Escrito por Luiz Eça no Correio da Cidadania |
O esperado discurso de Obama de 19 de maio pouco contribuiu para uma
solução justa do impasse da Palestina. Certamente significaram avanços a
afirmação das fronteiras de 1967 como base dos acordos de paz (embora a
ONU já tivesse ido além, fixando essas fronteiras sem as limitações da
palavra "base") e a necessidade urgente da criação do Estado palestino.
Pode parecer pouco, mas não foi para o primeiro-ministro Netanyahu.
Ele considera a expressão "fronteiras de 1967" um autêntico tabu, já
que, ao contrário do que pleiteou Obama, procura prolongar ao máximo as
discussões sobre a Palestina com o fim de ganhar tempo para encher de
novos assentamentos o território que resta aos árabes, tornando inviável
seu projeto de nação.
Animado pela reação indignada de políticos e empresários americanos,
ele declarou "fantasiosa" a proposta de Obama e correu a pedir a
solidariedade do congresso americano, onde obteve uma recepção
apoteótica. O que não foi surpresa. Afinal, como diz o jornalista
americano Philip Giraldi, "este é o melhor congresso que a AIPAC
(principal lobby judaico-americano) pode comprar".
Três dias depois do seu discurso, Obama foi ao congresso da referida
AIPAC para esclarecer as coisas. E aí, recuou quilômetros, numa clara
rendição ao contra-ataque do primeiro-ministro israelense e seu lobby.
Explicando o sentido da expressão "fronteiras de 1967", Obama disse:
"Significa que as partes - israelenses e palestinos - negociarão uma
fronteira que será DIFERENTE DA EXISTENTE EM 4 DE JUNHO DE 1967.
Permitirá que as partes levem em conta as mudanças que ocorreram nos
últimos 44 anos, INCLUINDO A NOVA REALIDADE DEMOGRÁFICA".
Em outras palavras: os palestinos devem esquecer os limites de 1967,
embora tenham sido aprovadas várias vezes pela ONU, e aceitar a "nova
realidade demográfica", ou seja, a perda de grande parte do seu
território, confiscada pelo governo de Israel para o assentamento de
cerca de 400.000 israelenses.
Obama falou também em "trocas de territórios" para compensar essas
perdas. Trocas que seriam feitas de comum acordo. Ou seja, os árabes
teriam de aceitar o que os israelenses lhes propusessem. Não seria
grande coisa, a julgar pelos repetidos pronunciamentos de Bibi contra a
entrega dos assentamentos, hoje ocupando as melhores terras da
Cisjordânia.
Mas o grave não ficou nisso. Obama abandonou a mais importante
posição que assumira em favor de uma Palestina livre e viável: a
exigência de interrupção de novos assentamentos para garantir o início
das negociações de paz, que ele havia repetido insistentemente durante o
primeiro ano do seu mandato.
Para o governo de Tel-aviv, isto seria péssimo, pois seu objetivo é
exatamente o contrário: tomar cada vez mais terras árabes. Ligados por
estradas exclusivas para judeus, os assentamentos israelenses já
transformaram boa parte da Cisjordânia numa série de "bantustões"
isolados entre si.
Caso a expansão dos assentamentos continue, breve a Palestina se
tornará um recorte de áreas não contíguas, sem condições de constituírem
um país viável. E a idéia dos "dois Estados" não passará de um sonho
impossível. Por isso, os árabes negam-se a voltar às negociações de paz
enquanto a construção de novos assentamentos não for suspensa.
Obama deixou de lado esse assunto nos dois discursos pronunciados em
maio. Não deixou, porém, de se pronunciar contra o reconhecimento da
independência da Palestina.
Em fins do ano passado, Abbas, o presidente da Autoridade Palestina,
decidiu como último recurso declarar unilateralmente a independência do
Estado da Palestina, nas fronteiras existentes em 1967. A idéia foi bem
recebida em todo o mundo, inclusive nos principais países da Europa. Era
tido como quase certo que a criação do novo Estado seria reconhecida
oficialmente durante a próxima assembléia da ONU, em setembro. Com o
veto do presidente dos EUA, isso dificilmente acontecerá, pois os
governos europeus devem seguir seu líder.
Mas Obama foi mais adiante no discurso que tantas palmas arrancou do
pessoal da AIPAC. Ele condenou o reatamento da aliança entre os dois
movimentos pela libertação da Palestina - o moderado Fatah e o radical
Hamas -, fato que causara indignação em Israel. Netanyahu tinha sido
taxativo. Não poderia sentar-se à mesa das negociações com a gente do
Hamas, que repudiava a existência do Estado de Israel.
Repetindo a argumentação israelense, Obama afirmou que a
reconciliação era um "obstáculo" à paz na região. Ignorou que, ao
anunciar as pazes com o Fatah, Khaled Meshal, dirigente do Hamas,
declarou que aceitava a solução dos dois Estados, separados pelas
fronteiras de 1967, e indicava o próprio Abbas (tido como cordato por
americanos e judeus) como representante de sua organização nas
negociações a serem realizadas.
Não foi surpresa quando Obama reafirmou que os laços de amizade
ligando os EUA a Israel seriam "inabaláveis" e "blindados". Ao que
pergunta Robert Fisk, conceituado expert em Oriente Médio (The Independent,
30 de maio): "No caso dr o partido violentamente direitista e racista
do hoje ministro Lieberman assumir o poder, esses laços ‘inabaláveis’ e
‘blindados’ exigiriam que continuássemos a fornecer bilhões em
armamentos a eles?".
Talvez aí Obama não fosse tão longe. Por ora, ele manifestou
"completo comprometimento" com a segurança de Israel: "Eis por que
estamos fornecendo nossa mais avançada tecnologia a nossos aliados
israelenses, apesar dos momentos difíceis de nossa economia, aumentamos
nossos financiamentos de ajuda militar a níveis recordes".
E, justificando esse excepcional apoio: "Todo Estado tem o direito de
autodefesa e Israel precisa ser capaz de se defender". "Todo Estado"
menos o palestino, é claro. Vibrantemente aplaudido pelo pessoal da
AIPAC, Obama finalizou, dizendo que, em nome da segurança de Israel, os
palestinos deveriam contentar-se com "um Estado soberano
desmilitarizado". Ou seja, um estado incapaz de se defender de Israel ou
de qualquer outro país. Sem condições de defender sua soberania,
portanto.
O saldo desse episódio, marcado pelos dois discursos de Obama,
entremeados pela vitoriosa passagem de Bibi pelo Congresso, parece
desastroso para os palestinos. No primeiro discurso, poderia se
visualizar algumas esperanças de uma nova atitude americana. Mas logo
após o contra-ataque do primeiro-ministro israelense, com a ruidosa
cobertura dos deputados e senadores americanos, Obama recuou, adotando
posições adversas à causa árabe.
De qualquer modo, dizem alguns observadores otimistas, Obama está aos
poucos defendendo idéias importantes, que favorecem a causa dos "dois
Estados". Primeiro, foi a interrupção dos assentamentos. Agora, a pressa
nas negociações de paz e a imposição dos limites de 1967, ainda que
sujeitos a trocas de territórios.
Mas nada disso é aceito por Israel. Por mais que Obama procure ganhar
a boa vontade do governo de Tel-aviv, defendendo seus interesses, ainda
que injustos, em episódios como o veto na ONU à condenação dos novos
assentamentos, o apoio na discussão do massacre da flotilha de Gaza e
dos crimes na invasão de Gaza, e a negação ao reconhecimento do Estado
palestino.
O único resultado dessa estratégia tem sido o descrédito crescente de
Obama junto aos árabes, que não o consideram um mediador imparcial
entre eles e os israelenses. Vão nesse sentido as declarações de Leon
Panetta, diretor da CIA, e do general Petraeus, comandante no
Afeganistão. Para eles, a inércia na criação de uma Palestina
independente contribui decisivamente para piorar cada vez mais as
relações do mundo árabe com os EUA.
Impossível imaginar que Obama não esteja consciente disso. Como é
provável que ele realmente sinta o drama palestino e deseje uma solução
justa. No entanto, essa soma de razões de Estado e razões humanitárias
não tem sido suficiente para mover o presidente dos EUA a exercer uma
pressão real sobre Israel.
Teria contra si a maioria dos congressistas, que são financiados pela
AIPAC e congêneres; os lobbies da indústria de armamentos, interessada
nos imensos gastos militares israelenses; grande parte do eleitorado
judaico-americano; muitas igrejas fundamentalistas cristãs, jornais e
redes de TV e rádio. Todos eles 100% pró-governo de Israel, seja lá quem
for.
Com Netanyahu, ou gente como ele no poder, a paz na Palestina
continuará muito longe. Enquanto isso, Obama seguirá fazendo propostas,
algumas até positivas, e declarações bem articuladas que, na verdade,
não são para valer. Ou melhor, são: servem para promover sua imagem de
"bom moço", com vistas nas eleições presidenciais de 2012.
Luiz Eça é jornalista.
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Obama e a Palestina: pequenos avanços, grandes recuos
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quinta-feira, 9 de junho de 2011
Gilad Atzmon: Eu tenho zero respeito pela grande mídia
O saxofonista de jazz Gilad Atzmon tem um blogue onde denuncia a política de seu país de origem, Israel. Ele não tem medo de dizer sem rodeios aquilo que acredita ser a verdade, é impenetrável ao conceito de autocensura. E fala aqui sobre o quão pouco respeito tem pela mídia ocidental.
Por Silvia Cattori na REVISTA FÓRUM
O
saxofonista de jazz Gilad Atzmon tem um blogue onde denuncia a política
de seu país de origem, Israel. Ele não tem medo de dizer sem rodeios
aquilo que acredita ser a verdade, é impenetrável ao conceito de
autocensura. E fala aqui sobre o quão pouco respeito tem pela mídia
ocidental.
Silvia Cattori - Suas análises políticas, traduzidas para dezenas de línguas, atingem um grande número de leitores na web. Para quem exatamente você escreve?
Gilad Atzmon - Escrevo principalmente para mim. Tento entender o
mundo à minha volta. Há uns anos, entendi que muita gente por aí está
interessada nos pensamentos com os quais me deleito, então eu comecei a
deixar outras pessoas terem acesso à minha mente destrutiva em ebulição.
