Waldemar Rossi - Correio da Cidadania | |
O Estado de S. Paulo do dia 27 último, em seu caderno sobre Economia, dá
destaque para o fato de que o Brasil está importando mais do que em
qualquer outro tempo. Importação de material que já deveria estar sendo
fabricado no Brasil há décadas.
Importamos de tudo, desde máquinas, computadores e todos os seus
componentes a minerais não metálicos, tecidos, carros em larga escala,
além das bugigangas que vêm da China e de outros países asiáticos. São
rios de dinheiro que saem, garantindo emprego naqueles países, enquanto
nossa juventude fica à mercê do desemprego ou dos baixos salários e
trabalhos precários.
Desde os tempos da ditadura militar, de tão triste memória, que o Brasil
adotou um modelo econômico dependente do capital transnacional (à época
chamado de multinacional), predador, em profundo prejuízo para a
economia e para o povo brasileiro.
Convém não esquecermos que Getúlio Vargas vinha pondo em prática um
modelo de desenvolvimento industrial nacionalista, isto é, com
tecnologia nacional – embora retardatária em relação à Europa e Estados
Unidos –, amparada nos recursos financeiros acumulados pelos barões do
café e do leite, além, é claro, dos maravilhosos "incentivos" do próprio
governo que direcionava dinheiro do orçamento nacional (dinheiro do
povo, portanto) para garantir que a indústria crescesse aqui sem
depender do capital internacional. Tratava-se, sem dúvidas, de um modelo
capitalista, porém escorado numa concepção nacionalista.
Quem mudou definitivamente essa direção da nossa economia foram os
militares, aliados históricos do imperialismo estadunidense, com o apoio
político da famigerada UDN (União Democrática Nacional), partido de
extrema-direita da época. A adoção do modelo industrial multinacional
viria a colocar o Brasil sob a total dependência do capital alienígena,
que sempre visou nos explorar ao máximo. Depois de alguns anos de
grandiosa produção em larga escala, o modelo começou a mostrar seu
"canto de sereia" que levou milhões de brasileiros a se deslocarem do
campo para os grandes centros em busca da felicidade alardeada pela
mídia. Entrou em declínio de produção e de vendas, gerando desemprego e
todas as suas graves conseqüências.
Porém, o capital aqui instalado não aceitou reduzir seus lucros e nem
perder o controle sobre nossa economia. Jogou pesado para assegurar que
os que viessem suceder os governos militares estivessem sob seu comando.
E conseguiu. O grande vilão da nova fase da vida política do país –
chamada de "democrática" – viria a ser principalmente o PSDB, um partido
composto de "cidadãos" que tinham sido de esquerda anos antes, mas que
já tinham sido cooptados pelo poder do capital neoliberal, via FHC, que
fora guinado a ministro de Relações Exteriores.
Se não foi o único vilão da época, o tucanato se prestou a fazer o
grande jogo de colocar o país ainda mais dependente do capital
transnacional. Nossas empresas estatais, estratégicas para o
desenvolvimento econômico nacional, foram "leiloadas" e entregues "de
mãos beijadas" às grandes empresas, em sua maioria estrangeiras
(americanas, européias, japonesas...).
Por outro lado, o mesmo tucanato ampliou consideravelmente a política de
produção do setor primário – extração mineral e produção agropecuária –
para a exportação. Objetivo: garantir a entrada de dólares, que o
governo foi comprando com dinheiro do orçamento federal, a juros
elevadíssimos, para fazer o "superávit-primário", e com isso garantir os
compromissos com a agiotagem das Dívidas Externa e Interna, sem
reduzi-las, porém.
Se os tucanos traíram o povo brasileiro, a política "lulo-petista" não
deixou por menos. Somos hoje muito mais dependentes do capital
internacional e vivemos ao sabor dos seus humores. Assim, a cada
oscilação do mercado internacional - que vai se tornando cada vez mais
freqüente -, a economia brasileira se põe em sobressaltos. Em pouco
tempo, as aparentes recuperações da economia e do emprego entram
novamente em recesso. E quem sofre as conseqüências desse vai e vem da
economia em crise são em primeiríssimo lugar os trabalhadores.
No início do governo Lula (2003), os movimentos sociais de âmbito
nacional se organizaram, desenvolveram amplo debate sobre os rumos da
política econômica nacional aplicada também pelo governo petista.
Apresentaram documento apontando para os "gargalos" que vêm travando o
desenvolvimento econômico do país, indicando onde o dinheiro do povo
deveria ser aplicado para que, em poucos anos, pudéssemos alcançar a
nossa autonomia, gerando postos de trabalho permanentes, promovendo
distribuição de renda e, de fato, ir progressivamente eliminando a
pobreza e a miséria reinantes em nosso país, desde os tempos coloniais.
No entanto, Lula virou as costas para os movimentos sociais, que foram
parte importante para sua eleição. Mas o documento está "guardado na
lata do lixo do Palácio do Planalto" e o povo paga um preço muito caro
por tamanho desprezo para com as suas necessidades vitais. Não é por
menos que os grandes empresários nacionais e internacionais estão
felicíssimos com o desempenho do governo petista, pois nunca poderiam
imaginar que o lulo-petismo fosse mais eficaz que o tucanato.
Não se iludam os amantes e defensores incondicionais da política
lulista. O tempo se encarregará de revelar o grau de tamanha traição,
como vem mostrando o que foi a traição nacional dos militares golpistas,
pois "um governo que semeia ventos fará seu povo colher tempestades".
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral
Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Modelo econômico e dependência
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Exame de próstata...
Reproduzo do blog do Azenha...
por Conceição Lemes
Check-up da próstata, fazer ou não?
por Conceição Lemes
O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os brasileiros. A
estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da
Saúde, era de que, em 2002, ocorressem no país 25.600 novos casos da
doença. Para 2010, calcula 52.350.
Um salto de 104% em nove anos devido especialmente ao aumento de
diagnósticos. Nisso, a mídia tem ajudado, estimulando a detecção
precoce. Há duas estratégias. Uma, para indivíduos que apresentam
sintomas ou sinais iniciais da doença. É o diagnóstico precoce. Outra,
àqueles aparentemente saudáveis, sem qualquer sinal ou sintoma. É o que
os médicos denominam rastreamento.
O diagnóstico precoce é inquestionável. É consenso no mundo inteiro. O
mesmo não acontece com rastreamento destinado à população masculina em
geral.
“Eu não tenho dúvida de que é preciso rastrear, detectar e tratar o
câncer de próstata em homens saudáveis, assintomáticos”, afirma
urologista Sidney Glina, professor livre-docente da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do ABC. “O câncer de próstata só mata
menos do que o de pulmão. O óbito ocorre, em média, 12 anos após o seu
início. Se aos 50 anos o indivíduo tem câncer de próstata e não se
tratar vai morrer com 62. Portanto, o rastreamento tem impacto positivo
na vida.”
“Não se tem ainda grandes evidências de que diminua a mortalidade se o
câncer de próstata for tratado antes de os sintomas aparecerem, fazendo
o paciente viver mais e melhor”, diverge o clínico geral Arnaldo
Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor
colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina
da USP. “Além disso, o tratamento tem efeitos colaterais importantes.”
Essa discordância no meio acadêmico retrata um grande debate que
ocorre no mundo inteiro.
Sociedades de especialistas, como a American Cancer Society, American
Urology Association e Sociedade Brasileira de Urologia, são a favor do
rastreamento. Recomendam anualmente o toque retal e do PSA em homens
saudáveis, sem sintomas, a partir dos 50 anos. Caso exista história
familiar de câncer de próstata, a partir dos 40.
Já a US Preventive Services Task Force e a Canadian Task Force,
respeitados organismos multidisciplinares independentes, e o National
Institute of Cancer, dos EUA, contra-indicam o check-up anual em homens
assintomáticos, sem histórico familiar. No Brasil, o Inca e o Centro de
Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo também.
TEM ALGUMA DIFICULDADE PARA URINAR?
Estranhou? Ficou confuso, por que não é o que normalmente aparece na
mídia?
Calma. Antes de avançarmos, atente aos sintomas abaixo e responda:
* É comum a sensação de não esvaziar completamente a bexiga aós
terminar de urinar?
* Tem vontade urinar menos de 2 horas após ter urinado?
* Ao urinar, parou e recomeçou várias vezes?
* O jato de urina anda fraco?
* Tem de fazer força para começar a urinar?
* Tem de se levantar duas, três, quatro vezes à noite para urinar?
Quanto mais sim, maior a intensidade dos sintomas. Mas eles –
atenção! – não significam que a doença seja maligna ou benigna. É
apenas o que o homem está sentindo em decorrência de prováveis
alterações na próstata. Vá ao médico.
O que tem a ver dificuldade de urinar com próstata? Muito. A razão é a
posição dela. Situada logo abaixo da bexiga e em frente ao reto, ela
fica em volta da uretra.
A próstata é uma glândula, seu formato e tamanho assemelham-se ao de
uma castanha portuguesa e pesa cerca de 20 gramas. É órgão fundamental
do aparelho reprodutor masculino. Sua função principal é produzir a
secreção que participa do esperma, o líquido expelido pelos homens
durante a ejaculação. A secreção prostática representa 30% do volume
ejaculado. Serve como meio de transporte, alimento e proteção para os
espermatozóides durante o seu percurso na vagina rumo à fertilização. E,
ao contrário do que muitos imaginam, não tem nenhum papel na ereção
peniana.
“Três enfermidades podem afetar a próstata”, explica Glina. “A
prostatite [infecção], a hiperplasia benigna [crescimento benigno da
glândula] e o câncer.”
Imagine uma maçã. A casca equivale à região periférica da glândula: é
onde nasce a maioria dos cânceres. O miolo, onde ficam os caroços, é a
zona central: local onde mais freqüentemente ocorrem as prostatites. A
parte maior, que é a polpa, equivale à região de transição: é onde surge
a hiperplasia benigna da próstata, disparado a mais freqüente das
enfermidades da glândula.
