quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Se os tubarões fossem homens" - Bertolt Brecht

Debate ao vivo no Sindicato dos bancários:Olivio Dutra, protogenes e Amaury Ribeiro

Educadores criticam conceito de sustentabilidade no FST


Alessio Surian, da COFIR, em sua palestra | Foto: André Carvalho/Sul21

Vivian Virissimo no SUL21

No segundo dia do Fórum Mundial de Educação, educadores da Itália, Espanha e Burkina Fasso debateram na manhã desta quarta-feira (25) novas estratégias de educação não formal que questionem o modelo capitalista de desenvolvimento. Também criticaram as noções de sustentabilidade difundidas pelas empresas que, na visão deles, confundem o debate ambiental. Eles apresentaram metodologias diferentes de intervenção política e social para abordar o impacto das mudanças climáticas e suas consequencias para o planeta. O Fórum Social Temático (FST) é uma etapa que antecede as atividades da Cúpula dos Povos que será realizada durante a Rio+20 em junho no Rio de Janeiro.
Com o tema Justiça Ambiental: as práticas educativas para a construção de um mundo possível, o primeiro painelista, o italiano Alessio Surian, da COFIR, começou ressaltando a necessidade de superar o conceito de “sustentabilidade” para que sejam construídas políticas que garantam de fato a justiça ambiental. Ele também falou da necessidade de reconhecimento das diferentes formas de educação, que não se reduzem aos espaços da escola para difundir e estimular momentos de aprendizagem críticas. “É necessário fazer uma ponte entre educação formal e não formal. Sempre, quando falamos em educação, o assunto é reduzido à escola e há muitos lados negativos quando se tem um monopólio dos processos”, falou o italiano.
O espanhol Fernando Ballenilla da Red Ires contou a experiência de um coletivo de professores que trabalham a educação contrapondo o conceito de sustentabilidade com a temática do esgotamento dos combustíveis fósseis. “Estudando sobre o assunto e vimos que a escassez dos combustíveis de petróleo não poderia cobrir o modelo de civilização que nós tínhamos. Estamos numa crise ambiental e de recursos, que é sobretudo uma crise capitalista”, destacou. O professor também comentou que a produção de biocombustível também terá impactos drásticos na produção de alimentos no mundo com a crescente destinação da terra para produção de biocombustíves. Para ele, o debate sobre sustentabilidade é falso, uma vez que a sustentabilidade passa por frear o crescimento dos países e isto não estaria acontecendo.
“Seriam necessários três mundos para que toda a população mundial vivesse como um europeu e cinco como um estadunidense. A situação da natureza é desastrosa. Dizer que estamos trabalhando pela sustentabilidade é dizer que temos que decrescer e neste momento não estamos numa situação de sustentabilidade, pois estamos mantendo e até superando as taxas de crescimento. Como podemos ser sustentáveis se estamos crescendo?”, questionou.
Aminata Boyle contou sua experiência como educadora popular na formação de comunidades nômades de Burkina Fasso. Ela trabalha numa organização não governamental com o conceito de justiça ambiental com os indivíduos desta comunidade que têm suas atividades tradicionais afetadas pelas mudanças climáticas. No dia-a-dia com os integrantes da comunidade, Aminata contou que trabalha com a teoria do brasileiro Paulo Freire e com metodologias da Ong suíça Crianças do Mundo. “Processos educativos devem levar em conta a dimensão humana destas comunidades e sua cultura milenar. Para termos uma educação inclusiva temos que adorar estratégias com reflexão critica sobre as questões ambientais”, contou.

Dirigentes saídos das fileiras dos trabalhadores

Fonte: averdade


O  Soviete de Vladivostok era construído por operários – mecânicos, estivadores, ferroviários, etc, e a mão pesada do tsar tinha-lhes caído em cima. Uns tinham sido presos, outros forçados a vaguear pelo mundo.
Ao apelo da Revolução, regressaram do exílio. Utkine e Jordan voltavam da Austrália falando inglês; Antonov de Nápoles, falando italiano. Mélnikov, Nikíforov e Prominski saíram das prisões falando francês. Este trio tinha transformado a sua prisão numa universidade. Tinham-se especializado em matemática e agora eram peritos em cálculos, planeando gráficos tão bem como tinham planeado revoluções.
Tinham estado juntos na prisão durante sete anos. Agora que estavam livres, cada um podia seguir o seu caminho. Mas os anos duros e longos tinham-nos unido por laços de amizade mais fortes do que as cadeias que os prendiam. Tinham estado unidos na morte e agora, na vida, não podiam estar separados. No entanto, as suas opiniões divergiam bastante e cada um defendia a sua com uma energia feroz. Apesar disso, por mais profundas que fossem as suas divergências ideológicas, na prática agiam como um todo. O partido de Mélnikov não apoiava, na altura, o Soviete, mas os seus dois camaradas faziam-no. Por isso, este seguiu-os e entrou para o serviço do Soviete, como comissário dos Correios e Telégrafos.
No espírito de Mélnikov tinha-se travado uma grande batalha, que lhe deixara a face sulcada de rugas profundas e os olhos duramente marcados de sofrimento. Mas a vitória e uma grande serenidade estavam escritas no seu rosto. Os olhos brilhavam e pairava-lhe sempre um sorriso nos lábios. Quando as coisas se tornavam mais sombrias, sorria mais.
O Soviete recebeu pouca ajuda dos intelectuais. Estes proclamaram um boicote contra o Soviete, até que os operários mudassem de programa por completo. Num comício proclamaram abertamente uma política de sabotagem.
A resposta dada por um mineiro era amarga e sarcástica: “Vocês orgulham-se dos vossos conhecimentos e das vossas habilidades. Mas quem vos deu isso? Nós, com o nosso suor e o nosso sangue. Enquanto vocês se sentavam em vossas carteiras nas escolas e nas universidades, nós trabalhávamos como escravos na escuridão das minas e no fumo das fábricas. Agora lhes pedimos ajuda, e vocês nos dizem: “Desistam do vosso programa e aceitem o nosso. Assim lhes ajudaremos”. E nós dizemos: “Não desistiremos do nosso programa. Cá nos arranjaremos sem vocês “.
Que audácia suprema a destes operários, inexperientes no governo, assumindo a administração de um território tão grande como a França e tão rico como a Índia, assediado por hordas de imperialistas intriguistas e assoberbado por catadupas de problemas.
O Soviete de Vladivostok tinha tomado o poder sem ter derrubado uma gota de sangue. Isso fora fácil. Mas a tarefa que o esperava era difícil – terrivelmente difícil e complexa.
O primeiro problema a resolver era o econômico. A desorganização da indústria ao longo da guerra e da Revolução, o regresso dos soldados, e os lock-outs dos patrões enchiam as ruas de desempregados. Dando-se conta do perigo que isso constituía, o Soviete tratou de reabrir as fábricas. A administração foi entregue nas mãos dos operários e o crédito fornecido pelo Soviete.
Os dirigentes reduziram voluntariamente os seus ordenados. Por decreto do Comitê Executivo Central dos Sovietes o salário máximo de um funcionário do Soviete foi fixado em 500 rublos por mês. Os comissários de Vladivostok, tendo em conta o baixo nível do custo de vida no Extremo Oriente (reduziram o seu para 300. Depois disso, quando alguém mostrava o desejo de receber um envelope de pagamento mais pesado estava sujeito a que lhe perguntassem: “Queres ganhar mais que Lênin e Sukhánov?”. Não havia resposta para isso.

(Fonte: Lenine e a Revolução de Outubro. Albert Rhys Williams)

Vitória da truculência. O jornal JÁ fechou


Por Luiz Cláudio Cunha no SUL21

O ex-governador gaúcho Germano Rigotto e sua família, enfim, conseguiram: o , um bravo e pequeno mensário de 5 mil exemplares e 26 anos de vida em Porto Alegre (RS), fechou as portas. Sucumbiu aos dez anos de uma longa, pertinaz perseguição judicial movida pelos Rigotto, que asfixiaram financeiramente um jornal de resistência que chegou a ter 22 profissionais numa redação que hoje se resume a dois jornalistas.
A nota de falecimento do jornal foi dada por seu editor, Elmar Bones da Costa, em amarga entrevista concedida (em 16/1) aos repórteres Felipe Prestes e Samir Oliveira, do site Sul21 (ver aqui). “O caminho natural seria que eu tivesse feito um acordo. Teria resolvido isso e até voltado ao mercado. Mas, eu não tinha feito nada de errado. Fazer um acordo com Rigotto seria trair os próprios princípios do jornal”, explicou Bones, sempre altivo aos 67 anos, com passagens por grandes órgãos da imprensa brasileira (Veja, IstoÉ, O Estado de S.Paulo e Gazeta Mercantil) e pelo comando do CooJornal, o heroico mensário da pioneira Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. Na ditadura, Bones enfrentou o cerco implacável da censura e dos militares ao jornal alternativo que incomodava o regime. Na democracia, Bones não resistiu ao assédio sufocante das ações judiciais de Rigotto incomodado pelo bom jornalismo.
Generais e políticos, nos governos de exceção ou nos Estados de Direito, são exatamente iguais quando confrontados com as verdades incômodas que sustentam e justificam a boa imprensa. O ousou fazer isso, em plena democracia, contando a história da maior fraude com dinheiro público na história do Rio Grande do Sul, que carregava nos ombros o sobrenome ilustre de Germano Rigotto. O seu irmão mais esperto, Lindomar, é o principal implicado entre as 22 pessoas e as 11 empresas denunciadas pelo Ministério Público e arroladas em 1995 pela CPI da Assembleia Legislativa gaúcha que investigou uma falcatrua na construção de 11 subestações da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).