Cattori - Num tempo em que a imprensa chegou ao seu ponto mais baixo, você está entre aqueles que continua a ler jornais?
Atzmon - Não, há muitos anos não compro jornais porque estou
interessado no Oriente Médio, e a grande mídia tem muito pouco a
oferecer nesse sentido. Provavelmente o único especialista na mídia
britânica ou mesmo na mídia que fala inglês é Robert Fisk. Se eu quiser
saber o que acontece no Oriente Médio, eu vou ao “Counterpunch”, ao
“Information Clearing House”, “Veterans Today”, “Rense.com”, “Uprooted
Palestinian”, “PalestineTelegraph”, “Palestine Chronicle”, “Dissident
Voice”, “Uruknet”, e outros ótimos sites. Nossos websites e blogues são
muito mais informativos que a grande mídia. Somos os especialistas,
estamos nos tornando a maior fonte de informação. E vejo o tanto de
pessoas que visita meu site. Se há uma crise em Gaza, por exemplo, eles
querem saber o que Gordon Duff, Ramzy Baroud, Alan Hart, Israel Shamir,
Alex Cockburn ou Ali Abunimah tem a dizer sobre. E tenho zero respeito
pela grande mídia. Se a grande mídia deseja sobreviver, é melhor se
mexer rapidamente, do contrário, estará acabada.
Cattori - A desinformação sobre Israel não se relaciona ao fato
de que jornalistas honestos são, eles mesmos, objetos da propaganda
israelense?
Atzmon - No que concerne à Grã-Bretanha, está longe de ser um
segredo que os maiores apoiadores da guerra criminosa de Blair contra o
Iraque foram os jornalistas David Aaronovitch e Nick Cohen, ambos que
escrevem também para o notório. Acho que essas pessoas agora estão
expostas. Como digo frequentemente, “a maré mudou”.
Cattori - Nós vemos os mesmos mecanismos de censura e controle de
informação funcionando na nova mídia alternativa. Qualquer um que possa
discordar do programa dos donos dos sites é censurado.
Atzmon - Acho que isso é normal. Você tem que se lembrar que todo
discurso é, na prática, um conjunto de limites. Isso deve explicar
porque o artista é muito mais efetivo do que o agitador marxista ou
mesmo que o acadêmico. Enquanto o marxista ou o acadêmico estão ali
para manter os limites, o artista está ali para apresentar uma
realidade alternativa. Minha escolha é obviamente clara, sou um artista.
Cattori - Em sua opinião, a imprensa israelense é mais livre que a nossa?
Atzmon - Interessantemente, a imprensa israelense não é livre, mas
ainda é mais aberta do que a mídia ocidental. Apesar da censura, é
aberta a discussões sobre questões judaicas e mais crítica sobre o
Estado de Israel do que o Guardian, o The New York Times ou mesmo o Socialist Worker. Aliás, mesmo o Zionist Jewish Chronicle (JC) do Reino Unido é mais aberto que o Guardian. Eu estive no JC
onde li uma reportagem sobre as implacáveis tentativas de David
Miliband em alterar as leis britânicas universais de jurisdição.
Cattori - Apesar da dureza de suas críticas contra Israel, o jornal diário israelense Haaretz
ou o canal Arte não te censuraram. É o grande músico de jazz ou o
oponente israelense que ganha o interesse da mídia? Isso seria um sinal
de que alguma coisa mudou?
Atzomn - Ambos, acredito. Eu sou interessante para eles em sentidos
diferentes. Ofereço a eles uma oportunidade de dizer o que pensam
exatamente onde eles não têm coragem de dizê-lo. De qualquer forma, o
título de meu novo álbum é “The Tide Has Changed” (A Maré Mudou). Algo
está mudando e é grande, muito muito grande, na verdade. Vejo que mais
pessoas admitem que meus escritos tem se tornado influentes. Na
Grã-Bretanha posso dizer que sou bastante famoso em certos círculos.
Quando eu faço turnês ao redor do mundo eu dou muitas entrevistas e
palestras. Eu também tenho alguns inimigos que tentam me silenciar e se
esforçam para cancelar meus shows e palestras. Como você vê, eles
falharam todas as vezes. Eu ainda estou chutando e não tenho planos de
parar.
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Marxismo, crise e capital fictício - Dois capítulos do novo livro de Belluzzo
Trinta e seis anos depois de sua tese de doutorado, à luz de um colapso desencadeado pela reprodução do capital fictício, deixado à própria sorte pelo desmonte do aparato regulatório do pós-guerra, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, agora aos 68, volta à tese da juventude para uma releitura que encadeia a produção de um novo livro ainda inconcluso. Dele, Carta Maior publica dois capítulos inéditos: a introdução –[i]“Capital e Capitalismo”[/i], uma dissecação marxista da vida sob um sistema que tritura cada molécula de sanidade ao prometer mais do que seu DNA está apto a entregar; e o capítulo V, [i]‘Sistema de Crédito, Capital Fictício e Crise’[/i].
Saul Leblon na CARTA MAIOR
Em
1975, aos 33 anos, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo defendia sua tese
de doutorado cujo título antecipava um interesse e uma filiação: "Estudo sobre a Crítica da Economia Política”. Publicada cinco anos depois pela Brasiliense –‘Valor e Capitalismo, um Ensaio sobre a Economia política’ - tornou-se uma referência para a compreensão do sistema capitalista de produção.
Em 117 páginas que ofuscam a juventude do autor, o texto cerca os antecessores de Marx para esmiuçar aproximações e hesitações dos clássicos na conceituação da sociedade desenvolvida para/pela produção de mercadorias. Sobre Marx, ele logo avisa: "enquanto a indagação clássica parte do conceito abstrato de valor, Marx simplesmente se pergunta em que condições os produtos do trabalho humano assumem a forma-valor (...) O objeto de sua investigação não é, pois, o 'valor' como o imaginam os espíritos chegados à metafísica, senão a mercadoria, forma elementar que assumem os produtos do trabalho humano nas sociedades mercantis".
Fiel ao método que reconhece o humano no desumano (e vice versa), embaralhado nos dentes da engrenagem capitalista, Belluzzo pilota o materialismo histórico com a mesma destreza com que se afasta da servidão maniqueísta das aparências. Se o que parece ser não é numa sociedade pasteurizada pelo liquidificador da mercadoria, a efetiva compreensão das relações de produção que a distinguem não poderia jamais preceder a sua completa materialidade sócio-econômica.
Falecido em 1790, o escocês Adam Smith a quem caberiam os royalties pela expressão mercados auto-reguláveis --‘mão invisível’, na formulação original-- não conseguiria de qualquer modo concluir a decifração avant la lettre de um capitalismo industrial ainda em fraldas no seu tempo. Tal façanha distinguiria um velho barbudo nascido 28 anos depois, na Alemanha, quando a fumaça e a fuligem consolidavam a supremacia das novas formas de viver e de produzir sob o reino da mercadoria.
Além da argúcia analítica, o escrito de 1975 revela o fino narrador que transita com elegância e clareza pelo difícil objeto da economia política. Reconhecido como uma espécie de Ademir da Guia da análise crítica dos dias que correm, cultivada em prolífica e prestigiada presença em livros, artigos e intervenções políticas, o palmeirense Belluzzo dribla os ardis da chamada ‘Ciência Triste’ interligando-os à matriz das inquietações e incertezas que determinam o jogo bruto do sistema deixado à própria sorte. Ao fustigar a possibilidade de um equilíbrio imanente a esse vale-tudo, crendice cara aos neoclássicos que mergulharam o planeta na mazorca atual, a tese de 1975 advertia que num sistema produtor de mercadorias o suposto pendor à autoregulação dependeria de fatores alheios à história. Afora essa hipótese, de “um Deus ex-machina, não há como explicar a forma pela qual se chegou a ele”, fuzila.
O capitalismo aceita tudo. Menos a violação do seu impulso vital imiscível, como água e óleo, com ideais de harmonia e estabilidade. “Tal coisa’, lembra Belluzzo, “seria possível se as necessidades comandassem a produção, e não o inverso”. Sem os contrapesos de forças em sentido contrário, o capitalismo quanto mais dá certo, mais dá errado, nos seus próprio termos. Ou melhor dito pelo autor, trata-se da “própria contradição em processo, na medida em que a mesma lei que o compele a uma valorização progressiva acaba determinando um estreitamento da base sobre a qual se apóia esse processo de valorização”. É nesse percurso avesso à convergências que as crises regurgitam de uma desordem constitutiva e assumem invariavelmente a forma de superprodução - “de capital e não de mercadorias”, pontua o doutorando em sua exposição.
Trinta e seis anos depois, à luz de um colapso desencadeado justamente pela reprodução do capital fictício, deixado à própria sorte pelo desmonte do aparato regulatório do pós-guerra, o economista agora aos 68, volta à tese da juventude para uma releitura que encadeia a produção de um novo livro ainda inconcluso. Dele, Carta Maior publica dois capítulos inéditos: a introdução –“Capital e Capitalismo”, uma dissecação marxista da vida sob um sistema que tritura cada molécula de sanidade ao prometer mais do que seu DNA está apto a entregar; e o capítulo V, ‘Sistema de Crédito, Capital Fictício e Crise’. Aqui, trata-se de uma aula marxista para desvelar a mecânica estrutural da concentração de capitais que permite, de um lado, ‘antecipar’ o futuro através do crédito e do investimento; de outro, gerar massas de capital fictício, cujo supremacia sancionada desde Reagan/Tatcher resultou em conseqüências sabidas: auge e, portanto, ruína dos livres mercados.
Não são textos para apressados. Porém, ademais do prazer da leitura de longo curso, são dotados de urgência política. Mestre em erguer mirantes analíticos, Belluzzo eleva nossa visão além da neblina, para sofisticar a compreensão dos afazeres do nosso tempo.
