“É um filme contra o obscurantismo, a dor e os fundamentalismos neste
país”. Foi assim que o cineasta espanhol Javier Fesser recebeu, em
fevereiro de 2009, seis estatuetas do Goya (prêmio máximo do cinema
espanhol) pelo filme “Camino” (“Um caminho de luz”, em português):
melhor filme, melhor realizador (Javier Fesser), melhor atriz (Carmen
Elías), melhor atriz revelação (Nerea Camacho), melhor ator coadjuvante
(Jordi Dauder) e melhor roteiro.
O obscurantismo e o fundamentalismo ficam por conta da Opus Dei,
organização ultra-conservadora da Igreja Católica que desafia as
fronteiras entre o fanatismo, a psicopatia e a sem-vergonhice. “Camino” é
uma homenagem pessoal de Fesser a uma menina de 13 anos chamada Alexia
González-Barros e mostra a maneira como a Opus Dei manipula a sua doença
e a transforma num sacrifício que se deve oferecer a Deus. Na tela, é
retratada pelo nome de Camino, em referência ao livro homônimo de
Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador da ordem.
O fanatismo católico está presente dentro da casa da menina,
encarnado no corpo da mãe, uma carola fundamentalista que vai se
confessar para pedir perdão por desejar um milagre que salvasse a vida
da própria filha. Em retribuição a esse infinito amor maternal, a filha,
Camino, vê a mãe como uma espécie de demônio em seus sonhos.
“Camino” (disponível nas locadoras) é um filme extraordinário que
trata de um tema extremamente duro, mesclando uma corrosiva crítica ao
fanatismo religioso e um olhar doce e cheio de imaginação da menina que
sofre a terrível coincidência de encontrar seu primeiro amor, um menino
chamado Jesus, e descobrir que tem um agressivo câncer. Submetida a
diversas e dolorosas cirurgias, ela fala em Jesus o tempo todo, o
menino, não o Messias, como entendem sua mãe e os psicopatas da Opus
Dei. Daí para virar candidata à santa é um pulinho, com direito a uma
pornográfica conversa entre um padre e a mãe. O obrador de Deus tenta
convencer a dita cuja que é melhor Camino morrer logo para iniciar o
processo de canonização.
O filme, disse ainda o diretor, acabou se tornando, durante sua
realização, uma procura da verdade com “dezenas de testemunhas de gente
maravilhosa presa injustamente numa instituição chamada Opus Dei”.
“Camino” causou forte polêmica na Espanha, berço da prelazia apoiada por
parte da elite empresarial e famílias tradicionais e com forte
influência na cúpula da Igreja Católica, tanto na Espanha como em Roma.
Por aqui também a Opus Dei anda colocando suas manguinhas de fora.
Recentemente, um jovem padre da Catedral Metropolitana de Porto Alegre,
ligado à organização, foi capa do caderno Donna, da Zero Hora,
apresentado como um “padre pop”. Alguns gabinetes da Faculdade de
Direito da UFRGS também respiram esse odor fundamentalista católico.
Para quem se interessa pelo tema, “Camino” é um filme obrigatório.
Mostra alguns detalhes da vida interna dessa organização e de seus
códigos de conduta, para não falar de diversas patologias travestidas de
fervor religioso. Deus nos livre dessa gente!
Dica do turquinho: Faça download do filme aqui
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