Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 13 de março de 2011
Leis do fumo, produção e consumo de drogas lícitas e ilícitas
sábado, 8 de janeiro de 2011
Colônia: a mais majestosa catedral alemã
sábado, 1 de janeiro de 2011
2011! seja bem vindo!
No nosso estado sulino Tarso Genro, em seu discurso de posse hoje de manhã abordou três eixos que certamente seu governo terá como preocupação fundamental: o primeiro será a questão da geração de emprego e renda pois o mundo do trabalho assim o exige; num segundo ponto teremos as questões da
E para nosso rigozijo nesse ano que inicia, um video e uma musica de Chico Burque nos lembrando o quanto tivemos e teremos que lutar para afastar de vez tudo aquilo que aprisiona, mata e tortura.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Para relaxar......e pensar....
O hipocondríaco é, antes de tudo, um forte
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Por que sou a favor de benefícios assistenciais
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
O carrinho de bebê adaptado como trailer a reboque de bicicleta
terça-feira, 6 de julho de 2010
Tragédia em Pernambuco....
-Produtos de limpeza
-Água mineral
-Colchões
-Mobília em geral
Quem quiser pode também contribuir com a conta:
CC – 258-4
Operação – 06
Caixa Econômica Federal
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Europa gelada.....
Natal branco, Natal em branco: os desastres na Europa
Enquanto a Europa congela, a falha dos modelos meteorológicos mostra mais uma vez os danos das mudanças climáticas.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Depoimento de Carlinhos Medeiros em seu blog....
E tenho motivos de sobra para não gostar. Enquanto a minoria ganha presentes, viagens e outros mimos de príncipes e princesas, a maioria vive nas ruas, drogada, abandonada e prostituída. Nem sequer sabe que hoje é o seu dia, nem ao menos sabe o que é ser criança, apesar das brincadeiras de pique - esconde permanecerem em seu imaginário [...]
E ganham às ruas. Vão viver debaixo dos viadutos, dentro dos esgotos como ratos assustados, fazendo pequenos furtos, trocando o corpo frágil e sem esperança por um punhado de drogas, a fim de esquecer o abandono e as dores.
Feliz dia das crianças? A TV Globo deverá passar programas especiais dedicados à minoria, patrocinados por grandes empresas de brinquedos, enquanto as que vivem nas ruas, se por ventura olharem à TV de uma vitrine antes de serem expulsas por um segurança, sonharão com um futuro que não virá. São nossos gatos e gatas borralheiras a espera de um príncipe de faz-de-conta.
Uma criança feliz precisa de uma família sólida, bem estruturada. E engana-se quem achar que apenas as provisões materiais são necessárias a essa felicidade.
E necessário manter os laços familiares fortalecidos e, no aconchego do lar, criar motivos para que o interesse pelo mundo possa ser retardado o máximo possível. É necessário externar carinho, respeito e afeto. Gritar com uma criança é expô-la ao vexame, é violentá-la.
Trabalhei durante oito anos numa multinacional que me tomava quase todo o tempo, vivia praticamente dentro de um avião, mas nunca deixei de acompanhar meus filhos, fazer programas de finais de semana com toda a família, tendo o cuidado de não cair na rotina, oferecendo-lhes um mundo melhor que o falso e cheio de armadilhas que se apresenta aí. Até onde eu pude. Feliz dia das crianças.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Da importância da memória ...
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Escrito por Maria Clara Lucchetti Bingemer | |
O grande filósofo Martin Heidegger afirma que "a memória é o recolhimento do pensar fiel". Com isso, quer dizer que ela protege e guarda consigo tudo aquilo que é importante, que faz sentido, que se antepõe e antecede mesmo aos fatos como seu sentido. Tudo aquilo, enfim, que se propõe ao pensamento como conteúdo digno de ser refletido e recordado. Por isso, a memória é a condição de possibilidade da cultura, da civilização, de tudo que o ser humano constrói sobre a terra.