Em 117 páginas que ofuscam a juventude do autor, o texto cerca os antecessores de Marx para esmiuçar aproximações e hesitações dos clássicos na conceituação da sociedade desenvolvida para/pela produção de mercadorias. Sobre Marx, ele logo avisa: "enquanto a indagação clássica parte do conceito abstrato de valor, Marx simplesmente se pergunta em que condições os produtos do trabalho humano assumem a forma-valor (...) O objeto de sua investigação não é, pois, o 'valor' como o imaginam os espíritos chegados à metafísica, senão a mercadoria, forma elementar que assumem os produtos do trabalho humano nas sociedades mercantis".
Fiel ao método que reconhece o humano no desumano (e vice versa), embaralhado nos dentes da engrenagem capitalista, Belluzzo pilota o materialismo histórico com a mesma destreza com que se afasta da servidão maniqueísta das aparências. Se o que parece ser não é numa sociedade pasteurizada pelo liquidificador da mercadoria, a efetiva compreensão das relações de produção que a distinguem não poderia jamais preceder a sua completa materialidade sócio-econômica.
Falecido em 1790, o escocês Adam Smith a quem caberiam os royalties pela expressão mercados auto-reguláveis --‘mão invisível’, na formulação original-- não conseguiria de qualquer modo concluir a decifração avant la lettre de um capitalismo industrial ainda em fraldas no seu tempo. Tal façanha distinguiria um velho barbudo nascido 28 anos depois, na Alemanha, quando a fumaça e a fuligem consolidavam a supremacia das novas formas de viver e de produzir sob o reino da mercadoria.
Além da argúcia analítica, o escrito de 1975 revela o fino narrador que transita com elegância e clareza pelo difícil objeto da economia política. Reconhecido como uma espécie de Ademir da Guia da análise crítica dos dias que correm, cultivada em prolífica e prestigiada presença em livros, artigos e intervenções políticas, o palmeirense Belluzzo dribla os ardis da chamada ‘Ciência Triste’ interligando-os à matriz das inquietações e incertezas que determinam o jogo bruto do sistema deixado à própria sorte. Ao fustigar a possibilidade de um equilíbrio imanente a esse vale-tudo, crendice cara aos neoclássicos que mergulharam o planeta na mazorca atual, a tese de 1975 advertia que num sistema produtor de mercadorias o suposto pendor à autoregulação dependeria de fatores alheios à história. Afora essa hipótese, de “um Deus ex-machina, não há como explicar a forma pela qual se chegou a ele”, fuzila.
O capitalismo aceita tudo. Menos a violação do seu impulso vital imiscível, como água e óleo, com ideais de harmonia e estabilidade. “Tal coisa’, lembra Belluzzo, “seria possível se as necessidades comandassem a produção, e não o inverso”. Sem os contrapesos de forças em sentido contrário, o capitalismo quanto mais dá certo, mais dá errado, nos seus próprio termos. Ou melhor dito pelo autor, trata-se da “própria contradição em processo, na medida em que a mesma lei que o compele a uma valorização progressiva acaba determinando um estreitamento da base sobre a qual se apóia esse processo de valorização”. É nesse percurso avesso à convergências que as crises regurgitam de uma desordem constitutiva e assumem invariavelmente a forma de superprodução - “de capital e não de mercadorias”, pontua o doutorando em sua exposição.
Trinta e seis anos depois, à luz de um colapso desencadeado justamente pela reprodução do capital fictício, deixado à própria sorte pelo desmonte do aparato regulatório do pós-guerra, o economista agora aos 68, volta à tese da juventude para uma releitura que encadeia a produção de um novo livro ainda inconcluso. Dele, Carta Maior publica dois capítulos inéditos: a introdução –“Capital e Capitalismo”, uma dissecação marxista da vida sob um sistema que tritura cada molécula de sanidade ao prometer mais do que seu DNA está apto a entregar; e o capítulo V, ‘Sistema de Crédito, Capital Fictício e Crise’. Aqui, trata-se de uma aula marxista para desvelar a mecânica estrutural da concentração de capitais que permite, de um lado, ‘antecipar’ o futuro através do crédito e do investimento; de outro, gerar massas de capital fictício, cujo supremacia sancionada desde Reagan/Tatcher resultou em conseqüências sabidas: auge e, portanto, ruína dos livres mercados.
Não são textos para apressados. Porém, ademais do prazer da leitura de longo curso, são dotados de urgência política. Mestre em erguer mirantes analíticos, Belluzzo eleva nossa visão além da neblina, para sofisticar a compreensão dos afazeres do nosso tempo.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Lançado Comitê para proteção do meio ambiente
Vivian Virissimo no Sul21
O Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento
Sustentável foi lançado nesta terça-feira (7), com o objetivo de reunir
diferentes segmentos da sociedade a fim de combater o avanço dos
desmatamentos no Brasil em virtude da votação do novo Código Florestal.
Na oportunidade também foi divulgado manifesto.
O Comitê tem o mérito de reunir entidades brasileiras diversas, como
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Central Única
dos Trabalhadores (CUT) e a Via Campesina Brasil. Também integram o
comitê o Movimento Humanos Direitos, Movimento Amazônia para Sempre e a
aliança de Ongs SOS Florestas.
João Paulo Rodrigues, da Via Campesina, ressaltou que este é um
momento de enfrentamento ao setor mais reacionário do país, que combina o
latifúndio atrasado e o agronegócio. Rodrigues adiantou que o movimento
fará, ainda este ano, um acampamento por tempo indeterminado em
Brasília.
O próximo passo será o agendamento de audiência com a presidenta
Dilma Rousseff, presidente do Senado, além das lideranças que possuem
representação na casa.
Nesta quarta-feira (8), o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(IPEA) divulgou comunicado informando que a alteração do Código
Florestal pode acarretar impactos significativos na cobertura vegetal
dos biomas brasileiros. O estudo pretende fornecer argumentos
científicos para qualificar o debate em torno das alterações na lei. O
comunicado aponta que a aprovação da nova legislação irá prejudicar a
intenção do Brasil de reduzir a emissão de carbono, proposta ratificada
pelo país em diversos tratados internacionais.
Com relação a este ponto, ontem a presidenta Dilma Rousseff declarou
em evento da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável que o avanço do desmatamento não está em negociação. “Iremos
cumprir os compromissos que assumimos e não permitiremos que haja volta
atrás na roda da História”, sinalizou a presidenta.
Confira o teor do manifesto:
Manifesto em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável do Brasil
Por que tanta polêmica em torno da manutenção do que resta das nossas florestas? Será possível que ambientalistas, cientistas, empresários, representantes de comunidades, movimentos sociais e tantos cidadãos e cidadãs manifestem sua indignação diante do texto do Código Florestal, aprovado pela Câmara dos Deputados, apenas por um suposto radicalismo ou desejo de conflito sem cabimento? Será justo afirmar que os defensores das florestas não levam em conta as pessoas e suas necessidades de produzir e consumir alimentos? Do que se trata, afinal? O que importa para todos os brasileiros?
Importa, em primeiro lugar, esclarecer a grande confusão sob a qual se criam tantas desinformações: não está se fazendo a defesa pura e simples das florestas. Elas são parte dos sonhos de um país com mais saúde, menos injustiça, no qual a qualidade de vida de todos seja um critério levado em conta. Um Brasil no qual os mais pobres não sejam relegados a lugares destruídos, perigosos e insalubres. No qual a natureza seja respeitada para que continue sendo a nossa principal fonte de vida e não a mensageira de nossas doenças e de catástrofes.
A Constituição Brasileira afirma com enorme clareza esses ideais, no seu artigo 225, quando estabelece que o meio ambiente saudável e equilibrado é um direito da coletividade e todos – Poder Público e sociedade – têm o dever de defendê-lo para seu próprio usufruto e para as futuras gerações.
Esse é o princípio fundamental sob ataque agora no Congresso Nacional, com a aprovação do projeto de lei que altera o Código Florestal. 23 anos após a vigência de nossa Constituição quer-se abrir mão de suas conquistas e provocar enorme retrocesso.
Há décadas se fala que o destino do Brasil é ser potência mundial. E muitos ainda não perceberam que o grande trunfo do Brasil para chegar a ser potência é a sua condição ambiental diferenciada, nesses tempos em que o aquecimento global leva a previsões sombrias e em que o acesso à água transforma-se numa necessidade mais estratégica do que a posse de petróleo. Água depende de florestas. Temos o direito de destruí-las ainda mais? A qualidade do solo, para produzir alimentos, depende das florestas. Elas também são fundamentais para o equilíbrio climático, objetivo de todas as nações do planeta. Sua retirada irresponsável está ainda no centro das causas de desastres ocorridos em áreas de risco, que tantas mortes têm causado, no Brasil e no mundo.
Tudo o que aqui foi dito pode ser resumido numa frase: vamos usar, sim, nossos recursos naturais, mas de maneira sustentável. Ou seja, com o conhecimento, os cuidados e as técnicas que evitam sua destruição pura e simples.
É mais do que hora de o País atualizar sua visão de desenvolvimento para incorporar essa atitude e essa visão sustentável em todas as suas dimensões. Tal como a Constituição reconhece a manutenção das florestas como parte do projeto nacional de desenvolvimento, cabe ao poder público e nós, cidadãos brasileiros, garantir que isso aconteça.
Devemos aproveitar a discussão do Código Florestal para avançar na construção do desenvolvimento sustentável. Para isso, é de extrema importância que o Senado e o governo federal ouçam a sociedade brasileira e jamais esqueçam que seus mandatos contêm, na origem, compromisso democrático inalienável de respeitar e dialogar com a sociedade para construir nossos caminhos.
O Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, criado pelas instituições abaixo assinadas, convoca a sociedade brasileira a se unir a esse desafio, contribuindo para a promoção do debate e a apresentação de propostas, de modo que o Senado tenha a seu alcance elementos para aprovar uma lei à altura do Brasil.
Com informações do Brasil de Fato, Agência Brasil e Rede Brasil Atual
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terça-feira, 7 de junho de 2011
"Indignados" espanhóis debatem futuro do movimento
“Não temos que ter medo de sair daqui. Não é isso que vai nos desorganizar. Podemos ir embora, mas já sabemos o caminho de volta”, disse um dos indignados presentes à assembléia geral na Praça Catalunya. A assembléia discutiu estratégias para se deixar o local central dos protestos em Barcelona, expandindo o movimento a outras áreas da cidade e do país. Tendo em vista que o movimento dos indignados vem perdendo espaço na grande imprensa e lembrando o fato de que ele surgiu como uma mobilização espontânea a partir das mídias sociais, agora só há uma alternativa: a comunicação alternativa. O artigo é de Fabíola Munhoz.
