sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Emir Sader: “Marina é a falência do movimento ecológico brasileiro”

por Conceição Lemes no Viomundo

Pesquisa divulgada pelo Datafolha na terça-feira, 28, colocou em cheque, de novo,  a credibilidade do instituto, que já andava baixa.  Dizia que Dilma Rousseff (PT) caíra três pontos percentuais em relação ao levantamento realizado na semana anterior, quando tinha 49%. O candidato José Serra (PSDB) teria mantido 28% e Marina Silva (PV), subido de 13% para 14%.
“Enquanto as pesquisas em geral dão 10% de vantagem para Dilma em relação à soma dos outros candidatos, o Datafolha deu 4%. Enquanto o Datafolha cogita o segundo turno, Sensus, Vox Populi e Ibope continuam jurando que vai dar Dilma no primeiro turno”,  disse, em entrevista ao Viomundo, o sociólogo-político Emir Sader. “O mínimo que se pode dizer é que, na margem de erro, está havendo manipulação.”
Ao ser indagado sobre o que faremos até a reta final da campanha, Emir brincou: “Lexotan”. Depois, falando sério, afirmou: “Quem está empenhado num candidato, intensificar o trabalho. Mas, sobretudo, tentar desmentir os boatos, as falsidades que andam espalhando por aí”.
Eis a segunda parte da entrevista que nos concedeu.
Viomundo — Que falsidade o senhor destacaria?
Emir Sader – A mídia está passando uma imagem platônica da Marina, que não tem nada a ver. Na hora em que teve de enfrentar uma luta concreta, a Marina ficou contra os povos indígenas.
Emir Sader – Exatamente. O registro de frutas tropicais da Amazônia feito, com fins comerciais,  pela Natura, cujo presidente [Guilherme Leal] é o vice da chapa verde. A Marina ficou do lado dele contra os interesses e os saberes naturais dos povos indígenas, dos povos da Amazônia, ao dizer que a Justiça é que decidiria.
Tenho dúvidas sobre a “preocupação” ecológica da empresa. Qual a política salarial dela?  Qual a política para exploração dos recursos naturais? Qual a política da propriedade intelectual? Eu não vejo nada de significativo na prática social dela, que pudesse ter um caráter ecológico. A questão ecológica não é só preservar a floresta e os animais em extinção. Essa visão é muito pobre, reducionista.
Curiosamente,  até sair do governo Lula, a Marina era o diabo para a imprensa. Dizia que ela era quem mais prejudicava os projetos econômicos com suas picuinhas ideológicas.  Essa mesma mídia, agora, exalta a Marina, numa clara instrumentalização, que ela aceita de bom grado. Quando se fala da Marina real, do Serra real, aí é que se vê a verdadeira dimensão deles.
Viomundo – Quem é a Marina real?
Emir Sader – No Fórum Social Mundial, ouvimos o tempo todo que a questão ecológica é transversal. Ou seja, assim como na época anterior da esquerda se achava que a questão capital-trabalho cruzava tudo, a ecologia cruzaria tudo.
Logo, a graça da campanha da Marina seria fazer uma campanha em que ecologia cruzasse tudo. Só que ela deixou de ter uma agenda própria, passou a reagir a partir do denuncismo da direita, do bloco tucano-udenista. Chegou a dizer que a violação dos sigilos bancários da filha e do genro do Serra provocava fragilidade na sociedade brasileira. Tomara que fosse essa a nossa fragilidade. Para nós, o que fragiliza a sociedade brasileira é a violência, o desemprego, a miséria, a injustiça…
Nessa campanha, Marina só assumiu posições equidistantes do cerne da questão ecológica. Ela não desenvolveu no governo nem fora uma concepção ecológica do desenvolvimento. O discurso dela não quer dizer nada.
Ao falar de Belo Monte, por exemplo, ela emenda “mas a energia limpa…” Só que Belo Monte é energia limpa. A Marina não tem coragem de se colocar a favor de projetos como Belo Monte, mas também não tem capacidade de elaborar projetos alternativos. Acho que a Marina é a falência do movimento ecológico brasileiro.
Viomundo — Mesmo?
Emir Sader – Sim. O discurso dela pode parecer coerente no papel, mas quando você  questiona, é um vazio profundo. O estado brasileiro como é que vai ser? Qual o modelo desenvolvimento que propõe? Qual o papel do mercado interno? E da exportação? Como seria a política externa brasileira? E as políticas sociais?
São questões cruciais sobre as quais ela não tem nada a dizer — nem contra nem a favor do que está sendo feito. Nada.
Peguemos os transgênicos, uma questão grave. O que a Marina tem a dizer hoje? Vai acabar com eles, com exportação de soja e com a Monsanto? O  discurso dela s acaba sendo um blefe, já que os segmentos dos transgêncis são totalmente aparelhados pela direita, que hoje a apóiam.
Está na hora de provar a transversalidade da questão ecológica. Não vejo nada disso na campanha da Marina. Onde está a questão ecológica, estruturando o conjunto da plataforma dela? Não tem.
Ela fala em terceira via, mas qual é a política de emprego dela? Qual a política de salários? Qual a política de crédito?  Não tem nada. Ela não tem nada a dizer nem dos programas essenciais do governo, como o microcrédito, o Luz para Todos, o crédito  consignado.  É só blábláblá. O que aparece, para quem está olhando a campanha, é um esvaziamento da transversalidade da questão ecológica.
Viomundo – A mesma mídia que apedrejava a Marina, hoje a enaltece. O Serra nem fala. Para alavancar a candidatura dele e liquidar a da Dilma, a “grande” imprensa assassinou o jornalismo durante essa campanha…
Emir Sader — A questão não é ser a favor ou contra o Lula ou a Dilma. Quando você tem um governo com 80% de aprovação e olha a imprensa, uma coisa não corresponde à outra. A cobertura não reflete a formação democrática e pluralista da opinião pública. Eu não queria que falasse bem, eu gostaria que existisse o pluralismo, os pontos de vista realmente existentes na sociedade. Por outro lado, no governo Lula, avançamos pouco na questão mídia.
Viomundo Que avaliação o senhor faz  da política de comunicação do governo?
Emir Sader –  Houve um fracasso enorme. Daí a dificuldade de governar. Se deixou criar um denuncismo, centrado em escândalos, reais ou não, desproporcional, que acaba falsificando o próprio debate político, ou seja, o que mudou na sociedade brasileira para melhor ou para pior.  Às vezes dá a impressão de que o governo é um poço de escândalo. O que não é verdade. Isso se deve ao fracasso da política de comunicação do governo.
O interessante é que a massa da população sabe dessa manipulação. Tanto que vota a favor do governo, apesar da mídia. Nós temos de democratizar, desconcentrar, ainda três coisas fundamentais: o dinheiro, a terra e a palavra. São monopólios privados. Não haverá sociedade democrática sem se democratizar essas instâncias.
Viomundo – E o Judiciário?
Emir Sader – É muito ruim que tenha pessoas que se comportam como o Gilmar Mendes e a doutora Sandra Cureau. Estão tão empenhados politicamente que desmoralizam ainda mais o Judiciário.  São personagens que refletem a arbitrariedade da Justiça, que deveria ser um órgão justo. Por isso, a reforma do Estado é fundamental. Acho que o Judiciário tem de estar submetido a um controle social.
Há alguns dias a Folha, em editorial, disse que todo poder tem de ter limite. E quem coloca limite no poder mídia monopólica?  Quem coloca limite ao Judiciário?
Isso não vai cair do céu. Tem de ser definido em uma instância democrática. A doutora Cureau, como disse a Dilma, tem o direito de se manifestar como cidadã. Mas, ao dizer que o Lula está se empenhando ao máximo para eleger a Dilma, ela poderia dizer também que a imprensa está fazendo o máximo para eleger o Serra.
Acho que estão extrapolando o papel do Judiciário. Fazer uma leitura política de intenções é uma atitude totalmente indevida em relação aos juízes.
Viomundo – Para terminar, o que representa a eleição deste domingo?
Emir Sader — O que está em jogo é o governo Lula. No domingo, o povo vai decidir se o governo Lula foi um parêntese e, aí, as elites tradicionais voltam ao poder. Ou se o governo Lula vai ser uma ponte para a gente construir um país justo, solidário e soberano, tarefa que apenas começamos a fazer. Acho que o povo está optando claramente pela continuação do processo, apesar da direita espernear através dos seus órgãos da mídia.

