segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Polêmica sobre aborto foi um dos fatores que provocaram segundo turno

Andre Lessa/AEMarcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo
 
Integrantes do comando de campanha da petista Dilma  Rousseff reconhecem que não conseguiram dar resposta eleitoral eficiente  para temas religiosos, como a legalização do aborto. Para eles, essa  foi a principal razão que fez os votos de Dilma, especialmente entre as  classes mais baixas, migrar para a candidatura de Marina Silva, do PV,  impedindo sua eleição imediata já no primeiro turno.
Andre Lessa/AE
Marcha pela Vida. Dilma passou a perder votos entre católicos  e evangélicos porque seria, na visão deles, favórável ao aborto
Durante a reta final da campanha, Dilma passou a perder votos entre  eleitores evangélicos e católicos porque seria favorável à proposta que  legalizaria o aborto no País. Marina, que é evangélica, pertencente à  Assembleia de Deus, passou a ser apontada por pastores e padres como a  melhor candidata a apoiar, uma vez que tem posição histórica contra essa  questão.
Aliados de Dilma, incluindo o próprio presidente Luiz Inácio Lula da  Silva, intensificaram a quantidade de mensagens em defesa da  "religiosidade" da candidata, mas isso não impediu que Marina  continuasse capturando votos da campanha petista.
Na avaliação da coordenação de campanha, apesar de Dilma não ter  conseguido liquidar a eleição no primeiro turno, ainda existe muita  vantagem política em relação ao tucano José Serra. Para eles, a petista  construiu uma vantagem significativa e só perderá no novo confronto se  cometer erros graves.
Além disso, lembram que a capilaridade regional da aliança em torno  de Dilma é muito maior que a de Serra. Os governistas venceram em mais  Estados, especialmente na regiões Nordeste e Norte.
Mas existe uma preocupação com a natural desmobilização das campanhas  regionais nos Estados onde a eleição já foi decidida no primeiro turno,  como é o caso de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.  Mesmo organizando comícios com a presença de suas principais estrelas  locais, os petistas sabem que essa mobilização não será igual a uma  campanha onde o principal candidato local está envolvido diretamente.  Como consolo, lembram que Serra enfrentará o mesmo tipo de problema.
Outra preocupação é com a perda de vantagem no horário de propaganda  eleitoral. Ao contrário do primeiro turno, quando Dilma tinha muito mais  tempo do que seus adversários, essa vantagem não se repetirá. Pelas  regras da eleição do segundo turno, os dois candidatos que chegam a essa  disputa passam a ter direito ao mesmo tempo no rádio e na televisão.  Com isso, acham que precisarão afiar ainda mais o conteúdo dos programas  para impedir o crescimento de José Serra.
Além disso, os debates do turno final passam também a ter  características diferente. Dilma e Serra passarão, a partir de agora, a  se enfrentar diretamente nesses debates. Antes, esse tipo de evento  acabava diluindo confrontos já que existiam outros candidatos, como  Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), para ocupar espaço.  Desta vez, todas as perguntas serão feitas apenas entre Serra e Dilma,  sem intermediários.
A primeira preocupação das duas campanhas é com a primeira semana da  nova campanha. Serra quer capitalizar a ida ao segundo turno,  considerada improvável pela maioria dos seus próprios aliados. A ideia é  organizar encontros já a partir de hoje para articular as novas ações  de campanha e aproveitar esse bom momento.
Do lado de Dilma, a intenção é mostrar que o adiamento da vitória no  primeiro turno foi um mero acidente de percurso. Para isso, consideram  fundamental que a petista apareça liderando com folga na primeira  pesquisa de intenção de votos que for feita já para o segundo turno. Um  resultado mais apertado, com menos de dez pontos de diferença seria  considerado extremamente perigoso e motivador para a campanha dos  partidos de oposição. Um interlocutor direto de Dilma admite que a disputa em segundo turno  se tornou perigosa. "Disputa em segundo turno é outro jogo  completamente diferente. Temos vantagem boa, mas existem muitas outras  variáveis que passam a pesar nesse jogo", afirma. Por conta disso, os governistas pretendem colocar novamente no centro  das ações o presidente Lua, justamente o principal cabo eleitoral de  Dilma e responsável por seu excelente desempenho no primeiro turno.
A ideia é intensificar a estratégia de colar Lula mais ainda na  campanha de Dilma. Nesse processo, o presidente deve praticamente deixar  de lado a rotina da Presidência da República para participar o máximo  possível de eventos ao lado de sua candidata, aproveitando sua alta  popularidade com o eleitor.
Lula deverá também pedir apoio dos principais governadores eleitos  pela base aliada para que tentem multiplicar seu apoio à candidata  petista, especialmente em Estados onde conseguiram resultados abaixo da  expectativa, como Minas Gerais e Paraná.

