Felipe Prestes no Sul21
A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) promete anunciar a composição
de seu ministério até o dia 15 de dezembro. Nesta semana, a petista
começa a montar, junto com a equipe de transição, o quebra-cabeça que
envolve os pleitos de cada partido da base aliada e os critérios
técnicos para a escolha dos nomes. Oito gaúchos estão cotados para
compor o primeiro escalão. Três deles fazem parte do governo Lula e
podem permanecer: o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme
Cassel, o presidente da Petrobras Biocombustíveis, Miguel Rossetto,
ambos do PT; e o ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB).
Também circulam nos bastidores os nomes dos deputados federais Mendes
Ribeiro Filho (PMDB), Maria do Rosário (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB) e
do ex-governador Olívio Dutra (PT). Os quatro negam estarem pleiteando o
posto de ministro. O deputado federal Beto Albuquerque (PSB) vai na
direção oposta: garante que está lutando por um lugar no ministério.
Convidado por Tarso Genro para ocupar a Secretaria de Infraestrutura
do RS, o socialista afirma que, ainda antes do convite, já pleiteava um
ministério em um provável governo Dilma. Ele esclarece também que vai
buscar este espaço dentro das instâncias partidárias do PSB, não em
interlocução direta com integrantes da transição. “Quando o Tarso me
convidou para compor o governo estadual eu lhe manifestei que disputaria
o espaço nacional que coubesse ao PSB”, diz Beto Albuquerque.
O deputado federal reeleito afirma que a possibilidade de participar
do governo não fica restrita às áreas de infraestrutura e transportes
(Beto já foi secretário dos Transportes no governo Olívio, sendo
inclusive colega de Dilma Rousseff, que era secretária de Minas e
Energia). Ele aponta como prováveis “concorrentes” dentro do PSB o
presidente do PSB paulista Márcio França e o ex-ministro da Integração
Nacional Ciro Gomes, que participou com sucesso da coordenação de
campanha de Dilma.
As perspectivas para Beto Albuquerque são boas, porque o PSB, que
hoje ocupa dois cargos de primeiro escalão – a Secretaria Especial dos
Portos e o Ministério de Ciência e Tecnologia – saiu fortalecido da
última eleição. Em 2011, será o partido da base aliada com mais
governadores. O PSB também aumentou sua bancada no Congresso. “Há
imposição pelo resultado das urnas de que o PSB aumente seu espaço no
governo”, diz Beto Albuquerque. “O PSB ganha peso político após a última
eleição”, concorda o petista João Motta, futuro secretário de
Planejamento do Governo Tarso.
Beto ressalta, contudo, que o PSB não teve qualquer conversa oficial
com Dilma Rousseff. Não houve, portanto, uma definição sobre quantos e
quais ministérios o partido deve ocupar. Além disso, acredita que os
nomes indicados pelo PSB também dependerão de uma anuência da presidente
eleita. “Depende da presidente, da disposição dela”.
Indefinições
Dilma Rousseff começou apenas nesta semana a definir os critérios
para a escolha dos ministros. “Dilma tomou conhecimento de tudo ontem
(16). O Dutra, que estava comandando a transição passou para ela. Eles
devem estar montando o quebra-cabeça hoje (17)”, diz o prefeito de São
Leopoldo Ary Vanazzi, que participou da coordenação de campanha de Dilma
no estado.
O próprio PT ainda não definiu quem indicará para o governo e que
espaço pretende ocupar no primeiro escalão, discussão que será realizada
nesta quinta-feira (18), em reunião da Executiva nacional. O presidente
nacional do partido, José Eduardo Dutra, deve esclarecer aos membros da
Executiva do PT quais os critérios definidos pela transição para a
composição do governo.
No Rio Grande do Sul, o PT também não tem nenhuma definição sobre
indicações que poderá fazer ao futuro governo federal. O presidente
estadual do partido Raul Pont explica que haverá uma reunião da
Executiva estadual partido na segunda-feira (22) na qual o partido pode
decidir por indicar nomes que achar adequados para ocupar ministérios e
também cargos do governo federal no RS.
Por ora, petistas acreditam na permanência de Guilherme Cassel e
Miguel Rossetto, e também lembram o nome da deputada federal Maria do
Rosário, que poderia ocupar a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República. Raul Pont, que faz parte da mesma corrente
interna que Cassel (a Democracia Socialista), afirma que o ministro do
Desenvolvimento Agrário tem manifestado interesse em deixar o
ministério, mas, contraditoriamente, crê que Cassel pode permanecer no
MDA. “Ele tem dito que não tem interesse em continuar, mas acredito que,
se houver o convite para permanecer, ele pode aceitar”.
