Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 27 de maio de 2008
Quadrilha denunciada
Os quatro nomes excluídos da denúncia foram: Ronaldo Etchechury Morales (ex-presidente da Fatec), Luis Felipe Tonelli de Oliveira, Sérgio de Moraes Trindade e Jorge Alberto Viana Hossler. Simone Barbisan Fortes considerou que não havia indícios suficientes contras essas pessoas.
créditos: Marco Aurélio Weissheimer
Por uma nova resistência palestina
Nascido em 1954 em Jerusalém, Mustafá Barghouti é médico, formado nas universidades de Moscou, Jerusalém e Stanford. É secretário-geral da Al-Mubadara (Iniciativa Nacional Palestina), organização política laica criada em 2002, com participação ativa de Edward Said [1]. Foi ministro da Informação no governo palestino de união nacional constituído em 2007, depois das eleições legislativas. Em 2006, foi candidato à presidência. Obteve um terço dos votos, derrotado pelo atual presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas. Líder da principal organização de resistência de massa, militante da não-violência, o Dr. Barghouti adota, como referência, o modelo de Gandhi, pai da independência da Índia, na luta contra os britânicos, em estratégia de não-violência. Na sociedade palestina, atormentada por 60 anos de conflitos, cansada da corrupção da Al Fatah e descrente do fundamentalismo religioso do Hamás, o apoio popular às teses da Al-Mubadara não pára de aumentar – especialmente entre os grupos laicos. Barghouti conta também com significativo apoio internacional, como se viu na recente visita que lhe fez, em Ramallah, mês passado, o ex-presidente Jimmy Carter, dos EUA. O movimento pacifista israelense também o apóia.
Mustafá Barghouti trabalha por uma sociedade palestina edificada sobre os princípios de uma democracia radical, enraizada nos movimentos sociais e baseada nos princípios éticos e de transparência da boa governança e do respeito aos direitos humanos. Para alcançar a plena soberania, Barghouti prega a resistência determinada, mas pacífica, contra a ocupação. (Ignacio Ramonet)
14 de maio de 2008 marca o 60º aniversário da criação de Israel e do que os palestinos chamam a Nakba, a catástrofe. Neste momento, qual sua opinião sobre o estado atual das relações entre Israel e os palestinos?
Depois de 60 anos de espoliação, 41 anos de ocupação, 17 anos da Conferência de Madri, 15 anos dos acordos de Oslo, e de várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU, especialmente a 242 (1967) e a 338 (1973), à procura de uma solução justa e durável para décadas de conflitos entre Israel e os palestinos, não sou otimista. Já teríamos de estar mais perto da paz.
E não estão?
Não. Ao contrário. O problema é cada dia mais complicado e mais complexo, dada a intransigência das autoridades de Israel. E isto, seja qual for a atitude dos palestinos. Já se tentou tudo: resistência armada, resistência não-violenta, participação, não-participação etc. Sem qualquer resultado concreto. A cada dia que passa, a situação fica mais difícil, na Palestina.
O senhor esquece a intransigência do Hamás
Hoje, fala-se muito do Hamás, nos jornais, na televisão. Há 20 anos, o Hamás não existia. Nem existia o Hizbollah libanês. Israel, de certo modo, provoca o surgimento destes grupos, por sua atitude de afrontamento sistemático contra os palestinos. Para ser objetivos, temos de reconhecer também que o Hamás e o Hizbollah são resultado da intransigência de Israel. Mas, desde o final dos anos 1980, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) tem-se mostrado disposta a negociar e a encontrar soluções.
Mas os atentados não cessaram. E é compreensível que a população em Israel preocupe-se com a segurança. O senhor não acha?
Acho. Mas, como médico, posso garantir que um dos erros mais graves, que se pode cometer é confundir causas e sintomas de uma doença. Quem age assim corre o risco de matar o doente.
O que se vê é que, em sua prática de propaganda, Israel mistura muito habilmente sintomas e causas. Praticamente todos os veículos de comunicação que noticiam o conflito palestino-israelense dão destaque à violência. Mas esquecem sempre de dizer que a violência é sintoma, manifestação da doença, do mal-estar, expressão de uma outra coisa. Esta outra coisa, de que ninguém fala, é a causa. São poucos os que lembram que a causa da violência é a ocupação da Palestina por Israel. Esquecem de dizer que – como aconteceu na França, por exemplo, de 1940 a 1944 – a pior de todas as violências é a ocupação.
O senhor vê semelhanças entre a situação dos palestinos hoje e a dos franceses sob a ocupação alemã?
Não, não quero comparar situações tão diferentes. O que estou dizendo é que a ocupação da França, entre 1940 e 1944, não foi causada pela violência da Resistência. Tampouco a violência dos indianos revoltados contra a presença colonial dos ingleses foi causa da colonização inglesa na Índia. A causa sempre é a ocupação. A violência contra a ocupação é sintoma. “Causa” e “sintoma” são conceitos completamente diferentes, que não podem ser confundidos. Os veículos de comunicação, a midia, mistura sistematicamente os dois conceitos. E confunde tudo.
Na Palestina, pede-se aos que vivem sob ocupação que garantam a segurança dos ocupantes. A mídia começou por confundir a mente dos israelenses, e aos poucos confundiu o mundo todo
Talvez porque os palestinos cometem atentados contra civis israelenses.
É uma situação estranha, e efetivamente trágica. Na Palestina, pede-se aos que vivem sob ocupação que garantam a segurança dos ocupantes. É surreal. Para explicar uma situação muito simples – um país foi ocupado, seus habitantes defendem-se contra os ocupantes –, chegamos a ponto de confundir: as vítimas seriam os agressores, e os agressores, as vítimas. Começaram por confundir a mente dos próprios israelenses. Depois, pouco a pouco confundiram todas as mentes.
E como o senhor explica este processo?
Existe, em Israel, um importante complexo militar-industrial, semelhante ao que, desde 1960, o presidente Eisenhower denunciava, nos EUA. E este complexo militar-industrial lucrou muito com as sucessivas guerras de Israel contra os Estados árabes, assim como lucra com o conflito contra os palestinos.
Como o senhor define este complexo militar-industrial?
É muito mais sofisticado que seu homólogo norte-americano. Pode-se defini-lo como um complexo militar-industrial-computacional. É alimentado por todas as guerras que se sucederam desde 1948. E faz de tudo para manter os enfrentamentos e a conflitualidade em geral, à custa dos próprios cidadãos israelenses, eles mesmos as primeiras vítimas.
Israel é, não só uma potência nuclear mais importante, por exemplo, que a França; também se tornou um dos principais exportadores mundiais de armas e de dispositivos de segurança.
O senhor não estará exagerando?
Segundo estatísticas recentes, Israel é o quarto maior exportador de armas do mundo: depois de EUA, Rússia e França. Mas não se contenta com exportar armas. Cada vez mais, Israel exporta dispositivos eletrônicos de segurança, sistemas de alerta e de defesa, técnicas de controle, equipamentos de vigilância e prevenção etc. E, como o senhor sabe, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a venda destes produtos aumentou muito.
