segunda-feira, 11 de junho de 2007

O deserto verde no Uruguai


Plantações de eucalipto concentram terra e inviabilizam a produção agrícola no Sul do país


Jorge Pereira Filho

A CASA DO produtor rural Washington Lockhart está rodeada por paredes. Construções distintas essas. Não levam cimento nem tijolos. Tampouco têm aspecto áspero. São milhares de árvores que não estavam ali há 15 anos. Hoje, plantações de eucaliptos rodeiam o povoado onde mora esse camponês. Árvores que separam dois mundos. Um local, dos agricultores que trabalham para abastecer as cidades próximas de frutas, hortaliças, queijos, leite. E um outro, inserido no capitalismo global, das transnacionais e grandes grupos empresariais que exportam aos países ricos matéria-prima para a produção de papel.

Washington vive no povoado de Cerro Alegre, sul do Uruguai. Mas sua história se repete no Brasil, em regiões do Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia; em países como Tailândia, Chile, e outros territórios que abriram suas fronteiras à monocultura de eucalipto e de pinus. Produtor de leite, esse uruguaio lembra que no início dos anos de 1990 as empresas compraram as primeiras terras. "Vivo neste lugar desde 1975, quando comecei a produzir leite. E sinto do lado de minha casa os efeitos desse modelo. Meus três filhos freqüentaram uma escola rural que atendia a 60 crianças e, hoje, sobraram 15 alunos. Já outra escola, de tamanho similar na época, está com apenas 2 estudantes. Há 1 quilômetro, havia armazéns, pequenas lojas, uma quadra de esportes que reunia nossa comunidade, mas nada disso restou. Agora, abro a janela de minha casa e não vejo o horizonte, apenas árvores", relata.
O povoado de Cerro Alegre está na rota da corrida das transnacionais e do capital internacional pela expansão das monoculturas de eucalipto e pinus. São empresas como as finlandesas Storea-Enso e Metsa-Botnia, a espanhola Ense, a Aracruz Celulose (de capital norueguês, brasileiro e inclusive do BNDES), entre outras, que disseminam essas plantações pelo mundo. "A expansão se insere hoje na estratégia dos grandes países consumidores de papel: Europa, Estados Unidos e Japão. Querem assegurar o fornecimento da indústria em longo prazo e espalham plantações de eucalipto no Sul, nas áreas tropicais e subtropicais, avalia o técnico florestal Ricardo Carrere, que hoje integra o Grupo Guayabira no Uruguai e é coordenador do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (IWRM, na sigla em inglês).
O Brasil, hoje, tem em território a maior extensão de área plantada de eucalipto do planeta - mais de 4 milhões de hectares. A produção, em sua maioria, é voltada para a exportação na forma de pasta de celulose que, nos países ricos, é transformada em papel. "Essa indústria cresce porque tem uma política de inventar novos usos para o papel. No Brasil, o consumo médio é de 30 quilos por pessoa. Na Europa, são 200 quilos, ainda menos do que os 330 quilos dos Estados Unidos e os 400 quilos da Finlândia. Sabemos que não falta papel, há desperdício, é demasiado", avalia Carrere. Em um estudo sobre o assunto, o pesquisador constatou que a maior parte do consumo é em embalagens. "Depois, as empresas são as maiores consumidoras. Livros e cadernos representam uma parte menor", revela o técnico florestal que esteve no Brasil para um seminário internacional sobre monoculturas realizado, entre os dias 18 e 20 de abril, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).
O Uruguai tem, atualmente, 1 milhão de hectares de eucalipto e pinus. Uma extensão representativa para o território total de 18 milhões de hectares. As primeiras mudas foram plantadas na região onde vive Washington com a promessa do desenvolvimento. Gerariam emprego, trariam investimentos e a prosperidade. Na década de 1980, após a assessoria de pesquisadores japoneses, o governo uruguaio elaborou um plano de expansão da cultura de eucaliptos e pinus. Determinou algumas regiões do país que receberiam essas mudas do progresso e, como contrapartida, isentou as empresas interessadas de impostos. Mais do que isso, definiu um subsídio: o povo uruguaio, por meio dos impostos, bancaria 50% do custo de produção. Era o que dizia a Lei Florestal, publicada em 1987. Esse último benefício foi revogado pelo presidente Taberé Vazquez. O discurso tinha outros elementos de sedução. Ampliaria a área verde do país (afinal, são árvores) e estimularia a produção de livros para as crianças, por exemplo. Já os impactos sociais e ambientais da expansão da monocultura foram tratados como questões menores

