quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Salvador Allende, a Codelco e os mineiros de Copiapó

Em 1971, o Congresso aprovou a nacionalização da grande mineração e a colocou sob a administração da Codelco. A nacionalização era uma medida extraordinária de Allende. Tanto que foi o único projeto legislativo em três anos de governo da Unidade Popular que foi aprovado por unanimidade. Teve a aprovação da esquerda, da Democracia cristã e até da direita. A Codelco era tão poderosa que o ditador Augusto Pinochet manteve o cobre nas mãos do Estado para assegurar uma fonte própria de divisas e canalizou essas divisas para o financiamento do orçamento militar. O artigo é de Martín Granovsky.

Jorge Arrate atende o telefone em Santiago. Como todos no mundo, acompanha a situação dos mineiros de Copiapó. “É óbvio que sou um opositor nítido ao presidente Sebastián Piñera, mas quero que o Estado vá bem no resgate dos mineiros e que eles possam caminhar entre nós”, diz.
Candidato de uma parte da esquerda chilena nas últimas eleições presidenciais, Arrate foi ministro do Trabalho da Concertação e embaixador de Ricardo Lagos na Argentina. É tão difícil esquecer sua notável cozinheira peruana, quanto duas frases suas. Uma, sobre as transições: “São monstros horríveis, disformes”, dizia em tom descritivo. Era um modo de explicar o Chile com realismo, mas, ao mesmo tempo, Arrate reivindicava a marcha chilena para a democracia plena enquanto pedia mais e mais reformas. A outra frase foi dita quando, na Argentina, os partidários da impunidade sonhavam com o silêncio infinito e, falsificando os dados, apontavam o Chile como exemplo para não julgar. “O único ponto final é posto pelas almas”, disse Arrate que sempre esteve de acordo com processar os suspeitos de violação dos direitos humanos.

Em 1970, quando Salvador Allende ganhou as eleições presidenciais, Arrate ainda não tinha 30 anos, era militante socialista, amigo das filhas do presidente e já tinha seu título de economista. Foi assessor presidencial até que um ano depois “Allende me pediu –que pediu!, me ordenou! – que assumisse a presidência da Corporação do Cobre, a Codelco.

Hoje, Arrate lembra que, em 1971, o Congresso aprovou a nacionalização da grande mineração e a colocou sob a administração da Codelco. “Eu tinha apenas 29 anos e assumi o cargo com entusiasmo. A nacionalização era uma medida extraordinária. Tanto que foi o único projeto legislativo em três anos de governo da Unidade Popular que foi aprovado por unanimidade. Teve a aprovação da esquerda, da Democracia cristã e até da direita”.

Arrate descreveu Salvador Allende como “um político em tempo integral que abandonou muito jovem seu trabalho com médico, um homem de relação muito aberta com os demais, que amava muito a vida, carecia de ódios pessoais e tinha uma grande coragem pessoal e política, como demonstrou no 11 de setembro no palácio de La Moneda”.

Em julho de 1971, com o cobre nacionalizado, Allende falou em Rancagua aos “companheiros mineiros”, “aos duros trabalhadores do metal vermelho”. Disse a eles que, com a estatização, o cobre era o “salário do Chile”, “assim como a terra é seu pão”. Arrate estava ali, estreando no cargo de presidente de um dos maiores conglomerados mineiros do mundo.

A Codelco era tão poderosa que o ditador Augusto Pinochet – ao contrário, paradoxalmente, do que fez Carlos Menem, um presidente nascido da democracia que privatizou o petróleo na Argentina – manteve o cobre nas mãos do Estado para assegurar uma fonte própria de divisas e canalizou essas divisas para o financiamento do orçamento militar.

Em setembro de 1973, Arrate acabava de fazer um giro por vários países – entre eles a China – para conseguir novos mercados para o cobre em meio ao movimento decidido pelo presidente Richard Nixon e seu conselheiro Henry Kissinger para castigar o Chile e qualquer país que tivesse a audácia de imitá-lo: estava proibido governar com coalizões de esquerda e centroesquerda, proibido expropriar empresas made in USA, proibido fazê-lo (como fez o Chile) considerando que a indenização estava paga pelos abusos anteriores. Arrate decidiu encurtar a viagem e voltar ao Chile quando o final da democracia era iminente. Mas o vôo chegava a Santiago justamente no dia 11, o dia do golpe, do bombardeio ao Palácio de La Moneda e da morte de Allende, que se suicidou depois de resistir com um capacete na cabeça e uma metralhadora nas mãos. O avião de Arrate sobrevoou Santiago, não pode aterrisar e o presidente da Codelco iniciou seu longo exílio na Europa.

Em 1972, Arrate havia tomado parte em dois episódios relacionados com a Argentina. Acompanhou Salvador Allende quando o presidente se encontrou com Alejandro Lanusse em Salta. O Chile não queria um isolamento ainda maior. Tratava de evitar que a fronteira ideológica com a Argentina se convertesse em uma armadilha. E conseguiu. Em agosto de 1972, participou das negociações nas quais Allende decidiu não devolver os guerrilheiros argentinos que tinham fugido da prisão de Trelew. Não voltaram a Argentina e deixaram o Chile, onde sua estada teria aumentado a crise que estava em desenvolvimento. Foram para Cuba.

Arrate negociou muito com os mineiros e conhece bem como são. “Há alguns que transmitem o ofício de pai para filho. É como se tivessem uma cultura mineira. E outros vivem de ofícios diferentes. Mas sempre, mais jovens ou maiores, trabalham com espírito coletivo e respeitam o maior conhecimento dos líderes. Ali embaixo, na San José, há um mineiro que tem mais de 30 anos de vida nas profundezas. É muito importante contar com alguém assim”.

O ex-embaixador diz algo que poucos dizem. “A mina San José, onde ocorreu o acidente, foi fechada em 2007 e reaberta em 2008. Em 2010 houve um acidente sério, mas ela voltou a ser autorizada. É um erro muito grave”. E diz algo que ninguém conta: “A ajuda internacional é importantíssima. Mas como a Codelco se ocupa da grande mineração (San José é uma mina intermediária) tem tecnologia de segurança e de resgate e quadros especializados com muitíssima experiência em minas subterrâneas como El Tenienye. Eles e os engenheriso de Codelco foram vitais nos últimos dias e seguirão sendo até que todos os mineiros voltem para a superfície”.

http://www.martingranovsky.blogspot.com
http://www.pagina12.com.ar

Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Onda fascista que assola o mundo

Extraído do blog DIALOGICO:



A onda fascista que assola o Brasil, pela mão do candidato de direita José Serra [PSDB-PIG], não é um "privilégio" só nosso. Outros países, na Europa "civilizada," que se tem na conta de democráticos, também abraçam, com entusiasmo, a via fascista.
E Israel, que se pretende o baluarte da democracia em meio às "ditaduras" do Oriente Médio, todas apoiadas pelos EUA, não fica atrás!