Em termos teológicos, a memória é o que permite não perder a Palavra revelada e acolhida na fé; a identidade do Deus pessoal que se revela, diz seu nome e mostra seu rosto e deseja ser reconhecido. Pela memória se narra e se conta, sempre de novo, a história dessa experiência, desse diálogo, dessa identidade. E tudo isso para fazer memória, para poder testemunhar para as novas gerações, para não deixar esquecer aquilo que fez e deve continuar fazendo a humanidade: viver, sofrer, rir, pensar, falar e conhecer.
Existe a memória da alegria, do amor vivido e realizado, dos momentos vividos juntos. Memória dos rostos sorridentes, das palavras trocadas, dos gestos de carinho sentidos sobre a pele que, tocada, se sente vibrar de vida e gozo. É recordação que ajuda a viver e concede doçura ao mais duro cotidiano.
Mas existe também a memória da dor, que arrasta para a visibilidade e a frente do proscênio a dor das vítimas diante dos poderes alimentados pelo princípio de domínio. A memória da dor não fala em termos abstratos, do "ser humano" ou da "humanidade".
Fala do outro concreto: do desespero das viúvas que se lançam impotentes sobre o caixão do companheiro; do choro das crianças órfãs que gritam sem entender por que seu pai jaz no chão perfurado por balas e granadas; dos rostos emagrecidos e famintos dos que vivem em continentes que as grandes potências riscaram dos mapas. Fala do holocausto nazista e dos expurgos stalinistas e de seus milhões de vítimas que têm nome, endereço, um número tatuado na pele do braço e uma estrela amarela costurada na roupa.
Quando há olvido dessa dor e desse sofrimento, começa um processo lento de desumanização de um povo ou de uma cultura. Por isso filósofos como Adorno, teólogos como Johann Baptist Metz, enfatizam a importância da dimensão subversiva da memória. É subversiva porque não deixa esquecer e traz as vítimas para o centro da atenção. É subversiva porque não deixa desaparecer na noite dos tempos o mal praticado, a justiça desprezada, e põe em evidência o processo de extinção da tradição que começa a crescer, ameaçando sufocar a dignidade humana e empurrar em direção à desumanidade.
A memória reclama uma razão anamnética, um modo de pensar que não reduza o sujeito a uma abstração conceitual sem referência à história e aos processos sociais. E assim reivindica o direito de ser uma mediação crítica para a prática humana. Seu instrumento é por excelência a narrativa. A narrativa é a morada da memória. Assim nasceu o cristianismo, quando os discípulos do nazareno narravam uma e outra vez a história daquele que passara pela vida fazendo o bem, que fora morto violenta e injustamente, mas que Deus ressuscitara e agora se encontrava vivo em meio a eles.
Assim acontece igualmente com as vítimas da história que, nomeadas e narradas pela memória, permanecem vivas e se mantém acesa a chama de suas vidas que clamam por justiça. Não se trata de um mero amor às tradições, mas o desejo de criar e formar uma comunidade de solidariedade com as vítimas da história, que interrompe as tentativas de calar e amordaçar a verdade que os sistemas totalitários de todos os tipos carregam em seu bojo. A memória resgata a narrativa ardente do passado e o atualiza para transformar o presente. Rememora acontecimentos com urgência de futuro, criando uma solidariedade que olha longe e vê além das aparências.
Um país sem memória vai pouco a pouco vendo desaparecer e esfumar-se sua identidade verdadeira. Abre espaço para retornos indesejados e varre para as sombras de um equivocado esquecimento presenças luminosas cujas vidas deveriam ser narradas uma e mais vezes, a fim de iluminar o caminho das novas gerações. Esperemos que o Brasil não entre nessa lista. Seria desastroso e indigno da grande nação que é.
Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, é professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio.
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domingo, 2 de agosto de 2009
Concordo plenamente...
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segunda-feira, 27 de abril de 2009
Gilmar Mendes de plantão.....
Dantas é indiciado pela PF por mais 5 supostos crimes
O sócio-fundador do Banco Opportunity, Daniel Dantas, foi indiciado hoje pela Polícia Federal (PF) pelos supostos crimes de gestão fraudulenta, formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e empréstimo vedado. Ao longo das investigações, a PF encontrou indícios de crimes antecedentes, supostamente praticados pelo Grupo Opportunity: contra a administração pública, delitos praticados por organização criminosa e contra o sistema financeiro nacional. Esses três últimos sustentam o indiciamento por lavagem de dinheiro.