“Geralmente no início, o câncer de próstata é silencioso, não dá
sintomas”, previne Lichtenstein. “Independentemente disso, ao sentir dor
ou desconforto na micção ou notar alguma mudança no fluxo da urina, não
empurre com a barriga, busque ajuda médica, pois alguma alteração há.”
OPERAÇÃO ÀS VEZES DESNECESSÁRIA E MUTILANTE
Especificamente em relação ao câncer de próstata, sabe-se que:
1) A genética é fator importante. Homem cujo pai ou irmão teve câncer
de próstata antes dos 60 anos tem 3 a 10 vezes mais risco de
desenvolver a doença do que a população em geral.
2) Obesidade e alimentação parecem favorecer a doença. Na Ásia, é
baixa a incidência . Porém, quando os asiáticos migram para os países
ocidentais, a geração seguinte tem a mesma prevalência que a população
branca.
3) A sua incidência aumenta após os 50 anos. É considerado um câncer
da terceira idade, já que 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65
anos.
4) Estudos demonstram a presença de câncer de próstata em 30% das
necropsias feitas em homens acima de 80 anos. Porém, menos de 5% desses
óbitos são devido ao tumor. Ou seja, em um grande contingente de homens a
doença jamais evoluirá.
5) Há dois tipos de tumores de próstata. Os que crescem rapidamente e
se espalham para outros órgãos (metástases), podendo levar à morte em
alguns meses, se não diagnosticados e tratados bem cedo. E os que se
desenvolvem lentamente – demoram aproximadamente 15 anos para atingir 1
centímetro cúbico –, e não chegam a dar sinais durante a vida e nem
ameaçar a saúde do homem. Esse segundo tipo corresponde à maioria dos
casos.
“A questão é que não existe exame que nos permita saber se o tumor é
do primeiro ou do segundo tipo”, adverte Lichtenstein. “Operam-se então
homens sem necessidade, e a cirurgia pode causar disfunção erétil [antes
denominada impotência sexual] e incontinência urinária.”
“Provavelmente tratamos mais do que seria preciso”, reconhece Glina,
“e o tratamento é mutilador, e o pós-operatório, chato. Esse é o
problema”.
A cirurgia chama-se prostatectomia radical. Feita com anestesia
geral, remove a glândula inteira e os tecidos ao redor. Incontinência
urinária é um dos riscos. A operação pode lesar a musculatura que segura
a urina na bexiga. Em conseqüência, 2% a 5% perdem totalmente a
capacidade de conter a urina e têm de usar fralda o tempo todo. Cerca de
10% deixam escapar um pouco quando riem, tossem ou fazem esforço e
precisam usar um pequeno absorvente.
Outro risco é a disfunção erétil. Inicialmente, todos ficam
impotentes. Com o tempo, 30% a 50% recuperam naturalmente a ereção. Mas
em 50% a 70% a cirurgia causa disfunção erétil, já que os nervos da
ereção passam ao lado da próstata e muitas vezes não dá para
preservá-los. A disfunção erétil pode ser tratada com medicamentos
orais, injeções no pênis e prótese peniana.
“Em alguns casos, pode ser feita radioterapia em vez da cirurgia”,
avisa Glina. “A radioterapia provoca menos efeitos colaterais.”
PSA AUMENTADO NÃO SIGNIFICA SEMPRE TUMOR MALIGNO
E o PSA? E o toque retal?– muitos já devem estar cobrando.
O toque retal é o teste mais usado. Porém, como somente as porções
posterior e lateral da próstata podem ser palpadas, 40% a 50% dos
tumores ficam fora do seu alcance. Daí ser usado em combinação com a
dosagem do PSA no sangue.
O antígeno prostático específico é produzido pelas células epiteliais
da próstata e não pela célula cancerosa, especificamente. Resultado: o
PSA altera-se não apenas quando há câncer, mas também prostatite e
hiperplasia benigna da próstata, assim como após a ejaculação e a
realização de citoscopia (endoscopia das vias urinárias).
PSA abaixo de 4 ng/ml é considerado normal. Porém, hoje se usa mais 3
a 3,5. Para alguns especialistas, resultado negativo só quando o PSA
for abaixo de 2,5 ng/ml. Ou seja, não há consenso.
“Como o PSA alterado não diferencia a doença, torna-se necessária a
biópsia da próstata, feita em 18 a 20 fragmentos”, afirma Glina. “Cerca
de 70% dos casos não são positivos para câncer, pois o PSA é um mau
marcador tumoral. Mas é o único que temos. Infelizmente, ainda não há um
método melhor para separar o tumor maligno das demais doenças.”
“O PSA elevado é apenas o início do processo que pode passar pela
biópsia e chegar à cirurgia”, salienta Lichtenstein. “A biópsia é
incômoda e gera muita ansiedade. Se for câncer, opera-se, correndo o
risco dos efeitos colaterais. Por isso, não vale a pena fazer check-up
prostático anual em homens saudáveis. Acaba-se operando demais.”
“Vale a pena, sim, ‘ir atrás’ do tumor de próstata em homens
saudáveis”, reafirma Glina. “O diagnóstico precoce terá impacto na
sobrevida, principalmente nos mais jovens. Já há dados no mundo todo,
inclusive do DataSUS de São Paulo, mostrando que a mortalidade pelo
câncer de próstata vem caindo. Isso se deve ao fato de rastrear o câncer
próstata entre os homens saudáveis após os 50 anos e a partir dos 40,
em quem tem história familiar desse tumor.”
“Mas se for do tipo que não mata e o indivíduo ficar apenas com os
ônus da cirurgia?”, Lichtenstein vai ao x da questão. “Só tem sentido o
rastreamento no dia em que houver um marcador para o tumor agressivo,
ou tratamento que não deixe seqüelas ou evidências científicas de que o
que tratar o câncer da próstata antes de os sintomas aparecerem faz o
indivíduo viver mais ou melhor. Enquanto isso, check-up anual de
próstata em homens saudáveis, sem antecedentes familiares , não deve ser
política de saúde pública.”
DISCUTATUDO ISSO COM SEU MÉDICO
Sidney e Arnaldo são médicos muito competentes, atualizados e éticos.
Além disso, amigos. Mas essa discussão é sem fim. É um Fla-Flu, mesmo,
pelo menos por enquanto. E não estão sozinhos.
No mundo inteiro, a comunidade científica busca uma resposta
consistente, definitiva, para esta pergunta: a procura de câncer de
próstata em homens saudáveis, sem histórico familiar da doença, traz
benefícios, reduzindo a mortalidade?
A expectativa era a de que dois grandes estudos – um europeu e outro
estadunidense – com milhares de homens, divulgados em 2009, responderiam
a questão. Mas não, ela continua em aberto.
O estudo estadunidense acompanhou 75 mil pacientes durante 11 anos.
Concluiu que não há diferença de mortalidade entre rastrear ou não
homens homens saudáveis, assintomáticos, acima dos 50 anos. Esse estudo
foi contestado no mundo inteiro, pois 58% dos participantes do grupo
controle fizeram o PSA por conta própria.
O estudo europeu envolveu 180 mil homens por 10 anos. Verificou que
para evitar uma morte foram necessários 1.400 PSA e 50 tratamentos, dos
quais 20 ou 30 ficaram impotentes. Para os epidemiologistas, é número
muito alto de diagnósticos e de disfunção erétil para salvar uma vida.
Daí a US Preventive Services Task Force, a Canadian Task Force, o
National Institute of Cancer, dos EUA, o Inca e o Centro de Promoção de
Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo continuarem não recomendando
a avaliação em homens aparentemente saudáveis, sem histórico familiar.
“Só se recomenda o rastreamento populacional, quando o exame é fácil
de fazer, detecta a doença no início, ela é frequente e o tratamento
precoce muda o curso dela”, esclarece Lichtenstein. “Isso está
comprovado para hipertensão, diabetes e câncer do colo do útero. Para o
câncer de próstata, ainda não.”
“Só que quando o câncer de próstata dá sintomas, a doença já se
disseminou”, alerta Glina. “Aí, o tratamento é paliativo, não há mais
chance de cura.”
Diante desses prós e contras, o que fazer?
Se você tem histórico familiar de câncer de próstata, não há o que
discutir. A recomendação é unânime: faça a avaliação anual a partir
dos 40 anos. Isso implica toque retal e PSA.
Tendo dor, desconforto ou sintomas urinários, procure ajuda médica
também, qualquer que seja a sua idade.
Se você tem 50 anos ou mais, está saudável, a decisão de fazer o
check-up anual de próstata é sua. Discuta com o seu médico. Questione-os
sobre os prós e contras.
O economista Carlos Vieira, 59 anos, faz desde os 50: “Fico mais
tranqüilo”.
O colega de trabalho Marcos Pacheco, 57, não: “Enquanto não estiver
comprovado que vale a pena em homens saudáveis, não farei. Pelo menos,
até os sintomas aparecerem – se aparecerem — vou ser feliz”.
Mas qualquer que seja a sua decisão, cuidado com os espertalhões.
“Tem médico que fala que opera com robô e garante 100% de potência no
pós-operatório”, alerta Glina. “Isso é mentira.”
terça-feira, 29 de junho de 2010
Na Argentina, TV Pública inteligente e polêmica questiona o monopólio da mídia
Por Flamarion Maués
O programa estreou a cerca de dois anos e vem aumentando sua
audiência e repercussão, o que com certeza incomoda muita gente.
Programa “6,7,8”, da TV Pública argentina, desnuda os interesses
por trás do noticiários dos grandes meios de comunicação do país
Voltei de Buenos Aires recentemente. Estive na cidade por alguns dias
e uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a forte polarização
política que existe lá e em todo o país. De um lado, setores do governo,
peronistas de diversos matizes, setores da esquerda e a maior parte da
população mais pobre, que apoiam o governo da presidenta Cristina
Fernandez de Kirchner. De outro, a oposição, composta por diversos
partidos, inclusive setores do peronismo, pelos dirigentes do “campo”
(agropecuária) e por quase toda a grande imprensa, capitaneada pelos
jornais Clarín e La Nación, os dois maiores do país e donos de canais de
TV e rádios. O nível de conflito político é alto, talvez maior do que o
nosso nesse período já quase eleitoral, sendo que lá a eleição é só no
ano que vem.