Mídia tenta ofuscar favoritismo de Dilma

Por Altamiro Borges

Âncoras e colunistas da mídia demotucana atingiram o orgasmo múltiplo nas últimas horas. Na televisão, por exemplo, é visível a alegria de Boris Casoy, Carlos Nascimento, Willian Bonner, Merval Pereira e Cristiana Lôbo, entre outros, com a realização do segundo turno das eleições presidenciais. Os espaços concedidos a José Serra, que obteve 32,61% dos votos (33.132.174), e a Marina Silva, que colheu 19,33% (19.636.337), são bem maiores e vistosos do que os cedidos a Dilma Rousseff, que quase venceu o pleito no primeiro turno – 46,91% dos votos (47.651.280).

As edições dos telejornais apresentam os derrotados como vitoriosos – festa dos tucanos em São Paulo e imagens angelicais da candidata verde – e mostram a candidata vitoriosa abatida, como se fosse a grande derrotada. O objetivo desta manipulação grotesca é animar a oposição de direita e desarmar os setores que apostam na continuidade da mudança. O esforço unificado da mídia é para tentar ofuscar o favoritismo de Dilma Rousseff no segundo turno. Ela tenta vender a idéia que será uma nova eleição, como se a realizada neste domingo não tivesse qualquer importância.

Moto-Serra e os votos verdes

De concreto, a oposição demotucana foi derrotada nas urnas. No início da campanha eleitoral, José Serra aparecia como franco favorito – com quase o dobro da intenção de voto da ex-ministra do governo Lula. Antes mesmo do horário eleitoral, ele perdeu milhões de votos e passou para a segundo colocação. A possibilidade de vitória no primeiro turno de Dilma Rousseff, que nunca disputou um pleito e era pouco conhecida da sociedade, era real. Ela só se inviabilizou na reta final graças ao fenômeno da chamada “onda verde”, em boa parte criada pela própria mídia.

Numa análise fria, sem a partidarização apaixonada da mídia demotucana, Dilma Rousseff é a franca favorita para vencer as eleições em 31 de outubro. Ela conseguiu colocar mais de 14,5 milhões de votos a frente de Serra. Dos 19,6 milhões de votos dados pelo eleitor seduzido pela verde Marina, ela precisa colher cerca de 4 milhões para ser eleita a primeira mulher presidente do Brasil. Nem o maior torcedor do tucanato, convertido recentemente ao eco-capitalismo, avalia que Serra conseguirá abocanhar aproximadamente 15 milhões de votos da candidata verde.

Derrota do bloco liberal-conservador

Os colunistas da mídia demotucana destacam apenas os fatores favoráveis a Serra. Dizem que agora Aécio Neves, que manteve com folga o governo de Minas Gerais, estará livre para fazer campanha. Mas ele nunca esteve preso. Se não abraçou na campanha do concorrente paulista foi por outros motivos. Afirmam ainda que Geraldo Alckmin, novamente eleito ao governo paulista, será um importante reforço para sua campanha – mas é bom não esquecer a traição que o mesmo sofreu na eleição para a prefeitura da capital paulista. A vingança pode ser maligna!

Já no caso de Dilma Rousseff, os colunistas da mídia direitista preferem ocultar seu favoritismo. Na primeira eleição em que disputou, ela teve o mesmo percentual de votos de Lula no primeiro turno de 2002 – após três tentativas castradas de chegar à presidência e uma sólida projeção nas lutas sindicais. Além disso, ela contará agora com vários governadores, senadores e deputados eleitos – a vitória do seu campo político nos pleitos estaduais foi acachapante. A correlação de forças se alterou nesta eleição, com a derrota do bloco neoliberal-conservador.

Em síntese, o favoritismo de Dilma Rousseff para o segundo turno é visível – só mesmo a mídia demotucana tenta ofuscá-lo com seus padrões de manipulação. Mas o favoritismo, por si só, não garante a vitória. O segundo turno exigirá muita energia. Será uma guerra sangrenta!