Correa controla situação, fala ao povo e denuncia golpistas

O presidente constitucional equatoriano, Rafael Correa, chegou são e salvo ao Palácio de Carandelet depois de permanecer por 12 horas num hospital para onde foi levado durante a tentativa de golpe provocada por uma rebelião de policiais nesta quinta-feira (30). Da sacada do Palácio Correa saudou milhares de pessoas que se concentravam do lado de fora e davam vivas à Revolução Cidadã.

Correa se dirigiu à multidão e expressou sua tristeza de ver que se derramou inutilmente sangue de irmãos ao referir-se aos militares feridos em seu resgate.

A multidão gritava “Lúcio assassino!” em referência ao ex-presidente Lúcio Gutiérrez, líder do oposicionista Partido Sociedade Patriótica, considerado como a força política que estava por trás da conspiração e da intentona de golpe de Estado.
Correa agradeceu profundamente aos milhares de compatriotas que foram desarmados ao Hospital da Polícia Metropolitana tentar resgatá-lo. Agradeceu à sua guarda pessoal, aos ministros que o acompanharam, todos dispostos a dar a vida se fosse necessário paa libertar o presidente. Jamais impunidade para esses golpistas, disse o presidente, que também agradeceu o apoio recebido dos presidentes de todos os países da Unasul e da Alba e de numerosos países do mundo.

Leia também:
O presidente equatoriano contou que tinha ido naquela manhã dialogar com os revoltosos e explicar-lhes como o governo queria, pois ninguém tinha apoiado tanto a polícia nem aumentado tanto os salários como o próprio presidente, disse, e ao ver a reação me senti traído, por um grupo deles,enfatizou. “Então me dei conta de quem estava por trás – Lúcio Gutiérrez”. A multidão exigiu castigo paaos golpistas

Com Prensa Latina

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Repúdio ao golpismo no Equador



Governos latino-americanos solidários com Rafael Correa


Diversos governos de países da região condenaram a tentativa de golpe no Equador e manifestaram irrestrita solidariedade ao seu presidente Rafael Correa. O governo brasileiro acompanha com atenção e preocupação os incidentes que estão ocorrendo no Equador envolvendo protestos de militares contra o governo e confrontos com simpatizantes do presidente Rafael Correa.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou hoje (30), em nota, que o governo brasileiro se solidariza com o presidente Correa e que apoia o governo e as instituições democráticas equatorianas.
A posição brasileira foi transmitida pelo ministro Amorim, por telefone, ao chanceler do Equador, Ricardo Patiño. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo informado sobre a situação no Equador por Amorim e pelo assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Segundo Amorim, no comunicado, o Brasil não reconhece quaisquer tentativas de desrespeito à ordem vigente no Equador. Na nota, Amorim chama o Equador de país irmão. O chanceler brasileiro está em Porto Príncipe, capital do Haiti, de onde telefonou para o secretário-geral das Relações Exteriores, Antônio Patriota, que responde como ministro interino, e para o embaixador do Brasil em Quito, Fernando Simas Magalhães.
Cuba
«O governo da República de Cuba condena e manifesta seu mais enérgico rechaço ao golpe de Estado que se desenvolve no Equador”, afirma documento emitido pela Chancelaria.
A nota diz ainda que “Cuba espera que a chefia das Forças Armadas equatorianas cumpra sua obrigação de respeitar e fazer cumprir a Constituição e garantir a inviolabilidade do presidente da República legitimamente eleito e assegurar o Estado de direito”.
Cuba declara também que “rechaça energicamente as declarações atribuídas à chamada Sociedade Patriótica, de Lúcio Gutiérrez que proclama intenções abertamente golpistas” e oferece “o mais absoluto e completo respaldo” ao governo legítimo e constitucional do presidente Rafael Correa”.
O governo cubano considera que fatos como este só servem a interesses externos à região, que pretendem impedir o avanço de processos independentes e transformadores. “É também um intento, diz a nota, de silenciar a voz do Equador e de seu presidente em seu enfrentamento à política intervencionista dos Estados Unidos na região”.
Nicarágua
O governo da Nicarágua denunciou a intentona de golpe de Estado contra o presidente equatoriano Rafael Correa. Através de comunicado, o presidente nicaragüense Daniel Ortega, conclama todos os governos e povos latino-americanos a pronunciarem-se e mobilizarem-se em apoio a Correa e de seu governo.
"Rechaçamos categoricamente os acontecimentos que setores retrógrados e antidemocráticos estão impondo ao povo irmão equatoriano, rompendo sua tranqüilidade e seu direito à paz”, diz o texto da presidência nicaragüense.
Paraguai
Também o presidente paraguaio, Fernando Lugo, expresou seu mais enérgico repúdio à sublevação de setores armados no Equador e manifestou sua solidariedade com o presidente Rafael Correa. Lugo valorizou o gesto de patriotismo do povo equatoriano "que a estas horas se mobiliza para defender a institucionalidade agredida e aguarda que se actue com a maior severidade para que a democracia recupere sua integridade ferida em consequência desse brutal levante”.
Os governos do Chile, da Colômbia e da Espanha também tomaram posição contra a tentativa de golpe no país andino.

Correa continua sequestrado no Equador


A população de Quito começa a cercar o hospital da polícia onde o presidente Rafael Correa, segundo informações das agências internacionais, está sendo mantido preso pelos policiais amotinados. Agora há pouco, o comandante das forças armadas equatorianas, Ernesto González, fez uma declaração pública de solidariedade a Correa. Mas até agora não se registram movimento de tropa para garantir a integridade física do presidente.
Já houve enfrentamento entre populares e as forças policiais que cercam o hospital onde se encontrar o presidente. Há informações de adesão de militares à rebelião na cidade de Guayaquil.
Quem é Rafael Correa
O economista Rafael Correa, 47 anos, assumiu a presidência do Equador em 2006 ao derrotar o multimilionário Alvaro Noboa, no segundo turno, com mais de 56% dos votos.
Depois de tomar posse em janeiro de 2007, Correa convocou a população a aprovar uma Assembléia Nacional Constituinte para reformar as corroídas instituições políticas do país e obteve 82% de apoio a sua instalação.
Um ano depois, em setembro de 2008, a nova Constituição, que reformou o sistema de partidos e do parlamento, assim como os tribunais e organismos de controle do Estado, foi aprovada em referendo, com quase 64% dos votos.
Correa reforçou a integração sul-americana, impulsionada pela maioria de presidentes progressistas do continente, e se alinhou a Hugo Chávez e Evo Morales em torno da idéia de um socialismo do século 21.

