que rompe os muros da educação

Hernani Dimantas


A palavra "bárbaro" provém do grego antigo, e significa "não grego". Era como os gregos designavam os estrangeiros e os povos cuja língua materna não era a sua. Porém, foi no Império Romano que a expressão passou a ser usada com a conotação de "não-romano" ou "incivilizado". O preconceito em relação aos povos que não compartilhavam os mesmos hábitos e costumes é natural dos habitantes dos grandes centros econômicos, sociais e culturais. Atualmente, uma das acepções da expressão "bárbaro" equivale a não civilizado, brutal ou cruel.

No uso informal, "bárbaro" também qualifica pessoas ou coisas com atributos positivos: muito bonito, ótimo, muito afável, compreensivo, uma idéia muito interessante, segundo o dicionário Houaiss.

Eu creio que ainda é uma questão civilizatória. Ou seja, o mundo está em transformação. Tudo está se modificando de forma rápida. Não seria diferente no âmbito da educação.

Uma fala importante do professor Gumercindo de Andrade, da rede pública de ensino, nos faz pensar. Ele diz, inspirado em Paulo Freire, que "o professor, hoje, não vai mais partir do pedagógico para o mundo real. Ele vai partir do mundo real para o pedagógico". Isso significa que a escola começa se alimentar da inteligência coletiva que emerge da rede. Uma revolução não-televisionada que rompe os muros da educação.

Somos estrangeiros no nosso próprio mundo. Imigrantes do conhecimento, aqueles que atingem seus objetivos com trabalho e resiliência. E é certo que venceremos

Na verdade, essa barreira já foi destruída. "Os limites que separam nossas conversações parecem o Muro de Berlim hoje, mas eles realmente são apenas uma amargura. Nós sabemos que eles cairão. Nós iremos trabalhar de ambos os lados para derrubá-los (...) As conversações em rede podem parecer confusas, podem soar confusas. Mas nós estamos nos organizando mais rápido que eles. Nós temos ferramentas melhores, novas idéias, nada de regras para nos fazer mais lentos" [1]. Independentemente de querermos ou não, a cultura de rede está rompendo as sólidas estruturas concretadas desde a modernidade. Não podemos mais explicar o mundo a partir da ótica cartesiana. Descartes não dá mais conta de atender à complexidade do caos. As relações em rede formam multidões que atuam sem controle central, na concretude de um outro paradigma. Ninguém sabe aonde essa transformação vai chegar. Mas sabemos que nada será como antes.

Relembremos Pierre Levy: "ainda que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda que a escola e a universidade estejam perdendo progressivamente seu monopólio de criação e transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino públicos podem ao menos dar-se por nova missão a de orientar os percursos individuais no saber e contribuir para o reconhecimento do conjunto de know-how das pessoas, inclusive os saberes não-acadêmicos. As ferramentas do ciberespaço permitem considerar amplos sistemas de testes automatizados acessíveis a todo o momento e redes de transação entre a oferta e a demanda de competência. Ao organizar a comunicação entre empregadores, indivíduos e recursos de aprendizado de todas as ordens, as universidades do futuro estariam contribuindo para a animação de uma nova economia do conhecimento". Essa é a hora de fomentar incertezas, pois incertezas trazem nas entrelinhas uma descoberta, a busca pelo aprendizado.

Isso tudo é bárbaro! Somos estrangeiros no nosso próprio mundo. Imigrantes do conhecimento. Somos aqueles que atingem seus objetivos com trabalho e resiliência. E é certo que venceremos. Somos a invasão bárbara.

A defensiva estratégica socialista




Wladimir Pomar

A defensiva estratégica socialista teve início nos anos 1970. Mas a maior parte da esquerda, no mundo todo, teve pouca percepção de que a vitória vietnamita era o ápice do grande impulso da luta de classes em todo o mundo e que, a partir dela, o que ocorreu foi uma redução gradativa, mas forte, dos movimentos massivos e das guerras revolucionárias que haviam marcado os anos precedentes.

Embora movimentos guerrilheiros ainda tenham se mantido em alguns países, quem quer que faça um balanço cuidadoso dos anos que se seguiram à derrota norte-americana no Vietnã vislumbrará facilmente uma curva descendente. Isto, por si só, já seria suficiente para fazer com que os socialistas revissem suas estratégias e considerassem a necessidade de colocar-se em defensiva.