Um balanço inicial do primeiro turno



Por Emir Sader via blog rsurgente

A esquerda teve o melhor resultado eleitoral de sua história: Dilma em primeiro lugar, governadores no Rio Grande do Sul, na Bahia, em Pernambuco, no Ceará, no Espírito Santo, Sergipe, Acre, boas possibilidades no Distrito Federal, possibilidades ainda no Pará, e renovação com grande bancada no Senado e grande aumento nas bancadas parlamentares na Câmara.
A frustração veio da expectativa criada pelas pesquisas de uma eventual vitória no primeiro turno para presidente. Uma análise mais precisa é necessária, a começar pelo altíssimo numero de abstenções e também dos votos nulos e brancos que, somados, superam um quarto do eleitorado. Mas também dos efeitos das campanhas de difamação – sobre o aborto, luta contra a ditadura, etc., assim como o efeito que o caso da Erenice efetivamente teve para diminuir o resultado final da Dilma.
A votação da Marina certamente influenciou. A leitura desse eleitorado é complexa, nem de longe se trata de onda ecológica no Brasil – as outras votações dos verdes foram inexpressivas. Juntaram-se varias coisas, desde votos verdes, esquerda light, até votos anti-Dilma, votos desencantados com o Serra, entre outros. Mas o montante alto requer uma análise mais precisa.
Para o segundo turno contam esses votos: mais da metade concentrados em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além do DF, onde ela ficou em primeiro lugar. Qualquer que seja a decisão de apoio no segundo turno – a convocação de assembléias para definir deve confirmar a tendência a abstenção, tornando mais difícil a operação política da direção de apoiar Serra -, esse eleitorado se orientará, em grande medida, não pela decisão partidária, ficando disponível para os outros candidatos. Em 2006, nem o PSol conseguiu que seus votos deixassem de ir para outros candidatos, desobedecendo a orientação do voto em branco.
É uma ilusão considerar que o segundo turno é outra eleição. É a continuação do primeiro, em novas condições – de bipolarização. A campanha deve ser dirigida diretamente por Lula, deve ser centrada na comparação dos governos do FHC e do Lula, deve ter uma estratégia específica para o eleitorado da Marina e deve multiplicar os comícios e outros atos de massa – um diferencial importante entre as duas candidaturas.
Em 2006 o segundo turno foi muito importante para dar um caráter mais definido à polarização com os tucanos, o mesmo deve se dar agora. Que ele multiplique a votação e a mobilização, para tornar mais forte ainda a vitória da Dilma. Ela é favorita, mas devemos precaver-nos das manobras dos adversários, do uso da imprensa, das campanhas difamatórias.
Pode ser um segundo turno de polarização mais clara também, porque os debates diluíam os temas, na medida em que havia um coro de 3 candidatos colocando ênfase nas denúncias. Não soubemos colocar como agenda central o fato de que o Brasil se tornou menos injusto, menos desigual, com Lula, e que esse é o caminho central a seguir.
Outros temas do primeiro turno abordaremos em outros artigos. Este é para abrir a discussão com todos.
Foto: Roberto Stuckert Filho

OS REFÉNS DE MARINA


Fausto Brignol em seu blog

A vitória de Marina – pois foi uma grande vitória – deixou os dois que obtiveram mais votos no 1º turno – Dilma e Serra – como reféns das propostas de Marina e do Partido Verde, na esperança de herdarem os mais de 20 milhões de votos dados à senadora.

     Fácil seria para Marina liberar os seus correligionários para votarem em quem quiserem, de acordo com as suas consciências, mas isso tiraria toda a força da vitória alcançada do que ela mesma diz que é uma nova maneira de ver e de fazer política neste país. Se ela agir assim, as razões da sua candidatura e da sua luta até agora se diluiriam rapidamente e aqueles que nela votaram se sentiriam, novamente, órfãos da pátria mãe que tem sido tão pouco gentil com os seus filhos abandonados. Além disso, os que acreditaram em Marina e nela votaram, estes sim se sentiriam reféns da velha política de cooptação das coligações lideradas por PT e PSDB.

     Em um Brasil que elegeu Tiririca, numa clara demonstração de deboche ante as esfarrapadas instituições do sistema - que primam pela corrupção - propostas como educação, desenvolvimento sustentável, construir sem destruir, consumir sem ser consumido, cuidar bem da nossa água, das florestas e das cidades, acabar com o desperdício na produção de alimentos, de energia na construção civil, no uso dos recursos públicos em todos os outros setores – tendo como alicerces a educação e a inovação – despertaram as pessoas daquele marasmo que estas eleições estavam provocando em grande parte da população.

     Um marasmo devido à polarização do processo eleitoral entre dois grupos partidários que nada apresentam de novo e que trazem em si o germe do retrocesso político; com uma proposta de economia neoliberal, visando um desenvolvimento desregrado que tem como único objetivo a acumulação dos bens de capital, dos lucros gerados pelas riquezas do nosso país destinados aos bancos e às grandes empresas, deixando sempre o povo de lado. Povo que recebe as migalhas dos programas assistenciais e se rejubila quando as recebe. Um povo que já está se acostumando a ser idiotizado pelos meios de comunicação e a estender a mão para os poderosos, como se isso fosse muito natural e que desconhece a sua força que somente é lembrada em época de eleições.