O choque de Dilma

Na época, foi um rombo de US$ 65 milhões, que em valores corrigidos correspondem hoje a R$ 840 milhões – mais de 15 vezes o valor do mensalão do governo Lula, o triplo dos desvios atribuídos ao clã Maluf em São Paulo, 21 vezes maior do que o escândalo do Detran que triscou a governadora Yeda Crusius com uma ameaça de impeachment. Em março de 1987, Lindomar Rigotto ganhou na estatal o posto de “assistente da diretoria financeira”, um cargo especialmente criado para acomodar o irmão de Germano. “Era um pleito político da base do PMDB em Caxias do Sul”, confessou na CPI o secretário de Minas e Energia da época, Alcides Saldanha. O líder do governo de Pedro Simon na Assembleia e chefe da base serrana era o deputado caxiense Germano Rigotto.Mais explícito, um assessor de Saldanha reforçou a paternidade ao jornal de Bones: “Houve resistência ao seu nome [Lindomar], mas o irmão [Germano] exigiu”.
Treze pessoas ouvidas pela CPI apontaram Lindomar como “o verdadeiro gerente das negociações” com os dois consórcios, agilizando em apenas oito dias a burocracia que se arrastava havia meses. Uma investigação da área técnica da CEEE percebeu que havia problemas na papelada – documentos adulterados, folhas numeradas a lápis, licitação sem laudo técnico provando a necessidade da obra. Em fins de 1989, Lindomar decidiu sair para cuidar da “iniciativa privada”, comandando com o irmão Julius a trepidante Ibiza Club, uma rede de quatro casas noturnas no Rio Grande e Santa Catarina. A sindicância interna na CEEE recomendou a revisão dos contratos, mas nada foi feito.
A recomendação chegou ao governo seguinte, o de Alceu Collares, e à sucessora de Saldanha na secretaria de Minas e Energia, uma economista chamada Dilma Rousseff. “Eu nunca tinha visto nada igual”, diria Dilma, eletrificada com o que leu, pouco depois de botar o dedo na tomada e pedir uma nova investigação. Ela não falou mais no assunto porque, em nome da santa governabilidade, o PDT de Collares precisava dos votos do PMDB de Rigotto para aprovar seus pleitos na Assembleia. Mesmo assim, antes de deixar a secretaria, em dezembro de 1994, Dilma Rousseff teve o cuidado de encaminhar o resultado da sindicância para a Contadoria e Auditoria Geral do Estado (CAGE), que passou a rastrear as fagulhas da CEEE com auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Ministério Público.

O primo sem perdão

O então deputado estadual Vieira da Cunha, do PDT do governador Collares e da secretária Dilma, hoje deputado federal e forte candidato a ministro do Trabalho da presidente Dilma, propôs em 1995 a CPI que jogaria mais luzes sobre a fraude na CEEE. Vinte e cinco auditores quebraram sigilos bancários, fiscais e patrimoniais dos envolvidos. Em 13 depoimentos, Lindomar Rigotto foi apontado como a figura central do esquema, acusação reforçada pelo chefe dele na CEEE, o diretor-financeiro Silvino Marcon. A CPI constatou que os vencedores, gerenciados por Rigotto, apresentaram propostas “em combinação e, talvez, até ao mesmo tempo e pelas mesmas pessoas”.
A quebra do sigilo bancário de Lindomar revelou um crédito em sua conta de R$ 1,17 milhão, de fonte não esclarecida. O relatório final da CPI caiu nas mãos de outro caxiense, que não poupou ninguém, apesar do parentesco. O petista Pepe Vargas, que foi prefeito de Caxias do Sul e hoje é deputado federal pelo PT, é primo de Lindomar e Germano Vargas Rigotto. “De tudo o que se apurou, tem-se como comprovada a prática de corrupção passiva e enriquecimento ilícito de Lindomar Vargas Rigotto”, escreveu o primo Pepe no relatório final sobre o mano de Germano.
Pela primeira vez, entre as 139 CPIs criadas no Rio Grande do Sul desde 1947, eram apontados os corruptos e os corruptores. Além de Lindomar Rigotto e outras 12 pessoas, a Assembleia gaúcha aprovou o indiciamento pela CPI de 11 empresas, sem poupar nomes poderosos como os da Alstom, Camargo Corrêa, Brown Boveri, Coemsa, Sultepa e Lorenzetti. As 260 caixas de papelão da CPI foram remetidas no final de 1996 ao Ministério Público, transformando-se no processo n° 011960058232 da 2ª Vara Cível da Fazenda Pública em Porto Alegre. Os autos somam 100 volumes e 80 anexos e envolvem 41 réus – 12 empresas e 29 pessoas físicas. E tudo isso corre ainda hoje num inacreditável “segredo de Justiça”. Em fevereiro próximo, o Rio Grande do Sul poderá comemorar os 16 anos de completo sigilo sobre a maior fraude de sua história – até o dia em que um magistrado com a coragem da corregedora Eliana Calmon apareça para acabar com este desatino.

A queda e o tiro
 
Duas mortes tornaram ainda mais turbulenta a biografia de Lindomar. A primeira morta foi uma garota de programa, Andréa Viviane Catarina, 24 anos, que despencou nua em setembro de 1998 do 14º andar de um prédio no centro de Porto Alegre, a duas quadras do Palácio Piratini, sede do governo estadual, que Germano Rigotto ocuparia cinco anos mais tarde. O dono do apartamento era Lindomar, que ali estava na hora do incidente. Ele contou à polícia que a garota tinha bebido uísque e ingerido cocaína. Os exames de laboratório, porém, não encontraram vestígios de álcool ou droga no sangue da jovem. A autópsia indicou que a vítima apresentava três lesões – duas nas costas, uma no rosto – sem ligação com a queda, indicando que ela estava ferida antes de cair. Três meses depois, Rigotto foi denunciado à Justiça por homicídio culposo e omissão de socorro. No relatório, o delegado Cláudio Barbedo achou relevante citar o depoimento de uma testemunha descrevendo o réu Lindomar como “usuário e traficante de cocaína”.
A segunda morte é a do próprio Lindomar, aos 47 anos, baleado no olho em fevereiro de 1999, quando perseguia o carro dos assaltantes que levaram a renda do baile de carnaval de sua boate, na praia de Atlântida. A bala certeira arquivou o processo pela morte da garota de programa e engavetou para sempre o seu indiciamento na CPI da CEEE. Ficou no ar o mistério de duas mortes que levantaram mais perguntas do que respostas, terreno fértil para o bom jornalismo. O contou esta intrigante história, sem adjetivos, baseado apenas no inquérito da polícia e nas atas da CPI, compondo uma densa reportagem de quatro páginas retumbantes que ocupou a capa da edição de maio de 2001 sob um título envolvente: “O Caso Rigotto – Um golpe de US$ 65 milhões e duas mortes não esclarecidas”.
O resultado foi tão bom que ganhou os dois principais prêmios jornalísticos daquele ano no sul: o Esso Regional e o ARI, da Associação Riograndense de Imprensa. Todo mundo gostou, menos a família Rigotto. O político ilustre da família, Germano, preparava seu voo como candidato do PMDB ao Piratini e aquele tipo de reportagem, com certeza, não trazia bons ventos. Mas, quem entrou na Justiça contra Bones e o foi dona Julieta Rigotto, hoje com 90 anos, a mãe do futuro governador e do finado réu da CEEE. Uma ação de calúnia e difamação atribuía a Bones o que era uma conclusão do delegado Barbedo: o envolvimento de Lindomar com o tráfico de drogas. Outra ação, contra o jornal, pedia indenização por dano moral.