Uma das frentes mais radicalizadas nesta disputa é justamente a dos
meios de comunicação. A presidenta Kirchner comprou a briga com os
grandes grupos que monopolizam a mídia no país, e está batendo de frente
com eles. Aprovou no Congresso a Lei de Serviços de Comunicação
Audiovisual, mais conhecida como “Ley de medios”, que só não entrou
ainda em vigor porque os grandes grupos monopolistas e os setores
políticos que os apoiam estão usando todos os recursos jurídicos
possíveis para evitar que isso ocorra. Mas tudo indica que a lei, que
fere de morte os privilégios que estes grupos têm hoje, controlando TVs
(aberta e a cabo), rádios, jornais, internet etc., vai mesmo começar a
vigorar ainda este ano. Com a nova lei, simplesmente não poderá mais
haver grupos de sejam proprietários de todos estes meios ao mesmo tempo,
nem em nível local e muito menos em nível nacional. No Brasil, por
exemplo, seria uma lei que atingiria fortemente o poder da Globo.
Um dos elementos mais interessantes nesta batalha que vem sendo
travada contra os grandes grupos que controlam a mídia é o programa
televisivo “6,7,8”, exibido diariamente pela TV Pública (do governo
federal). Trata-se de um programa dedicado, segundo seu apresentador,
Luciano Galende, a fazer “uma resenha crítica dos meios de informação na
Argentina”. O programa é muito bem feito, e bate pesado nos grandes
jornais, rádios e TVs, desmascarando seus interesses, suas manipulações
grosseiras e seu falso distanciamento ao noticiar e comentar os
principais fatos políticos, sociais e econômicos. E bate de frente com
os jornalistas que fazem o papel de porta-vozes desses interesses,
principalmente aqueles articulistas que, do alto de uma pretensa
“autoridade” jornalística ou profissional, se dedicam a defender os
interesses do patrão, do grande capital, dos reacionários etc. Se
compararmos ao Brasil, seriam as mírians leitão, os alis kamel,
sardembergs, diogos mainardis e outros desse naipe.
É um programa que a gente não está acostumado a ver no Brasil – e
acho mesmo que em poucas partes do mundo haverá algo que se assemelhe a
“6,7,8”. Não há meias palavras nem luva de pelica, a crítica é direta e
aberta. Mas é uma crítica em geral bem feita, fundamentada, e quase
sempre ilustrada com imagens ou textos que deixam aquele que é objeto da
crítica em situação delicada, pois fica difícil negar certas coisas
diante de evidências irrefutáveis.
Por exemplo, há poucos dias uma famosa apresentadora de TV, algo como
uma Hebe Camargo argentina, confessou em seu programa que em 1977,
durante a ditadura militar que matou pelo menos 15 mil argentinos, um
sobrinha sua (e o marido da sobrinha) foi sequestrada pela repressão.
Graças à sua intervenção junto a um general que conhecia, sua sobrinha
foi solta, mas o marido continua desaparecido até hoje. No programa
foram mostradas as imagens dessa mesma apresentadora, em 1978, durante o
mundial de futebol na Argentina, afirmando que havia uma campanha
orquestrada para “denegrir” o país no exterior, que na Argentina todos
viviam bem e em liberdade. Ela foi uma das que apoiou a campanha da
ditadura “nosotros argentinos somos derechos y humanos”, que visava
desacreditar as denúncias de violações de direitos humanos que ali
ocorriam naquele exato momento. Isso um ano após ela ter acionado o
general amigo para livrar a sua sobrinha da tortura. Quer dizer, fica
desmascarada a conivência, mais do que isso, o apoio dessa senhora à
brutal repressão que houve no país. Ela sabia o que acontecia e apoiva o
que era feito. Não há como ela negar isso. E o programa desnuda essa
situação, com imagens que não podem ser desmentidas.
E desse mesmo modo vários outros temas são abordados. É
impressionante a capacidade da produção do programa de achar imagens e
textos em seus arquivos que desmontam as opiniões atuais de muitos dos
comentaristas dos grandes meios de comunicação. Diante desses
“desmentidos” feitos por sua própria voz e imagem, como reagir e negar a
exatidão da crítica?
E, é claro, o programa elege seus amigos. Neste momento, Maradona é o
maior desses amigos, por ter enfrentado a mídia e ter assumido posições
políticas mais à esquerda e mais governistas.
O programa é montado de forma inteligente. Um apresentador, cinco
debatedores fixos e dois convidados diferentes a cada dia. Esta bancada
debate as matérias feitas pela produção, matérias sempre em tom forte,
de denúncia e desmascaramento do que está sendo dito pelos grandes
meios. Os debatedores são muito perspicazes, e os convidados quase
sempre são muito simpáticos aos pontos de vista defendidos no programa.
Essa é uma das críticas que “6,7,8” recebe, a de não abrir espaço ao
contraditório. É apenas em parte correta, pois para fazer a crítica da
grande mídia o programa exibe o que a grande mídia diz. A diferença é
que desmonta o que é dito, ao contrário do que estamos acostumados a
ver, ou seja, tal comentarista fala um absurdo e fica por isso mesmo,
não há debate ou contraditório. E quase todos os comentaristas da grande
mídia dizem – por que será? – a mesma coisa, pensam do mesmo jeito. Com
“6,7,8” o quadro muda. Estes comentaristas têm resposta, muitas vezes
com base em coisas que ele mesmo disse em outros momentos. É claro que
estes comentaristas não gostam nada disso, e acusam o programa de
“constranger” sua liberdade de opinião, um argumento totalmente
falacioso.
Outra crítica a “6,7,8”, esta mais consistente, é que se trata de um
programa “oficialista”, ou seja, governista, pró-Kirchner. De fato é, e
eles assumem isso, o que não deixa de ser uma postura pouco usual na TV,
em qualquer parte. O programa não se assume exatamente como
pró-governo, mas sim como a favor das principais linhas políticas que
norteiam o governo, o que não significa concordar e aprovar tudo o que o
oficialismo faz. Há críticas ao governo e aos seus membros, claro que
não com a mesma intensidade que as feitas aos que estão do outro lado,
mas o programa não é acrítico. E nem busca aquela postura, em geral
falsa, do tipo “somos independentes e criticamos a todos da mesma
maneira, estamos acima das diferenças entre os lados em disputa”.
Outra de suas características interessantes é que, vira e mexe, os
debatedores do programa criticam as matérias feitas pela produção de
“6,7,8”. Deve-se dizer que a produção – comandada por Diego Gvirtz – é
mais oficialista que a bancada de debatedores, e por vezes tem a mão
muito pesada em relação às críticas a certos jornalistas e comentaristas
da oposição. E os debatedores do programa não deixam barato, criticam o
seu próprio programa no ar, sem problemas.
Enfim, trata-se de uma experiência inovadora na TV, a começar pelo
fato de se propor a fazer uma críticas dos meios de comunicação no
veículo mais popular dentre todos eles, a TV, e não apenas aquela
crítica mais teórica, mas sim a crítica direta, dando nome aos bois e
usando as imagens dos outros canais de TV para fazer isso.
É certo que algumas das críticas feitas ao programa são corretas, mas
sem dúvida é um espaço que oxigena a TV argentina, e sem dúvida está
tendo repercussões importantes. Hoje, os jornalistas e comentaristas de
todos os meios sabem que estão sob a lupa crítica de “6,7,8”, e que não
podem sair falando coisas impunemente, haverá cobrança pelo que foi
dito. Não se trata de censura, de nenhuma maneira, mas de debate
público.
Para quem quiser dar uma olhada, “6,7,8” pode ser assistido pelo site
da TV Pública argentina: www.tvpublica.com.ar. O programa vai ao ar às
21 horas todos os dias, menos sábado. Vale a pena.
*Flamarion Maués é
editor de livros e historiador.
CINEMA MUDO
UM POUCO SOBRE O CINEMA MUDO
Desde o início, inventores e produtores tentaram casar a imagem com um
som sincronizado. Mas nenhuma técnica deu certo até a década de 20.
Assim sendo, durante 30 anos os filmes eram praticamente silenciosos
sendo acompanhados muitas vezes de música ao vivo, outras vezes de
efeitos especiais e narração e diálogos escritos presentes entre cenas.
O ilusionista francês, Georges Méliès começou a exibir filmes em 1896,
quando ganhou uma "filmadora". Ele foi pioneiro em alguns efeitos
especiais. Seu filme "Le Voyage dans la Lune" (ou "Viagem
à Lua") de apenas 14 minutos foi o primeiro a tratar sobre o
assunto de alienígenas.
Edwin S. Porter que se tornou camaraman de Thomas Edison usou pela
pirmeira vez a técnica de edição de imagens. Em seu filme "Life of an
American Fireman" de 1903 é possível ver duas imagens diferentes
mas que ocorreram simultâneamente, a visão de uma mulher sendo resgatada
por um bombeiro e a mesma cena com a visão do bombeiro resgatando a
mulher. Em "The Great Train Robbery" (1903), um dos primeiros
westerns do cinema, o grande legado foi o "cross-cutting" com
imagens simultâneas em diferentes lugares. Mas o mais importante em
Porter, foi que o final do filme "The Great Train Robbery" teve que ser
mudado, por motivos morais e éticos, visto que originalmente os bandidos
se saiam bem no final, o que passava uma idéia de impunidade ao povo,
se mostrava a partir dai, um cinema "educador".