Dantas, preso por duas vezes em 2008, durante as investigações da Operação Satiagraha, prestou depoimento hoje na sede da PF em São Paulo, entre 7h55 e 8h25. Ele deixou o local acompanhado do advogado, Andrei Zenkner Schmidt. "Houve indiciamento formal dele (Dantas) e nós nos colocamos à disposição. O indiciamento já estava noticiado, e não há exercício de defesa com indiciamento já pronto", disse Schmidt.
Segundo a defesa, Dantas manteve-se em silêncio diante das perguntas do delegado que comanda atualmente a operação, Ricardo Saadi, e do procurador do Ministério Público Federal (MPF) Rodrigo de Grandis. "O STF (Supremo Tribunal Federal) nos assegurou acesso irrestrito aos autos. Enquanto essa documentação não for juntada, eu determinei a ele que não falasse", afirmou, provavelmente referindo-se aos documentos apreendidos pela PF pouco antes da Páscoa, que, supostamente, contêm indícios de contratos ilegais e transferências e remessas ao exterior não declaradas.
"É direito da defesa ter conhecimento integral da investigação. Ele se prontificou a falar, desde que sejam juntadas todas as provas", acrescentou. Também devem depor à PF entre hoje e amanhã o presidente do Banco Opportunity, Dório Ferman, o vice-presidente Carlos Rodenburg, a irmã de Dantas, Verônica Dantas, e os executivos Daniele Ninio, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Norberto Aguiar, Maria Amália Delfim de Melo Coutrim e Rodrigo Bering de Andrade.
sábado, 25 de abril de 2009
Sempre amoroso....
Carta a uma velha | | | |
Frei Betto - Correio da Cidadania | |
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Para Nina Garcia Alencar.
Querida amiga Nina,
Por que a trato com familiaridade? Ora, agora você me conhece intimamente: meu nome é Velhice. É bem verdade que muitas pessoas de avançada idade se sentem constrangidas, até humilhadas, ao se aproximarem de mim. Como se a Velhice fosse um mal a ser evitado.
Não se conformam com a progressiva e irrefreável degradação do organismo: a audição reduzida, as restrições alimentares, a mobilidade contida, o uso de bengala etc. Por isso, até se recusam a pronunciar meu nome. Esquecem que, à decadência do corpo deveria corresponder à ascendência do espírito. Mas a vida ensina que não se colhe o que não se plantou.
Já não convém chamar uma pessoa de velha. Inventam-se eufemismos, como se a cobertura do bolo modificasse o sabor do recheio: terceira idade, melhor idade, dign/idade... Ora, se devemos encarar a realidade, sugiro ‘eterna idade’, já que os velhos estão mais próximos dela.
Aterrorizadas pela certeza de que um dia serão velhas, e iludidas pela busca ilusória de imortalidade, muitas pessoas, respaldadas pelos simulacros científicos que prometem juventude perene, se esforçam ao máximo para evitar o encontro comigo. Ingerem drágeas que prometem reduzir o desgaste das células, fazem cirurgias plásticas, passam horas a malhar o corpo. E ainda se dão ao ridículo de se fantasiarem de jovens, de adotar vocabulário de jovens, de freqüentar festas de jovens. Como é triste ver uma velha de 70 anos bancando a mocinha de 20! Peruca na cabeça vai bem, mas na alma...
Nina, sei o quanto a sua vida valeu a pena: a família, a fé, as flores de seu acalanto, a sabedoria de permanecer numa cidade do interior e não acompanhar os filhos no rumo das metrópoles.
O que a faz longeva? O que lhe permite celebrar saudáveis 95 anos sem ter recorrido a nenhum desses artifícios? A paz de espírito. Você escolheu cultivar bens infinitos, aqueles que se guardam no coração, e não bens finitos, que envaidecem sem jamais saciar a sede de Absoluto. Você escolheu a amorosa maravilha da cotidianeidade, essas miudezas que, como miçangas, colorem a linha da felicidade: a oração, a freqüência à igreja, o encontro com as amigas, o socorro aos pobres, o cuidado da casa e, no crepúsculo da vida, dar-se ao direito de espiar o mundo pelas janelas dos livros, dos jornais, da TV.