Fabíola Munhoz (*) - Direto de Barcelona, Especial para Carta Maior
“Isso aqui não é um parlamento”. A frase foi
dita por um dos indignados da Praça Catalunya, durante a Assembleia
Geral realizada no último domingo (5/6), com a finalidade de discutir,
dentre outros temas, estratégias para se deixar o local central dos
protestos em Barcelona, expandindo o movimento a outras áreas da cidade e
do país.
A reclamação do manifestante se deu durante a votação de propostas para a desocupação da praça, em que os ânimos se acirraram porque alguns dos presentes interrompiam a contagem dos votos, carregando cartazes a favor da permanência do acampamento.
“Não estamos reunidos aqui para ver quem ganha, mas sim, para somar forças”, continuou o mesmo jovem, pedindo a todos que mantivessem a disposição para o diálogo e a busca por decisões tomadas em consenso. No entanto, se a grande quantidade de pessoas reunidas na praça já era um obstáculo à contagem fiel dos votos antes, quando os temas tratados despertavam opiniões mais ou menos parecidas, agora, que o movimento cresce em complexidade e discordância interna, a democracia perseguida pela dinâmica da assembleia torna-se ainda mais difícil de ser alcançada.
“Estamos tentando melhorar a metodologia usada até agora, mas não tem sido fácil. Por isso, a Comissão de Organização da Assembleia está sempre aberta a propostas”, pedia calma uma das duas garotas que eram porta-vozes no encontro de domingo.
Seguindo a lógica de se dividirem as ações do movimento por grupos de trabalho, e diante da importância das definições sobre como e quando sair da praça, foi criada uma Comissão de Continuidade. Esse grupo é responsável por planejar a transição da acampada a outros tipos de ativismo, sem que, com isso, percam-se a visibilidade e o poder de mobilização, alcançados até agora pelos indignados.
Os participantes de tal célula do movimento têm se reunido diariamente desde quinta-feira passada, e apresentaram no domingo algumas ideias postas a votação. A primeira delas é a de que seja levantado acampamento já ao longo desta próxima semana, porém, sem uma data definida para que isso ocorra de fato. Segundo uma jovem catalã que lia a proposta, a saída da praça ocorreria quando se mostrasse “logisticamente viável e politicamente clara”.
A definição, vaga demais, não pareceu ter sido compreendida pelas pessoas que votavam a favor. “O que significa uma saída politicamente clara?” perguntei a uma jovem de cabelo vermelho que, sentada ao meu lado, levantava a mão para mostrar que estava de acordo com a sugestão apresentada. “Não sei”, respondeu. Ela, assim como os muitos outros que deram seu sim duvidoso à proposta, demonstrava mais ânsia pela expansão e pela transformação do movimento do que temor frente às incertezas.
O imigrante de Senegal, chamado Ibrahima, que freqüenta a praça todos os dias e luta por melhores condições de trabalho na fábrica onde atua como soldador, também é contra a permanência dos acampados na Praça Catalunya por mais tempo. “Algumas pessoas pensam que vão morar para sempre na praça. E isso não é possível. Aqui também um lugar turístico, que precisa ser mantido limpo”.
Escutava essas palavras e observava um grupo de músicos tocando em local próximo a uma das entradas da praça, quando fui convidada a sair do canteiro que tinha escolhido como lugar alto e privilegiado para assistir ao espetáculo. “Vocês não podem ficar aqui”, fui avisada por um casal que havia montado sua tenda ao lado e pedia para que eu e outras pessoas não ocupassem seu “quintal”, enquanto cercavam o espaço para impedir novas “invasões”.
Digressões divertidas à parte, a segunda proposta de continuidade votada no domingo foi de que as Assembleias Gerais já não sucedam todos os dias, mas sim, três vezes por semana, para que as comissões tenham mais tempo de refletir e debater planos de trabalho e princípios antes de que tais ideias sejam levadas a julgamento de todos. Como essa mudança também foi aprovada pela maioria dos presentes, a próxima assembleia acontece hoje, terça-feira (7/6). E as seguintes serão sexta e domingo.
Assim, embora tenha sido aprovado o abandono da praça nos próximos dias, esse plano prevê a manutenção da Praça Catalunya como ponto central de articulação e informação do movimento. Ali continuarão a ser realizadas atividades diurnas, como debates e oficinas, em paralelo a dinâmicas parecidas em outras praças e bairros da cidade. A transformação da acampada pretende, portanto, apenas impedir que as pessoas continuem dormindo na praça, já que essa situação tem sido acompanhada de problemas, como inseguridade, desorganização e cansaço.
Portanto, as Assembleias Gerais seguirão como mecanismo de decisão, e a Comissão de Continuidade propõe agora a busca de outro local, como ponto de encontro alternativo à Praça Catalunya, onde também possam ser realizados debates públicos que afetem o movimento espalhado por toda a cidade. Levantaram-se as hipóteses de que esse novo espaço seja pedido à Prefeitura de Barcelona ou de que ele seja conquistado com a ocupação de algum prédio público.
Essa última opção seria mais coerente com o lema do movimento de que “Ninguém nos representa”, mas deixaria de respeitar a opinião dos reformistas que também fazem parte do coletivo de manifestantes. Por isso, o debate vai longe, assim como está distante de um consenso o tema das estratégias políticas e comunicativas do movimento.
Apesar de a acampada contar com Comissões de Comunicação e Audiovisual próprias, além de mídias sociais, blogs e listas de e-mail, providenciados como instrumentos informativos por cada uma das outras comissões temáticas, ainda há receio de parte do coletivo quanto à possível perda de espaço na imprensa convencional. Por isso, tanta dúvida quanto a sair ou não da Praça Catalunya, que se tornou símbolo da luta dos indignados aos olhos da mídia internacional.
Sobre esse ponto, merece citação outra fala do autor da frase que inicia este texto: “Não temos que ter medo de sair daqui. Não é isso que vai nos desorganizar. Podemos ir embora, mas já sabemos o caminho de volta”. Tendo em vista que o movimento dos indignados só vem perdendo espaço na grande imprensa e lembrando o fato de que ele surgiu como uma mobilização espontânea a partir das mídias sociais, agora só há uma alternativa: a comunicação alternativa.
(*) Advogada, jornalista e mestranda em Comunicação e Educação
A reclamação do manifestante se deu durante a votação de propostas para a desocupação da praça, em que os ânimos se acirraram porque alguns dos presentes interrompiam a contagem dos votos, carregando cartazes a favor da permanência do acampamento.
“Não estamos reunidos aqui para ver quem ganha, mas sim, para somar forças”, continuou o mesmo jovem, pedindo a todos que mantivessem a disposição para o diálogo e a busca por decisões tomadas em consenso. No entanto, se a grande quantidade de pessoas reunidas na praça já era um obstáculo à contagem fiel dos votos antes, quando os temas tratados despertavam opiniões mais ou menos parecidas, agora, que o movimento cresce em complexidade e discordância interna, a democracia perseguida pela dinâmica da assembleia torna-se ainda mais difícil de ser alcançada.
“Estamos tentando melhorar a metodologia usada até agora, mas não tem sido fácil. Por isso, a Comissão de Organização da Assembleia está sempre aberta a propostas”, pedia calma uma das duas garotas que eram porta-vozes no encontro de domingo.
Seguindo a lógica de se dividirem as ações do movimento por grupos de trabalho, e diante da importância das definições sobre como e quando sair da praça, foi criada uma Comissão de Continuidade. Esse grupo é responsável por planejar a transição da acampada a outros tipos de ativismo, sem que, com isso, percam-se a visibilidade e o poder de mobilização, alcançados até agora pelos indignados.
Os participantes de tal célula do movimento têm se reunido diariamente desde quinta-feira passada, e apresentaram no domingo algumas ideias postas a votação. A primeira delas é a de que seja levantado acampamento já ao longo desta próxima semana, porém, sem uma data definida para que isso ocorra de fato. Segundo uma jovem catalã que lia a proposta, a saída da praça ocorreria quando se mostrasse “logisticamente viável e politicamente clara”.
A definição, vaga demais, não pareceu ter sido compreendida pelas pessoas que votavam a favor. “O que significa uma saída politicamente clara?” perguntei a uma jovem de cabelo vermelho que, sentada ao meu lado, levantava a mão para mostrar que estava de acordo com a sugestão apresentada. “Não sei”, respondeu. Ela, assim como os muitos outros que deram seu sim duvidoso à proposta, demonstrava mais ânsia pela expansão e pela transformação do movimento do que temor frente às incertezas.
O imigrante de Senegal, chamado Ibrahima, que freqüenta a praça todos os dias e luta por melhores condições de trabalho na fábrica onde atua como soldador, também é contra a permanência dos acampados na Praça Catalunya por mais tempo. “Algumas pessoas pensam que vão morar para sempre na praça. E isso não é possível. Aqui também um lugar turístico, que precisa ser mantido limpo”.
Escutava essas palavras e observava um grupo de músicos tocando em local próximo a uma das entradas da praça, quando fui convidada a sair do canteiro que tinha escolhido como lugar alto e privilegiado para assistir ao espetáculo. “Vocês não podem ficar aqui”, fui avisada por um casal que havia montado sua tenda ao lado e pedia para que eu e outras pessoas não ocupassem seu “quintal”, enquanto cercavam o espaço para impedir novas “invasões”.
Digressões divertidas à parte, a segunda proposta de continuidade votada no domingo foi de que as Assembleias Gerais já não sucedam todos os dias, mas sim, três vezes por semana, para que as comissões tenham mais tempo de refletir e debater planos de trabalho e princípios antes de que tais ideias sejam levadas a julgamento de todos. Como essa mudança também foi aprovada pela maioria dos presentes, a próxima assembleia acontece hoje, terça-feira (7/6). E as seguintes serão sexta e domingo.