O desenvolvimento de filmes fez crescer os nickelodeons, pequenos lugares de exibição de filmes onde se pagava o ingresso de 1 nickel.Onde se juntavam uma grande quantidade de pessoas, chamando a atenção da elite para o poder de influencia daquelas exibições. O filmes também começaram a crescer em duração. Antes um filme durava de 10 a 15 minutos. Em 1906, o filme australiano "The Story of the Kelly Gang" tinha 70 minutos sendo lembrado até hoje como o primeiro longa metragem da história do cinema. Depois do filme australiano, a Europa começou a produzir filmes até mais longos: "Queen Elizabeth" (filme francês de 1912), "Quo Vadis?" (filme italiano de 1913) e "Cabiria" (filme italiano de 1914, este último com 123 minutos de duração.
O desenvolvimento de filmes fez crescer os nickelodeons, pequenos lugares de exibição de filmes onde se pagava o ingresso de 1 nickel.Onde se juntavam uma grande quantidade de pessoas, chamando a atenção da elite para o poder de influencia daquelas exibições. O filmes também começaram a crescer em duração. Antes um filme durava de 10 a 15 minutos. Em 1906, o filme australiano "The Story of the Kelly Gang" tinha 70 minutos sendo lembrado até hoje como o primeiro longa metragem da história do cinema. Depois do filme australiano, a Europa começou a produzir filmes até mais longos: "Queen Elizabeth" (filme francês de 1912), "Quo Vadis?" (filme italiano de 1913) e "Cabiria" (filme italiano de 1914, este último com 123 minutos de duração.
Pelo lado americano, o diretor D. W. Griffith conseguia destaque. Seu
filme, "The Birth of a Nation" (ou "O Nascimento de uma nação")
de 1915, foi considerado um dos filmes mais populares da época do
cinema mudo, causou polêmica porque foi mal-interpretado, onde um
simples retrato da sociedade americana foi considerado uma glorificação
da escravatura, segregação racial e promoção do aparecimento da Ku Klux
Klan e Intolerance (1916) já "Intolerance: Love's Struggle Throughout
the Ages" (ou "Intolerância") é considerado uma das grandes
obras do cinema mudo, apesar da grande massa nao ter entendido a
proposta de quatro historias simultaneas, achando o filme muito confuso.
Em 1907, os irmãos Lafitte criaram os filmes de arte na França com a
intenção de levar as classes mais altas ao cinema já que estes pensavam
ser o cinema para classes menos educadas.EM HOLLYWOOD
Até esta época, Itália e França tinham o cinema mais popular e poderoso
do mundo mas com a Primeira Guerra Mundial, a indústria européia de
cinema foi arrasada. Os Eua começaram a destacar-se no mundo do cinema
fazendo e importando diversos filmes. Thomas Edison tentou tomar o
controle dos direitos sobre a exploração do cinematógrafo. Alguns
produtores independentes emigraram de Nova York à costa oeste em pequeno
povoado chamado Hollywoodland, graças a Griffith, que já o sugeria. Lá
encontraram condições ideais para rodar: dias ensolarados quase todo
ano, diferentes paisagens que puderam servir como locações e quase todos
as etnias como, negros, brancos, latinos, indianos, indios orientais e
etc, um "banquete" de coadjvantes. Assim nasceu a chamada "Meca do
Cinema", e Hollywood se transformou no mais importante centro da
industria cinematográfica do planeta.
Nesta época foram fundados os mais importantes estúdios de cinema (Fox, Universal, Paramount) controlados por judeus (Daryl Zanuck, Samuel Bronston, Samuel Goldwyn, etc.) que viam o cinema como um negócio. Lutaram entre si e as vezes para competir melhor, juntaram empresas assim nasceu a 20th Century Fox (da antiga Fox) e Metro Goldwyn Meyer (união dos estúdios de Samuel Goldwyn com Louis Meyer). Os estúdios encontraram diretores e atores e com isso nasceu o "star system", sistema de promoção de estrelas e com isso, de ideologias e pensamentos de Hollywood.
Começaram a se destacar nesta época comédias de Charlie Chaplin e Buster Keaton, aventuras de Douglas Fairbanks e romances de Clara Bow. Foi o próprio Charles Chaplin e Douglas Fairbanks junto a Mary Pickford e David Wark Griffith que acabaram criando a United Artist com o motivo de desafiar o poder dos grandes estúdios.
Nesta época foram fundados os mais importantes estúdios de cinema (Fox, Universal, Paramount) controlados por judeus (Daryl Zanuck, Samuel Bronston, Samuel Goldwyn, etc.) que viam o cinema como um negócio. Lutaram entre si e as vezes para competir melhor, juntaram empresas assim nasceu a 20th Century Fox (da antiga Fox) e Metro Goldwyn Meyer (união dos estúdios de Samuel Goldwyn com Louis Meyer). Os estúdios encontraram diretores e atores e com isso nasceu o "star system", sistema de promoção de estrelas e com isso, de ideologias e pensamentos de Hollywood.
Começaram a se destacar nesta época comédias de Charlie Chaplin e Buster Keaton, aventuras de Douglas Fairbanks e romances de Clara Bow. Foi o próprio Charles Chaplin e Douglas Fairbanks junto a Mary Pickford e David Wark Griffith que acabaram criando a United Artist com o motivo de desafiar o poder dos grandes estúdios.
O CINEMA NO MUNDO
Em alternativa a Hollywood existiam vários outros lugares que investiam
no cinema e contribuiam para seu desenvolvimento.
Na França, os cineastas entre 1919 e 1929 começaram um estilo chamado de Cinema Impressionista Francês ou cinema de vanguarda (avant garde em francês). Se destacaram nesta época o cineasta Abel Gance com seu filme épico "J’Accuse" e Jean Epstein com seu filme "A queda da casa de Usher" de 1929
Na Alemanha surgiu o expressionismo alemão donde se destacam os filmes "Das Cabinet des Dr. Caligari" ("O gabinete do doutor Caligari") de 1920 do diretor Robert Wiene, "Nosferatu", "Phantom" ambos de 1922 e do diretor Friedrich Wilhelm Murnau e Metrópolis de Fritz Lang de 1929.
Na França, os cineastas entre 1919 e 1929 começaram um estilo chamado de Cinema Impressionista Francês ou cinema de vanguarda (avant garde em francês). Se destacaram nesta época o cineasta Abel Gance com seu filme épico "J’Accuse" e Jean Epstein com seu filme "A queda da casa de Usher" de 1929
Na Alemanha surgiu o expressionismo alemão donde se destacam os filmes "Das Cabinet des Dr. Caligari" ("O gabinete do doutor Caligari") de 1920 do diretor Robert Wiene, "Nosferatu", "Phantom" ambos de 1922 e do diretor Friedrich Wilhelm Murnau e Metrópolis de Fritz Lang de 1929.
Na Espanha surgiu o cinema surrealista donde se destacou o diretor Luis Buñel. "Un
Perro andaluz" (ou "Um Cão Andaluz" em português) de 1928 foi
o filme que mais representou o cinema surrealista de Buñel.
Na Rússia se destacou o cineasta Serguei Eisenstein que criou uma nova técnica de montagem, chamada montagem intelectual ou dialéctica. Seu filme de maior destaque foi "The Battleship Potemkin" (ou br: "O Encouraçado Potemkin", pt: "O Couraçado Potemkin") de 1925.
Infelizmente, cerca de 90% dos filmes mudos se perderam. De fato, a maioria dos filmes mudos foi derretida a fim de recuperarem o nitrato de prata, um componente caro.
Na Rússia se destacou o cineasta Serguei Eisenstein que criou uma nova técnica de montagem, chamada montagem intelectual ou dialéctica. Seu filme de maior destaque foi "The Battleship Potemkin" (ou br: "O Encouraçado Potemkin", pt: "O Couraçado Potemkin") de 1925.
Infelizmente, cerca de 90% dos filmes mudos se perderam. De fato, a maioria dos filmes mudos foi derretida a fim de recuperarem o nitrato de prata, um componente caro.
fonte do texto: Wikipédia via Cine-cult-classic
Paraguai, herança da ditadura e da exploração econômica...
No dia em que a equipe de futebol do Paraguai, na copa do mundo joga contra o Japão, tentando pela primeira vez, chegar às quartas de finais desse torneio, Juremir Machado faz uma reflexão do país vizinho, que se assemelha muito aos demais da america latina, como consequencia dos saques e da espolição sofrida ao longo da colonização e das ditaduras militares. leia abaixo o texto na íntegra que foi publicado no Correio do Povo...