A água


Em outubro de 2002, o Uruguai escreveu uma página inédita na história dos direitos humanos com a realização de um plebiscito popular sobre a gestão da água. Mais de dois milhões de uruguaios, 64% do eleitorado do país, decidiram que os recursos hídricos deveriam ser considerados um recurso natural essencial à vida e, por isso, não deveriam ser privatizados.
Para a comunidade de Cerro Alegre, no Sul do país, essas letras inscritas na Constituição seguem distantes. Lá, o serviço de distribuição de água não foi privatizado. Mas os recursos hídricos não têm como destino o consumo da população. Em vez disso, abastecem as plantações de eucaliptos. "Há quatro anos, sentimos os primeiros efeitos. No meu caso, um riachinho que atravessava minha chácara secou totalmente. Desapareceu, ainda, na região uma área de cerca de 15 hectares de banhado. Um antigo vizinho que me visitou no início deste ano, e vendeu sua casa para as empresas, não acreditou. Desde 1975, a água para nosso consumo interno vinha de um poço, do lado de casa. Hoje, já não basta e tive de construir outros quatro", conta Washington.
Efeito do aquecimento global, falta de chuvas? Não é o caso. No Uruguai, a média de chuva é de 1,2 mil milímetros por ano e somente, entre 25 de fevereiro e 25 de março, caíram 700 milímetros. Depois da chegada das plantações de eucalipto, a maior parte da comunidade de Cerro Alegre é abastecida por um caminhão-pipa de 18 mil litros, que semanalmente percorre a região. Nem sempre há para todos e o impacto da escassez de água em uma região agrícola é ainda maior: inviabiliza- se a própria produção. "Um eucalipto consome em média 20 litros de água por dia, por isso cresce tão rápido. É uma bomba de água enviando os nutrientes do solo, e são sete anos apenas até o corte. Imagine agora que um hectare tem 1,1 mil árvores. A cada dia são consumidos 22 mil litros de água, mais do que a capacidade de um caminhão-pipa. Mesmo assim, o governo e as empresas dizem que não há evidências científicas desse consumo de água", afirma o técnico florestal Ricardo Carrere. Companhias como a Aracruz que, para rebater as críticas de ambientalistas, divulgam que poços de monitoramento constaram que o lençou freático fica estável a uma profundidade que varia de 16 a 25 metros, em áreas de eucalipto.

Resistência


"Por conta desses problemas, muitos produtores abandoram a região. Outros venderam suas terras para as empresas florestais e foram para a cidade. Sem água, é impossível trabalhar no campo", conta Washington. Segundo ele, os camponeses que permaneceram na terra iniciaram um movimento para resistir ao avanço da monocultura. "Tivemos de nos unir, apesar de todo o individualismo presente na comunidade. As pessoas são absorvidas pelo trabalho, estão acostumadas a cuidar de sua porção de terra, mas os problemas comuns dessa realidade se impuseram", afirma.
A articulação dos camponeses começou em 1994, quando a falta de água se agravou. As bandeiras do movimento continuam as mesmas desde a sua criação: nenhum eucalipto a mais, água como um direito de todos, fim dos benefícios da Lei Florestal e rejeição à proposta da construção das indústrias papeleiras no rio Uruguai.
Com apoio de organizações ambientalistas, os camponeses de Cerro Alegre realizaram um estudo para denunciar os impactos da introdução dos eucaliptos na região. A constatação: a monocultura gera 3 três empregos em média para cada mil hectares plantados; já a agricultura em média 10 postos de trabalho, entre grandes e pequenas propriedades. "Por isso falamos do ‘deserto verde’ desse modelo: expulsa as pessoas da terra, substitui a produção de alimentos, provoca o desaparecimento da flora, já que espécies vegetais não resistem nas proximidades dos eucaliptos, e da fauna, pois os animais originários perdem sua fonte de alimentação", resume Ricardo Carrere.

Fonte:BrasilDeFato

Prostíbulos fiscais

Emir Sader

A função dos prostíbulos na sociedade tradicional era permitir que os respeitáveis maridos garantissem a eternidade dos laços matrimoniais, descarregando suas necesidades não atendidas pela esposa nos prostíbulos. Um papel similar tem os ironicamente chamados “paraísos fiscais”, como linhas de escape dos grandes capitais, que ganham mais com a especulação e os investimentos nesses lugares que na produção de bens.

A porcentagem do comércio mundial que transita por esses paraísos fiscais subiu a mais da metade do total, mesmo se esses territórios que alugam sua soberania para negócios escusos somam apenas 3% do produto bruto mundial. Calcula-se que um bilhão de dólares de dinheiro sujo circulam anualmente nesses territórios, a metade proveniente dos países da periferia do capitalismo, a outra metade dos países centrais. Segundo um banqueiro suiço, apenas 0,01% do dinheiro sujo que passa pela Suíça é detectado.

Mas o que é um paraíso fiscal e onde eles estão localizados? Entre suas características estão as de que não-residentes pagam pouco ou nada de impostos; a ausência de intercâmbio de informações fiscais com outros países; a falta de transparência legalmente garantida pelas organizações que se estabelecem nesses territórios; a não obrigação para as empresas locais que pertencem a não-residentes de exercer qualquer atividade local significativa.

Pode-se passar a idéia de que eles estão situados na periferia do capitalismo, ainda mais que se costuma chamá-los de “offshore”. Mas não é assim: geograficamente eles podem estar situados em pequenas ilhas, mas a maioria dos paraísos fiscais estão, política e economicamente, ligados aos países da OCDE. Na economia britânica, por exemplo, a maior parte das transações offshore é controlada pela City – a Bolsa de Londres.

John Christensen, no livro “Evasão fiscal e pobreza”, publicado pelo Centro Tricontinental, classifica o Reino Unido em lugar de destaque entre os países mais corruptos do mundo.

No entanto, uma organização como Transparência Internacional, que publica anualmente a lista dos países mais corruptos se centra nos países da periferia do capitalismo. No entanto, na sua lista, segundo Christensen, 40% dos paises situados como os menos corrompidos, são paraisos fiscais offshore e centros financeiros como Singapura, Suíça, Reino Unido, Luxemburgo, Hong-Kong, Alemanha, Estados Unidos, Bélgica e Irlanda. Nas palavras de um dirigente nigeriano que investiga o tema: “É irônico que Transparência Internacional, situada na Europa, não pense em considerar a Suíça como a primeira ou a segunda nação corrupta do mundo, por ter abrigado, encorajado e incitado todos os ladrões dos tesouros públicos do mundo a colocar seu botim sob salvaguarda em suas asquerosas caixas fortes”. Em outras palavras, considera a corrupção do lado da oferta, mas não da procura ou ainda, coloca toda a responsabilidade nos corruptos, absolvendo os corruptores – via de regra governos do centro do capitalismo e empresas multinacionais.


