domingo, 29 de agosto de 2010

Apenas três anos atrás



 "Apenas três anos atrás era impensável um Fórum Social das Américas no Paraguai. Este país ausente começa a se fazer presente. O Paraguai renasce", disse Hugo Ferreira no ato de abertura do IV Foro em Assunção, cantando Mi Pais, que ele tinha deixado de cantar por falta de esperança e liberdade. Apenas 11 anos atrás, na noite de 24 e madrugada de 25 de março de 1999, 7 manifestantes foram mortos na praça frente ao El Cabildo, mesma praça de abertura do Foro, por franco-atiradores postados no alto dos edifícios, na luta por democracia e por um Paraguai livre, no que foi chamado Massacre do Março Paraguaio.
Apenas alguns anos atrás os indígenas bolivianos não se apresentavam num Foro com toda altivez, pregando ao mundo o Bem Viver da harmonia entre as pessoas e a harmonia das pessoas com a natureza, e são reconhecidos como povos na Bolívia plurinacional.
Apenas poucos anos atrás a maia e guatemalteca Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz/1992, não pôde visitar o Paraguai, porque não lhe garantiam segurança, o que pode fazer em 2010 sob as asas da liberdade e da democracia. Apenas pouco tempo para cá indígenas brasileiros, peruanos, equatorianos, guatemaltecos e de todos os países latino-americanos tornaram a anunciar com orgulho suas raízes, sua forma de produzir, sua cultura e reverenciar os ancestrais e seus valores.
Apenas há pouco tempo era impossível reunir na mesma mesa num foro latino-americano um presidente boliviano indígena, um presidente paraguaio bispo da Teologia da Libertação, um presidente uruguaio ex-guerrilheiro tupamaro.
Apenas há muito, muito poucos anos dos mais de quinhentos desde sua colonização não são generais os presidentes eleitos, ou mandaletes dos poderosos de plantão ou lacaios do poder econômico dependente ou ditadores de plantão.
Apenas há poucos anos é eleito um presidente brasileiro metalúrgico e sindicalista, um presidente equatoriano que vem das Comunidades Eclesiais de Base, um presidente venezuelano dissidente das forças militares conservadoras, um presidente salvadorenho aliado de históricas forças guerrilheiras.
Apenas há poucos anos o povo começou a votar livre e soberanamente seus governantes sem o poder das armas e o tacão do fuzil nas costas.
Apenas há pouco tempo os golpes de direita, as ditaduras, as eleições fraudadas eram a marca registrada da América do Sul e América Central e Caribe.
Apenas há poucos anos o FMI e o Banco Mundial eram os únicos interlocutores da política econômica e social dos países do continente latino-americano e de seus governos.
Apenas poucos anos atrás as ordens vinham de fora, do estrangeiro, e os governantes batiam continência para o poder econômico externo.
Apenas quatro ou cinco atrás não havia UNASUL, ALBA, Banco do Sul e a integração latino-americana.
Apenas há poucos anos trabalhadores sem terra, catadores de materiais recicláveis, moradores de rua, pescadores, pequenos agricultores, negros e quilombolas, indígenas, o povo LGBT eram escorraçados dos corredores do poder, aos quais jamais tinham acesso, muito menos participação.
Apenas há pouco tempo os pobres latino-americanos não tinham voz nem tinham vez, sendo apenas bucha de canhão para ‘servir’ a pátria ou dar seu voto na eleição.
Apenas algumas décadas atrás, como retrata o filme Diários de Motocicleta, Che Guevara pregava a unidade latino-americana em sua viagem de (re)conhecimento do povo latino-americano, que hoje torna-se realidade.
Como disse Rigoberta Menchú em praça pública, sobre o tratamento de saúde do presidente paraguaio Fernando Lugo que acontecia durante os dias do Foro, "as aves agourentas e mafiosas voltaram a se movimentar no Paraguai". Por isso, toda prudência é pouca e toda vigilância é urgente e necessária.
Diz a canção Guaranis de Gildásio Mendes: "Ah! Quanta luta na fronteira,/ tanta dor na cordilheira,/ que o Condor não voou./ Ah! Dança e terra guaranis,/ de uma raça tão feliz que o homem dizimou./ Ah! Vou nos passos de um menino,/ no meu coração latino a esperança tem lugar./ Ah! Quando bate a saudade,/ abre as asas liberdade, que não para de cantar."
Ou o cantador Zé Vicente, em Pelos Caminhos da América: "Pelos caminhos da América, bandeiras de um novo tempo,/ vão semeando, ao vento, frases teimosas de paz./ Lá na mais alta montanha, há um pau d’arco florido,/ um guerrilheiro querido, que foi buscar o amanhã. /Pelos caminhos da América há um índio tocando flauta,/ recusando a velha pauta que o sistema lhe impôs./ No violão um menino e um negro tocam tambores,/ há sobre a mesa umas flores, pra festa que vem depois."
É, o tempo da unidade latino-americana sonhada por Che chegou.

* Assessor Especial do Presidente da República do Brasil. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política

Alerta vermelho! Os russos estão chegando!


