A todos os lutadores e lutadoras das causas socias que buscam nas ações coletivas melhorar a qualidade de vida e minimizar os arbíttrios e abusos cometidos por aqueles que detem o poder economico e escravizam a humanidade despossuida.
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
A malícia contra a sede do capital
Orlando Margarido na Carta Capital
Aos que virão depois, realmente vivo em tempos sombrios. Uma
linguagem sem malícia é tola, uma testa sem rugas implica indiferença.
Aquele que ri apenas ainda não recebeu a terrível notícia.” Estas
palavras, ditas por um já maduro Bertolt Brecht (1898-1956) diretamente à
câmera, não são precisas quanto a um momento político ou histórico,
embora possam se encaixar em passagens sombrias de sua vida.
Adolescente, Brecht viu a Primeira Guerra Mundial eclodir. Mais
tarde, o dramaturgo e diretor alemão acompanhou o nascimento do nazismo,
que o obrigou a se exilar. Adulto, enfrentou a Segunda Guerra e foi
vítima do macarthismo quando vivia nos Estados Unidos. Mas as palavras
contidas no documentário A Vida de Bertolt Brecht, de Joachim Lang,
dizem mais claramente de uma postura diante da arte e da política,
indissociáveis no caso, de seu tempo. É improvável separar o homem
marxista do artista que foi um dos criadores do teatro épico e renovador
da cena teatral europeia com influência mundial.
Constata-se tal premissa na aproximação de Brecht com o cinema,
prática de resultados famosos, como a adaptação do musical A Ópera dos
Três Vinténs pelas mãos de G.W. Pabst (A Caixa de Pandora). Dois anos
depois ele assinaria a versão cinematográfica da ópera com a música de
Kurt Weill. Trata-se de um dos cinco filmes que Brecht dirigiu,
roteirizou e com os quais de alguma forma colaborou, presentes na caixa
de DVDs que sai agora pela distribuidora Versátil.
Os três discos do pacote incluem ainda o documentário de Lang e
depoimentos de especialistas brasileiros no autor alemão. O lançamento
contribui para uma revisão do impacto das ideias brechtianas, de raiz
popular, apesar de terem resultado em muitos estudos acadêmicos. Nos
cabarés e bares de Munique, onde se consumiam cerveja e música, Brecht
delineou os primeiros temas de interesse, inicialmente em Baal, peça
encenada em 1923, e na estreia na direção de cinema, no mesmo ano, com
Os Mistérios de uma Barbearia, média-metragem que é uma das pérolas
desta caixa.
No filme, codirigido por Erich Engel, o mesmo Brecht que antes fora
permeado por certo patriotismo e credo na força do povo alemão começa a
ser tomado pelo marxismo e pela crítica à moral pequeno-burguesa. Para
tanto, foi imprescindível o encontro com o ator comediante Karl
Valentin, que fazia as vezes de um Charles Chaplin alemão e personificou
os novos pensamentos do dramaturgo.
São curiosas as conotações do surrealismo, movimento de vanguarda
naquele momento em Paris, na história do barbeiro ensandecido que
constrange os clientes. Cabeças são cortadas a um mero golpe de navalha e
então encaixadas novamente ao corpo, sugerindo o tom absurdo, no
sentido da linguagem conceitual, que buscava a provocação rápida. Assim
como no poeta libertário Baal, esse personagem da barbearia cedo
representa o humor contestador que Brecht carregaria em seu trabalho.
Para compreender melhor como Brecht realizaria criações mais
ambiciosas e políticas, como A Ópera dos Três Vinténs, é preciso voltar a
seu cotidiano de estudante de medicina durante a Primeira Guerra.
Horrorizado com a crueldade do conflito, ele se interessa pelos ideais
da Revolução Russa de 1917. O marxismo o capta pela noção de igualdade e
paz. Lida a obra de Karl Marx, ele desenvolve o conceito político que
ganhará peso no musical, aliado ao encontro definidor com Kurt Weill.
Juntos, os artistas consolidam aquele que é um dos primeiros projetos do
teatro épico pensado por Brecht.
Como lembra a professora Iná Camargo Costa em depoimento, naquele
período, na Alemanha, havia três gêneros em voga: o cabaré, dedicado ao
estrato baixo da sociedade; a opereta, de gosto médio; e por fim a
ópera, vinculada ao público burguês. Brecht confunde a hierarquia em A
Ópera dos Três Vinténs, trazendo o submundo para o centro do espetáculo,
superior por excelência.
Assim, numa Londres miserável, o protagonista Mack the Knife (versão
em inglês mais popular para Macheath) surge como o golpista de casaca
rodeado por asseclas que mede poder com Peachum, rico explorador de
mendigos. Sem suspeitar, Mack se casa com a filha do rival e o conflito
se estabelece com uma solução a contento para ambos os lados.
Institucionaliza-se o roubo com a fundação de um banco.
Seria apenas o primeiro petardo do dramaturgo contra o capitalismo,
mas ainda de cunho metafórico. Apenas um ano depois, Brecht seria mais
claro em Kuhle Wampe, cujo roteiro ele assina em parceria com Ernst
Ottwalt para o diretor Slatan Dudow. Inspirado pela situação de
desemprego de 6 milhões de alemães, cenário próprio para a ascensão de
uma propalada tábua de salvação como o nazismo, o dramaturgo revela em
imagens as teses socialistas para discutir aquele ambiente de medo e
pobreza.
A crise alemã é demonstrada tanto na vertente coletiva, quando
centenas de jovens disputam uma chance de emprego rodando a cidade com
suas bicicletas, quanto na visão individual, no destino de um rapaz que
se suicida pressionado pela família. Embora não traduzido na versão do
DVD, o subtítulo original do filme guarda um significativo
questionamento dos realizadores com a pergunta A Quem Pertence o Mundo?
Mas quem resume o pensamento dominante entre a população no período é um
anônimo personagem, que ao ver o corpo do jovem suicida exclama: “Um
desempregado a menos!” Ainda no pacote, um complemento a essa
investigação de um momento delicado da Alemanha está no curta Como Vive o
Trabalhador Berlinense, realizado um ano antes por Dudow.
O domínio nazista naturalmente preocupava Brecht e o obrigou a uma
vida de peregrinação, primeiro em países escandinavos e depois nos
Estados Unidos, onde se radicou em Los Angeles. Premido pelas mesmas
contingências de exílio, o diretor austríaco Fritz Lang encontraria em
Hollywood o melhor autor possível para seu roteiro de Os Carrascos
Também Morrem, de 1943. Tornou-se um clássico essa reconstituição de tom
noir do assassinato em Praga do oficial da SS Reinhard Heydrich.
Conhecido por “carniceiro” ou “carrasco”, sua morte gerou um violento
contra-ataque da Gestapo, que exterminou duas aldeias tchecas.
Ainda que a opção de Lang vá no sentido cinematográfico do gênero, no
caso suspense e ação, o recado de Brecht é alcançado nas entrelinhas,
com a preocupação didática de sempre. O cinema talvez perca um tanto
desse aspecto em relação ao teatro, linguagem onde atualmente fica mais
visível sua influência, que culmina com a fundação do grupo Berliner
Ensemble em 1949.
Fórum Social Mundial 2011 já está com inscrições abertas
Estão abertas as inscrições para a 11º edição do Fórum Social Mundial 2011 (FSM). O evento, que ocorre entre os dias 6 e 11 de fevereiro, será em Dacar (Senegal), no campus da Universidade Cheikh Anta Diop. O FSM 2011 vem sendo pensado como um espaço privilegiado para onde deverão convergir experiências acumuladas a partir da edição de 2009, que ocorreu no Brasil, com vistas à superação da crise econômica global iniciada em 2008.
No primeiro dia do evento (6),
ocorrerá a Marcha de Abertura. No dia 7 está prevista uma programação
especial denominada “Dia da África”. No terceiro e no quarto dia do
encontro serão realizadas as oficinas, seminários e palestras. No quinto
dia, serão realizadas assembleias preparatórias para o fechamento do
Fórum, que ocorrerá no dia 11 de fevereiro com uma grande assembleia
geral.
O Comitê Organizador do FSM 2011 faz um chamado especial para pessoas que desejam ser voluntárias no evento. Além do Senegal, serão selecionadas pessoas de países vizinhos (Gâmbia, Guiné, Guiné-Conacri, Mali, Mauritânia), mas também são esperados grupos que venham da Europa, Américas e Ásia. Os interessados serão chamados prioritariamente se tiverem fluência em francês e/ou inglês. Para aqueles que não residem em Dacar, o Comitê não poderá arcar com despesas de passagem e hospedagem.
No site do evento encontra-se disponível uma lista de alguns hotéis e outros tipos de hospedagens (apartamentos mobiliados, pousadas etc). A Comissão também está negociando tarifas para grupos e identificando famílias que desejem receber participantes.
Serviço:
As inscrições para o evento devem ser feitas no site oficial do evento. Há duas modalidades de inscrição: individual e organização.
O Comitê Organizador do FSM 2011 faz um chamado especial para pessoas que desejam ser voluntárias no evento. Além do Senegal, serão selecionadas pessoas de países vizinhos (Gâmbia, Guiné, Guiné-Conacri, Mali, Mauritânia), mas também são esperados grupos que venham da Europa, Américas e Ásia. Os interessados serão chamados prioritariamente se tiverem fluência em francês e/ou inglês. Para aqueles que não residem em Dacar, o Comitê não poderá arcar com despesas de passagem e hospedagem.