O senhor realmente acredita que o caráter de exportador de armas, de Israel, determina sua política em relação aos palestinos?
Sim. Porque não se compreende a evolução de Israel, se não se analisa a evolução do aparato militar. No começo, entre 1920 e 1948, quando a Palestina era administrada pela Grã-Bretanha, havia a Hagana, a organização militar clandestina judaica que obteve as primeiras vitórias – mediante atentados – contra os britânicos; e o grupo Stern, que aterrorizava os palestinos. Naquele momento, eram civis em funções militares. Depois, outras organizações armadas, como o Irgun, fundiram-se com as duas primeiras, para constituir o exército israelense. O exército profissionalizou-se; mas, pouco a pouco, os civis deixaram de comandar os militares. A situação inverteu-se. E os generais começaram a comandar a sociedade israelense.
Os militares influenciaram tanto? Israel, afinal de contas, é uma democracia.
Sim, mas que estranha democracia! Nesta democracia, os militares muitas vezes exercem funções determinantes. Pense, por exemplo, em Ariel Sharon, Ehoud Barak, Benyamin Netanyahou, Yitzhak Rabin ou Menahem Begin. Todos militares ou egressos de organizações militares. Todos foram primeiros-ministros de Israel.
O exército israelense tem grande número de oficiais e os renova constantemente. Do ponto de vista militar, é bom, porque o alto oficialato é jovem e conhece bem as técnicas mais modernas de guerra. Mas, também conseqüência do rápido turn-over, as forças armadas aposentam um número muito grande de generais. Estes, liberados das funções militares, passam a interessar-se pela política. E não raras vezes alcançam os cargos mais altos da vida civil. O exército, assim, ocupa também muitos postos políticos no governo e no serviço público.
E então, conduzidos os postos políticos, os jovens generais aposentados põem-se a procurar o que fazer. Assim chegam às indústrias de armas e passam a se interessar pela exportação de sistemas de segurança.
O complexo industrial-militar de Israel é o principal responsável pela guerra sem fim. Exerce enorme influência na política e faz tudo para manter o conflito, à custa dos próprios cidadãos israelenses
A guerra como indústria de exportação...
É isto. Os conhecimentos adquiridos no exército ou nas atividades de repressão, eles os põem a serviço de empresas especializadas em segurança e na prevenção de ataques ou em controles sobre a vida dos cidadãos. Assim, Israel tornou-se um dos maiores exportadores mundiais de sistemas de vigilância e segurança.
Por esta mesma lógica, pode-se dizer que Israel usa, em vários sentidos, a Cisjordânia e Gaza como laboratórios para testar e aperfeiçoar novas técnicas de controle de indivíduos. São técnicas que também, adiante, poderão ser exportadas.
Não há dúvidas de que muitos países têm interesse em comprar a grande experiência dos militares israelenses nesta matéria.
Há rumores sobre a presença de oficiais norte-americanos nas invasões da Cisjordânia, onde observam e estudam os métodos de vigilância, de controle, de prevenção e de repressão criadas pelos especialistas israelenses. Em seguida, usam-nas no Iraque.
Sejam estes rumores verdadeiros ou não, é direito dos palestinos perguntar se é normal que a democracia israelense seja comandada por exportadores de armas e indústrias de segurança que, naturalmente, lucram com a guerra e rejeitam a paz.
Isto explicaria, na sua opinião, por que, depois do “Mapa do Caminho”, de abril de 2003, e da conferência de Annapolis, em novembro de 2007, houve tão pequenos avanços na direção da paz?
O célebre “Mapa do Caminho”, redigido há cinco anos pelo “Quarteto” (EUA, ONU, Rússia e União Européia) fracassou. Ali se fixavam, essencialmente, dois objetivos: 1) Israel pararia a colonização; e 2) os palestinos garantiriam a segurança dos israelenses. Mas cinco anos depois do “Mapa do Caminho” a colonização foi intensificada. E, mesmo depois de Annapolis, Olmert anunciou novas construções nas colônias!
E quanto à segurança dos israelenses?
A Palestina não tem exército, nem soberania, nem controle sobre as fronteiras. Mesmo assim, exigem que garanta a segurança dos israelenses; em especial, a segurança de colonos que, como o nome diz, colonizam terras palestinas, confiscadas aos palestinos, que foram expulsos, manu militari, de suas propriedades.
O “Mapa do Caminho” só fala da segurança dos israelenses. Só dela. A segurança dos ocupantes deve ser garantida pelos ocupados. Jamais se viu idéia semelhante!
Mas o “Mapa do Caminho” foi aceito e adotado pelos representantes da Autoridade Palestina.
Segurança é também segurança social, segurança do emprego, segurança da propriedade, segurança para ir e vir etc. Ora, os palestinos vivem privados de todas estas seguranças. E exige-se que os palestinos, que vivem privados de todas estas seguranças, responsabilizem-se e garantam a segurança dos que ocupam seu país. É o mundo às avessas!
Sou defensor ativo da não-violência. Mas repare: em 2000, a proporção entre o número de mortos palestinos e o de israelenses era 4 por 1. Nos três primeiros meses de 2008, já é de 46 por 1!
Contudo, nada justifica atentados contra populações civis.
Concordo integralmente. Mas – e falando só da segurança física – consideremos os números oficiais, das estatísticas israelenses. Em 2007, foram mortos 13 israelenses, dos quais quatro soldados e quatro colonos, em confrontos armados. No mesmo período, 404 palestinos foram mortos por israelenses. Os números crescem em proporções alucinantes. O senhor sabe que sou defensor empenhado da não-violência, mas os números não podem ser ignorados.
Em 2000, a proporção entre o número de mortos palestinos e o número de mortos israelenses era 4 por 1. Para cada israelense morto, havia 4 palestinos mortos. Em 2006, a proporção chegou a 27 por 1! Em 2007, foi de 31 por 1! E nos três primeiros meses de 2008, já é de 46 por 1!
De 2000 até hoje, foram mortas cerca de mil crianças palestinas. Depois da conferência de Annapolis, em novembro de 2007, foram mortos mais de 330 palestinos. Cerca de quarenta crianças. Não faz sentido falar de segurança para um lado, ficando o outro lado sem qualquer tipo de segurança.
Por que a situação deteriorou-se a tal ponto?
Em minha opinião, por três razões. Pela fraqueza do campo da paz, em Israel; pela fraqueza dos palestinos; e por causa do grande silêncio internacional. Além do mais, as autoridades israelenses estão convencidas de que merecem total impunidade. Podem fazer tudo, sem risco de sofrer qualquer sanção nem, sequer, de receber crítica séria. Por isto, também, alguns dirigentes políticos israelenses estabelecem hoje um verdadeiro apartheid.
O que o leva a dizer isto?