Coisa da mamãe
 
Bones ganhou todas as ações contra ele, em todas as instâncias. Até o promotor Ubaldo Alexandre Licks Flores rebateu o pedido de dona Julieta, em novembro de 2002: “[não houve] qualquer intenção de ofensa à honra do falecido Lindomar Rigotto. Por outro lado é indiscutível que os três temas [a CEEE e as duas mortes] estavam e ainda estão impregnados de interesse público”. Duas semanas depois, a juíza Isabel de Borba Luca, da 9ª Vara Criminal de Porto Alegre, deu a sentença que absolvia Bones: “(…) analisando os três tópicos da reportagem conclui-se pela inexistência de dolo (…) em nenhum momento tem por intenção ofender (…) não se afastou da linha narrativa (…) teve por finalidade o interesse público”. Em agosto de 2003, por unanimidade dos sete votos, os desembargadores do Tribunal de Justiça negaram o recurso da bravíssima dona Julieta. E o caso foi encerrado na área criminal.
Na área cível, contudo, dona Julieta nunca mais perdeu, a partir de 2003, quando Rigotto já era governador. Bones foi condenado em 2003 a indenizar a matriarca em R$ 17 mil. Ele reagiu e, em 2005, a Justiça ordenou a penhora dos bens da empresa. Em 2009, quando a pena já estava em R$ 55 mil, um perito foi nomeado para bloquear 20% da receita bruta de um jornal comunitário quase moribundo. Cinco meses depois o perito foi embora, sem um tostão, penalizado com a visível indigência financeira do jornal. Em 2010, os advogados de Rigotto conseguiram na justiça o bloqueio das contas pessoais de Bones e seu sócio, o jornalista Kenny Braga.
Antes disso, em novembro de 2009, a família Rigotto fizera uma proposta indecente a Bones. Um acordo para pagar os R$ 55 mil em módicas 100 (cem) prestações mensais, a retirada das bancas da edição do que contava a história de suas desventuras e a publicação de uma nota fundada em duas premissas: “Dona Julieta nunca teve intenção de fechar o jornal” e “a ação não é da família, mas apenas de dona Julieta”. Germano Rigotto, o filho inocente, não aceitava a paternidade do processo. “Isso é coisa da minha mãe”, repetia ele, indignado, replicando o mesmo que dizia José Sarney quando questionado sobre a ação de censura que impede o jornal O Estado de S.Paulo há dois anos e meio de noticiar supostas traficâncias de Fernando Sarney no submundo das verbas federais: “Isso é coisa do meu filho”, repetia Sarney, injuriado, replicando o mesmo que dizia Germano Rigotto…

A censura do bolso
 
Essa cansativa lenga-lenga jurídica esvaiu a energia que restava do jornal. “A condenação por dano moral é uma coisa completamente absurda”, lembrou Bones na entrevista ao Sul21. “A reportagem que gerou a condenação produziu uma outra sentença, na área criminal do mesmo tribunal, dizendo que a reportagem era correta, de interesse social e não ofendia ninguém. Mas, ao se arrastar, o processo foi gerando efeitos colaterais políticos. Quando começou, em 2002, o Rigotto era candidato ao governo do Estado. Quando houve a decisão, em 2003, ele já era governador. E aí as coisas mudam de figura, porque o jornal foi condenado em função de uma ação movida pela mãe do governador, uma senhora [então] octogenária”.
Bones conta: “Ninguém queria saber os detalhes. Pensavam: ‘o jornal foi condenado, gerou dano moral à mãe do governador, é um jornal desaforado’. Quando fui à audiência, a juíza me tratou como o editor de um pasquim qualquer. Ela nem tinha lido a matéria. Levei os papéis, expliquei, e ela então mudou de postura. Assim, esse efeito se propagou no meio jornalístico e publicitário. No governo, automaticamente, o jornal e a editora foram banidos. Como o governo é o principal anunciante do Estado, estar mal com ele é estar mal com todas as maiores agências de publicidade. Sentimos isso pesadamente. Isso foi somado a um conjunto de fatores conjunturais que nos levou a uma situação de insolvência”.
Bones pega no osso da questão quando lembra o efeito de intimidação generalizada que um processo cível provoca sobre a pauta das redações, um efeito perverso sentido cada vez mais na imprensa brasileira, sufocada pelo que ela chama de “censura pecuniária” de quem recorre cada vez mais aos tribunais para calar eventuais denúncias que contrariam interesses de agentes, políticos e governantes desonestos. “Inicialmente, o objetivo [de Rigotto] era ter uma sentença favorável para poder desqualificar o conteúdo da reportagem e tentar regular a produção de outras… Resolvi entrar com recursos e até hoje não paguei nada. E hoje o jornal não tem mais chão nenhum para negociar”, conta Bones, que tinha conseguido refinanciar suas dívidas pelo Refis da Receita Federal.
“Estava pagando normalmente. Mas aí, com os apertos financeiros em decorrência do processo da família Rigotto, houve atraso no pagamento de algumas parcelas e fomos excluídos do Refis. Entramos na Justiça, ganhamos em primeira e em segunda instância e voltamos para o Refis. Mas houve um recurso da União ao STJ, passados mais de dois anos, e uma outra sentença nos excluiu do Refis. Toda a dívida renegociada venceu e o que voltou para ser quitado, mesmo após cinco anos de pagamentos, com juros, correção monetária e multas, aumentou em dez vezes o valor”.

Uma pauta maldita
 
Somando e multiplicando tudo, o resultado final dessa conta é o fechamento do , vítima talvez da mais longa ação judicial contra a liberdade de expressão no Brasil da democracia. Todo esse drama do e de Elmar Bones, como a roubalheira da CEEE, ainda está envolto num espantoso “sigilo de imprensa”. Ninguém fala, ninguém comenta os detalhes e os antecedentes suspeitos e criminosos que levaram à maior fraude da história do Rio Grande do Sul e à incrível punição de quem a denunciou, não de quem a praticou.
O processo da CEEE se arrasta há 16 anos sob um manto de segredo incompatível com a transparência, a rapidez e a lisura que se exige da Justiça.
Estranhamente, esta é uma pauta que ninguém abraça na imprensa gaúcha e brasileira. Curiosamente, o desfecho final da saga de Elmar Bones e do não mereceram uma única nota de apoio, mero desconforto ou formal solidariedade de jornais, jornalistas, blogueiros ou entidades antes vigilantes na defesa da liberdade de expressão como ANJ, Abert, ABI, Fenaj, Abraji, ARI, sindicatos e assemelhados.
O que aconteceu com Bones e o , pelo jeito, não lhes diz respeito. Ou jamais acontecerá com eles.
O que aconteceu com Germano Rigotto, o filho inocente de dona Julieta, todos sabem. Sobreviveu a duas recentes, retumbantes derrotas na sua declinante carreira política.
Em 2006, quando tentava a reeleição como governador, ficou num surpreendente terceiro lugar, perdendo por míseros 16.342 votos a vaga no segundo turno para a noviça tucana Yeda Crusius, que acabaria vencendo o petista Olívio Dutra por 300 mil votos de vantagem.
Em 2010, Rigotto sofreu um baque ainda maior. Disputando uma das duas vagas ao Senado como favorito, acabou ultrapassado por outra novata em política, a jornalista Ana Amélia Lemos, do PP, eleita com 3,4 milhões de votos, um milhão a mais do que Rigotto. O senador mais votado, com quase 4 milhões, foi Paulo Paim, do PT.
Germano Rigotto ainda não informou se tentará algum cargo municipal nas eleições de 2012.
 
[Luiz Cláudio Cunha é jornalista]

Começa o Conexões Globais 2.0 no FST


Está tudo pronto na Casa de Cultura Mario Quintana e nesta quarta-feira (25) começa o Conexões Globais 2.0. Webconferências, paineis, oficinas e shows incrementam a programação desse encontro de ativistas e organizações que defendem a liberdade na internet e utilizam a rede como plataforma de mobilização para suas lutas. Todas a tividades serão transmitidas ao vivo! Acompanhe e divulgue!

A programação inicia às 14h, com uma série de oficinas práticas voltadas para o uso de novas tecnologias e estratégias de comunicação. A tarde avança com os Diálogos Globais: a partir das 16h, a Travessa dos Cataventos na CCMQ receberá o público para debater sobre “A internet como direito humano”. Direto da Espanha, o advogado especialista em direitos digitais, Javier de la Cueva - participará do evento via webconferência. Do lado de cá estarão a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário; o cientista político e professor da UFRJ Giuseppe Cocco e o especialista em Gerência em Engenharia de Software Rogério Santanna.

Na sequência, a partir das 18h15, começa o segundo Diálogo Global do dia, com o tema “Da Primavera Árabe à Internet na Construção da Democracia 2.0. O cantor e compositor Gilberto Gil estará lá para conversar sobre as manifestações que marcaram 2011 como o ano das manifestações que questionam os limites da democracia representativa. Além do Gil, participam do debate o jornalista Antônio Martins e o coordenador-geral do Gabinete Digital do Governo do RS, Vinicius Wu. Via webconferência, a jornalista e escritora especializada em Oriente Médio Olga Rodriguez também estará no bate-papo.

Oficinas

Todas as oficinas funcionarão no 5º andar na CCMQ, em quatro espaços: a Sala de Leitura, a Sala Sapato Florido, a Sala de Vidro e o Hall do Jardim. As inscrições estão encerradas, mas se você estiver realmente interessado, pode vir até o evento e aguardar pela chance de alguém desistir e uma vaga aparecer na hora. Isso não é certo, mas você pode contar com a sorte.

Conexões culturais

Entre um debate e outro, às 17h30, quem sobre ao Palco é o músico Cláudio Levitan. À noite, após um dia intenso de bate-papo, trocas e vivências multimídias e multiculturais, é hora de relaxar um pouco e entrar no embalo show do cantor Lirinha. A apresentação está marcada para às 20h, quando ele lançará seu primeiro CD solo, denominado LIRA.

No repertório, Lirinha promete animar o público com faixas inéditas e músicas de sua autoria, registradas quando integrava o grupo Cordel do Fogo Encantado. Acompanham Lirinha os músicos Neilton (guitarras), Ângelo Medrado (bateria), Astronauta Pinguim (teclado),Hugo Carranca (percussão) e Igor Medeiros (sintetizador).

Confira aqui toda a programação de cada oficina em cada dia.