Assim, embora tenha sido aprovado o abandono da praça nos próximos dias, esse plano prevê a manutenção da Praça Catalunya como ponto central de articulação e informação do movimento. Ali continuarão a ser realizadas atividades diurnas, como debates e oficinas, em paralelo a dinâmicas parecidas em outras praças e bairros da cidade. A transformação da acampada pretende, portanto, apenas impedir que as pessoas continuem dormindo na praça, já que essa situação tem sido acompanhada de problemas, como inseguridade, desorganização e cansaço.
Portanto, as Assembleias Gerais seguirão como mecanismo de decisão, e a Comissão de Continuidade propõe agora a busca de outro local, como ponto de encontro alternativo à Praça Catalunya, onde também possam ser realizados debates públicos que afetem o movimento espalhado por toda a cidade. Levantaram-se as hipóteses de que esse novo espaço seja pedido à Prefeitura de Barcelona ou de que ele seja conquistado com a ocupação de algum prédio público.
Essa última opção seria mais coerente com o lema do movimento de que “Ninguém nos representa”, mas deixaria de respeitar a opinião dos reformistas que também fazem parte do coletivo de manifestantes. Por isso, o debate vai longe, assim como está distante de um consenso o tema das estratégias políticas e comunicativas do movimento.
Apesar de a acampada contar com Comissões de Comunicação e Audiovisual próprias, além de mídias sociais, blogs e listas de e-mail, providenciados como instrumentos informativos por cada uma das outras comissões temáticas, ainda há receio de parte do coletivo quanto à possível perda de espaço na imprensa convencional. Por isso, tanta dúvida quanto a sair ou não da Praça Catalunya, que se tornou símbolo da luta dos indignados aos olhos da mídia internacional.
Sobre esse ponto, merece citação outra fala do autor da frase que inicia este texto: “Não temos que ter medo de sair daqui. Não é isso que vai nos desorganizar. Podemos ir embora, mas já sabemos o caminho de volta”. Tendo em vista que o movimento dos indignados só vem perdendo espaço na grande imprensa e lembrando o fato de que ele surgiu como uma mobilização espontânea a partir das mídias sociais, agora só há uma alternativa: a comunicação alternativa.
(*) Advogada, jornalista e mestranda em Comunicação e Educação
Marcadores:
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Euler Conrado: O arrocho salarial dos professores de Minas
por Euler Conrado, viomundo
Caro Azenha, a situação de descaso com a Educação se repete em todos
os estados e municípios do Brasil, com a omissão também do governo
federal.
Em Minas Gerais, por exemplo, nos oito anos de gestão Aécio-Anastasia
os educadores sofreram várias perdas, além de um enorme achatamento
salarial. Em 2003, o governo mineiro cortou dos servidores novatos as
gratificações como quinquênios (10% sobre o vencimento básico a cada
cinco anos) e biênios (5% a cada dois anos, para os professores) e
manteve os vencimentos básicos arrochados. Um professor com curso
superior recebia, até 2010, um vencimento básico de R$ 550,00. E um
professor com curso médio recebia de vencimento básico apenas R$ 369,00 –
menos, portanto, que um salário mínimo.
Para escapar da Lei do Piso – aprovada em 2008 e suspensa pela ADI
4167 impetrada em seguida por cinco desgovernadores (SC, PR, RS, MS e
CE), mas que foi finalmente considerada constitucional no dia 06 de
abril deste ano pelo STF – o governo de Minas criou a Lei do Subsídio.
Esta lei incorporou todas as gratificações e vantagens adquiridas
pela categoria ao vencimento básico, transformando-o em parcela única.
Além disso, com esta lei o governo impôs uma redução dos percentuais de
mudança de níveis. Por exemplo, um professor com curso médio quando
fazia a graduação tinha direito, após cinco anos, a uma promoção de 22%
sobre o vencimento básico. A Lei do subsídio reduziu este percentual
para 10% apenas.
Além disso, a famigerada lei do subsídio confiscou o tempo de serviço
de todos os servidores da Educação que foram (fomos) posicionados no
grau inicial da carreira (grau A). Assim, quem ingressar hoje na
carreira receberá o mesmo salário de quem já estava há mais de uma
década no estado.
Isso constitui uma grosseira falta de respeito do governo mineiro
para com os educadores, que já aprovaram (aprovamos) greve geral por
tempo indeterminado, com início previsto para o dia 08 de junho. Neste
mesmo dia, as polícias civil e militar e os bombeiros devem realizar
manifestação de protesto contra essa realidade de confisco salarial
praticada pelo governo mineiro.
Minas está entre os três estados mais ricos da federação, e cresce em
proporções chinesas, segundo próprio governo. Mas, para onde vai este
dinheiro? Seguramente, para as empreiteiras, banqueiros e grandes
empresários e agentes da alta cúpula dos poderes constituídos, e não
para a valorização dos servidores da Educação, da Saúde, da segurança,
etc.
Infelizmente, o governo federal também dá a sua contribuição neste
descaso geral com a dramática realidade dos educadores do Brasil.
Primeiro, porque não realiza um reajuste digno para o piso salarial,
hoje em apenas R$ 1.187,00 para uma jornada de 40 horas para o professor
com ensino médio. Segundo, porque sequer obriga os governos estaduais e
municipais a pagarem o piso do magistério, como manda a Lei Federal que
o criou (Lei 11.738/2008). Esta lei prevê, inclusive, que os estados e
municípios que não disponham de recursos em caixa para pagar os
educadores poderão solicitar ajuda da União, desde que provem que não
podem pagar.
Os estados e municípios, como usam mal os recursos da Educação (25%
da receita, incluindo o FUNDEB), não podem provar que não podem pagar e
por isso enrolam os educadores com mil artifícios. O governo federal,
por sua vez, ao invés de exigir tal pagamento, faz vista grossa, pois
sabe que uma fatia desta despesa poderá cair no seu colo (do governo
federal). Há, portanto, uma cumplicidade entre as três instâncias de
poder e quem paga o pato somos nós, educadores.
Uma vergonha nacional. No Rio e em Minas Gerais, por exemplo, um
professor com curso superior recebe como salário para um cargo não mais
que um ou dois salários mínimos. Isso sem falar nas péssimas condições
de trabalho. Que presente e que futuro podemos oferecer para os 50
milhões de crianças, jovens e adultos que frequentam o ensino público do
Brasil?
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Ollanta Humala é oficialmente declarado vencedor nas eleições presidenciais do Peru
Mais de 80% das urnas já foram apuradas no país
O
candidato esquerdista Ollanta Humala saiu vencedor nas eleições
presidenciais do Peru no domingo. Após 84% das urnas apuradas, o
Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) anunciou o triunfo de
Humala (51%) sobre Keiko Fujimori (49%), filha do ex-presidente,
Alberto Fujimori.
— O resultado eleitoral indica, tanto a contagem rápida quanto as informações computadas pelo ONPE, que ganhamos as eleições presidenciais — disse Humala em uma breve declaração pública à imprensa.
— Sem medo e com tranquilidade, os peruanos e peruanas votaram. A todos eles agradeço por este ato decisivo que agora honra nossa democracia — salientou.
Keiko Fujimori havia anunciado, antes da divulgação dos resultados oficiais, que esperaria a informação da ONPE para se pronunciar. No entanto, não apareceu publicamente na noite de domingo.
Já Humala se dirigiu à Praça 2 de Maio, no centro da capital Lima, onde o esperavam mais de 10 mil pessoas. No interior, em cidades como Arequipa e Iquitos, centenas de simpatizantes também celebraram a vitória.
— Estamos esperando há muito tempo que haja um governo que realmente se preocupe com os pobres, os desamparados, os fiilhos que estão trabalhando nas ruas. Temos que mudar e é por isso que estou aqui — ressaltou o presidente eleito, o qual disse ainda que levará adiante uma economia aberta, que consolide e fortaleça o mercado interno.
A chefe do ONPE, Magdalena Chú, explicou que a pequena diferença entre os candidatos deve-se à maior quantidade de cédulas de votação contabilizadas em zonas urbanas. O esquerdista tem maior apelo popular no âmbito rural.
A votação foi encerrada na tarde de domingo sem maiores incidentes. No país foram registradas 103.622 mesas eleitorias, enquanto no exterior mais 3.833.
Humala, um ex-tenente do Exército de 48 anos, se impôs sobre a adversária em decorrência da vinculação de Keiko com o governo autoritário do pai Alberto Fujimori, que foi condenado a 25 anos de prisão por violações aos direitos humanos e corrupção.
— O resultado eleitoral indica, tanto a contagem rápida quanto as informações computadas pelo ONPE, que ganhamos as eleições presidenciais — disse Humala em uma breve declaração pública à imprensa.
— Sem medo e com tranquilidade, os peruanos e peruanas votaram. A todos eles agradeço por este ato decisivo que agora honra nossa democracia — salientou.
Keiko Fujimori havia anunciado, antes da divulgação dos resultados oficiais, que esperaria a informação da ONPE para se pronunciar. No entanto, não apareceu publicamente na noite de domingo.
Já Humala se dirigiu à Praça 2 de Maio, no centro da capital Lima, onde o esperavam mais de 10 mil pessoas. No interior, em cidades como Arequipa e Iquitos, centenas de simpatizantes também celebraram a vitória.
— Estamos esperando há muito tempo que haja um governo que realmente se preocupe com os pobres, os desamparados, os fiilhos que estão trabalhando nas ruas. Temos que mudar e é por isso que estou aqui — ressaltou o presidente eleito, o qual disse ainda que levará adiante uma economia aberta, que consolide e fortaleça o mercado interno.
A chefe do ONPE, Magdalena Chú, explicou que a pequena diferença entre os candidatos deve-se à maior quantidade de cédulas de votação contabilizadas em zonas urbanas. O esquerdista tem maior apelo popular no âmbito rural.
A votação foi encerrada na tarde de domingo sem maiores incidentes. No país foram registradas 103.622 mesas eleitorias, enquanto no exterior mais 3.833.
Humala, um ex-tenente do Exército de 48 anos, se impôs sobre a adversária em decorrência da vinculação de Keiko com o governo autoritário do pai Alberto Fujimori, que foi condenado a 25 anos de prisão por violações aos direitos humanos e corrupção.