Tomemos o exemplo da água, que é bem escasso e precioso nesta região semi-árida. Se se consideram as fronteiras de 1967, a Cisjordânia pode contar com, em média, 936 milhões de metros cúbicos de água. Mas só 132 milhões estão concretamente acessíveis aos palestinos. O restante, 804 milhões de metros cúbicos, são reservados aos colonos israelenses. Isto significa que um palestino só pode usar, por ano, 50 metros cúbicos de água para todas as necessidades da vida: para beber, lavar-se, cozinhar, para a agricultura, a indústria etc. Por outro lado, cada colono ilegal tem garantidos, por ano, 2.400 metros cúbicos de água, 48 vezes mais! É um escândalo.
Ironia cruel é que, além do mais, são os palestinos que, essencialmente, financiam esta água. Cada palestino paga 5 shekels [cerca de 1 euro] por unidade de água, quando, pela mesma unidade, um colono paga menos da metade deste preço.
O senhor pode citar outro exemplo?
Sim. Acontece o mesmo, também, em matéria de energia. Ao longo dos últimos anos, as autoridades israelenses destruíram a única empresa que produzia energia elétrica na Cisjordânia. Começaram por proibir que a empresa comprasse novos geradores. Depois, obrigaram-na a fornecer energia aos colonos por preço reduzido. Resultado: a empresa perdeu condições de continuar a produzir eletricidade e ficou obrigada a comprar a eletricidade vendida em Israel. Conseqüência disto é que, hoje, a Cisjordânia importa de Israel toda a energia que consome. Também neste caso a energia é vendida aos palestinos por preço duas vezes superior ao cobrado dos colonos. Os colonos pagam, por unidade de energia elétrica, apenas 6,3 shekels; pela mesma unidade, os palestinos pagam 13 shekels.
Assim, os palestinos contribuem para financiar a própria colonização. O que é ainda mais injusto, porque há diferença abissal entre a riqueza de Israel e a miséria dos palestinos. Há quatro anos, a renda anual média por habitante, na Palestina, equivalia a 1.600 dólares (cerca de 1.000 euros). Hoje, não passa de 800 dólares. A renda anual média por habitante, em Israel, já chega a 24 mil dólares. É 36 vezes maior!
Apesar desta enorme disparidade, os palestinos são obrigados a importar de Israel a maior parte dos produtos que consomem. Ao preço de mercado, fixado conforme o padrão de vida israelense. Em resumo, temos de viver com produtos tão caros quanto em Israel. E nossa renda é 36 vezes menor...
Uma das "inovações" da ocupação israelense é a segregação de estradas Se eu tomar uma via para israelenses, serei imediatamente preso e condenado a seis meses de prisão — ainda que esteja a pé
Quando o senhor disse “apartheid”, supus que falasse da barreira de separação.
Sim, também há este Muro do Apartheid e mais centenas de pontos de controle, que impedem a livre circulação dos palestinos. E há, sobretudo, uma “segregação de estradas”. É uma inacreditável medida de discriminação, que jamais se adotou antes, em país algum. É uma das inovações da ocupação israelense. Não houve, sequer, na África do Sul em tempos de apartheid; nem nos EUA em tempos de segregação racial. Nestes países houve, sim, linhas de ônibus diferentes para brancos e para negros, ou bancos diferentes, nos mesmos ônibus, para brancos e para negros. Mas os ônibus circulavam pelas mesmas estradas.
Na Palestina, as autoridades israelenses de ocupação construíram estradas reservadas exclusivamente aos colonos e aos israelenses. São interditadas ao tráfego de palestinos. Se eu, por exemplo, embora deputado do Parlamento palestino e ex-ministro, tomar uma destas estradas – e mesmo que esteja a pé – serei imediatamente preso e condenado a seis meses de prisão.
A mesma segregação aplica-se aos palestinos de Jerusalém Leste. Que sequer saíram de suas casas. São palestinos que vivem há séculos em Jerusalém. Eles não se mudaram para Israel. Aconteceu que, um dia, em 1967, Israel, por conquista militar, "mudou-se” para lá. E então, imediatamente, cerca de 340 mil palestinos passaram a ser “residentes temporários”.
O que significa isto?
Significa sursis [2]. A qualquer momento, poderão ter cassado o direito de residir em Jerusalém. Um exemplo: só muito raramente Israel fornece autorização para construir, a palestinos residentes em Jerusalém Leste — e sempre depois de muita demora e longas obstruções. Se um daqueles palestinos decidir construir uma casa na Cisjordânia, porque quer se casar ou por outro motivo qualquer, perderá, imediatamente, o direito de residir em Jerusalém, onde nasceu!
Ao mesmo tempo, um judeu, recém-chegado de qualquer parte do mundo, recebe imediatamente, ao chegar a Israel, a cidadania israelense e o direito a uma casa na Cisjordânia, se quiser. A partir do instante em que ponha os pés em Israel, esta pessoa tem mais direitos que um palestino nascido aqui, cuja família vive aqui há séculos, quando não há milênios.
Há séculos, se não há milênios, os judeus têm sido vítimas de segregação, de perseguição, de racismo. Na Europa, foram vítimas, até, de uma monstruosa tentativa de exterminação. Não é normal que Israel acolha todos os que desejem viver protegidos contra o anti-semitismo?
Sou o primeiro a condenar o anti-semitismo e a reconhecer que os judeus sofreram terrivelmente, no genocídio pelos nazistas. Como meu amigo Edward Said, digo que nós, palestinos, temos de ter consciência de que o Holocausto foi um crime monstruoso. Mas isto não significa, de modo algum, aceitar a idéia de que o genocídio absolveria o sionismo, e justificaria os sofrimentos infligidos aos palestinos.
O fato de ter sofrido tantas perseguições não dá aos judeus o direito de praticar, por sua vez, uma política de ocupação, contra um povo ao qual não se pode atribuir qualquer responsabilidade pelos crimes cometidos contra os judeus. Aqui e agora, é Israel, sua política de segregação e de injustiça, que rouba milhares de vidas palestinas. Eu acrescentaria que os que nos perseguem hoje não são as vítimas diretas do Holocausto. Tenho quase certeza de que, se soubessem o que os palestinos estão sofrendo, os judeus de hoje não aceitariam as políticas de Israel. O que sofremos hoje os faria lembrar os próprios sofrimentos pelos quais passaram os judeus.
Há famílias palestinas nas quais marido e mulher não podem viver juntos. Se um deles, por exemplo, sair de Jerusalém Leste para encontrar o outro na Cisjordânia, perderá o direito de residente e, portanto, seu ganha-pão, em Jerusalém. É terrível.
Ainda mais terrível é o silêncio internacional, diante de todas estas injustiças. Chegamos a pensar que o mundo não quer tomar conhecimento de nossa tragédia. Que fechou olhos, boca e orelhas. A desgraça palestina está órfã.
A Palestina precisa de uma alternativa. Propomos uma saída não-fundamentalista, e somos pela não-violência. Mas não nos opomos à resistência: ela é legítima, desde que não faça vítimas entre os civis
Fale-me sobre sua organização, Al-Mubadara, a Iniciativa Nacional Palestina.