Israel declara-se estado nacionalista étnico
O gabinete de Israel aprovou projeto de lei que exige que pessoas que requeiram a cidadania israelense prestem um ‘juramento de lealdade’ a Israel definida como “estado judeu e democrático”. Atualmente, a exigência só afeta relativamente poucos, quase exclusivamente os palestinos que vivam fora de Israel, que casem com cidadãos palestino-israelenses e que desejem que a família viva do lado israelense da linha verde (hoje, podem fazê-lo). Mas o padrinho da ‘lei da lealdade’, Avigdor Lieberman (ex-crupiê de cassino, da Moldávia), deseja que o mesmo juramento, ou juramento ainda mais estrito seja imposto a todos os palestinos-israelenses – que são cerca de 20% da população de Israel.
Apoiadores do projeto, como o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, dizem que a definição de Israel como estado judeu democrático já existe na lei orgânica.
Mas líderes da comunidade palestino-israelense e membros do Parlamento denunciaram o projeto de lei, por racismo.
A expressão “judeu”, como marcador de identidade, tanto pode referir-se à religião quanto à etnia (em Israel, é judeu quem nasça de mãe judia). O traço de etnia é talvez o mais importante dos dois marcadores de identidade, porque um judeu praticante e cidadão israelense, se filho de mãe não judia, não terá papéis que o identifiquem como “judeu”.
O mais recente censo mostra que havia 7,2 milhões de israelenses, dos quais 5,5 milhões são judeus, 300 mil são não judeus e 1,4 milhões são árabes, ditos “palestinos-israelenses”. Os não judeus são, quase todos, filhos de famílias mistas nas quais a mãe não é judia. A maioria desses consideram-se judeus, e alguns lamentam não serem oficialmente reconhecidos como judeus. Nos 5,5 milhões de judeus, estpa incluído grande número de russos que não praticam o judaísmo, mas declaram-se ‘judeus étnicos’, por terem tido algum ancestral judeu – argumento que as autoridades israelenses aceitam sem qualquer investigação. (É ideia generalizada entre os intelectuais israelenses que bem poucos desses russos são judeus seja ‘religiosos’ seja ‘étnicos’.)
Parece bem evidente, pois, que a expressão “judeu”, no juramento de lealdade de Netanyahu não é um marcador religioso. Se fosse, muitos dos 300 mil não judeus seriam identificados como judeus nos documentos de identidade e muitos dos russos seriam definitivamente não judeus, o que facilmente se comprovaria pelo amor que manifestam a sanduíches de porco.
Não há dúvida de que alguma religião está incluída no pacote, é claro, porque em algum momento do passado as matriarcas que pariam judeus foram, sim, praticantes da religião dos judeus. No passado, a religião predominava sobre a etnia; hoje, pela lei israelense, a etnia predomina sobre a religião.
Mas exigir que alguém declare que Israel é “estado judeu democrático”, como condição para que receba a cidadania israelense, equivale a exigir que um indiano hindu que emigre para os EUA declare, para ser acolhido como cidadão, que os EUA são “estado branco, cristão e democrático”. Nessa fórmula, a etnia (brancos) estaria sendo adotada como critério privilegiado, definida em parte por haver ancestrais brancos, mesmo que fossem protestantes. (No início do século 20, juízes racistas decidiram que os indianos hindus poderiam ser considerados arianos porque falavam língua indo-europeia, mas nem por isso podiam ser considerados “brancos”.)
É óbvio que exigir que imigrantes africanos ou asiáticos, ou mesmo latinos, prestem aquele juramento, naqueles termos, como preço exigido pela cidadania israelense é discriminatório e racista, posto que o próprio juramento rouba-lhes a cidadania de primeira-classe.
Especialistas em teoria política distinguem entre o nacionalismo “cívico” – como há nos EUA e na França – e o nacionalismo “étnico”, mais comum na Europa Central no século 19. O nacionalismo cívico é baseado em ideais (respeito à Constituição dos EUA, por exemplo) e na história. Crispus Attucks, afro-americano, é considerado o primeiro mártir da independência dos EUA – o que consagra os ideais, não a etnia.
Há, contudo, algum racismo latente no nacionalismo dos EUA, pelo qual há quem creia que os “verdadeiros” norte-americanos seriam os protestantes brancos. O ideal do nacionalismo cívico, portanto, várias vezes aparece misturado com sentimentos de nacionalismo étnico. Ao longo do tempo, contudo, o nacionalismo cívico parece estar derrotando o nacionalismo étnico nas cortes de justiça – resultado, sim, de uma longa luta.
O nacionalismo étnico já produziu monstros como a Alemanha nazista e a Sérvia de Milosevic. Se a nação for definida por uma etnia dominante, cria-se a ideia de que quanto ‘mais pura’ a etnia dominante, mais direitos terá. O nacionalismo étnico também sempre gera confrontos contra outras etnias que vivam em áreas próximas (e se os casamentos interétnicos diluírem a etnia dominante?)
Em mundo global, com migração massiva de trabalhadores, o nacionalismo étnico é germe de guerras raciais.
Claro que, como historiador, rejeito completa e absolutamente a ideia de “raça”, da qual falavam os nacionalistas românticos do século 19. Brian Sykes descobriu, em pesquisa com o DNA mitocondrial dos europeus, que todas as mulheres apresentavam pelo menos um de sete pares de alelos nos cromossomas; e que os mesmos sete pares apareciam em todos os grupos nacionais e lingüísticos, inclusive, por exemplo, nos bascos, embora em diferentes proporções. Nesse sentido, os alemães são idênticos aos irlandeses e aos búlgaros. Vasta maioria de mulheres judias azquenazes têm os mesmos sete pares de alelos que se encontram nas mulheres palestinas. Todas, portanto, são descendentes de matriarcas ancestrais não judias.  
Não há raças. Todos os seres humanos são mestiços. Basta recuar 10, 12 mil anos, para encontrar um ancestral comum de todas as populações mediterrâneas. Escavações recentes em Roma, em camadas arqueológicas do tempo de Augusto, encontraram a ossada de um trabalhador chinês. Descobrir como chegou ao Império Romano é enredo para um romance. Mas, se aquele chinês algum dia deitou-se com mulher romana e nasceram-lhes filhos, praticamente todos os italianos hoje vivos são descendentes daquele casal e, pois, são primos de todos os chineses hoje vivos.
O nacionalismo étnico não é apenas intrinsecamente discriminatório: ele é sobretudo contrário a todas as evidências, é uma falsidade. Não há nem jamais houve raças.
Em Israel, o nacionalismo étnico sempre predominou, embora haja alguns traços do nacionalismo cívico na política israelense. Os palestinos-israelenses são cidadãos, votam, podem organizar-se em partidos políticos e podem eleger representantes ao Parlamento. Ao mesmo tempo, podem, também, ser sumariamente expulsos da sociedade e privados da cidadania. Seus direitos civis são frágeis e menos estáveis que os dos israelenses judeus.
Agora, Lieberman e Netanyahu, com a nova ‘lei da lealdade’, deslocaram a ênfase a favor do nacionalismo étnico, contra o nacionalismo cívico, garantindo aos judeus o posto de etnia privilegiada. Estão convencidos de que nada fizeram de extraordinário. E erram gravemente, se supõem que o que fizeram não terá consequências profundas. Sempre que, por vias políticas, se faz aumentar o peso da etnia contra o peso dos valores cívicos, as consequências são profundas.
É exatamente essa mudança de peso, a favor de uma etnia privilegiada, que políticos e líderes da comunidade dos palestinos-israelenses estão denunciando como política racista.
Vejo algum exagero em dizer que a ‘lei da lealdade’ converte Israel em estado de apartheid dentro dos limites da Linha Verde e suas 67 fronteiras. Os palestinos-israelenses são cidadãos, convivem com os judeus israelenses, frequentam as mesmas escolas, as mesmas universidades. Podem casar com judeus israelenses, em Israel ou em qualquer lugar do mundo. A ‘lei da lealdade’ não expande o apartheid para todo o estado de Israel, mas fortalece, sim, um nacionalismo étnico muito semelhante ao que se viu na Alemanha hitlerista ou na Sérvia. É escândalo e é vergonhoso que judeus, precisamente, acolham esse tipo de lei discriminatória e antidemocrática, da qual os próprios judeus foram as mais trágicas vítimas.
Há apartheid, sim, em Israel, mas contra os palestinos não-israelenses que vivem na Cisjordânia e em Gaza. Ali, sim, já se criaram bantustões, idênticos aos que se viram na África do Sul, criados pelos europeus, para manter cercados os africanos.