Ao lado disso, a União Soviética e os países socialistas do leste europeu esgotavam suas tentativas de construir o socialismo "puro", vendo-se constrangidos a buscar novos caminhos. Os primeiros sinais dessa crise apareceram no início dos anos 1960, e daí em diante só se agravaram. A China, por seu turno, em meados dessa mesma década, ingressou na mais radical tentativa de desenvolver suas forças produtivas através da participação coletiva massiva.

Quando os anos 1970 findaram, a União Soviética e os países socialistas do leste europeu, assim como Cuba e Vietnã, já haviam entrado em estagnação econômica e social. E a China, tendo esgotado o empuxo da Revolução Cultural, entrava num intenso processo de reformas para desenvolver-se, incluindo a retomada da economia de mercado.

Por outro lado, nesse mesmo período, os países imperialistas da América e da Europa ingressaram numa reestruturação profunda, para tentar superar sua tendência de queda da taxa média de lucro, agravada pelo surgimento de novos concorrentes capitalistas, como o Japão e os Tigres Asiáticos. Beneficiados pela guerra da Coréia e pelos planos norte-americanos de ajuda financeira e econômica para conter a expansão chinesa, o Japão se tornara uma nova potência econômica, enquanto os Tigres demonstravam uma competitividade inusitada.

Portanto, durante os anos 1970, seja pelo declínio das lutas de massas e revolucionárias, seja pelo esgotamento das tentativas de desenvolver as forças produtivas por meio do uso exclusivo da propriedade social, seja ainda pelo novo padrão de expansão capitalista, o socialismo já havia entrado em profunda defensiva estratégica.

O não reconhecimento desse fato, tanto econômico quanto social e político, levou comunistas e socialistas a adotarem políticas erráticas e a realizarem aventuras dos mais diferentes tipos, à esquerda e à direita, tanto nos países socialistas quanto nos capitalistas. O que contribuiu, em grande medida, para a vergonhosa derrocada dos regimes socialistas, na União Soviética e no leste europeu.

Assim, bem vistas as coisas, a defensiva estratégica do socialismo tem causas objetivas bem visíveis, fincadas no declínio momentâneo da luta de classes, na derrota do tipo soviético de construção socialista e na reestruturação que começou a levar o capitalismo a uma nova etapa de seu desenvolvimento.

Wladimir Pomar é analista político e escritor.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Ianques de Merda


A atitude de Evo e Chávez é um exemplo. Por Pedro Echeverría.

1. O governo do índio Evo Morales na Bolívia acaba de expulsar o embaixador ianque por apoiar os setores racistas de Santa Cruz, Tarija, Pando e Beni, departamentos onde as campanhas de ódio dos terra tenentes e os ricos contra o governo central, os levou até a pedir sua independência. O governo dos EUA, desde que Morales tomou posse do governo em janeiro de 2006 não param de sabotá-lo e de procurar a melhor oportunidade para derrocá-lo. Durante quase três anos o governo de Evo tem pretendido negociar com a oposição para estabelecer a paz, mas os interesses desses setores, estimulados pelo embaixador ianque, determinaram o divórcio entre os governadores desses departamentos que praticam a oposição racista.

2. Para apoiar com toda sua força a atitude de grande valentia de Evo se levanta a figura do presidente venezuelano Hugo Chávez que da forma mais conseqüente possível também pediu que o embaixador ianque abandonasse o território venezuelano mandando “à merda o governo gringo de Bush”. Esse exemplo de Chávez parece ter se entendido até a Nicarágua e Honduras. Embora aquelas infaustas e ilusas declarações de Chávez e Castro sobre a guerrilha das FARC tenham causado desânimo entre a esquerda radical, esta atitude do presidente venezuelano o reivindica. Estas coisas não acontecem por linhas retas nem conforme os desejos, senão que obedecem a realidades concretas. Mas nem sempre temos que ser críticos.

3. É elementar esclarecer que norte-americanos ou estadunidenses são os habitantes dos EUA que sofrem, como todos os povos da América, a exploração e a repressão de seu governo. Pelo contrário, os ianques ou gringos são essa minoria de poderosos empresários e governantes que além de submeter o povo de seu próprio país (EUA), ordenam as invasões, os saqueios e os assassinatos nas nações que submetem. Ao povo desse país, o único que pode se criticar, é que não tenha sido capaz de frear seus governos assassinos, mas são respeitados; pelo contrário, seus governantes e grandes empresários são repudiados no mundo todo, com exceção de alguns governantes submetidos que se arrastam como lacaios frente a eles.