Com um dos fundadores da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o Dr. Haidar Abdel-Shafi [falecido em 25/9/2007], com Ibrahim Dakkak, Edward Said e outros intelectuais, decidimos, em junho de 2002, fundar este novo movimento, a Iniciativa Nacional Palestina (INP) .
Estávamos chocados com os acordos de Oslo, de 1993. Participei da delegação palestina à Conferência de Madrid, em 1991. Oslo não passou de instrumento para nos enganar. O verdadeiro objetivo de Oslo foi desmantelar o projeto palestino de soberania. Os acordos de Oslo substituíram a idéia de independência e soberania, pela idéia da Autoridade Palestina. Foi um truque, um golpe-de-mão. Na prática, Oslo tentou criar um bantustão [3].
Por que a OLP aceitou firmar aqueles acordos?
Penso que a OLP foi apanhada numa armadilha. De fato, Yasser Arafat estava muito inquieto. Ao tornar-se presidente da nova Autoridade, deixaria de ser chefe da OLP. Mas tampouco desejava criar um líder alternativo, permitindo que se elegesse um novo chefe que o substituísse à frente da OLP. Por isto preferiu diluir sua organização no bojo da Autoridade Palestina.
O senhor, várias vezes, acusou de corrupção a Autoridade Palestina.
Sim, temos denunciado uma grande corrupção. Corrupção que, indiscutivelmente, é encorajada por Israel, que deu à Autoridade palestina o monopólio de inúmeros serviços e obras. Isto, inevitavelmente, levaria, como levou, a fraudes, extorsões, enriquecimentos ilícitos. Então, muitos cidadãos desiludiram-se e voltaram-se para o Hamás, organização que, sim, é fundamentalista, mas que, a partir de uma posição de integridade, denunciava a desonestidade e o aviltamento moral da Autoridade Palestina.
A Iniciativa Nacional Palestina representa uma solução, uma alternativa, à Autoridade Palestina?
Não só à Autoridade. Pensamos que a Palestina carece, sim, de uma alternativa. Mas que não seja fundamentalista. Propomos uma alternativa não-fundamentalista. E somos pela não-violência. Mas não nos opomos à resistência. Porque a resistência, de um povo que vive sob ocupação é legítima, reconhecida e autorizada também pelo Direito internacional, desde que não faça vítimas entre os civis.
A Iniciativa Nacional Palestina prega a resistência não-violenta?
Sim. Nossa idéia é a resistência não-violenta, de massas. Penso, por exemplo, na primeira Intifada ou “a guerra das pedradas”, iniciada em dezembro de 1987, que salvou a OLP do desastre. É um bom exemplo de resistência não-violenta, de massas.
Se tivéssemos podido concluir as negociações com Israel naquele momento, sem desperdiçar os resultados da primeira Intifada [que durou até setembro de 1993], não teria havido Oslo, e teríamos uma paz sustentável. Mas os israelenses optaram por assinar aqueles acordos com uma liderança da OLP que, naquele momento, estava enfraquecida.
Hoje, a maioria dos palestinos está decepcionada, reduzida a uma escolha binária: ou o Fatah, subserviente e corrupto, ou o Hamás, religioso fundamentalista. A Iniciativa Nacional Palestina constitui uma alternativa, para conduzir a resistência.
O senhor acredita que a resistência não-violenta seja opção realista?
Temos de entender bem. Partimos de uma estratégia de quatro faces: 1) fomentar a resistência não-violenta, de massas; 2) ajudar a população a resistir, estimulando as forças de cada um e ajudando na vida diária; 3) buscar apoio em forte movimento de solidariedade internacional, como o que houve contra o apartheid na África do Sul; e 4) sob liderança unificada.
O fracasso do mundo árabe é conseqüência de não haver um único regime realmente democrático. Politicamente desprezados e socialmente empobrecidos, os cidadãos voltam-se ao fundamentalismo religioso
De que modo o senhor espera alcançar a massa-crítica necessária para que sua estratégia dê resultados?
O Fatah e o Hamás dependem da força. Queremos a democracia. A questão da democracia é decisiva para nós. A democracia é condição fundamental para que haja paz. A paz só será durável e sustentável se for negociada entre formações democráticas. Nenhum partido pode impor-se aos demais pela força. Não há nem jamais haverá democracia se o poder político depender da força. Seja em Gaza seja na Cisjordânia, nem o Hamás nem o Fatah são democráticos. Em vez de gastar energia disputando entre eles os cargos da administração, o Hamás e o Fatah melhor fariam se apostassem na democracia. A verdade é que os dois partidos praticam modalidades particularmente inaceitáveis de violência interna: o clientelismo e o nepotismo.
Quanto a isto, a INP é muito diferente do Hamás e do Fatah, que permanecem enraizados nos defeitos e desvios da sociedade tradicional. Seus partidos tendem a converter-se em tribos. Não digo que as duas organizações sejam idênticas; há diferenças entre elas. O Hamás, por exemplo, não é corrompido e, no plano político, é partido muito coerente. Mas há pontos em que os dois são semelhantes. Sobretudo, porque ambos tendem ou ao clientelismo ou ao nepotismo.
Quais são suas chances de sucesso?
O futuro depende de nossa capacidade para convencer os palestinos quanto à eficácia de nossa estratégia de quatro pontos, de que já falamos. Além disto, temos uma agenda social. Exigimos respeito ao Estado de direito, aos direitos ligados à cidadania, aos direitos das mulheres, das crianças, dos portadores de deficiências, aos direitos sociais. Em resumo, respeito integral aos direitos humanos. E entendemos que esta agenda social deve estar diretamente articulada à nossa agenda política.
Que fórmula política o senhor preconiza, para pôr fim a este conflito interminável?
Somos pela solução dos dois Estados, que nos parece a melhor. É o modo mais fácil de pôr fim a tantos sofrimentos. Mas não sei se esta solução ainda é viável. Porque, para implementar a solução dos dois Estados, Israel tem de demolir o Muro do apartheid, parar definitivamente a colonização e demolir os prédios dos colonos — o que jamais fez. E prossegue a colonização, selvagem ou autorizada. Continuam a construir prédios e a colonização, na verdade, está avançando. Entre 1993 e 2006, o número de colonos mais que duplicou. São mais de 230 mil em Jerusalém Leste e mais de 250 mil na Cisjordânia. Já são 25% da população da Cisjordânia e ocupam mais de 40% de nosso território. Se isto continuar, não se pode prever o que acontecerá. O que posso garantir é que os palestinos jamais aceitarão que os convertam em alguma espécie de escravos de um bantustão.
Ao mesmo tempo, posso também garantir que, se os israelenses aceitarem a solução dos dois Estados, nos termos da Conferência de Madri, os palestinos a aceitarão. Até o Hamás aceitará.
E se não aceitarem?
Neste caso, resta a solução de um só Estado, no qual co-habitem israelenses e palestinos. Esta solução só será viável se este Estado for realmente democrático, sem segregação nem discriminações. Mas, em termos profundos, sinto que devemos nos preparar para uma longa luta contra um novo tipo de apartheid.