     Em um momento como este, de quase total abulia, de desmembramento das forças sociais, apesar de algumas tentativas partidárias esparsas - notadamente da esquerda socialista que ainda não encontrou o seu rumo, dividida em vertentes que se negam a formar um caudal, ou buscar a sua origem, a sua fonte primária – uma proposta mínima de participação social concreta, visando objetivos claros, pontuais, como a preservação da natureza, através de grupos sociais civis, tendo como base a educação e como objetivo final a busca da construção de um país novo e à frente uma pessoa corajosa e decidida, como Marina, despertou naqueles vinte milhões de pessoas a possibilidade, ainda que remota, de um voto que valesse a pena – uma espécie de resgate do voto do povo.

     E ocorreu o inusitado. A candidata do governo e o candidato da oposição foram para o 2º turno graças aos votos recebidos por Marina, e não por seus próprios esforços. Principalmente Serra, que deve estar agradecendo de mãos postas a ineficácia de Dilma e do PT no último mês de campanha e ao crescimento avassalador de Marina.

     Dilma tende a cair mais, mas não o suficiente para perder, e Serra deverá conquistar mais um ou dois pontos percentuais – o que não será suficiente para ganhar. É aí que entram os votos de Marina. Vinte milhões de votos. Um quinto do total dos votos válidos.

     Fazer composição seria fácil se Marina apenas buscasse o poder pelo poder. Bastaria a oferta de ministérios, secretarias, algum poder dentro do Poder e estaria tudo certo. Aparentemente.

     Mas não acredito que seja essa a idéia de Marina – voltar a participar do Poder entrando pela porta dos fundos e aceitando a sua fatia em troca dos votos recebidos no 1º turno. Mesmo porque foram votos espontâneos, que despertaram parte do povo ainda consciente de sua força para a possibilidade de um Brasil novo, longe das políticas sujas a que estamos acostumados. Foram votos de esperança, de um novo tipo de esperança, e que não podem, simplesmente, serem jogados no lixo do esquecimento.

     O Partido Verde, enquanto partido político, não tem a força que Marina possui: de congregar as pessoas. É um partido instável, que carece de ideologia e que aproveita a onda verde do momento apocalíptico que passa a mãe terra. Por si mesmo, o PV não tem como barganhar nem um voto. Mas Marina tem essa força. Aqueles que votaram em Marina acreditarão nela no instante em que ela apontar um dos dois candidatos - Dilma ou Serra – como sendo aquele que cumprirá, pelo menos em parte, os objetivos a que ela se propôs, caso fosse eleita.

     E para que isso aconteça, para que os votos de Marina revertam para o PSDB ou para o PT será necessário que um dos dois partidos assuma um compromisso público com o desenvolvimento sustentável, capaz de suprir as necessidades das futuras gerações, sem esgotar agora os recursos para o futuro, promovendo a revisão de políticas públicas que são predadoras em relação ao homem e à natureza.

     Não acredito que o PT faça isso, porque está demasiadamente atrelado ao capital internacional e ao grande latifúndio nacional, cedendo cada vez mais terras para desmatamento, promovendo a destruição da Mata Atlântica e, o que é mais visível e criminoso, prestes a construir a Usina hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, no estado do Pará – o que irá desalojar milhares de pessoas e causar imenso impacto ambiental. Além disso, o PT acredita que com apenas mais três ou quatro pontos percentuais Dilma vencerá a eleição. Dilma, que tem um profundo desagrado por Marina, que a colocou em xeque.

     Resta o PSDB. Poderia o PSDB de Serra dar alguns passos atrás na sua política conservadora e centrista, que pouco se diferencia da política do PT? Poderia Serra prestar um compromisso inviolável de promover o desenvolvimento sustentável, através de políticas públicas ligadas ao meio ambiente e à defesa da natureza? Poderia o PSDB, e Serra, comprometer-se a combater seriamente o desmatamento, a diminuir as áreas de cultivo de transgênicos, a impulsionar uma política nacional de defesa do meio ambiente e, o que é mais importante neste momento, evitar a construção de Belo Monte?

     Até que ponto os grandes partidos brasileiros, apoiados em grandes coligações e interesses econômicos, são confiáveis em suas promessas?

Golpe de Misericórdia da Classe Política e Caos Urbano em Bagé

da Silva

Neste domigo de eleições, quem acordou cedo para votar ou para justificar o voto, como eu, pôde desfrutar de uma bela visão: as ruas cheias de colas de candidatos jogadas ao chão.
 Já não bastasse os carros-de-som terem atormentado nossos ouvidos durante os últimos meses, hoje, no dia das eleições a classe política de Bagé dá seu golpe de misericórdia, espalhando seu material de campanha que sobrou pelas ruas em uma festa da hipocrisia sanitária.