Color 7 Vídeo Capture



Descrição
Color7 Video Converter pode gravar, converter, juntar e dividir vídeos nos formatos: AVI, MPEG, MPEG 1, MPEG 2, MPEG 4, VCD, DVD, SVCD, RMVB, RM, WMV e muitos outros. É um software para uso em casa, trableh com vídeos para home theater ou para armanezar no PC. Grava DVDs, VCDs e SVCDs, e, suporta dispositivos de captura variados como câmeras digitais, webcams, vídeo cassete e transmissões on-line da Internet.

Informações
Tamanho:13,5 mb
Copiado de: BaixariaNaNet



CORELDRAW GRAPHICS SUITE X3






Dados do Aplicativo
Nome: CORELDRAW GRAPHICS SUITE X3
Estilo: Design
Fabricante: Corel
Ano de Lançamento: 2007


Descrição
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Informações
Tamanho: 269 MB
Formato: EXE
Idioma: Portugues
Copiado de:BaixariaNaNet






Repostando....Analisando o outro lado da história!!!


Paradise Now é um filme dirigido pelo diretor palestino NANY ABU-ASSAD, seus protagonistas também são palestinos, rodado quase que em sua totalidade na cidade de NABLUS e pretende responder a uma pergunta terrivelmente atual: o que move as pessoas a se converterem em HOMENS-BOMBAS. É a religião? é a política? ou é o fanatismo?
Desde o dia 11 de setembro de 2001, que o ocidente plata essa pergunta que culminou com a realidade atual da invasão iraquiana, porém, até agora não encontrou uma resposta adequanda.
ABU-ASSAD tenta oferecer uma reflexão num filme que movimentará a todos os espectadores.
Kaled(Ali Suliman) e Said(Kais Nashef) são dois jovens palestinos, amigos desde a infância, recrutados para levar a cabo um atentado suicida em Tel Aviv.
Depois de passarem a noite com suas familias, partem rumo a fronteira com esplosivos junto ao corpo.
Vários imprevistos os obriga a separar-se.
Este filme, rodado em Nablus, propõe uma interessante visão da vida cotidiana de pessoas em circunstâncias desesperadoras. Explora as legítimas razões da resistência à ocupação sem justificar em nenhum momento a perda de vidas humanas. Muito intrigante e desvelador!


América Latina
A classe media, os movimentos sociais e a esquerda

por James Petras [*]

O comportamento social e político da classe média é determinado pela sua posição e interesses de classe e o contexto político-económico com o qual se confronta. No contexto de um regime de direita com economia em expansão, créditos baratos e importações de bens de consumo a baixos preços, a classe média é atraída para a direita. No contexto de um regime de direita em profunda crise económica, a classe média pode ser parte de uma vasta frente popular, procurando recuperar sua a propriedade, as poupanças e o emprego perdidos. Quando há um governo popular anti-ditatorial e anti-imperialista, a classe média apoia reformas democráticas mas opõe-se a qualquer radicalização que torne as suas condições iguais às da classe trabalhadora.

Três exemplos, Brasil, Argentina e Bolívia, ilustram a mudança de orientação bem como as divisões internas da classe média. No Brasil, a classe média ascendente, composta por funcionários, profissionais, advogados trabalhistas e burocratas sindicais assumiram o comando do Partido do Trabalhadores (PT) liderado por Lula da Silva. Com 75% dos delegados, eles apoiaram uma aliança eleitoral com o Partido Liberal do big business e com o sector financeiro. Uma vez no poder, eles moveram-se das posições social-democratas para as dos políticos neoliberais. Os movimentos sociais, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pobres Urbanos Sem Casa (MSC), apoiaram a eleição de Lula na base das promessas pré-eleitorais, deixando de aplicar uma análise de classe às mudanças na política, na liderança e no programa.

O resultado foi que os movimentos sociais desperdiçaram cinco anos a argumentar que o regime Lula era 'território em disputa' e que poderia ser empurrado para a esquerda. Em consequência, o MST perdeu terreno político, ficou organizativamente isolado e os seus militantes desorientados durante aproximadamente cinco anos. Durante esse período, Lula cortou as pensões dos trabalhadores sindicalizados do sector público (professores, empregados dos correios, trabalhadores da saúde, funcionários, etc) em 30%, aumentou a idade de aposentadoria e privatizou fundos de pensão públicos. Por isso os sindicatos de funcionários públicos romperam com o governo e com a confederação sindical pró-governo (CUT) e aderiu a outros sindicatos independentes para constituir uma nova confederação, a CONLUTA, que inclui estudantes, ecologistas e outros grupos. Em 2007, numa assembleia nacional, a CONLUTA recebeu o apoio do MST e de sectores da CUT para a organização de uma greve geral no fim de Maio … As ligações de movimentos sociais às políticas eleitorais de partidos social-democratas, que estão a rumar para políticas neoliberais, é um desastre político. A falta de um programa político independente com base na classe e de uma liderança orientada para o poder do Estado entre os movimentos sociais forçou-os a subordinarem-se ao antigo Partido dos Trabalhadores social-democrata, o qual estava ligado ao imperialismo, às finanças e ao capital agro-mineral. Por outro lado, o sindicato dos funcionários públicos e o sector político da classe média foram forçados a romper com Lula e a procurar aliados na esquerda radical, incluindo movimentos sociais, e a rejeitar laços com a grande e pequena burguesia do sector privado.