O que os palestinos e os Estados árabes podem esperar?
O mundo árabe está dividido, manipulado, também, por Israel, que é o adversário mais astuto que o mundo árabe jamais enfrentou. Está em condições lastimáveis, por razões internas: ausência de democracia, regimes instáveis. E por serem instáveis e vulneráveis, estes regimes precisam do Ocidente.
O fracasso do mundo árabe é conseqüência de não haver, em todo o mundo árabe, um único regime realmente democrático. Politicamente desprezados e socialmente empobrecidos, os cidadãos voltam-se ao fundamentalismo religioso. Mas é preciso lembrar que o mundo árabe também é caracterizado pela ausência de inúmeros direitos – sobretudo os direitos da mulher e dos mais jovens. Ora, a população é muito jovem. Na Palestina, por exemplo, 70% dos habitantes têm menos de 30 anos. Estes jovens precisam de mudanças, de novas visões de mundo, de perspectivas novas — em resumo, de esperança. E nada vêem à frente. Se não lhes oferecermos alguma esperança, os jovens vão, eles também, aderir ao fundamentalismo. Um dos problemas dos principais partidos árabes tradicionais é que não fazem o trabalho de formação da juventude. Assim, deixam o campo livre para a ação dos movimentos religiosos.
A opção por permanecer aqui é o maior acerto estratégico dos palestinos. O povo a tomou espontaneamente. Nossa sociedade é mais avançada que os dirigentes e mantém viva uma incrível atitude de resistir, de recomeçar
Em março de 2002, na Cúpula Árabe de Beirute, a Arábia Saudita propôs uma “iniciativa de paz árabe”. O senhor acha que esta proposta continua atual?
A “iniciativa de paz árabe” prevê três pontos: 1) o fim da ocupação por Israel, da Cisjordânia, de Jerusalém Leste, da Faixa de Gaza e do Golan; 2) o direito de retorno, para os refugiados palestinos; e 3) sendo atendidos estes dois primeiros pontos, Israel será reconhecido pelo conjunto do mundo árabe.
Mas Israel não deseja esta solução. Basta ver que sua reação a esta proposta foi reocupar a Cisjordânia, cometendo um massacre. Em seguida, em abril de 2003, os EUA tiraram da cartola o “Mapa do Caminho”, com o objetivo, precisamente, de neutralizar a “iniciativa de paz árabe”. Seja como for, a experiência mostra que Israel destrói sistematicamente qualquer possibilidade de haver um Estado palestino independente e viável.
E, de modo geral, o mundo árabe deixa barato...
Exatamente. Sobretudo, porque há enorme contradição entre as ambições dos líderes árabes, de um lado, e, de outro lado, as aspirações das sociedades árabes. Os dirigentes vivem quase sempre separados do povo e desconfiam do povo.
Há extremistas, em Israel, que propõem expulsar os palestinos para além do rio Jordão. Isto o preocupa?
Expulsar os palestinos é, sim, o objetivo manifesto dos extremistas israelenses. Mas é também o objetivo dissimulado, oculto, mascarado, de todo o establishment israelense. Evidentemente, não podem fazer abertamente o que fizeram em 1948 – como Ilan Pappé, historiador israelense, denunciou magistralmente. Hoje, limitam-se a criar condições de vida que são insuportáveis para os palestinos. Estão apostando no desalento, na desesperança, no cansaço, no medo. Estão apostando na idéia de que, dado que a vida torna-se literalmente impossível aqui, os palestinos partirão, mais dia menos dia. Estimulam os palestinos a partir, a emigrar.
Atualmente, os israelenses gostariam de anexar Gaza ao Egito, como antes de 1967, para se desembaraçar de 40% do problema palestino.
Em 1967, ante o avanço fulgurante das forças armadas de Israel, alguns palestinos partiram. Mas a maioria ficou. Porque lembraram-se dos que fugiram em 1948 e que estão, até hoje — aqui mesmo, na Cisjordânia, em Gaza, no Líbano ou na Jordânia — em campos de refugiados. Não quiseram sofrer a mesma humilhação nem passar pelo calvário pelo qual ainda passam os refugiados-expulsos de 1948.
O senhor tinha 13 anos em 1967. Lembra-se da chegada das forças israelenses?
Sim, é claro. Era muito jovem, mas lembro que meu pai nos disse: “Nós ficaremos. Não nos moveremos daqui. Melhor morrer na nossa terra, do que como errantes sem teto.” A escolha por não nos mover daqui é o maior acerto estratégico dos palestinos. Ironia, sim, é que seja estratégia muito bem-sucedida que não foi pensada ou decidida por qualquer equipe de especialistas. Foi decisão coletiva que o povo tomou espontaneamente. Como a primeira Intifada, iniciada em dezembro de 1987. Isto mostra que o povo palestino está mais avançado que os dirigentes. E que mantém viva uma incrível atitude de resistir, de recomeçar.
Em 1967, não partimos. Os israelenses não conseguiram assustar-nos para expulsar-nos. Continuamos aqui.
Em meio a tanta violência, por que o senhor ainda aposta na não-violência? Seu projeto não lhe parece um pouco utópico?
Muita gente diz que Israel só entende o idioma da força. Neste sentido, Israel comporta-se como todas as demais potências coloniais. Nenhum Estado colonialista jamais entendeu por que os colonizados queriam vê-lo pelas costas. Aconteceu, por exemplo, com o Estado francês na Argélia, com o Estado inglês na Índia, no Quênia, no Iêmen.
Mas para mim, não há só a força militar. Foi a força da não-violência que pôs fim ao colonialismo na Índia e ao regime racista do apartheid na África do Sul.
Se conseguirmos mobilizar uma maioria de cidadãos palestinos, a favor da idéia de uma resistência de massa, não-violenta, creio que começaremos a ter paz nesta região. Uma paz justa para os dois lados, fundada em justiça e democracia. E que nos leve a uma prosperidade partilhada.
Tradução: Caia Fittipaldi
caia.fittipaldi@uol.com.br
segunda-feira, 26 de maio de 2008
John Coltrane - Standard Coltrane (1958)
Músicos:
John Coltrane (tenor sax)
Wilbur Harden (flugelhorn, trumpet)
Red Garland (piano)
Paul Chambers (bass)
Jimmy Cobb (drums)
Faixas:
1. Don't Take Your Love From Me
2. I'll Get By (As Long As I Have You)
3. Spring Is Here
4. Invitation
Time: 34:35
A Bahia dos carlistas genéricos e lulistas transgênicos
Jorge Almeida
A campanha eleitoral de 2008 na Bahia está trazendo um verdadeiro show de coligações cruzadas, onde o único critério é o de supostamente somar votos, não importando programa político nem, muito menos, critérios ideológicos. Um exemplo disso será a eleição para prefeito da capital. O atual prefeito, João Henrique Carneiro, foi eleito em 2004 depois de 8 anos de mandato de Antonio Imbassahy, na época filiado ao PFL carlista. Montou uma imensa coligação, na qual estavam seu partido (na época o PDT), mais PSDB, PT, PCdoB, PSB, PMDB, PTB e muitos outros menores. O fracasso de sua administração, com a consequente queda na avaliação das pesquisas, e a derrota do carlismo nas eleições de 2006 seguida da morte do senador Antonio Carlos Magalhães em 2007, aprofundou a desagregação do carlismo e a confusão no que outrora foi conhecido como anti-carlismo no estado.
