Profa. Ana Carolina Martins da Silva * no Sul21
Aclamado e esperado pela maioria declarada de professores, alunos e
funcionários, bem como de toda a comunidade envolvida direta ou
indiretamente com a Instituição, representando o Governo que poderia
reconstruir a UERGS, o Governo Tarso pode estar na berlinda mais cedo do
que imagina.
Se por um lado a UERGS perde professores e funcionários para Empresas
e Instituições de Ensino estruturadas com Plano de Carreira e segurança
no emprego, de outro o Governo do Estado continua contando com a UERGS
como apoio para reestruturar a Educação no Estado. Além deste, a
Instituição é procurada para dar sustentabilidade em projetos
educacionais, culturais, tecnológicos por inúmeros Movimentos Sociais
que se organizaram sob o nome de Movimento dos Movimentos Sociais
Pró-UERGS. Por conta dessas buscas todas, somadas aos alunos que, agora
aliviados da tortura do Vestibular, chegam a nós pelo SISU, a
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul começa a se estabelecer para
ser aquela que foi sonhada por todo o Rio Grande: A Universidade de
Pensamento do Estado.
Porém, amor não sobrevive apenas de nuvem fresca e ar assado! Sem
receber diárias, sem retorno do transporte efetuado entre unidades para
manutenção das aulas, sem aumento, com carga horária extrapolada, sem
condições de tempo para fazer aperfeiçoamento ou desenvolver projetos de
Pesquisa e Extensão, os poucos professores que restaram na UERGS ainda
receberam, nesta última sexta-feira, uma proposta de Plano de Carreira,
do Governo do Estado, que não contempla sequer as condições básicas de
sobrevivência para qualquer professor de Ensino Superior: DEDICAÇÃO
EXCLUSIVA (1ª), Progressão por Titulação (2ª) e no mínimo Equiparação
Salarial com as Universidade Federais (3ª);
Ainda, houve o constrangimento moral das negociações estarem sendo
conduzidas por alguns dos mesmos funcionários do GAE que, por tantas
vezes deixaram os professores da UERGS sem palavras, por simplesmente
não apresentarem nada para a Instituição, passando outros órgãos do
Estado a frente de sua estabilização, o que tem causado a evasão de
quadros.
Ressalva seja feita de que parece que o Governo está decidido a
resolver a situação, isso é bom, parece que acabou a “sessão-enrolação”
dos governos passados, porém, o que sobrou para a UERGS? Ainda que o
proposto aos funcionários possa parecer interessante, a classe docente é
inteiramente desrespeitada e desconsiderada. Fosse no governo anterior,
eu não teria a menor dúvida de que isso seria uma estratégia para jogar
“ermão contra ermão”, como dizia a canção “Colorada” do Silva Rillo e
do Mário Barbará. Entretanto, acredito no Governo Tarso. Penso que pode
ter sido uma falha de percepção, talvez um engano de método, um
desconhecimento do funcionamento do Sistema do Ensino Superior. Um lapso
que poderia ser evitado se fosse seguido o projeto de Plano de Carreira
apresentado pela UERGS ao Governo Estadual, ainda no Governo passado.
Esse foi discutido e aprovado pelo CONSUN (Conselho Superior), onde
estão representados todos os segmentos da Universidade, dentre eles, a
comunidade. Esse direito é garantido pela LDB, que fixa normas e
competências dentro da autonomia universitária para que a Universidade
estabeleça sua política de pessoal e seus planos de carreira docente e
técnico administrativo, tais diretrizes podem ser conferidas no art. 17
da Lei de criação 11646, bem como, em seu estatuto Decreto Lei 43240 de
15 de julho de 2004, artigos 3º- §III e 5º – §V. Ainda que o Estado não
se sentisse confortável para simplesmente aprovar esse Plano, que foi
explicado pela nova Gestão da UERGS em reunião com o GAE, inclusive,
poderia ter pelo menos levado em conta que professor tem Carreira, não
Emprego.
Lapso, ou não, nunca se viu tanta articulação dentre uma comunidade
universitária para que se abrisse concurso para a entrada de professores
novos, entretanto, enquanto a UFSM com toda a sua tradição, segurança
funcional e profissional abre concursos para 41 vagas, praticamente nas
mesmas áreas da UERGS, conseguimos concursos a conta-gotas, oferecendo
aos futuros colegas trabalho em três ou quatro cidades SIMULTANEAMENTE
(que é o que fazemos em geral), sem restituição de diárias, transporte,
sem plano de carreira, sem Dedicação Exclusiva, sem progressão e pela
metade do salário! Sinceramente, como se vai constituir uma Universidade
assim? A partir dessa segunda-feira, os professores da UERGS estarão
estudando a proposta do Governo para apresentar mudanças, rejeitada ela
já está pela Assembléia dos docentes acontecida no SINPRO, no dia 20/5.
Amor, amor, negócios à parte. Quem já não ouviu isso? A UERGS, com o
coração partido, começa a articular entre sussurros e mágoas, o que
passou a chamar de “Fora Tarso!”, em comparação ao que se fez com a
ex-governadora, cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado para que caia no
esquecimento. Não é o que queremos. Queremos estar juntos nessa
reconstrução tão sonhada. Nós trabalhamos para eleger Tarso Genro.
Acreditamos em cada palavra do que Tarso disse em todo o Estado, quando
procurado pelos nossos colegas, sobre a UERGS. Nós continuamos
trabalhando num sobre-esforço, para manter a Universidade, para não
espantar os alunos, para garantir financiamentos em projetos grandes,
que beneficiem aos que mais necessitam, que contemplem as expectativas
dos novos tempos, como reza o texto do Prof. Ludwig Buckup, grande
ambientalista gaúcho, em mensagem à Reitoria da UERGS, tratando de
ecologia em nome do Movimento dos Movimentos Pró-UERGS: “A universidade
precisa estar atenta as mudanças globais e incorporar os saberes
resultados de suas pesquisas na formação de profissionais mais
preparados para atuar na sociedade em busca de soluções para a grave
ameaça ambiental que se avizinha, como a crise energética, o aquecimento
global, a perda progressiva da diversidade biológica, a crise da água, a
fome, a pobreza, apenas para citar alguns aspectos mais relevantes.”
Finalizando, tomo a liberdade de citar outra canção, bem conhecida e
popular: “Sim, é como a flor
Dê água e ar, luz e calor, o amor precisa para viver! De emoção, e de
alegria, e tem que regar todo dia.” É hora de Tarso Genro olhar
pessoalmente para seu jardim! De tomar para si as negociações do Plano
de Carreira dos docentes da UERGS, independente do SINPRO, independente
da ADUERGS, independente dos funcionários do GAE, agora é hora do
Governador provar o quanto a UERGS vale no âmbito de seu projeto de
Estado para os cidadãos e cidadãs que o elegeram em primeiro turno!
Foram oito anos de espera e resistência, a hora da UERGS é agora!
* Mestre em Comunicação Social e professora da UERGS