Record leva ao ar o sumiço de R$ 4 milhões de propinas do Rodoanel para a campanha de Serra



O Jornal da TV Record levou ao ar a reportagem sobre o sumiço de R$ 4 milhões de propinas de empreiteiras do Rodoanel, para o caixa-2 da campanha de Serra. Estaria envolvido o homem de confiança do PSDB, um engenheiro do DERSA.

O Jornal Nacional escondeu a noticia para proteger José Serra.

O assunto foi levantado no debate da Band por Dilma, a partir de relatos de vários tucanos paulistas, para reportagem da revista IstoÉ.

Fonte: osamigosdopresidentelula

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sem orgulho e cabeça erguida, não há vitória em combate

 Brizola Neto em seu blog TIJOLACO



Demorei a escrever sobre o debate porque queria arrumar bem as idéias e não me deixar levar pelo entusiasmo de quem viu Dilma Rousseff reagir como só as pessoas de bem podem reagir à indignidade.
Não quis tomar os outros por mim e deixar que minha satisfação política com a combatividade de minha candidata contaminasse o raciocínio que, embora frio, todos temos de ter sobre a relação custo x benefício de cada atitude, neste trecho decisivo da disputa eleitoral.
Hoje, porém, pude refletir mais friamente.
O debate de ontem, embora numa televisão aberta, foi voltado para um público que “já tinha candidato”. Mais ainda, para os que se consideram simpatizantes de uma candidatura e assumem uma posição ativa na disputa eleitoral.
Não é possível pensar algo diferente de um debate com audiência restrita a 4% dos telespectadores.
Mas que audiência! Uma audiência capaz de ser ativa, de assumir uma bandeira, uma causa, um combate.
Do nosso lado – e vocês podem ver nos comentários postados ao longo da semana – havia certo nervosismo, uma ansiedade e até um inconformismo de ficarmos na posição de presas de uma campanha de calúnias e de baixarias.
Do lado adversário, a empolgação de quem contava – e, aliás, com farta propaganda disso nos jornais “amigos” – com uma adversária abatida, desanimada, na defensiva diante de tantos e tão baixos ataques.
O que se viu, porém, foi uma Dilma cheia de energia e coragem. Que não se intimidou e, a cada agressão, devolvia o golpe sem sorrisinhos falsos, mas com a dureza que corresponde àquilo que está em jogo.
Lembrei-me de um trecho bíblico, no livro de Mateus, quando Cristo expulsa do templo os fariseus.
Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas não obedecem aos mandamentos mais importantes da Lei, que são: o de serem justos com os outros, o de serem bondosos e o de serem honestos. Mas são justamente essas coisas que vocês devem fazer, sem deixar de lado as outras.
Guias cegos! Coam um mosquito, mas engolem um camelo!
Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estes estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância.
Sim, porque este país é sagrado e sagrados são os direitos do seu povo, e é isso que está foi mercadejado e se pretende mercadejar outra vez.
É preciso que cada um de nós tenha esta convicção, que cada um de nós se absorva deste entendimento, que tenha orgulho da causa pela qual lutamos, que vai muito além de um Governo ou de cargos nele.
Eleição não é concurso de miss e de boas maneiras. Política envolve paixão e indignação. Dilma bateu forte em Serra e o colou o tempo todo ao governo de Fernando Henrique Cardoso, que é a antítese do governo Lula.
O povo brasileiro sabe o que significaram os oitos anos de FHC e é importante que seja lembrado do papel relevante de Serra naquele governo, principalmente na venda do patrimônio público brasileiro. A insistência de Dilma incomodou Serra, que chegou a pensar sobre o que perguntaria a ela em determinado momento, pois sentia que estava nas cordas.
Dilma deixou claro que o interesse deles é o de vender o nosso petróleo, entregar o pré-sal.
Faltou apenas uma palavra: entreguista. Esta é a marca, o estigma de Caim que a traição lhe estampou à testa.
De qualquer forma, publico aí em cima os trechos editados pela campanha  e peço que todos revejam – ou assistam, os que não puderam ver -  e se abeberem do valor de nossa causa, do orgulho de lutarmos pelo que lutamos, do sentido que há em amar e defender esta país e, com isso, amar e defender nossos irmãos, não apenas da mentira e da mistificação, mas do que elas encobrem: a escravização e a miséria para o nosso povo.
Agora, espero que Lula, o comendante deste combate, desembainhe a espada e lidere o povo brasileiro. Vimos, ontem, que ele escolheu bem, muito bem, a energia de quem, em nome desta nação, liderará a luta de que ele se tornou um símbolo diante dos olhos da população.
Mas ainda volto ainda ao debate, para outros comentários.

domingo, 10 de outubro de 2010

TODO APOIO A CAMPANHA DE BOICOTE CONTRA ISRAEL PELOS FRANCESES

Colonização e apartheid: é isso que está ferindo a lei


Israel é que deve ser levados à justiça!

Em Bordeaux, Persignam, Mulhouse, Paris e Pontoise, ativistas deverão, em breve, comparecer a um tribunal devido à sua participação na campanha não violenta do BDS - Boicote, Desinvestimento e Sanções - contra Israel.