No site do evento encontra-se disponível uma lista de alguns hotéis e outros tipos de hospedagens (apartamentos mobiliados, pousadas etc). A Comissão também está negociando tarifas para grupos e identificando famílias que desejem receber participantes.
Serviço:
As inscrições para o evento devem ser feitas no site oficial do evento. Há duas modalidades de inscrição: individual e organização.
Émile Zola e o naturalismo frances...
Em 1898, o escritor expõe o escândalo do caso Dreyfus que dividiu a França no final do século XIX numa famosa carta intitulada J'accuse! (Eu acuso!)
Émile Zola foi um importante escritor francês, um dos precursores do Naturalismo.
Émile Zola começou sua carreira escrevendo colunas para jornais de Paris. Em 1866, lançou o livro Thérèse Raquin.
O trabalho não era só um romance, mas uma análise científica detalhada
da sociedade, e foi bem recebido pela crítica. O livro marcou o início
do movimento literário Naturalismo.
Mas foi Germinal de 1885 que elevou a estética naturalista a
um nível de realidade e crueza. O romance descreve uma comunidade de
mineiros na França que se rebela contra as condições subumanas que lhes
são impostas. Na década de 1990, a história se transformou em um filme,
estrelado por Gérard Depardieu.
Mesmo se dedicando à literatura, Zola não parou de escrever como
jornalista. Em suas colunas, falava de temas recorrentes da sociedade
francesa daquela época. Além de aproveitar o espaço para criticar
Napoleão III, o escritor também defendia a arte Impressionista de Degas,
Cézanne e Monet, ainda mal vista no final do século XIX. Émile Zola
pode ser visto em um quadro do também impressionista Edouard Manet.
Em 1898, o jornalista começou a se interessar pelo caso Dreyfrus,
escândalo político que dividiu a França no final do século XIX. Quatro
anos antes, a justiça acusou Alfred Dreyfus, um oficial do Exército,
judeu, de traição. O processo foi conduzido de forma fechada ao público e
uma fraude acabou por condenar Dreyfus culpado. A sentença se baseou em
documentos falsos, oficiais de alta patente franceses tentaram ocultar o
erro. Parecia patente o antisemitismo do caso.
Convencido da inocência do oficial do Exército francês, Émile Zola escreveu um artigo — chamado J’accuse
– para denunciar quatro pessoas que estariam envolvidas na fraude, da
qual Alfred Dreyfrus foi vítima. A publicação levou à reabertura da
investigação e resultou na mudança do veredito após longos debates.
Menos de cinco anos depois da publicação, o escritor francês foi
encontrado em seu apartamento morto por asfixia, aparentemente devido a
entupimento na chaminé de sua lareira, no dia 29 de setembro de 1902.
Existem suspeitas de assassinato.
Fonte: Opinião e noticia
Crônica
O MINISTRO E A PIPA DO VOVÔ
José Ribamar Bessa Freire
Chamemo-la
de Das Dores, assim, sem vergonha da ênclise. É. Maria Das Dores.
Afinal, precisamos de um nome, de uma cara, de uma história para
identificar a “noiva” do deputado Pedro Novais (PMDB vixe vixe!), atual
ministro do Turismo, na quadrilha junina formada por 15 casais, naquela
animada noite de junho, no Motel Caribe, em São Luís (MA). Das Dores é,
certamente, um bom nome para ser par do chefe da quadrilha, o “noivo” de
80 anos. Detrás de um nome, no entanto, há sempre relatos, dores,
feridas.
Biografemo-la,
então, em busca dessas indeléveis cicatrizes, que tornem a narrativa
mais verossímil. Das Dores, pra todos os efeitos, nasceu em Olho D´Água
das Cunhãs, sendo batizada pelo padre Ribamar na capela de Nossa Senhora
da Conceição da Porta Aberta, em Bacabal. Foi quando a praga do bicudo
infestou as plantações de algodão, arruinando 238 pequenos produtores
rurais, todos eles chamados de Ribamar. Um deles, seu pai, colocou as
tralhas num caminhão, despediu-se do rio Mearim e se mudou de Bacaba´s City para a capital com toda a família.
Sigamo-la
até o bairro de Turu, na periferia de São Luis. Entremos na casa de Das
Dores, que fica na Rua Fé em Deus, bem nos fundos do Motel Caribe, cuja
entrada principal é pela Rua União. Lá, ela ficou conhecida como “a
princesinha do Mearim”, nome também de uma fábrica de sabão local. Foi
lá que um assessor do deputado Pedro Novais a recrutou, juntamente com
sua irmã Ribamarina, para participar do – digamos assim - arrasta-pé
junino realizado no Motel Caribe.
Motel Caribe
Imaginemo-la
– ainda fiel à ênclise - circulando pela pérgula da piscina ou
freqüentando a sauna desse motel de São Luis, que recebe grupos em suas
suítes temáticas com nomes de ilhas caribenhas. A mais cara
é a Bahamas, que tem garagem dupla e custa R$ 98,00 (três horas). Essa
foi justamente a reservada pelo deputado Pedro Novais para a festa que
organizou, em junho do ano passado, segundo informou ao Estadão a gerente do estabelecimento, que se identificou como Sheila.
O motel oferece “pequenos artifícios para apimentar sua relação e sair da rotina”:
dvds eróticos, afrodisíacos, lubrificantes, sabonetes íntimos, cinta
peniana inflável, calcinhas vibratórias, máscaras, chicotes, coleiras,
algemas, vestuários sensuais e afins como o espartilho
Natasha, vendido por 69,90 ou 18 prestações de RS$ 5,54. Nada disso foi
discriminado na nota fiscal nº 7.058 do Motel Caribe, só o valor total
de R$ 2.156,00, pago pela Câmara, depois de apresentada pelo deputado Pedro Novais.
O
escândalo pipocou nos jornais em plenas festas natalinas, porque o
vetusto senhor de 80 anos assumiria dias depois o ministério do Turismo,
bancado pelo clã Sarney, proprietário da Capitania Hereditária do
Maranhão e de sesmarias no Amapá. Como é que um parlamentar paga orgias e
bacanais com o meu, o teu, o nosso dinheiro? Essa pergunta foi feita
por um jornalista importuno ao futuro ministro que respondeu: “Pare de encher o saco, faça o que você quiser”. Seu chefe de gabinete, Flávio Nóbrega, reconheceu que a inclusão da nota fiscal “foi um erro” e providenciou o ressarcimento.
Dessa
forma, no dia 3 de janeiro, Pedro Novais, de 80 anos, tomou posse como
ministro do Turismo, na presença dos caciques do PMDB (vixe, vixe): seu
padrinho José Sarney, presidente do Senado, Roseana Sarney, governadora
do Maranhão, Michel Temer, vice-presidente da República e os colegas de
ministério: Wagner Rossi, da Agricultura e Edison Lobão, de Minas e
Energia. Só gente fina.
No
seu discurso de posse, o novo ministro destacou o papel da Empresa
Brasileira de Turismo (Embratur), mas não anunciou, como previam as más
línguas, a criação da Surubatur ou Surubabrás, nem deu um pio sobre o
escândalo.
Quem
tentou encontrar uma explicação foi o deputado Luiz Sérgio, presidente
do PT-RJ (vixe?), que chegou a ser cotado para a pasta do Turismo, mas
acabou assumindo o Ministério das Relações Institucionais. Demonstrando
que é mesmo um especialista em relações apimentadas, ele insinuou que a
pipa do vovô não levanta mais ao justificar: “Dormir num motel não
significa necessariamente fazer amor”. Mas não disse que outras coisas
podem ser feitas com dinheiro público por casais que se encontram num
motel.
Encontro de casais
De
qualquer forma, supunhetemo-lo correto, ainda encliticamente.
Supunhetemos, sem a obliqüidade do pronome, que o novo ministro das
Relações Institucionais tenha razão, que um motel pode funcionar como
uma casa geriátrica de repouso, com direito à massagem especial feita
por fisioterapeutas credenciadas. Ou um lugar para um Encontro de Casais
com Cristo (ECC).
Objetar-se-á,
agora mesocliticamente, que um ECC exige presença de um assistente
eclesial. Ora, isso não é problema pra nossa imaginação. Todos nos
lembramos daquele padre Ribamar que batizou Das Dores. Pois é,
convoquemo-lo para tal tarefa, tornando a hipótese plausível. Juro por
Deus: é preferível imaginar – imaginemo-lo – a realização de um evento
religioso em um motel do que admitir que vivemos numa republiqueta de
merda, onde um deputado organiza orgias com dinheiro publico e ainda é
promovido ao cargo de ministro.
Um
deputado pode fazer o que quiser com o dinheiro ganho com o suor do seu
rosto – suor de seu rosto é uma força de expressão - mas não com o
dinheiro público. Foi por isso que imaginamos a quadrilha de São João. A
quadrilha justifica os gastos com o orçamento da União. Lá vai o
deputado Pedro Novais, o “noivo”, puxando a contradança ao lado da Das
Dores, rodopiando: “lá-ra-lá-ra-la-lá” e comandando: “A Grande
Roda...Caminho da Roça...Preparar para o travessê...lá vem chuva...é
mentira...”