Agrotóxicos e o caráter predatório do capital

Escrito por Raul Marcelo no Correio da Cidadania
 
Para o pensador István Mészáros (1), "no momento em que o capital, com seu dinamismo irrepreensível e não problemático que tudo invade, apareceu no palco histórico, a margem de segurança de seu impacto objetivo sobre a natureza era tão imensa que as implicações negativas não faziam diferença". Contudo, Mészarós destaca que "as circunstâncias de nosso tempo carregam a certeza absoluta da autodestruição humana no caso de o corrente processo de reprodução sócio-metabólica do capital não for levado ao seu fim definitivo no futuro próximo". Para o pensador "não há nada em princípio integralmente repreensível na destruição de determinadas partes ou formas da natureza para sua transformação em alguma outra coisa", mas "a ampla margem de segurança desapareceu para sempre". A capacidade destrutiva do capital encontrou limites estruturais absolutos no próprio sistema, a ponto de obstruir o futuro da humanidade.
 
A agricultura sempre foi uma das atividades humanas de maior interferência na natureza. Contudo, é a partir da avassaladora transformação decorrente da implantação do pacote tecnológico calcado na "Revolução Verde", em meados do século 20, que se aprofundam as alterações no ambiente rural e na organização econômica e social do campo. No Brasil, de tal transformação resultou o atual modelo predominante de agricultura identificado no agronegócio.
 
O agronegócio brasileiro caracteriza-se por uma dinâmica produtiva que afronta qualquer anseio de justiça social, econômica e ambiental. Consolida-se como um modelo produtivo devastador, seja no aspecto social, pelo seu perfil excludente e concentrador, seja no aspecto ecológico, pela sua negligência para com os impactos ambientais que provoca.
 
Sob a égide do sistema capitalista, as atividades agrícolas deixaram de ter sua finalidade voltada às necessidades humanas prementes, como por exemplo, fonte de alimentos, energia e outras utilidades. As transformações da natureza permitidas pela agricultura foram incorporadas pelo metabolismo capitalista como uma de suas formas de apropriação do fruto do trabalho alheio. Qualquer finalidade "humanista" ditada pelos interesses econômicos que dominam as atividades agropecuárias passou a ser mero pretexto, não mais importando a produção para suprir exclusivamente as necessidades humanas alimentares, energéticas ou para qualquer outro fim. O capital define relevância para a atividade agropecuária como produtora e consumidora de mercadorias, permitindo o fechamento de um ciclo para o aperfeiçoamento da mais valia. Não ao acaso, é cada vez mais comum empresas fornecedoras dos insumos agrícolas e empresas compradoras da produção agropecuária comporem a mesma corporação monopolista em aprofundamento de poder sobre importante atividade produtiva. Trata-se de situação de alto risco à soberania alimentar do povo brasileiro.
 
O conceito de soberania alimentar declarado no "Fórum Mundial de Soberania Alimentar", em Havana, Cuba, 2001, apresenta absoluta oposição à lógica concentradora do agronegócio: "O direito dos povos de definir as próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito a boa alimentação para toda a população com base na pequena e média produção, respeitando suas próprias culturas e diversidades dos modos camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agropecuária, de comercialização e de gestão dos espaços rurais, nos quais a mulher desempenha um papel fundamental".
 
O conceito associa a defesa da soberania alimentar com a defesa da soberania econômica, política e cultural dos povos. Foi elaborado e incorporado por diversos movimentos populares e traz incisivo questionamento à transformação de produtos agropecuários em "commodities", com a produção ditada por interesses do grande capital, inclusive, com ameaça ao abastecimento alimentar para a saciedade de vorazes interesses especulativos.
 
O agronegócio, por meio de sua base tecnológica e dinâmica brutal, traz sérias conseqüências: devastação de ambientes naturais e de tradições culturais locais pela expansão de fronteiras agrícolas sem a devida preocupação com os seus impactos; atropelo das obrigações legais ambientais, destacadamente das previstas no Código Florestal; transformações genéticas nas sementes, valorizando a produtividade dependente de insumos industriais em detrimento da diversidade, da adaptabilidade e da variabilidade genética das espécies; criação de animais com métodos de confinamento geradores de resíduos poluentes (hormônios, antibióticos, gases etc.), além de carregados de crueldade; incorporação maciça de agrotóxicos, de fertilizantes químicos industriais e de pesadas máquinas ao modo de produção, trazendo erosões, contaminações ao ambiente e riscos à saúde humana, sobretudo ao trabalhador rural.
 
Essa panacéia tecnológica altamente excludente criou para a produção agropecuária uma forte relação de dependência de produtos industriais sob domínio de transnacionais e empobreceu o agricultor por meio do amplo fluxo de renda do campo para a geração de lucros ao setor industrial. Suas implicações sociais e econômicas são nefastas: queda de qualidade no modo de vida camponês, precário assalariamento do homem do campo, êxodo rural e urbanização desenfreada e desorganizada. A análise compilada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) com base no Plano Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, retrata a situação: das 8 milhões de famílias que vivem no campo, 2 milhões de famílias sobrevivem com menos de 1 salário mínimo mensal.
 
No Brasil, a implantação das técnicas da "Revolução Verde" ocorreu sob o beneplácito estatal, por meio de subsídios à aquisição de pesadas máquinas agrícolas; de privilégios fiscais às indústrias de insumos; pesquisa, assistência técnica e extensão rural públicas subservientes aos interesses das transnacionais; e no financiamento e crédito rural atrelados à obrigatoriedade de aquisição e uso de fertilizantes industriais e de agrotóxicos.
 
Com o crescimento das preocupações ambientais, as corporações empresariais beneficiadas por esse modelo destrutivo, principalmente as transnacionais dos agrotóxicos, também detentoras do domínio de sementes híbridas e transgênicas, passaram a, descaradamente, propagandearem-se como corporações voltadas aos interesses da "vida", focadas no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis ambientalmente. Tentaram criar um mito de que sem seus produtos não haveria capacidade de suprir as necessidades alimentares da população: os efeitos colaterais dos agrotóxicos são apregoados como uma espécie de mal menor ante a possibilidade de fome mundial. Desconsideram que, mais do que uma questão de produção de alimentos, a fome que recai sobre grande parcela da população mundial é conseqüência do insano caráter concentrador do sistema capitalista.
 
Em face das evidentes contradições entre a sustentabilidade propagandeada por essas corporações e os danos provocados por seus processos produtivos e produtos, não existe viabilidade para medidas mitigadoras ou compensatórias para técnicas tão degradantes à natureza e ao ser humano. Nem mesmo uma pretensa agenda de desenvolvimento verde, dentro dos marcos do capitalismo, conseguiria resolver tal contradição, pois o capital, embora criação humana, é inumano, irracional e desprovido de senso de auto-preservação, tendo apenas como sua essência a transformação de tudo em mercadoria.
 
É nessa perspectiva que cinicamente as transnacionais tentam, por exemplo, impor os agrotóxicos e os transgênicos como elementos essenciais da economia brasileira, associando-os, além da necessidade à produção de alimentos, como fundamentais à geração de empregos e de riqueza à nação. Seus asseclas cantam em prosa e verso a participação do agronegócio e da agroindústria no PIB e na pauta de exportações brasileiras. Reafirmam, orgulhosamente, o histórico e atrasado caráter agroexportador e concentrador da economia brasileira. Por outro lado, dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) evidenciam a concentração de terras no campo brasileiro: 1% das propriedades rurais detém 46% da área passível de produção agropecuária, sendo ainda que os 50 mil proprietários de áreas rurais superiores a 1.000 hectares concentram mais de 50% das áreas agricultáveis.
 