Sonho com o dia em que as mulheres descubram que o auge da beleza reside em encontrar a mim, a Velhice. Essa beleza emoldurada pelas rugas da intensidade de vida e pelos cabelos alvos, fundada na sabedoria de espírito, na capacidade de relativizar tantas coisas que os mais jovens encaram como absolutas. Beleza de quem já não recorre a artifícios exteriores para enfeitar a vaidade; basta o sorriso luminoso, a delicadeza dos gestos, o dom de recolher-se em silêncio ainda que, em volta, todos disputem a palavra aos gritos.
Você bem sabe, Nina, que estar comigo é experimentar algo que, cada vez mais, poucos conhecem: a serenidade. Uma pessoa se torna serena quando se dá conta de que vive num palácio de inúmeros aposentos – a vida –, mas já não sente o menor ímpeto de percorrê-los, perdeu toda curiosidade em relação a eles. Basta-lhe um aconchegante quartinho onde suas plantas recebam um pouco de sol.
Nina, acolhe o meu afetuoso abraço de feliz idade! Curta a minha companhia sem nenhuma ansiedade frente aos desígnios de Deus. Ele a colherá desta vida, como um jardineiro à sua flor, no momento oportuno. Então, sim, você descobrirá que, do outro lado, a vida é terna.
O carinho de sua companheira, Velhice.
Frei Betto é escritor, autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros.
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quinta-feira, 31 de julho de 2008
Retorno....
sexta-feira, 27 de junho de 2008
A elite é que há de melhor no Brasil:
Dia desses, eu estava em um evento empresarial repleto daqueles sujeitos que se consideram a fina flor da sociedade tupiniquim, desfilando em seus terninhos, gravatas e vestidos de grife e cabelos engomados com litros de Gumex. Impecáveis.
Passando pelas várias rodinhas de bate papo antes do começo do evento, pude ouvir comentários ofensivos contra o a “corrupção” e a “incompetência” do governo do presidente Lula, ironias maliciosas contra a primeira-dama Marisa (“Ela não tem classe!”) e outras imbecilidades que só mesmo quem lê Veja, Folha ou Estadão pode proferir com tanta pompa, circunstância e convicção.
- É mesmo? E você é oriundo de que país, nobre colega?
- Eu? Ora, sou do Brasil...
- Ah, então você também é culpado pelos problemas do país, não é mesmo?
O cidadão me olhou surpreso e respondeu indignado:
- Imagina! Eu trabalho, amigo! Sou empresário! Estou falando desse povinho ignorante e sem educação que vive bebendo cachaça em botecos e elegendo políticos sem preparo ou moral para ocupar cargos públicos!
Como percebi que o “representante do que há de melhor no Brasil” estava começando a ficar exaltado e, em breve, acabaria por tirar sua suástica do bolso e jogá-la na minha cabeça, resolvi contemporizar, tentando fingir altivez e soberba no mesmo nível:
- Mas, colega, o povo pobre é e sempre foi maioria no Brasil. Nosso irretocável grão-mestre Fernando Henrique Cardoso só foi eleito por duas vezes graças aos votos dessa mesma massa ignara que, agora, resolveu votar no apedeuta...
- Ora, mas isso só aconteceu por causa dessa “bolsa esmola” que o Lula dá pra esses vagabundos!
- Se é assim, como poderemos explicar a primeira eleição do sapo-barbudo-crípto-comunista, haja vista que naquela época nosso supremo mandatário, o príncipe dos sociólogos, não dava bolsa esmola a ninguém, pelo contrário, só descia a lenha na cabeça do Zé povinho?
- Ah, bom... É, olha, não é bem assim, o FDP tem muita sorte e o problema é que a conjuntura internacional não estava favorável e... (Percebi que ele ficou nervoso por não ter decorado direito o que o Jabor e o Mainardi ensinaram). Nossa, olha a hora! Vocês me dão licença, preciso subir pois o evento já vai começar.