Neste quadro, o prefeito João Henrique (agora no PMDB), acabou de selar uma aliança eleitoral com Edvaldo Brito (PTB) em que este será o candidato a vice-prefeito da capital em sua chapa.
Mas quem botou o selo de ouro na aliança foi o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) quando, no ato de lançamento da chapa, numa declaração bombástica, acusou alguns adversários, como Antonio Imbassahy (ex- PFL e agora PSDB), de “carlistas genéricos”, se referindo aos ex-aliados do senador ACM. Já para o deputado federal ACM Neto (DEM), que também é candidato a prefeito, usou o adjetivo de “carlista verdadeiro”.
Agora, sua coligação está com 8 partidos: PMDB-PTB-PP-PSC-PDT-PRTB-PSL
Mas quem são os principais aliados de João Henrique e Geddel?
Edivaldo Brito foi prefeito biônico de Salvador, indicado pela ditadura, quando o seu partido era a Arena. Depois, foi para o PTB, partido que, na Bahia, renasceu em 1979 nas mãos do carlismo. Neste partido, foi candidato a prefeito (derrotado) de Salvador em 1985 coligado ao PDS, que era o herdeiro genético da Arena. Garantindo sua candidatura, estavam o então ministro das comunicações do governo Sarney, ACM (PDS), e o então governador João Durval Carneiro (PDS). Como se vê, naquela época, eram todos “carlistas verdadeiros”. Depois, Brito foi para São Paulo, sendo secretário da justiça do prefeito Celso Pitta, um verdadeiro malufista, do PPB, a nova denominação do PDS e da Arena.
O outro partido importante da coligação em Salvador é o PP, ou seja, justamente o novíssimo herdeiro genético da Arena, do PDS e do PPB. Em São Paulo, até hoje malufista. Na Bahia, historicamente “verdadeiro carlista”.
Finalmente, o próprio PMDB, antigamente anti-carlista. Atualmente, abrigo de ex-apoiadores (sinceros e leais ou não) de ACM. Entre eles, o próprio ministro Geddel Vieira Lima (ex-carlista e atual lulista) e o prefeito João Henrique Carneiro (hoje no PMDB). João Henrique é filho do senador João Durval Carneiro (hoje no PDT), irmão do deputado federal Sérgio Carneiro (hoje no PT), cunhado do também deputado federal Sérgio Brito (PDT) e marido da deputada estadual Maria Luíza (PMDB). Como se vê, uma família supra-partidária e, assim como Geddel, todos, na própria linguagem geddeliana, “carlistas genéricos” ou seja, ex “carlistas verdadeiros”.
Ocorre que, no momento, todos estes “carlistas genéricos” são também “lulistas transgênicos”, pois, como diz o ditado, a carne é fraca e a genética também. Todos são políticos e partidos da base dos governos de Jaques Wagner e Lula da Silva, ambos do PT. E, na Bahia, estão na base até os genéricos tucanos do PSDB – e sem nenhuma reclamação da Executiva Nacional do PT, nem de qualquer de suas tendências internas.
O presidente Lula da Silva já disse que prefere apoiar João Henrique, que está chefiado pelo trator da Transposição do São Francisco, Geddel Vieira Lima. Jaques Wagner, também disse que preferia João Henrique (PMDB) ou mesmo Antonio Imbassahy (PSDB).
Mas, depois de muita indecisão e de ter ficado três anos e quatro meses participando do governo João Henrique, o PT resolveu entregar suas quatro secretarias na prefeitura (inclusive a Secretaria de Governo e a de Saúde) e sair atirando. Atirando no prefeito e caçando aliados onde puder, inclusive no PTB, PP e PR.
Por isso, parece que todas as correntes petistas ficaram sentidas por perder o apoio do genérico Edvaldo Brito, do seu PTB e do PP. Mas eles ainda têm esperanças em se aliançar com o senador César Borges (hoje no PR, depois de ter passado pela Arena, PDS, PFL e DEM). Este, que agora apóia Jacques Wagner, também é carlista. Há dúvidas se “verdadeiro” ou “genérico”. Mas isto não é mais problema. Por um lado, porque ele já foi devidamente transmutado em lulista transgênico. Por outro, depois da mutação do próprio PT, não existem mais barreiras deste tipo.
Talvez Borges acabe apoiando o jovem ACM (DEM, filho do PFL, neto do PDS e bisneto da Arena), “carlista verdadeiro”, mas não se sabe até quando. Afinal, até o velho senador teve seu momento de transgenia lulista.
Jorge Almeida é professor de Ciência Política da UFBA e Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Autor de Como vota o brasileiro e de Marketing político, hegemonia e contra-hegemonia. jorgealm@uol.com.br
domingo, 25 de maio de 2008
Hoje, o 25 de Maio é o maior produtor de ovinos e bovinos da região, também o maior produtor de mamona do município. Durantes esses anos, foram educados 200 adultos por meio do trabalho desenvolvido por mais de 20 pedagogos do movimento, que implementam a educação do campo.
Outra bela experiência vivida pelo assentamento é a rádio comunitária 25 de Maio - FM 95,3 -, onde mais de 20 jovens aprendem e trabalham em informar toda a comunidade sobre acontecimentos que lhe dizem respeito.
O integrante da direção estadual do MST no Ceará, Marcelo Matos, diz que o movimento é reconhecido e respeitado pelo povo da cidade que, além disso, participa das lutas. "São 19 anos de muitas conquistas, mas a luta não pára por aqui. Muito ainda tem de ser feito. Disposição e oganização é o que não faltam para podermos dar o salto de qualidade esperado", aponta.
As correntes do debate econômico na América Latina
O que sabemos, depois de 25 anos de políticas ortodoxas, é que as exportações cresceram e os salários não, a taxa de formação bruta de capital está estancada, com maior concentração de renda, e surgiu a consciência de que a privatização significou passar ativos do Estado principalmente para empresas transnacionais, não trazendo uma melhoria nos serviços, senão tornando-os mais caros.
Do outro lado estariam aqueles chamados de “populistas”, que não são propriamente uma escola nem uma corrente teórica, mas que a partir de uma prática política real de redistribuição de renda conseguiram fazer crescer suas economias, reduzir a pobreza, e amortecer o efeito da crise internacional que, de fato, ainda não começou a ser sentido na América Latina a não ser pelo efeito inflacionário. Estão nessa linha os governos da Bolívia, Argentina, Brasil e Venezuela, junto com o recém chegado Equador, que também está tentando fazer isto. Todos têm um componente de expansão da demanda interna bastante importante, que provoca um impacto sobre os preços dos alimentos e causa a escassez de alguns artigos que eles não produzem.