Fonte: Conexões Globais 2.0

Mauro Santayana: A direita e a pena de morte



Pergunte-se à senadora Kátia Abreu (PSD-TO) se ela concorda com a pena de morte para quem contratar pistoleiros para assassinar trabalhadores sem terra e seus líderes.

Por Mauro Santayana no CARTA MAIOR


A direita, no mundo inteiro, é acossada pela crise que ela mesma causou, e é nesses momentos que o perigo se torna maior. Os indignados saem às ruas, mas lhes falta direção política consequente. Os protestos, se não são alimentados de projetos claros e definidos, se perdem. Os atos de contestação dependem de ideologia e programas, que só os intelectuais são capazes de elaborar. A direita, no Brasil e no mundo, se reorganiza. A classe média é facilmente atraída por suas bandeiras da direita, com a que lhe promete "segurança".

Como muitos observam, as agitações podem ser facilmente vencidas pela repressão policial, mas as mudanças sociais – ou os atos de resistência contra o abuso do poder econômico – dependem de esforço intelectual tático e estratégico. O esforço intelectual, bem se entenda, não é o dos filósofos em suas torres de marfim, mas dos líderes experientes, que sabem como reunir e orientar os protestos e as reivindicações das grandes massas.

Já há sugestões de que, passadas as festas de Natal, os dirigentes das principais organizações populares do país – centrais sindicais, MST, entidades religiosas não vinculadas à direita, enfim, os movimentos do centro para a esquerda – reúnam-se em grande encontro, bem preparado, a fim de discutir a situação interna do país, da América Latina e do mundo. Desse encontro deve surgir um plano de ação política que mantenha os direitos que ainda conservamos, e os amplie.

O governo brasileiro se encontra sob a pressão da direita, que usa seus representantes no Congresso a fim de dificultar à presidente o cumprimento de sua vontade. Ainda agora, a senadora e fazendeira Kátia Abreu, representante da direita rural no Senado da República, e não do povo do Tocantins, está propondo que o seu partido, o PSD – que segundo Gilberto Kassab não é de esquerda, nem de direita, nem de centro, assuma a posição de centro-direita, sem constrangimentos. Ela se baseia em pesquisas com a classe C, que concorda, em seu sofrimento cotidiano, com a pena de morte e outras medidas radicais e irreversíveis.

Todos nos horrorizamos com a insegurança, sobretudo, a dos pobres, as maiores vítimas do narcotráfico, dos assaltos, da violência policial, dos preconceitos e da discriminação. E serão também estes os primeiros a serem executados, como ocorre no mundo inteiro, porque não podem pagar bons advogados.

É preciso fechar o passo à direita, e o caminho melhor é o de retomar o controle dos setores estratégicos da economia pelo Estado. A privatização das empresas estatais terá que ser revista, o conceito de empresa nacional do texto original da Constituição de 1988 deve ser restaurado e as transações brasileiras com os paraísos fiscais, proibidas. Com essas medidas, o país terá condições de combater os seus males antigos, como os da corrupção policial, as deficiências da educação e da saúde, e a força do poder econômico sobre a política. É assim que podemos obter a paz das ruas, não com a pena de morte. Pergunte-se à senadora se ela concorda com a pena de morte contra os fazendeiros que contratam pistoleiros para assassinar trabalhadores sem terra e seus líderes sindicais.

O fato é que a direita, no Brasil e no Mundo, se reorganiza. A classe média é facilmente atraída pelas bandeiras da direita, que lhe promete a "segurança". Ainda agora se sabe que a crise, na Europa e nos Estados Unidos, atinge com o desemprego também os profissionais mais qualificados. Foi o que se passou nos anos 1930, em que o fascismo, na Itália, e o nazismo, na Alemanha, recrutaram a classe média – e também os mais pobres e desinformados – para os seus quadros. O mesmo ocorreu na Espanha de Franco e em Portugal, com Salazar, com mais facilidade, em razão do apoio total da Igreja o que, felizmente, não ocorre entre nós.

É importante que todos os movimentos populares estejam mobilizados, como se propõe, a fim de sustentar uma política social que vem retirando milhões de brasileiros da miséria e promovendo desenvolvimento econômico sustentado, embora sob o impacto negativo da crise mundial. Essa crise foi provocada pelos banqueiros larápios, em conluio com governantes medíocres, como Obama, Merkel, Sarkozy, Cameron, Zapatero (seu sucessor, Rajoy, consegue ser pior) e outros menos notados.

Filme Russo

Elena
(Elena)
Elena (Andrei Zvyagintsev, 2011) 
 
Créditos: CAÇADOR - MAKING OFF
Poster
Sinopse
O premiado diretor russo Andrei Zvyagintsev (de "O Retorno") foi recompensado na mostra Um Certo Olhar, de Cannes. No enredo, a modesta Elena casou-se pela segunda vez, porém seu rico marido se revela um homem frio, sobretudo quando pensa em deixar toda a sua fortuna para a filha da união anterior. Mas a protagonista vai tentar dar outro rumo à herança.

Legenda exclusiva por Lu stoker e nandodijesus
Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)

Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Andrey Smirnov, Elena Lyadova, Andrey Smirnov, Alexey Rozin, Evgenia KonushkinaGênero: Drama
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Duração: 109 minutos
Ano de Lançamento: 2011
País de Origem: Russia
Idioma do Áudio: Russo
IMDB: www.imdb.com/title/tt1925421/
Qualidade de Vídeo: BR Rip / DVD Rip
Vídeo Codec: V_MPEG4 ISO AVC / XviD
Vídeo Bitrate: 4 200 Kbps / 1 737 Kbps
Áudio Codec: A_DTS / AC3
Áudio Bitrate: 1 510 Kbps / 384 kbps CBR 48 KHz
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Premiações
Vencedor do Prêmio do Júri da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes
Crítica
Premiado em Cannes, Elena mostra peso da família

Elena é um dos melhores filmes da 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Com roteiro, direção e interpretação afiadas, o filme coloca em xeque o peso de nossas decisões, o papel da família, o amor e a submissão.

Um casamento pouco explicado é o que sustenta o começo dessa produção russa. Elena (Evgenia Konushkina) acorda, vai até o quarto do marido, abre as cortinas. “Bom dia”, diz. Prepara o café da manhã sob silêncio. À mesa, tentam conversar sobre algo. “O que você fará hoje?”. Pergunta retórica. Um relacionamento que parece se pautar pela conveniência de ambos.

Ambos têm uma família complicada. Abastado, Vladimir (Andrey Smirnov) tem parte de seu dinheiro sugado por uma filha que pouco vê. Pobre, Elena também vê sua renda apropriada por seu filho preguiçoso e desempregado, Sergei (Aleksey Rozin).

Mesmo casados há dez anos, há um fosso entre Elena e Vladimir. Mais cedo ou mais tarde, o buraco se tornará visível. O que encanta em Elena, vencedor do Prêmio do Júri da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, é a maneira sinfônica com que o filme é conduzido.

Com uma encenação primorosa, acompanhamos o prelúdio, o interlúdio e o poslúdio. Correndo o risco de cair em fáceis soluções morais, o filme de Andrei Zvyagintsev (O Retorno) toma o caminho mais difícil: o de, após estabelecida uma relação de empatia com a personagem, questionar se ela tomou a decisão certa.

Elena é um filme que pode ser lido sobre o peso da família em nossas decisões, o apoderamento de uma mulher submissa, o buraco entre ricos e pobres, a distância de um casamento, a juventude sem rumo. Basta escolher qual filme você prefere.


 
 
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Irã: O que está por detrás do embargo Europeu


Anna Malm*  no ODIARIO
Os caminhos da agressão à Síria passam através do Líbano. Os caminhos que estrategicamente agridem o Irão passam através da Síria. Os caminhos que agridem ou afectam estrategicamente a Rússia e a China passam através da Síria e do Irão.