Trata-se
de uma saudável manifestação folclórica de interesse para o turismo
nacional e internacional. A formação da quadrilha é perfeitamente
verossímil, já que a festança foi no mês de junho, que não faltou matuto
e caipira e que para dar maior credibilidade e cor local os personagens
se chamam todos Ribamar, como José Sarney, Ferreira Goulart, esse
locutor que vos fala e todos os maranhenses que se prezam.
O novo ministro, Pedro Novais, ao organizar a quadrilha, revelou seu compromisso com o
turismo. Seu poder de fogo ficou evidente, segundo o noticiário, porque
antes mesmo de assumir, apenas nos quatro últimos dias de 2010, ele
garantiu o repasse de R$ 32 milhões do seu Ministério para obras no
Maranhão. O valor supera a soma de tudo o que foi prometido no mesmo
período para as três principais economias do país: São Paulo, Rio e
Minas. Os coronéis do Maranhão, seus motéis, a família Sarney e Das
Dores agradecem. Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a rede
de motéis do Maranhão.
No
final do evento, o Motel Caribe solicitou preenchimento de uma ficha de
avaliação: “O que você falaria para seu amigo: recomendo ou não gostei?
Dê uma nota para o atendimento”. Das Dores, desapertando o espartilho
Natasha, deu nota dez e escreveu em observações gerais: “A-mei. De
pai-xão. Com essa festa, o Pedrão Novais se credencia a jogar baralho
com dona Brígida (Cleyde Yáconis) e a ocupar o coração dela no lugar do
Diógenes e do Benedetto. Se até o Totó ressuscitou, por que a pipa do
vovô não pode levantar?”.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Questão fundiária ainda não está resolvida
O professor Ariovaldo Umbelino, em entrevista à IHU On-Line
defende a Reforma Agrária, pois, “o Brasil possui os maiores latifúndios
que a humanidade já registrou, ou seja, não há limite para o tamanho de
suas propriedades . É uma excrescência, do ponto de vista
internacional, um país ter propriedades privadas que são maiores do que
unidades federativas que possui, sem falar que algumas são ainda maiores
do que muitos países existentes no mundo. Então, é evidente que existe
uma questão fundiária e ela não está resolvida”.
Ariovaldo Umbelino é graduado em Geografia, pela Universidade de São
Paulo, onde também realizou o doutorado em Geografia Humana e obteve o
título de Livre Docência. Umbelino é professor e chefe do departamento
de Geografia da USP. Autor de A geografia das lutas no campo (São Paulo:
Contexto, 1996), entre outras obras, seu livro mais recente é Modo
Capitalista de produção, agricultura e Reforma Agrária (São Paulo:
FFLCU/LABUR EDIÇÕES, 2007).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Existe ainda, no Brasil, uma questão agrária? A Reforma Agrária ainda é uma necessidade?
Ariovaldo Umbelino – Ainda está em jogo o processo produtivo, de um
lado, e a questão da propriedade privada da terra, de outro. Se
analisarmos exclusivamente da ótica do processo produtivo, poderíamos
dizer que não há uma questão agrária no Brasil porque não é um país que
depende de importação de produção de alimento. A única exceção é o trigo
e, vez ou outra, são importados arroz e feijão. De qualquer forma, o
Brasil tem condições e vem produzindo excedentes exportáveis do ponto de
vista agrícola. Então, se eu analiso dessa perspectiva do processo
produtivo, não haveria uma questão agrária.
Mas, quando analiso a questão agrária, na perspectiva da formação da
propriedade privada da terra no Brasil, penso que ela existe sim, ou
seja, cerca de 1/5 das terras no Brasil foram cercadas por pessoas que
não têm documentos hábeis legais para deter o controle dessa propriedade
da terra. Isto quer dizer que uma parte dos que se dizem proprietários
não são de fato proprietários. Além disso, há um grande número, que
podemos classificar como posseiros, que, pela legislação brasileira, têm
direito à legitimação dessa área que ocuparam e que, por direito,
deveriam ter essa correção do ponto de vista da propriedade privada da
terra no Brasil. Mas as médias e grandes propriedades não têm esse
direito. Isso quer dizer que a questão fundiária não está resolvida.
Por outro lado, o Brasil possui os maiores latifúndios que a
humanidade já registrou, ou seja, não há limite para o tamanho das
propriedades do país. É uma excrescência, do ponto de vista
internacional, um país ter propriedades privadas que são maiores do que
unidades federativas que possui, sem falar que algumas são ainda maiores
do que muitos países existentes no mundo. Então, é evidente, como eu
disse, que existe uma questão fundiária ainda não resolvida.
Além disso, há a presença no país de movimentos sociais de luta por
acesso à terra. Simultaneamente à luta desses momentos sociais, há uma
parte do campesinato sem terra no Brasil que abre luta através da
abertura de novas posses. Portanto, existe uma questão agrária, a
questão fundiária não está resolvida, assim como um processo de luta. A
questão da Reforma Agrária é atualíssima e faz parte do processo de
diminuição da violência que existe no campo exatamente porque não está
resolvida.
IHU On-Line – Como o senhor vê o processo de Reforma Agrária atual?
Ariovaldo Umbelino – A Reforma Agrária hoje, do ponto de vista como
está posta no plano governamental, precisa ter dois pontos destacados. A
primeira é que o governo atual, no primeiro mandato, por pressão dos
movimentos, fez o segundo Plano Nacional de Reforma Agrária e se dispôs a
assentar, em quatro anos, 400 mil famílias e no quinto ano mais 140 mil
famílias. Isso daria, em cinco anos, portanto, 540 mil famílias.
Entretanto, o Incra não cumpriu essa meta, embora tenha divulgado que
fez assentamentos superiores a essa meta. Na realidade, os dados que o
Incra divulga são relativos à relação de beneficiários da Reforma
Agrária emitidas. Essas relações são emitidas tanto para os assentados
novos como são emitidas para a regularização fundiária e reconhecimento
de assentamentos antigos para que as famílias tenham acesso ao Pronaf.
Além disso, nessa relação, também estão inclusas as emissões feitas aos
quilombolas, as demarcações de terras extrativistas, os reassentamentos
de atingidos por barragens. Tanto a regularização fundiária quanto a
reorganização fundiária e os reassentamentos não são Reforma Agrária.
Reforma Agrária é aquele ato em que o Incra desapropria terras ou usa
terras públicas disponíveis e faz assentamentos novos. Isto é Reforma
Agrária, e o Incra não faz essa separação, e sim junta todos os dados e
divulga um número que não condiz com a realidade. Se fôssemos fazer a
desagregação desses dados que o Incra divulga, apenas 180 mil famílias
de fato foram assentadas em processo de Reforma Agrária. O que estou
querendo dizer é que o governo atual não fez a Reforma Agrária que
prometeu. Ao mesmo tempo, estamos diante de um processo em que o governo
não manifestou qualquer disposição de fazer um terceiro plano nacional
de Reforma Agrária. Resta, evidentemente, aos movimentos sociais, ação e
política de pressão para que o governo retome esse processo. Inclusive,
o governo atual foi mais ainda adiante: ele não só não fez a Reforma
Agrária como passou a privilegiar a regularização fundiária, ou seja, a
concessão de terra aos grileiros na Amazônia Legal. Um contra-senso a
todo programa político elaborado no âmbito do Partido dos Trabalhadores,
que nunca defendeu a concessão de terras aos grileiros.
IHU On-Line – Como esse processo deveria acontecer para que o problema de distribuição de terras fosse sanado?
Ariovaldo Umbelino – A Constituição Brasileira é clara, límpida. A
propriedade privada à terra está subordinada a sua função social. Isto
quer dizer o seguinte: a propriedade privada da terra não é uma
propriedade como outra qualquer. Quando uma pessoa tem um automóvel,
pode deixá-lo na garagem da sua casa apodrecendo e ninguém poderá falar
nada. É um direito dele, que tem o direito absoluto sobre aquela
propriedade. Evidentemente, desde que não esteja atrapalhando terceiros.
Com relação à propriedade privada da terra não, pois não é uma
propriedade absoluta. Ou seja, está submetida ao seu uso produtivo e ao
fato de essa produção seja feita respeitando as leis trabalhistas e as
leis ambientais, e não se produza produtos interessando os tóxicos que
estão definidos na Constituição como situação em que a propriedade não
cumpriria a sua função social. Nós temos no Brasil hoje, do ponto de
vista das grandes propriedades, 120 milhões de hectares de grandes
propriedades, as quais, no cadastro do Incra, já estão identificadas
como improdutivas, ou seja, que não cumprem a sua função social. Qual é a
obrigação constitucional do Incra? Desapropriá-las e destiná-las à
Reforma Agrária, para que cumpram sua função social.
Ao mesmo tempo, há, no Brasil, cerca de 250 milhões de hectares de
terras apropriadas indevidamente. No Rio Grande do Sul, praticamente
metade do município de Bagé, por exemplo, está nas mãos de pessoas que
não têm documentos. Isso está registrado porque os próprios
proprietários declararam. Há, no Rio Grande do Sul, cerca de seis
milhões de hectares de terras devolutas, ou seja, aqueles que controlam
não têm documentos sobre elas. A função do estado é fazer com que o
preceito constitucional da função social da propriedade privada da terra
seja cumprido. É evidente que é função do estado promover a
redistribuição dessas terras através de programas de Reforma Agrária.
IHU On-Line – Como o senhor vê a atuação do MST, atualmente?