Triste ParaguaiO jornal espanhol “El Pais” fez a reportagem sobre o Paraguai que a mídia brasileira não faz por conservadorismo. Mostrou que um pequeno exército guerrilheiro, com cerca de 20 integrantes, o EPP (Exército do Povo Paraguaio), é o resultado da miséria absoluta gerada por um país de grandes fazendeiros fora da lei, reunidos numa tal de Associação Rural, cujo principal objetivo é forçar a derrubada da mata nativa que resta e evitar o pagamento de impostos sobre a exportação de soja e carne. Segundo a matéria do “El Pais”, o Paraguai tinha até pouco tempo fazendas com mais de 400 mil hectares, uma delas com mais de 300 km de frente cercados. Ou seja, o horror como latifúndio. Quem se importa com isso no Brasil? A nossa mídia está mais preocupada em chamar o presidente Fernando Lugo de populista e em contar os seus filhos. A reportagem revela aspectos sensacionais: “A Comissão de Verdade e Justiça, criada com a ajuda da ONU, estima que 64% das cessões realizadas desde 1954 – desde a chegada ao poder do ditador Alfredo Stroessner – foram ilegais: centenas de milhares de hectares de terras invadidos e dezenas de milhares de agricultores despojados e maltratados”. Deve ser por isso que a direita, em qualquer lugar, sempre rejeita propostas de criação de comissões da verdade. O generoso Brasil deu asilo ao ditador Stroessner. O primeiro presidente “democrático”, segundo o jornal “El Pais”, não fez melhor pelos seus compatriotas: “O ex-presidente Andrés Rodríguez, por exemplo, que expulsou Stroessner quando este fechou sua firma de câmbio, já tinha se apossado de milhares de hectares e aproveitou o cargo para se apoderar de outros 2 mil. Foi o primeiro presidente democrático, para dizer algo, mas segundo o governo dos EUA o general Rodríguez também era o chefe do chamado Cartel do Paraguai, encarregado, como o próprio Stroessner, de proteger os bandos de traficantes de maconha e as fabulosas redes de contrabando que operavam e operam no país”. Não me lembro de ter lido isso em jornais como o Estadão? A minha memória, em todo caso, é muito fraca. O Brasil tem parte nesse latifúndio. Boa parte das terras da região onde transitam os guerrilheiros do EPP pertence a empresas verde-amarelas, entre as quais a tal Mate Laranjeira. O negócio, ao que parece, é espetacular: imposto zero, a utopia de muitos liberais brasileiros, Estado mínimo, lei do mais forte, mão de obra barata, quase escrava, ausência de custo do trabalho, inexistência de sindicatos para incomodar e terras fartas e férteis a dar com um pau. O pau é dado no lombo da peonada para que ela seja produtiva. Um paraíso nada falso. Problemas surgem vez ou outra. Por exemplo, um fazendeiro sequestrado e um resgate a pagar. Aí, sim, os produtores rurais reclamam a presença do Estado. Um jovem paraguaio cansado de guerra compreendeu tudo, o que se pode apreciar nesta fórmula genial: “Os fazendeiros só querem o exército, e não o Estado". É um fenômeno muito comum, do qual o Brasil não escapa. Ainda há muitos “investidores” e “produtores” que do Estado só querem a repressão, a mão armada, de preferência, gratuita, ou paga com impostos de outros. O sonho de alguns é que a massa pague impostos para armar os exércitos capazes de reprimi-la. Triste Paraguai. Tão longe, tão próximo. O jornal “La Nacíon” espantou-se, porém, unicamente com a descoberta de uma cartilha do EPP, que publicou e transformou numa prova de que algo vai mal no Paraguai. O resto, claro, vai muito bem. |
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Reflexões de Fidel...
Eu bem que gostaria de estar enganado
Quando estas linhas sejam
publicadas no jornal Granma amanhã sexta-feira, o dia 26
de julho, data em que sempre recordamos
com orgulho a honra de ter resistido os embates do império, ficará
distante, apesar
de que faltam apenas 32 dias.
Os que determinam cada passo do
pior inimigo da humanidade ―o
imperialismo dos Estados Unidos, uma mistura de mesquinhos interesses
materiais, desprezo e subestimação às demais pessoas que habitam o
planeta―
calcularam tudo com precisão matemática.
Na reflexão do dia 16 de junho
escrevi: “Entre jogo e jogo da Taça
Mundial de Futebol, as diabólicas notícias vão sendo colocadas de pouco e
pouco, de maneira que ninguém se ocupe delas”.
O famoso evento esportivo tem
entrado em seus momentos mais emocionantes.
Durante 14 dias, as equipes integradas pelos melhores futebolistas de 32
países
têm estado competindo para avançar rumo à fase de oitavos de final;
depois virão
sucessivamente as fases de quartos de final, semifinais e o final do
evento.
O fanatismo esportivo cresce
incessantemente, cativando centenas e
talvez milhares de milhões de pessoas em todo o planeta.
Contudo, haveria que se perguntar
quantos sabem que desde o dia 20 de
junho naves militares norte-americanas, incluído o porta-aviões Harry S.
Truman, escoltado por um ou mais submarinos nucleares e outros navios de
guerra
com mísseis e canhões mais potentes do que os velhos couraçados
utilizados na
última guerra mundial entre 1939 e 1945, navegavam rumo ás costas
iranianas
através do canal de Suez.
Junto das forças navais ianques
avançam barcos militares israelitas, com
armamento igualmente sofisticado, para inspecionar toda a embarcação que
parta
para exportar e importar produtos comerciais que o funcionamento da
economia iraniana
precisa.
O Conselho de Segurança da ONU, a
proposta dos Estados Unidos, com o
apoio da Grã-bretanha, a França e Alemanha, aprovaram uma dura resolução
que não foi vetada por nenhum dos cinco países que ostentam esse
direito.
Outra resolução mais dura foi
aprovada por acordo do Senado dos Estados
Unidos.
Com posterioridade, uma terceira,
ainda mais dura, foi aprovada pelos
países da Comunidade Européia. Tudo aconteceu antes de 20 de junho, o
que motivou
uma viagem urgente do Presidente francês Nicolás Sarkozy à Rússia,
segundo notícias,
para entrevistar-se com o chefe de Estado desse poderoso país, Dmitri Medvédev, com a esperança de
negociar com o Irã e evitar o pior.
Agora se trata de calcular quando
as forças navais dos Estados Unidos e do
Israel se desdobrarão frente às costas do Irão, para se juntar ali aos
porta-aviões e demais navios militares norte-americanos que
estão de plantão nessa região.
O pior é que, igual do que os
Estados Unidos, Israel, o seu gendarme no
Oriente Médio, possui moderníssimos aviões de ataque e sofisticadas
armas
nucleares fornecidas pelos Estados Unidos, que o tornou a sexta potência
nuclear do planeta por seu poder de fogo, entre as oito reconhecidas
como tais,
que incluem a Índia e o Paquistão.
O Xá da Pérsia fora derrocado
pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini em 1979 sem
empregar uma arma. Os Estados Unidos depois lhe impuseram a guerra
àquela nação
com a utilização de armas químicas, cujos componentes forneceu ao Iraque
junto da
informação requerida por suas unidades de combate e que foram empregues
por
estas contra os Guardiães da Revolução. Cuba sabe disso porque na altura
era,
como temos explicado outras vezes, Presidente do Movimento de Países
Não- Alinhados.
Sabemos bem dos estragos que causou em sua população. Mahmud Ahmadineyad , hoje chefe de Estado no Irão,
foi chefe do sexto exército dos Guardiães
da Revolução e chefe dos Corpos dos Guardiães nas províncias ocidentais
do
país, que suportaram o peso principal daquela guerra.
Hoje, em 2010, tanto os Estados
Unidos quanto Israel, após 31 anos, subestimam
o milhão de homens das Forças Armadas do Irão e sua capacidade de
combate por terra,
e às forças de ar, mar, e terra dos Guardiães da Revolução.
A elas se acrescentam os 20
milhões de homens e mulheres, entre 12 e 60
anos, escolhidos e treinados sistematicamente por suas diversas
instituições armadas
entre os 70 milhões de pessoas que habitam o país.
O governo dos Estados Unidos
elaborou um plano para levar a cabo um
movimento político que, apoiando-se no consumismo capitalista, dividisse
os
iranianos e derrocasse o regime.
Tal esperança já é inócua.
Resulta risível pensar que com as naves de
guerra estadunidenses, unidas às israelitas, despertem as simpatias de
um só
cidadão iraniano.
Por minha parte acreditava
inicialmente, ao analisar a atual situação,
que a contenda começaria pela península da Coréia, e ali estaria o
detonante da
segunda guerra coreana que, por sua vez, daria lugar de imediato à
segunda
guerra que os Estados Unidos lhe imporiam ao Irão.
Agora, a realidade muda as coisas
em sentido inverso: a do Irão desatará
de imediato à da Coréia.
A direção da Coréia do Norte, que
foi acusada do afundamento do
“Cheonan”, e sabe de sobra que foi afundado por una mina que os serviços
de
inteligência ianque conseguiram colocar no casco dessa nave, não
esperará um
segundo em agir logo que no Irão se inicie o ataque.
É muito justo que a torcida do
futebol desfrute a seu bel-prazer das
competições da Taça do Mundo. Cumpro apenas com o dever de fazer um
apelo ao
nosso povo, pensando sobretudo em
nossa juventude, plena de vida e esperanças, e
especialmente em nossas maravilhosas crianças, para que os fatos
não nos apanhem por surpresa, absolutamente desprevenidos.
Doe-me pensar em tantos sonhos
concebidos pelos seres humanos e as assombrosas
criações das que têm sido capazes em apenas uns poucos milhares de anos.
Quando os sonhos mais
revolucionários se estão cumprindo e a Pátria se
recupera firmemente, eu bem gostaria estar enganado!
Fidel
Castro Ruz
A esquerda sem alternativa??
A poesia do passado |
Escrito por Emiliano Morais - Correio da Cidadania | |
Os últimos dias na chamada imprensa alternativa - Brasil de fato,
Correio da Cidadania, entre outros - foram marcados com uma questão um
tanto insólita. Os teóricos da chamada esquerda em declínio (sim, em
declínio por ser uma esquerda sem projeto) tomaram parte numa batalha
épica.
Os setores desta esquerda atrelada à governabilidade, tendo no ápice das
referências Lula e o PT, acreditam desgraçadamente que sendo seu
projeto “democrático popular” uma espécie de política social-democrata
atenderá aos anseios do povo numa fase de um capitalismo redimido. E
através desta redenção do capital elevará do inferno aos céus uma
sociedade mais igualitária. Observem o termo, igualitária. Notem que na
gramática deste protótipo de esquerda a palavra socialismo não tem
tradução.
Os Satãs, tomando a palavra no seu original grego que significa “os
adversários”, se revestem de todo tipo de nuance para, de uma forma ou
outra, se caracterizarem como o outro, numa posição de embate no grande
coliseu das eleições. Mas de Satãs “os adversários” passam a diabos, “os
acusadores”, e sem projetos que os caracterizam como alternativa no
grande palco do “circo e pão” (eleições), lançam-se no pragmatismo das
desqualificações todos os gladiadores.
Nesta luta titânica não foi reservado lugar para um exorcista, e Deus e
Diabo, atraídos pelo mesmo engodo, sem apresentar uma alternativa para o
país nos seus respectivos projetos, vagueiam entre afirmar o Estado
burguês e negá-lo conservando-o, caracterizando assim alternativas
“democráticas” que não mudam de conteúdo, apenas de forma. E mais uma
vez na história a esquerda brasileira titubeia entre a necessidade de
uma alternativa ao capitalismo e o “santo princípio liberal”.