E vazou, sem perder a classe, sorrindo para as câmeras próximas, como se nada tivesse acontecido.
Os orientais que acompanharam o diálogo surreal acima ficaram olhando uns para os outros, com cara de pastel, constrangidos. Para cidadãos de um país como o Japão, onde termos como nação e cidadania não são apenas palavras usadas para vender jornais e produtos, presenciar comentários como o proferido pelo legítimo representante da “raça superior” acima deve ser algo que transcende a compreensão humana...
Créditos: André Lux
sábado, 3 de maio de 2008
Todas as mulheres do mundo
Cláudio César Dutra de Souza, Sílvia Ferabolli
Pegamos emprestado o título do filme de Domingos de Oliveira, de 1966, com Paulo José e a paradigmática Leila Diniz no auge de sua beleza e talento, para fazer algumas reflexões pertinentes sobre o panorama histórico da condição feminina.
Há milênios, a mulher é submetida por formas mais ou menos explícitas de violência e contenção. A primeira é descrita no gênesis bíblico, no qual nossa mãe Eva é alçada a uma condição de inferioridade ao homem, primeiro por ser um “subproduto” de uma parte de seu corpo e não o resultado vivo do sopro divino como fora Adão. Em seguida, Eva é feita culpada pela expulsão do Éden, ao tomar parte ativa no processo de desobediência divina, ao dar ouvidos à serpente e, por conseqüência, nos jogando para fora da boa vida paradisíaca.
Segundo o culto mariano católico, mesmo num casamento restrito e monogâmico, a mulher é impura - já que não é possível ser mãe e virgem
Antes de Eva havia o mito de Lilith. No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão que, devido a sua insubmissão a um plano divino que a colocava como naturalmente inferior, foi lançada aos infernos, como Lúcifer, tornando-se, entre outras coisas, o símbolo do desregramento sexual e sedução maligna. Características que alertavam para perigos envolvidos em um papel mais ativo da mulher. Na era cristã, a Virgem Maria apareceu como resgate e modelo para a mulher nos próximos séculos. Infelizmente, o culto mariano impõe à mulher um modelo nocivo ao seu desenvolvimento subjetivo. Mesmo dentro de um casamento restrito e monogâmico, ela jamais seria suficientemente “pura” - ostentando em si a vergonhosa mácula do pecado sexual, visto que a maternidade e a virgindade são obviamente incompatíveis.
Em qualquer revisão histórica que se efetue da condição feminina, chegam-se a conclusões semelhantes que apontam para períodos mais ou menos misóginos [1] no Ocidente. A Igreja Católica de 2008 é contida pelo Ocidente laico que, a partir do Renascimento, vem limitando, a muito custo e com relativo sucesso, o seu poder imperial. Se assim não fosse, as idéias do Vaticano na atualidade não difeririam muito de seus ancestrais medievos. Exemplo disso são as declarações dos últimos dois papas acerca da condição feminina, fatalmente ligadas aos pecados da carne, aborto, sexualidade e comportamentos sociais diversos. “Tirem os vossos rosários de nossos ovários”, bradam as feministas ainda hoje. E com razão.
Em contrapartida, por meio da luta de mulheres e homens, principalmente no século 20, foram formuladas leis de proteção e benefícios fundamentais à correção de injustiças de gênero históricas. Porém, elas, paradoxalmente, não inibem violências das mais diversas contra a descendência de Eva. Ainda hoje, mulheres vivem sob jugo patriarcal e, em certos casos, sofrem violências sob o beneplácito do próprio Estado, que, ou introduz a submissão em seu breviário de leis, ou é frouxo no julgamento e condenação com bases na honra viril maculada. Notadamente presente em países como a China, Tailândia, algumas regiões da África e Oriente Médio e também na América Latina, essa característica possui tentáculos suficientemente grandes para abarcar países do "primeiro mundo", que não são de modo algum isentos de registros de violência e contenção do gênero feminino.