Os agrotóxicos estão entre os elementos do agronegócio mais emblemáticos do caráter predatório do capital. São compostos químicos desenvolvidos para efeito biocida. Hoje, estão, predominantemente, em voga aqueles de síntese orgânica industrial, cuja disseminação inicial ocorreu em conveniente desvio de finalidade de substâncias que inicialmente apresentavam propósito bélico, como armas químicas. Tal desvio foi de grande contribuição para o crescimento e a pujança da indústria química no pós-guerra. Entre os exemplos dessas substâncias de guerra estão os gases letais derivados de ácido fosfórico, que deram origem a pesticidas do grupo dos organofosforados, ainda de intenso uso na agricultura brasileira, muito embora com proibições em ampla gama de países.
 
Pelas suas características próprias e pelo seu propósito de uso, os agrotóxicos distinguem-se de outras substâncias perigosas utilizadas ou derivadas de outros processos produtivos. Enquanto nas últimas, a ação humana busca tirá-la do ambiente, expurgando qualquer possibilidade de exposição direta e afastando risco ambiental ou à saúde, os agrotóxicos têm sua disseminação intencional no ambiente, inexistindo técnicas de aplicação que permitam seu uso sem qualquer risco de exposição às pessoas ou ao meio ambiente. Considere-se o agravante de que seu uso mais comum ocorre sobre produtos que a população irá consumir na sua alimentação.
 
Paradoxalmente, constata-se que a nocividade ambiental dos venenos agrícolas compromete, ao longo do tempo, o próprio sistema de produção, impossibilitando aquele que é o suposto objetivo da tecnologia: redução de ataques de pragas e aumento da produtividade agrícola. Ocorre que somado à monocultura, o intenso uso de pesticidas provoca desequilíbrios ecológicos que induzem o ressurgimento de pragas ou a proliferação de novas pragas pelo crescimento populacional descontrolado ocasionado pela quebra da biodiversidade, ou pela resistência genética adquirida, formando "superpragas", quase indiferentes aos agrotóxicos. Entre os exemplos, pode se citar a recente e descontrolada afetação sofrida pela citricultura paulista, em função da disseminação do "Greening", doença bacteriana transmitida pelo inseto Diaphorina citri.
 
No âmbito da saúde humana, o impacto dos agrotóxicos assume proporções impressionantes. De acordo com alguns pesquisadores, estimam-se em aproximados 540 mil trabalhadores contaminados anualmente por agrotóxicos no desenvolvimento de atividades de trabalho no país, com 4.000 mortes (2). Afora as intoxicações de trabalhadores, os agrotóxicos ocasionam riscos à saúde da população geral por meio da contaminação de mananciais de captação de água para consumo e de alimentos.
 
Seguindo a lógica de subordinação aos interesses maiores do capital, a partir de 2008, o Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e, nos últimos anos, o grande importador dessas substâncias letais, muitas com uso vetado no próprio país de origem. O opulento agronegócio brasileiro passa a dar sobrevida às estruturas industriais em obsolescência do exterior, como é o caso daquelas que processam e sintetizam agrotóxicos à base de paraquat, de carbofuran e de outras substâncias organofosforadas.
 
São Paulo é o estado que mais consome agrotóxicos, representando cerca 20% do mercado nacional. Também é o campeão dos casos notificados de intoxicações por agrotóxicos, correspondendo a 26,71% do total das notificações registradas em 2007.
 
Neste quadro, apresentamos Projeto de Lei nº 281/2010, objetivando o cumprimento da determinação constitucional de proteção à saúde e ao meio ambiente pelo poder público.
 
O projeto dispõe sobre normas de controle, produção, comércio e uso de agrotóxicos no Estado de São Paulo. A proposição levou em conta a competência concorrente prevista na Constituição Federal e tem como orientação primordial a proteção da saúde humana e do meio ambiente, além de uma produção agrícola de qualidade e menos dependente das transnacionais.
 
A proposta inova ao prever, expressamente: um cadastro de caráter autorizativo e não apenas homologatório como ocorre hoje, possibilitando aos órgãos estaduais de saúde, agricultura e meio ambiente, responsáveis pelo controle e fiscalização, a tomada de medidas mais restritivas que as dos órgãos federais; exemplifica motivações para o pedido de impugnação de cadastro de agrotóxicos, alertando entidades organizadas e cidadãos para a possibilidade da iniciativa e para maior atenção ao tema; cria um sistema de monitoramento de resíduos e de aperfeiçoamento da fiscalização; traz ao poder público estadual a obrigação de divulgação de técnicas substitutivas aos agrotóxicos; exemplifica tipificações de condutas, de modo a dar maior força coatora frente às irregularidades, uma vez que, hoje, a pouca eficácia das ações do poder público estadual levam ao desdém e favorecem a negligência do suposto fiscalizado; define o papel da assistência e da responsabilidade técnica aos estabelecimentos com atividades relacionadas aos agrotóxicos; e possibilita maior controle social sobre a questão, pois estipula instrumentos aos órgãos estaduais para dar eficácia e efetivamente cumprir suas atribuições constitucionais e, por outro lado, viabiliza maior cobrança política e jurídica perante eventual inércia governamental.
 
Num período em que as estruturas de Estado são colocadas em xeque pelas forças políticas neoliberais que hegemonizam os aparatos governamentais, o tema dos agrotóxicos deve ser trazido à baila, não só pelos seus efeitos danosos no âmbito sanitário e ambiental, mas pela sua profunda relação com um sistema econômico injusto, de amplo e unilateral benefício aos interesses do capital.
 
A representação política ruralista/agronegocista passa por intenso recrudescimento, com fortes interações nas estruturas de poder, ditando políticas públicas, iniciativas legislativas conservadoras e influências no judiciário, sempre voltadas ao benefício do modelo de produção concentrador, excludente e devastador. A forma de ação de tais forças retrógradas ilustra a indiferença que, mesmo perante as evidências de agravamento do colapso ambiental no futuro próximo, o capital se coloca como absoluto e "fecha os olhos" para a insuperável contradição trazida pela grave crise ambiental, persistindo na sua ilusão de "eterna" reprodução. Fazem-se necessárias contraposições a essas forças destrutivas e reacionárias. Em seu modesto alcance, o Projeto de Lei nº 281/2010 e o debate que se pretende agitar a partir dele buscam extrapolar o foco meramente tecnicista da questão, trazendo à tona as faces política e ideológica que envolvem a questão dos agrotóxicos.
 
Notas:
 
(1) ISTVÁN MÉSZÁROS, "O Desafio e o Fardo do Tempo Histórico", Boitempo Editorial, 2007, p.27/28.
(2) FREDERICO PERES e OUTROS, "Os Impactos dos Agrotóxicos sobre a Saúde e o Meio Ambiente", Revista de Ciência & Saúde Coletiva, Vol. 12, nº 1, jan/mar, 2007, p.4 (editorial).
 
Raul Marcelo é deputado estadual e líder do PSOL na Assembléia Legislativa do estado de São Paulo.
 