Os gladiadores definem o princípio “Democrático” que norteia as suas
elaborações programáticas com um gáudio: democracia, igualdade e
liberdade. Tão pobre anseio robespieriano se a abstração tivesse
ido um pouco mais além, pois está exposta no programa liberté,
fraternité e egalité. Este sonho iluminista custou a cabeça de um
dos maiores expoentes da revolução francesa e agora, como tragédia,
retorna ao ideário da esquerda eleitoreira. Os mortos tolhem os vivos,
como dizia Marx.
Primeiro tomemos o conceito “democracia” para análise. A democracia é um
importante princípio da doutrina liberal, isso para não retomarmos seu
original em grego, que nas palavras de Luiz Antônio Cunha consiste no
igual direito de todos em participarem do governo através de
representantes de sua própria escolha. Essa elaboração baseia-se nas
formulações de Rousseau, ideólogo da moderna doutrina democrática.
É bom lembrar que o próprio Rousseau sabia das limitações da real
aplicação deste princípio, das dificuldades práticas para a existência
de um governo da maioria dos cidadãos.
Rousseau afirmou que, “tomando o termo em rigorosa acepção, nunca
existiu, e nunca existirá, verdadeira democracia. É contra a ordem
natural que o grande número governe e que o pequeno seja governado. Não
se pode imaginar que o povo permaneça incessantemente reunido para dar
despacho aos negócios, e com facilidade se vê que, para esse efeito, não
poderia estabelecer comissões sem mudar a forma de administração”. Por
esse motivo a representatividade vem como a forma mais eficaz para
aplicação de tal princípio.
O conceito poderia ser digestivo caso houvesse possibilidade de
aplicação apenas de um dos princípios liberais, coisa extremamente
inaplicável, pois, ao se aplicar um, todos vem à tona, não conseguem
caminhar soltos, estão extremamente interligados.
Ao aplicar o princípio democracia, vossos programas se viram obrigados a
considerar de importância ímpar aplicar outro princípio liberal:
igualdade.
A igualdade, como pretendem os senhores, tenta transparecer uma nova
forma de igualdade, uma igualdade de valores e paridade que não seja
desigualdade entre os indivíduos. A igualdade é somente aplicada no modo
de produção capitalista e este presume somente a igualdade perante a
lei. Como na natureza os homens não são iguais em talento e capacidades,
também não podem ser iguais na posse. E, para resolver tal problema,
condiciona a igualdade somente junto à lei, igualdade de direitos entre
os homens, igualdade de direitos civis.
Com diz Cunha, “todos têm, por lei, iguais direitos à vida, à liberdade,
à propriedade, à proteção das leis”. Marx, em a “Crítica ao programa de
Gotha”, afirmou que este igual direito é direito desigual para trabalho
desigual. Não reconhece nenhuma diferença de classes, porque cada um é
apenas tão trabalhador como o outro. Mas reconhece tacitamente o
desigual dom individual — e, portanto, (a desigual) capacidade de
rendimento dos trabalhadores — como privilégio natural que uma nova
sociedade precisa estabelecer na desigualdade entre indivíduos
desiguais.
Ao transcender a igualdade logo se é conduzido à “liberdade”, outro
princípio que juram ser de uma necessidade popular, porém apenas
transfigurada em outro princípio liberal.
Na liberdade se exalta a livre organização da sociedade civil, conclamam
os defensores da livre expressão, da movimentação (e aqui não conseguem
ir além de explicar o nada), convocam os deuses em nome da livre
atividade política e de organização dos(as) cidadãos(ãs). Esse princípio
liberal que a ele empresta o próprio nome pleiteia antes de tudo a
liberdade individual, e a partir daí todas as outras: econômica,
intelectual, religiosa e política. A liberdade na priori liberal é a
liberdade que os indivíduos têm na defesa da ação e das potencialidades,
por isso está tão ligada ao princípio do individualismo. Por tal, não é
de se admirar o fato de não ter aparecido na base do enfrentamento dos
projetos.
Na luta pela transformação da sociedade capitalista em uma sociedade
socialista, os proletários precisam munir-se de instrumentos que os
botem em força superior aos burgueses, seu projeto não pode confundir-se
com anseios liberais (burgueses) e nem com anseios social-democratas
(aliança do trabalhador com a pequena burguesia). Seu projeto precisa
trazer conteúdo novo e de caráter transformador, revolucionário. Um
projeto de classe, da classe proletária, caráter que em momento algum
foi planificado pela esquerda na disputa eleitoral.
Florestan Fernandes sabiamente afirmou que “na periferia do mundo
capitalista e de nossa época não existem ‘simples palavras’. Se a massa
dos trabalhadores quiser desempenhar tarefas práticas, específicas e
criadoras, ela tem de se apossar primeiro de certas palavras chaves –
que não podem ser compartilhadas com outras classes que não estão
empenhadas ou não podem realizar aquelas tarefas sem se destruir ou se
prejudicar irremediavelmente”.
Apegada a conteúdos burgueses, mais uma vez a esquerda brasileira perde a
oportunidade de unificar-se na elaboração de uma plataforma única para a
disputa política, aguardando somente as ações das movimentações de
massas para a composição de um projeto de transformação socialista, já
que é só na ação “prático-teórica” que é possível tal elaboração.
Dividem-se no casulo que a história os reservou e garganteiam como
feirantes o que de bom têm em vossas barracas programáticas.
Emiliano Morais é membro da direção do MST-MG.
Contato:
emilianomorais@gmail.com
|
Artigo de Tarik Ali...
O que faz correr o General McChrsytal
Tariq Ali
Na explosiva
entrevista à revista Rolling Stones o general McCrhystal dispara em
todas as direcções, não poupando sequer Barack Obama, a quem sempre
apoiou.
Será apenas o desespero pelo desenrolar da guerra no Afeganistão?
A entrevista
kamikaze do general Stanley McChrystal produziu o efeito desejado. O
general foi demitido e substituído pelo seu superior, general David
Petraeus. Mas por trás do drama em Washington há uma guerra que vai de
mal a pior e não há conversa fiada jornalística que oculte isso.
O empertigamento de Holbrooke (que é uma criação de Clinton) é
significativo, não por seus defeitos pessoais, que são muitíssimos, mas
porque a tentativa de Holbrooke de derrubar Karzai sem ter alguém
confiável para por em seu lugar enfureceu os generais. Convencidos de
que não há meio pelo qual vencer aquela guerra, os generais ficarão
absolutamente órfãos e perdidos, sem Karzai: sem um ponto de apoio
pashun no país, o colapso da OTAN-EUA pode alcançar proporções de
Saigão.
Todos os generais sabem que o beco sem saída é sem saída, mas todos
anseiam por construir reputações e carreiras e esperam fazê-lo testando
novas armas e novas estratégias (jogos de guerra sempre atraem os
generais, desde que não haja riscos reais para os generais, pessoalmente
considerados); por isso obedeceram ordens apesar de praticamente não
haver nenhum tipo de acordo nem entre os generais, nem entre eles e os
políticos.
Obama sempre foi apoiado por Stan [McChrystal] e Dave [Petraeus],
mas não pelo general Eikenberry, ex-patrão dos dois supracitados e atual
embaixador dos EUA em Cabul. Eikenberry já está bem vingado, pelo beco
sem saída e pelo quanto custou e ainda custará. Todos os «avanços» e
«conquistas» de que os jornais vivem cheios e que são aumentados até a
loucura são ilusórios. As baixas, de soldados dos EUA e da OTAN, só
fazem crescer, semana após semana; multidões de cidadãos europeus e
norte-americanos já fazem aberta oposição à guerra e pregam a retirada;
diferentes facções dos Talibãs preparam-se para assumir o poder do
Afeganistão; o Iran foi definitivamente afastado pelas sanções e não
colaborará; a Aliança do Norte está ativa, os líderes trabalham como
nunca, como os irmãos de Karzai, fazendo dinheiro. E, com reservas de
lítio e tudo, é cada dia mais difícil sustentar as forças da OTAN no
país.
Os militares paquistaneses mantêm contato permanente e estável com
as lideranças Talibã e um Karzai já desesperado pediu que os EUA
retirassem o nome de Mullah Omar e outros anciãos Talibã da lista de
«terroristas», de modo a que possam viajar e participar na vida política
do país. Resposta de Eikenberry: estamos preparados para considerar
cada nome da lista, caso a caso, mas não haverá anistia geral. Com o
tempo, ah, sim, também isso virá.
As eleições de meio de mandato nos EUA aproximam-se e Netanyahu é
esperado como convidado especial da Casa Branca para ajudar a empurrar
para cima a maré de apoio do lobby pró-Israel/AIPAC, a favor dos
depauperados Democratas.
O que se ouve pelos salões de Washington é que Obama será obrigado a
livrar-se de Gates no Pentágono e de Rahm na Casa Branca. O que ninguém
parece estar percebendo é que McChrystal anda exibindo cara de muita
fome.
Estará interessado em disputar a indicação pelo partido Republicano?
*Tariq Ali é editor da New Left Review, director da Editorial
Verso e membro do Conselho editorial de Sin Permiso
Este texto foi publicado em www.lrb.co.uk/
Tradução de Caia Fittipaldi
Irã a bola da vez....
EUA e Israel e
caminho do Irã
Barcos de
guerra americanos e israelenses, incluindo porta aviões, atravessaram na
sexta feira o Canal de Suez a caminho do Irã.
O governo egípcio teve a gentileza de proibir a navegação civil para não causar transtornos à frota da morte.
Por sua vez, a Arábia Saudita, em nome de Allah, convidou americanos e israelenses a utilizarem o seu espaço aéreo para atacar o Irã, um país muçulmano.