Fonte:Zero Hora
domingo, 5 de junho de 2011
As vozes clamam, mas o dinheiro não tem ouvidos!
Eliane Tavares em seu blog
Os fatos registrados na última semana no Pará mostram claramente, com som e imagem, quem manda neste país. A oligarquia agrária, os grandes fazendeiros, as empresas estrangeiras que se apropriam a cada dia das terras brasileiras. Conforme relatórios da Comissão Pastoral da Terra, hoje, menos de 50 mil proprietários rurais possuem áreas superiores a mil hectares. E são estes os responsáveis pela produção do alimento e pela geração de emprego no campo. São as propriedades com menos de 100 hectares as que produzem 47% da comida que nos mantém vivos e empregam cerca de 40% da mão de obra.
Por outro lado, apenas 1% dos proprietários rurais detém em torno de 46% de todas as terras. Não bastasse essa ínfima minoria tomar conta de quase tudo, dos aproximadamente 400 milhões de hectares que aparecem como propriedade privada, apenas 60 milhões de hectares são usados para plantar comida. O restante das terras está ocioso ou subutilizado. O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), aponta um dado significativo: existem 100 milhões de hectares de terras ociosas e cerca de 4,8 milhões de famílias sem-terra no Brasil. As grandes propriedades, com mais de 10 mil hectares aparecem nos relatórios como as que participam apenas 4% da produção de alimento e 4,2% de absorção de mão-de-obra.
A pergunta que fica batendo então é: como pode um pequeno grupo que sequer planta comida ou emprega gente ter tanto apoio governamental? Ora, a resposta é simples, eles têm grana e mantém as casas legislativas sob seu comando. No blog “Os donos da terra” (http://donosdaterra.blogspot.com/), dirigido pelo jornalista Alceu Castilhos, pode-se encontrar muitos desses exemplos. Seja na Câmara de Deputados, seja nos legislativos estaduais, a bancada ruralista é puro poder. Quem duvida veja a votação do código florestal. 420 x 68. Goleada! Isso prova por A + B que o processo eleitoral no Brasil não tem qualquer relação com a democracia. O que vale é a força do dinheiro. E ponto final.
Outra coisa importante que a votação do código mostrou é o quanto as vozes das gentes, o tal do povo que os deputados falam tanto quando pedem voto, não são levadas em consideração para nada. Durante anos, as propostas do novo código florestal foram rebatidas, pessoas se mobilizaram, gritaram, fizeram protestos, especialistas ditaram os males que viriam, pitonisas previam desgraças e nada foi capaz de barrar a vitória dos grandes latifundiários.
Belo Monte é o quê?
Agora, no Brasil, uma nova queda de braço se faz entre a maioria e a minoria endinheirada. O mesmo velho e odioso massacre do capital contra a maioria das gentes. É a construção da Usina de Belo Monte. Quantos relatórios já foram formulados? Quantas análises? Quantos gritos de clamor e desespero já ecoaram na beira dos rios, nas florestas? Mas, o dinheiro é surdo. Não há como ouvir. O lucro de uns poucos (o 1%) vale mais do que a vida de milhares de pessoas que vivem do rio e da floresta. A usina segue em frente, devastando a floresta, alagando as terras, desalojando as famílias. Que farão? Para onde irão? Ninguém se importa. É o preço do progresso. Alguém tem de fazer algum sacrifício. Mas, esse “alguém”, é claro, nunca são os ricos.
Num tempo em que as tecnologias alternativas de energia já são realidades concretas, o Brasil insiste na mesma matriz das usinas gigantes. Elas geram muita energia, é certo. Mas a que custo? O lago de Belo Monte inundará mais de 500 quilômetros quadrados de terra. Destruirá rios, peixes, gentes e territórios sagrados. O lago mudará para sempre o curso do rio Xingu, que na língua kamaiurá quer dizer água limpa. Esse imenso rio, de mais de dois mil quilômetros, que nasce no Mato Grosso e vai até o Pará é sinônimo de vida para milhões de pessoas que vivem nas suas margens. Pois ao custo de 25 bilhões de reais, que engordarão as empreiteiras, o governo pretende construir uma obra que equivale a oito maracanãs. O impacto que a usina vai causar na floresta é a destruição de nove milhões de hectares, equivalente a duas vezes a cidade do Rio de Janeiro. Um gigante de concreto em meio à floresta. Um totem mítico de destruição. As autoridades falam em desenvolvimento. Mas não dizem para quem.
A fala dos indígenas é desprovida de som
Dentre os mais prejudicados com a obra de Belo Monte estão os povos indígenas. Para eles, a destruição das terras e do Xingu é muito mais do que o fim material do espaço de subsistência. O território é também espaço sagrado, é dos rios e matas que nascem os deuses, as coisas benditas. Com a obra, as máquinas não apenas destroem a natureza, elas invadem o mundo interior. Seria - para dar um exemplo que os católicos entendem - algo assim como uma retro escavadeira derrubar a catedral de Aparecida para ali erguer um shopping. Os arautos do progresso fazem vistas grossas a isso. Que importa meia dúzia de índios diante da grandiosidade da obra? Alguém tem de pagar o preço do desenvolvimento. E que sejam os pobres, como sempre. Ainda que seja preciso burlar a própria lei.
Diz a Constituição brasileira, no artigo 231: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.” Ora. Então a palavra dos povos indígenas deveria ser ouvida, levada em consideração. Até porque a lei é bem clara, caso haja interesse público da União em fazer uso das terras originalmente ocupadas pelos indígenas, isso só deve acontecer depois de um diálogo com eles. E diálogo pressupõe que os argumentos do outro sejam levados em conta. Não é o que tem acontecido.
Uma pesquisa rápida nos textos e vídeos onde aparece a voz dos povos indígenas sobre a obra já deixa bem claro que eles são contra a construção da usina aos moldes que está sendo pensada, como uma mega obra.
Diz o Cacique Kotoke, vivente no alto Xingu: “Isso aqui acabou o Xingu, né? Esse problema que está sendo feito tá deixando a gente não trabalhar direito e não dormir direito, pensando nisso, no mundo que vamos viver no futuro, se não tiver peixe. Porque vocês estão fazendo isso sem consultar as lideranças? Antes de ser elaborado qualquer documento, tem de ser consultado todo mundo. Eu vou falar aqui diante de todo mundo, das lideranças mais velhas, que já vinham lutando por nossos direitos. Estamos aqui tentando solucionar problema novo. O branco cada dia mais está querendo colocar as dificuldades para nossa comunidade indígena. Só que ele é outra pessoa. Não fala nossa língua. Ele pode tentar explicar para nós, mas nós não vamos entender. Foi criado um estatuto. Não sei quem criou isso. E enquanto a gente está aqui na aldeia, sem saber de nada que está acontecendo lá fora, fizeram estatuto. A lei do índio. Isso pegou nós também. Eu acho muito errado se o presidente da Funai fez isso. Ele tinha que ter vindo aqui consultar nós, as 14 etnias. Foi assinado pelo presidente da Funai, pelo presidente Lula. Lula nem chegou aqui para conhecer nós, a gente nem chegou a pegar a mão dele. E vem querer se meter na vida da gente?(veja o vídeo)
(http://www.youtube.com/watch?v=lW8E3WuKUqc&feature=fvst).
Até mesmo o programa Fantástico, da Globo, ao ouvir a voz indígena, ainda que de forma ritual, numa frase, se depara com a preocupação: “tem muitas crianças que quando chegar na idade adulta já vão encontrar o rio seco”.(veja o víedeo)
(http://www.youtube.com/watch?v=E4TUY5AJvC4).
Ao passar cada um dos vídeos que estão disponíveis na internet, pode-se perceber a perplexidade de uma gente que a lei brasileira acostumou a tutelar. Eles falam da obra, estupefatos, como se fosse impossível que o governo não os ouvisse, embora seja centenária a falta de cuidado e a mentira praticada pelo estado nacional. Ainda assim, mesmo perplexos, eles se dispõe a lutar. “Estamos preparados para o que der e vier. A gente já fez vários movimentos para chamar atenção do governo e a gente não vai recuar. Vai partir pra cima também pra mostrar como é o dia a dia das comunidades das áreas indígenas”. Em Altamira diz uma mulher das comunidades ribeirinhas, “A barragem vem trazer muita destruição pra nós”. “Aqui tem o milho, o arroz, o feijão, tem o cacau, que é como uma vaca de leite. Todo dia você tira e todo dia tá vindo”. Diz o Cacique Onça: “E se o rio secar, o que vão fazer conosco. Sem água a caça vai embora, não vai ter peixe nem água pra beber.(veja o vídeo)
Ao passar cada um dos vídeos que estão disponíveis na internet, pode-se perceber a perplexidade de uma gente que a lei brasileira acostumou a tutelar. Eles falam da obra, estupefatos, como se fosse impossível que o governo não os ouvisse, embora seja centenária a falta de cuidado e a mentira praticada pelo estado nacional. Ainda assim, mesmo perplexos, eles se dispõe a lutar. “Estamos preparados para o que der e vier. A gente já fez vários movimentos para chamar atenção do governo e a gente não vai recuar. Vai partir pra cima também pra mostrar como é o dia a dia das comunidades das áreas indígenas”. Em Altamira diz uma mulher das comunidades ribeirinhas, “A barragem vem trazer muita destruição pra nós”. “Aqui tem o milho, o arroz, o feijão, tem o cacau, que é como uma vaca de leite. Todo dia você tira e todo dia tá vindo”. Diz o Cacique Onça: “E se o rio secar, o que vão fazer conosco. Sem água a caça vai embora, não vai ter peixe nem água pra beber.(veja o vídeo)
(http://www.youtube.com/watch?v=aFrQ5CkxZkg).