 A democracia pregada por todos os candidatos é a democracia que leva impressos gráficos aos montes para os bueiros, contribuindo para o acúmulo de lixo que leva as enxentes e transbordamento de esgotos. Sorte irônica das vilas que não têm saneamento básico, pois os panfletos jogados nas suas ruas de areia não vão para o esgoto, vão para a vala aberta mesmo.
 Da burrice onisciente dos cidadãos bageenses e sua corja política atual, nem um candidato sobrou no meio do lixo, podemos ver todos no chão e assim escolhermos o que menos fora pisoteado para votar! Destaques ao Lara no seu cavalo, simbolizado no mito do gaúcho ( algo como aquela pedância antropológica que a nova novela Araguaia da rede Globo faz com os gaúchos ) e para um panfleto sem assinatura que coloca Pimenta e Mainardi como agentes do mensalão, onde Mainardi seria um traficante de influência da tosca e mafiosa URCAMP.
 Um espetáculo de passeio pelo centro de Bagé pude fazer, avistando latifundiários travestidos de gaúchos testosterônicos, parando com suas Hylux e Rangers na frente do Clube Comercial, antes de votar, e um bispo católico fazendo sua cerimônia de recepção democrático-abraâmica da CNBB do anti-pró-aborto em frente ao Colégio Auxiliadora, maior "lobista" da UNIPAMPA, alugando suas salas por preços extraordinários. O mão pesada do clero e dos "senhores do engenho" demonstrando sua civilidade em público.

 Os trabalhadores mal-remunerados da Secretaria de Atividades Urbanas do município estão desde cedo fazendo a limpeza estética das ruas do centro, porém dúvido que cheguem as ruelas do Ivo Ferronato e do Bairro Ivone, já que aquele lixo marginalizado não interessa aos poderosos esconder.
 Por fim, uma imagem conhecida nos dias de chuva em Bagé, a ponte baixa dos cabeças pequenas, da cidade ridícula chamada Bagé, tão carente de uma reforma urbana:

domingo, 3 de outubro de 2010

TODOS NA RUA...ESTÁ NA HORA!!!!



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"Que seria deste mundo sem militantes?
Como seria a condição humana se não houvesse militantes?
Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso.
É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos.
Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano.
Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício.
É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".

sábado, 2 de outubro de 2010

O bom combate



Brizola Neto no Tijolaço

Não tenho pesquisas, nem trackings, nem grupos de análises. Não tenho, sequer, experiência acumulada de disputas eleitorais. Mas há algo em mim que, a esta altura, com o corpo cansado, a garganta rouca e, permitam a expressão da minha avó, os nervos em pandarecos, despeja em meu sangue uma grande dose de tranqüilidade.
Fizemos o que tínhamos o que fazer. Jamais nos entregamos. Nunca tergiversamos. Não houve um minuto sequer de vacilação.
Dúvidas? Sempre as tivemos. Um ser humano, com os anos, aprende que a dúvida não é sinônimo de vacilação, mas uma sadia abertura mental que nos afasta da pretensão de sermos donos da verdade. Alguns, infelizmente, trilham o caminho inverso. Nosso adversário, por exemplo, não hesita em considerar-se o mais sábio, o mais preparado, aquele que já não precisa ouvir porque tem sempre uma certeza para falar.
Lembro-me de meu avô contando porque não se juntou, nos anos 40, aos jovens universitários do PCB. Ele dizia: “olha, me incomodava que eles sempre tivessem a verdade pronta, que vinha impressa nos polígrafos”. Polígrafo, naquele tempo, era o mimeógrafo no qual se reproduziam os panfletos.
Não sou um homem de grande preparo teórico, embora o ache importantíssimo e procure sempre melhorá-lo. Ajo mais com a sensibilidade, procurando juntar aquilo que tenho como princípio às coisas que sinto e absorvo do sentimento difuso e sincero da população. Posso errar, e erro, por humano. Mas penso que a lucidez não é uma virtude individual. À razão do indivíduo nunca pode deixar de somar-se a sabedoria coletiva.
Porque não somos entes isolados. O ser humano, sempre se diz , é um animal social. Temos o brilho dos indivíduos, mas também possuímos o instinto dos rebanhos.
A sociedade move-se ora com cautela, ora numa marcha acelerada e irresistível.
Vínhamos assim. Mas a elite, aquela que historicamente tange o povo brasileiro segundo sua conveniência, chegou a pregar-nos um susto. Não nos deteve, mas é forçoso admitir que nos fez andar mais lentamente.
Chegamos então ao momento decisivo em que iremos tomar um caminho.
No Sul, temos uma expressão conhecida como “boi sinuelo”: aqueles que servem de referência à marcha coletiva.
Tudo indica que amanhã cruzaremos o rio. Se não for assim, teremos que nos reagrupar e vamos depender, mais fortemente, de que essa grande e indócil sociedade possa identificar seus líderes e segui-los.
Hoje, durante todo o dia, cada um de nós deve empregar sua energia, sua inteligência, seu sentimento de igualdade na tarefa de chamar, um por um, cada brasileira e brasileiro a cruzar o rio que nos separa do amanhã.
Se vamos conseguir? Acho que sim. Em meio a poeira da política, a milhões deslumbra o horizonte da história, esta impalpável chama que ilumina o olhar da humanidade.
Agora, ou daqui a pouco, iremos ao encontro dela. Seu chamado silencioso magnetiza uma parte de nós que vai além do racional, embora não o despreze. É algo que fala aos sentimentos instintivos das grandes massas humanas, que buscam a sobrevivência e a felicidade.
Um bom dia para todos, um dia em que vamos somar esforço e reflexão. Horas em que buscaremos a todo custo a vitória numa batalha, mas que não nos abaterá se nela não for vencida a guerra.
Temos o indispensável para vencer. Uma causa, uma bandeira, um orgulho que não se acaba de estarmos dando o melhor de cada um de nós pelo que é melhor para todos.
Vamos, ombro a ombro, com esse povo que não tem nada a não ser a certeza de que merece uma vida digna.
Bom combate, neste dia que nos resta.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