Nada contra uma mulher adulta usar o corpo como lhe convier - inclusive fazendo sexo remunerado. O que preocupa é a relação submissa que a prostituiçao cria, sob mediação do dinheiro
Poderíamos pensar que há algo de errado com os homens... Será? Descartando, por ora, aqueles que são mais ignorantes ou provenientes de culturas que reduzem a importância do feminino, nos deteremos naqueles que possuem educação cultural e meios favoráveis para um comportamento menos machista e opressor com as mulheres. Porém, não se furtam de ser cúmplices do turismo sexual do terceiro mundo, de pertencerem a redes internacionais de pedofilia e de perpetrarem de forma oculta aquilo que já não podem fazer às claras.
Donos dos meios de produção, pertencentes à elite branca e dominante, tais homens perceberam, há muito, que existem formas sutis de burlar as regras às quais estão submetidos para poderem dar vazão ao primitivismo que resiste ainda dentro de si. A primeira e mais evidente se dá no território da prostituição. Ela prospera a passos largos no mundo inteiro. Clientes cada vez mais fiéis e assíduos utilizam-na como forma de exercer menos a sexualidade do que uma relação de poder onde, sob a mediação do dinheiro, se tem a mulher que se quer e da forma mais conveniente. A manutenção da indústria da prostituição tem como princípio a miséria de mulheres e meninas nas regiões mais vulneráveis do planeta e a demanda sempre crescente por esse serviço.
Não somos contrários à decisão de uma mulher adulta usar o seu corpo da forma como mais lhe convier, e isso pode incluir o ato sexual mediante remuneração. Contudo, preocupa-nos que esse homem descrito anteriormente está sempre ávido por “carne nova” e, ao que parece, cada vez mais jovem. Para isso não hesita em aproveitar-se da indigência financeira e moral que acomete alguns países do terceiro mundo, cujo comércio de escravas sexuais movimenta altas somas financeiras e destrói a vida de adolescentes e crianças, vítimas das mais cruéis situações de maus-tratos e violência.
Nas grandes empresas, esse mesmo homem aprendeu a valer-se da mão-de-obra feminina. Farta e abundante, está sempre disposta a dar o melhor de si no ambiente laboral, visto que o fantasma de suas avós, dependentes e oprimidas, ainda se faz presente em uma mulher que hoje em dia coloca a carreira em pé de igualdade com o desejo de casar e ter filhos. E por que seriam excludentes ambas as coisas? Infelizmente as pioneiras da década de 50 a 70 pagaram um alto preço pela sua independência. Eram vistas como condenadas a ser pouco atraentes e frustradas no campo amoroso, em troca de ascensão profissional. É algo que a mulher contemporânea já não aceita. E, graças a isso, temos as famosas duplas, triplas e quádruplas jornadas da mulher. Acorda cedo, trabalha o dia todo, dá atenção à cria e de noite é esposa atenciosa e uma amante ardente para o seu marido que, por ser homem, não precisa provar muita coisa, já que, historicamente, esse sempre teve valor em si e, de certa forma, ainda mantém essa premissa interiorizada.
Modelo por modelo, preferimos a Leila Diniz: subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora
Nas classes populares percebe-se a incidência cada vez maior de um matriarcado estabelecido a partir de condições sociais que destacam uma situação favorável ao trabalho feminino, em contraste ao masculino. Mulheres da periferia obtêm renda como manicures, cozinheiras, costureiras, babás, faxineiras, ou, na pior das hipóteses prostitutas - trabalhos tradicionalmente associados ao feminino. Os homens nessas mesmas condições percebem a sua capacidade tradicional de trabalho diminuída no que se refere às atividades mais tradicionalmente ligadas ao masculino, seja por terem que dividi-las com as mulheres, seja pela perda de postos de trabalho ou exigências cada vez maiores de qualificação para ocupá-las. Assim não são raros os homens ociosos, alcoolistas e, muitas vezes, violentos com suas mulheres – aquelas mesmas que arcam com o orçamento familiar, custos de criação dos filhos e que, não raro, sofrem com a violência e desprezo masculino, que insiste em negar-lhes o valor merecido. De acordo com a pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), feita no Brasil em 1998, a violência doméstica é a causa de uma a cada cinco faltas de mulheres ao trabalho [2].