Não estão pensando no desenvolvimento futuro, mas em como recuperar os 25 anos perdidos desde 1981 e em como fazer para retornar aos níveis de renda por habitante da década de 1970, quando chegou ao seu ponto mais alto. Estes e os primeiros têm em comum uma preocupação pela atuação do Estado e precisam com urgência de maiores arrecadações fiscais para poder alimentar o crescimento liderado pelo gasto público, que, na verdade, agora é, parcialmente, um subsídio ao consumo.
Há um terceiro grupo, que eu chamaria de “escola asiática de Cambridge” e que é um grupo de pós-keynesianos que refletiram sobre o que tem sido feito na Ásia durante as últimas décadas e, além disso, sobre os impedimentos para o desenvolvimento econômico colocados pelo Ocidente, seja através do FMI, do BM, da OMC ou pela soma de todos eles. Neste grupo estão Jomo K.S., autor de The Misunderstood Asian Miracle; Jong-Ho Chang, com The Bad Samaritans; Ajit Singh, com Jayayit e, de alguma maneira, os trabalhos de Walden Bello, que têm um viés mais político do que estritamente econômico. Uma preocupação desse grupo é o contrabando do desenvolvimento asiático que está sendo feito no Ocidente, como se fosse sob as linhas ortodoxas. Como ocorre, por exemplo, com The World is Flat, de Thomas Friedman.
Todos eles coincidem em indicar que o alto crescimento asiático é possível porque há política industrial, intervenção pública no investimento, regulamentações, proteção do mercado em algumas etapas e um processo de acumulação de conhecimentos. A Ásia desenvolveu-se nesta visão com muita poupança interna, que vem de altos impostos, um nível de proteção às industrias jovens e muito investimento em educação. O comum denominador dos asiáticos é a falta de recursos naturais, o que os tem obrigado a lançar mão da sua única fonte real de riqueza: o tamanho do seu mercado, a qualidade da sua força de trabalho e a capacidade de inovação.
O parentesco entre os trabalhos desses grupos conceituais está em que todos dão importância ao conhecimento e à cultura. Seu único capital é a força de trabalho. Provavelmente, na América Latina o único país que circula por essa via é Cuba, um caso que não tem sido pensado nem estudado adequadamente desde as mudanças dos anos 1990, mas que mantém taxas estáveis de crescimento há mais de uma década, com uma média de mais de 8% , segundo a CEPAL.
Há outro grupo que trabalha temas de integração econômica e financeira e que não está coordenado com o anterior. Neste grupo estariam Arestis e de Paula, com seu trabalho South American Monetary Union que vai em busca de uma moeda única visando a ampliação do mercado, somado com Brasil e Argentina com uma única política monetária. Trata-se de uma primeira tentativa nessa direção. Outra é o esquema apresentado em Genealogia da Arquitetura Financeira Internacional, de Ugarteche, cujo último capítulo revisa os esquemas que estão em marcha na Ásia, África, Oriente Médio, Europa e América do Sul buscando desatrelar as economias do dólar e fortalecer o mercado interno ampliado regionalmente. Nesta escola está Bárbara Fritz, da Universidade Livre de Berlim.
Finalmente, como núcleo teórico estão Joan Martínez Allier e o grupo em torno da revista Ecologia Política de Barcelona, o do Instituto de Ecologia Política de Santiago do Chile e a Rede Ibero-Americana de Economia Ecológica, REDIBEC, que trabalham com o conceito da dívida ecológica e adentram na noção do desenvolvimento ao tentar promover um desenvolvimento que respeite e conserve o entorno, tendo em vista o aquecimento global e os danos acumulados nos quinhentos anos de história colonial. Este grupo, por enquanto, é o mais alternativo de todos, visto que foge do padrões convencionais de análise econômica e defende o desenvolvimento a partir da conservação e recuperação da natureza. O interessante deste grupo, que não está articulado, é que busca, em muitos casos, a compensação pelos danos causados ao ambiente no passado, chamado por alguns de “dívida colonial”.
Finalmente, em linhas gerais, a ortodoxia e as instituições multilaterais que lhe deram força e poder político está de saída: o FMI terminou suas funções e, apesar de que ainda não encerrou sua existência, está a caminho de encolher de forma importante, como resultado da frustração global dos governos e das sociedades com suas recomendações de políticas e diante da perda de credibilidade, legitimidade e recursos que tem sofrido após as crises da Ásia, Rússia, Argentina e, principalmente, da sua paralisia diante da queda da economia dos Estados Unidos e da irrelevância da sua participação frente à imensa crise norte-americana, cujo sintoma são hipotecas-lixo, com uma inadimplência de 1 trilhão de dólares, mais do que o PIB do Brasil e do México somados.
A carteira do FMI reduziu-se, em 2007, a um terço do que era em 2003. O Banco Mundial, por sua vez, que desempenhou o papel de partido político, que trazia as idéias, a agenda política, os técnicos e produzia os empréstimos para pagar os partidos –e que teve um papel tão importante na ditadura peruana de Alberto Fujimori– também tem sentido seus condicionamentos crescentes e múltiplos, de tal maneira que os clientes, que são governos, optaram por não pedir emprestado e, pelo contrário, devolver-lhes seu dinheiro. Sua carteira perdeu 40% entre 1996 e 2006. Com seu enfraquecimento e com o auge asiático veio a nova consciência, ainda em construção, de que o mercado puro e duro não é o caminho do desenvolvimento justo, distributivo e ecologicamente sustentável.
O que sabemos, depois de 25 anos de políticas ortodoxas na América Latina, é que as exportações cresceram e os salários não, a taxa de formação bruta de capital está estancada, há pressões tributárias modestas, com maior concentração de renda, e surgiu a consciência de que a privatização significou passar ativos do Estado principalmente para empresas transnacionais, mas não trazendo uma melhoria nos serviços, senão tornando-os mais caros. Telmex, do México, com as tarifas mais altas da América Latina e com uma qualidade de serviço horrorosa, como em geral são os serviços privatizados no México, é um destes casos.
Os bancos comerciais que cobram comissões obscenas e taxas de juro várias vezes maiores que a internacional, que já tiveram que ser salvos em todas partes uma ou duas vezes, é outro. A tendência atual, portanto, em quase todos os países, tem sido recuperar o controle acionário das empresas privatizadas que geram altos lucros. Esta é a base da altíssima taxa de crescimento econômico da Bolívia, apesar das tentativas de desestabilização norte-americanas, por exemplo.
Em construção, para dar vida às novas idéias de desenvolvimento, está o Banco do Sul, que tem como signatários oito dos dez países sul-americanos, a unidade de contas sul-americana, lançada inicialmente por Alan García em Quito, em janeiro de 2007, e que foi mencionada na declaração de Quito de maio de 2007 e batizada por Evo Morales como a “Pacha”. Também está em curso uma dinâmica de integração sul-americana nos planos econômicos, financeiro, político e militar que é inédita, com alguns governos menos interessados do que outros, mas no fim todos pensando que é melhor ter uma atuação conjunta no plano global do que uma atuação singular. O inimigo deste processo é G. W. Bush, que, por sorte, tem apenas poucos meses de governo antes de entrar na lixeira da história.