Tudo isso acontece sem qualquer repercussão na mídia que tem sua atenção voltada exclusivamente para a Copa do Mundo.
Quem conhece História sabe que nessas ocasiões é que os ratos saem do esgoto em busca de vitimas.
E quem imagina que a próxima vitima é o Irã engana-se redondamente.
A próxima vítima somos nós, que sempre pagamos a conta.
Sempre foi assim e assim continuará enquanto esse sistema putrefato permanecer respirando.
O governo egípcio teve a gentileza de proibir a navegação civil para não causar transtornos à frota da morte.
Por sua vez, a Arábia Saudita, em nome de Allah, convidou americanos e israelenses a utilizarem o seu espaço aéreo para atacar o Irã, um país muçulmano.
Tudo isso acontece sem qualquer repercussão na mídia que tem sua atenção voltada exclusivamente para a Copa do Mundo.
Quem conhece História sabe que nessas ocasiões é que os ratos saem do esgoto em busca de vitimas.
E quem imagina que a próxima vitima é o Irã engana-se redondamente.
A próxima vítima somos nós, que sempre pagamos a conta.
Sempre foi assim e assim continuará enquanto esse sistema putrefato permanecer respirando.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
VJ Pixel diz que Brasil investe pouco em softwares livres
Um dos
maiores especialistas em cultura digital fala sobre as tendências no segmento e faz severas críticas à postura do governo
brasileiro. Quando o site de vídeos YouTube foi
lançado, há cinco anos, os internautas passaram a viver uma verdadeira
revolução naquela que, por si só, já podia ser considerada uma era de
revoluções.
A possibilidade de colocar todo tipo de material multimídia na web, à distância de um clique de qualquer pessoa, fez com que muita gente deixasse a cadeira de espectador para se tornar protagonista em vídeos online.
Mas todo esse sucesso — confirmado pelas mais de 2 bilhões de visualizações diárias — está longe de ser o ideal para uma internet que pretende ser democrática.
“Mesmo sendo gratuito, o YouTube não te dá a opção de marcar que seu vídeo está em licença livre”, explica um dos maiores especialistas em cultura digital(1) do país, o VJ Pixel.
O rapaz franzino de 28 anos, que se nega a dar seu nome verdadeiro, é hoje o representante no Brasil da Open Video Alliance, uma associação de empresas, produtores e interessados em difundir o uso de softwares livres para a distribuição de vídeos na rede mundial de computadores.
Como e quando você começou a se interessar pela distribuição de vídeos em plataformas livres?
No fim da década de 1990, eu me interessei por software livre porque era uma coisa meio underground, que não era muito conhecida. Aí passei a estudar a tecnologia paralelamente ao meu trabalho como VJ. Trabalhei em eventos de música eletrônica e criei um coletivo que pesquisava a cybercultura na Bahia, aqui chamada de cultura digital. Em 2003, realizamos o primeiro encontro de software livre da Bahia, com DJs e VJs tocando com ferramentas não proprietárias. Atuei em programas do governo voltados para essa área e, no ano passado, fui convidado para a Open Video Conference, em Nova York. Esse grupo está trabalhando no diagnóstico do uso de softwares livres em países em desenvolvimento e eu sou responsável por isso aqui no Brasil.
Por que essa questão ainda é complicada para os produtores culturais?
Os softwares multimídia são complexos como os softwares de games. Então é muito complicado desenvolver um programa desses sem patrocínio ou sem um plano de negócios. As ferramentas livres existentes ainda não são maduras e não há desenvolvedores que pensam melhorias para esses programas. Para se ter uma ideia, a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia já ensina produção de áudio com ferramentas livres. Mas isso não ocorre no caso do vídeo.
Para os usuários isso também é um problema?
A dificuldade ocorre quando você quer que seu arquivo tenha ampla distribuição. Se a ideia é mandar o vídeo para 3 mil ou 4 mil pessoas diversas, muitas delas podem não ter o codec(2) que vai abrir esse arquivo em licença livre. As pessoas não estão adotando, em geral, por falta de conhecimento. Uma das coisas que os produtores têm feito para resolver essa situação é distribuir em um codec livre e em um codec proprietário. Se o player do usuário consegue tocar aquele arquivo livre, ele abre, se não ele vai buscar automaticamente, sem o usuário nem perceber esse pulo e um para o outro. Mas a gente notou que há uma intenção muito grande na utilização dessas ferramentas. O primeiro passo, que é muito importante, já foi dado: as pessoas estão começando a distribuir em formatos livres.
Há algum levantamento sobre essa tendência dos produtores?
Houve uma chamada pública em ambientes ligados à cultura livre e entrevistamos as pessoas que nos procuraram. Foram 15 entrevistas via bate-papo online e pouco mais de 30 usuários preencheram formulários sobre os codecs. Algumas questões abordavam a licença que a pessoa utilizava e qual licença ela acreditava ser a ideal. Um terço das pessoas falaram que usavam licenças proprietárias, mas nenhuma disse que essa era a licença ideal.
Muitas pessoas hoje utilizam o YouTube para distribuir seu conteúdo. Isso não seria o começo da mudança?
O YouTube não é o ideal. O Youtube e diversas outras plataformas de vídeo foram criados no início dos anos 2000 e, de lá para cá, se tornaram ubíquas. A gente tem, por exemplo, celulares que são utilizados para gravar vídeos. Alguns desses dispositivos, inclusive, já editam vídeos internamente. Computadores novos também já vêm com sistema operacional que inclui ferramenta de edição de vídeo. Como o acesso está maior, as pessoas estão utilizando mais esses recursos. Só que, em geral, o formato que esses dispositivos usam é proprietário, assim como os serviços de distribuição na internet. O YouTube, por exemplo. Mesmo sendo gratuito, o site e não te dá a opção de marcar que seu vídeo está em licença livre. Se você está distribuindo um vídeo lá, ele assume que é proprietário. Já no Flickr (site especializado em fotografia),você pode marcar fotos como livres, o YouTube não evoluiu a esse ponto.
Quais os perigos na utilização de ferramentas proprietárias?
Se você salva seu vídeo numa ferramenta livre, por um lado há o problema de que muitos usuários não têm o codec livre atualmente. Por outro lado, você garante que seu vídeo vai poder ser aberto daqui a 10 ou 20 anos. Como ele está em especificação aberta, daqui um tempo a pessoa pode voltar e buscar. Se ele estiver em um formato fechado, passa a ter problemas para abrir, tais como muitas pessoas têm vivenciado hoje com arquivos de texto, que são os mais utilizados. Quando muda de uma plataforma para outra, as empresas passam a não dar suporte aos formatos mais antigos. Para se ter uma ideia, em 2008, uma empresa chamada Veoh, semelhante ao YouTube, decidiu fechar os seus serviços para apenas 33 países. Com isso, pessoas no Brasil que tinham postado seus vídeos nesse site não conseguiram sequer entrar para retirar seu conteúdo. É um serviço gratuito, mas como essas empresas estão te dando a plataforma, elas querem ter um retorno que, muitas vezes, não vem de patrocínio. Pode, inclusive, haver a venda dos vídeos que estão nas plataformas.
Existe alguma plataforma que seria como o YouTube do software livre?
Existe, a gente está desenvolvendo agora em um consórcio de três empresas, Ministério da Cultura e Associação Software Livre. Daqui a um mês, entre 21 e 24 de julho, no Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, a gente vai fazer a demonstração dessa plataforma. Inclusive, um dos desenvolvedores vai mostrar recursos de edição de vídeo. O Youtube acabou de lançar isso, acho que foi esse mês, e a gente já tem esse recurso antes de ter a plataforma pronta.
Você acha que existe certo protagonismo do Brasil no desenvolvimento de licenças livres?
Apesar de ser uma das principais lideranças a nível internacional, o Brasil ainda peca em muita coisa. Uma das minhas maiores críticas é que o governo economiza muito com a utilização de software livre, mas investe pouco em desenvolvimento. Eu não tenho esses números, mas pelos produtos que são apresentados, não chegam a gastar um quinto do que economizam.
Você acha que isso ocorre porque as iniciativas são muito isoladas?
Pouco divulgadas. O padrão de TV digital brasileiro, por exemplo, foi desenvolvido pela PUC do Rio de Janeiro e pela Universidade Federal da Paraíba. Curiosamente, a PUC, que é uma instituição privada, liberou o acesso ao código deles e a UFPB, que é uma instituição pública não liberou. O código que foi desenvolvido em uma universidade pública, com dinheiro público, é fechado e proprietário. A Dataprev, o Serpro, diversos ministérios têm soluções próprias, mas que, em geral, atendem apenas demandas internas. Não há edital do governo específico para estimular o desenvolvimento de ferramentas já existentes ou mesmo criar novas ferramentas. Nem o Ministério da Ciência e Tecnologia, que teria esse papel, faz isso. Segundo a Coordenação de Cultura Digital do Ministério da Cultura eles estão pensando em fazer um edital que tenha esse foco, mas não há previsão para isso.
O que é uma pena, já que os softwares livres podem ser utilizados em outras áreas…
Sim, para todas as áreas. Um sistema muito utilizado no governo é o Moodle, sistema de educação a distância. Quando eu estava no Projeto Casa Brasil (do governo federal), observei o Moodle. O investimento que as instituições fazem são apenas adaptações pontuais para suas necessidades. Tudo bem, eles devolvem as melhorias, mas não há um investimento no desenvolvimento da ferramenta como um todo. Eles economizam, sei lá, R$ 10 milhões e investem R$ 3 mil. A minha crítica é a essa proporção. Até porque é papel do governo estimular a criação de ferramentas livres, isso é serviço público, é inclusão digital.
1 - Entregue à tecnologia
A cultura digital, ou cybercultura, é aquela produzida ou distribuída com o uso de novas tecnologias. Exemplos de cultura digital são as obras expostas somente pela internet e a gravação de filmes e vídeos com celulares.