Sem pretensão por cargos
Correntes do PT já se articulam para que o ministério seja ocupado
por Olívio Dutra, se Cassel deixar o cargo. O prefeito de São Leopoldo,
Ary Vanazzi, afirma que “tem um grupo do PT que o está bancando para o
lugar do Cassel”. Coincidência ou não, Vanazzi faz parte da mesma
corrente de Olívio Dutra, a Articulação de Esquerda.
O ex-governador, por sua vez, garante que não luta para ser ministro.
Olívio Dutra diz que apenas viu na imprensa que seu nome circulava como
possível ministro e que não autorizou ninguém a postular a ocupação
deste posto. Também garante que conversas sobre ocupação de ministérios
não estão na sua agenda. “Não autorizei ninguém a fazer qualquer
postulação em meu nome. Não pleiteio ser ministro e não tenho tido
conversas sobre esse assunto. Apenas vi na imprensa”.
Maria do Rosário, por sua vez, demonstra certo constrangimento em
falar sobre a possível indicação para o cargo de ministro. A parlamentar
aparenta preocupação em mostrar que não está querendo forçar a barra
para fazer parte do primeiro escalão de governo, mas também demonstra o
desejo de estar em um ministério: “Estas coisas quanto mais a gente
fala, menores são as chances de acontecer”, diz.
Rosário garante que não tem a pretensão de ser ministra, mas que
aceitaria fazer parte do governo caso convidada. “Se me convidarem eu
vou, mas se não continuarei lutando para defender o governo”, ressalta.
Ela lembra que é natural cogitarem seu nome, porque tem sido veiculada a
notícia de que Dilma deverá aumentar a participação feminina na
Esplanada dos Ministérios, mas garante que “não há nada de objetivo” em
torno de sua participação. A deputada atribui a circulação de seu nome à
generosidade de correligionários. “Alguns generosos amigos e
companheiros lembram do meu nome”.
Nada de oficial
O nome do deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB) está altamente
cotado para ocupar um ministério. Mendes bateu pé com a maior parte das
lideranças de seu partido no estado e comandou com afinco a campanha
pró-Dilma entre peemedebistas gaúchos. O parlamentar tem boa relação com
o vice-presidente eleito Michel Temer.
A favor de Mendes também pesa o fato de que o deputado federal Eliseu
Padilha ficou como primeiro suplente para 2011 e depende do ingresso
de Mendes em um ministério para que Padilha permaneça no Congresso.
Padilha tem bom trânsito com o PMDB nacional, com Temer e com os
senadores José Sarney e Renan Calheiros. O parlamentar tem trabalhado
para que se concretize a indicação de Mendes.
Uma pessoa próxima a Temer confirma que o nome de Mendes Ribeiro
Filho tem sido citado em conversas da cúpula peemedebista e é
considerado qualificado para compor o ministério. Ressalta, contudo, que
o PMDB ainda não definiu indicação de nomes. Explica também que o PMDB
ainda não conversou sobre que pasta Mendes poderia ocupar, porque isso
dependerá da sinalização da presidente Dilma Rousseff, indicando quais
pastas poderão ser ocupadas pelo partido.
Mendes Ribeiro Filho reconhece que seu nome tem sido “muito falado”.
“Pessoas comentam, os colegas de bancada comentam. Isto muito me honra”.
Mas ressalva que não tem trabalhado para ocupar cargo de ministro. “Eu
apenas ouço”, garante. O deputado evita falar sobre que pasta poderia
ocupar. “Não posso falar sobre o que não existe”.
O colega de partido de Mendes, Nelson Jobim é um dos ministros mais
cotados para permanecer. Seu nome é defendido inclusive pelo presidente
Lula e a pasta da Defesa não desperta grande cobiça dos partidos
aliados.
Esporte difícil
Outro nome especulado é o da deputada federal Manuela D’Ávila (PC do
B) reeleita com mais de 480 mil votos. Diz-se que a comunista poderia
chefiar o Ministério do Esporte, que já é comandado por um colega de
partido de Manuela, Orlando Silva. A favor de Manuela, além da
expressiva votação, pesa o fato de ser coordenadora da Frente
Parlamentar do Esporte.
Entretanto, a intenção do PCdoB é manter Orlando Silva no ministério.
A pasta tem ganhado cada vez mais visibilidade com a proximidade da
Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Não é interesse do partido mexer em
time que está ganhando. O nome de Manuela deve ganhar força se o PCdoB
conseguir mais uma pasta no futuro governo.
Um assessor de Manuela diz que a possibilidade de ela ser ministra é
mera especulação. Garante que ela não recebeu convite ou sondagens nem
do governo nem do PCdoB. E diz que a própria parlamentar deseja que o
Ministério do Esporte permaneça sendo comandado pelo colega de partido
Orlando Silva.