- Oscar Ugarteche, economista peruano, trabalha no Instituto de Investigações Econômicas da UNAM, México, e integra a Rede Latino-americana de Dívida, Desenvolvimento e Direitos (Latindadd). É presidente de ALAI
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
“Glória a todas as lutas inglórias. Salve o Almirante
créditos: Professor Edney
O senador Paulo Paim garante que até a próxima semana o Projeto será referendado pelo Senado, de onde é originário, como iniciativa da senadora Marina Silva.
Como o próprio nome indica, a principal reivindicação dos revoltosos, que tomaram a direção dos principais encouraçadas de guerra do Brasil à época, era a abolição dos castigos físicos na Armada Nacional. Um motim contra a tortura!
Sobre a violência desses castigos, o então deputado federal, oficial da Marinha José Carlos de Carvalho, incumbido pelo governo de negociar com os revoltosos, comentou ao apresentarem-lhe um marinheiro surrado dois dias antes: “Examinei essa praça e trouxe-a comigo para terra, a fim de ser recolhida ao Hospital da Marinha. As costas desse marinheiro assemelhavam-se a uma tainha lanhada para ser salgada”. (trecho de A Revolta da Chibata, de Edmar Morel)
Os rebeldes ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro e os navios que não se amotinassem, caso não houvesse uma resposta positiva do governo. E o governo, por sua vez, ameaçava bombardear os revoltosos caso não se rendessem. O Congresso Nacional aprovou Projeto de Lei de anistia em 25 de novembro (a revolta ocorreu em 22 de novembro), da lavra do então senador Rui Barbosa.
Entretanto, não obstante a anistia aprovada pelo Congresso Nacional, que garantiu o fim da situação de grave tensão e o término da revolta, os seus participantes foram excluídos da Marinha, muitos presos em condições desumanas e mesmo mortos, sob o pretexto do levante do Batalhão Naval, ocorrido no começo de dezembro de 1910. O paradoxal é que muitos dos revoltosos da Rebelião da Chibata, inclusive João Cândido, foram leais ao governo por ocasião do levante, tendo sido absolvidos pelo Conselho de Guerra da Marinha, em novembro de 1912, embora desligados da Armada.
João Cândido, homem de poucas letras e exímio navegador (elogiado pelas manobras que comandou no Encouraçado Minas Gerias – principal navio da Armada), com a saúde abalada pelas condições carcerárias que enfrentou, passou a vender peixes e fazer pequenos biscates até sua morte em 1969, aos oitenta e nove anos, no ostracismo.
O senador Rui Barbosa, ao justificar o Projeto de Lei de anistia que apresentou, disse: “Eles tinham jogado ao mar toda a aguardente existente a bordo, para não se embriagarem; tinham feito guardar, com sentinelas, as caixas onde se achavam depositados os valores; tinham mandado guardar com sentinelas os camarotes dos oficiais para que se não fossem violados; tinham guardado, na organização do movimento, um sigilo prodigioso entre os costumes brasileiros; tinham sido fiéis à sua idéia; tinham sido leais uns com os outros, desinteressados na luta. (...) A isto foram levados pelas conseqüências irresistíveis da situação na qual estavam colocados. As reclamações capitais existentes na base desse movimento correspondem a necessidade irrecusáveis”.
Aprovada formalmente pelo Congresso Nacional, em 26 de novembro de
Em função do ocorrido, muitos dos que sobreviveram sucumbiram à miséria. Veja-se o depoimento emblemático do líder João Cândido, colhido em 1968: “depois que saí da cadeia, ainda tentei trabalhar no mar, mas fui sempre muito perseguido, até na Marinha Mercante. (...). Depois da Revolta da Chibata caí na penúria. Quando houve a epidemia espanhola, em 1919, estava a serviço dos navios ingleses que estavam aqui, no momento da limpeza, desinfecção, enterrando ingleses. Depois ingressei na pesca, por falta de outra oportunidade. Trabalhei 40 anos no mercado de pesca. Em 1959, ali no entreposto da Praça XV, completei 40 anos no serviço e abandonei esse trabalho. Não tinha resultado, creio que ia morrer de fome”.
Quase um século depois, o Congresso Nacional resgata o nome e a memória desses homens de bem, que lutaram legitimamente contra a tortura e pelo fim do regime de semi-escravidão a que eram submetidos. E recompõe, na medida do possível, a história de suas vidas como se tivessem permanecido a serviço da Marinha brasileira. Isto era, afinal, o que deveria ter efetivamente acontecido, se a lei de anistia aprovada à época não ficasse letra morta. Ainda que com 98 anos de atraso, vale cantar os versos de Aldir Blanc e João Bosco: “Glória a todas as lutas inglórias. Salve o Almirante Negro!”
Chico Alencar é professor de história e deputado federal pelo PSOL-RJ
sábado, 24 de maio de 2008
Esses são os três aspectos de uma nova proposta de televisão: a TV Supren. Expressos pela própria logomarca dessa nova TV, a TV Supren tem seu nome inspirado numa palavra do esperanto que indica o sentido “para cima”, “para o alto”, como up em inglês. Isso reflete a proposta dessa nova TV: valorizar a dimensão espiritual do ser humano, promover os valores éticos, mostrar o que é bom, belo e verdadeiro como referências de um norte para a humanidade.
A TV Supren é o canal de comunicação e ação da União Planetária, uma ONG sediada am Brasília, Brasil, que congrega e apóia o movimento mundial pela renovação da estruturas sociais e o exercício da cidadania solidária com uma visão planetária.
Mais informações sobre a TV Supren
A TV Supren é uma televisão plural e democrática. Uma TV que valoriza a pluralidade de idéias, de crenças e de saberes. Uma TV que expressa o anseio de milhões e milhões de pessoas por mudanças de paradigmas, pela vida ética e sustentável no planeta, pela utopia de que é possível viver num mundo de paz, de amor e de felicidade.
Ciência, Filosofia, Artes, Religiões, Educação, Cidadania, Ecologia, Medicina Alternativa, Esperanto, Qualidade de Vida são as linhas mestras de vários programas temáticos que vão balizar uma programação variada, bonita e útil para toda a família.
A TV Supren quer mostrar a força dos exemplos de pessoas, organizações e movimentos que trabalham em prol da construção de um mundo melhor. A TV Supren tem compromisso de disseminar a consciência coletiva da responsabilidade individual pelas mudanças que vão garantir, progressivamente, a construção de um mundo melhor para as gerações presentes e futuras. A TV Supren vai alimentar a fé, a esperança e a sinergia coletiva dos desafios emergentes de nossa época.
TV Supren, a TV de uma nova consciência. TV Supren, a TV da cidadania planetária!
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