Na Argentina, a classe média, especialmente a pequena burguesia do sector privado, apoiou o regime neoliberal de Menem na década de 1990. O seu apoio baseou-se no crédito barato (baixas taxas de juro), importações baratas de bens de consumo, uma economia dolarizada e uma economia em expansão baseada em empréstimos externos. Com as crises económicas (1999-2002) e o colapso da economia (Dezembro 2001-Dezembro 2002), a classe média viu as suas contas bancárias congeladas, perdeu os seus empregos, os negócios entraram em bancarrota e a pobreza atingiu mais de 50% da população. Em consequência, a classe média 'radicalizou-se': ela foi às ruas numa rebelião em massa a fim de protestar em frente aos bancos, ao Congresso e ao Palácio Presidencial. Por todas as grandes cidades, nos bairros da classe formaram-se assembleias populares que confraternizaram com organizações de trabalhadores desempregados (piqueteros) no bloqueamento das principais auto-estradas e ruas. Esta rebelião espontânea da classe média adoptou o slogan "Que se vayan todos!", o que reflecte a rejeição do status quo neoliberal mas também qualquer solução radical. A esquerda do sindicato de funcionários públicos (CTA) o sindicato direitista do sector privado (CGT) pouco ajudaram na liderança — no melhor dos casos membros individuais desempenharam um papel nos novos movimentos sociais com base nas "villas miséria" — os vastos bairros da lata urbanos. A esquerda e os partidos marxistas intervieram para fragmentar o movimento de massa de trabalhadores desempregados ao super-ideologizar e dissolver as assembleias de moradores da classe média. Em meados de 2003 a classe média mudou de política eleitoral e votou por Kirchner que fez campanha como social-democrata de 'centro-esquerda'. A partir de 2003 os preços das commodities mundiais ascenderam significativamente, a Argentina adiou e posteriormente reduziu seus pagamentos da dívida e Kirchner estabilizou a economia, descongelou as contas bancárias da classe média a qual então se virou em direcção ao centro.

Enquanto isso Kirchner aproveitou-se do fragmentado movimento de trabalhadores desempregados e cooptou muitos líderes, proporcionou subsídios mensais de US$ 50 a cada família e começou um processo de negociações selectivas e de exclusão seguida de repressão, isolando os radicais da esquerda reformista. Em 2007, as principais lutas de classe envolvem os empregados do sector público ou a classe média e o regime Kirchner quanto a salários. O movimento da ocupação de fábricas foi cooptado dentro do Estado. Os movimentos de trabalhadores desempregados ainda existem mas com força muito mais reduzida. A classe média privada, tendo recuperado e desfrutado um crescimento elevado, está a mover-se do centro-esquerda para o centro-direita.

A Argentina ilustra como a política da classe média pode mudar dramaticamente da conformidade à rebelião, mas na falta de qualquer direcção política retrocede para a direita. Com a estabilização, a classe média privada separa-se dos funcionários públicos, com os primeiros a apoiarem neoliberais e os últimos a social-democracia.

O governo do MAS (Movimento para o Socialismo) na Bolívia tem uma base de massa eleitoral constituída por pobres urbanos e rurais-urbanos, mas os seus ministros são todos profissionais burgueses, tecnocratas e juristas com uns poucos líderes de movimentos cooptados. Evo Morales combina demagogia política para as massas, como 'nacionalização do petróleo e do gás' e 'reforma agrária' com práticas liberais tais como assinar acordos de joint venture com todas as grandes companhias internacionais de petróleo e gás e excluir da expropriação para a reforma agrária grandes plantações 'produtivas' possuídas pela oligarquia. Enquanto isso, os pequeno-burgueses privados que inicialmente apoiaram Evo Morales para pacificar a rebelião dos índios e trabalhadores, subsequentemente viram para a direita. Além disso, como Morales apoia políticas de estabilização macroeconómica austeras tipo FMI, ele fez com que os grandes sindicatos de funcionários públicos (nomeadamente professores e trabalhadores da saúde) fossem à greve.

As consequências para os movimentos, como no Brasil e na Argentina, incluem a fragmentação, divisões e o retorno da classe média privada para o centro-direita. Os movimentos sociais são desmobilizados e há descontentamento crescente entre a classe média do sector público acerca de aumentos salariais que mal excedem a elevação do custo de vida, apesar do grande aumento nas receitas do governo devido ao alto preços das exportações minerais.

Preços de commodities. Os novos programas de centro-esquerda (CE) de Lula, Kirchner e Morales na verdade são a nova face da direita neoliberal. Os regimes de CE seguiram as mesmas políticas macroeconómicas, recusaram-se a reverter as privatizações ilegais dos regimes anteriores, mantiveram as brutais desigualdades de classes e enfraqueceram os movimentos sociais. Os regimes CE foram estabilizados pelo boom nos preços das commodities [ver gráficos] e por excedentes orçamentais e comerciais, que lhes permitiram proporcionar programas mínimos de alívio da pobreza. O seu principal êxito foi desmobilizar a esquerda, restaurar a hegemonia capitalista e um grau de autonomia relativa em relação aos EUA através da diversificação com mercados da Ásia.

O principal problema dos movimentos sociais foi o fracasso em desenvolver uma liderança política e um programa para o poder do Estado e, portanto, depender dos políticos eleitorais da classe média de profissionais com mobilidade em ascensão. Tão logo os movimentos subordinaram políticas extra-parlamentares aos partidos eleitorais, eles foram capturados em alianças eleitorais entre os líderes da classe média e os grandes capitalistas.