EDUCAÇÃO – O BRASIL NO RUMO CERTO



(Manifesto de Reitores das Universidades Federais à Nação Brasileira)


Da pré-escola ao pós-doutoramento – ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional – consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.
Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.
Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.
Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.
Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.
Alan Barbiero – Universidade Federal do Tocantins (UFT)
José Weber Freire Macedo – Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)
Aloisio Teixeira – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Josivan Barbosa Menezes – Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Amaro Henrique Pessoa Lins – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Malvina Tânia Tuttman – Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Ana Dayse Rezende Dórea – Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Maria Beatriz Luce – Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
Antonio César Gonçalves Borges – Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Maria Lúcia Cavalli Neder – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Carlos Alexandre Netto – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Miguel Badenes P. Filho – Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)
Carlos Eduardo Cantarelli – Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)
Miriam da Costa Oliveira – Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)
Célia Maria da Silva Oliveira – Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Natalino Salgado Filho – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Damião Duque de Farias – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
Paulo Gabriel S. Nacif – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Felipe .Martins Müller – Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).
Pedro Angelo A. Abreu – Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)
Hélgio Trindade – Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Ricardo Motta Miranda – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hélio Waldman – Universidade Federal do ABC (UFABC)
Roberto de Souza Salles – Universidade Federal Fluminense (UFF)
Henrique Duque Chaves Filho – Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Romulo Soares Polari – Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Jesualdo Pereira Farias – Universidade Federal do Ceará – UFC
Sueo Numazawa – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
João Carlos Brahm Cousin – Universidade Federal do Rio Grande – (FURG)
Targino de Araújo Filho – Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)
José Carlos Tavares Carvalho – Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Thompson F. Mariz – Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
José Geraldo de Sousa Júnior – Universidade Federal de Brasília (UNB)
Valmar C. de Andrade – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
José Seixas Lourenço – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Virmondes Rodrigues Júnior – Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Walter Manna Albertoni – Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)

Emir Sader: “Marina é a falência do movimento ecológico brasileiro”