A utopia e as mediações


Mesmo que seja em passos pequenos ou curtos, a utopia se faz caminhando na direção correta.


Marcelo Barros  no BrasilDeFato

Faltam poucos dias para as eleições que darão ao Brasil novos/as gestores no Governo Federal, Estados e no Legislativo. Há muitas promessas de solução para os grandes problemas nacionais e a maioria dos brasileiros votará na esperança de um futuro melhor. Muitas discussões políticas incidem sobre o projeto de sociedade que nos é oferecido. Este coincide ou não com aquele que muitas pessoas cultivam na mente e no coração. De um modo ou de outro, estas eleições brasileiras e estas discussões sobre o projeto político tem a ver com o processo dos fóruns sociais mundiais. Ainda hoje, dez anos depois, quem acompanha este processo se recorda do refrão cantado por todos desde 2001: “Aqui, um outro mundo é possível, se a gente quiser!”. Este grito,  lançado em todos os continentes, provocou diversas conferências temáticas e muitos fóruns regionais. Alguns criticaram que aquelas discussões aparentemente não levavam a nada. Talvez, hoje, não possam dizer isso ao ver que a Bolívia tem, pela primeira vez em sua história, um índio como presidente da República e vários países do continente têm novas constituições cidadãs e um caminho político novo e mais popular. 
Em um de seus livros, Eduardo Galeano faz um de seus personagens perguntar a um companheiro: - Para que me serve a esperança (a utopia) se quando dou um passo em sua direção, percebo que ela se afasta mais um passo?
O companheiro respondeu: - Serve para fazer você caminhar.
Neste caminho para um mundo de paz, justiça e igualdade social, é importante de um lado termos sempre sob os olhos a meta que queremos atingir, mas, ao mesmo tempo, saber que isso só se dará se assumirmos as dificuldades e etapas necessárias do caminho. Não existe utopia sem mediações. Tanto no plano social e político, como mesmo no caminho da fé, é importante termos claro a sociedade nova que desejamos construir, mas, ao mesmo tempo, não descuidar das etapas necessárias para nos aproximar da meta. Sem mediações, nossa luta social e política se tornaria não histórica e sim messiânica, no sentido negativo do termo. No caminho da fé, todos os dias os cristãos oram “Venha a nós o vosso reino”, ou seja, realize-se aqui no mundo em que vivemos o projeto divino para a humanidade e o planeta. Mas, é preciso ter em vista como este reino ou projeto divino poderá se concretizar em nosso dia a dia.
As mediações são, em geral, limitadas, incompletas e até ambíguas, como tudo o que é humano. No entanto, rejeitá-las ou simplesmente ignorar a sua necessidade é cair na arrogância. É preciso sempre apontar o que se almeja como ideal, mas, ao mesmo tempo, ter a humildade de assumir o que é possível na realidade do aqui e agora. Na sua regra para os monges, São Bento fala da humildade como a capacidade de ter os pés na terra e viver a fragilidade de cada dia. É claro que isso poderia nos levar a uma acomodação conservadora ou pouco profética. Não cairemos nisso se soubermos articular bem a utopia (o que almejamos) e as mediações ou etapas do caminho.
Concretamente, no Brasil atual, esta humildade social e política nos faz reconhecer as conquistas sociais e o caminho positivo já percorrido nos últimos anos. Este ganho acumulado se deve, sem dúvida, a um governo competente e que governou o Brasil com nova sensibilidade social. Entretanto, estas conquistas sociais representam, sobretudo, uma conquista dos movimentos populares e de toda a sociedade civil que, nos últimos anos, amadureceu em sua consciência social e política. É preciso salvaguardar as conquistas feitas. Apesar da guerra suja, deflagrada pelos maiores meios de comunicação social do país contra o caminho até aqui percorrido, a população mais pobre tem sabido distinguir as coisas e mostra sua independência no julgamento. Não apenas porque recebe uma ajuda social que é direito de todos, mas porque se sente envolvido neste processo como um povo de cidadãos e não de mendigos aos quais se jogam apenas migalhas do que sobra às classes altas do país. A internet e a multiplicação de blogs democratizam mais esta discussão e permitem uma forma de comunicação mais horizontal e justa.
Neste caminho para a utopia, não há receitas ou regras estabelecidas para as mediações. Entretanto, alguns princípios podem ser úteis: 1º - a palavra de Gandhi: “comece por você mesmo a mudança que propõe ao mundo”. 2º - sozinho, ninguém transforma nada. Não se sinta acima e independente do caminho comum. Aceite a mediação do grupo e da comunidade. 3º - Não adianta pensar que vamos para o leste, caminhando para o oeste. Mesmo que seja em passos pequenos ou curtos, a utopia se faz caminhando na direção correta. Podemos corrigir estratégias e rever etapas, mas sempre no mesmo rumo.
Antoine de St. Exupéry, autor do “O Pequeno Príncipe” dizia: “Um viajante que sobe uma montanha guiado por uma estrela, se se deixar absorver demais pelos problemas e dificuldades da escalada, se arrisca a perder de vista a estrela que o guia”.

Marcelo Barros é monge beneditino.

Louis Armstrong – Gold collection (Remastered-2007)

  Louis+Armstrong+ +Gold+collection+ +2CD+(Remastered 2007) Louis Armstrong   Gold collection (Remastered 2007)

1ª Opção – Rapidshare

2ª Opção – Depositfile
7x94fvm Louis Armstrong   Gold collection (Remastered 2007)
7x94fvm Louis Armstrong   Gold collection (Remastered 2007)

Gênero Jazz / Soul / Blues
135 MB
CD 01
01. Louis Armstrong – What A Wonderful World
02. Louis Armstrong – Cabaret
03. Louis Armstrong – Dream A Little Dream Of Me
04. Louis Armstrong – Mame
05. Louis Armstrong & Duke Ellington – Solitude
06. Louis Armstrong – Hello Dolly
07. Louis Armstrong – You Go To My Head
08. Louis Armstrong – I Gotta Right To Sing The Blues
09. Louis Armstrong & Ella Fitzgerald – A Fine Romance
10. Louis Armstrong – Georgia On My Mind
11. Louis Armstrong – When You’re Smiling (The Whole World Smiles With You)
12. Louis Armstrong – On The Sunny Side Of The Street
13. Louis Armstrong – Mack The Knife
14. Louis Armstrong – Rockin’ Chair
15. Louis Armstrong – Basin Street Blues
16. Louis Armstrong – Someday (You’ll Be Sorry)
17. Louis Armstrong – It Takes Two To Tango
18. Louis Armstrong – A Kiss To Build A Dream On
CD 02
01. Louis Armstrong & Bing Crosby – Gone Fishin’
02. Louis Armstrong & Louis Jordan – (I’ll Be Glad When You’re Dead) You Rascal You
03. Louis Armstrong – La Vie En Rose
04. Louis Armstrong & Billie Holiday – My Sweet Hunk O’ Trash
05. Louis Armstrong – Blueberry Hill
06. Louis Armstrong – (What Did I Do To Be So) Black And Blue
07. Louis Armstrong – Do You Know What It Means To Miss New Orleans
08. Louis Armstrong – I Wonder
09. Louis Armstrong – When It’s Sleepy Time Down South
10. Louis Armstrong – I’m Confessin’ (That I Love You)
11. Louis Armstrong – Ain’t Misbehavin’
12. Louis Armstrong – When The Saints Go Marching In
13. Louis Armstrong – Struttin’ With Some Barbeque
14. Louis Armstrong – Swing That Music
15. Louis Armstrong – Old Man Mose
16. Louis Armstrong – I’m In The Mood For Love
17. Louis Armstrong – St. Louis Blues
18. Louis Armstrong – Lazy River
19. Louis Armstrong – West End Blues
20. Louis Armstrong – Potato Head Blues
21. Louis Armstrong – Wild Man Blues
22. Louis Armstrong – Heebie Jeebies 


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Entrevista interessante...