Não são só as vastas reservas de energia e recursos naturais do Irão que atiçam a cobiça dos dirigentes dos países economicamente impotentes da União Europeia assim como do líder deles todos, os Estados Unidos. Sabemos que foi sempre essa cobiça, de mãos dadas com a debilidade económica, que esteve por detrás das guerras ilegais dos últimos vinte anos, a mais recente das quais a da Líbia.
Agora temos que os caminhos que levam a Moscovo e a Pequim passam por Teerão, capitais localizadas respectivamente na Rússia, China e Irão. O que se tem passado em relação às atitudes agressivas ocidentais dos últimos anos em relação à Síria e ao Irão insere-se também num quadro de considerações políticas geo-estratégicas mais amplas. [1]
No estudo apresentado em [1] considera-se que os caminhos que levam a Moscovo e a Pequim passam por Teerão do mesmo modo que os caminhos que levam à Teerão passam por Damasco na Síria, Bagdad no Iraque e Beirute no Líbano.
Destaca-se que os Estados Unidos querem controlar o Irão por razões políticas e económicas bem como para satisfazer as suas próprias necessidades de energia. E querem também poder controlar a forma de pagamento das exportações do petróleo do país. Querem que o pagamento das exportações de petróleo do Irão seja feito em dólares.
E isso para que o uso global e permanente do dólar nas transações internacionais seja mantido e não posto em causa, como tem sido nos últimos tempos. Deve lembrar-se que o uso do dólar como moeda de pagamento internacional é uma das duas pernas em que o controlo americano sobre o mundo se sustenta, apesar de tudo. Digo apesar de tudo porque o dólar não tem valor nenhum por si mesmo. Poderia e deveria ser trocado por sistemas de pagamento mais condizentes com a realidade de 2012 e não condizentes com a realidade de 1945, como é o caso. A outra perna em que se sustenta o poder americano sobre o mundo é a força militar.
Controlando o Irão através de um regime de fantoches posto no poder através de uma guerra dirigida pelos Estados Unidos e executada pelos seus aliados (como foi o caso na Líbia e como estão ameaçando fazer na Síria) Washington também estaria a pôr uma corda no pescoço da China.
Essa corda iria ser apertada ou afrouxada de acordo com os interesses norte americanos, dando-lhes o controle da segurança energética da China. Se a China não se comportasse de acordo com os interesses americanos lá estariam eles a asfixiá-la através do estrangulamento do fornecimento do petróleo. Estrangulamento esse que seria garantido pelos fantoches estabelecidos no Irão à custa do sangue de muitos milhares e milhares de inocentes no Irão e no Oriente Médio, assim como à custa de uma desestabilização económica no mundo inteiro, se não de uma catástrofe global.
É um facto do conhecimento geral que a ameaça de guerra aberta hoje visível é uma continuação dos acontecimentos desencadeados por acções encobertas há já uns anos. Essas acções encobertas incluem serviços de informação específica, ataques e vírus cibernéticos, grupos militares secretos, espiões, assassinos, agentes de provocação e sabotadores agindo contra o Irão em favor dos interesses ocidentais.
O sequestro e assassínio de cientistas iranianos e de comandantes militares é do conhecimento público. Sabe-se de diplomatas iranianos sequestrados no Iraque e de iranianos visitando a Arábia Saudita e a Turquia que foram detidos e sequestrados. Sabe-se de oficiais sírios, assim como de vários palestinos e representantes do Hezbollah que também foram assassinados. Destaque-se que foram assassinados e não detidos e colocados perante um tribunal de justiça.
Pressupõe-se que Israel tenha atacado o Líbano não só para exterminar ou pelo menos enfraquecer o Hezbollah, mas também para atingir estrategicamente a Síria. Como já foi dito anteriormente, os caminhos que agridem a Síria passam através do Líbano. Os caminhos que estrategicamente atingem o Irão passam através da Síria. Os caminhos que agridem ou afectam estrategicamente a Rússia e a China passam através da Síria e do Irão.
A Síria é o apoio e o eixo do bloco da resistência contra os abusos ocidentais na região. Essa resistência é apoiada pelo Irão. Há já cinco ou seis anos que os Estados Unidos, acompanhados pelos seus “irmãos de armas” locais tentam desligar a Síria do Irão. Essa tentativa vinha sido feita através de esforços para seduzir a Síria. Uma vez que a Síria não se deixou seduzir pelas ofertas ocidentais, as tentativas de sedução transformaram-se em ameaças e em preparativos para a guerra.
Combater a Síria é combater o Irão. Esse é um ponto central a ser tido em conta no contexto actual. A balança do poder e da influência política hoje na região pende a favor do Irão, mas nada enfraqueceria mais o Irão do que a perda da Síria.
Há aqui cenários potencialmente devastadores. Iria o Irã manter-se passivo frente a um ataque à Síria, ataque esse liderado pelos interesses ocidentais? Podemos pressupor que não. Os Estados Unidos não desejam que esse potencial cenário se concretize. O que eles querem é atacar a Síria e depois atacar o Irão, não atacar os dois juntos. Seria demasiado até mesmo para os EUA-UE-OTAN. Isto já para não se mencionar a cadeia de acontecimentos imprevisíveis que uma tal acção desencadearia.
A marcha para uma guerra total e devastadora prossegue enquanto os Estados Unidos intensificam a guerra política e económica, da qual a decisão de embargo da União Europeia é apenas um passo mais. É uma marcha fúnebre dirigida por loucos falidos e letalmente armados.

REFERÊNCIAS E NOTAS:
[1] Mahdi Darius Nazemroaya é sociólogo e autor consagrado especializado em questões do Oriente Médio e da Ásia Central. Tendo estudado e analisado extensamente a situação actual, argumentou no sentido núcleo das ideias que aqui retransmitimos. Originalmente o núcleo sequencial de ideias e conclusões aqui apresentadas foi publicado em “News”- “Obama´s Secret Letter to Tehran: Is the war against Iran on hold?”, em www.strategic-culture.org - Strategic Culture Foundation, Moscovo.
*De Estocolmo para o Irã News, em www.iranews.com.br

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Imagens da Marcha de Abertura do FST 2012