2 - A chave do código
Os codecs são arquivos de computador responsáveis pela codificação e pela decodificação de arquivos multimídia. Como os arquivos são muito pesados para serem transmitidos integralmente pela web, há a compressão do conteúdo que, para ser ouvido ou visto no destinatário, tem de ser decodificado.
por Carolina Vicentin
Fonte Correio Brasiliense
A possibilidade de colocar todo tipo de material multimídia na web, à distância de um clique de qualquer pessoa, fez com que muita gente deixasse a cadeira de espectador para se tornar protagonista em vídeos online.
Mas todo esse sucesso — confirmado pelas mais de 2 bilhões de visualizações diárias — está longe de ser o ideal para uma internet que pretende ser democrática.
“Mesmo sendo gratuito, o YouTube não te dá a opção de marcar que seu vídeo está em licença livre”, explica um dos maiores especialistas em cultura digital(1) do país, o VJ Pixel.
O rapaz franzino de 28 anos, que se nega a dar seu nome verdadeiro, é hoje o representante no Brasil da Open Video Alliance, uma associação de empresas, produtores e interessados em difundir o uso de softwares livres para a distribuição de vídeos na rede mundial de computadores.
Se isso parece pouco,
Pixelman lembra que somente a adoção das ferramentas não proprietárias
dá liberdade aos usuários para que acessem seu material a qualquer
tempo, sem depender das incômodas atualizações dos fabricantes. “Em
2008, uma empresa chamada Veoh, semelhante ao YouTube, decidiu fechar os
seus serviços para apenas 33 países. Com isso, pessoas no Brasil que
tinham postado seus vídeos nesse site não conseguiram sequer entrar para
retirar seu conteúdo”, conta o VJ. “É um serviço gratuito, mas como
essas empresas estão te dando a plataforma, elas querem ter um retorno
que, muitas vezes, não vem de patrocínio”, completa ele.
Pixel, natural de Salvador, esteve em Brasília esta semana para a
9ª Oficina para a Inclusão Digital, organizada pelo governo e por
empresas de tecnologia. Ele falou ao Correio Brasiliense sobre a
importância da livre comunicação nos tempos dos bits e dos bytes.Como e quando você começou a se interessar pela distribuição de vídeos em plataformas livres?
No fim da década de 1990, eu me interessei por software livre porque era uma coisa meio underground, que não era muito conhecida. Aí passei a estudar a tecnologia paralelamente ao meu trabalho como VJ. Trabalhei em eventos de música eletrônica e criei um coletivo que pesquisava a cybercultura na Bahia, aqui chamada de cultura digital. Em 2003, realizamos o primeiro encontro de software livre da Bahia, com DJs e VJs tocando com ferramentas não proprietárias. Atuei em programas do governo voltados para essa área e, no ano passado, fui convidado para a Open Video Conference, em Nova York. Esse grupo está trabalhando no diagnóstico do uso de softwares livres em países em desenvolvimento e eu sou responsável por isso aqui no Brasil.
Por que essa questão ainda é complicada para os produtores culturais?
Os softwares multimídia são complexos como os softwares de games. Então é muito complicado desenvolver um programa desses sem patrocínio ou sem um plano de negócios. As ferramentas livres existentes ainda não são maduras e não há desenvolvedores que pensam melhorias para esses programas. Para se ter uma ideia, a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia já ensina produção de áudio com ferramentas livres. Mas isso não ocorre no caso do vídeo.
Para os usuários isso também é um problema?
A dificuldade ocorre quando você quer que seu arquivo tenha ampla distribuição. Se a ideia é mandar o vídeo para 3 mil ou 4 mil pessoas diversas, muitas delas podem não ter o codec(2) que vai abrir esse arquivo em licença livre. As pessoas não estão adotando, em geral, por falta de conhecimento. Uma das coisas que os produtores têm feito para resolver essa situação é distribuir em um codec livre e em um codec proprietário. Se o player do usuário consegue tocar aquele arquivo livre, ele abre, se não ele vai buscar automaticamente, sem o usuário nem perceber esse pulo e um para o outro. Mas a gente notou que há uma intenção muito grande na utilização dessas ferramentas. O primeiro passo, que é muito importante, já foi dado: as pessoas estão começando a distribuir em formatos livres.
Há algum levantamento sobre essa tendência dos produtores?
Houve uma chamada pública em ambientes ligados à cultura livre e entrevistamos as pessoas que nos procuraram. Foram 15 entrevistas via bate-papo online e pouco mais de 30 usuários preencheram formulários sobre os codecs. Algumas questões abordavam a licença que a pessoa utilizava e qual licença ela acreditava ser a ideal. Um terço das pessoas falaram que usavam licenças proprietárias, mas nenhuma disse que essa era a licença ideal.
Muitas pessoas hoje utilizam o YouTube para distribuir seu conteúdo. Isso não seria o começo da mudança?
O YouTube não é o ideal. O Youtube e diversas outras plataformas de vídeo foram criados no início dos anos 2000 e, de lá para cá, se tornaram ubíquas. A gente tem, por exemplo, celulares que são utilizados para gravar vídeos. Alguns desses dispositivos, inclusive, já editam vídeos internamente. Computadores novos também já vêm com sistema operacional que inclui ferramenta de edição de vídeo. Como o acesso está maior, as pessoas estão utilizando mais esses recursos. Só que, em geral, o formato que esses dispositivos usam é proprietário, assim como os serviços de distribuição na internet. O YouTube, por exemplo. Mesmo sendo gratuito, o site e não te dá a opção de marcar que seu vídeo está em licença livre. Se você está distribuindo um vídeo lá, ele assume que é proprietário. Já no Flickr (site especializado em fotografia),você pode marcar fotos como livres, o YouTube não evoluiu a esse ponto.
Quais os perigos na utilização de ferramentas proprietárias?
Se você salva seu vídeo numa ferramenta livre, por um lado há o problema de que muitos usuários não têm o codec livre atualmente. Por outro lado, você garante que seu vídeo vai poder ser aberto daqui a 10 ou 20 anos. Como ele está em especificação aberta, daqui um tempo a pessoa pode voltar e buscar. Se ele estiver em um formato fechado, passa a ter problemas para abrir, tais como muitas pessoas têm vivenciado hoje com arquivos de texto, que são os mais utilizados. Quando muda de uma plataforma para outra, as empresas passam a não dar suporte aos formatos mais antigos. Para se ter uma ideia, em 2008, uma empresa chamada Veoh, semelhante ao YouTube, decidiu fechar os seus serviços para apenas 33 países. Com isso, pessoas no Brasil que tinham postado seus vídeos nesse site não conseguiram sequer entrar para retirar seu conteúdo. É um serviço gratuito, mas como essas empresas estão te dando a plataforma, elas querem ter um retorno que, muitas vezes, não vem de patrocínio. Pode, inclusive, haver a venda dos vídeos que estão nas plataformas.
Existe alguma plataforma que seria como o YouTube do software livre?
Existe, a gente está desenvolvendo agora em um consórcio de três empresas, Ministério da Cultura e Associação Software Livre. Daqui a um mês, entre 21 e 24 de julho, no Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, a gente vai fazer a demonstração dessa plataforma. Inclusive, um dos desenvolvedores vai mostrar recursos de edição de vídeo. O Youtube acabou de lançar isso, acho que foi esse mês, e a gente já tem esse recurso antes de ter a plataforma pronta.
Você acha que existe certo protagonismo do Brasil no desenvolvimento de licenças livres?
Apesar de ser uma das principais lideranças a nível internacional, o Brasil ainda peca em muita coisa. Uma das minhas maiores críticas é que o governo economiza muito com a utilização de software livre, mas investe pouco em desenvolvimento. Eu não tenho esses números, mas pelos produtos que são apresentados, não chegam a gastar um quinto do que economizam.
Você acha que isso ocorre porque as iniciativas são muito isoladas?
Pouco divulgadas. O padrão de TV digital brasileiro, por exemplo, foi desenvolvido pela PUC do Rio de Janeiro e pela Universidade Federal da Paraíba. Curiosamente, a PUC, que é uma instituição privada, liberou o acesso ao código deles e a UFPB, que é uma instituição pública não liberou. O código que foi desenvolvido em uma universidade pública, com dinheiro público, é fechado e proprietário. A Dataprev, o Serpro, diversos ministérios têm soluções próprias, mas que, em geral, atendem apenas demandas internas. Não há edital do governo específico para estimular o desenvolvimento de ferramentas já existentes ou mesmo criar novas ferramentas. Nem o Ministério da Ciência e Tecnologia, que teria esse papel, faz isso. Segundo a Coordenação de Cultura Digital do Ministério da Cultura eles estão pensando em fazer um edital que tenha esse foco, mas não há previsão para isso.
O que é uma pena, já que os softwares livres podem ser utilizados em outras áreas…
Sim, para todas as áreas. Um sistema muito utilizado no governo é o Moodle, sistema de educação a distância. Quando eu estava no Projeto Casa Brasil (do governo federal), observei o Moodle. O investimento que as instituições fazem são apenas adaptações pontuais para suas necessidades. Tudo bem, eles devolvem as melhorias, mas não há um investimento no desenvolvimento da ferramenta como um todo. Eles economizam, sei lá, R$ 10 milhões e investem R$ 3 mil. A minha crítica é a essa proporção. Até porque é papel do governo estimular a criação de ferramentas livres, isso é serviço público, é inclusão digital.
1 - Entregue à tecnologia
A cultura digital, ou cybercultura, é aquela produzida ou distribuída com o uso de novas tecnologias. Exemplos de cultura digital são as obras expostas somente pela internet e a gravação de filmes e vídeos com celulares.
2 - A chave do código
Os codecs são arquivos de computador responsáveis pela codificação e pela decodificação de arquivos multimídia. Como os arquivos são muito pesados para serem transmitidos integralmente pela web, há a compressão do conteúdo que, para ser ouvido ou visto no destinatário, tem de ser decodificado.
por Carolina Vicentin
Fonte Correio Brasiliense
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