A bela é fera

Sérvia radicada no Brasil, Duda Yankovich superou guerras, adversários de mãos pesadas e empresários de mãos leves. Enfrentou preconceitos e nocauteou todos

Por: Andrea Dip

A bela é fera
Duda: Tive fratura no nariz e não disseram. Achei que eu tinha sinusite e era uma fratura aberta. Estava sem dinheiro, sem patrocínio, sem poder lutar... Entrei em depressão (Fotos: Jailton Garcia)
Faixa preta de caratê aos 14 anos, quatro vezes campeã absoluta de kick boxing em seu país, com um título mundial de boxe no currículo, a sérvia Duda Yankovich tem muita história para contar: sobre comunismo, as quatro guerras que conheceu de perto, a necessidade de competir – e ganhar – em todos os esportes que já praticou ao longo dos 33 anos de idade e, principalmente, sobre começar do zero.
Quando chegou ao Brasil, dez anos atrás, a bela já tinha se formado na escola de segurança internacional 007, trabalhado como segurança de boate e como dublê em filmes e comerciais de televisão. Apesar de ainda não ter conseguido a cidadania brasileira, foi a bandeira verde e amarela que ela levantou ao conquistar o título mundial de boxe em 2006.
Nesta entrevista, Duda falou sobre todas as formas de preconceito que já sofreu na vida: por ser muito nova, por ser do interior, por ser mulher, por ser bonita – e como nocauteou um por um, de saia, maquiagem e cabelo impecável nos ringues da vida. No auge da forma e da fama, a sérvia levou uma rasteira de um empresário sacana que a fez perder patrocínios, dinheiro, visibilidade e a pior parte: se machucar gravemente em uma luta mal arranjada.
Após um ano, Duda volta com tudo para o próximo desafio: o MMA, apresentação que une lutas como boxe, kick boxing e jiu jitsu. Para variar, vai ser uma das poucas mulheres a lutar nessa categoria. Mas para ela vai ser fácil. Afinal, para quem aprendeu a falar português sozinha, em apenas quatro meses, aprender a lutar jiu jitsu é sopa.

Onde você nasceu?

Em uma cidadezinha da Sérvia de 40 mil habitantes, Jagodina, a pouco mais de 100 quilômetros de Belgrado.

Você fazia esportes desde pequena?

Quando era bem pequena fiz natação, depois basquete, mas nunca gostei de fazer esportes por fazer: sempre competi. No começo da adolescência entrei para um grupo de dança folclórica, danças tradicionais da Sérvia.

Você nunca fez um esporte apenas por diversão?

Não consigo fazer por fazer. Mesmo com outras coisas na vida, do que eu gosto, levo a sério. Sempre fui boa aluna. Quando eu tinha de 11 para 12 anos, uma vizinha me pediu para ir com ela assistir a uma aula de caratê. Ela ficou algumas semanas, e eu fiquei seis anos. Com 14 anos, já era a mais nova faixa preta de caratê da história do país. Com 15 anos, deixei a minha cidade e me mudei para Belgrado, para fazer parte da seleção. A minha família não queria, mas persisti. Economizei dinheiro e paguei um internato. Nesse tempo, conquistei patrocínios e apoio do governo. Na época, meu país era comunista e eles incentivavam muito o esporte. Eu recebia um salário do governo porque era medalhista internacional. Todo mundo reclama do comunismo, mas eu acho que a pior época foi quando acabou o comunismo, em 1980, e começou uma briga pelo poder. Eu era muito pequena, mas me lembro que nunca faltava nada. Como esportista, fui muito apoiada.

Como foi a passagem para o kick boxing?

Eu estava desanimada. Não me deixavam competir fora porque eu era muito jovem. Então fui procurar alguma outra coisa para fazer. Eu treinava em um clube chamado Estrela Vermelha, que tinha vários outros esportes. Assisti a uma aula de kick boxing e gostei. No começo, sofria preconceito por parte dos treinadores, “você é menina, bonitinha, tem tanta coisa para você fazer...” Antes disso, já tinha sofrido preconceito por ser muito nova e por ser do interior, porque tinha sotaque. E adolescentes são muito cruéis. Nos primeiros meses eu chorava todos os dias, mas depois virei uma personalidade, e as pessoas não me olharam mais como a menina do interior, e sim como a atleta de seleção. O esporte sempre abre portas, né? No meu país é muito complicado você conseguir ver o mundo. Primeiro porque é cultural: as mulheres nascem para casar, ter filhos, às vezes ter um emprego, ou serem sustentadas pelo marido. Quando eu já morava no Brasil, ligava para a minha avó e ela dizia: “Tudo bem filha, você é campeã mundial, mas quando vai casar?”. Eu só me encaixava no esporte.

E no kick boxing você logo começou a competir...

Sim. No começo eu apanhei bastante. Vinha de um esporte sem contato para um de total contato. Como os treinadores não me ajudavam muito, foi difícil. Mas depois de um ano eles perceberam que não tinham como me tirar de lá, começaram a investir mais tempo em me treinar e rapidamente comecei a dar resultados. Fui campeã absoluta do meu país por quatro anos, participei de dois campeonatos mundiais entre 17 anos e 23 anos.

Nessa época você estudava?

Comecei a faculdade de educação física lá e terminei aqui no Brasil.
Meu pai e meu tio foram convocados várias vezes. Nunca sabíamos se voltariam. E a cultura do país é a de um lugar sempre em guerra. Olho por olho, dente por dente. Se você me faz algo, vai ter troco, mesmo que demore

Vivendo sozinha?

Sozinha desde os 16 anos. Eu não sou típica... Lá as mulheres casam cedo, para fugir de casa ou para constituir família. Eu tinha 13 ou 14 anos e já sabia que essa não seria a minha vida. Oportunamente, quando acabar a minha carreira, posso casar, ter filhos. Mas sempre achei que a gente tem mais a dar do que o que a natureza ou a cultura propõem. Porque isso todo mundo pode. Mas fazer escolhas é mais difícil. É mais fácil você seguir fazendo o que esperam de você.

Duda 1

Você já viveu quatro guerras. Tem alguma imagem que ficou registrada na sua mente?

Nas três primeiras eu era bem nova. Então lembro apenas das filas enormes para comprar coisas, porque a gente tinha que estocar comida e água. Ficava a família inteira na fila, porque cada um tinha direito a uma quantidade limitada de comida. Meu pai e meu tio foram convocados várias vezes e nós não sabíamos se eles voltariam para casa. A cultura do meu país é a de um lugar que sempre viveu em guerra. O olho por olho, dente por dente. Se você me faz uma coisa agora, ela vai ter troco, mesmo que demore alguns anos.

Anotam no caderninho?