 Pepe Escobar, Asia Times Online

Tradução de Caia Fittipaldi no viomundo

Executivos de Hollywood e políticos de Washington são russófobos maníacos. Considerando o muito lamentável nível do discurso político nessas duas capitais do entretenimento de massa, ninguém deve esperar que os “formadores de opinião” locais tenham lido o recente trabalho do professor Paul Kennedy, no qual a história da Europa é narrada em formato de rota de colisão com os EUA, a partir da inevitável retração dos EUA na nova ordem do novo mundo multipolar emergente.
A russofobia hollywoodiana sempre emerge como caricatura completa, como no [filme] atualmente em cartaz “Salt”, veículo para exibir a irrepreensivelmente sem graça Angelina Jolie – com rapto de bebês pela ex-KGB, os quais são convertidos em superagentes infiltrados nos EUA, onde fazem carreira e pacientemente esperam o momento de porem-se a infernizar e sabotar a democracia ocidental, sempre começando por tentar assassinar o presidente dos EUA. Jolie é tão convincente quanto aquelas super-toupeiras eslavas que aparecem nos roteiros escritos pela CIA para vídeos de Osama bin Laden.
Por sua vez, a russofobia de Washington emerge como uma Cortina-de-Ferro-ao-contrário, erguida pelos EUA, os quais, como rezam os termos da doutrina do Pentágono, de dominância militar de pleno espectro, combinados com a OTAN, comandam um anel de bases militares para cercar completamente a Rússia, do Báltico ao Cáucaso e à Ásia Central.
E o que respondem os russos? Tanto no Afeganistão quanto no Irã, a resposta leva a marca do bom jogador de xadrez, discreto, calado, direto ao ponto e com vistas de acertar no milhar.
Todas as jihads levam a Sheberghan
No Afeganistão, a liderança em Moscou sempre soube que o muro tinha a ver com o plano, de EUA e OTAN, para estabelecerem uma nova hegemonia na Ásia Central – a sempre mesma história da dominância militar de pleno espectro. Mas em seguida Moscou descobriu – ao seguir o exemplo dos chineses, que investiram US$3 bilhões em minas ao sul de Cabul – que o melhor dos mundos seria fazerem muito dinheiro, enquanto o ocidente bate cabeça naquele atoleiro de guerras que jamais vencerá. A isso se chama o plano da Organização de Cooperação de Xangai, para erguer o cerco à volta da OTAN.
O presidente afegão Hamid Karzai acaba de visitar Moscou, onde foi saudado pelo presidente Dmitry Medvedev com uma cesta de projetos no valor de US$1 bilhão – de usinas hidrelétricas a exploração de minérios, os mesmos minérios que levaram o Pentágono, recentemente, a desenterrar suas predições exageradas de que o Afeganistão seria uma Arábia Saudita do lítio.
A história, às vezes, tem meios para tornar a realidade cada vez mais espantosa. A indústria de mineração afegã, baseada em Sheberghan, na remota província de Jowzjan, hoje controlada pelas milícias do general Abdul Rashid Dostum, foi, simplesmente, inventada pelos soviéticos. Dostum, guerreiro uzbeque, atualmente ministro no governo de Karzai, começou a construir sua carreira no exército afegão pró-soviético dos anos 1970s, antes de espertamente migrar para os mujahideen durante a jihad dos anos 1980s, quando se tornou um dos “guerreiros da liberdade” do ex-presidente Ronald Reagan dos EUA.
Reza a lenda que, quando Dostum visitou o Texas, no final dos anos 1990s, levava com ele o mapa do tesouro – toda a prospecção que os soviéticos haviam feito das riquezas minerais do Afeganistão. Chama-se a isso posicionamento perene; hoje, Dostum está no lugar certo para se beneficiar da prodigalidade dos russos. O Dr. Zbigniew “O Grande Tabuleiro de Xadrez” pode ter negociado um golpe crucial contra a União Soviética – sob a forma da jihad dos anos 1980s.
Mas é possível que os russos riam por último. O Afeganistão sempre será visto por Moscou como sua esfera de influência. A Rússia, além de ter boas conexões com a facção uzbeque, também tem bons contatos na facção Panjshir do governo Karzai – através do general Mohammed Fahim, vice-presidente do Afeganistão e líder supremo incontestável da espionagem local.
O novo ‘El supremo’ norte-americano da guerra do Afeganistão, general David “Estou sempre de olho em 2012” Petraeus – que se dedica atualmente a reescrever a guerra “Af-Pak” como se os EUA estivessem derrotando os Talibã – talvez provoque ondas de risinhos em Moscou (para não falar de Quetta, onde vivem os líderes da al-Qaeda). Mas, hoje, Moscou pode dar-se até o luxo de ser magnânima e deixar passar por território russo os suprimentos da OTAN. Os russos sabem que onde interessa – onde estão os bons negócios, no norte do Afeganistão – seu futuro não poderia ser mais luminoso.
Tudo que seja nuclear vira ouro
A nova usina nuclear de Bushehr – a primeira, no Oriente Médio – inaugurada conjuntamente sábado passado por Rússia e Irã, posiciona o Irã, sem qualquer dúvida, como umas das 29 nações que produzem energia nuclear no mundo. Mas é também grande negócio para a indústria nuclear russa, nesse caso representada pela estatal Rosatom.
Há seis meses, o primeiro-ministro Vladimir Putin disse que a Rosatom tem capacidade para construir 25% das usinas nucleares em todo o mundo (atualmente, construiu 16% delas). Atomstroiexport, o braço de construção civil da Rosatom, construirá uma grande usina na Turquia, e já pôs os olhos em Bangladesh e no Vietnam. Bushehr, que custou mais de $1 bilhão, gerará 2% da eletricidade do Irã. Cada um dos quatro reatores a serem construídos na Turquia, ao custo de $20 bilhões, produzirá 20% mais energia que Bushehr.
O principal executivo da Rosatom Sergei Kiriyenko anda dizendo que Bushehr é um “grande projeto internacional” do qual participaram mais de dez países da União Europeia e do Pacífico asiático. O que ninguém sabe com certeza é por que demorou tanto a ser inaugurado, dado que a Rússia assumiu o projeto em 1992 (Bushehr começou a ser construída em 1974, pela alemã Kraftwerk Union, empresa que resultou de uma fusão entre Siemens e AEG. Em 1980, a Siemens deixou o Irã).
Já se falou de tudo, para justificar os muitos atrasos – sanções dos EUA e ONU; desconfianças em Teerã, quanto aos russos; o fato de que Teerã não pagava em dia. Agora, são águas passadas. Kiriyenko acertou, pelo menos em parte, ao dizer que Bushehr “confirma a posição da Rússia, de que todos os países do mundo têm direito à energia nuclear para fins pacíficos” – desde que se deixem monitorar pela Agência Internacional de Energia Atômica, IAEA.
Nos termos do acordo Teerã-Moscou, a Rússia fornecerá combustível nuclear para Bushehr e encarregar-se-á dos resíduos (de modo que o Irã não possa extrair plutônio dos resíduos), e tudo sob monitoramento da IAEA. Centenas de engenheiros russos permanecerão trabalhando em Bushehr até 2013, antes de que Teerã assuma total controle sobre a usina.
No início de agosto, até o Departamento de Estado dos EUA, pelo principal porta-voz Philip Crowley, teve de admitir que “Bushehr foi projetada para fornecer eletricidade ao Irã. Não é considerada ameaça de proliferação, porque a Rússia fornecerá o combustível necessário e retirará os resíduos, dos quais nasce o risco de proliferação.” Washington está focada, como laser, é na usina de enriquecimento de urânio de Natanz; a segunda, que está em construção, em Qom; e no reator de água pesada em Arak, também em construção.
A ideia de que Teerã poderia construir uma fábrica “secreta” de bombas no subterrâneo de Bushehr é ridícula; num flash, seria descoberta pelos muitos satélites-espiões. Assim, enquanto os estridentes guerreiros-de-sofá neoconservadores norte-americanos desfilam sua estupidez, e tratam como se fossem coisas iguais uma usina nuclear monitorada internacionalmente e uma fábrica de bombas atômicas, os russos servem-se alegremente da mesma usina para construir novas oportunidades de negócios.
Moscou sabe que o que realmente está em jogo na chamada ‘questão nuclear iraniana’ é que os EUA – com seu arsenal nuclear gigante – e Grã-Bretanha e França – com seus arsenaizinhos – simplesmente não querem que outro país do mundo em desenvolvimento (além de Índia e Paquistão) intrometam-se no aconchegante ninho dos senhores de bombas atômicas. E a Rússia tampouco tem interesse em meter-se em mais um confronto estratégico, no caso de o Irã chegar à bomba atômica (Moscou, assim, joga seu jogo de xadrez geopolítico). Fato é que o ocidente e Moscou só querem, mesmo, que tudo continue exatamente como está.
Com o quê chegamos ao xis da questão. Enquanto EUA, Grã-Bretanha e França não aceitarem que o Irã enriqueça seu urânio, simplesmente não há qualquer possibilidade de contarem com o Irã como parceiro colaborativo numa agenda de cooperação global de não-proliferação. Até lá, a indústria russa de construção de usinas nucleares continuará a encher-se de dinheiro.