O presidente do Instituto Nacional de Vigilância contra o Anti-semitismo (BNCVA) declarou à imprensa que já são 80 acusações relativas a incidentes semelhantes, em toda a França. Estes processos são resultado das declarações enganosas proferidas pelo Primeiro-Ministro Fillon e o ministro do interior Hortefeux, bem como as instruções recentemente emitidas aos magistrados pelo ministro da justiça Alliot -Marie.

Este é um ataque sem precedentes sobre a campanha BDS engendrado pelas agências pró-Israel em conluio com o governo Sarkozy, cujas medidas racistas contra os ciganos estão causando indignação em toda a Europa.

Para coroar tudo isso, essas acusações estão baseadas em uma lei de 29 de julho de 1881 para atacar os ativistas BDS “... A grande ironia é que essa lei penaliza a prática de “... ódio , discriminação ou violência contra pessoa ou grupo devido à sua origem ou devido a pertencer ou não a uma determinada etnia, raça, nação ou religião ".

Queremos perguntar, então:

Quem, com total impunidade, está praticando violência e discriminação em uma base diária nos Territórios Ocupados da Palestina?

Quem, com total impunidade, aprova a legislação do apartheid contra os próprios palestinos concidadãos?

Quem, com total impunidade, comete crimes de guerra, e chacinas e persegue a população civil na Cisjordânia e em Gaza?

Quem, com total impunidade, estão violando a lei internacional, colonização e exploração os recursos dos territórios ocupados?

Quem, com total impunidade, tem imposto nos últimos cinco anos um cerco mortífero à Faixa de Gaza?

É Israel que está violando a lei internacional quando pratica a ocupação, a colonização, a apartheid e os crimes de guerra; quando nega os direitos dos presos e os direitos dos refugiados.

É Israel que devem ser cobrados na justiça!

O objetivo da campanha BDS é obrigar Israel a respeitar a lei.

Por que o sistema jurídico francês condena os cidadãos que realizam ações pacíficas para que a lei seja respeitada e aplicada? Cidadãos franceses que pedem boicote, desinvestimento e sanções contra Israel são impulsionados pela necessidade urgente de acabar com a sistemática violação da lei por parte de Israel e inabalável impunidade que lhe foi concedida pelo governo francês.

A campanha BDS/ França apela a uma ampla manifestação de apoio a todos aqueles, sem exceção, que estão sendo processados por causa de suas ações de boicote e exige que Israel seja indiciado e que as comissões de apoio sejam estabelecidas e desenvolvidas em todo o país.

A campanha BDS/ França está colocando sua equipe de advogados ao serviço daqueles que estão sendo processados e de todos os ativistas do BDS. A partir de agora, a campanha para promover BDS e indiciar Israel deve ser ainda mais reforçada. Devemos utilizar as próximas manifestações como oportunidades para demonstrar a força de nossa campanha, comparecendo em grande número.

BDS Campanha França

www.bdsfrance.org

campagnebdsfrance@yahoo.fr

Membros da França BDS Campanha: filisteu ABNA, Aliança para a liberdade edignidade, a Alternativa Libertária , américains contre la guerre, américains pour la paix ET la justiça Montpellier, Associação dos Palestiniens en France, Associação dostravailleurs magrebinos en France, Associação dos tunisiens en France, AURDIP ,CCIPPP , féministes Collectif des pour l' égalité, Collectif judeo arabe et pour citoyenla paix , Collectif des musulmans de France, palestiniens Comités pour le Droit auretour , Comités BDS França Clichy Palestina, BDS França Montpellier, França BDSNord Est , Orne Palestina, BDS Mulhouse, AFPs Gennevilliers, AFPs/ Cruas , BDS Ardèche Méridionale , CNT, CAPJPO - europalestine ,A coordenação inter- associativa pour la Palestina, Coordenação de acção pour l ' nãoviolente de l' Arche , artesãos Fédération du monde , Fédération des Tunisiens pour unedes Deux Rives citoyenneté , Federação pour une alternativa sociale et écologique ,Fórum bairros sociais des populaires , União Geral dos Estudantes Palestinos ,Génération Palestina, La guerre ter - Toulouse, Parti des Indigènes de la République ,Mouvement des objecteurs de croissance , quartiers Mouvement pour la des justiça sociale , banlieues imigrações Mouvement , Mouvement pour une alternativa não violente , a ANP et musulmanes spiritualité Réseau juif internacional antisioniste ( IJAN ), Respaix , consciências Réveil des , Stop Toulouse apartheid, Une toile contre le mur - Annemasse, Solidaires União Sindical , Union des travailleurs tunisiens immigrés , União Juive française pour la paix . 
 

Análise sobre o PSOL e o segundo turno presidencial

101010_psol1 Raphael Tsavkko - Dilma ficou no quase, Serra foi além do esperado, Marina surpreendeu e Plínio decepcionou.
Dilma foi vítima da imprensa golpista e da incessante criação de factóides, e também de suas mudanças de discurso. Marina conseguiu uma façanha, juntou de maconheiros à hypes, de filhinhos de papai do Leblon-Jardins e evangélicos fundamentalistas.
Plínio, por outro lado, perdeu votos para Marina, especialmente entre a juventude e, ainda mais, perdeu votos dentre os de esquerda que preferiam enterrar Serra do que aguentar um segundo turno, que promete ser absolutamente sujo.

Mas, agora, precisamos pensar adiante. O que fazer no segundo turno?

As demonstrações de superação de seu sectarismo infantil, em algumas esferas do PSOL, podem não ser suficientes para que isto se transforme em um apoio à Dilma no segundo turno, ou mesmo ao Agnelo no Distrito Federal e assim por diante. Imagino que, internamente, Heloísa Helena, ferida, esteja se mexendo para garantir uma neutralidade por parte do partido, neutralidade esta que significa dar vantagem aos fanáticos evangélicos e ao DemoTucanato.

É hora de unificar as esquerdas e buscar puxar o discurso de Dilma, ou ao menos suas práticas numa possível vitória, para a esquerda.

Obviamente enfrenta-se um dilema moral. Muitos no PT dão como certa a migração dos votos da Esquerda (PSOL, PSTU, PCB) para o PT. É um erro tático muito grave. Os votos do PSOL até podem, na maioria, migrar, mas PSTU e PCB tem um público diferente e, mesmo pequenos, cada voto contará em um segundo turno apertado.
Para o segundo turno contam esses votos: mais da metade concentrados em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além do DF, onde ela ficou em primeiro lugar. Qualquer que seja a decisão de apoio no segundo turno – a convocação de assembléias para definir deve confirmar a tendência a abstenção, tornando mais difícil a operação política da direção de apoiar Serra -, esse eleitorado se orientará, em grande medida, não pela decisão partidária, ficando disponível para os outros candidatos. Em 2006, nem o PSol conseguiu que seus votos deixassem de ir para outros candidatos, desobedecendo a orientação do voto em branco.
Estamos diante de uma campanha suja, difícil, baixa, e se a esquerda abandonar o PT ao PMDB de mãos beijadas, veremos barbaridades acontecendo. Às vezes é necessário pragmatismo, responsabilidade.