por Conceição Lemes no Viomundo

Pesquisa divulgada pelo Datafolha na terça-feira, 28, colocou em cheque, de novo,  a credibilidade do instituto, que já andava baixa.  Dizia que Dilma Rousseff (PT) caíra três pontos percentuais em relação ao levantamento realizado na semana anterior, quando tinha 49%. O candidato José Serra (PSDB) teria mantido 28% e Marina Silva (PV), subido de 13% para 14%.
“Enquanto as pesquisas em geral dão 10% de vantagem para Dilma em relação à soma dos outros candidatos, o Datafolha deu 4%. Enquanto o Datafolha cogita o segundo turno, Sensus, Vox Populi e Ibope continuam jurando que vai dar Dilma no primeiro turno”,  disse, em entrevista ao Viomundo, o sociólogo-político Emir Sader. “O mínimo que se pode dizer é que, na margem de erro, está havendo manipulação.”
Ao ser indagado sobre o que faremos até a reta final da campanha, Emir brincou: “Lexotan”. Depois, falando sério, afirmou: “Quem está empenhado num candidato, intensificar o trabalho. Mas, sobretudo, tentar desmentir os boatos, as falsidades que andam espalhando por aí”.
Eis a segunda parte da entrevista que nos concedeu.
Viomundo — Que falsidade o senhor destacaria?
Emir Sader – A mídia está passando uma imagem platônica da Marina, que não tem nada a ver. Na hora em que teve de enfrentar uma luta concreta, a Marina ficou contra os povos indígenas.
Emir Sader – Exatamente. O registro de frutas tropicais da Amazônia feito, com fins comerciais,  pela Natura, cujo presidente [Guilherme Leal] é o vice da chapa verde. A Marina ficou do lado dele contra os interesses e os saberes naturais dos povos indígenas, dos povos da Amazônia, ao dizer que a Justiça é que decidiria.
Tenho dúvidas sobre a “preocupação” ecológica da empresa. Qual a política salarial dela?  Qual a política para exploração dos recursos naturais? Qual a política da propriedade intelectual? Eu não vejo nada de significativo na prática social dela, que pudesse ter um caráter ecológico. A questão ecológica não é só preservar a floresta e os animais em extinção. Essa visão é muito pobre, reducionista.
Curiosamente,  até sair do governo Lula, a Marina era o diabo para a imprensa. Dizia que ela era quem mais prejudicava os projetos econômicos com suas picuinhas ideológicas.  Essa mesma mídia, agora, exalta a Marina, numa clara instrumentalização, que ela aceita de bom grado. Quando se fala da Marina real, do Serra real, aí é que se vê a verdadeira dimensão deles.
Viomundo – Quem é a Marina real?
Emir Sader – No Fórum Social Mundial, ouvimos o tempo todo que a questão ecológica é transversal. Ou seja, assim como na época anterior da esquerda se achava que a questão capital-trabalho cruzava tudo, a ecologia cruzaria tudo.
Logo, a graça da campanha da Marina seria fazer uma campanha em que ecologia cruzasse tudo. Só que ela deixou de ter uma agenda própria, passou a reagir a partir do denuncismo da direita, do bloco tucano-udenista. Chegou a dizer que a violação dos sigilos bancários da filha e do genro do Serra provocava fragilidade na sociedade brasileira. Tomara que fosse essa a nossa fragilidade. Para nós, o que fragiliza a sociedade brasileira é a violência, o desemprego, a miséria, a injustiça…
Nessa campanha, Marina só assumiu posições equidistantes do cerne da questão ecológica. Ela não desenvolveu no governo nem fora uma concepção ecológica do desenvolvimento. O discurso dela não quer dizer nada.
Ao falar de Belo Monte, por exemplo, ela emenda “mas a energia limpa…” Só que Belo Monte é energia limpa. A Marina não tem coragem de se colocar a favor de projetos como Belo Monte, mas também não tem capacidade de elaborar projetos alternativos. Acho que a Marina é a falência do movimento ecológico brasileiro.
Viomundo — Mesmo?
Emir Sader – Sim. O discurso dela pode parecer coerente no papel, mas quando você  questiona, é um vazio profundo. O estado brasileiro como é que vai ser? Qual o modelo desenvolvimento que propõe? Qual o papel do mercado interno? E da exportação? Como seria a política externa brasileira? E as políticas sociais?
São questões cruciais sobre as quais ela não tem nada a dizer — nem contra nem a favor do que está sendo feito. Nada.
Peguemos os transgênicos, uma questão grave. O que a Marina tem a dizer hoje? Vai acabar com eles, com exportação de soja e com a Monsanto? O  discurso dela s acaba sendo um blefe, já que os segmentos dos transgêncis são totalmente aparelhados pela direita, que hoje a apóiam.
Está na hora de provar a transversalidade da questão ecológica. Não vejo nada disso na campanha da Marina. Onde está a questão ecológica, estruturando o conjunto da plataforma dela? Não tem.
Ela fala em terceira via, mas qual é a política de emprego dela? Qual a política de salários? Qual a política de crédito?  Não tem nada. Ela não tem nada a dizer nem dos programas essenciais do governo, como o microcrédito, o Luz para Todos, o crédito  consignado.  É só blábláblá. O que aparece, para quem está olhando a campanha, é um esvaziamento da transversalidade da questão ecológica.
Viomundo – A mesma mídia que apedrejava a Marina, hoje a enaltece. O Serra nem fala. Para alavancar a candidatura dele e liquidar a da Dilma, a “grande” imprensa assassinou o jornalismo durante essa campanha…
Emir Sader — A questão não é ser a favor ou contra o Lula ou a Dilma. Quando você tem um governo com 80% de aprovação e olha a imprensa, uma coisa não corresponde à outra. A cobertura não reflete a formação democrática e pluralista da opinião pública. Eu não queria que falasse bem, eu gostaria que existisse o pluralismo, os pontos de vista realmente existentes na sociedade. Por outro lado, no governo Lula, avançamos pouco na questão mídia.
Viomundo Que avaliação o senhor faz  da política de comunicação do governo?
Emir Sader –  Houve um fracasso enorme. Daí a dificuldade de governar. Se deixou criar um denuncismo, centrado em escândalos, reais ou não, desproporcional, que acaba falsificando o próprio debate político, ou seja, o que mudou na sociedade brasileira para melhor ou para pior.  Às vezes dá a impressão de que o governo é um poço de escândalo. O que não é verdade. Isso se deve ao fracasso da política de comunicação do governo.
O interessante é que a massa da população sabe dessa manipulação. Tanto que vota a favor do governo, apesar da mídia. Nós temos de democratizar, desconcentrar, ainda três coisas fundamentais: o dinheiro, a terra e a palavra. São monopólios privados. Não haverá sociedade democrática sem se democratizar essas instâncias.
Viomundo – E o Judiciário?
Emir Sader – É muito ruim que tenha pessoas que se comportam como o Gilmar Mendes e a doutora Sandra Cureau. Estão tão empenhados politicamente que desmoralizam ainda mais o Judiciário.  São personagens que refletem a arbitrariedade da Justiça, que deveria ser um órgão justo. Por isso, a reforma do Estado é fundamental. Acho que o Judiciário tem de estar submetido a um controle social.
Há alguns dias a Folha, em editorial, disse que todo poder tem de ter limite. E quem coloca limite no poder mídia monopólica?  Quem coloca limite ao Judiciário?
Isso não vai cair do céu. Tem de ser definido em uma instância democrática. A doutora Cureau, como disse a Dilma, tem o direito de se manifestar como cidadã. Mas, ao dizer que o Lula está se empenhando ao máximo para eleger a Dilma, ela poderia dizer também que a imprensa está fazendo o máximo para eleger o Serra.
Acho que estão extrapolando o papel do Judiciário. Fazer uma leitura política de intenções é uma atitude totalmente indevida em relação aos juízes.
Viomundo – Para terminar, o que representa a eleição deste domingo?
Emir Sader — O que está em jogo é o governo Lula. No domingo, o povo vai decidir se o governo Lula foi um parêntese e, aí, as elites tradicionais voltam ao poder. Ou se o governo Lula vai ser uma ponte para a gente construir um país justo, solidário e soberano, tarefa que apenas começamos a fazer. Acho que o povo está optando claramente pela continuação do processo, apesar da direita espernear através dos seus órgãos da mídia.