Escola vira ponto de cultura e transforma vila em centro cultural

Na Vila da Prata, em Mogi das Cruzes (SP), tem pessoas que valem ouro. Entre elas está a dona Ana. Voluntariamente ela iniciou um projeto que mudou a cara da comunidade e das pessoas que moram nela. Tudo isso a partir do espaço da escola da região. O local que antes estava abandonado hoje já é ponto de cultura e esporte da Vila da Prata. O Tá na Escola, da Opção Brasil, é o segundo episódio da série Interprogramas, que você vê todos os sábados aqui na TV Vermelho.


A 2ª edição do Prêmio Cultura Viva, idealizado pelo Ministério da Cultura (MinC), com patrocínio da Petrobras, produziu uma série de seis interprogramas. Essas peças audiovisuais foram veiculadas nos intervalos da programação do Canal Futura, no evento Teia/2007 e em eventos do Prêmio.

Para o desenvolvimento deste projeto, que abordou o tema da 2ª edição do Prêmio Cultura, educação e comunidade, foram selecionados seis Pontos de Cultura que atuam na área do audiovisual: Amanda Associação Mundo Animado das Artes (CE), Espelho da Comunidade TV Ovo (RS), Instituto Marlin Azul (ES), Opção Brasil (SP), Paraiwa Coletivo de Assessoria e Comunicação (PB) e Vídeo nas Aldeias (PE).

Veja o primeiro episódio da série na sequência do vídeo acima ou clique:
-Animação recria cotidiano das aldeias de pescadores do Brasil

Ovos podres e nossa democracia rompida

28 de agosto de 2010, coluna semanal de Amy Goodman

Qual é a relação entre 500 milhões de ovos e a democracia? A retirada em massa de ovos infectados com salmonela do mercado de consumo, o maior recolhimento de produtos primários na história dos Estados Unidos, permite-nos ver o poder que as grandes corporações transnacionais têm. Poder este que se exerce não apenas sobre nossa saúde, senão também sobre nosso governo.

Ainda que sejam muitas as marcas retiradas do mercado de consumo, todas estas podem ser rastreadas até chegar a só duas granjas de produção de ovos. Cada vez mais, a provisão de alimentos está em mãos de enormes companhias, crescendo vertiginosamente, e que exercem um enorme poder sobre nosso processo político. A mesma situação que ocorre com a indústria alimentícia, dá-se também com as petroleiras e os bancos: são corporações gigantescas (algumas com orçamentos superiores a maioria dos países do planeta), estão controlando nossa saúde, nosso meio ambiente, nossa economia e, cada vez mais, nossas eleições.

O surgimento de salmonela é só o episódio mais recente de uma série de outros que demonstra uma indústria alimentícia desenfreada. Patty Lovera, subdiretora do grupo pela segurança alimentar Food & Water Watch, me disse: “Historicamente, sempre tem havido resistência por parte da indústria a todo tipo de norma de segurança alimentar, seja esta ditada pelo Congresso ou por outros organismos governamentais. Existem grandes associações comerciais para cada setor de fornecedores dos nossos alimentos, desde os grandes produtores agroindustriais até as lojas produtos comestíveis.”

Os ovos contaminados com salmonela provinham de apenas duas granjas com porte de fábrica, a Hillandale Farms e a Wright County Egg, ambas do estado de Iowa. Por trás deste surgimento da doença está o empório do ovo de Austin “Jack” DeCoster. DeCoster é proprietário da Wright County Egg e também da Quality Egg, provedora de frangos e de alimentos para frangos das duas granjas de Iowa. Patty Lovera afirma que: “DeCoster é um nome que se escuta muito quando alguém começa a falar com conhecedores da indústria do ovo ou com pessoas que provem dos estados de Iowa, Ohio ou dos outros estados em que DeCoster opera. Por isso achamos que DeCoster é o perfeito exemplo do que sucede quando temos este tipo de concentração e produção em grande escala. Não se trata só de segurança alimentar ou só de dano ambiental ou do tratamento que recebem os trabalhadores. Quando estamos em frente a este tipo de produção em massa, responsável por enormes quantidades e variedades de nossos alimentos, se trata de um pacote completo de efeitos colaterais negativos.”