A centro-esquerda, aproveitando condições económicas internacionais favoráveis (altos preços das commodities, alta liquidez), pode estabilizar a economia, baixar o desemprego e reduzir a pobreza, mas não pode resolver os problemas básicos do desenvolvimento desigual, do sub-emprego, da concentração de riqueza e poder e da exploração e desigualdades.

A relação da esquerda com a classe média tem uma abordagem de direita e de esquerda. A abordagem de direita envolve o abandono das exigências anti-capitalistas e anti-imperialistas a fim de ganhar o apoio do sector privado da classe média. Isto significa sacrificar mudanças estruturais, favoráveis à classe trabalhadora, camponeses e desempregados, em prol de vagas promessas de emprego, estabilidade, protecção de negócios locais e crescimento. A abordagem de esquerda destina-se a apoiar o sector público da classe média em oposição a medidas neoliberais como privatizações, e apoiando a renacionalização de indústrias básicas, aumentos de salários, pensões e garantias de segurança social, saúde público e educação superior. O desafio chave para a esquerda é combinar a oposição da classe média do sector público ao neoliberalismo com o anti-capitalismo e o anti-imperialismo, apoiado pelos sectores militantes dos trabalhadores e do campesinato.



[*] Sociólogo. O seu ultimo livro é The Power of Israel in the United States (encomendas através deste link permitem que resistir.info receba uma pequena comissão).

O original encontra-se em http://www.axisoflogic.com/artman/publish/article_24647.shtml

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .











INTER VENCE O SANTOS


O jogo teve sério risco de ser adiado. Uma chuva muito forte deixou o gramado com muitas poças de água, o que fez com que se mantivesse a dúvida sobre a realização do jogo até as 18h10min. Somente a essa hora que o árbitro decidiu dar condições de jogo, mas decidiu adiar o começo para as 18h30min.


Gramado do Beira-Rio cerca de uma hora antes do jogo

Em um gramado encharcado, o Inter foi a campo com o mesmo time que goleou o Pachuca por 4 a 0 e conquistou a Recopa e a Tríplice Coroa na última quinta-feira. Já o Santos não contou com Zé Roberto, que se despediu da equipe na última sexta-feira.

Com o dilúvio que caiu sobre Porto Alegre, o jogo foi muito difícil para os dois times e teve poucas chances de gol no primeiro tempo. Sem condições de trocar passes, a ordem era chutão pra frente e arriscar cruzamentos e chutes de qualquer distância. Foi assim na saída de jogo com Wellington Monteiro batendo de longe aos 20 segundos para defesa de Roger.


Wellington Monteiro tenta a jogada sobre Rodrigo Tabata

A dificuldade de se manter em pé no piso escorregadio era grande para todos. Até para o trio de arbitragem. Aos 50 segundos, um bandeirinha levou um tombo quando tentou marcar o impedimento.

Aos 19min, saiu Iarley no Inter, com uma lesão no olho, pra a entrada de Wellington. Aos 23min, Alexandre Pato ganhou jogada em velocidade, entrou na área, mas Roger salvou em boa saída do gol. No rebote, Domingos afastou com um chutão. Aos 37min25seg, Cléber Santana tentou surpreendeu com uma falta de fora da área que passou perto, ao lado do gol.


Atacante Wellington entrou no lugar de Iarley ainda no primeiro tempo

Aos 40min50seg, o Inter abriu o placar. Pinga ergueu a bola na área, o goleiro Roger afastou de soco, mas a bola sobrou para Alexandre Pato. O atacante colorado matou a bola e chutou com categoria no ângulo, marcando um golaço. Na comemoração, Pato se atirou de peixinho em uma poça localizada atrás do gol. Foi o segundo gol do garoto no Brasileirão, o sétimo do artilheiro da temporada e o novo com a camisa colorada.


Pato em ação contra o Santos

O Santos tentou responder aos 42min30seg em um cruzamento de Kleber da esquerda que Marcos Aurélio cabeceou com perigo ao lado. Foi o último lance de perigo da primeira etapa.

Na etapa final, a chuva diminuiu, mas o campo seguiu muito encharcado, fazendo com que o panorama não se modificasse. O Santos tentou avançar em busca do empate, enquanto o Inter procurou marcar bem para garantir o resultado.

Aos 55seg, Kleber pegou rebote e chutou forte, da intermediária, ao lado do gol. Aos 11min, Alex cobrou falta e Wellington cabeceou para defesa sensacional de Roger. O juiz, porém, anulou o lance por impedimento. Aos 14min20seg, Rodrigo Tabata chutou forte uma cobrança de falta e Clemer defendeu em dois tempos.

Aos 16min, entrou Morais e saiu o volante Adriano no Santos. Aos 17min20seg, Pato deu grande toque para Pinga que recuou para Alex chutar forte ao lado do gol. Aos 17min30seg, Rubens Cardoso deixou o gramado para a entrada de Mineiro.

Aos 19min5seg, depois de uma confusão na área colorada, a bola sobrou para Morais concluir forte e Clemer fazer grande defesa para escanteio. Aos 22min30seg, saiu o atacante Marcos Aurélio para a entrada do zagueiro Marcelo em busca da jogada aérea na área do Inter. Aos 26min30seg, Alex deixou o campo para a entrada de Maycon.

Na defesa, Sidnei estava firme e afastava todas. Nas bolas erguidas par a área, Clemer saía bem do gol e afastava a bola com socos. No meio-campo, Pinga também se destacava com passes inteligentes, não deixando que a bola parasse nas poças do gramado.