Correa controla situação, fala ao povo e denuncia golpistas

O presidente constitucional equatoriano, Rafael Correa, chegou são e salvo ao Palácio de Carandelet depois de permanecer por 12 horas num hospital para onde foi levado durante a tentativa de golpe provocada por uma rebelião de policiais nesta quinta-feira (30). Da sacada do Palácio Correa saudou milhares de pessoas que se concentravam do lado de fora e davam vivas à Revolução Cidadã.

Correa se dirigiu à multidão e expressou sua tristeza de ver que se derramou inutilmente sangue de irmãos ao referir-se aos militares feridos em seu resgate.

A multidão gritava “Lúcio assassino!” em referência ao ex-presidente Lúcio Gutiérrez, líder do oposicionista Partido Sociedade Patriótica, considerado como a força política que estava por trás da conspiração e da intentona de golpe de Estado.
Correa agradeceu profundamente aos milhares de compatriotas que foram desarmados ao Hospital da Polícia Metropolitana tentar resgatá-lo. Agradeceu à sua guarda pessoal, aos ministros que o acompanharam, todos dispostos a dar a vida se fosse necessário paa libertar o presidente. Jamais impunidade para esses golpistas, disse o presidente, que também agradeceu o apoio recebido dos presidentes de todos os países da Unasul e da Alba e de numerosos países do mundo.

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O presidente equatoriano contou que tinha ido naquela manhã dialogar com os revoltosos e explicar-lhes como o governo queria, pois ninguém tinha apoiado tanto a polícia nem aumentado tanto os salários como o próprio presidente, disse, e ao ver a reação me senti traído, por um grupo deles,enfatizou. “Então me dei conta de quem estava por trás – Lúcio Gutiérrez”. A multidão exigiu castigo paaos golpistas

Com Prensa Latina