Não digo um apoio automático, programático. Mas é preciso se fazer uma critica imensa internamente  e compreender que, talvez, apenas se colocar contra Serra não seja suficiente. Puxar voto nulo pode ser não só insuficiente, como pode ajudar as forças de direita.

Sou o primeiro a criticar o PT e o governo na sua falta de comprometimento com diversos pontos importantes ao movimento social. Não só não houve Reforma Agrária - nem sequer um ensaio - como a idéia parece ter sido abandonada pelo partido num provável novo governo.

Isto é condenável e vergonhoso. Mas é igualmente condenável e vergonhoso o papo de que PT e PSDB são iguais. De fato ficarão mais parecidos enquanto a Esquerda permitir que o PMDB se aproxime mais e mais, enquanto fizer uma oposição inconsequente em mitos casos.

É através dos movimentos sociais que se compõe a luta, mas também no parlamento. Abandonar o PT ao PMDB e até mesmo permitir que Serra ameace seriamente em conjunto com a Onda Verde que em sua grande maioria é uma Onda Azul, é extremamente inconsequente.

O apoio deve ser crítico. Deve-se deixar claras as inúmeras discordâncias, mas unir o possível pelo bem comum, pela manutenção de alguma esperança e contra a substituição pelo que representa o atraso religioso com a intransigência e sanha privatista e intolerante.

Acredito que é impossível uma aliança plena entre PT e PSOL. Alguns pontos podem ser debatidos, mas outros não são passíveis de contemporização. De um lado acredito que o PSOL possa abrandar as críticas a alguns programas como Bolsa Família, ProUni e etc, ou ao menos centrar as críticas e torná-las produtivas, por outro lado, questões como Reforma Agrária e Urbana não são passíveis de qualquer contemporização.

Mas, mesmo assim, acredito que, mesmo criticamente, um apoio, possa aproximar os setores da esquerda do PT com o PSOL e outros partidos de esquerda que queiram compor e até mesmo possa fortalecer os movimentos sociais.

Ouvi comentários de que o PT não hesitaria em apoiar o PSOL se a situação fosse inversa. Justo. Mas não nos esqueçamos de que quem abandonou diversas bandeiras históricas foi o PT. O PSOL as manteve, logo, seria muito mais simples para o PT apenas resgatar seu passado que o PSOL abandonar seu presente.

Chamar pelo voto nulo ou abstenção é um tiro no pé que inviabilizaria todas as conquistas e superações de sectarismo por parte do PSOL. Apoiar abertamente a Dilma talvez desagradasse aos setores mais radicais do partido e, por fim, se opor ferrenhamente ao Serra e deixar o voto livre aos filiados e militantes poderia ser um meio-termo mais aceitável.

Devemos, pois, aguardar e torcer.

E a defesa dos direitos?


por Silvio Caccia Bava
Sem o MST, a violência no campo seria muito maior. Ele reúne, acolhe, inclui, dá dignidade e transforma o sentimento de revolta em ação coletiva, defende propostas de políticas públicas, politiza essas demandas. O mesmo pode-se dizer de movimentos sociais como os movimentos de moradia, de saúde, dos catadores, dos quilombolas, das mulheres, dos negros, e outros. Ao se constituírem como movimentos, eles vocalizam demandas de amplos setores da sociedade que se encontram, ainda, privados de seus direitos. São as pressões da sociedade sobre o sistema político que dão origem às mudanças e às novas políticas públicas.
Ainda que a grande imprensa continue a criminalizar os movimentos sociais, a sociedade brasileira mudou e reconhece a manobra. Estes movimentos, hoje, são reconhecidos, legitimados, com canais de interlocução com o governo federal. Eles têm papel fundamental na ampliação de nossa democracia. Eles se apresentam para a sociedade e trazem para o plano público e da política a questão da desigualdade e da injustiça. 
Mas os movimentos não brotam só da insatisfação popular. Para que eles surjam há todo um trabalho feito por redes de entidades, de associações de moradores, de sindicatos, de ONGs, fóruns de defesa de direitos, e mesmo pelas paróquias que ainda são progressistas. É nessas articulações heterogêneas que os indivíduos se organizam em coletivos, e daí surgem os movimentos sociais, quando surgem. 
Desde o fim dos anos 1970, em plena ditadura, um pequeno grupo de entidades se forma com apoio e solidariedade internacional. São ONGs que se constituem para apoiar a organização coletiva e a luta por direitos, nesse momento muito ligadas à igreja católica, às comunidades de base e à teologia da libertação. Sua especialidade: educação popular. Desenvolviam também trabalhos com clubes de mães, com a pastoral operária, com as associações de moradores. Nos anos 1980 as mudanças são grandes, com a construção de entidades nacionais, como as centrais sindicais, a Central de Movimentos Populares, a Confederação Nacional de Associações de Moradores, e outras. É o momento em que se destacam algumas redes e fóruns, como o Fórum Nacional da Reforma Urbana e o Fórum Nacional de Participação Popular.
Em todas estas redes está presente esse tipo particular de ONGs que se organiza para a defesa de direitos. Muito do trabalho de sistematização, de organização do debate público, de elaboração de propostas, conta com a expertise dessas ONGs, que agora são mais especializadas, justamente para corresponder à necessidade de ações mais propositivas.
Como a nossa democracia, assim como o respeito aos direitos, ainda são processos inacabados em nosso país, esse tipo particular de ONGs continua dando importantes contribuições até hoje. Muitas delas, não todas, se reúnem na Associação Brasileira de ONGs – a Abong.
E veio, agora, da Abong, o alerta de que suas associadas estão em perigo de vida. Paradoxalmente, a boa imagem do Brasil no exterior, associada à crise na Europa, levou a cooperação internacional, em grande parte, a suspender o financiamento dessas ONGs de defesa de direitos no Brasil. Pesquisas indicam uma redução do financiamento da ordem de 50%, do ano passado para este. 
A democracia brasileira precisa desses grupos de cidadãos e cidadãs que se organizam para a defesa de direitos. O seu trabalho, em sua diversidade, é de interesse público e deve ser valorizado e apoiado pelos cidadãos e pelos poderes públicos. Essas ONGs guardam a particularidade de ser produtoras de conhecimento, se envolvem com pesquisas, diagnósticos, sistematizações, análises, trabalho que é fundamental para dar sentido propositivo às pressões sociais. Especialmente porque, ao apresentarem propostas alternativas, vocalizam o dissenso, os conflitos, dão vida ao sistema político democrático. Os movimentos sociais, as redes de cidadania, os cidadãos e cidadãs, de uma maneira geral, se beneficiam com esse trabalho.
Pedir ao governo federal, com urgência, medidas de financiamento público para essas entidades é legítimo e necessário. Na Índia, assim como na Suécia e em outros países, há mais de dez anos, por lei, existe o financiamento público dos trabalhos dessas ONGs, com total respeito à sua autonomia. Não se trata de socorrer um grupo de entidades em crise de financiamento, se trata de tomar decisões políticas que assegurem o importante papel da sociedade civil brasileira na construção de nossa democracia.

Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.

sábado, 9 de outubro de 2010

Bolívia consolida descolonização com novas leis


Imagen activa 

Com duas novas leis, promulgadas pelo governo boliviano nesta semana, consolida-se o processo de descolonização, segundo Palacio Quemado.

  Ao apresentar à nação a norma que permite julgar e sancionar todas as autoridades e a lei contra o racismo, o presidente Evo Morales precisou que foi necessário esperar 184 anos para que o Estado Plurinacional e as organizações sociais impulsionassem e ratificassem essas antigas reivindicações.

Morales explicou que com a Lei de Julgamento ao Presidente ou Vice-presidente, autoridades do poder judicial e legislativo, põe-se fim à impunidade no país.

A respeito da Lei contra o Racismo e Todo Tipo de Discriminação, de cinco capítulos e 24 artigos, Morales considerou que não atinge somente aos meios de comunicação, alguns dos quais se recusam a aceitá-la por verem nela uma mordaça à liberdade de expressão e a democracia.

Liberdade de expressão não é expressão de racismo, comentou o estadista ao assinalar exemplos de comunicadores que estimulam os abusos e as ofensas a setores indígenas e camponeses.

Nesse sentido considerou como irreversível e como caminho sem volta as atuais transformações que identificam a Revolução democrática e cultural iniciada em 2006.

Nesta semana, escutou-se um novo chamado à unidade na região altiplânica de Oruro que celebrou 200 anos de Independência do domínio colonial espanhol.

Durante esses festejos, aos quais assistiu o presidente Morales, o

secretário geral de governo do departamiento, Édgar Sánchez, assinalou que agora pode-se falar também da unidade de todas as orurenhas e orurenhos como quando começou a luta pela libertação.

Sánchez alentou a ratificar o compromisso com o desenvolvimento, a unidade e a convivência em paz, aludindo à vocação produtiva dos orurenhos.

Também nesta semana, Bolívia e Venezuela realizaram na cidade de La Paz a primeira transação financeira de venda a Caracas de cinco mil toneladas de azeite de soja, com o uso do Sistema Único de Compensação Regional (SUCRE), como moeda de mudança.

Na cerimônia produziu-se uma teleconferência com a participação de Morales e seu par venezuelano, Hugo Chávez, na qual ambos ratificaram a importância desse mecanismo para libertar do dólar estadunidense e do Fundo Monetário Internacional.

De outra parte, representantes de diferentes nações da América Latina também recordaram o 43 aniversário do assassinato de Ernesto Che Guevara com um percurso por lugares históricos de Vallegrande e La Higuera (Santa Cruz).

Cubanos, venezuelanos, bolivianos, argentinos, chilenos, equatorianos e brasileiros, entre outros participantes em um foro internacional percorrerão lugares históricos do lugar, entre eles a réplica da escolinha onde os assassinos de Che Guevara o imortalizaram a 9 de outubro de 1967.

Na homenagem participarão também os integrantes das missões diplomática, médica, educativa e de trabalhadores sociais de Cuba e Venezuela que colaboram com o processo de mudança que entranha a Revolução democrática e cultural, encabeçada pelo presidente boliviano, Evo Morales.

Fonte: PrensaLatina




Eleição, aborto e a infantilização da religião




Jung Mo Sung * Adital
 

Por que bispos, padres e grupo religiosos que sempre defenderam a separação radical entre a religião e política, que sempre criticaram a discussão política no âmbito da Igreja ou até mesmo a relação "fé e política", estão fazendo, até mesmo nas missas, campanha aberta contra Dilma?
Uma primeira resposta poderia ser: hipocrisia. Respostas moralistas podem satisfazer o "juiz moralista" que todos nós carregamos no mais profundo do nosso ser, mas não são boas para nos ajudar a entender o que está acontecendo.
Esta campanha contra a candidatura da Dilma, e com isso o apoio explícito ou implícito à candidatura do Serra, está sendo feita de várias formas, mas com um elemento comum: os católicos e os "crentes" não devem votar nela porque ela seria a favor do aborto e, por isso, contra a vida. Alguns agregam também a acusação de que, se ela for eleita, as TVs católicas e evangélicas seriam proibidas de veicular os programas religiosos ou obrigadas a diminuir o seu tempo de duração. É a velha acusação de que "comunistas" são contra a religião.
Essas duas acusações são expressas e justificadas através de lógicas religiosas, e não a partir da "racionalidade leiga" que deve caracterizar a discussão sobre a política hoje. Esses grupos não admitem a distinção entre a religião e a política, ou melhor, não admitem a "autonomia relativa" do campo político e de outros campos -como o econômico- que se emanciparam da esfera religiosa no mundo moderno. Por isso, eram e são contra "fé e política" ou o debate sobre a política no campo religioso, pois esses debates são feitos normalmente a partir do princípio da autonomia relativa da política. Isto é, a discussão sobre questões políticas são feitas com argumentos de racionalidade sócio-política e não submetidos ao discurso meramente religioso.
Para esses grupos (é preciso reconhecer que ocorre também em outros grupos político-religiosos), os valores religiosos (do seu grupo) devem ser aplicados diretamente a todos os campos da vida pessoal e social. E, em casos graves como aborto, ser impostos sobre toda a sociedade através das leis do Estado. Nesses casos, não seria misturar a religião com a política, mas seria a "defesa" dos mandamentos e valores religiosos; ou colocar a política a serviço dos valores religiosos (nessa discussão apresentados como "a serviço da vida"). Pois, nada estaria acima dos "mandamentos de Deus". Desta forma não se reconhece a autonomia relativa do campo político, a dificuldade de se passar do princípio ético abstrato (do tipo "defenda a vida") para as políticas sociais concretas, e muito menos se aceita a pluralidade de religiões com valores diversos e propostas de ação divergentes e conflitantes.
Esta é a razão pela qual esses grupos não entendem e nem aceitam a resposta dada por Dilma de que ela, pessoalmente, é contra o aborto, mas que ela vai tratar esse tema como um problema de saúde pública. Para ouvidos daqueles que crêem que não há ou não deve haver separação entre a saúde pública (o campo da política social) e a opção religiosa pessoal do governante, a resposta da Dilma soa como eu não sou contra o aborto, que logo é traduzido na sua mente como "eu sou a favor do aborto".
E se ela é a favor do aborto, ela é contra a vida e, portanto, ela é do "mal". Enquanto que, por oposição, o outro candidato seria do "bem".
Reduzir toda a complexidade da "defesa da vida" -a que um/a presidente deve estar comprometido/a- à manutenção da criminalização do aborto (que é o que está discutido de fato neste debate sobre ser a favor ou contra o aborto) é uma simplificação mais do que exagerada. Simplificação que deixa fora do debate, por ex., toda a discussão sobre políticas econômicas e sociais que afetam a vida e a morte de milhões de pessoas. Mas é compreensível quando os cristãos têm muita dificuldade em perceber quais são os caminhos concretos e possíveis para viver a sua fé na sociedade, perceber em que a sua fé pode fazer diferença na vida social. Diante de tanta complexidade, a tentação mais fácil é simplificar o máximo para separar "os do bem" de "os do mal".
Essa simplificação me lembra a pergunta que os meus filhos, quando muito pequenos, me faziam ao assistir um filme: "pai, ele é do bem?" Se sim, eles torciam por aquele que "é do bem" contra o "do mal". Essa necessidade de separar os do bem e os do mal faz parte da condição mais primária do ser humano. O problema é que reduzir toda a complexidade da luta em favor da vida ao tema de ser favor ou contra a manutenção da criminalização do aborto é infantilizar a discussão política e, o que é pior, é infantilizar a própria religião que professa.
[Autor, em co-autoria com Hugo Assmann, de "Deus em nós: o reinado que acontece na luta em favor dos pobres"].

* Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mino Carta: acabou o tempo de golpismo da patética mídia nativa

As velhas redações acreditavam em jornalismo honesto. Não é o caso das nossas semanais. Jornais e revistas ainda não perceberam que os tempos de golpismo acabaram e acreditam manter a velha in fluência do Oiapoque ao Chuí.


Por Mino Carta, na CartaCapital

Ocorre-me recordar Claudio Marques, que se dizia jornalista como tantos outros dispostos a enganar o público e, eventualmente, a si próprio. Assinava uma coluna no Shopping News, jornal publicitário de circulação gratuita na São Paulo de 1975.

Tempo de ditadura e de recrudescimento do Terror de Estado após o discurso dito “da pá de cal”, pronunciado no começo de agosto pelo ditador Ernesto Geisel para avisar aturdidos navegantes que “a distensão lenta, gradual, porém segura” haveria de sofrer uma interrupção. Foi nesta ocasião que Ulysses Guimarães, em pronunciamento na Câmara, comparou Geisel a Idi Amin Dada.

Pois Claudio Marques, caçador de comunistas agachados atrás de cada esquina, passava seu tempo a denunciar os vermelhos comandados por Vlado Herzog, a cujos cuidados estavam entregues os programas noticiosos da TV Cultura. Marques contava com a aprovação ampla, geral e irrestrita do DOI-Codi, ex-Operação Bandeirantes, e foi enfim premiado com a prisão, ou melhor, o sequestro dos jornalistas alvejados, a começar por Herzog, assassinado pelos torturadores no mesmo dia em que deu entrada no quartel do DOI-Codi. Dia 25 de outubro, um sábado.

Os tempos mudaram, felizmente. Não há mais torturadores e porões para hospedá-los e aos seus instrumentos, por exemplo. Há, entretanto, herdeiros de Claudio Marques afinados com os dias de hoje e ainda velhacos e daninhos. A semelhança entre o caçador de comunistas a serviço do DOI-Codi e esses jornalistas (jornalistas?) é percebida pela obsessiva preocupação que cultivam desde a primeira eleição de Lula com a quantidade de anúncios governistas nas páginas de CartaCapital. Trata-se, obviamente, de uma ofensa gravíssima ao pretender insinuar, com leveza de britadeira, que vendemos a alma ao Sapo Barbudo. Alguém, no meio da tigrada, proclama: CartaCapital não tem credibilidade.

Não ouso afirmar que a vice-procuradora da Justiça Eleitoral Sandra Cureau (pronuncie Quirrô) seja sucedâneo do DOI-Codi. Creio, porém, que na sua ação inquisidora desfechada contra esta publicação ela tenha levado em conta as aleivosias assacadas contra nós por sem-número de colegas (colegas?), embora não tenha dúvidas quanto à origem tucana da assoprada final e decisiva: o candidato José Serra gosta de dar telefonemas. Assim como não me abalo a crer que o nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff seja determinante. Obrigatórios sim, a definição e seus motivos desde o começo da campanha oficial, como se dera em 2002 e 2006 em relação a Lula. Dever para com os eleitores.

Registro que o Estadão no domingo 26 decidiu desvendar a evidência. Um humorista diria: surpresa, estão com o Serra, e eu que até ontem não tinha percebido. Melhor o Estadão, de todo modo, do que o resto da tropa de choque, Globo, Folha, Veja, a agirem como partido político, conforme a óbvia constatação do presidente da República. Barack Obama foi além quando disse que não daria entrevista à Fox porque esta não era órgão midiático e sim “partido político”.

Lula errou, na nossa visão, ao afirmar: “A opinião pública somos nós”. A frase é certamente perigosa. Da mesma forma foi erro incluir tempos atrás no programa de governo a criação de uma entidade destinada a classificar os órgãos da mídia ao sabor dos seus comportamentos em relação aos direitos humanos. Esta não é tarefa governista, e CartaCapital não usou meias-palavras na ocasião para condenar a iniciativa. Diga-se que o prato indigesto saiu prontamente do cardápio, graças a uma barganha lamentável pela qual se fez a felicidade dos torturadores da ditadura e dos seus mandantes, muitos já no além, ao aceitar a ideia da anistia polivalente.

CartaCapital reprovou também a criação de uma tevê pública federal por enxergar de saída o seu inescapável destino: servir ao poder contingente, como se dá com a Cultura paulista, em mãos tucanas há 16 anos. Resta ver se o Brasil estaria maduro para uma tevê estatal, nascida do entendimento de que esta há de ser uma instituição permanente a servir à nação em lugar do governo do momento. Sinceramente, não aposto nesta maturidade.

O fenômeno que mais me aflige põe-se, no entanto, a propor por quês. Por que os profissionais da mídia nativa aderem tão compacta e fervorosamente ao pensamento dos patrões? Por que lhe tomam as dores como se eles mesmos pertencessem à categoria? Uma premissa. Em termos econômicos, a situação nas redações é semelhante àquela da população brasileira em geral. Os jornalistas graúdos, assinaturas celebradas, ganham mais que os colegas americanos e europeus, e nem se fale dos salários da nossa televisão. Astronômicos, trafegamos entre nababos. Na zona cinzenta flutuam os remediados. À ralé sobra esperança. A maioria dos recém-formados não tem emprego. Este, ninguém que conseguiu quer perder.

Pode-se concluir que os graúdos curvam-se diante da generosidade patronal enquanto os miúdos em tempos bicudos contentam-se com as migalhas? Talvez a explicação valha em relação a muitos casos graúdos e miúdos. Mas há que se ressaltar, em relação a outros, o ardor com que assumem os interesses do patrão. Estamos diante de uma identificação visceral, a ponto de justificar, no meu ponto de vista, uma investigação profunda a se valer das lições de Balzac e de Freud. Ambos ficariam muito impressionados, creio eu, ao registrar que os profissionais nativos chamam o patrão de colega, e nisto são únicos no mundo. Quem sabe mais ainda Balzac do que Freud.

