segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Entendendo o Irã



Luiz Eça

Há 2.500 anos, quando os antepassados de George Bush habitavam as florestas da Europa, vestindo peles de animais e comendo carne crua, o Irã (o império dos persas) era a mais poderosa nação do mundo.

Conquistado pelos árabes no século 7, o Irã adotou a religião deles e integrou-se no império islâmico como uma parte importante, distinguindo-se nas ciências, literatura, filosofia e arquitetura, daquela que foi a principal civilização da Idade Média.

A dinastia Safavida, que reinou no Irã depois que ele se separou do império muçulmano, foi outro momento de glória do país.

Estes fatos criaram uma identidade nacional e tornaram o povo iraniano orgulhoso de seu país. Mas, a partir do século 19, líderes corruptos permitiram que durante muitos anos a Rússia e a Inglaterra dominassem o Irã e explorassem sua economia. O povo iraniano sempre se rebelou contra as concessões feitas a essas potências e, em 1906, uma revolução constitucional tornou o Irã uma monarquia parlamentarista. Mas os russos e os ingleses não se tocaram. Em 1907 assinaram um tratado que dava à Inglaterra o controle do sul e à Rússia, do norte.

Nessa época, descobriu-se que o Irã tinha muito petróleo e uma empresa inglesa, a Anglo-Iranian Oil Company, assenhorou-se de sua exploração.

Em 1919,os ingleses impuseram o Acordo Anglo-Iraniano que dava a eles o controle do exército, do tesouro, dos transportes e das comunicações do país.

Novamente o povo iraniano revoltou-se e dois anos depois foi revogado o Acordo. Assumiu o poder Reza Shá que procurou modernizar o Irã. Suas boas relações com a Alemanha foram pretexto para os russos e ingleses invadirem o país, em 1941, e forçarem Reza Shá a abdicar em favor de seu sobrinho, Reza Palevi.

Depois da guerra, o nacionalismo empolgou os iranianos. Em 1951, seu parlamento elegeu o primeiro-ministro Mohamed Mossadegh, com a proposta de nacionalizar a indústria petrolífera. Ele declarou ser inaceitável que o Irã fosse um dos povos mais miseráveis do mundo enquanto a Anglo-Iranian ganhava fortunas, explorando as imensas reservas de petróleo do país.

Os ingleses reagiram, aliados aos americanos. E a CIA promoveu a "Operação Ájax", um golpe de Estado contra Mossadegh, tendo o xá Reza Pahlevi assumido poderes ditatoriais. Sem demora, ele devolveu o petróleo às companhias estrangeiras. Reprimiu violentamente a oposição, com sua polícia secreta, a Savak, matando e torturando. Os adversários do regime só podiam reunir-se nas mesquitas, o que deu força política aos clérigos.

Nos anos subseqüentes, os Estados Unidos apoiaram o xá, enviando imensos carregamentos de armas e equipamentos militares. Com isso, o anti-americanismo, nascido na crise que destruiu Mossadegh e a democracia iraniana, radicalizou-se.

Em 1979, o descontentamento contra o governo do xá provocou uma insurreição popular que levou ao poder o aiatolá Komeini e os fundamentalistas xiitas. 30 dias depois de sua posse, houve o episódio em que estudantes seqüestraram 465 pessoas na embaixada dos Estados Unidos. Komeini não apoiou, mas também não fez nada e o governo americano rompeu relações com Teerã.

Em 1980, o governo Ronald Reagan ajudou Sadam Hossein quando ele atacou o Irã, fornecendo helicópteros e informações de satélites para localizar os pontos a serem bombardeados. Nessa guerra, morreu 1 milhão de iranianos. Para o povo: com a cumplicidade dos Estados Unidos.

Estas intervenções americanas condensaram-se numa herança de ódio que tornou o Irã hostil aos Estados Unidos.

Eleito em 1998, o moderado presidente Khatami defendeu a liberdade de expressão, os direitos humanos e uma política econômica que atraísse capitais estrangeiro. Tentou melhorar as relações com os Estados Unidos, mas desistiu quando Bush colocou o Irã no "eixo do mal". Diante da fúria nacional, as eleições seguintes foram ganhas pelo ultra-conservador Ahmadinejad.

Parece estranho que os Estados Unidos tenham sido responsáveis ou co-responsáveis pela queda de um regime democrático (Mossadegh) e de um governo reformista (Khatami). Mas tem lógica, considerando-se os objetivos estratégicos de sua política externa. Como império, eles não podem admitir governos que não aceitem sua hegemonia (Eisenhower: "Quem não está conosco está contra nós"). Sobretudo no caso do Irã que ocupa uma posição geográfica favorável para controlar o fluxo do petróleo dos produtores da península arábica, podendo cortar os fornecimentos necessários à economia americana. Além disso, as reservas do Irã, na OPEP só suplantadas pelas da Arábia Saudita, são extremamente apetitosas para as petrolíferas americanas. Ora, tanto Mossadegh quanto Khatami defendiam uma política externa independente e a exploração do petróleo pelos iranianos. Eram inaceitáveis, portanto.

Ahmadinejad também é. A Casa Branca tem um plano para derrubá-lo: agravar cada vez mais as sanções contra o Irã até levar sua economia a um ponto próximo do colapso, o que forçaria o governo iraniano a interromper a produção de urânio puro.

Derrotado e com o país afundado em problemas econômicos profundos, o regime dos aiatolás perderia apoio popular e poderia ser derrubado. Caso o Irã não cedesse, restaria sempre a opção militar.

Há evidências de que o Irã não pretenda produzir bombas nucleares. O próprio serviço secreto americano já admitiu que isso atualmente não acontece. E o governo iraniano atendeu a quase todas as solicitações feitas pela agência atômica da ONU.

De outro lado, ele se recusa a admitir certas inspeções. Tem justificativas aceitáveis: teme que os inspetores informem aos Estados Unidos segredos militares. Há precedentes históricos para o Irã desconfiar do Ocidente.

Mas se o Irã não pretende ter bombas atômicas por que não aceita importar urânio puro, em vez de produzi-lo?

Aí entra uma questão de orgulho nacional. O Irã é um grande país, com 72 milhões de habitantes e uma indústria em fase de expansão, além de sua liderança na área do petróleo. Tem uma rica herança cultural e um passado glorioso.

Seu povo não aceita que os Estados Unidos e Israel desenvolvam programas nucleares enquanto isso lhes seja proibido.

Washington alega que, tendo Ahmenadabad declarado que Israel seria varrido do mapa, não seria surpresa se ele usasse bombas atômicas para isso.

Na verdade, o presidente do Irã esclareceu que não pretende fazer nada contra o povo de Israel. Somente acha que seu regime racista acabará desaparecendo, sendo substituído por uma sociedade, sem distinções de religião ou raça. E, convenhamos, os iranianos nunca seriam tão loucos de atacar um país que já tem 200 bombas, mais o apoio dos Estados Unidos e seu arsenal nuclear.

Como os iranianos não devem mesmo pedir água, restaria a opção militar. A crise econômica que assola o mundo a inviabilizou, por agora. Bombardeado, o Irã fecharia o estreito de Ormuz, bloqueando a passagem do petróleo das nações da Arábia e levando seu preço às alturas.

Quando o furacão passar, talvez o novo presidente americano terá condições para encarar uma guerra. Pelas palavras dos candidatos, estão dispostos. "Bomb, bomb, bomb", é a palavra de ordem de McCain.

Já Obama fala em mais pressões diplomáticas, "sem tirar da mesa" a opção militar. Como ele deve vencer, resta esperar que suas ameaças não passem de demagogia para ganhar os votos de um público que a mídia convenceu a temer o Irã.

Luiz Eça é jornalista.

“DONOS DA MÍDIA”: NASCE UMA FERRAMENTA PODEROSA A FAVOR DA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

Por Leandro Uchoas

Produzido pelo Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom), instituição ligada ao Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o sítio “Donos da Mídia” tende a se tornar uma das mais importantes ferramentas virtuais para pesquisas relacionadas à comunicação.



A equipe de pesquisadores – jornalistas, estudantes e professores – rastreou toda a mídia brasileira, levantando dados que escancaram sua concentração e suas relações com o poder político. Foram estudados dados dos 9475 veículos de comunicação do país – do jornalismo impresso à radiodifusão. Brilhante, o trabalho deixa à mostra a urgência da democratização dos meios de comunicação brasileiros.



Segundo os dados, existem 35 grupos de abrangência nacional no Brasil, controlando 516 veículos de comunicação. O grupo Abril controla 74 desses veículos; as organizações Globo dominam 69. No ranking das corporações, são seguidas de perto por Band e Record, com 47 e 34 veículos, respectivamente.



Segundo a pesquisa, a Rede Globo detém hoje 340 veículos de comunicação em todo o Brasil. As sete principais redes detêm 1110 dos 1553 veículos de comunicação brasileiros – 71,5%. Entre as sete, cinco são exatamente as mesmas de 30 anos atrás, quando os estudos começaram, durante a ditadura militar.



A segunda constatação é a escancarada proximidade com o poder político, o que talvez explique a produção conservadora da maioria desses veículos, e sua defesa intransigente dos valores de mercado. A Constituição Federal proíbe que políticos eleitos sejam sócios ou diretores de veículos de comunicação. Entretanto, segundo dados oficiais, 271 políticos controlam 324 meios. Um notório desrespeito à lei máxima do país.



Segundo os dados, o partido com maior domínio dos meios é o DEM. 58 deputados, senadores e prefeitos do partido são sócios ou diretores de empresas de mídia. Em segundo lugar vem o governista PMDB, com 48 políticos. O PSDB, com 43, e o PP, com 23, completam a lista dos quatro principais. O sítio também aponta o estado de Minas Gerais como aquele em que há mais políticos detentores de veículos midiáticos. São 38, contra 28 em São Paulo e 24 na Bahia.



A pesquisa começou há trinta anos, com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa da Comunicação (Abepec). Foi por muito tempo comandada por Daniel Herz, que nos anos 80 detectou a avassaladora concessão de outorgas do governo Sarney, através do ministro das Comunicações Antonio Carlos Magalhães (em menos de três anos, Sarney concedeu 527 concessões de rádio e TV). Herz morreu há dois anos, mas como se vê, o trabalho de sua vida foi ampliado e publicizado. É tarefa de todos os que sonham com uma comunicação mais democrática divulgar o endereço, e utilizar suas informações.



Acesse em www.donosdamidia.com.br

domingo, 16 de novembro de 2008

Revista 'Princípios' destaca os desafios da renovação do socialismo




Foi uma coincidência irônica o fato de que, ao mesmo tempo em que China e Vietnã completam respectivamente 30 e 20 anos da adoção de caminhos novos rumo à construção do socialismo, tenha eclodido a grande crise financeira que, partindo da venda de hipotecas nos Estados Unidos, revertendo-se para um processo de quedas de ações da bolsa, que repercutiu no mundo todo. Ao analisar e comemorar as conquistas da Ásia, a edição 98 da revista Princípios não poderia deixar de considerar essa grave crise.
Capa da edição de número 98 da revista 'Princípios' Segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em entrevista nesta edição, é impossível compreender o desenvolvimento da Ásia sem entender o papel de economia cêntrica dos Estados Unidos e a sua forma de desenvolvimento. Na avaliação dele, o crescimento da Ásia é um subproduto da expansão americana do pós-guerra. Mas, por outro lado, a China se transformou no grande centro manufatureiro global, o que, segundo Belluzzo, coloca em xeque a capacidade dos Estados Unidos de avançar sem alterar as relações.
Muitos fatores foram apontados e muitas análises foram tecidas neste processo de crise dos Estados Unidos e expansão dos chamados países emergentes. A situação colocou em xeque dogmas econômicos e políticos, evidenciando a fragilidade do neoliberalismo e das políticas nele inspiradas, e ressaltando a solidez econômica, social e política aplicadas por países que, há pouco tempo atrás, eram vistos como impotentes.
Colaboradores da revista contribuíram para esta complexa análise levantando pontos importantes sobre os fundamentos desta situação que ora se coloca. Sobre o debate acerca do possível fim do modelo neoliberal, o economista Lecio Morais apontou que o modelo econômico já admite a crítica marxista e keynesiana de que o funcionamento independente dos mecanismos de mercado como único agente organizador da sociedade tende à desorganização e ao desastre.
Para Belluzzo, é preocupante a idéia de que chegamos ao fim do neoliberalismo visto que os Bancos e as instituições financeiras buscam subterfúgios para contornar a crise. Segundo ele nos próximos meses a luta política é que determinará o grau e a natureza da regulação nos próximos meses.
Sobre a China, a revista traz o artigo do historiador Augusto Buonicore sobre a Revolução e o surgimento de Mao Tse-tung como um líder político. Ainda sobre a China, a revista traz o texto do geógrafo Elias Jabbour, que fala sobre as estratégias que fizeram do país uma potência em desenvolvimento a despeito de dificuldades como a densidade demográfica, o modo de produção extensivo e o impacto ambiental.
Além disso, o artigo do primeiro ministro da República Popular da China, Wen Jiabao, aponta conquistas do país nestes últimos trinta anos, como: a superação do secular isolamento da nação chinesa, a maior liberdade do povo chinês etc, refletindo-se em um rápido crescimento econômico.
Sobre o Vietnã, o jornalista José Carlos Ruy lembra que, ao longo do século 20, o país foi vitorioso nas vezes em que foi duramente atacado por potências imperialistas. O Vietnã expulsou o Japão, que havia invadido o país durante a Segunda Guerra, derrotou a França quando esta tentou recolonizar, e venceu os Estados Unidos ao fim da guerra que devastou o país. Entretanto, o este foi o país mais bombardeado nas guerras do século 20, tendo sofrido seqüelas profundas e ficado marcado pela história com uma das mais trágicas histórias do século.
O contraponto interessante, abordado na revista, é registrado no artigo do embaixador do Vietnã no Brasil, Nguyen Thac Dinh. A situação atual, decorrente do processo de renovação vietnamita, aponta índices de desenvolvimento econômico e social. Segundo ele, a aprovação da chamada Doi Moi (Renovação Política), no 6º Congresso do Partido Comunista do Vietnã, em 1986, foi o ponto de partida que viabilizou as atuais conquistas do país. Tanto China quanto Vietnã ressaltaram a importância da democracia como condição a ser cada vez mais aprimorada no processo de construção do socialismo.
A nova edição da revista traz também um balanço dos Jogos Olímpicos e Para-olímpicos de Pequim, feito pelo ministro do Esporte, Orlando Silva; uma entrevista com o curador da polêmica 28ª Bienal de Artes de São Paulo; uma análise apontando as perspectivas que se abrem com a descoberta do chamado pré-sal, desenvolvida pelo diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima; uma entrevista com o físico Olival Freire, sobre a criação do Grande Colisor de Hádrons (LHC); outra entrevista, com a presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, sobre a reativação da 4ª frota estadunidense e o cerco militar global estabelecido por esse país; uma análise da crise abordando o colapso da Rodada de Doha, do sociólogo Ronaldo Carmona; a segunda parte do artigo sobre história urbana, dos professores Luiz Sergio Duartte e Adriana Mara Vaz de Oliveira.

E ainda falam mal de CUBA...

Cuba patenteia vacina terapêutica contra o câncer de pulmão

POR IRIS ARMAS PADRINO

• A primeira vacina terapêutica para o tratamento do câncer avançado de pulmão foi patenteada em Cuba e é a única registrada no mundo para este tipo de tumor maligno, noticiou a Agência de Informação Nacional.

Cuba patenteia vacina terapêutica contra o câncer de pulmão"Sob o nome de Cimavax EGF, esta vacina imunogênea é de provada eficácia e aumenta a possibilidade de sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes que sofrem esta doença", disse a gerente do projeto, a doutora em ciências biológicas, Gisela González.

A especialista explicou à imprensa que esta vacina foi fabricada no Centro de Imunologia Molecular (CIM), uma das instituições insígnias do Pólo Cinetífico da capital do país.

"O primeiro teste clínico em Cuba foi feito, em 1995, a mais de 400 pacientes com esta doença em estágio avançado, que receberam com antecedência tratamento convencional com quimioterapia ou radioterapia", enfatizou.

"Entre as vantagens do medicamento sobressaem a diminuição ou eliminação da falta de ar, os doentes ganham peso, melhoram o apetite, a dor torna-se controlável, podendo se inserir na vida social", disse.

Sublinhou que a vacina, que provoca resposta imune e não tem efeitos severos, é composta por proteínas, uma pelo fator de crescimento epidérmico e pela P-64 K, da membrana, as duas obtidas a partir de recombinantes no Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia.

González afirmou que se realizaram cinco testes fase I, dois testes fase II terminados um em Cuba e outro no Canadá e na Inglaterra.

De acordo com os resultados dos testes clínicos da fase II, constatou-se benefício clínico nesses pacientes, em comparação com os que não foram vacinados, razão pela qual foi solicitado patenteá-la na empresa regularizadora cubana.

Anunciou que se está realizando o terceiro teste clínico a 579 pacientes em onze hospitais do país e prevê-se, para gosto deste ano, dar início às pesquisas da fase II no Peru e, posteriormente, na China.

A diretora de Pesquisas Clínicas do CIM, doutora Tania Crombet, ressaltou que cientistas cubanos pesquisam a Cimavax EGF para aplicá-la a outros tumores de origem epidemóide (sólidos) e demonstraram sua utilidade em neoplasmas de pulmão, de cabeça e garganta, de cérebro, gástrico, de mama, de ânus, de próstata, de colo do útero, de bexiga, de ovário e de pâncreas.

Cuba, desde 1992, começou a fazer estudos com esta vacina, que incluiu os testes pré-clínicos, de animais de laboratório e, em 1995, o primeiro teste clínico. •

Comissão aprova rádios comunitárias para universidades e escolas

A Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática aprovou, na quarta-feira (5), o Projeto de Lei 5172/05, do deputado Celso Russomanno (PP-SP), que permite às instituições de ensino superior obter autorização para operar rádios comunitárias.
Foi aprovado o substitutivo do relator, deputado Fernando Ferro (PT-PE), que amplia o projeto, fazendo-o abranger também escolas de nível médio, instituições particulares de ensino, escolas técnicas federais e centros vocacionais tecnológicos.
Além disso, o substitutivo permite a outorga de mais de uma emissora para universidades que tenham mais de um campus; e prevê a possibilidade das universidades operarem canal próprio de televisão educativa.
Importante suporte
O relator argumenta que muitas escolas de nível médio, em especial as públicas, situam-se em regiões carentes de infra-estrutura. Para essas regiões, diz Fernando Ferro, a emissora de rádio da escola será um importante suporte para acelerar o processo de desenvolvimento sócio-econômico.
Pelo substitutivo, a entidade de ensino particular que quiser operar uma rádio comunitária deverá comprometer-se a dar preferência a finalidades educativas, artísticas,culturais e informativas.
"Essas mudanças modernizadoras no marco legal vigente vão enriquecer a educação, a cultura e a cidadania no País", resume Fernando Ferro.
Preparação acadêmica
Segundo o autor, deputado Russomanno, o objetivo do projeto é contribuir para a preparação acadêmica e para o aperfeiçoamento profissional do estudante.
A legislação vigente já autoriza as universidades a operar emissoras educativas. Mas os altos custos de uma rádio educativa, diz Russomanno, inviabilizam o seu funcionamento nas instituições de ensino públicas. A rádio comunitária, mais barata, é mais compatível com a realidade universitária, argumenta o autor do projeto.
Tramitação
A proposta já havia sido rejeitada pela Comissão de Educação e Cultura. Agora, ela segue para o exame da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se aprovada, vai à votação em plenário.

Créditos: IZB

(Fonte: Dióges Santos, em http://www2.camara.gov.br/internet/homeagencia/materias.html?pk=128264)

Cuba exibirá filme de Soderbergh sobre 'Che' Guevara


Cuba exibirá em dezembro o filme Che, obra do norte-americano Steven Soderbergh que fala sobre Ernesto "Che" Guevara, disse na última quinta-feira (13) o diretor do Festival de Cinema Latino-Americano de Havana.


Del Toro, no papel de Che: restrições para filmar

Ivan Giroud, diretor do festival que acontecerá entre os dias 2 e 12 de dezembro, disse a jornalistas que não sabe se Soderbergh, o ator Benício Del Toro e outros membros do elenco irão a Havana, devido às restrições impostas pelo governo dos Estados Unidos às viagens para a ilha.


O filme de Soderbergh tem duas partes ("O argentino" e "guerrilha") e quatro horas de duração. "Em uma apresentação especial, vamos exibir as duas partes", disse Giroud durante uma coletiva de imprensa sobre o festival.