É uma premissa comum no universo do liberalismo econômico o de capitalizar as revoluções a fim de domesticá-las e inseri-las em um contexto lucrativo e palatável. E a revolução feminina das últimas décadas parece não fugir a essa mesma regra. Tendo adquirido o direito a uma sexualidade livre, a mulher ainda continua a sofrer com estigmas morais e a perder o seu valor com o declínio da beleza e da juventude. Tendo conseguido ascender ao mercado de trabalho, sofre explorações, assédios e humilhações. Isso reflete-se na vida pessoal, tornando-a estressante e sofrida, o que acarreta em moléstias que vão da depressão, ausência de libido até moléstias cardíacas - que incidem de forma cada vez mais preocupante no universo feminino.
Tais exemplos sugerem que talvez a mulher pós-feminista tenha tornado-se um bom negócio comercial, sexual e laboral. O que poderia ter dado errado em décadas de lutas feministas então? Talvez Camille Paglia tenha algumas respostas. Ela denuncia o feminismo xiita e politicamente correto dos anos 70, que tentou anular algumas premissas básicas em relação á estruturação subjetiva daquilo que nomeamos como o “feminino”, criticando violentamente a geração de Betty Friedan e o feminismo militante que anulava as diferenças entre os sexos. Palavras de Camille na Folha de São Paulo do dia 27 de março de 2006: "No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o stalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza."
Afora os deslumbramentos de Miss Paglia, Madonna certamente é um ícone da modernidade, que fornece algumas pistas para o entendimento das benesses e das armadilhas em que as mulheres se vêem envolvidas atualmente, na ânsia de buscarem o absoluto, que é reservado a poucas (e poucos). Modelo por modelo, ao invés da apolínea popstar norte-americana, optamos pela nossa dionisíaca Leila Diniz que, na década de 60, já previa a multiplicidade de formas e contradições do feminino, que cada vez mais se pronunciam nesse milênio, só que de uma forma mais fluídica e prazerosa. Desobrigada da perfeição estética e da produção maquinal de gozos, Leila era subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora, enfim, essa foi a imagem quase arquetípica que dela ficou.
Nunca a mulher desfrutou de tanta liberdade como hoje, em certos agrupamentos sociais. E o avanço da condição feminina só acrescenta, ao universo masculino, a companhia de uma mulher mais plena
Estamos convencidos de que o avanço da condição feminina só acrescenta benesses ao universo masculino, que, ao longo das últimas décadas, desfruta da companhia de uma mulher mais plena e companheira. Nunca ela desfrutou de tanta liberdade em certos agrupamentos sociais como nos dias de hoje. Infelizmente, ecos medievais ainda subsistem nos corações e mentes. Até mesmo nos daqueles que, aparentemente, se apresentam como os mais evoluídos, sendo que ainda estamos longe do ideal de igualdade entre os gêneros, visto que basta a experiência de uma guerra para que o nosso verniz civilizatório venha por água abaixo [3].
Mudar a mentalidade masculina torna-se um imperativo para que possamos reduzir comportamentos agressivos e misóginos no mundo atual. Para isso, entendemos ser necessário uma conscientização feminina no sentido de que as mulheres assumam a sua parcela de culpa na transmissão de inúmeros preconceitos. Principalmente, na educação das crianças, da qual ainda são as grandes responsáveis direta, como mãe e indiretamente como educadoras, visto que a quase totalidade desse ramo profissional, mais incisivamente na América Latina, se constitui de mulheres que, não raro, educam meninos e meninas sob as regras mais conservadoras possíveis - fato que, na maioria dos casos, não lhes é consciente.