As pessoas são mais duras, mais defensivas. Me lembro que treinava kick boxing no porão de uma academia e um dia um cara chegou e gritou “Estamos em guerra!” e nós nem demos bola, até parece que um lugar entra em guerra assim. Quando saímos na rua, à noite, não tinha uma luz acesa, um carro, uma pessoa, nada. Às vezes, passava um carro com umas pessoas gritando “guerra!”, e só. E tinha aquela coisa de se enfiar em abrigos quando uma bomba era anunciada. No final, as pessoas nem iam mais para os abrigos, se acostumaram com aquilo. Em guerra nada funciona. Você não vive. Academia não funciona, empresas, escolas, nada. Imagina? Por isso eu decidi vir para o Brasil. Eu já tinha vindo em 1998 competir e fiz amigos. A guerra aconteceu em 1999. Não tinha perspectiva no meu país. Queria começar algo novo. Fui primeiro para Londrina (no Paraná) dar aulas de kick boxing. Percebi que ainda levava jeito para a coisa e voltei a competir. E estou aqui ainda.

É verdade que as meninas desistiam de lutar quando viam quem era a adversária?

Primeiro não me conheciam, porque eu era apenas treinadora. Mas quando eu voltei a competir, ganhava todas as lutas. E por nocaute. Aí ninguém mais se inscrevia. Não é que eu ganhava todas, não tinha contra quem lutar. Passei a me inscrever com outro nome, o sobrenome do meu marido brasileiro. Aí elas se inscreviam, mas quando subiam no ringue falavam “A Duda, não!” e desciam.

Você casou assim que chegou ao Brasil?
Eu cheguei e fui trabalhar na academia dessa pessoa, que eu já conhecia desde 1998 quando vim pela primeira vez. A gente começou a namorar. Casamos porque meu visto era de turista. Depois de três anos nos separamos. Só agora eu posso entrar com um pedido de naturalização.
Boxe era um esporte muito masculino. Eu lembro que ia visitar a academia de um treinador chamado Miguel de Oliveira, em Londrina, e ele falava: 'Não! Mulher não entra na minha academia!' Vai lá hoje ver quantas mulheres treinam

Mas você sempre lutou pelo Brasil.

Sempre. Mas só posso entrar com o pedido de naturalização agora, após dez anos de permanência sem interrupção. Eu gostaria muito, porque, sem ofensas, sou muito mais brasileira do que alguns brasileiros, porque eu optei por isso. Foi uma escolha minha.

Voltando para o ringue, como você foi do kick boxing­ para o boxe?

O boxe era um esporte extremamente masculino. Eu me lembro que ia visitar a academia de um treinador chamado Miguel de Oliveira, lá em Londrina, e ele falava: “Não! Mulher não entra na minha academia!” Vai lá hoje ver quantas mulheres treinam. Eu era treinadora da equipe de kick boxing, a gente foi para o campeonato brasileiro e levou 12 medalhas. Ninguém acreditava! Mas eu era muito rígida. Me chamavam de Frida, nazista, porque qualquer coisa eu apontava para o chão e  dizia: “Dez! (flexões)” e “Quem não quiser obedecer, a porta da academia está aberta”. Eu não podia dar muita folga para eles, ainda mais por ser mulher. Entre os alunos, tinha alguns que me agradeciam, dizendo que a vida mudou, que o casamento melhorou, que tinha parado de usar drogas... Isso me arrepia só de lembrar! E isso fazia com que eu me dedicasse mais, me esforçasse mais. Até hoje existe a academia, os atletas que eu formei dão aula, o sistema de treino ainda é o mesmo que eu deixei. Fico muito emocionada com isso.
Duda 2

E o boxe?

Naquela época, mais ou menos em 2003, tinha um programa na televisão sobre boxe, do Luciano do Valle­, que tinha patrocínio de uma companhia aérea, o que é muito importante – aliás, eu faço um apelo para que haja mais patrocínio para o boxe. No programa sempre passavam lutas femininas e masculinas. Aí surgiu o convite e eu pensei: “Ah, não deve ser muito diferente”. Mas é completamente diferente. Não sabia como chegar na menina sem chutar. Mas quando eu cheguei, nocauteei. E toda semana eu ia lutar. Ninguém tinha dinheiro, a confederação não tinha dinheiro. No boxe tinha mulher pra caramba. Voltei nessa academia e o treinador falava “Se você quiser, fica aí no cantinho”. Aí fui crescendo, melhorando, fazendo luva com os caras. Até que em 2003 fizeram o primeiro campeonato feminino nacional de boxe e eu participei. Em 2004 e 2005 ganhei. Vim para São Paulo treinar com a seleção masculina porque não existia a feminina. Tinha dias em que eu chegava em casa tão cansada que desmaiava no sofá e acordava só no dia seguinte. Apanhava, chorava... Fui lutar o campeonato panamericano e peguei medalha de bronze. Fui pesquisar sobre a mulher que ganhou de mim, porque ela era um caminhão. Vi que ela viajava para lutar, tinha mais de 50 lutas fora. Então resolvi me profissionalizar. Quando você é profissional, o treino é diferente, você se prepara para lutar contra aquela pessoa. Você estuda, cria técnicas para aquela luta.

Aí que começa a história na verdade, né? Mas você começou várias coisas do zero...

Pois é, olha quantas vezes eu comecei do zero. Sempre quero desafios. Tive muita sorte também. Mas hoje acho que em qualquer lugar que eu me jogar, eu me adapto.

Você aprendeu a falar português sozinha?

Sozinha. Eu falava inglês muito bem, então colocava filmes em inglês com a legenda em português, em português com legenda em inglês, depois colocava português com a legenda em português. Demorei quatro meses para falar fluentemente. E terminei a faculdade de educação física aqui.

Como veio o título mundial de boxe?

Para você disputar o título mundial, precisa ter um certo cartel de lutas. Eu vim para São Paulo atrás do Miguel. A equipe não veio logo de cara. Você precisa mostrar resultados para que as pessoas te ajudem e precisa de ajuda das pessoas para mostrar resultados. Isso sempre foi muito ruim. Por exemplo, eu vou estrear no MMA, começar outra coisa, e os patrocinadores dizem: “estreia primeiro, e se você se sair bem nós te apoiamos”. Isso já me desanimou muito, já pensei em desistir.

Você passou aperto com um empresário sacana...
As pessoas, em qualquer área, querem ganhar dinheiro rapidamente, em vez de ganhar aos poucos de forma pensada. Faltou paciência e bom senso. No último ano do nosso contrato, ele marcava lutas para mim, eu me preparava pra caramba – isso exige investimento de tempo e dinheiro – e pouco antes ele dizia que a luta havia sido cancelada. Mas eu não sabia o que estava acontecendo realmente. Foi muito triste, cansativo. E perdi a atenção da mídia. Sem mídia e sem lutar, perdi patrocínios. Mas tive culpa também, porque a pessoa tinha um histórico e eu não fui pesquisar antes.
No meu país as mulheres nascem para casar, ter filhos, serem sustentadas pelo marido. Quando eu já morava no Brasil, ligava para a minha avó e ela dizia: 'Tudo bem, você é campeã mundial, mas quando vai casar?'
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Como você se machucou?

Eu estava há um ano sem lutar. O contrato tinha acabado, eu não tinha mais compromissos e precisava de dinheiro. Aí fechei uma luta que não era para fechar. Era uma menina muito boa, de duas categorias acima do peso, fora de casa. Mas eu não tinha escolha. Não valeu o cinturão mundial que eu tinha de defender, porque era outra categoria. Mas eu não pensei que poderia me machucar. E eu tinha de pensar nisso. Foi algo muito mais sério do que uma simples lesão. Tive uma fratura no nariz­, mas não me disseram que estava fraturado. Eu voltei para o Brasil com muita dor e achava que era sinusite. Tomava remédio e a dor não passava. Aí tive uma crise muito forte, queria cortar minha cabeça fora de dor. Tinha uma fratura aberta. Eu estava sem dinheiro, sem patrocínio, sem poder lutar... Entrei em depressão profunda.