Ariovaldo Umbelino – O MST, como movimento social de luta pela
Reforma Agrária e pelo acesso à terra, educação, saúde e tudo aquilo que
qualquer cidadão por direito deveria ter, responde aos seus objetivos.
Se existe Reforma Agrária no Brasil, ela foi fruto dessa luta histórica
nesses 25 anos de existência do MST. Este é um movimento social de
importância política no Brasil porque forçou o Estado a colocar na
agenda política a realização da Reforma Agrária. Então, ele tem a sua
importância de natureza política porque cobra que o direito que aqueles
que não têm terra se faça no âmbito do Estado. Portanto, trata-se de um
movimento social de grande importância para o processo de democratização
do acesso à terra e da própria propriedade privada de terra no Brasil.
IHU On-Line – Que análise o senhor faz das experiências de assentamentos criadas pela política de Reforma Agrária?
Ariovaldo Umbelino – Em primeiro lugar, é preciso dizer que uma
política de Reforma Agrária tem dois pilares principais: o primeiro
pilar é aquele relativo ao acesso à terra, que nós chamamos de política
fundiária, ou seja, se criar as condições para que haja acesso à terra,
sobretudo às terras de qualidade e, evidentemente, que isso não
aconteceu, de maneira geral, no Brasil, porque, via de regra, os
assentamentos foram feitos em áreas distantes, em solos não propícios. O
segundo é o resultado econômico. Do ponto de vista da Reforma Agrária, a
grande maioria desses assentados saiu de uma condição para uma condição
de pelo menos ter acesso à produção de alimentos. Desse ponto de vista,
a Reforma Agrária cumpre a sua função social. Ela só não é mais
progressista porque a política agrícola realizada pelos diferentes
governos não tem permitido.
IHU On-Line – O governo Lula anunciou nesta semana uma ajuda
financeira significativa para o agronegócio. De que forma o senhor
analisa essa decisão?
Ariovaldo Umbelino – Eu analiso de forma como a realidade indica, ou
seja, o governo atual, do presidente Lula, fez a preferência pelo
agronegócio. Assim, ele não fez a opção preferencial pela Reforma
Agrária ou pelos movimentos sociais. Por isso, continua fazendo
concessões de recursos financeiros públicos para esse setor, que tem
sido contemplado com fatias expressivas do orçamento. O governo atual
continua realizando a sua política de apoio ao agronegócio, que, no meu
ponto de vista, pode colocar o país, mais cedo ou mais tarde, dentro da
questão da insegurança alimentar. Isso porque, do total da famosa safra
de grãos, vamos verificar que 80% ou pouco mais é produção de soja e
milho, que não são produzidos para serem consumidos no Brasil, mas sim
para exportar. Enquanto isso, a produção de arroz, feijão e trigo no
Brasil não cresce desde 1992. O que mostra que a sociedade brasileira
está comendo a safra que está sendo plantada e colhida. Isso é um risco
muito grande, ou seja, se perder a soberania alimentar no nosso país.
Evidente que essa política atual é uma suicida.
Eu gostaria de retomar a questão central que envolve o debate da
Reforma Agrária, que é o fato de que 1/5 das terras do Brasil não
pertencem aqueles que a cercaram. Em geral, são esses que estão em
terras que não lhes pertence, do ponto de vista legal, e que, no
entanto, se agarram ao direito de fazer críticas às ações dos movimentos
sociais, que não têm por parte do governo atual o cumprimento das ações
da Reforma Agrária. Então, é preciso que a sociedade brasileira tenha
consciência de que a Reforma Agrária é necessária e só ela irá garantir
ao país a produção de alimentos em quantidades, de modo a que nós
tenhamos, simultaneamente, segurança e soberania alimentar. Além disso, é
com a Reforma Agrária que os países desenvolvidos conseguiram chegar às
condições de soberania alimentar. É evidente que o Brasil tem uma
estrutura fundiária altamente concentrada nas mãos das elites que
controlam terras que não lhes pertence, o que é um contra-senso e uma
ilegalidade denunciados pelos movimentos sociais.
Marx, Lênin, Cristo e o espírito da igualdade
De Paris, onde assistiu à missa do Natal na Catedral de Notre Dame, o jornalista Francisco Viana* reflete sobre política, filosofia e religião. Em artigo publicado no site Terra Magazine, Viana diz que "Essa é a saída para a Igreja: admitir que o reino de Cristo é o reino da terra, o mesmo reino de Marx e Lênin. O mesmo reino de todos os profetas, a começar por Cristo".
Faz frio, neva. Estou na Catedral de Notre Dame, fundada há mais de 830
anos, assistindo à missa do Natal, o que os franceses chamam de Navité
du Seigneur. O celebrante principal é o cardeal André Vingt-Trois, mas
são vários os padres que dão assistência à multidão que lota o templo e
disputa espaço para se acomodar na nave, para rezar, fotogragrafar ou
filmar. É um espetáculo único, mesmo para quem, como eu, não é cristão.
Não tem religião alguma, salvo a religião do homem.
Notre Dame tem seus mistérios e suas histórias. Na cota dos mistérios, tem a seu favor o papel que essa construção gótica, de paredes retas e acabamento precioso, desempenhou na história da Idade Média, com seus vitais e orgãos famosos, sua mensagem em torno de uma cristandade que se dividia entre o aristotelismo de esquerda, a favor do homem, e o culto a um aristotelismo oficializado, favorável a um homem decaído. Esse homem agostiniano que Lutero faria a maior da joia da coroa do protestantismo. A parcela das histórias é encarnada pela recuperação de Joana d' Arc e a coroação de Napoleão. Ou a missa que ali assistiu ao general De Gaule após a expulsão dos nazistas da França.
Ouço a missa, os cânticos, vejo a ritualística e não posso deixar de lembrar de um autor socialista, Ernest Bloch, que fala da energia do cristianismo primitivo e, nele, vê a expressão do sonhar acordado, da vontade de transformar o mundo e criar uma sociedade igualitária. Bloch, amante da música, é o maestre dessa jornada natalina.
É meia-noite. O cardeal fala da plenitude da fé, por séculos e séculos. Lembro de Bloch e do seu culto às rebeliões camponesas da Alemanha do início do Renascimento. Lembro das revoluções que dariam origem ao movimento bolchevista liderado por Lênin no alvorecer do século 20. Pura energia. Puro movimento igualitário. Pura expressão da vontade, do sonho acordado e da esperança de que tanto fala Bloch. Há gente se comprimindo para ver e participar da missa. Uns estão contritos, outros falam. Uns filmam, outros fotografam. Muitos filmam e fotogravam. Mas, a verdade, é que todos, à sua maneira, participam. Fico me perguntando: o que ocorreria no mundo se toda essa energia fosse colocada a favor de uma sociedade igualitária? Se Cristo, como Bloch coloca, fosse visto como um homem, um filosófo revolucionário a favor da divindidade humana e não como algo místico, fora do homem? Bloch foi capaz de compreender essa força colossal que é o cristianismo, foi capaz de ver que os pais fundadores da religião cristã possuíam essa vontade de realizar, essa esperança de concretizar a igualdade. Esse sonho de trazer os céus para a terra, de concretizar um mundo igual, sem classes, sem senhores ou escravos, sem operários e burgueses.
Os celebrantes falam da luz, da alegria e do amor universal. O que ambicionava Bloch senão essa luz e esse amor universal condensados numa ética de valorização do homem e da igualdade material de que falava Aristóteles na sua versão à esquerda, na sua versão que favorece o social. Há muitos mitos em torno de Aristóteles, entre eles que desdenhava da democracia, governo de uma única classe, o povo. É um erro ver as coisas por tal perspectiva. E Notre Dame é um emblema dessa realidade ao falar, nos seus vitrais, dos vícios e das virtudes. O que Aristóteles falava senão de homem que não é nada senão aquilo que ele constrói? Se constrói a virtude, é a virtude; se constrói o vício, é o vício. O que acontece hoje, senão a construção do vício? O capitalismo é um vício, uma doença da predação. O capitalismo é essa doença viciante da exploração do homem pelo homem... O cardeal fala, pela voz do apóstolo Paulo, de que a saúde do homem é a saúde de todos os homens, que o povo vive a ardência de fazer o bem. O que é isso senão a igualdade, a justiça, a fraternidade?
A missa prossegue. Os celebrantes falam do Evangelho segundo São Lucas. Falam da paz na terra aos homens de boa vontade. É uma mensagem ética de vigorosa força. Não é a mensagem de Bloch, do aristotelismo de esquerda, daquele que vê o homem não como carente de salvação, um ser decaído, mas, sim, como um ser altivo, sujeito da própria redenção? O que é a redenção do homem? Não é, claro, descobrir a criança que existe em nós no Natal, mas o ser social que precisa ser construído em todas as épocas. Na Idade Média, justamente quando surge Notre Dame, após obras que se arrastaram por 170 anos, é que o conflito entre o ser social e o ser religioso entra em choque definitivo. Aparentemente, vence o ser religioso. A Igreja agostiniana, a Igreja de Tomás de Aquino, a Igreja sem povo.
Não é por acaso que, antes da missa, em Notre Dame se relata a história da Catedral e suas relíquias e não se fala do social, da vontade, do sonhar acordado dos reformadores e dos cristãos revolucionários. Uma única linha. Uma singela palavra. Mas essa é a luta que ganhou vida e fez história. É a luta que permanece abafada no peito de todos que têm esperança num mundo igualitário. A luta que depende da vontade. Essa é a saída para a igreja: admitir que o reino de Cristo é o reino da terra, o mesmo reino de Marx e Lênin. O mesmo reino de todos os profetas, a começar por Cristo. Foi assim no passado, justamente quando começa a ser construída Notre Dame. É assim no presente.
