Marcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo
Integrantes
do comando de campanha da petista Dilma Rousseff reconhecem que não
conseguiram dar resposta eleitoral eficiente para temas religiosos,
como a legalização do aborto. Para eles, essa foi a principal razão que
fez os votos de Dilma, especialmente entre as classes mais baixas,
migrar para a candidatura de Marina Silva, do PV, impedindo sua eleição
imediata já no primeiro turno.
Andre Lessa/AE
Marcha pela Vida. Dilma passou a perder votos entre católicos e evangélicos porque seria, na visão deles, favórável ao aborto
Durante
a reta final da campanha, Dilma passou a perder votos entre eleitores
evangélicos e católicos porque seria favorável à proposta que
legalizaria o aborto no País. Marina, que é evangélica, pertencente à
Assembleia de Deus, passou a ser apontada por pastores e padres como a
melhor candidata a apoiar, uma vez que tem posição histórica contra
essa questão.
Aliados de Dilma,
incluindo o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
intensificaram a quantidade de mensagens em defesa da "religiosidade"
da candidata, mas isso não impediu que Marina continuasse capturando
votos da campanha petista.
Na
avaliação da coordenação de campanha, apesar de Dilma não ter
conseguido liquidar a eleição no primeiro turno, ainda existe muita
vantagem política em relação ao tucano José Serra. Para eles, a petista
construiu uma vantagem significativa e só perderá no novo confronto se
cometer erros graves.
Além
disso, lembram que a capilaridade regional da aliança em torno de Dilma
é muito maior que a de Serra. Os governistas venceram em mais Estados,
especialmente na regiões Nordeste e Norte.
Mas
existe uma preocupação com a natural desmobilização das campanhas
regionais nos Estados onde a eleição já foi decidida no primeiro turno,
como é o caso de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e
Pernambuco. Mesmo organizando comícios com a presença de suas
principais estrelas locais, os petistas sabem que essa mobilização não
será igual a uma campanha onde o principal candidato local está
envolvido diretamente. Como consolo, lembram que Serra enfrentará o
mesmo tipo de problema.
Outra
preocupação é com a perda de vantagem no horário de propaganda
eleitoral. Ao contrário do primeiro turno, quando Dilma tinha muito
mais tempo do que seus adversários, essa vantagem não se repetirá.
Pelas regras da eleição do segundo turno, os dois candidatos que chegam
a essa disputa passam a ter direito ao mesmo tempo no rádio e na
televisão. Com isso, acham que precisarão afiar ainda mais o conteúdo
dos programas para impedir o crescimento de José Serra.
Além
disso, os debates do turno final passam também a ter características
diferente. Dilma e Serra passarão, a partir de agora, a se enfrentar
diretamente nesses debates. Antes, esse tipo de evento acabava diluindo
confrontos já que existiam outros candidatos, como Marina Silva e
Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), para ocupar espaço. Desta vez, todas
as perguntas serão feitas apenas entre Serra e Dilma, sem
intermediários.
A primeira
preocupação das duas campanhas é com a primeira semana da nova
campanha. Serra quer capitalizar a ida ao segundo turno, considerada
improvável pela maioria dos seus próprios aliados. A ideia é organizar
encontros já a partir de hoje para articular as novas ações de campanha
e aproveitar esse bom momento.
Do
lado de Dilma, a intenção é mostrar que o adiamento da vitória no
primeiro turno foi um mero acidente de percurso. Para isso, consideram
fundamental que a petista apareça liderando com folga na primeira
pesquisa de intenção de votos que for feita já para o segundo turno. Um
resultado mais apertado, com menos de dez pontos de diferença seria
considerado extremamente perigoso e motivador para a campanha dos
partidos de oposição. Um interlocutor direto de Dilma admite que a
disputa em segundo turno se tornou perigosa. "Disputa em segundo turno é
outro jogo completamente diferente. Temos vantagem boa, mas existem
muitas outras variáveis que passam a pesar nesse jogo", afirma. Por
conta disso, os governistas pretendem colocar novamente no centro das
ações o presidente Lua, justamente o principal cabo eleitoral de Dilma e
responsável por seu excelente desempenho no primeiro turno.
A
ideia é intensificar a estratégia de colar Lula mais ainda na campanha
de Dilma. Nesse processo, o presidente deve praticamente deixar de
lado a rotina da Presidência da República para participar o máximo
possível de eventos ao lado de sua candidata, aproveitando sua alta
popularidade com o eleitor.
Lula
deverá também pedir apoio dos principais governadores eleitos pela base
aliada para que tentem multiplicar seu apoio à candidata petista,
especialmente em Estados onde conseguiram resultados abaixo da
expectativa, como Minas Gerais e Paraná.