Temos esperanças de que as reivindicações e lutas em prol de uma sociedade menos sexista e injusta frutifiquem nas próximas décadas. Mas para que isso se cumpra, ainda há muitas lutas a empreender. Recordemos, por exemplo, que somente com o novo Código Civil, que passou a valer a partir de 2003, o homem deixou de ser considerado como a “cabeça do casal”, bem como foram suprimidos outros arcaísmos humilhantes tal como o bizarro conceito de “mulher honesta” [4]. Que o Dia Internacional da Mulher, que comemoramos no mês de março, não sirva apenas para afagos e flores compensatórias, mas que seja também o dia em que Eva, Lilith, a Virgem Maria, Madonna, Leila Diniz, Condoleeza Rice, a mãe, a virgem, a puta, a trabalhadora, enfim, todos os arquétipos e estereótipos possam se unir em um ser integral pleno de contradições, qualidades, defeitos e subjetividades inerentes a qualquer ser humano, independente do gênero a que pertença.
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Agora que estou grávida, faço hidroginástica, atividade física apelidada por uma amiga de “natação geriátrica”. E é verdade. Minhas colegas de piscina são todas velhinhas. Adoro velhos, crianças e adolescentes, também. Confesso ter maior dificuldade de relacionamento com os adultos. Parece que a idade adulta é a idade da dissimulação. Velhos, crianças e adolescentes são sinceros por natureza. É muito mais fácil lidar com gente que não esconde o que pensa, ainda que não seja agradável ouvir.
No vestiário, as velhinhas me contam de suas doenças. Uma diz que se submeteu a uma cirurgia moderna, que lhe deixou cinco furinhos nas costas: “Bem aqui, ó”, exibe. Não dá para ver nada... Acho graça. Ela me conta que o tal procedimento ultra-sofisticado custou a bagatela de 170 mil reais! Fico pensando: se fosse pobre, estaria morta, coitada. Outra senhora se queixa de que não gosta de ser idosa, e me espanta saber o porquê. “Velho sofre muito preconceito, ninguém gosta de velho.”
Que horror. Chegamos a uma época de desprezo absoluto à velhice, condição inexorável do ser humano – bem, ou é isso ou morrer. Ficar velho não é mais tornar-se um sábio, mas um enjeitado. Talvez esteja na repulsa ao envelhecimento a raiz de tanta superficialidade no mundo, de tanto querer seguir jovem à custa de cirurgias plásticas patéticas em vez de se preocupar em aprimorar o espírito. Cuidar da mente, evoluir como ser humano, e, claro, conservar a alma sempre jovem. Isso é saber envelhecer bem. E reflete no lado de fora.
Alguém se engana mesmo com uma mulher que injetou não-sei-o-quê na boca para rejuvenescer? Ela parece de fato mais moça ou apenas feiosa? Ladies, preocupar-se com as rugas causa rugas! Não sou uma radical do “deixa cair”, nada disso. Não vejo mal algum em pintar os cabelos, passar uns creminhos para hidratar a pele (o creme compensa!), fazer exercícios para manter a forma. Mas há um exagero evidente nesta busca pela juventude eterna. Me incomoda essa multidão de seres espichados, de faces sem movimento, como um exército de clones assustadores a desfilar pelos calçadões da vida, sem idade ou identidade.
Como será no futuro quando os netinhos falarem de suas vovozinhas? “Ah, vovó é tão linda, com aqueles olhos puxados de chinesa! E os beijos que ela me dá, com aquela boca de Pato Donald, toda inchada? Adoro cada cicatriz naquele corpinho dela!” Observo a carne vincada, as dobras, os braços flácidos, as marcas que o tempo deixou no corpo de minhas colegas de hidroginástica e sinto saudade, já, da pele macia de vovó, tão longe de mim no final da vida. Aos 86, sua pele é enrugada, sim, como um dia também eu naturalmente serei. Mas suave ao toque, como a de um bebê.
Reparo que não se usa mais falar “morreu de velhice”, “de causas naturais”. Será que também aí não estaria embutido o preconceito? Diz-se que uma atriz, aos 90 e tantos anos, morreu de falência múltipla dos órgãos. Alguém me explica que é porque a ciência avançou e hoje em dia se sabe que as pessoas não morrem de causas naturais, mas por alguma razão específica. Ganha-se em informação, perde-se em poesia. Num mundo como o que vivemos, morrer de velhice deveria ser considerado um luxo.