A missa termina por volta da 1 hora da manhã. As pessoas apertam as mãos. Há congraçamento como em todo o mundo cristão. Vejo em Notre Dame a figura de Bloch ganhar corpo. Ele viveu todo o período da revolução leninista, viveu a ascensão e queda do stalinismo, dedicou a vida a escrever sobre a utopia e a esperança. Juntos, esperança e utopia significam o dever ser, o que precisa ser realizado, aquela tarefa que o homem, ao sonhar acordado, ficou de concretizar, precisa concretizar. Soam os sinos, a multidão se dispersa. Há gente de todas as idades, de todas as classes, de todos os sonhos, de todas as vontades. Caminho no frio, na neve que embala aquilo que chamamos do espírito do Natal. Penso em Bloco e na infância, mas não na infância do indivíduo - que é repetitiva -, mas na infância da humanidade, nessa infância que volta sempre lembrando que o homem nasceu igual e vai morrer igual. Que essa é a exigência maior, perdida na idade média quando Aristóteles se bipartiu: uma face foi para a esquerda; outra ficou atrelada à direita. Uma parte afirmou a igualdade, outra negou a igualdade.
Essa bipartição precisa ser solucionada, o homem precisa encontrar sua unidade. É como o Brasil. Em janeiro, teremos uma nova presidente da República. Há esperança de que as reformas saiam do papel para a prática, que o Brasil reencontre sua unidade. Que exista, em especial, uma reforma abrantente do Judiciário porque, existindo reforma do Judiciário, haverá igualdade de verdade, haverá sintonia entre a economia política e o desejo dos cidadãos. Que o homem, por esse caminho, passe a ser sujeito, não objeto do Estado. Havendo Justiça, a reforma política virá naturalmente.
Faz frio, neva. As luzes de Notre Dame se apagam. O Natal de 2010 passou. Ficou o emblema, ficou o símbolo: o Natal é a realização da construção humana. O divino é o homem. Como diria Bloch: Cristo foi um homem. Todos somos homens. Tudo são realizações humanas. O cristianismo somos nós. O materialismo somos nós. O homem, como diria Aristóteles, é um ser material. As necessidades materiais são as necessidades primeiras. A mãe, e também o pai, de todas as necessidades. Somos a divindade humana. Portanto, somos a vontade realizadora, transformadora, criadora de nova realidade. Vontade que descobre novos mundos. Como acontecerá em 2011 com o Brasil.
Fica a lembrança do frio, da neve e dos sinos de Notre Dame. Passou o Natal, não passou a nossa realidade-necessidade de igualdade.
*Francisco Viana é jornalista, mestre em filosofia política pela PUC-SP, consultor de empresas e autor do livro Hermes, a divina arte da comunicação. É diretor da Consultoria Hermes Comunicação estratégica (e-mail: viana@hermescomunicacao.com.br)
Fonte: Terra Magazine via portal Vermelho
Notre Dame tem seus mistérios e suas histórias. Na cota dos mistérios, tem a seu favor o papel que essa construção gótica, de paredes retas e acabamento precioso, desempenhou na história da Idade Média, com seus vitais e orgãos famosos, sua mensagem em torno de uma cristandade que se dividia entre o aristotelismo de esquerda, a favor do homem, e o culto a um aristotelismo oficializado, favorável a um homem decaído. Esse homem agostiniano que Lutero faria a maior da joia da coroa do protestantismo. A parcela das histórias é encarnada pela recuperação de Joana d' Arc e a coroação de Napoleão. Ou a missa que ali assistiu ao general De Gaule após a expulsão dos nazistas da França.
Ouço a missa, os cânticos, vejo a ritualística e não posso deixar de lembrar de um autor socialista, Ernest Bloch, que fala da energia do cristianismo primitivo e, nele, vê a expressão do sonhar acordado, da vontade de transformar o mundo e criar uma sociedade igualitária. Bloch, amante da música, é o maestre dessa jornada natalina.
É meia-noite. O cardeal fala da plenitude da fé, por séculos e séculos. Lembro de Bloch e do seu culto às rebeliões camponesas da Alemanha do início do Renascimento. Lembro das revoluções que dariam origem ao movimento bolchevista liderado por Lênin no alvorecer do século 20. Pura energia. Puro movimento igualitário. Pura expressão da vontade, do sonho acordado e da esperança de que tanto fala Bloch. Há gente se comprimindo para ver e participar da missa. Uns estão contritos, outros falam. Uns filmam, outros fotografam. Muitos filmam e fotogravam. Mas, a verdade, é que todos, à sua maneira, participam. Fico me perguntando: o que ocorreria no mundo se toda essa energia fosse colocada a favor de uma sociedade igualitária? Se Cristo, como Bloch coloca, fosse visto como um homem, um filosófo revolucionário a favor da divindidade humana e não como algo místico, fora do homem? Bloch foi capaz de compreender essa força colossal que é o cristianismo, foi capaz de ver que os pais fundadores da religião cristã possuíam essa vontade de realizar, essa esperança de concretizar a igualdade. Esse sonho de trazer os céus para a terra, de concretizar um mundo igual, sem classes, sem senhores ou escravos, sem operários e burgueses.
Os celebrantes falam da luz, da alegria e do amor universal. O que ambicionava Bloch senão essa luz e esse amor universal condensados numa ética de valorização do homem e da igualdade material de que falava Aristóteles na sua versão à esquerda, na sua versão que favorece o social. Há muitos mitos em torno de Aristóteles, entre eles que desdenhava da democracia, governo de uma única classe, o povo. É um erro ver as coisas por tal perspectiva. E Notre Dame é um emblema dessa realidade ao falar, nos seus vitrais, dos vícios e das virtudes. O que Aristóteles falava senão de homem que não é nada senão aquilo que ele constrói? Se constrói a virtude, é a virtude; se constrói o vício, é o vício. O que acontece hoje, senão a construção do vício? O capitalismo é um vício, uma doença da predação. O capitalismo é essa doença viciante da exploração do homem pelo homem... O cardeal fala, pela voz do apóstolo Paulo, de que a saúde do homem é a saúde de todos os homens, que o povo vive a ardência de fazer o bem. O que é isso senão a igualdade, a justiça, a fraternidade?
A missa prossegue. Os celebrantes falam do Evangelho segundo São Lucas. Falam da paz na terra aos homens de boa vontade. É uma mensagem ética de vigorosa força. Não é a mensagem de Bloch, do aristotelismo de esquerda, daquele que vê o homem não como carente de salvação, um ser decaído, mas, sim, como um ser altivo, sujeito da própria redenção? O que é a redenção do homem? Não é, claro, descobrir a criança que existe em nós no Natal, mas o ser social que precisa ser construído em todas as épocas. Na Idade Média, justamente quando surge Notre Dame, após obras que se arrastaram por 170 anos, é que o conflito entre o ser social e o ser religioso entra em choque definitivo. Aparentemente, vence o ser religioso. A Igreja agostiniana, a Igreja de Tomás de Aquino, a Igreja sem povo.
Não é por acaso que, antes da missa, em Notre Dame se relata a história da Catedral e suas relíquias e não se fala do social, da vontade, do sonhar acordado dos reformadores e dos cristãos revolucionários. Uma única linha. Uma singela palavra. Mas essa é a luta que ganhou vida e fez história. É a luta que permanece abafada no peito de todos que têm esperança num mundo igualitário. A luta que depende da vontade. Essa é a saída para a igreja: admitir que o reino de Cristo é o reino da terra, o mesmo reino de Marx e Lênin. O mesmo reino de todos os profetas, a começar por Cristo. Foi assim no passado, justamente quando começa a ser construída Notre Dame. É assim no presente.
A missa termina por volta da 1 hora da manhã. As pessoas apertam as mãos. Há congraçamento como em todo o mundo cristão. Vejo em Notre Dame a figura de Bloch ganhar corpo. Ele viveu todo o período da revolução leninista, viveu a ascensão e queda do stalinismo, dedicou a vida a escrever sobre a utopia e a esperança. Juntos, esperança e utopia significam o dever ser, o que precisa ser realizado, aquela tarefa que o homem, ao sonhar acordado, ficou de concretizar, precisa concretizar. Soam os sinos, a multidão se dispersa. Há gente de todas as idades, de todas as classes, de todos os sonhos, de todas as vontades. Caminho no frio, na neve que embala aquilo que chamamos do espírito do Natal. Penso em Bloco e na infância, mas não na infância do indivíduo - que é repetitiva -, mas na infância da humanidade, nessa infância que volta sempre lembrando que o homem nasceu igual e vai morrer igual. Que essa é a exigência maior, perdida na idade média quando Aristóteles se bipartiu: uma face foi para a esquerda; outra ficou atrelada à direita. Uma parte afirmou a igualdade, outra negou a igualdade.
Essa bipartição precisa ser solucionada, o homem precisa encontrar sua unidade. É como o Brasil. Em janeiro, teremos uma nova presidente da República. Há esperança de que as reformas saiam do papel para a prática, que o Brasil reencontre sua unidade. Que exista, em especial, uma reforma abrantente do Judiciário porque, existindo reforma do Judiciário, haverá igualdade de verdade, haverá sintonia entre a economia política e o desejo dos cidadãos. Que o homem, por esse caminho, passe a ser sujeito, não objeto do Estado. Havendo Justiça, a reforma política virá naturalmente.