Pinga avança com a bola: meia teve mais uma boa atuação

Aos 29min30seg, saiu Renatinho e entrou Jonas no Santos. Enquanto isso, o Inter se defrendia com muita raça e disposição, distribuindo carrinhos e chutões.

Aos 36min50seg, Mineiro cobrou falta, Roger soltou e Edinho chutou para nova defesa do goleiro santista. O lance, porém, foi anulado por impedimento. Aos 45min30seg, Kléber cruzou e Jonas cabeceou ao lado. Aos 47min, em novo cruzamento de Kléber, Marcelo concluiu por cima. Foi o último lance de perigo do jogo.


Edinho quase ampliou o placar no segundo tempo

Foi a terceira vitória seguida do Internacional, a segunda no Brasileirão. Com isso, o time colorado foi para a 13ª colocação. Na próxima rodada, enfrenta o Flamengo no Rio de Janeiro. Se vencer, poderá ingressar na zona de classificação para a Copa Sul-Americana.


Pato teve mais uma grande atuação antes da apresentação à seleção sub-20

“Consegui fazer o gol da vitória para esta torcida maravilhosa que veio mesmo com essa chuva toda. Agora é ir para seleção e ficar torcendo lá pelos meus companheiros aqui”, afirmou Alexandre Pato, que na saída do campo jogou a sua camisa para os torcedores. O garoto irá se apresentar nesta segunda-feira à seleção sub-20 para o Mundial da categoria.

“Retornamos ao espírito do ano passado. Temos muita coisa pela frente neste Brasileirão”, disse o volante Wellington Monteiro.

“Fizemos um jogo bastante aguerrido. Hoje não tinha técnica, era só garra”, analisou o zagueiro Índio.

“Não teve esquema tático nem técnica nessa situação de hoje. Tivemos que dar o máximo para vencer. O mais importante foram os três pontos”, afirmou o lateral Ceará.

"A formatação tática da equipe mostrou que a gente encontrou o caminho. Agora é seguir melhorando", analisou o vice-presidente de futebol, Giovanni Luigi.

"Jogamos muito firmes na marcação e com inteligência. A compreensão tática dos jogadores tem sido brilhante. É um grupo muito bom de se trabalhar. Temos muito a fazer e muito a trilhar no Brasileiro", avaliou o técnico Alexandre Gallo.

Internacional (1): Clemer; Ceará. Índio, Sidnei e Rubens Cardoso (Mineiro, 17min30seg2ºt); Edinho, Wellington Monteiro, Alex (Maycon, 26min30seg2ºt) e Pinga; Alexandre Pato e Iarley (Wellington, 19min1ºt). Técnico: Alexandre Gallo.

Santos (0): Roger; Alessandro, Domingos, Adaílton e Kleber; Rodrigo Souto, Adriano (Morais), Cléber Santana e Rodrigo Tabata; Renatinho (Jonas) e Marcos Aurélio (Marcelo). Técnico: Wanderley Luxemburgo.

Gol: Alexandre Pato (I), aos 40min50seg do primeiro tempo. Cartões amarelos: Rodrigo Souto, Morais, Adriano (S), Alexandre Pato (I). Renda: R$ 42.164,00. Público: 3.901 (3.220 pagantes). Arbitragem: Luiz Antônio Silva Santos, com Diberti Moisés e Ediney Mascarenhas (trio carioca). Local: Estádio Beira-Rio.

Fotos: Alexandre Lops

Links relacionados:
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Telemarketing: exploração antiga com tecnologia moderna

Mariana Cristina

Unidades com milhares de funcionários, trabalho automático, robotizado, uniforme, sem criatividade e liberdade do trabalhador, estressante, cansativo e com altos riscos de prejuízo à saúde. Veio-lhe à cabeça a imagem dos “Tempos Modernos”, do Chaplin? Pois é, é disto que estou falando, mas não são as fábricas, as grandes metalúrgicas, que estão em questão aqui, mas sim, as empresas de telemarketing.

As transformações que o sistema capitalista obteve após o início da década de 70 provocaram grandes alterações no mundo do trabalho. O desenvolvimento científico-tecnológico, junto com os grandes movimentos sociais ocorridos à partir da década de 60, que denunciaram as precárias condições de trabalho, impulsionaram uma dispersão na concentração de trabalhadores em várias unidades.

Em busca do maior lucro

Agora, não são mais necessários tantos funcionários para desempenhar as mesmas tarefas que antes, e existe uma enorme mobilidade nas unidades das empresas, que podem se deslocar para onde obtiverem maior lucro.

Contudo isso nem precisamos falar no enorme desemprego e na situação de miséria que ficaram muitos trabalhadores. Muitas pessoas, em busca da sobrevivência, se submeteram aos trabalhos precários e outras adentraram ao trabalho informal, sem direitos trabalhistas e a menor seguridade do trabalhador. Junto com isso vieram as terceirizações, assim as funções das empresas que não exigiam trabalho intelectual foram terceirizadas, o que poupou aos patrões pagamentos de benefícios aos funcionários.

É neste cenário que estréiam nossos amigos, operadores de telemarketing, ou melhor, amigas, já que a categoria é hegemonizada por mulheres. A grande maioria são jovens, que não possuem alternativa de trabalho, por isso são obrigados a se submeterem as péssimas condições do telemarketing.