Inglaterra em tempos de crise: luta por paz e liberdade



Aproximei-me dos militantes para perguntar se tinham alguma ação direta programada para aquele dia. Em seguida, uma garota alta de cabelos longos me ofereceu uma cadeira ao seu lado e se despiu da máscara para dizer que o único plano concreto do movimento era seguir com a acampada
por Fabíola Munhoz no LeMondeBrasil
(Acampamento dos "Indgnados" em Londres)
Se, por um lado, o que é novo tem a capacidade de reciclar nosso olhar mais puro, por outro, deparar-se com o diferente é também lançar-se à crítica e ao distanciamento. Tive essas percepções quando, em vésperas de natal, pisei pela primeira vez em solo inglês. Ali, conheci uma Londres bonita, limpa e incrivelmente organizada. Em toda sua qualidade de vida avessa ao caos das metrópoles latinoamericanas, com as quais estou acostumada, a cidade me pareceu perfeita demais para ser real. Seus pubs aconchegantes, ônibus em estilo retrô de dois andares, edifícios históricos bem preservados e prédios modernos e climatizados causavam deslumbre sem que eu me sentisse parte de tudo aquilo.
Foi assim, como forasteira cética e ingênua, que perdi boa parcela do dinheiro que havia levado, na conversão de euros para libras esterlinas. O Pound era vendido a 1,33 euros no aeroporto, mais a cobrança de uma taxa pelo serviço de câmbio. Soube depois que, caso tivesse sacado minhas libras diretamente de algum banco, usando um cartão de débito internacional, teria economizado um valor considerável das minhas preciosas divisas.
E, de fato, qualquer moeda de 5 centavos (ou cinco coins) é bem raro para o turista que chega a Londres. O custo de vida na capital inglesa é altíssimo, um dos maiores do mundo. É verdade que os salários locais também são mais altos e, para quem recebe em unidades dessa moeda tão forte, viver ali deve ser como estar em qualquer outro lugar. Mas, tive a impressão de que por essa estabilidade da economia os cidadãos pagam o preço de serem reféns do trabalho. Por metrôs, ruas e lojas, homens e mulheres transpiram pressa por fazer ou consumir algo. Os caixas de supermercado são máquinas de atendimento automático para poupar tempo. E não se manter ao lado direito da escada rolante por distração é emperrar o ritmo frenético da cidade. 
Loucuras como essa podem ser sentidas e sofridas em qualquer metrópole moderna, mas soaram piores, naquela ocasião, porque se aproximava o dia 25 de dezembro, com seu apelo comercial transformador de populações em formigueiros desvairados, e também pelo frio que fazia na capital inglesa, para mim motivo de mau humor. A Oxford Street, rua famosa por sua diversidade de lojas, via-se infestada de consumidores e, enquanto caminhei por ali, observando mais os prédios e luzes decorativas que os produtos expostos nas vitrines, recordei a notícia publicada naquele mesmo dia (12/12) pelos principais jornais europeus, de que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, não havia concordado em ratificar o último pacto proposto pela União Europeia para recuperação das economias do continente.
O acordo anunciado pelo Parlamento Europeu, em Bruxelas, no dia 9 de dezembro, tinha como meta exigir dos Estados-membros da zona do euro maior disciplina orçamentária, com o objetivo de enfrentar a crise econômica. Essa unidade em política fiscal foi rejeitada por Cameron sob os argumentos de que o pacto não garante proteção aos países e a rejeição da Inglaterra ao seu conteúdo seria uma salvaguarda necessária ao mercado financeiro inglês.
É de se compreender a decisão do primeiro-ministro. Em Londres, não pude observar qualquer sinal de crise financeira ou pobreza, e a moeda circulante, mais forte que o euro, refletia essa preocupação do governo britânico em manter como prioridade a defesa dos interesses internos, independentemente de sua posição ou influência dentro da Europa. Porém, embora formalmente a Inglaterra se resguarde de uma integração mais profunda à zona do euro, na prática, muitos londrinos sabem que a transnacionalização de políticas é inevitável no atual contexto de interdependência econômica que caracteriza o planeta. Inclusive, Londres tem sabido bem como mostrar-se aberta a essa interação com outros países sempre que lhe convém.
A partilha internacional de prejuízos econômicos e ambientais, bem como dos danos decorrentes de guerras lucrativas, realizadas ao redor do mundo, sucede desde que esse país se tornou potência. Sabendo disso, e descontentes com o atual modelo político e econômico adotado por seu país, um grupo de jovens indignados ingleses, acampados desde a manifestação internacional do dia 15 de outubro deste ano, passam o frio cortante do inverno londrino abrigados em tendas de lona instaladas frente à catedral de St. Paul, com o propósito de reivindicar participação política.
No dia 13 de dezembro, fui até o local, onde pude ver dezenas de barracas espalhadas pelo pátio frente à porta principal da igreja. A maioria delas estava decorada com mensagens contra as desigualdades sociais, a fome, a dominação dos mercados sobre os governos e o capitalismo financeiro. Poucos passantes paravam para ler esses reclames, talvez devido ao mau tempo. Com o frio excessivo, a maioria dos manifestantes também estava ausente.
Apenas três tendas centrais maiores tinham a presença de ativistas, uma destinada à informação sobre o movimento, outra onde aconteciam as assembleias gerais e uma terceira, que era cozinha comunitária. Depois de passar por esse último stand, onde jovens comiam pães e bolachas, enquanto um senhor sentado sobre uma cadeira de madeira lia poesias de sua autoria, voltei a caminhar entre as barracas menores. Nesse instante, encontrei um grupo de quatro jovens usando máscaras de anônimos. Um deles era entrevistado por três garotas, que se identificaram como estudantes de Audiovisual da Westminster School, interessadas em fazer um documentário sobre os indignados ingleses.
Aproximei-me dos militantes para perguntar se tinham alguma ação direta programada para aquele dia. Em seguida, uma garota alta de cabelos longos me ofereceu uma cadeira ao seu lado e se despiu da máscara para dizer que o único plano concreto do movimento era seguir com a acampada. “Aqui é território da Igreja, e temos permissão dela para permanecer acampados pelo tempo que a gente quiser. Não temos previsão de partida”.
Nossa conversa foi interrompida por outro ativista que me ofereceu um cobertor, enquanto convidava as estudantes documentaristas para uma conversa que, segundo ele, poderia ser gravada com tranqüilidade e proteção contra o frio num pub próximo dali. Seguimos então até o bar: eu e as três documentaristas, além de três garotas e cinco garotos que usavam máscaras de anônimos mais como identificação de sua militância que para preservar a própria identidade. Num papo regado a grandes canecas de uma cerveja encorpada, um dos indignados criticou o controle de grandes grupos econômicos e instituições financeiras sobre a política mundial, enquanto uma das estudantes, de cabelo negro e curto, dividia a atenção entre a fala do rapaz e os cuidados com o enquadramento da cena. Pouco depois, um militante magro e de movimentos rápidos (o mesmo que havia me oferecido o cobertor na praça da catedral) disse lutar por liberdade e por uma participação política que o permita discordar dos gastos de recursos públicos com a compra de material bélico. “O dinheiro que gastamos com a guerra hoje seria mais que suficiente para acabar com a fome no mundo”, falou antes de pedir licença e se dirigir ao jardim de inverno onde tinha permissão para fumar.
A entrevista durou cerca de uma hora. Depois, as documentaristas agradeceram pela ajuda e se separaram do grupo. Segui com os militantes de volta à Basílica de St. Paul e, durante esse caminho, pude conversar com uma jovem alemã de cabelos vermelhos, que vive em Londres há mais de uma década e não pensa em voltar ao seu país. Ela disse que conheceu o movimento dos indignados ingleses via internet, mas não acredita que as mídias sociais são as responsáveis pela atual onda de acampadas espalhadas por todo o mundo. “Essas ferramentas facilitaram o encontro entre as pessoas, mas a vontade de protestar e de mudar as coisas já existia dentro de cada um de nós”.
De volta ao alojamento, os indignados se separaram para realizar diferentes atividades, e eu me detive um minuto a observar a igreja que acumulava em sua porta principal uma fila gigantesca de turistas e devotos. “O que toda essa gente quer ver aí dentro?” – perguntou-me um rapaz cabeludo. Respondi que tampouco compreendia tanto interesse pelo edifício, já que não me considero devota a nada. Ele sorriu, dizendo que devia ser o Natal despertando a busca pela religião dentro da gente. Depois se apresentou como Willian, DJ, artista de rua e imigrante húngaro. Disse passar todos os dias pelo acampamento por concordar com os motivos da luta, embora não acreditasse muito na eficácia da realização de assembleias gerais. “É muito blá, blá, blá, e pouca ação concreta. Às vezes passam uns filmes interessantes, e eu acho legal a ideia. Mas, só se reunir aqui para falar não vai resolver nada”.
Decidi acompanhar uma dessas reuniões para saber se compartilharia a crítica de Willian. Eram 19h00 do dia 13 de dezembro, e o encontro havia acabado de começar, com um senhor de barba branca falando sobre a necessidade de se expandir o movimento para que cada vez mais pessoas tenham o direito de se expressar. A tenda onde a discussão ocorria foi se enchendo de gente, até o lugar se tornar pequeno. A assembleia, então, transcorreu como um debate sem fim entre idealistas radicais que queriam mudar o mundo e pediam o respeito de todos aos interesses comuns, e manifestantes mais preocupados em reclamar de temas internos, como a dúvida entre chamar ou não a polícia diante de um conflito particular entre acampados.
A discussão foi longa, com muitas interrupções, desrespeito a turno de palavras e um constante embate entre imigrantes e ingleses. Sentia-se também certa segmentação em grupos: negros, brancos, jovens de classe média e menos abastados mantinham relativa distância entre si. Foram tantas as discordâncias, os confrontos interpessoais e os desvios de tema, que nada foi decidido. Tive a impressão de que todos perdiam tempo quando em posse do microfone e poucos apresentavam disposição em ouvir. Um bebê, que permaneceu durante toda a assembleia quieto no colo de seu pai, apesar de gritos dos mais exaltados, mostrava-se o mais civilizado do ambiente. Devidos aos ânimos acirrados, a reunião terminou antes do previsto. Um garoto de gorro e olhos azuis, que se identificou como participante da organização da acampada, percebeu que eu era estrangeira e foi logo se desculpando pelo tumulto. “Nossas assembleias não são sempre assim. Hoje a situação fugiu um pouco do controle”. Nesse instante, o artista de rua húngaro interrompeu a conversa, discordando do jovem inglês, sem disfarçar certa intenção em hostilizá-lo. “Como eu te disse, quem está aqui não sabe muita coisa, eles estão protestando há muito pouco tempo. Você devia mesmo era conhecer aqueles que estão acampados há anos em frente ao Parlamento”, sugeriu Willian.
Por coincidência, eu já havia visitado essa outra acampada. Passando por volta das 14h00 daquele mesmo dia (13/12), frente ao portão principal do Parlamento inglês, onde se encontra o Big Ben, constatei a presença de cerca de quinze barracas instaladas da outra banda da rua. Os cartazes pregados ao lado das tendas indicavam que a luta daquelas pessoas estava diretamente relacionada com sua discordância em relação à participação da Inglaterra em guerras, como as iniciadas pelos países aliados contra o Iraque e o Afeganistão.
Billy, um senhor com cerca de 70 anos de idade, que recolhia assinaturas num abaixo-assinado pelo fim dos gastos do erário inglês em campanhas belicistas, contou-me que aquela acampada, conhecida como Peace Strike Parliamente Square (Greve pela paz da Praça do Parlamento) já existe há dez anos, e essa resistência tem rendido algumas conquistas, como a promessa do governo inglês de que as tropas do país que atualmente se encontram no Afeganistão regressarão a casa a partir de 2014. Essa informação me foi dada com otimismo por Billy, que é escocês e disse ter abandonado a profissão de engenheiro para se dedicar ao ativismo pela paz.
Curiosamente, o militante já foi soldado. Aos 17 anos de idade, quando atuava num embate entre Escócia e Islândia (1950-1960) por uma disputa de território marítimo, foi obrigado a cometer seu primeiro assassinato legalmente justificável. “Eu poderia ter atirado na perna do inimigo quando caiu no chão sem defesa. Mas, não fiz isso. Sem pensar, simplesmente atirei para matar”. Seus olhos se encheram de água à medida que voltou ao passado, revelando uma mescla de culpa e sensibilidade para transformar traumas em ação por mudanças. Faz isso atualmente como diretor da Remind, organização de caridade e apoio a ex-servidores do Exército, com sequelas físicas e psicológicas decorrentes da guerra, e suas famílias.
Billy também é um dos principais incentivadores da acampada pela paz frente ao Parlamento, cuja última ação foi organizar um strike internacional, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade mundial para os cortes em educação, saúde, liberdades civis, pensões, emprego, assistência legal e moradia, realizados pelo governo inglês, em consequência dos seus gastos com a guerra contra o Afeganistão. A iniciativa, prevista para durar do dia 30 de novembro a 3 de dezembro de 2011, abrangeu greve trabalhista; boicote a shoppings, supermercados e distribuidoras de petróleo; paralisação de enfermarias, instituições de ensino e sistemas de transporte não essenciais, e o corte de audiência à TV, em protesto contra o sensacionalismo e o retrato da guerra como espetáculo.
Além disso, o foco maior da luta das pessoas que ali se encontram com suas barracas é o risco de que Estados Unidos, Israel e Europa iniciem uma guerra contra o Irã. “Sabemos que esse país é o próximo da lista e que a guerra é lucrativa. Mas não podemos permitir que isso aconteça. O povo não decidiu a favor desses conflitos, foram eles”, disse Billy apontando ao Parlamento.
O movimento, apesar do muito tempo em que se mantém ocupando um passeio público, jamais sofreu repressão policial ou tentativa de desalojo porque sua ação é permitida por lei. Essa liberdade para protestar e a qualidade de vida do cidadão inglês, que, quando desempregado, tem acesso a uma bolsa mensal, contrastam com a torre luxuosa do Parlamento, que parece alcançar o céu enquanto se distancia das pessoas comuns e da realidade das ruas, controlando o tempo a cada badalada do seu imenso relógio. Divago assim até ser acordada por outra fala de Billy, temperada com o senso prático de um verdadeiro escocês: “Embora diferente do seu país, Londres também é realidade”.