Faz frio, neva. As luzes de Notre Dame se apagam. O Natal de 2010 passou. Ficou o emblema, ficou o símbolo: o Natal é a realização da construção humana. O divino é o homem. Como diria Bloch: Cristo foi um homem. Todos somos homens. Tudo são realizações humanas. O cristianismo somos nós. O materialismo somos nós. O homem, como diria Aristóteles, é um ser material. As necessidades materiais são as necessidades primeiras. A mãe, e também o pai, de todas as necessidades. Somos a divindade humana. Portanto, somos a vontade realizadora, transformadora, criadora de nova realidade. Vontade que descobre novos mundos. Como acontecerá em 2011 com o Brasil.
Fica a lembrança do frio, da neve e dos sinos de Notre Dame. Passou o Natal, não passou a nossa realidade-necessidade de igualdade.
*Francisco Viana é jornalista, mestre em filosofia política pela PUC-SP, consultor de empresas e autor do livro Hermes, a divina arte da comunicação. É diretor da Consultoria Hermes Comunicação estratégica (e-mail: viana@hermescomunicacao.com.br)
Fonte: Terra Magazine via portal Vermelho
Que o governo Dilma não se acovarde diante da mídia
Engajado na luta pela democratização da comunicação, o jurista
e professor Fábio Konder Comparato decidiu provocar o governo, o
Congresso e o Supremo Tribunal Federal a tratarem do tema. Ele é autor
de três ações diretas de inconstitucionalidade por omissão (ADO), contra
o Congresso Nacional, que até hoje não regulamentou os artigos da
Constituição de 1988 que tratam da comunicação.
Por Joana Rozowykwiat no Portal Vermelho
Fábio Konder Comparato
“Nossa Constituição é uma brilhante fachada, por
trás da qual se abre um enorme terreno baldio”, diz Comparato, em
entrevista ao Vermelho. Segundo ele, ao longo desses 22 anos, grande
parte dos parlamentares tem cedido à pressão do que ele chama de
“oligopólio empresarial que domina o mercado de comunicação”, sempre
interessado em perpetuar a falta de rédeas no setor.
Com as ADOs, o jurista pretende que os parlamentares se pronunciem sobre temas ainda em aberto na legislação brasileira, como a garantia do direito de resposta nos meios de comunicação; a proibição do monopólio e do oligopólio no setor; e o cumprimento, pelas emissoras de Rádio e TV, de alguns princípios que devem reger a programação.
Mais que conseguir uma posição favorável no Judiciário, a ideia é trazer o tema a debate na sociedade e pressionar o governo federal, para que ele proponha ao Congresso projetos para regulamentar e, assim, democratizar as comunicações brasileiras.
Em muitos momentos um crítico do governo Lula, Fábio Konder Comparato expõe suas expectativas em relação à nova gestão: “Espero que o governo da presidente Dilma Rousseff não se acovarde, nem diante do oligopólio empresarial de comunicação de massa, nem perante os chefes militares, que continuam a defender abertamente os assassinos, torturadores e estupradores” da ditadura.
Segundo ele, para que o Brasil ingresse em uma verdadeira democracia, os meios de comunicação precisam ser “utilizados pelo povo como seus canais de comunicação, e não apropriados por grandes empresários, que deles se utilizam exclusivamente em seu próprio interesse e benefício”.
Para aprofundar as discussões sobre o assunto, o professor participa, nesta terça-feira (11), às 19h, do debate “O panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil”, ao lado do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, e do jornalista Paulo Henrique Amorim. O evento, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, acontece no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e é aberto ao público.
Veja abaixo a entrevista completa de Comparato ao Vermelho:
Portal Vermelho: Qual o contexto que motivou essas ações e quais os seus objetivos?
Fábio Konder Comparato: A razão da propositura de ações de inconstitucionalidade por omissão é o fato de que há mais de duas décadas, ou seja, desde que a Constituição foi promulgada, em outubro de 1988, vários dos seus dispositivos da maior importância, relativos à organização e ao funcionamento dos meios de comunicação de massa, permanecem inaplicados, porque não foram regulamentados por lei. Vale dizer, a nossa Constituição é uma brilhante fachada, por trás da qual se abre um enorme terreno baldio.
Vermelho: O senhor pode dar exemplos de casos recentes em que essa falta de regulamentação causou prejuízos?
Comparato: Como exemplo do malefício causado pela omissão do Con-gresso Nacional em legislar a respeito dessa matéria, cito o descumprimento da proibição constitucional da existência de monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social. É fato notório que o setor de televisão no Brasil, por exemplo, dominado por empresas privadas, é um dos mais concentrados do mundo. A Globo controla 340 empresas; o SBT, 195; a Bandeirantes, 166; e a Record, 142.
Outro exemplo é a não-regulamentação do art. 220, § 3º, II da Constituição, por força do qual a lei deve estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
Em 15 de junho de 2010, a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária baixou resolução, regulamentado “a oferta, propaganda, publicidade, informação e outras práticas correlatas, cujo objetivo seja a divulgação e a promoção comercial de alimentos considerados com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e de bebidas com baixo teor nutricional”.
Como sabido, desde 2005 a Organização Mundial da Saúde tem lançado advertências sobre os efeitos nocivos à saúde, provocados pela obesidade, sobretudo entre crianças e adolescentes. Pois bem, a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação – Abia ingressou com ação na Justiça Federal de Brasília contra a Anvisa, pedindo que esta se abstivesse de aplicar aos associados da autora os dispositivos de dita resolução, pois somente a lei pode regulamentar a Constituição, e, no caso, tal lei ainda não foi votada.
A Justiça decidiu suspender os efeitos da resolução. Ou seja, o interesse econômico das empresas de alimentos foi mais forte do que o dever do Estado de proteger a saúde da população.
Vermelho: Que efeitos práticos podem ter essas ações, caso alguma seja acatada pelo STF? Como garantir que o Congresso analisará de fato a questão?
Comparato: O objetivo prático das ações judiciais já intentadas é de fazer pressão sobre o governo federal, a fim de que ele tome a iniciativa de apresentar ao Congresso um ou vários projetos de lei para regulamentar a Constituição nessa parte; sabendo-se que, no Congresso, os projetos de lei de iniciativa do Executivo têm muito mais probabilidade de serem apreciados e votados rapidamente, do que os apresentados pelos parlamentares.
Sob esse aspecto, aliás, a propositura das ações de inconstitucionalidade por omissão já começou a surtir efeito. Logo depois de proposta a primeira ação, Franklin Martins, então chefe da assessoria de comunicação social da presidência da República no governo anterior, declarou ser “um absurdo” a falta de regulamentação legal da Constituição no capítulo dos meios de comunicação social. E fez elaborar um anteprojeto de lei regulamentadora, que está atualmente em mãos do ministro da comunicação do governo Dilma Rousseff.
É indispensável continuar a fazer pressão sobre o governo e o Congresso, a fim de levantar o bloqueio orquestrado pelo oligopólio empresarial dos meios de comunicação de massa.
Vermelho: O senhor está na terceira tentativa de que o Supremo analise esse assunto. O que houve com as primeiras ações?
Comparato: A primeira ação foi proposta em nome da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas e da Fitert – Federação Interestadual de Rádio e Televisão. A relatora no Supremo Tribunal Federal, a ministra Ellen Gracie, no entanto, não autorizou o seu processamento, declarando que somente as confederações sindicais, e não as federações, podem propor tais ações.
Ora, o art. 103, IX da Constituição é claro: são legitimadas a propor ações diretas de inconstitucionalidade, não só as confederações sindicais, mas também as “entidades de classe de âmbito nacional”.
Diante disso, entrei em contato com o PSOL e a Contcop – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Comunicação e Propaganda, e ambos decidiram ingressar no Supremo com ações da mesma natureza, as quais já estão sendo processadas.
Vermelho: Por que os parlamentares têm feito vista grossa para essas lacunas?
Comparato: Na verdade, a maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, nas diferentes legislaturas, tem cedido à pressão do oligopólio empresarial que domina o mercado de comunicação de massa no Brasil.
Vermelho: Hoje há um movimento que desponta para combater distorções nas comunicações brasileiras. Como o senhor vê esse movimento? Que poder de pressão ele tem em prol dessa regulamentação e da democratização da mídia?
Comparato: A resistência à dominação do citado oligopólio privado dos meios de comunicação de massa é um trabalho que está apenas no começo, e vai exigir grande esforço de organização e de esclarecimento público, sobretudo por meio da internet.
Nesse sentido, deve ser saudada a recente criação do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, que reúne os principais sites e blogs não comprometidos com o mencionado oligopólio.
Vermelho: Que avaliação o senhor faz da mídia brasileira?
Comparato: A Constituição brasileira dispõe que os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens devem ser explorados pela União Federal, diretamente ou mediante concessão administrativa. Trata-se, portanto, de um serviço público, e não de atividades de livre iniciativa privada.
Na prática, porém, como todos sabem, tais setores são dominados por grandes empresas no seu interesse particular. Chegou-se mesmo ao extremo de uma concessionária de televisão arrendar a terceiro o canal cuja exploração lhe foi concedida.