Trabalho terceirizado

O Call Center desenvolve o trabalho que antes ocorria dentro dos bancos e demais empresas, e vem potencializar os lucros das mesmas, ou cobrando clientes, ou vendendo produtos. Mas não são sós os bancos, empresas de telefonia (como a Telefônica) e outras empresas que lucram nesta brincadeira, as empresas de tele marketing também saem com os bolsos cheios. E quem perde nesta história?

Bem, enquanto o Bradesco lucra 6 bilhões, os operadores de telemarketing ganham o salário de miséria, 311-367 reais, abaixo do salário mínimo. Dos teleoperadores, 90% sofrem de dor de cabeça, já tiveram gastrites em algum momento, tendinite, depressão e estresse constante. Os casos de doença do trabalho em telemarketing não param de crescer, e muitos são camuflados por serem atendidos nos ambulatórios das próprias empresas que omitem os dados.

Para o lucro ser maior, os teleoperadores são “espremidos até a última gota”. A pressão que sofrem é cotidiana. Cotas, metas, cotas, metas, cotas. Aqueles que não batem as metas servem de exemplo para os demais, tem seus nomes colocados no mural como pior vendedor, são ofendidos e xingados na frente de todos. “Por quê você não vai vender pastel na feira?” Você acredita que uma funcionária teve que ouvir isto de sua supervisora?

Condições impossíveis

Mas, isto ainda não é nada, como bater as metas se o teleoperador não tem onde trabalhar, faltam heads (telefones fixos na cabeça), PA (cabine onde trabalham), as condições são super precárias, e o teleoperador fica seis horas ali, com 15 minutos de intervalo, se é que podemos chamar de intervalo, porque ou o operador vai ao banheiro ou come algumas coisa. Já que boa parte destes 15 minutos são gastos na fila do elevador.

Descontos no salário e retirado do bônus são freqüentes, respirou a mais, perdeu. Para não pagar os direitos trabalhistas, os funcionários só são mandados embora por justa causa. Então os supervisores inventam suspensões para justificarem as demissões. Até as faltas com atestado médico são descontadas.

“Senta, pega o head, aceita a ligação, deixe o cliente esperando, para que ele desista e desligue, aceita outra ligação. Ops ! Não pode tossir, o tempo passa, o cliente não para de falar, o supervisor a encara, precisa desligar. Ufa, desligou! Outra ligação, finge que não está escutando, o cliente desliga, próxima ligação. Click ! Essa ligação foi gravada e eu não falei a ordem das palavras corretas. Maria, Telefônica, bom dia, como posso ajudá-lo? Maria, Telefônica, bom dia, como posso ajudá-lo ? Maria ...Telefônica.... bom dia... como.... posso... ajuda-lo... Mariaaaaaaaaa..........”

Se o Chaplin vivesse hoje, o cenário do seu filme seria outro. As empresas de telemarketing camuflam a precariedade do trabalho e a enorme exploração por ser um trabalho “limpo”, de escritório, sem grandes esforços físicos. Essa é a nova forma de manifestação do mercado do século XXI. Assim, o telemarketing representa o futuro das diferentes categorias.

Eu quero pedir uma licença, rápida, para você que não é trabalhador do telemarketing, você pode pular direto para o último parágrafo! E você, teleoperador, vamos ser francos: O que você vai fazer?
“Meu, fala sério, que você não se identificou com a menina da ligação acima, que você nunca sofreu assédio moral, foi humilhado, e além de tudo, no fim do mês não tem mais dinheiro para pagar as contas? A resposta é sim, eu sei disto, então você não vai fazer nada? Vai continuar só quebrando o seu head para dar trabalho para a empresa que terá que consertá-lo, ou vai continuar bloqueando sua senha todos os dias para adiar o início do trabalho?”

Então, como eu estava dizendo, a luta dos teleoperadores é a luta de toda a classe trabalhadora contra as diferentes formas de exploração, contra a constante retirada de direitos, contra os ataques neoliberais, ou seja, contra o sistema que é regido pelo enorme acúmulo de riquezas de poucos e pela transformação da maioria da população em verdadeiros “pesos de papel”.

Esse texto foi publicado originalmente no Jornal Socialismo Revolucionário n° 42 (maio 2007)

* estudante de psicologia na PUC-SP

domingo, 10 de junho de 2007

Ney Matogrosso - Single (1974)







Faixas:
01. As Ilhas
02. 1964 (II)



Logo após deixar o Secos & Molhados, em 1974, Ney Matogrosso marcha para a Itália para gravar esse compacto bastante singular. Com composições e arranjos de Astor Piazzolla, o disco ainda conta com o próprio no bandolion. Um disco essencialmente de tango "a la Piazzolla", este compacto veio encartado como bônus no primeiro LP solo de Ney, apesar da nítida diferença entre os estilos.


Download Aqui: Ney Matogrosso - Single (1974).

Tom Zé - Tom Zé (1968)








01. São São Paulo
02. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho d

01. São São Paulo
02. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho de Portão
04. Catec
Faixas:
1. São São Paulo
02. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho de Portão
04. Catecismo, Creme Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneiras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada e Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burrice
ismo, Creme Faixas
Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneiras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada e Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burrice
e Portão
04. Catecismo, Creme Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneiras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada e Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burrice



Parque Industrial ou Satyricon de Tom Zé

Este disco é uma preciosidade. Seu relançamento deve ser festejado como a descoberta de um tesouro - senão perdido - esquecido; enterrado e abandonado. Injusta e injustificadamente abandonado. E no entanto, trata-se de uma obra-prima - e primeira - de um criador singular, esse mestre de invenções e intervenções artísticas chamado Tom Zé. Um disco digno de ser enfim reconhecido como representativo do tropicalismo, assim como os demais, conhecidos, do movimento: os individuais de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes, além do coletivo.

Da companhia destes, "Tom Zé" havia sido alijado, ao sair de circulação. Como eles, foi gravado, em 1968, sob o signo da revolução e da liberdade criativa. Suas composições expõem as marcas - tipicamente tropicalistas - da surpresa e do sincretismo. Compassos se alternam, dão-se mudanças às vezes radicais de andamento. Estruturas por colagem e/ou montagem, as canções, fracionadas, misturam ritmos (exemplo: iê-iê-iê e música sertaneja, em "Sabor de Burrice), instaurando inesperadas atmosferas em uma mesma faixa. Tudo ilustrado paralelamente pelos arranjos.

Estes desempanham palel fundamental no encontro entre música popular e erudita contemporânea que o disco promove. Criados por Damiano Cozzela e Sandino Hohagen, maestros do grupo música nova, combinam elementos díspares - do folclore ao rock - num trabalho ao mesmo tempo antenado com a vanguarda e enraizado na tradição. As instumentações são inusuais. Um arsenal de ruídos - sinos, buzinas, despertadores - e sons variados - aleatórios, de fanfarras, etc - é convocado. Incorporam-se cacos, acasos, erros, além de narrações, conversas e discursos, sem contar vocais onomatopéicos. Resultado: cada faixa se torna um acontecimento sonoro-musical.

Mais relevante ainda talvez seja a forma como os arranjos se relacionam com as letras, como replicam às suas instigações, criando os climas por elas requeridos. Examine-se um detalhe de "Sem Entrada e Sem Mais Nada", por exemplo. Num dado trecho, acordes deliberadamente cafonas são tocados para comentar a expressão "cinco letras que choram", verso que, na canção, está se referindo a "FIADO" e também parodiando (no nível melódico inclusive) um antigo sucesso homônimo de Francisco Alves, co-intituladao "Adeus".

Importante, a propósito das citações, é que elas são sempre pertinentes, nunca gratuitas. E, mais do que serem várias, chama a atenção o leque de sua livre diversidade: do samba "Upa Neguinho" (em "Quero Sambar, Meu Bem") ao hino "Deus Salve a América" (na introdução de "Parque Industrial"), de "Cai, Cai, Balão" ao iê-iê-iê brega "Bom Rapaz" (em "Namorinho de Portão").

No centro de tudo, encontra-se naturalmente Tom Zé, singularizando-se já por suas qualidades de cantor - cujas interpretações assinalam, inteligentemente, o tom paródico e/ou irônico dos textos. De compositor - com uma formação sofisticada para um autor de canções à época, revelando conhecimentos hauridos no campo erudito. De músico - aberto a experimentações. De artista - com proposta e postura nova e ousada. De letrista - de versos provocativos, gozativos, satiricamente críticos.

Mais intensamente do que os damais poetas do tropicalismo - Caetano, Gil , Capinan e Torquato Neto -, Tom Zé usa e abusa de uma linguagem carregada de mordacidade e de tipo coloquial-irônico. Nesse sentido, ele foi o Tristan Corbiére do movimento. Como resistir ao humor de versos como: "Entrei na liquidação/ Saí quase liquidado"? ou a estes, desconcertantes: "Pois um anjo do cinema/ já revelou que o futuro/ da família brasileira/ será o hálito puro,.../Ah"!? ou à força do refrão de "Glória"? E há aqueles ainda que fazem uma declaração de princípios poéticos, valendo por um lema estético a ser seguido: "Quero sambar meu bem/ (...)/ Não quero é vender flores nem saudade perfumada/ (...) / Mas eu não quero andar na fossa/ cultivando tradição embalsamada".

Nodisco, não há uma só música que não seja característicamente crítica. Nem "São São Paulo, Meu Amor" - ode? - escapa a isso. E a vei satírica de Tom Zé investe implacavelmente contra vários alvos. Eis alguns deles. O capitalismo, na imagem do homem de negócios (em "Não Buzine que Eu Estou Paquerando"). A burguesia, ridicularizada em sua moral, seus hábitos e aspirações, na figura do chefe de família ("Glória"). A sociedade de consumo e as imagens-símbolo, publicitárias, do consumo ("Catecismo, Creme Dental e Eu" e "Parque Industrial"). As convenções, sociais e comportamentais ("Curso Intensivo de Boas Maneiras"), bem como as linguísticas ("Sabor de Burrice"): nesse último caso, a própria letra assume um discurso retórico-acadêmico, num emprego consciente do mau gosto para efeito crítico.

Em suma, o que Tom Zé não poupa é o limitado horizonte espiritual de sistemas e estilo de vida vazios e, com estes, seus praticantes. Tais fatores de fundo, aliado aos componentes formais do disco, colaboram para fazer dele uma obra audaciosa e desafiadora, de alguém que reúne senso crítico e estético ; um homem sertanejo de origem e forte de caráter, que se tornou um artista urbano e moderno (e que assim, acabou fazendo a "ligação direta [...] entre o rural e o experimental" para lembrar as palavras de Caetano sobre ele em "Verdade Tropical").

Agora, o Brasil passa a dispor, finalmente em CD, de mais um trabalho seu a servir de informação cultural qualitativa para as novas gerações. E os norte-americanos, os jovens em especial, já poderão contar com a referência de mais uma "nova" obra de relevo da escola de vanguarda que. para alguns deles, o tropicalismo se tornou.

Texto de Carlos Rennó, encartado no relançamento em CD.


Download Aqui: Tom Zé - Tom Zé (1968).