Fabíola Munhoz - Jornalista

FST 2012: Boaventura de Sousa Santos analisa o processo do Fórum Social Mundial

Fórum Mundial de Educação abre atividades discutindo a crise capitalista


 Texto: Ane Nunes / Comunicação FST2012

O Salão de Eventos da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul recebeu nesta terça-feira, 24, mais de 300 pessoas para a abertura do Forum Mundial de Educação (FME), evento que integra a programação do Fórum Social Temático. Além dos representantes de movimentos ligados à educação de diversos estados brasileiros, participaram também educadores de Portugal, Peru, Chile, Bélgica, Espanha, Itália, África, Haiti, Uruguai, Bolívia e Argentina. Sob a coordenação de Leslie Campaner de Toledo a primeira atividade do FME contou com a participação de educadores ligados a atividades alternativas de educação.

Sérgio Haddad, do movimento Ação Educativa (Brasil), abriu a primeira mesa de debates, cujo eixo central tratou da crise capitalista, suas causas, impactos e conseqüências para o mundo da educação. Haddad contextualizou a evolução histórica do sistema capitalista e destacou a importância de analisar com calma a crise e como os movimentos sociais que estão em constante organização tem ocupado papel importante no processo de identificação de soluções potenciais.
Ele disse, ainda, que essa crise converge num momento muito particular e que seus reflexos ainda não chegaram aos países emergentes como Brasil, China, África do Sul e Índia porque esses povos estão buscando mecanismos econômicos que permitem sua colocação no mercado internacional. Entretanto, alguns sinais da crise já podem ser observados nesse cenário, como a onda de imigração de haitianos para o Brasil que está se formando devido à intensa redução da qualidade de vida no Haiti. “Sem serviços públicos adequados a distância de cada país é maior a cada ano e as diferenças entre os indivíduos também aumentam. A mídia internacional tem mostrado o aumento do número de pobres e de milionários, o que cria um espaço muito grande entre esses dois tipos de indivíduos. Além disso, com a qualidade e o nível de consumo que a população realiza hoje não há bens naturais suficientes de maneira sustentável”.
Haddad criticou ainda o quanto o modelo capitalista tem criado também uma crise de natureza conceitual onde o valor das pessoas se dá pelo consumo e sua relação com o mercado, que por sua vez produz bens para satisfazer cada vez mais essa falsa necessidade. “O valor está naquilo que indivíduo tem, aquilo que ele usa, quanto ele tem no banco e não no que ele realmente é. Esse modelo está criando uma crise civilizatória”, completa.

Haddad chamou a atenção também que o sistema capitalista é insustentável em relação à questão ambiental, social e econômica por se pautar na separação dos povos entre os países e entre indivíduos do mesmo país. Sobre o modelo de “esverdear”a economia, Haddad colocou que há um grande avanço no movimento que é válido, mas que a profundidade da crise exige que se pense em outro modelo com outros valores alternativos . “Ações individuais são importantes, mas as grandes corporações devem assumir suas responsabilidades sócio-ambientais. Não podemos nos satisfazer apenas com uma roupagem ambiental. Temos que trabalhar para que o ser humano e o ambiente existam em harmonia para um modelo realmente sustentável”.

Nélida Cespedes (CEAAL, Perú), iniciou sua participação focando na preocupação que os educadores devem ter para não formarem apenas consumidores. Ela reforçou a idéia de que a crise civilizatória se expressa em todos os aspectos da vida, em todo o planeta e conseqüentemente será também percebida na educação. Nélida compartilhou experiências com o público e questionou “Que articulações estamos fazendo ou propondo no âmbito local ou nacional em termos de justiça, democracia e justiça ambiental?”. Além disso, comentou que são muitas perguntas e que devemos seguir formulando novas perguntas para que mais respostas surjam e cada vez mais se criem políticas que sustentem outra forma de educação. “Precisamos conjugar eu, tu e nós com um único sonho social e com a mesma intensidade”, destacou a educadora peruana.
Finalizando a primeira mesa de debates a educadora das Filipinas Gigi Francisco, destacou que o modelo capitalista de educação que é baseado em acúmulo financeiro e contratos sociais voltados para o consumo está se quebrando em diversos lugares do mundo. O modelo de educação atual ainda está voltado apenas para a formação de indivíduos em áreas que contemplem essa necessidade de consumo e isso tem criado níveis intermediários de trabalho. “Outro modelo de educação que valorize mais cursos com questões mais humanas seria uma forma mais produtiva de formação”, ressaltou Gigi Francisco.
O FME segue nesta quarta-feira, 25, com a mesa “Justiça ambiental: práticas educativaspara a construção de um outro mundo possível”. Confira a programação completa aqui.

Assista a marcha de Abertura do FST ao vivo....

Fórum Social num mundo de incertezas

Por Altamiro Borges

Teve início hoje, em Porto Alegre (RS), o Fórum Social Temático-2012. O evento, que faz parte do Fórum Social Mundial inaugurado nesta mesma cidade em 2001, deve reunir cerca de 40 mil ativistas de várias partes do planeta. Eles participarão de cerca de 900 oficinas, debates, marchas e shows, num rico processo de reflexão sobre os desafios dos movimentos sociais na atualidade.



O debate de abertura, realizado no Palácio Piratini, contou com as presenças de José Graziano, recém-empossado diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch, entre outros convidados.

Três temas centrais

Ainda na manhã desta terça-feira, teve início o Fórum Mundial da Educação, que ocorre paralelamente ao Fórum Temático. Já no período da tarde, acontece a tradicional marcha de abertura do evento. Ativistas sociais, intelectuais de renome e governantes de vários países participarão da rica programação do FST. A presidente Dilma Rousseff, num gesto positivo, confirmou a sua participação.

Entre outros temas, três deverão concentrar as atenções dos participantes: a crise mundial do capitalismo, as novas ameaças de guerra e a defesa do meio ambiente. Inaugurado em janeiro de 2001, o Fórum Social Mundial já deu importantes contribuições às lutas dos povos no planeta. Ele serviu como plataforma programática para a vitória de vários governos progressistas na América Latina.

Crise capitalista e risco de guerra

Estes onze anos, porém, não verificaram apenas avanços da humanidade. Muito pelo contrário. O mundo hoje está mais perigoso e carregado de incertezas. Nos EUA e Europa, os trabalhadores são as principais vítimas da prolongada e sistêmica crise capitalista, com a explosão do desemprego, a regressão de direitos e a ascensão de governos dos banqueiros, num novo tipo de fascismo.

Na crise, as potências capitalistas se tornam mais agressivas. Barack Obama frustrou todas as expectativas de mudança e aguçou a política belicista e expansionista dos EUA. Na Europa, os governos de direita também acionam a Otan na carnificina imperialista. Há fortes indícios de que está em curso uma nova guerra de rapina, desta vez no Irã, com efeitos imprevisíveis.

Nesta semana, de 24 a 29 de janeiro, os lutadores sociais que tomam Porto Alegre e outras cidades da região metropolitana serão chamados a refletir sobre estes enormes desafios e a adotar plataformas e planos de ação contra esta onda regressiva e destrutiva do capitalismo. A unidade e ousadia nas respostas serão decisivas para concretizar o lema de que “Outro mundo é possível”.

Dilma Rousseff defende Enem como deselitização da universidade


Da Redação do SUL21

A presidenta Dilma Rousseff aproveitou cerimônia nesta segunda-feira (23) ao lado do ministro da Educação, Fernando Haddad, para reagir às críticas feitas nos últimos meses ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“Quero fazer a defesa do Enem como a forma mais democrática de acesso dos jovens brasileiros ao ensino universitário”, afirmou Dilma, durante cerimônia pela concessão de um milhão de bolsas de estudo do Programa Universidade para Todos (ProUni). O ato transformou-se em uma despedida antecipada de Haddad, que deixa Brasília nesta terça-feira (24/01) para ser o candidato do PT à prefeitura de São Paulo.
“Acredito que o Enem é o exemplo da determinação do ministro Fernando Haddad no sentido de assegurar uma transformação e uma deselitização do ensino universitário no Brasil.” Dilma também fez questão de lembrar da mudança no foco da educação iniciada no governo Lula, deixando de enxergar cada nível como separado dos demais e apostando na valorização de todos os ciclos. “Hoje achamos óbvio (…). Teve uma época que esse foi o tema da discussão e isso explica por que nossas universidades foram sucateadas.”
Mais tarde, em conversa com jornalistas, Dilma informou que a ideia é que duas edições do Enem sejam realizadas em 2013. O cancelamento da prova em abril deste ano foi o último motivo para críticas ao trabalho de Haddad. O ministro culpou a decisão judicial que deu acesso de estudantes a provas do exame realizadas no ano passado pela dificuldade em realizar duas edições já neste ano.
O Enem entrou no centro das críticas desde que teve alterado seu objetivo, deixando de ser um instrumento para estabelecer uma espécie de ranking de universidades para ser o principal método, em termos numéricos, para o acesso ao ensino superior. A nota do Enem vale para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que dá vagas em universidades federais, e para o ProUni, que distribui bolsas de estudo em instituições privadas.
Nas últimas semanas, as críticas ganharam força com a confirmação da saída de Haddad para ser candidato em São Paulo. Alguns veículos de comunicação consideram que o fato de ser novato em disputas eleitorais pode ser a grande fraqueza do ministro, apesar de não haver denúncias sobre sua atuação política.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Após repressão policial, moradores de Pinheirinho procuram um lugar para viver


 

Pinheirinho
Muitos moradores saíram apenas com os documentos e a roupa do corpo | Foto: Divulgação/Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos

Samir Oliveira no SUL21

O pedreiro Benedito Alves, de 52 anos, acordou às 5h30 de domingo (22) para tomar um copo d’água. O dia mal se anunciava, mas ele já percebia que havia algo estranho em Pinheirinho. “Escutei barulho de helicóptero e, quando saí para a rua, tinha 200 policiais na volta”, lembra.
Benedito só teve tempo de chamar sua esposa, que tem 64 anos, e sair correndo de casa, conforme ordenavam os homens fardados com armas nas mãos. No meio da confusão, o pedreiro não escapou de ser alvejado na perna. “Mandaram sair e pegar somente os documentos e uma muda de roupa. Fui agredido, levei um tiro de borracha na perna, foi um caos muito grande”, comenta o morador de Pinheirinho – bairro pobre da cidade de São José dos Campos, em São Paulo, que foi invadido pela Polícia Militar, que executava uma ação de reintegração de posse sem a permissão da Justiça Federal.

Deslocado para uma igreja na região, junto com cerca de 1,5 mil dos mais de 5 mil moradores de Pinheirinho, Benedito não sabe para onde irá depois que o templo não mais lhe der abrigo. “Minha casa vai ser demolida, e tudo que eu tenho está lá dentro. Não tenho para onde ir. O certo mesmo seria eu ir morar na casa do Cury”, comenta, irritado, ao mencionar o nome do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB).
Pinheirinho
Expulsos de suas casas, moradores se amontoam em abrigos improvisados | Foto: Filipe Jordão
Expulso de sua casa e jogado num abrigo sem colchão, banheiro, cobertor ou perspectivas, o pedreiro apela ao único poder no qual confia: “Só mesmo Deus para nos ajudar numa hora dessas”.

“Nos tiraram de lá que nem cachorros”

A diarista Climelta de Souza Abreu, de 30 anos, está desesperada. Expulsa do lugar onde vivia há oito anos, ela não sabe o que dizer a suas filhas – de 14, 10, 9 e 6 anos. “Eles me perguntam onde nós vamos morar e eu não tenho nenhuma resposta para dar. Não tenho para onde ir”, lamenta, sem conseguir conter as lágrimas.
Assim como toda a população de Pinheirinho, Climelta foi escorraçada de sua casa e agora se amontoa com suas crianças numa igreja nas redondezas. A diarista ainda está horrorizada com a maneira como ela e seus vizinhos foram tratadas pela polícia. “Nos tiraram de lá que nem cachorro. Bateram em várias mulheres, inclusive em grávidas”, conta.

“Virou um campo de guerra”

A ação da Polícia Militar de São Paulo para desocupar a comunidade de Pinheirinho, em São José dos Campos, não ocorreu por acaso num domingo. Assim como não foi por acaso que ocorreu sem nenhum tipo de aviso prévio.
Pinheirinho
Foto: Kit Gaion

O poder público sabia que os mais de 5 mil moradores do local estavam dispostos a proteger com a vida o terreno inativo há mais de 30 anos e que utilizavam como lar desde 2004. Nas últimas semanas, na iminência de uma ação policial, os habitantes de Pinheirinho haviam se armado com paus, escudos e canos de PVC.
Pegos de surpresa na manhã de domingo, mal tiveram condições de reagir diante dos mais de 2 mil policiais, 220 viaturas, 100 cavalos, 40 cães e dois helicópteros que cercaram o local. Sitiados em seu próprio bairro, alguns moradores começaram a jogar pedras. Em troca, recebiam bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
“Estavam sitiados com a tropa de choque na porta de suas casas. Começou uma reação dos moradores e virou um campo de guerra”, descreve a jornalista Eliane Mendonça, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.

“A Justiça trabalha pelo direito à propriedade, não pelo direito à dignidade”, critica deputado

Assim que ficou sabendo da ação policial para arrancar os moradores de Pinheirinho de suas casas, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) se deslocou para o local, onde chegou ainda na manhã de domingo (22). Assim como todas as autoridades que tentaram interceder para que a operação não ocorresse, o parlamentar não conseguiu transpor a barreira policial que bloqueava o acesso ao bairro.
Pinheirinho
Foto: Divulgação/Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos

O deputado lamenta que a ação da polícia tenha ocorrido à revelia de duas liminares que impediam a desocupação de Pinheirinho: uma extinguindo por 15 dias o processo de falência da empresa detentora do local – de propriedade do empresário Naji Nahas –, e outra da Justiça Federal impedindo a reintegração de posse. “É uma Justiça que trabalha pelo direito à propriedade, não pelo direito à dignidade humana e à vida”, critica Ivan Valente.
Presente para avalizar a ação, o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Rodrigo Capez, irmão do deputado estadual Fernando Capez (PSDB), ignorou a liminar entregue por um oficial da Justiça Federal e garantiu a continuidade da desocupação.
Também presente no acesso a Pinheirinhos, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) aponta suas críticas ao governo estadual, do tucano Geraldo Alckmin. “Foi mais uma demonstração de que o PSDB ainda trata o tema social como caso de polícia”, condena o petista.
Ivan Valente está recolhendo denúncias de abusos ocorridos contra moradores e pretende convocar uma audiência pública para tratar do caso na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. “Vamos convidar testemunhas e autoridades, inclusive o prefeito Eduardo Cury”, adianta.

Secretário da presidência da República levou um tiro na perna

Não foram somente os moradores pobres de Pinheirinho que foram alvejados pela polícia durante a ação de reintegração de posse ocorrida no último domingo (22). Dessa vez, a repressão foi, a seu modo, democrática: atingiu até os altos escalões de Brasília.
O secretário nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, subordinado ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, foi atingido na perna por uma bala de borracha enquanto tentava, em vão, interceder junto à polícia.
Claudio Vieira /O VALE / Rede Brasil Atual
Na semana passada, moradores haviam se armado para esperar a polícia executar reintegração de posse | Foto: Claudio Vieira /O VALE / Rede Brasil Atual

A identificação oficial e a autoridade de quem representava a presidente Dilma Rousseff não foram o bastante frente à truculência. “Peguei o meu cartão da Presidência, mas o que recebi foram armas apontadas para mim”, disse o secretário, em declaração à imprensa nesta segunda-feira (23).
“Percebendo um perigo real, voltei e fui conversar com os moradores. De repente, começaram a voar bombas de gás. Todos saíram correndo e eu levei um tiro, que me atingiu na perna. Eu, como representante da Presidência da República, fui atingido por uma bala. Estou indignado”, comentou.
Depois de ser alvejado, Paulo Maldos tentou, novamente, se identificar como representante da Presidência da República. A única resposta que ouviu de um oficial da Polícia Militar foi um deboche: “Se você quiser, vai pedir para a sua presidente vir falar comigo”.

Informações desencontradas sobre mortos e feridos

Até agora, nenhuma informação oficial sobre a ação de reintegração de posse em Pinheirinho apresenta número de mortos ou feridos. A Polícia Militar de São Paulo diz apenas de foram detidas 16 pessoas e que tudo ocorreu “com tranquilidade”.
Porém, entre os moradores expulsos de suas casas, pipocam inúmeras informações, dentre elas a de que teriam ocorrido sete mortes – inclusive a de uma menina de quatro anos, que teria sido atingida no pescoço por uma bala de borracha. Além disso, há denúncias de que pessoas estão desaparecidas.
Pinheirinho
Foto: Divulgação/Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos

“Oficialmente, nem a prefeitura nem a polícia confirmam nada. Mas cada morador tem uma história para contar. Há crianças desaparecidas, mães que procuram seus filhos e filhos que procuram seus pais idosos”, relata a jornalista Eliane Mendonça, que passou a segunda-feira (23) numa igreja convertida em acampamento.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São José dos Campos, Aristeu César Pinto Neto, garantiu que a operação policial fez vítimas fatais. “O que se viu foi a violência do Estado típica do autoritarismo brasileiro, que resolve problemas sociais com a força da polícia. Há mortes, inclusive de crianças. Estamos fazendo um levantamento no IML e tomando as providências para responsabilizar os governantes que fizeram essa barbárie”, disse, em entrevista à TV Brasil.