No contraponto com a voz indígena aparece a do ministro Edson Lobão, afirmando categoricamente que a obra não vai prejudicar nem os índios nem o meio ambiente. “É de interesses nacional e preserva o meio ambiente”. Quanto cinismo. O ministro diz ainda que as reservas indígenas estão longe de Belo Monte, a mais perto ficando a 31 km. “Existem 2.500 índios para cerca de dois milhões e 500 mil hectares”. Insinua assim que é muita terra para pouco índio, mais uma vez desconhecendo o modo de vida e fazendo pouco da forma de organização das comunidades. Belo Monte produzirá 11 mil mega watts, diz o ministro. E isso basta para que milhares de pessoas percam seu mundo.(veja o vídeo)
No contraponto com a voz indígena aparece a do ministro Edson Lobão, afirmando categoricamente que a obra não vai prejudicar nem os índios nem o meio ambiente. “É de interesses nacional e preserva o meio ambiente”. Quanto cinismo. O ministro diz ainda que as reservas indígenas estão longe de Belo Monte, a mais perto ficando a 31 km. “Existem 2.500 índios para cerca de dois milhões e 500 mil hectares”. Insinua assim que é muita terra para pouco índio, mais uma vez desconhecendo o modo de vida e fazendo pouco da forma de organização das comunidades. Belo Monte produzirá 11 mil mega watts, diz o ministro. E isso basta para que milhares de pessoas percam seu mundo.(veja o vídeo)
(http://www.youtube.com/watch?v=OkJfV4GqOA4)
Enquanto isso clamam as vozes como a de Sheila Juruna. “Estamos sendo desrespeitados no direito de sermos ouvidos. Nós queremos que todo o povo indígena seja ouvido para colocar nossa opinião contrária, dizer por que não tem viabilidade econômica, e não viabilidade social nenhuma.
No vídeo “Povo do Xingu contra a construção de Belo Monte”, as vozes se sucedem. “É minha terra, não é de Lula”, grita uma mulher magrinha, pintada para a guerra. “O que nós queremos? Que a mata, as florestas, a terras, os animais continuem vivos para servir nossa alimentação”, diz Amiloty Kayapó. “Nós temos filhos, netos, crianças e adultos e vivemos na floresta, nossa terra. Precisamos da floresta. Por isso eu, como mulher, estou lutando junto com os homens para impedir a construção da barragem de belo monte. Aqui no parque tem 15 povos. Diminui o volume da água, e a reporodução dos peixes”, diz Iredjo Kayapó
O Cacique Megaron Kayapó resume a dificuldade que enfrentam: “esse nosso movimento é para mostrar para as pessoas que as vezes não entendem muito nosso costume, como nós vive, de que nós vive. E nós, indio, depende do rio, depende da floresta, depende da terra para poder sobreviver. Na terra nós planta, na floresta nós caça e no rio tem os peixe que nós pesca pra alimentar nossa familia”. Também assim se manifesta o cacique Raoni: “Eu não quero a construção da barragem. Por que? Porque eu quero que o rio continue com vida, igual a nós. Eu quero que peixes, animais e outros seres vivos continuem vivendo em paz”.
Fala o Cacique Sadea Juruna, “se Belo Monte for construido muitas coisas vão ficar diferentes. O peixe vai desaparecer. O alagamento vai fazer o peixe se espalhar e vai ser difícil. Vai matar tudo o que a gente tem”. Diz Watatakalu Yawalapiti, “o índio não aguenta comer arroz e feijão, refrigerante, todo dia. Ele vive do beiju e do peixe. Minha comunidade vive do peixe. Morreu o Xingu a gente também morre junto. O rio é nossa vida, é tudo pra nós. Os brancos criaram uma lei que dizia que antes de fazer qualquer coisa em área indígena eles consultariam os indigenas”. E assim vai! Então, como é possível que essas vozes não sejam levadas em conta? Por que os desejos e o modo de vida destes povos não são respeitados. Por que é tão difícil entender sua lógica? É como diz um destes habitante das matas: “vocês não usam o mercado? Pois o nosso mercado é o mato, a água, a terra. É com isso que a gente sobrevive”.
Mas, apesar de todas as vozes clamarem contra a obra, ela segue seu curso. O gigante de concreto vai crescer em meio à floresta. Destruindo, devastando, apagando a vida. A menos que o povo unido pare Belo Monte. Mas tem de ser com todos juntos, estudantes, sindicalistas, lutadores sociais. Esta não pode ser uma luta só dos índios ou dos ribeirinhos. Ela tem de ser uma luta de todos. Ou a gente se move ou o futuro cobrará a fatura. Logo ali na frente...
O choro de Raoni não deve servir para comiseração, mas para ódio, ódio são, contra os vilões.. como já dizia Cruz e Souza!
Enquanto isso clamam as vozes como a de Sheila Juruna. “Estamos sendo desrespeitados no direito de sermos ouvidos. Nós queremos que todo o povo indígena seja ouvido para colocar nossa opinião contrária, dizer por que não tem viabilidade econômica, e não viabilidade social nenhuma.
No vídeo “Povo do Xingu contra a construção de Belo Monte”, as vozes se sucedem. “É minha terra, não é de Lula”, grita uma mulher magrinha, pintada para a guerra. “O que nós queremos? Que a mata, as florestas, a terras, os animais continuem vivos para servir nossa alimentação”, diz Amiloty Kayapó. “Nós temos filhos, netos, crianças e adultos e vivemos na floresta, nossa terra. Precisamos da floresta. Por isso eu, como mulher, estou lutando junto com os homens para impedir a construção da barragem de belo monte. Aqui no parque tem 15 povos. Diminui o volume da água, e a reporodução dos peixes”, diz Iredjo Kayapó
O Cacique Megaron Kayapó resume a dificuldade que enfrentam: “esse nosso movimento é para mostrar para as pessoas que as vezes não entendem muito nosso costume, como nós vive, de que nós vive. E nós, indio, depende do rio, depende da floresta, depende da terra para poder sobreviver. Na terra nós planta, na floresta nós caça e no rio tem os peixe que nós pesca pra alimentar nossa familia”. Também assim se manifesta o cacique Raoni: “Eu não quero a construção da barragem. Por que? Porque eu quero que o rio continue com vida, igual a nós. Eu quero que peixes, animais e outros seres vivos continuem vivendo em paz”.
Fala o Cacique Sadea Juruna, “se Belo Monte for construido muitas coisas vão ficar diferentes. O peixe vai desaparecer. O alagamento vai fazer o peixe se espalhar e vai ser difícil. Vai matar tudo o que a gente tem”. Diz Watatakalu Yawalapiti, “o índio não aguenta comer arroz e feijão, refrigerante, todo dia. Ele vive do beiju e do peixe. Minha comunidade vive do peixe. Morreu o Xingu a gente também morre junto. O rio é nossa vida, é tudo pra nós. Os brancos criaram uma lei que dizia que antes de fazer qualquer coisa em área indígena eles consultariam os indigenas”. E assim vai! Então, como é possível que essas vozes não sejam levadas em conta? Por que os desejos e o modo de vida destes povos não são respeitados. Por que é tão difícil entender sua lógica? É como diz um destes habitante das matas: “vocês não usam o mercado? Pois o nosso mercado é o mato, a água, a terra. É com isso que a gente sobrevive”.
Mas, apesar de todas as vozes clamarem contra a obra, ela segue seu curso. O gigante de concreto vai crescer em meio à floresta. Destruindo, devastando, apagando a vida. A menos que o povo unido pare Belo Monte. Mas tem de ser com todos juntos, estudantes, sindicalistas, lutadores sociais. Esta não pode ser uma luta só dos índios ou dos ribeirinhos. Ela tem de ser uma luta de todos. Ou a gente se move ou o futuro cobrará a fatura. Logo ali na frente...
O choro de Raoni não deve servir para comiseração, mas para ódio, ódio são, contra os vilões.. como já dizia Cruz e Souza!
Luis Fernando Veríssimo: as bananas e o imperialismo americano
Luis Fernando Veríssimo no Vermelho
Li que a família de Jacobo Arbenz lançou uma campanha para
recuperar o seu nome, na Guatemala. E nós com isso? Nada. Só que tive um
assomo de nostalgia ao ler a notícia, por uma época em que a história
era mais simples e seus vilões e vítimas mais facilmente identificáveis.
Por Luis Fernando Veríssimo, em O GloboTalvez só na Guerra
Civil Espanhola se soubesse, com a mesma nitidez, qual era o lado “bom”
de uma questão — antes, claro, de os nazistas surgirem como os bandidos
indiscutíveis do século.
A Guatemala era o protótipo da “banana republic”. Sua dona era a
americana United Fruit Company, que lá mantinha não só vastas plantações
de bananas mas grandes extensões de terra ociosa, como investimento e
como garantia para futuras expansões.
O domínio da United Fruit sobre a política e a economia da Guatemala
trazia escasso proveito social para o país. Jacobo Arbenz foi eleito
livremente prometendo uma reforma agrária que fatalmente atingiria as
propriedades americanas.
A United Fruit tinha notórias ligações políticas e um ativo lobby em
Washington e não foi difícil, com a Guerra Fria esquentando, convencer o
presidente Eisenhower de que Arbenz significava um regime comunista no
quintal dos Estados Unidos.A CIA foi autorizada a intervir e derrubou
Arbenz com menos pudor do que mostraria em intervenções futuras, na
mesma zona — como em El Salvador — e no resto da América Latina e do
mundo.
O golpe ficou como um exemplo clássico, sem disfarces e sofismas, do
intervencionismo cru em ação. Os disfarces, os sofismas e a retórica
geopolítica viriam depois. No caso da Guatemala era um povo contra a
prepotência dos bananeiros. Simples.
Uma das consequências do golpe pró-United Fruit e da instalação de um
regime apoiado pelos americanos foi uma sangrenta guerra civil que
durou mais de 30 anos, com diversos grupos lançando-se na
clandestinidade, milhares de mortos e atrocidades de lado a lado.
O fato de a família de Arbenz estar buscando sua reabilitação indica
que, na história oficial do país, ele ficou como vilão, não como vítima.
Já a United Fruit não teve nada a ver com a história. Aliás, nem existe
mais. Seu simpático nome agora é “Chiquita Brands” e seu produto
principal, a “Chiquita Banana”.
