O
povo fez demitir-se um governo inteiro, negou-se a pagar a dívida dos
bancos e os mais importantes foram nacionalizados, bancários e altos
executivos foram encarcerados por esbanjar o dinherio do povo e acaba de
ser constituída uma assembleia popular para redigir uma nova
constituição que defenda os interesses do populares.
A negativa do
povo da Islândia a pagar a dívida que as elites abastadas tinham
adquirido com a Grã Bretanha e a Holanda gerou muito medo no seio da
União Europeia. Prova deste temor é o absoluto silenciamento do que está
a acontecer nesta ilha norte-europeia. Nesta pequena nação de 320.000
habitantes a voz da classe política burguesa tem sido substituída pela
do povo indignado perante tanto abuso de poder e roubo do dinheiro da
classe trabalhadora.
O mais admirável é que esta guinada na
política sócio-económica islandesa está a acontecer de um jeito pacífico
e imparável. Uma autêntica revolução contra o poder que nos tem
conduzido até a crise atual.
Este processo de democratização da
vida política que dura já dois anos é um claro exemplo de como é
possível que o povo não pague a crise gerada pelos ricos.
Esta
tomada de consciência e luta pela instauração de uma autêntica
democracia no país cujas decisões recaiam no povo e não nos políticos
burgueses contrasta com as mornas contestações dos povos europeus.
Lembremos
como para além da luta grega, a mais importante de todas as que está
havendo no continente europeu, países como o Estado espanhol ou Portugal
estão aplicando as políticas antidemocráticas do FMI com poucos
empecilhos.
No Reino de Espanha apenas a luta nas nações sem
estado -a Galiza, o País Basco e os Países Catalães- tivo certa dosse de
radicalização com as greves gerais convocadas em exclusivo nestes
povos. No resto do estado o controlo da luta operária pelos sindicatos
espanhóis CCOO e UGT tem permitido esfriar a quente atmosfera social que
começa de novo a aquecer com as mobilizações dos "indignados e
indignadas" do 15-M.
Mas que é o que aconteceria se o resto de povos europeus tomassem exemplo?
Expomos a seguir os importantes avanços do povo islandês face ao controlo popular do seu Estado:
2008.
Nacionaliza-se o principal banco do país. Queda da moeda nacional, a
bolsa suspende a sua atividade. O país declara-se falido.
2009. Os
protestos populares frente ao parlamento conseguem a convocatória de
eleições antecipadas e provocam a demissão do Primeiro Ministro, e de
todo o seu governo em bloco. A situação económica do país é preocupante.
Uma
lei propõe a devolução da dívida à Grã Bretanha e à Holanda através do
pagamento de 3.500 milhões de euros, quantidade que será paga por todas
as famílias islandesas mensalmente durante os próximos 15 anos com uns
juros de 5,5%.
2010. O povo toma as ruas e solicita submeter a lei a referendo.
Em janeiro de 2010 o Presidente nega-se a ratificá-la e anuncia que haverá consulta popular.
Em
março o referendo deixa clara a opinião do povo: 93% dos votos são
contrários ao pagamento por parte do povo da dívida gerada pelos bancos.
Dívida que sim está sendo paga com o dinheiro público noutros pontos da
Europa como no Estado espanhol com a bênção do governo social-democrata
do PSOE.
Por sua vez, o governo iniciou uma pesquisa para
esclarecer as responsabilidades da crise. Començam as detenções de
vários bancários e altos executivos. A Interpol dita uma ordem e todos
os burgueses implicados fogem do país.
Neste contexto de crise,
uma assembleia popular é eleita para redigir uma nova constituição que
recolha as lições aprendidas da crise e que sustitua a atual, a
semelhança da constituição danesa.
Para levar ao cabo este
trabalho recorre-se diretamente ao povo soberano. De 522 pessoas
candidatáveis 25 ciudadãos, sem filiação política, são eleitos. Para se
candidatar apenas era preciso ser maior de idadr e ter o apoio de 30
pessoas.
A assembleia constitucional començará o seu trabalho em
fevereiro de 2011 e apresentará um projeto de carta magna a partir das
recomendações consensuadas em distintas assembleias que terão lugar por
todo o país.
Deverá ser aprobada pelo atual Parlamento e pelo que for constituído após as próximas eleições legislativas.
Eis
a breve história da Revolução Islandesa: demissão de todo o governo,
nacionalização da banca, referendo para o povo decidir sobre as medidas
económicas que devem ser adoptadas, prisão para os responsáveis da crise
e da falência do país e elaboração de uma nova constituição pelo povo.
O
povo islandês soube dar uma lição de democracia à Europa toda e ao
resto do mundo. Uma lição, porém, silenciada pela mídia que continua a
representar os interesses de quem gerou esta crise: a burguesia.
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