Quanto à imprensa, os donos de grandes jornais e revistas agem como verdadeiros patrões irresponsáveis, perante jornalistas submissos e um público leitor, tradicionalmente mantido na ignorância, ou vergonhosamente enganado.
Antigamente, os órgãos de imprensa eram valorosos instrumentos de controle do poder e de defesa das liberdades públicas. Hoje, a maioria deles, em nosso país, integra o bloco oligárquico que defende os interesses dos grupos dominantes.
Vermelho: E em outros países? Que comprações podem ser feitas com a regulamentação e a democratização da comunicação pelo mundo?
Comparato: A experiência dos Estados Unidos a respeito da não-regulamentação do setor de comunicação de massa é muito instrutiva. Em 1934, uma lei federal criou uma agência reguladora do setor (Federal Communications Commission) e estabeleceu regras rígidas para impedir a formação de conglomerados.
Em 1996, por força da pressão neoliberal, essa legislação foi revogada, e em 2003 a citada agencia reguladora levantou todas as restrições a participações cruzadas, na formação de grupos empresariais que exploram meios de comunicação de massa.
Os efeitos dessa mudança regulatória não se fizeram esperar. Até então, havia nos Estados Unidos 50 grupos médios de imprensa, rádio ou televisão, não interligados entre si. Agora, o mercado norte-americano de comunicações é dominado por apenas cinco macro-empresas, que controlam promiscuamente veículos de imprensa, redes de TV, emissoras de rádio e produtoras cinematográficas.
Vermelho: Que expectativa o senhor tem em relação ao novo governo, no que diz respeito às comunicações?
Comparato: Eu espero que o governo da presidente Dilma Rousseff não se acovarde, nem diante do oligopólio empresarial de comunicação de massa, nem perante os chefes militares, que continuam a defender abertamente os assassinos, torturadores e estupradores de oponentes políticos, durante o regime castrense de 1964 a 1985.
Vermelho: O que o senhor aponta como essencial para que a comunicação ajude a democracia brasileira?
Comparato: O sentido original da palavra comunicação é de pôr em comum. No mundo inteiro percebe-se, hoje, que a verdadeira democracia é o regime político em que o povo toma, diretamente, as grandes decisões que dizem respeito ao bem comum, e não se limita a eleger os governantes, incumbidos de decidir em lugar dele.
Ora, para que o povo possa tomar, ele próprio, as grandes decisões nacionais, é indispensável, primeiro, que ele seja corretamente informado sobre as questões a serem decididas; segundo, que as diferentes parcelas do povo possam se comunicar entre si, isto é, pôr em comum suas dúvidas, sugestões e propostas; e, terceiro, que os governantes possam ser questionados diretamente pelo povo.
Para que tudo isso aconteça, é indispensável que os meios de comunicação de massa – imprensa, rádio e televisão, sobretudo – sejam normalmente utilizados pelo povo como seus canais de comunicação, e não apropriados por grandes empresários, que deles se utilizam exclusivamente em seu próprio interesse e benefício.
Com as ADOs, o jurista pretende que os parlamentares se pronunciem sobre temas ainda em aberto na legislação brasileira, como a garantia do direito de resposta nos meios de comunicação; a proibição do monopólio e do oligopólio no setor; e o cumprimento, pelas emissoras de Rádio e TV, de alguns princípios que devem reger a programação.
Mais que conseguir uma posição favorável no Judiciário, a ideia é trazer o tema a debate na sociedade e pressionar o governo federal, para que ele proponha ao Congresso projetos para regulamentar e, assim, democratizar as comunicações brasileiras.
Em muitos momentos um crítico do governo Lula, Fábio Konder Comparato expõe suas expectativas em relação à nova gestão: “Espero que o governo da presidente Dilma Rousseff não se acovarde, nem diante do oligopólio empresarial de comunicação de massa, nem perante os chefes militares, que continuam a defender abertamente os assassinos, torturadores e estupradores” da ditadura.
Segundo ele, para que o Brasil ingresse em uma verdadeira democracia, os meios de comunicação precisam ser “utilizados pelo povo como seus canais de comunicação, e não apropriados por grandes empresários, que deles se utilizam exclusivamente em seu próprio interesse e benefício”.
Para aprofundar as discussões sobre o assunto, o professor participa, nesta terça-feira (11), às 19h, do debate “O panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil”, ao lado do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, e do jornalista Paulo Henrique Amorim. O evento, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, acontece no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e é aberto ao público.
Veja abaixo a entrevista completa de Comparato ao Vermelho:
Portal Vermelho: Qual o contexto que motivou essas ações e quais os seus objetivos?
Fábio Konder Comparato: A razão da propositura de ações de inconstitucionalidade por omissão é o fato de que há mais de duas décadas, ou seja, desde que a Constituição foi promulgada, em outubro de 1988, vários dos seus dispositivos da maior importância, relativos à organização e ao funcionamento dos meios de comunicação de massa, permanecem inaplicados, porque não foram regulamentados por lei. Vale dizer, a nossa Constituição é uma brilhante fachada, por trás da qual se abre um enorme terreno baldio.
Vermelho: O senhor pode dar exemplos de casos recentes em que essa falta de regulamentação causou prejuízos?
Comparato: Como exemplo do malefício causado pela omissão do Con-gresso Nacional em legislar a respeito dessa matéria, cito o descumprimento da proibição constitucional da existência de monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social. É fato notório que o setor de televisão no Brasil, por exemplo, dominado por empresas privadas, é um dos mais concentrados do mundo. A Globo controla 340 empresas; o SBT, 195; a Bandeirantes, 166; e a Record, 142.
Outro exemplo é a não-regulamentação do art. 220, § 3º, II da Constituição, por força do qual a lei deve estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
Em 15 de junho de 2010, a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária baixou resolução, regulamentado “a oferta, propaganda, publicidade, informação e outras práticas correlatas, cujo objetivo seja a divulgação e a promoção comercial de alimentos considerados com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e de bebidas com baixo teor nutricional”.
Como sabido, desde 2005 a Organização Mundial da Saúde tem lançado advertências sobre os efeitos nocivos à saúde, provocados pela obesidade, sobretudo entre crianças e adolescentes. Pois bem, a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação – Abia ingressou com ação na Justiça Federal de Brasília contra a Anvisa, pedindo que esta se abstivesse de aplicar aos associados da autora os dispositivos de dita resolução, pois somente a lei pode regulamentar a Constituição, e, no caso, tal lei ainda não foi votada.
A Justiça decidiu suspender os efeitos da resolução. Ou seja, o interesse econômico das empresas de alimentos foi mais forte do que o dever do Estado de proteger a saúde da população.
Vermelho: Que efeitos práticos podem ter essas ações, caso alguma seja acatada pelo STF? Como garantir que o Congresso analisará de fato a questão?
Comparato: O objetivo prático das ações judiciais já intentadas é de fazer pressão sobre o governo federal, a fim de que ele tome a iniciativa de apresentar ao Congresso um ou vários projetos de lei para regulamentar a Constituição nessa parte; sabendo-se que, no Congresso, os projetos de lei de iniciativa do Executivo têm muito mais probabilidade de serem apreciados e votados rapidamente, do que os apresentados pelos parlamentares.
Sob esse aspecto, aliás, a propositura das ações de inconstitucionalidade por omissão já começou a surtir efeito. Logo depois de proposta a primeira ação, Franklin Martins, então chefe da assessoria de comunicação social da presidência da República no governo anterior, declarou ser “um absurdo” a falta de regulamentação legal da Constituição no capítulo dos meios de comunicação social. E fez elaborar um anteprojeto de lei regulamentadora, que está atualmente em mãos do ministro da comunicação do governo Dilma Rousseff.
É indispensável continuar a fazer pressão sobre o governo e o Congresso, a fim de levantar o bloqueio orquestrado pelo oligopólio empresarial dos meios de comunicação de massa.
Vermelho: O senhor está na terceira tentativa de que o Supremo analise esse assunto. O que houve com as primeiras ações?
Comparato: A primeira ação foi proposta em nome da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas e da Fitert – Federação Interestadual de Rádio e Televisão. A relatora no Supremo Tribunal Federal, a ministra Ellen Gracie, no entanto, não autorizou o seu processamento, declarando que somente as confederações sindicais, e não as federações, podem propor tais ações.
Ora, o art. 103, IX da Constituição é claro: são legitimadas a propor ações diretas de inconstitucionalidade, não só as confederações sindicais, mas também as “entidades de classe de âmbito nacional”.
Diante disso, entrei em contato com o PSOL e a Contcop – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Comunicação e Propaganda, e ambos decidiram ingressar no Supremo com ações da mesma natureza, as quais já estão sendo processadas.
Vermelho: Por que os parlamentares têm feito vista grossa para essas lacunas?
Comparato: Na verdade, a maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, nas diferentes legislaturas, tem cedido à pressão do oligopólio empresarial que domina o mercado de comunicação de massa no Brasil.
Vermelho: Hoje há um movimento que desponta para combater distorções nas comunicações brasileiras. Como o senhor vê esse movimento? Que poder de pressão ele tem em prol dessa regulamentação e da democratização da mídia?
Comparato: A resistência à dominação do citado oligopólio privado dos meios de comunicação de massa é um trabalho que está apenas no começo, e vai exigir grande esforço de organização e de esclarecimento público, sobretudo por meio da internet.
Nesse sentido, deve ser saudada a recente criação do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, que reúne os principais sites e blogs não comprometidos com o mencionado oligopólio.
Vermelho: Que avaliação o senhor faz da mídia brasileira?
Comparato: A Constituição brasileira dispõe que os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens devem ser explorados pela União Federal, diretamente ou mediante concessão administrativa. Trata-se, portanto, de um serviço público, e não de atividades de livre iniciativa privada.
Na prática, porém, como todos sabem, tais setores são dominados por grandes empresas no seu interesse particular. Chegou-se mesmo ao extremo de uma concessionária de televisão arrendar a terceiro o canal cuja exploração lhe foi concedida.
Quanto à imprensa, os donos de grandes jornais e revistas agem como verdadeiros patrões irresponsáveis, perante jornalistas submissos e um público leitor, tradicionalmente mantido na ignorância, ou vergonhosamente enganado.
Antigamente, os órgãos de imprensa eram valorosos instrumentos de controle do poder e de defesa das liberdades públicas. Hoje, a maioria deles, em nosso país, integra o bloco oligárquico que defende os interesses dos grupos dominantes.
Vermelho: E em outros países? Que comprações podem ser feitas com a regulamentação e a democratização da comunicação pelo mundo?
Comparato: A experiência dos Estados Unidos a respeito da não-regulamentação do setor de comunicação de massa é muito instrutiva. Em 1934, uma lei federal criou uma agência reguladora do setor (Federal Communications Commission) e estabeleceu regras rígidas para impedir a formação de conglomerados.
Em 1996, por força da pressão neoliberal, essa legislação foi revogada, e em 2003 a citada agencia reguladora levantou todas as restrições a participações cruzadas, na formação de grupos empresariais que exploram meios de comunicação de massa.
Os efeitos dessa mudança regulatória não se fizeram esperar. Até então, havia nos Estados Unidos 50 grupos médios de imprensa, rádio ou televisão, não interligados entre si. Agora, o mercado norte-americano de comunicações é dominado por apenas cinco macro-empresas, que controlam promiscuamente veículos de imprensa, redes de TV, emissoras de rádio e produtoras cinematográficas.
Vermelho: Que expectativa o senhor tem em relação ao novo governo, no que diz respeito às comunicações?
Comparato: Eu espero que o governo da presidente Dilma Rousseff não se acovarde, nem diante do oligopólio empresarial de comunicação de massa, nem perante os chefes militares, que continuam a defender abertamente os assassinos, torturadores e estupradores de oponentes políticos, durante o regime castrense de 1964 a 1985.
Vermelho: O que o senhor aponta como essencial para que a comunicação ajude a democracia brasileira?
Comparato: O sentido original da palavra comunicação é de pôr em comum. No mundo inteiro percebe-se, hoje, que a verdadeira democracia é o regime político em que o povo toma, diretamente, as grandes decisões que dizem respeito ao bem comum, e não se limita a eleger os governantes, incumbidos de decidir em lugar dele.
Ora, para que o povo possa tomar, ele próprio, as grandes decisões nacionais, é indispensável, primeiro, que ele seja corretamente informado sobre as questões a serem decididas; segundo, que as diferentes parcelas do povo possam se comunicar entre si, isto é, pôr em comum suas dúvidas, sugestões e propostas; e, terceiro, que os governantes possam ser questionados diretamente pelo povo.
Para que tudo isso aconteça, é indispensável que os meios de comunicação de massa – imprensa, rádio e televisão, sobretudo – sejam normalmente utilizados pelo povo como seus canais de comunicação, e não apropriados por grandes empresários, que deles se utilizam exclusivamente em seu próprio interesse e benefício.
Governo quer usar rede da PF para levar internet ao campo
André Borges |
Valor Econômico |
A rede de dados que hoje é usada pela Polícia Federal para
investigações policiais passará a ser usada para levar internet de alta
velocidade à zona rural de todo o país. O projeto, que está nas mãos do
ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, faz parte do pacote de ações
que o governo preparou a pedido da presidente Dilma Rousseff para
expandir o acesso à banda larga no país.
O orçamento para o projeto também já está garantido, segundo o ministro das Comunicações. "Já reservamos R$ 70 milhões para fazer a migração dessa faixa de frequência", disse Bernardo ao Valor. "Nos últimos anos nós levamos o computador para as grandes cidades do país, agora vamos levar o computador para a roça", acrescentou. Dada a alta capacidade de cobertura do sinal da frequência de 450 megahertz (MHz) a 470 MHz usada pela PF, a tecnologia tornou-se peça-chave para acelerar o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). O governo enxerga nessa faixa de frequência o caminho mais barato e rápido para expandir o acesso à internet. As vantagens financeiras são claras, segundo o governo. Maximiliano Salvadori Martinhão, gerente-geral de certificação e engenharia de espectro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), afirma que, com apenas uma antena, essa faixa de frequência pode atingir uma distância de cobertura de até 50 quilômetros, enquanto que, para cobrir a mesma área com uma rede de terceira geração (3G), seria preciso instalar 18 estações com torre, antena, transmissor e sistemas de controle. A vantagem das redes 3G, no entanto, é que, como elas operam em frequências mais altas, conseguem trafegar um volume de dados muito maior. Por isso são mais usadas em regiões de alta densidade populacional. "Esse cenário faz com que essa faixa ofereça o perfil ideal para a zona rural. Temos uma rede de longo alcance, o que reduz a necessidade de instalar muitos equipamentos, voltada para um público menor, o que reduz a possibilidade de congestionar a rede", afirma Martinhão. Com a decisão do governo, os agentes da Polícia Federal passarão a utilizar outra frequência de transmissão. Segundo a Anatel, o plano de realocação está pronto. Os policiais passarão a utilizar uma faixa mais baixa, de 380 MHz a 400 MHz. O projeto de comunicação da PF começou em 2007 e de lá para cá a polícia já investiu aproximadamente US$ 100 milhões em equipamentos, comenta Valdecy Urquiza Júnior, delegado e coordenador de tecnologia da informação da Polícia Federal. A cobertura da frequência é nacional. Nos últimos três anos a PF já montou 100 estações rádio-base fixas e 220 repetidores digitais, além de 9 mil terminais móveis portáteis e veiculares. "Essa rede foi utilizada, por exemplo, nos trabalhos de segurança da presidente Dilma Rousseff no dia de sua posse", diz Urquiza Júnior. Parte dessa infraestrutura poderá ser reutilizada, mas estudos da PF apontaram que será preciso fazer a substituição e a configuração de diversos equipamentos que suportam a rede, inclusive os 9 mil terminais móveis em uso. O prazo de migração do sistema foi estimado em 18 meses. O custo para a migração levantado pela Polícia Federal está de acordo com o orçamento que já foi reservado pelo governo, de R$ 70 milhões. "A migração depende, portanto, da liberação dos recursos orçamentários necessários à substituição dos equipamentos", comenta Urquiza Júnior. Com a saída da Polícia Federal da faixa de frequência de 450 megahertz - rede que também tem alguns MHz hoje utilizados por companhias de radiotáxi - o governo terá de decidir como vai oferecer a tecnologia ao mercado. Entre as opções em discussão, afirma Maximiliano Salvadori Martinhão, da Anatel, o governo poderá decidir pela outorga direta às operadoras, por chamamento público ou por licitação. "Essa questão está em debate e será definida em breve, é um tema de urgência máxima para a agência", explica o gerente-geral de certificação da Anatel. Tecnicamente, o uso da frequência de 450 MHz para disseminar sinal de banda larga deverá se apoiar nas estruturas de fibra óptica espalhadas pelo país. Basicamente, a ideia é que sejam instaladas antenas em pontos onde as fibras não chegam e, a partir dali, seja propagado o sinal de internet sem fio. A estatal Telebrás, reativada para liderar o Plano Nacional de Banda larga (PNBL), deverá ser uma das principais parceiras desse projeto, mas as operadoras privadas também poderão participar da iniciativa, segundo a Anatel. |
A mercantilização do ensino no Chile.
Santiago de Chile, (Prensa Latina)
A educação no Chile é vista como
um negócio que condena aos pobres a estudos de inferior qualidade e a
repetir a vida de suas famílias enterradas na miséria, denunciou hoje
aqui a revista Ponto Final.
A reconhecida publicação chilena referiu-se a como os resultados da
denominada Prova de Seleção Universitária demonstraram uma vez mais a
desigualdade da sociedade e o caráter discriminatorio do sistema de
ensino.
No Chile
assegura-se educação de qualidade para os filhos de famílias de altos
rendimentos e entrega-se uma educação precária aos setores mais
desprotegidos, disse um editorial da revista.
Apontou o texto que
a mercantilização da função educativa será acentuada com a projetada
reforma educacional, sujeita nestes momentos ao trâmite legislativo.
"A educação
particular seguirá baseada no lucro e a pública continuará em mãos dos
municípios, que na maioria dos casos a administram de forma péssima,
enquanto os professores seguirão sendo mal pagos", assinalou a revista.
Criticou assim
mesmo a ideia contida na iniciativa governamental orientada à diminuição
do horário das aulas de História e Ciências Sociais, proposta que
setores estudiantis e acadêmicos do país recusam ao qualificá-la como
uma tentativa de "apagar a memória histórica e a consciência social".
Chile precisa de
uma reforma integral que favoreça uma educação democrática, gratuita,
igualitaria, laica e de boa qualidade, enfatizou Ponto Final..
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