Chile: estudantes protestam contra privatização da educação
Cerca de 30 mil estudantes universitários participaram, quarta-feira, de uma paralisação nacional e de marchas de protesto na capital Santiago e em diversas outras cidades chilenas. Os sindicatos dos servidores públicos, dos professores e reitores das universidades somaram-se aos protestos contra o modelo privatizador do governo Piñera. Em Santiago, os carabineros reprimiram manifestação em frente ao palácio presidencial. Segundo a Unesco, o Chile é a única nação do mundo com uma educação superior quase inteiramente privatizada.
Enrique Gutiérrez - La Jornada via Carta Maior
Federações universitárias chilenas
realizaram quarta-feira uma paralisação nacional. Milhares de estudantes
se manifestaram pelas ruas de Santiago e de outras cidades do país,
apoiados por autoridades acadêmicas e professores, contra o modelo
privatizador na educação, por uma mudança estrutural no setor e maior
acesso ao ensino superior.
Estima-se que ao menos 30 mil universitários participaram das marchas de protesto pelo centro da capital e em cidades como Talca, Valparaíso, Concepción, Temuco, La Serena, Coquimbo, Valdivia e Puerto Montt, em mobilizações onde só se registraram alguns incidentes isolados. As autoridades policiais informaram que algumas pessoas foram detidas, sem precisar o número.
Em Santiago, a marcha foi realizada pacificamente e, somente no final, houve distúrbios em frente ao Ministério da Educação, a uma quadra do palácio presidencial de La Moneda, quando um grupo de jovens encapuzados tentou bloquear o tráfego de veículos em ruas próximas ao local. A polícia militarizada dos Carabineiros interveio com jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo.
O Colégio de Professores e a Associação Nacional de Funcionários Fiscais se somaram à manifestação de protesto, encabeçada pelos dirigentes da Confederação de Estudantes do Chile e pelos reitores da Universidade de Santiago, Manuel Zolezzi, e da Universidade Tecnológica Metropolitana, Luis Pinto. O reitor Zolezzi declarou que as reivindicações que os estudantes levantam agora são coerentes com o que ele vem defendendo há cinco, seis anos. Por isso, disse, “me parece legítimo acompanhá-los já que tomaram as mesmas bandeiras que sustentei por muito tempo, por uma educação pública de qualidade, justa e equitativa”.
Os dirigentes da Universidade do Chile, Camila Vallejos, e da Universidade Católica, Giorgio Jackson, expressaram sua satisfação com a convocatória que atraiu a milhares de manifestantes para exigir o regresso à educação superior ampliando o acesso a jovens de baixa renda e que se estabeleçam limitações às universidades privadas para impedir que sejam apenas um negócio.
Vallejo assinalou que “nossas demandas seguem sendo transversais, como foi o 12 de maio – dia de outra grande mobilização nacional -, a população nos apoia, acreditando que é necessário avançar no quê estamos pleiteando porque a educação é um direito e tem que ser garantida como tal, razão pela qual não vamos negociar com essa questão”.
Jackson, dirigente da Federação de Estudantes da Universidade Católica, comemorou a recepção ao chamado pela reforma completa do sistema. “Viemos dizer ao ministro que nós, que viemos para essa luta, não somos os privilegiados de sempre, mas sim que estamos fazendo um movimento amplo”.
Nos últimos anos, os estudantes chilenos têm denunciado a falta de financiamento para as universidades públicas, assim como a escassa regulação nas universidades privadas. Nestas últimas, sustentam, os currículos são deficientes, existe uma alta evasão escolar e a prioridade é somente a rentabilidade econômica.
Os dirigentes universitários têm insistido com as autoridades que o problema tem origem no período da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), quando o regime militar impôs uma drástica redução dos recursos às universidades e promoveu uma ampla privatização do setor.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura (Unesco), o Chile é a única nação do mundo com uma educação superior considerada quase inteiramente privatizada, pois é toda paga e os estudantes dos setores mais pobres da população só podem ter acesso a ela por causa dos altos impostos.
As universidades tradicionais que tem a melhor docência e pesquisa no Chile estão há muitos anos esperando um tratamento justo e equitativo das autoridades. Não queremos seguir esperando enquanto se frustram os sonhos e ideais de gerações inteiras de chilenos, declarou o reitor da Universidade do Chile (estatal), Víctor Pérez Vela. “É por isso que estamos exigindo que haja seriedade, transparência e que termine o lobby obscuro que utiliza recursos de todos os chilenos, sem fiscalização alguma, para melhorar o negócio de algumas novas universidades privadas”.
Por outro lado, permanece hospitalizado em coma induzido Luciano
Pitronello Schufenneger, de 22 anos, um jovem supostamente vinculado a um grupo anarquista que perdeu as mãos na explosão de uma bomba que tentava colocar em uma agência bancária, em Vicuña Mackenna, em Santiago.
Enquanto isso, o legisla uruguaio Hugo Rodríguez reconheceu que a análise que realizou das causas da morte de Salvador Allende foi especulativa, porque ele não viu as lesões que o ex-presidente chileno sofreu e só teve acesso ao informe da primeira autópsia. “A única coisa que sustento é que, se o informe da autópsia corresponde à realidade, há duas lesões de armas bem diferentes. Mas isso eu não sei porque não vi as lesões e nem sequer há fotografias”, assinalou.
Rodríguez disse ainda ao diário Las Últimas Noticias que não apontou quantos tiros Allende recebeu e em que circunstâncias. “Disse que, a ser correta a informação exposta, encontramos dois padrões de armas e lesões diferentes”. Essa análise, apresentada em um programa de televisão, provocou mal estar na família de Allende.
Tradução: Katarina Peixoto
Estima-se que ao menos 30 mil universitários participaram das marchas de protesto pelo centro da capital e em cidades como Talca, Valparaíso, Concepción, Temuco, La Serena, Coquimbo, Valdivia e Puerto Montt, em mobilizações onde só se registraram alguns incidentes isolados. As autoridades policiais informaram que algumas pessoas foram detidas, sem precisar o número.
Em Santiago, a marcha foi realizada pacificamente e, somente no final, houve distúrbios em frente ao Ministério da Educação, a uma quadra do palácio presidencial de La Moneda, quando um grupo de jovens encapuzados tentou bloquear o tráfego de veículos em ruas próximas ao local. A polícia militarizada dos Carabineiros interveio com jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo.
O Colégio de Professores e a Associação Nacional de Funcionários Fiscais se somaram à manifestação de protesto, encabeçada pelos dirigentes da Confederação de Estudantes do Chile e pelos reitores da Universidade de Santiago, Manuel Zolezzi, e da Universidade Tecnológica Metropolitana, Luis Pinto. O reitor Zolezzi declarou que as reivindicações que os estudantes levantam agora são coerentes com o que ele vem defendendo há cinco, seis anos. Por isso, disse, “me parece legítimo acompanhá-los já que tomaram as mesmas bandeiras que sustentei por muito tempo, por uma educação pública de qualidade, justa e equitativa”.
Os dirigentes da Universidade do Chile, Camila Vallejos, e da Universidade Católica, Giorgio Jackson, expressaram sua satisfação com a convocatória que atraiu a milhares de manifestantes para exigir o regresso à educação superior ampliando o acesso a jovens de baixa renda e que se estabeleçam limitações às universidades privadas para impedir que sejam apenas um negócio.
Vallejo assinalou que “nossas demandas seguem sendo transversais, como foi o 12 de maio – dia de outra grande mobilização nacional -, a população nos apoia, acreditando que é necessário avançar no quê estamos pleiteando porque a educação é um direito e tem que ser garantida como tal, razão pela qual não vamos negociar com essa questão”.
Jackson, dirigente da Federação de Estudantes da Universidade Católica, comemorou a recepção ao chamado pela reforma completa do sistema. “Viemos dizer ao ministro que nós, que viemos para essa luta, não somos os privilegiados de sempre, mas sim que estamos fazendo um movimento amplo”.
Nos últimos anos, os estudantes chilenos têm denunciado a falta de financiamento para as universidades públicas, assim como a escassa regulação nas universidades privadas. Nestas últimas, sustentam, os currículos são deficientes, existe uma alta evasão escolar e a prioridade é somente a rentabilidade econômica.
Os dirigentes universitários têm insistido com as autoridades que o problema tem origem no período da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), quando o regime militar impôs uma drástica redução dos recursos às universidades e promoveu uma ampla privatização do setor.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura (Unesco), o Chile é a única nação do mundo com uma educação superior considerada quase inteiramente privatizada, pois é toda paga e os estudantes dos setores mais pobres da população só podem ter acesso a ela por causa dos altos impostos.
As universidades tradicionais que tem a melhor docência e pesquisa no Chile estão há muitos anos esperando um tratamento justo e equitativo das autoridades. Não queremos seguir esperando enquanto se frustram os sonhos e ideais de gerações inteiras de chilenos, declarou o reitor da Universidade do Chile (estatal), Víctor Pérez Vela. “É por isso que estamos exigindo que haja seriedade, transparência e que termine o lobby obscuro que utiliza recursos de todos os chilenos, sem fiscalização alguma, para melhorar o negócio de algumas novas universidades privadas”.
Por outro lado, permanece hospitalizado em coma induzido Luciano
Pitronello Schufenneger, de 22 anos, um jovem supostamente vinculado a um grupo anarquista que perdeu as mãos na explosão de uma bomba que tentava colocar em uma agência bancária, em Vicuña Mackenna, em Santiago.
Enquanto isso, o legisla uruguaio Hugo Rodríguez reconheceu que a análise que realizou das causas da morte de Salvador Allende foi especulativa, porque ele não viu as lesões que o ex-presidente chileno sofreu e só teve acesso ao informe da primeira autópsia. “A única coisa que sustento é que, se o informe da autópsia corresponde à realidade, há duas lesões de armas bem diferentes. Mas isso eu não sei porque não vi as lesões e nem sequer há fotografias”, assinalou.
Rodríguez disse ainda ao diário Las Últimas Noticias que não apontou quantos tiros Allende recebeu e em que circunstâncias. “Disse que, a ser correta a informação exposta, encontramos dois padrões de armas e lesões diferentes”. Essa análise, apresentada em um programa de televisão, provocou mal estar na família de Allende.
Tradução: Katarina Peixoto
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