Foi uma parada forçada.

Não sabia mais onde eu estava, quem eu era. Operei em outubro, pelo SUS, graças a pessoas a quem eu posso, devo e vou agradecer. Mas tive de pagar um monte de coisas, gastei o pouco dinheiro que tinha guardado, tive de entregar meu apartamento, meu carro. Não tinha ninguém ao meu lado. Tentava correr e não conseguia, qualquer toque no nariz sangrava e eu não queria mais sair de casa. Aí resolvi dar um tempo. Fui para a minha casa na Sérvia. Tinha até pensado em ficar por lá. Fui passar um tempo na Tailândia e pensei: ainda não é hora de parar.
Peguei minhas malas e voltei para cá. Mas quis mudar de paisagem e fui para o Rio. Tinha uma academia boa de treinamento, eu conhecia a equipe. Tive de começar praticamente­ do zero porque estava totalmente fora de forma. Aí fui convivendo com os atletas, fui melhorando e hoje acho que estou na minha melhor forma. Lutei há poucos meses com uma africana valendo o cinturão e perdi por pontos. Mas fiquei muito satisfeita com a minha performance. Treinei poucos meses para esta luta. Foram dez rounds.

E agora chega de boxe?
Não abandonei o boxe, mas recebi uma proposta para ir para o MMA e topei. Agradeço essa minha fase aos patrocinadores – Cerpa, Amazon Power –, à academia X-GYM, que me acolhe, e à dedicação do Josuel Distak, meu treinador, e do preparador físico Rogério Camões.

Eu nem sabia que tinha mulheres no MMA...

Tem poucas. E é um jogo de xadrez, como toda luta. Você tem de prever os movimentos, tem muitas regras, tem de pensar. Não são só dois caras se batendo. Hoje eu tenho preparador físico, técnico, parceiros de treino e psicólogo. As pessoas acham que atleta é saudável. É saudável nada! Vive no limite, machucado, cheio de dores... Mas o MMA talvez venha agora para coroar todos estes anos em diversas lutas. E lá vou eu começar tudo de novo.

Ruralistas investem pesado nas eleições

Por Altamiro Borges

O Portal Terra noticia hoje que a senadora Kátia Abreu, a demo que lidera os latifundiários, enviou ofício aos ruralistas pedindo doações para “senadores e deputados comprometidos com o setor”. Em anexo, também foi enviado boleto bancário para depósito na conta do Diretório Regional do DEM do Tocantins. A campanha financeira faz parte do movimento batizado de “Agricultura Forte”, que visa ampliar a bancada dos ruralistas no Congresso Nacional. O ofício garante que a verba arrecadada será totalmente destinada aos candidatos do setor, mas não cita quais.

Maracutaias e crimes eleitorais

Como observa o portal, a legislação eleitoral obriga a abertura de uma conta bancária específica para doações a candidatos e “proíbe que sejam feitas em contas preexistentes, como é o caso”. Na última sexta-feira (24), uma liminar expedida pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Tocantins tirou do ar o site www.agriculturaforte.com.br, que também era usado para coletar doações. O TRE ainda pede o bloqueio de todos os recursos arrecadados pelo diretório do DEM e exige informações do partido sobre qual o volume de dinheiro arrecadado até o agora.

A liminar do TRE foi uma resposta a ação da coligação Força do Povo, que acusa a senadora de realizar “caixa dois”. Em nota pública, a coligação acusa a campanha “Agricultura Forte” de ser uma forma de arrecadar dinheiro para a candidatura para deputado federal de Irajá Abreu (filho da senadora). Na sua prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral, entregue em setembro, Irajá declara que recebeu R$ 100 mil do DEM, de um total de R$ 710 mil já arrecadados.

Obstáculo à reforma agrária

Deixando de lado as possíveis maracutaias e ilegalidades desta campanha financeira, o que se nota no país todo é que as entidades ruralistas estão investindo pesado nestas eleições. Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e integrante da coordenação de finanças de José Serra, a senadora teme que uma mudança na correlação de forças no Congresso acelere os debates sobre reforma agrária, proibição do trabalho escravo e infantil, defesa ambiental, entre outros itens satanizados pelos demos. Daí o forte empenho para ampliar a bancada do latifúndio.

O jornalista Mauro Zanatta, em reportagem do jornal Valor de 14 de setembro, observa que a “bancada ruralista deve crescer de tamanho e ter ainda mais peso nas decisões da Câmara e do Senado... O núcleo mais ativo do ruralismo na Câmara, composto por 30 deputados, deve ser quase todo reeleito em outubro e terá reforços influentes para compor uma frente suprapartidária estimada em 100 parlamentares. No Senado Federal, alguns ex-governadores ajudarão a dobrar o tamanho de um dos maiores grupos de pressão em ação no Congresso”.

A pauta prioritária dos latifundiários

Apesar do barulho e do atraso que representa, a bancada ruralista conta hoje com cerca de 80 deputados e 15 senadores. Para ampliá-la, as campanhas estão sendo “vitaminadas por doações de empresas e associações corporativas do setor rural”, relata a matéria. Na pauta dos ruralistas estão, ainda de acordo com a reportagem, “a alteração do Código Florestal Brasileiro, a revisão dos índices de produtividade usados na reforma agrária e a renegociação das dívidas rurais”.

O cientista político Edélcio Vigna, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), avalia que a bancada deve crescer na próxima legislatura, o que dificultará avanços no campo. “Os ruralistas avançaram muito durante o governo Lula. Barraram a revisão dos índices da reforma agrária e a votação da PEC do trabalho escravo, e liberaram os transgênicos”, observa. No mesmo rumo, o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, também projeta que “os ruralistas virão mais fortes, com reeleições e caras novas”.

Elites não subestimam as eleições

Esta perspectiva sombria confirma que as classes dominantes, incluindo seu setor mais atrasado e reacionário, não subestimam as eleições. Os ruralistas estão investindo pesado nesta disputa. E os movimentos sociais do campo? Será que os que lutam pela reforma agrária não têm o que fazer no parlamento? Não seria mais correto combinar as lutas sociais e institucionais, visando avançar nas suas conquistas? A carência de parlamentares comprometidos, de fato, com os explorados do campo e com a luta pela reforma agrária indica a urgência de se repensar tais questões.

The Guitar Trío - Friday Night In San Francisco - 1981


http://img525.imageshack.us/img525/2821/fridaynightinsanfrancis.jpg

1. a. Mediterranean Sundance
(Al di Meola)
b. Rio Ancho
(Paco de Lucia)
Paco de Lucia y Al di Meola

2. Short Tales of the Black Forest
(Chick Corea)
John McLaughlin y Al di Meola

3. Frevo Rasgado
(Egberto Gismonti)
John McLaughlin y Paco de Lucia

4. Fantasia Suite
(Al di Meola)
Paco de Lucia, John McLaughlin y Al Di Meola

5. Guardian Angel [Studio Recording]
(John McLaughlin)
Paco de Lucia, John McLaughlin y Al di Meola

http://img299.imageshack.us/img299/825/1981guitartrio1.jpg