A agência de notícias Associated Press produziu um resumo das violações às normas sanitárias, de segurança e de leis trabalhistas presentes nas operações de DeCoster com ovos e porcos em vários estados. Em 1997, a empresa DeCoster Egg Farms aceitou o acordo da Justiça e resolveu de pagar uma multa de dois milhões de dólares pouco depois que o então ministro de Trabalho Robert Reich qualificou sua granja de “tão perigosa e opressora como qualquer empresa maquiladora (ver nota 1 no final do texto). Em 2002, a companhia de DeCoster pagou USd 1 milhão e meio de dólares para chegar a um acordo fruto de uma demanda legal apresentada pela Comissão Federal de Igualdade de Oportunidades Trabalhistas, que representou judicialmente contra a empresa, em defesa de mulheres mexicanas que informaram ter sido submetidas a assédio sexual, inclusive violação e estupro, incluindo abusos e represálias por parte de seus supervisores. Este verão, outra companhia vinculada a DeCoster teve de pagar USd. 125 mil dólares ao estado de Maine por ser acusada de trato cruel contra os animais.

Apesar de tudo isto, DeCoster tem prosperado no negócio de ovos e porcos, o que o põe à altura de outras grandes corporações transnacionais, como a British Petroleum (BP) e os grandes bancos. O derramamento de petróleo da BP, o maior na história deste país, esteve precedido por uma longa lista de fatos criminosos e graves violações às normas de segurança no trabalho. Sendo que todas estas denúncias já datam de vários anos. Um dos mais conhecidos destes atos foi a grande explosão da refinaria da cidade de Texas, desastre esse que custou a vida de quinze pessoas no ano 2005. Se a BP fosse uma pessoa física (um cidadão qualquer), teria ido a prisão faz muito tempo.

A indústria financeira é outro delinqüente crônico. Pouco tempo após o maior desastre financeiro mundial (desde a Grande Depressão iniciada com o Craque da Bolsa de Valores de Nova York em 1929), bancos como Goldman Sachs, cheios de dinheiro depois resgate financeiro governamental - quando os cofres públicos jorraram dinheiro para a salvação da Banca - interferiram no processo legislativo que justamente os tentava controlar.

O resultado foi um novo e amplamente ineficaz organismo governamental de proteção ao consumidor, além de uma implacável oposição à designação, para a direção deste organismo, da defensora dos direitos do consumidor Elizabeth Warren, que seria a pessoa quem supervisionaria aos bancos tanto como o novo organismo lhe permitisse. Este é o motivo pelo qual se opõem a sua designação os banqueiros, dentre eles, Timothy Geithner e Larry Summers. O primeiro foi nomeado pelo Presidente Obama nomeou como Secretário do Tesouro e Assessor Econômico.

Permite-se às corporações transnacionais operar praticamente sem supervisão e nem regulação. Permite-se que o dinheiro das grandes empresas exerça influência sobre as eleições, e por tanto, sobre a conduta de nossos representantes. Depois da decisão da Corte Suprema no caso apresentado pelo grupo de direita Citizens United, permitindo doações corporativas ilimitadas às campanhas, o problema vai de mau em pior. Para ser eleitos e manter no poder, os políticos deverão satisfazer mais e mais a seus doadores empresariais. Se poderia dizer que o lobo vigia ao galinheiro (e aos ovos podres que há nele). No entanto, há esperança. Existe um crescente movimento para reformar a constituição dos Estados Unidos, para tirar das corporações transnacionais o status legal de “pessoa jurídica”, conceito pelo qual estas empresas têm os mesmos direitos que as pessoas normais.

Isto faria que as corporações estivessem sujeitas à mesma supervisão que existiu durante os primeiros cem anos da história dos Estados Unidos. Mas para que as pessoas sejam as únicas com direito à participação política será necessário um verdadeiro movimento de base, dado que o Congresso e o governo de Obama parecem não ser capazes de implantar nem sequer as mudanças mais básicas. Como diz o refrão: “para se fazer um omelete, é preciso quebrar alguns ovos”.

1 Observação do tradutor: maquiladoras são empresas de montagens de peças industriais localizadas na fronteira entre os EUA e o México, que basicamente emprega mulheres, paga salários aviltantes e oferece tratamento desumano.


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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.


© 2010 Amy Goodman: Âncora de Democracy Now!, um noticiário internacional transmitido diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro "Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos", editado por Le Monde Diplomatique Cono Sur.

Texto traduzido do castelhano e revisado do original em inglês por Bruno Lima Rocha; originalmente publicado em português por Estratégia & Análise. É livre a difusão em língua portuguesa, desde que citando a fonte do original e neste idioma.
Imagem: The Quality Egg of New England, uma das gigantescas empresas de Austin “Jack” DeCoster, empresário da alimentação e acusado de ser o responsável final pela praga de salmonela nos ovos. Tal como no ramo alimentício, a concentração produtiva e de poder, faz com as corporações transnacionais estejam acima da cidadania.

sábado, 28 de agosto de 2010

Eleições presidenciais em Portugal....

Finalmente um candidato que defende a Revolução de Abril
por Francisco Lopes
Francisco Lopes. Com a decisão hoje assumida e tornada pública sobre a candidatura do PCP às eleições presidenciais, damos expressão a uma intervenção política indispensável à afirmação de um projecto essencial para o presente e para o futuro de Portugal.

Sobre o nosso País pesam a influência negativa decorrente da natureza do capitalismo, dos objectivos e rumo da União Europeia após quase 25 anos de integração e de 34 anos de política de direita e abdicação nacional realizada por sucessivos governos, em desrespeito da Constituição da República Portuguesa, com o apoio ou cumplicidade da Presidência da República.

As consequências estão à vista. Portugal é hoje um país mais injusto, mais desigual e mais dependente. O desemprego, a precariedade, a exploração, a pobreza e as dificuldades de muitos milhões de portugueses contrastam com a corrupção, a acumulação de riqueza e a opulência de alguns. É um país marcado por um processo de declínio nacional, de descaracterização do regime democrático e de amputação da soberania e independência nacionais.

Não aceitamos esse rumo. Recusamos o desaproveitamento das potencialidades existentes, não aceitamos o comprometimento do futuro do País. Portugal não é um país pobre. Portugal pode ser melhor, mais desenvolvido e mais justo. Para isso exige-se a ruptura com a política de direita e a opção de um novo rumo para o País.

Um novo rumo para o País

Um novo rumo, assente numa política patriótica e de esquerda, vinculada aos valores de Abril, capaz de realizar os direitos e as aspirações dos trabalhadores e do povo, de assegurar o desenvolvimento económico e o progresso social e afirmar a identidade cultural, a soberania e independência nacionais.

Um rumo de reforço do aparelho produtivo e da produção nacional, de criação de emprego com direitos, de aumento dos salários e das pensões, de defesa dos direitos sociais, de garantia de um sector público forte e determinante, de apoio às PME, ao mundo rural e às pequenas e médias explorações agrícolas, de defesa dos serviços públicos, das funções sociais do Estado na saúde, na educação, na segurança social, na defesa do meio ambiente e de promoção e valorização da cultura.

Um rumo em que o Estado esteja ao serviço do desenvolvimento, com uma Administração Pública eficiente, uma segurança interna para garantir a tranquilidade e os direitos das populações, uma justiça célere e eficaz, uma defesa nacional e relações externas assentes nos princípios da soberania nacional, da cooperação e da paz.

Um rumo que promova a ruptura com a natureza do processo de integração europeia, com a postura de submissão ao imperialismo e à NATO e contribua para um mundo mais justo, onde sejam afirmados os direitos dos trabalhadores e dos povos. Este caminho é possível e está nas mãos do povo português, com a sua opinião, a sua participação, a sua luta e o seu voto.

A candidatura que hoje assumimos, é parte integrante da construção desse percurso colectivo que há-de inscrever no futuro um horizonte de esperança e concretização de uma vida melhor.

Quando se perfilam novos ataques às liberdades, aos direitos e interesses dos trabalhadores e do povo português e à Constituição, que conduziriam à acentuação da exploração, das injustiças sociais e do risco de desastre nacional, o Presidente da República no quadro dos seus poderes pode e deve intervir de forma inequívoca na concretização do compromisso que assume de cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.

As eleições presidenciais pelo seu processo, a sua dinâmica e a decisão sobre as orientações e opções do órgão de soberania Presidência da República exercerão uma importante influência para abrir caminho a uma nova fase da vida nacional. As candidaturas até hoje anunciadas não respondem a esse objectivo.

Compromisso com o futuro de Portugal

A candidatura do PCP, distanciando-se e distinguindo-se de posicionamentos ambíguos, opõe-se ao prosseguimento do actual rumo ao serviço dos interesses dos grupos económicos e financeiros, sejam quais forem os protagonistas que a realizem. A candidatura que assumo emerge e afirma-se como uma necessidade incontornável, com um compromisso claro sobre a situação e o futuro de Portugal.

Assumimos o compromisso de apresentar e protagonizar uma alternativa para o exercício das funções do Presidente da República, marcada pela determinação e a confiança na força dos trabalhadores e do povo e na projecção dos valores de Abril, num Portugal com futuro.

Assumimos o compromisso de desenvolver o esclarecimento sobre a prática negativa seguida pelo actual Presidente da República, Cavaco Silva, sobre as suas reais responsabilidades na situação que o País vive, quer pelos dez anos em que foi primeiro-ministro, quer pelo seu mandato como Presidente da República e de contribuir para derrotar a sua candidatura cujo eventual sucesso configuraria a persistência dos problemas nacionais e um salto qualitativo no seu agravamento.

Assumimos o compromisso de intervir na defesa e afirmação do regime democrático, promovendo o respeito, cumprimento e efectivação da Constituição da República e dando combate às práticas que a desrespeitam e aos projectos que visam a sua subversão.

Assumimos o compromisso de afirmar a necessidade de uma profunda mudança na vida nacional, de promover o debate, a afirmação e a mobilização em torno de um grande projecto político, patriótico e de esquerda, capaz de enfrentar a gravidade da situação a que o País chegou e de lançar Portugal no caminho do desenvolvimento, da justiça e do progresso social.

Inabalável confiança no futuro

Esta candidatura, que protagoniza um projecto próprio e inconfundível, suscita no seu desenvolvimento, uma dinâmica de participação e empenhamento populares e assume plenamente o exercício dos seus direitos, desde a apresentação até ao voto, bem como as responsabilidades decorrentes da opção do povo português.

Esta é uma candidatura vinculada aos valores de Abril, a um projecto de democracia política, económica, social e cultural, a um Portugal soberano e independente. Uma candidatura patriótica e de esquerda, coerente e determinada, portadora de um projecto de ruptura e mudança. Uma candidatura aberta à participação de todos aqueles que, inquietos e atingidos pela grave situação do País, aspiram a uma profunda mudança na vida nacional. Uma candidatura dirigida aos trabalhadores e à afirmação dos seus direitos, às aspirações dos jovens, empenhada com a luta pela igualdade no trabalho e na vida das mulheres, solidária com os direitos das pessoas com deficiência, presente na luta pela dignificação e valorização da vida dos mais idosos. Uma candidatura dirigida a todos os democratas e patriotas.

Iniciamos hoje aqui um percurso, que nos levará a todo o País, que se cruzará todos os dias com os interesses e direitos dos trabalhadores, das jovens gerações, do povo, com os seus problemas aspirações e lutas, o percurso de uma candidatura que age para abrir uma fase nova na vida do nosso País.

No início da segunda década do século XXI, aqui estamos, com a convicção de sempre, com a determinação correspondente às exigências actuais e com uma inabalável confiança no futuro.
O original encontra-se em http://www.avante.pt/pt/1917/emfoco/110234/

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Crack Nunca Mais, pela reabilitação do RS




Por Katarina Peixoto

Programas de reabilitação de drogados costumam prescrever a aceitação de que o mundo é maior que a dependência do drogadito. Ou, em outras palavras, que o drogadito não é maior do que o mundo. Versões mais grosseiras dessas tentativas de desintoxicação costumam meter deus no meio dessa superação. Fato é que desintoxicar exige humildade. E uma consciência da própria finitude, quer dizer, um compromisso inadiável com a própria carne, com as próprias dores e possibilidades. Desintoxicar, por isso, exige um compromisso com a verdade. Não há espaço para mentira e suas variantes do auto-engano no caminho de luta contra a dependência.
Por isso falar em desintoxicação do Rio Grande do Sul faz sentido, e não exatamente como metáfora.
Um Estado que padeceu com a experiência Yeda Crusius não precisa de metáfora, mas de realidade e, portanto, de um compromisso inadiável com a verdade. A viagem tem sempre vida curta e a chapação, ao longo do tempo, mata. De 2003 para cá, quando a direita gaúcha rearticulou seu projeto de poder no estado do Rio Grande do Sul, a situação do Estado, perante si mesmo e perante o país realmente merece uma campanha como “Crack, nunca mais”. Não é sem propósito que o esteio propagandístico da chapação lança essa campanha. E, mais uma vez, não há metáfora, aqui.
A decadência econômica vem caminhando de mãos dadas com a degeneração política. Se esse vínculo é necessário ou não, pouco importa. Fato é que constatar sua existência no RS dos dias que correm é dizer a verdade. O lero-lero delirante do Déficit Zero é propagandeado a despeito do declínio nos índices de qualidade de ensino, de saúde, dos serviços públicos e nos grandes esquemas de saque do erário já combalido. Saques, por sua vez, investigados e denunciados antes pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. A chapação e a dependência não deram lugar à oposição. Mas esta, como um fígado, seguiu se regenerando.
Seria simplesmente ridículo ver Yeda Crusius na televisão, com aquela sua peculiar mirada ao infinito, não fosse desagradável. É constrangedor e triste ver no que as drogas podem transformar uma pessoa. E a mentira das sanhas ideológicas não apenas alienam politicamente, como demenciam. Tem algo demente, ali, naquele queixo acrítico, naquele déficit zero que outro dia até a representante não escolhida pelo voto do sofrido Ministério Público Estadual repetia. Diabos, o que pode querer dizer déficit zero no MP estadual???
Para criticar o Olívio Dutra, diziam que nas Assembléias do OP se discutia até a compra de carteiras para escolas. Para criticar, diga-se. Porque o que fizeram com este homem é inominável. Agora, não podem mais fazê-lo. Não falam mais sozinhos, não intoxicam plenamente, não asseguram a terra das palavras delirantes nas mentes incautas. E o Rio Grande do Sul fica mais saudável.
Posso discordar de que tudo seja discutido numa assembléia de OP. Mas frente ao crime o que está em jogo não é a concórdia ou a discórdia; é a justiça, a lei. Ambas, em tempo, vêm sendo destroçadas neste estado. Desmantelaram a legislação ambiental, esquartejaram a legislação dos incentivos fiscais e, com isso, a mínima decência tributária (o Fundopem do governo Rigotto tornaria Britto um republicano), desinvestiram deliberada e sistematicamente na saúde, recusaram e se abstiveram do recebimento e do empenho de verbas federais destinadas a políticas públicas para jovens, crianças, mulheres, mulheres negras, comunidades indígenas, catadores de papel, usuários do SUS.
Esse acúmulo de perdas só reforçou a dependência da máquina propagandística, o estuário de verbas estaduais para seguir tentando perpetuar o vício. Como se sabe, o vício tem muitos aspectos: culpa-se o outro, projeta-se a própria miséria e se denega qualquer responsabilidade. Assim se pode ver motoristas de táxi, lobotomizados via rádio o dia inteiro, bradarem contra a Dilma porque os azuiszinhos não fiscalizam as pessoas que estacionam nas ruas. Crack,nunca mais.
E por falar nisso, o senador Simon está calado. O paladino da imparcialidade ativa que embruteceu, empobreceu e corrompeu o Estado em níveis nunca dantes vividos. Seu candidato, até que se prove o contrário, é um senhor tão obscuro como descompromissado, cujo discurso vazio só é superado pela ausência de vitalidade.
Quem quer manter essa carcaça em que o RS se tornou? Como um resto de gente, com dentes empodrecidos, ira contra o mundo, sobretudo incompreensível; quem caminha pelas ruas e vê as hordas de jovens chapados sabe do que se trata a imparcialidade ativa do déficit zero. Sabe o que desinvestimento, abstenção e recusa de assistência geram. Ainda virá à tona o quanto foi devolvido à união pelos governos (sic) da imparcialidade ativa e do déficit zero, em recursos sem empenho, destinados a políticas públicas no âmbito da assistência social, médica, à criança e ao adolescente, à juventude. Crack, nunca mais.
Reabilitação é um processo doloroso, mas diariamente fortalecido. Toda desintoxicação exige mais do fígado do que os porres de palavras cruzadas e falsas polêmicas. Mas funciona, constitui, faz sentido. É um caminho incerto, com recaídas, ou sem. Mas aponta para a agregação, a consciência do mundo e a independência moral. Sem chapação, sem mentira, sem saque do erário e sobretudo sem o delírio destruidor de futuro, de responsabilidade e de saúde.
O que será do RS reabilitado não se sabe, visto que a destruição não foi pouca nem irrelevante. Mas cessar a dependência, hoje, é vencer o vício, ganhar da mentira, recusar o auto-engano mistificador e empenhar-se com o futuro. Crack, nunca mais.

Quando as prisões de Israel se inundam de crianças palestinas



AVN - [Tradução do Diário Liberdade] Enquanto os grandes meios de comunicação mostram os preparativos para a próxima reunião entre a Palestina e Israel, sob os auspícios do governo estadunidense, pouco se fala das meninas e meninos palestinos detidos nas prisões judias.
Até agora, as declarações diplomáticas realizadas no marco do reinício do diálogo que busca pôr fim ao conflito no Oriente Médio deixou óbvia a situação dos menores.
As acusações levadas a cabo por Israel nos últimos tempos, como o avanço sobre os territórios palestinos ou as incursões militares em todas as escalas, revelam que o governo de Benjamín Netanyahu não tem incluída em sua agenda a questão das crianças presas.
A esta altura, não é estranho que o Estado judaico neguem todas as acusações que são feitas contra eles, ainda que as denúncias estejam documentadas e na maioria dos casos respaldadas por organismos de direitos humanos internacionais.
Como exemplo mais recente, encontra-se o ataque das forças armadas israelenses contra seis embarcações em maio. As embarcações transportavam ajuda humanitária à Faixa de Gaza, região palestina que desde 2006 sofre um forte bloqueio imposto por Israel. Nessa ação militar, os soldados hebreus assassinaram nove tripulantes do barco Mavi Marmara.
Ainda que a comunidade internacional tenha condenado o fato e a Organização das Nações Unidas (ONU) tenha criado uma comissão para investigar o sucedido, as autoridades judias se empenham em justificar o ataque.
O argumento é repetido: as embarcações transportavam materiais para a construção de armas que favoreciam os "inimigos" de Israel. A fome e as mortes evitáveis em Gaza devido ao bloqueio, pelo visto, tampouco estão na agenda da administração Netanyahu.

Os métodos de Israel para caçar menores

Incursões em plena noite, golpes e amordaçamentos, interrogatórios sem nenhum marco legal que seja respeitado e a agressão psicológica são as características que Israel impõe às crianças palestinas.
Mas a esta situação há que somar que os menores nos territórios ocupados vivem com o assédio militar permanente do exército judeu, sofrem graves problemas de alimentação, suas escolas foram destruídas e muitos deles viram morrer seus pais e familiares.
Na atualidade, nas prisões israelenses há quase 8 mil presos palestinos, incluindo crianças e mulheres, muitos deles em detenção administrativa.
Este último procedimento permite às forças armadas israelenses manter um palestino preso por três meses sem acusá-lo ante a justiça, com um período de prisão prorrogável por outros três meses.
O Centro Palestino para a Defesa dos Detidos (PCDD) revelou no início de 2010 que Israel mantém cativos cerca de 340 crianças palestinas, privando-lhes seus direitos básicos.
Segundo o diário francês L'Humanité, de julho passado, cada ano 700 menores palestinos "são detidos, interrogados e perseguidos pelo sistema militar israelenses".

Quando as leis internacionais não tem validade

Ainda que Israel figure entre os 191 firmantes da Convenção dos Direitos da Infância, vigente desde 1990, os fatos demonstram o incumprimento da norma.
A Convenção aponta que "a detenção, encarceramento ou prisão de uma criança será levado a cabo em conformidade com a lei e se utilizará tão somente como medida de último recurso e durante o período mais breve que proceda".
Em janeiro de 2010, o Comitê para os direitos das crianças da Organização das Nações Unidas (ONU), publicou um informe onde assegurou que Israel não responde as exigências referentes à detenção e interrogatório de crianças nos territórios ocupados.
O organismo internacional também denunciou as ordens militares 378 e 1.591 que "violam os padrões internacionais para a justiça dos menores e o direito a um processo justo".
O primeiro dos decretos prisionais prevê uma pena máxima de 20 anos contra os menores que se defendam jogando pedras contra soldados israelenses.
O Comitê da ONU também se mostrou muito preocupado porque "mais de 2 mil crianças, entre eles alguns de 12 anos, foram acusados de infrações contra a segurança entre 2005 e 2009, detidos sem acusações por um período superior a 8 dias e levados ante tribunais militares".
De sua parte, a ONG Defesa de Meninas e Meninos Internacional (DNI em espanhol) alertou no ano passado sobre a situação que atravessam os menores quando são detidos.
Para a organização, nos interrogatórios às crianças não é permitido chamar um advogado ou que os acompanhe algum familiar.
Segundo o DNI, os menores "são submetidos a técnicas proibidas, com o uso excessivo de vendas e algemas, bofetadas, patadas, posições dolorosas por tempo prolongado, confinamento solitário, privação de sono e combinações de ameaças físicas e psicológicas".
A isto, há que agregar que neste ano foi apresentado à ONU a denúncia de que mais de 100 crianças receberam maltratos e abusos sexuais enquanto estiveram detidos em 2009 pelo Exército israelense.
No entanto, a organização israelense de direitos humanos B'Tselem explicou que para o confinamento das crianças utilizam-se vários tipos de celas.
Entre elas encontram-se as denominadas "bloqueio", sem luz e de 1,5 por 1,5 metros; "armário", com teto baixo, na qual o detido pode ficar parado, mas é incapaz de se sentar ou se mover; e a "tumba", uma caixa de um metro de altura, 80 centímetros de frente e 60 de profundidade.
Quando em 1948 Israel começou a invasão da Palestina, os meninos e meninas desse país observaram como suas casas eram ocupadas e muitos de seus familiares expulsos à diáspora.
Depois de sessenta anos de políticas sistemáticas de ocupação por parte dos governos hebreus, os atuais pequenos palestinos sofrem ao lado de seu povo e suas vidas, muitas vezes, dependem de como se possam defender, ainda que Israel criminalize o lançamento de pedras contra seus soldados.

Fonte: AVN

Traduzido para o Diário Liberdade por Lucas Morais (@luckaz)





Fórum Mundial de Educação na Palestina

Entre os dias 28 e 31 de outubro, será realizado o Fórum Mundial de Educação em Ramalah, cidade palestina. Não será mais um fórum temático. Realizá-lo na Palestina tem um significado especial.
Ao não obedecer a Resolução da ONU do direito de criação de um Estado palestino, com os mesmos direitos do Estado de Israel, ocupando os territórios que deveriam constituir esse Estado, Israel – com o apoio solitário dos EUA – impede que a decisão das Nações Unidas seja cumprida. Para chegar à Palestina, é necessário chegar ao aeroporto principal de Israel – Aeroporto Ben Gurion –, onde é necessário submeter-se aos interrogatórios dos serviços de segurança israelenses, que detêm o poder arbitrário de deixar uma pessoa passar ou não. A alternativa é descer na Jordânia e fazer uma longa viagem por terra até o território palestino.
Embora com uma forte identidade, uma história milenar e uma extraordinária trajetória de lutas, a Palestina ainda não existe como território soberano, como Estado independente. Está invadida militarmente por Israel, que ocupa seus territórios, mantém o país separado entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, sendo esta, por sua vez, esquartejada pelos muros que a cruzam, pelos assentamentos de judeus em pleno território palestino.
Os palestinos são dominados, oprimidos, humilhados. Tenta-se fazer com que a vida deles seja impossível nesses territórios para que se submetam definitivamente a ser superexplorados por Israel ou a abandonar a Palestina, deixando o campo livre para o objetivo de Israel – apropriar-se de todo o território palestino e incorporá-lo a Israel.
A realização do Fórum na Palestina tem muito mais significado do que simplesmente mais um espaço de discussão e intercâmbio dos movimentos que lutam por “um outro mundo possível”. Significa legitimar a existência da Palestina, dar voz aos palestinos, integrá-los às suas lutas no movimento global do Fórum Social Mundial. Da mesma forma que foi importante que Lula não apenas visitasse a Palestina, mas fizesse o que os outros mandatários não fazem: dormisse lá, convivesse com o povo palestino, conhecesse as reais e opressivas condições de vida deles.
Mas, ao mesmo tempo, o fórum deve conhecer diretamente as condições muito precárias de funcionamento das escolas na Palestina, tanto materiais, como de materiais que permitam o conhecimento, o estudo, a continuidade do conhecimento e da consciência da identidade palestina com as novas gerações.

Emir Sader é cientista político.

Créditos: Caros Amigos

Considerada inimiga da educação, Yeda não foi convidada para debate com candidatos ao governo do estado

O CPERS/Sindicato realiza na sexta-feira 27, às 9h30, debate com os candidatos ao governo do Estado. O encontro será no salão de eventos do hotel Plaza São Rafael, no centro de Porto Alegre (Av. Alberto Bins, 509). O debate terá a participação de mil educadores.

Inimiga da educação pública, dos educadores e dos movimentos sociais, a governadora Yeda Crusius não foi convidada. Na educação, ela passou sua gestão atacando a organização dos trabalhadores e os direitos conquistados pela categoria. Além disso, tem reafirmado que, em caso de reeleição, manterá entre suas propostas a implementação da meritocracia e a realização de mudanças nas carreiras dos educadores.

“Durante quase quatro anos de governo, Yeda nunca quis sentar e discutir a educação pública com o CPERS. Portanto, não será agora, a convite do sindicato, que ocuparemos uma mesma mesa”, finalizou Rejane de Oliveira, presidente do CPERS/Sindicato.

João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato
http://www.cpers.com.br/index.php?&menu=1&cd_noticia=2565

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Como se fosse um partido


AYRTON CENTENO no  Brasilia Confidencial
   
Suponha que Ali Kamel fosse presidente da república. Fantasie um pouco mais e descubra Miriam Leitão, também eleita, subindo a rampa do Palácio do Planalto. Sob o impulso do mesmo delírio coloque Fátima Bernardes candidata ao Senado Federal. Fátima vai disputar a cadeira que o senador Faustão não deseja mais ocupar. Difícil conceber? É possível. Mas não no Rio Grande do Sul. Ninguém ficaria surpreso. É que este cotidiano sequestrado ao realismo fantástico “naturalizou-se” no território gaúcho. Um exemplo: desde 1994, egressos dos quadros do grupo RBS – a Globo local – disputam todas as eleições para governador naquele que, durante muito tempo, jactou-se de ser o estado mais politizado do Brasil. E, em duas ocasiões, eles venceram. Em 2010, a RBS novamente está no páreo não apenas para o Palácio Piratini, mas também para o Senado, a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Deputados.
    Com 21 emissoras de TV (18 afiliadas à Globo), 25 rádios, oito jornais diários e quatro portais na internet, a RBS não comanda apenas a mídia, mas boa parte dos corações e mentes no Sul. Em 1994, quando seu ex-diretor de telejornalismo Antonio Britto elegeu-se governador, a força do conglomerado tornou-se ainda mais notória. Nas prévias do PMDB, os dois candidatos em confronto tinham raízes na RBS: Britto e o deputado federal e apresentador de rádio e TV Mendes Ribeiro. Em 1998 e 2002, Britto tentou retornar ao governo. Em 2006, mais uma novidade procedente da RBS chegaria ao Piratini: Yeda Crusius.
    Eleita pelo PSDB, Yeda popularizou sua imagem com aparições diárias no telejornal noturno da então TV Gaúcha, onde ocupava um espaço de análise econômica. Dali desabrochou para a política a bordo de uma esquisitice.  No governo Itamar Franco, o presidente pediu ao amigo Pedro Simon a indicação de uma mulher para fazer florir seu ministério que considerava demasiadamente carrancudo e atulhado de homens. Simon lembrou-se da professora de economia que aparecia bem na TV. E, como as coisas aconteciam sob Itamar, da noite para o dia, Yeda virou ministra do Planejamento. Durou 70 dias, uma passagem breve e bisonha — foi informada da existência do Plano Real na coletiva de lançamento – mas acarpetou seu trajeto para a Câmara Federal. Em 2010, tenta reeleger-se governadora.
    Para o Senado, a jornalista Ana Amélia Lemos é a representante do poder do grupo no pleito de outubro. Após décadas chefiando a sucursal de Brasília, com presença diária no rádio, na televisão e no jornal Zero Hora, ela ingressou na corrida como candidata do PP. Mas, na cabeça do eleitor, não vai estar o partido submerso no escândalo do Detran/RS, que fez evaporar R$ 44 milhões dos cofres estaduais, e sim a figura que diariamente entrava na sua sala para tratardos temas mais candentes do Brasil. E conta com boas chances de sucesso, embora enfrentando dois pesos-pesados: o atual senador Paulo Paim (PT) e o ex-governador Germano Rigotto (PMDB).
    Se isto ocorrer, Ana Amélia ocupará a cadeira do senador Sérgio Zambiasi (PTB), apresentador de programas populares na rádio Farroupilha, também da empresa. Aportando no Senado em 2002, após sucessivas eleições como um dos deputados estaduais mais votados do país e presidente da Assembleia Legislativa, Zambiasi absteve-se de concorrer em 2010. Projeta um cargo no executivo em 2012 ou 2014.
    Além das eleições majoritárias, os representantes do time da RBS sempre se engajaram na caça às vagas nas proporcionais. Neste ano não será diferente. O ex-vice-presidente institucional do grupo, Afonso Motta, concorre a deputado federal pelo PDT. Um dos parlamentares mais votados do estado em 2006, Paulo Borges elegeu-se com a ajuda do cognome “O Homem do Tempo” – era o encarregado da previsão na RBS TV – e disputa a reeleição pelo DEM.
    Como regra quase sem exceções, os candidatos assim forjados não possuem vida partidária pregressa, escalando cargos eletivos por obra da exposição midiática e de sua natureza de personalidades “não-políticas”. Com perfil conservador, alinham-se no espectro que vai do centro à direita. Nesta modalidade de berlusconização delegada, como emergem na condição de criaturas da mídia, dificilmente contrastam os muitos interesses da mesma mídia que os criou.
    Não falta quem diga que é um partido, o PRBS. Não falta quem diga que é o único. Um exagero, deve-se convir. Porém, com os jornais mais influentes, a TV aberta e as rádios AM e FM líderes de audiência, supõe-se até que 90% dos assuntos que freqüentam as conversas dos gaúchos tenham origem na pauta da RBS. Verdade ou não, vale como elemento de reflexão sobre o efeito aberrante da concentração e da propriedade cruzada dos meios de comunicação no jogo eleitoral e na livre manifestação dos eleitores. Vinte e cinco anos após o suspiro final de sua última ditadura, é uma pedra no caminho de um país que ainda constrói penosamente sua democracia.