4. Fidel Castro, foi o primeiro governante que desde 1960, sem pelos na língua, se enfrentou abertamente ao governo ianque e Cuba o primeiro povo que massivamente apoiou seu governante quantas vezes este o convocou para se defender das agressões gringas. Não foi nada simples que desde uma ilha de 10 milhões de habitantes, bloqueada política e economicamente por toda parte, em longos discursos de 3 a 6 horas frente a dezenas de milhares de cubanos, se falasse da situação dos povos da América e o mundo e do papel guerreirista e explorador do império estadunidense. Os discursos de Castro e pelo menos seus primeiros oito anos de governo, foram verdadeiras lições de educação política para os cubanos e o mundo.

5. A partir de 1998, para recuperar nosso ânimo, aparece no governo da Venezuela o coronel Hugo Chávez. Achávamos que seria um governo burguês militarista; porém, como aconteceu com Fidel Castro em 1959, as condições concretas de exploração e saqueio ianque nesses países da nossa América, os obrigou a tomarem medidas para poder servir seus povos. Foi então quando Chávez se transformou no melhor continuador da obra de Fidel Castro na América Latina. Na Cuba de Fidel é explicável essa confrontação porque estava saindo de uma profunda revolução armada, muito violenta, em que o povo mantinha uma grande exigência das demandas pelas que tinha lutado. Mas na Venezuela?

6. Nem Fidel nem Chávez eram marxistas ou socialistas quando assumiram o governo, embora não se possa negar que muitos companheiros deles eram. Foram as condições concretas de cada país, em que os investidores ianques saqueavam abertamente as riquezas enquanto suas populações viviam na maior miséria, fato que os transformou. Mas, como todos sabemos, essas são as mesmas condições em que vivem quase todos os países da América Latina, da África e a Ásia e as mudanças que se requerem não surgem como em Cuba, Venezuela, Bolívia ou o Equador. Isto quer dizer que nossas análises devem ser mais profundas e cuidadosas. O que aconteceu por exemplo com Lula no Brasil, Tabaré do Uruguai e Bachelet do Chile, conhecidos como socialistas?

7. A realidade é que o comportamento de Evo Morales e de Hugo Chávez frente ao poderoso assassino mundial que ocupa a Casa Branca, é um exemplo para outros governos e para os povos da América. Quantas décadas mais de medo, covardia e dependência teriam passado se Fidel Castro (em nome de um pequeno país, de uma ilha empobrecida a umas quantas milhas do maior império da história) não nos tivesse ensinado a dignidade e a valentia, apesar de ameaças, invasões e um grande bloqueio econômico? Fidel demonstrou na prática que “sim, se pode” lutar contra o monstro, enquanto outros países (como o México e da América Central) morrem de medo de levantar a voz ou por fazer uma breve declaração que ofenda o governo ianque.

8. Mas o arremate de Chávez foi ainda mais radical. Disse que apoiaria inclusive um movimento armado, uma guerrilha, se o presidente Morales fosse derrocado pelo governo de Bush. Me parece que essa declaração por si mesma é uma advertência ao imperialismo dos EUA. Essas palavras poderiam pôr em guarda os governos da Nicarágua, Equador, os mesmos bolivianos ao se demonstrar até onde querem chegar os EUA e seus aliados racistas de Santa Cruz e outros departamentos. Não creio que os ianques queiram se aventurar mais uma vez quando no Iraque e o Afeganistão estão sendo varridos pelas forças rebeldes. No México e vários países a oposição de esquerda começou a despertar realizando protestos em embaixadas e consulados gringos. Devemos fortalecê-las.

9. Os governos da Colômbia, México e Peru são os mais incondicionais aos interesses do presidente Bush. Tanto Uribe como Calderón e García conformam um grupo duro disposto a defender como der a política dos EUA na região. Por isso os meios de (des)informação dedicam diariamente muitas horas para fazer campanhas contra Chávez e Morales. No México não se pode esperar outra coisa dos grandes monopólios televisivos e radiofônicos. Com a assessoria de ianques e espanhóis, os meios de (des)informação, em nome da liberdade de expressão, desataram enormes campanhas contra as lutas de justiça e liberdade dos povos. Por esse motivo, os meios e homens livres, embora com espaços limitados, temos a obrigação de levantar a voz para ajudar o povo.

Créditos: Alquimia.org

Versão em português: Tali Feld Gleiser de América Latina Palavra Viva.