No mais, vale acentuar que esta unicidade, esta exclusividade, invade outros terrenos. Um: o nosso sindicato se dispõe de bom grado a oferecer aos empresários da comunicação carteirinha de jornalista. Dois: sem falar da mediocridade dolorosa, a nossa mídia é única na sua capacidade de se alinhar de um lado só na hora de uma eleição, por exemplo. E não somente nesta. Mundo democrático afora vigora o pluralismo que a Folha de S.Paulo, com inefável hipocrisia, afirma existir em suas páginas. Nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Alemanha, só para citar alguns países, tem vez o jornalismo de todas as tendências. Aqui não, só existe uma, a favor da minoria privilegiada.

O que espanta é a tenacidade com que essa mídia permanece atada ao passado oligárquico. Os editoriais de hoje são absurdamente iguais àqueles de 47 anos atrás, que invocavam o golpe para impedir a cubanização do Brasil. Agora falam em mexicanização e venezuelização, e clamam contra o assalto à democracia e à liberdade de imprensa, perpetrado pelo presidente da República e seu partido e fadado a prosseguir à sombra de Dilma Rousseff.

Durante o ano de 1963 e nos primeiros meses de 1964 anunciavam a iminente marcha da subversão. Nunca passou. Veio foi a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, de imponentes efeitos subversivos. E lá se foi a liberdade, com a bênção dos editorialistas. Os quais aí estão agora para prestar seu solerte serviço. Salvo raras exceções, editorialistas, colunistas, articulistas. Diretores, redatores-chefes, editores, repórteres. A turma toda.

Os colegas do lado de lá, um exército, prestam-se a acusar sem provas, omitir fatos, frequentemente mentir com a expressão do dever cumprido. Encantou-me, na Folha de S.Paulo de segunda 27 a entrevista da vice-procuradora Sandra Cureau, aquela que atendeu a uma entrevista anônima para cometer uma inominável prepotência contra CartaCapital, esta sim, verdadeiro atentado à liberdade de imprensa. Mas a entrevistadora ali estava para agradar à doutora, a ponto de mencionar seus cabelos loiros e olhos azuis. Nem foi capaz, está claro, de uma única, escassa pergunta a respeito da ação movida contra nós.

Recordo que na semana passada manifestamos a certeza de que não contaríamos com a solidariedade dos barões da mídia e dos seus sabujos, bem como das chamadas entidades de classe. Aqueles são mestres em mau jornalismo. Mas será mesmo jornalismo? Quanto a estas, confirmam apenas a sua patética inutilidade. Para não dizer do viés tendencioso, ou francamente alinhado.

Patética é também um bom qualificativo para a atuação da mídia nativa ao longo deste ano, iniciado com a previsão de uma retumbante vitória tucana. E quando se viu que o ardil de Lula funcionava e que Dilma crescia graças inclusive ao seu próprio desempenho, começou a sarabanda.

Não se diga que os velhos morteiros deixaram de funcionar. É inegável, porém, que munição foi oferecida de graça pelo próprio PT, mais uma vez, do seu lado a dar tiros no pé. Está claro que o fogo aberto para denunciar ameaças à democracia e à liberdade de imprensa não passa de tentativa frustrada de invocar fantasmas do passado. Pesou, isto sim, o caso Erenice, no qual se mesclam dois fenômenos tão antigos quanto os fantasmas, contudo resistentes, dois vícios gravíssimos da tradição verde-amarela, dois pecados impredoáveis: nepotismo e clientelismo.

É espantoso: a rapaziada ainda não percebeu que o País mudou em latitude e longitude em relação à época do golpe. Certo é que a mídia detinha amplo poder há 50 anos, quadra favorável à influência dos ditos formadores de opinião. Bastava alcançar os senhores da minoria e seus aspirantes para alcançar os fins buscados.

Desta vez com o segundo turno, a mídia poderá enxergar no resultado um prêmio de consolação. Vale sublinhar, entretanto, que o PT concedeu espaço exagerado aos seus aloprados, como já houve em outras ocasiões, e mostrou, assim, lacunas sérias na organização e na união. Cabe ao presidente da República anotar que muitos dos problemas surgidos para seu governo tiveram sua origem nas fileiras petistas.

Os coronéis ainda mandavam em largas áreas e na hora da eleição lotavam a caçamba do caminhão depois de colocar a cédula preenchida nas mãos dos seus peões. Chamava-se voto de cabresto, e dava certo. Esse gênero de penosas tradições foi tragado pela transformação de um país então de 70 milhões de habitantes e hoje de 200. E com os documentos em dia para chegar logo à maioridade, à contemporaneidade do mundo.

Os senhores não apreciam a perspectiva e torcem contra. Deixa como está para ver como fica. O primeiro ato da debacle foi encenado na eleição de Fernando Henrique Cardoso e no seu segundo mandato. Cabe a ele o papel de primeiro motor da mudança, a ser concretizada no governo Lula.

FHC em 2002 lança sobre seu candidato José Serra uma sombra espessa e maligna. Com baixo índice de aprovação e pífia atuação, de sorte a deixar ao sucessor burras à míngua, o príncipe dos sociólogos torna-se cabo eleitoral de Lula. A maioria tira do governo FHC lições evidentes e parte para a votação inédita, a favor do ex-metalúrgico em vez do costumeiro bacharel engravatado. A identificação com o igual cresce naturalmente, não é imediata nas proporções que fermentarão em seguida.

A maioria não é mais aquela, a pressão dos patrões e dos capatazes não a condiciona e, principalmente, não lê jornal e ao Jornal Nacional prefere a novela e os Faustões da vida. Os editoriais e as manchetes mantêm, contudo, o tom de outrora, na desmiolada convicção de atingir a todos, do Oiapoque ao Chuí.

De todo modo, não nos iludimos quanto à possibilidade de uma redenção da mídia, pelo menos a curto prazo. Os caminhos são conhecidos porque experimentados com ótimos resultados em países mais adiantados. Difícil, por ora, percorrê-los. Trata-se de criar leis para limitar o monopólio da comunicação e conter a influência patronal nas redações, ao se cancelar, inclusive, e de vez, a figura do diretor de redação por direito divino.

Leis nesse sentido estão em vigor em países de democracia mais antiga e protegida. Aqui é dramaticamente visível, como cabo das tormentas em meio ao mar revolto, o obstáculo representado pelo próprio Congresso, que deveria debater e aprovar as novas leis. Inúmeros deputados e senadores são donos de instrumentos midiáticos e não é por aí que rapidamente chegaremos a uma solução aceitável, assim como não seria se o governo pretendesse ditar as regras.

Sobram perguntas, angustiantes: o que haverá de ler, ou ouvir, o cidadão consciente quando interessado em saber dos fatos? Em quem confiar no espectro sombrio da mídia nativa? Como distinguir entre a informação honesta e a opinião eventualmente distorcida, corrompida até pelo partidarismo?

* Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital