Tenho amigos que votarão no Plínio, mas não posso deixar de criticar o udenismo vulgar que o candidato do PSOL usou no debate
de domingo, na Record, e que, pela repetição sistemática de clichês
moralistas em todo certame, deve ser a estratégia do partido nessa eleição.
A afirmação que "Psol não tolera corrupção" me parece extremamente
arrogante, como se o partido pudesse de controlar os vícios humanos.
Gaba-se de que o partido não tem casos de corrupção, o que é fácil para
um partido minúsculo e criado há poucos anos. A corrupção é um problema
vinculado ao poder e ao dinheiro. É claro que os casos aumentam na
proporção que um partido ganha poder. Mas como seria ingenuidade pedir
que os partidos não ambicionem mais poder, a única solução para o
problema é fortalecer as instâncias que investigam a corrupção no país.
Além disso, Plínio foi injusto, porque ele sabe que durante o governo
Lula houve um grande aumento na quantidade de operações da Polícia
Federal no combate à corrupção. Plnio surfa no antilulismo desinformador
da mídia, para vender uma ilusão moralista que ainda engana muita
gente.
Após protestar tanto contra a falta de tempo, Plinio tem disperdiçado
blocos inteiros nos debates por pura confusão mental. Chamou Dilma de
Marina sem sequer corrigir-se depois. Inventou um sofismo tolo e também
udenista ao dizer que o aumento do número de investigações significa
aumento da roubalheira. Ora, como Plínio pode afirmar que seu governo
"não tolera corrupção" e depois zombar, levianamente, do aumento das
investitações? Como ele pretende combater "a roubalheira"?
Dou parabéns a Plínio por apontado a concentração dos meios de
comunicação, mas achei egoísmo de sua parte criticar apenas a omissão
que, segundo ele, a imprensa faz de sua candidatura, e se negar a
comentar sobre a acusação dos movimentos sociais, sindicatos, diversos
partidos de esquerda, blogueiros e um importante segmento da população
contra o papel da imprensa nestas eleições, publicando calúnias contra
Dilma Rousseff e fazendo acusações à Serra.
Com todo o respeito que tenho pelo candidato do Psol, não posso deixar
de observar que a participação de Plínio no debate mostrou um indivíduo
com muita dificuldade de coordenar os pensamentos ou mesmo entender
exatamente o que estava acontecendo.
Outro ponto que me incomoda em Plínio é que ele tem partido,
sistematicamente, durante os debates, para os ataques pessoais, ad
hominem, ou melhor, ad feminam. Os ataques que fez à Marina Silva foram
de baixo nível. À Dilma, idem. Ele se acha melhor que os outros?
As centenas de milhares de estudantes que se beneficiaram do Prouni e
Reuni também devem ter se sentido bastante ofendidos com as referências
jocosas do candidato a esses programas. Suas críticas foram
deselegantes, ainda mais por atingir jovens que vivenciam momentos muito
emocionantes em suas vidas. Sua desqualificação magom esses estudantes.
Plínio, um homem muito rico, esnoba da ascensão social de milhões de
brasileiros pobres que ganharam acesso a universidade.
Ao mencionar a educação em São Paulo, num debate com Serra, Plínio
cometeu outra grosseria, ao se referir a todos os jovens paulistas como
"analfabetos". Esse tipo de afirmação, se é vista como "gracinha" pelos
segmentos cultos da sociedade, constituem uma agressão imperdoável aos
brasileiros pobres e com pouco acesso à cultura.
Mas eu não voto no Plínio apenas por essas grosserias, típicas de um
paulista ricaço e pedante. Eu não aprovo suas propostas. Grande parte de
seus eleitores encantam-se apenas com o charme socialista e
independente do PSOL, mas poucos atentam para o caráter sectário de suas
propostas.
Após o pagamento da dívida externa e a redução da dívida pública, a
defesa do calote desta última, por exemplo, é algo simplesmente
irresponsável. O Brasil hoje tem condições de ser um importante emissor
de títulos públicos no mercado internacional, a juros baixos e a longo
prazo. Seria uma estupidez infantil, seria jogar dinheiro fora, decretar
um calote que afetaria essa credibilidade conquistada a duras penas.
Alem disso, os títulos que formam a dívida pública estão hoje
capilarizados junto à população, de maneira que um calote prejudicaria
uma quantidade imensa de famílias de classe média.
Quanto ao limite da propriedade, trata-se de uma medida arbitrária e
truculenta. Com base em que estudo, o PSOL decreta que mil hectares é o
limite? É óbvio que o partido optou por um número "redondo" por uma
questão de criar um símbolo. Mas você poderia concluir da mesma forma
que o limite é de 2 mil hectares, ou de 3 mil ha, ou de 800 hectares.
Ora, está claro que o latifúndio deve ser combatido no país, mas essa
medida é tola. Por exemplo, um homem poderia ter até 20 mil hectares
improdutivos sob seu controle, mas em nome de familiares. O Brasil
precisa de uma reforma fundiaria sim, o que é diferente de uma reforma
agrária (embora os temas sejam vinculados), mas não se pode criar uma
lei dessas para um país tão desigual. Em áreas próximas a centros
urbanos, por exemplo, o Estado poderia dificultar, ou ao menos não
incentivar, a concentração fundiária. Mas o mesmo cuidado não seria
necessário, não no mesmo grau, em áreas extremamente despovoadas do
Centro-Oeste.
O PSOL engaja-se com demasiada facilidade em qualquer campanha contra o
governo, o que significa dizer que se engaja sistematicamente contra
qualquer ação governamental, aliando-se à mídia nesse tipo de oposição
radicalizada e sectária. Desvio do São Francisco, Belo Monte, Angra III,
presal? O PSOL parece ser contra tudo, e quando se pedem propostas ao
partido, ele responde apenas com abstrações e generalidades.
Jà observei que Plínio tem dois grupos de eleitores. Um é formado pelo
jovem idealista, ainda um pouco ingênuo em sua visão de mundo, e
confundindo um pouco o fato do PSOL ser um partido muito pequeno e estar
a milhas de distância do poder com uma espécie de pureza ideológica e
moral.
Outro grupo é formado pelo eleitor meio desorientado com os ataques
pesados que a petista sofre na imprensa e nos estratos altos da
sociedade. Os ambientes empresariais costumam ser extremamente
agressivos no quesito político, com uma disseminação grande de um
antipetismo rancoroso. Votar em Plinio ou Marina é como levantar uma
bandeirinha branca de paz. Ser eleitor da Dilma é comprar uma guerra
constante e nem todo mundo está disposto a isso. Não tanto entre os
pobres, onde quase não há o fenômeno do antipetismo, mas sobretudo da
classe média para cima. Declarando-se eleitor de Plínio ou Marina, o
eleitor é tratado como "civil", e não como "militante" e pode assistir
ao combate do lado de fora, sem risco.
Mas a maioria dos eleitores de Plinio, e grande parte dos de Marina, devem ir de Dilma - se houver - no segundo turno.Acesse oleododiabo.blogspot.com