Em julho, Alfredo Guevara, presidente do festival de cinema de Havana, que chega à 30ª edição, disse a jornalistas que Cuba não iria exibir o filme caso ele tivesse "algum ataque" ao ex-presidente de Cuba Fidel Castro.


O filme foi rodado na Espanha e na Bolívia, onde Guevara foi capturado e executado no dia 9 de outubro de 1967, enquanto tentava expandir a guerrilha pela América Latina.


Giroud disse a jornalistas que os atores norte-americanos envolvidos no filme precisam de autorização de seu governo para viajar a Cuba. "Estão tratando (de sua vinda) (...) estão envolvidas aqui figuras do cinema norte-americano, então isso depende um pouco das permissões e das autorizações para a viagem", comentou.


O governo Bush aumentou o embargo comercial e as restrições de viagens à ilha.


O chanceler cubano, Felipe Pérez Roque, disse em 2007 que Soderbergh não pôde filmar na ilha devido ao embargo comercial aplicado pelos Estados Unidos desde 1962.


Segundo Giroud, o Festival de Havana terá neste ano 114 filmes. Os países mais representados no festival são a Argentina, o México, o Brasil, a Venezuela, o Chile e a Guatemala.


O festival começou em 1978. Além deste, a ilha organiza outros dois festivais internacionais.


Fonte: Reuters

Créditos:Vermelho

CPERS organiza greve em todo o Estado

O Comando de Greve do CPERS/Sindicato reuniu-se neste sábado para avaliar a assembléia geral de ontem, e para preparar a mobilização da categoria em todo o Estado. A assembléia decidiu pela greve como forma de pressionar pela retirada do projeto encaminhado na terça-feira passada pelo Governo Yeda que cria um piso estadual. Na avaliação do CPERS, a proposta de piso apresentada pela governadora “é uma tentativa de enganar a sociedade e a categoria de que se trata da mesma lei federal”.

“Essa tentativa não se sustenta, já que o governo está contestando na justiça o piso nacional. De semelhante tem apenas o valor de R$ 950,00 já que a proposta do governo gaúcho é na verdade um teto e não um básico. O projeto, se aprovado, significaria um congelamento de salários, pois sobre ele não seria aplicado aquilo de mais caro que a categoria tem: sua carreira, garantida através do seu esforço para se qualificar e então mudar de nível”, diz o sindicato em nota distribuída hoje.

Os professores também rejeitam a proposta do governo de elaborar um novo plano de carreira para o magistério. “A categoria não aceita alterações no plano, principalmente porque a intenção do governo é encurtar as distâncias entre os níveis, achatando os vencimentos dos educadores e com isso gastando menos com o pagamento de salários”, diz o CPERS. A primeira reunião do Comando de Greve definiu que até segunda (17) deverão estar constituídos todos os comandos de greve regionais e que durante o fim de semana os deputados estaduais serão procurados em suas regiões de origem. O CPERS pedirá aos parlamentares para que pressionem pela retirada do projeto e que assumam o compromisso de não votarem durante o recesso escolar qualquer projeto que retire direitos dos trabalhadores em educação.

Ainda na segunda-feira, o Comando de Greve encaminhará ao governo um pedido formal de audiência para o dia 18, à tarde. Os partidos políticos também serão procurados para que se manifestem em relação ao projeto e para agendar uma reunião com os deputados federais e senadores.

Foto: João Manoel de Oliveira

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

CHEGA, GREVE JÁ.....


João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato, escreve:

"A governadora Yeda Crusius e sua equipe de governo estão extrapolando na arte de debochar do bom senso da sociedade gaúcha, em especial com o dos trabalhadores em educação. As últimas medidas deixam isso claro. Primeiro teve a insensatez de ingressar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), no Supremo Tribunal Federal (STF), contra o Piso Nacional do Magistério. Essa ação já contabiliza dois pareceres contrários. A exemplo do que fez a Advocacia Geral da União, o Ministério Público Federal recomendou a extinção do processo. O pedido de arquivamento foi feito pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, ao ministro Joaquim Barbosa.

Não satisfeita com a Adin, e numa clara provocação ao magistério gaúcho, encaminhou à Assembléia Legislativa projeto prevendo a criação de um Piso Salarial Estadual que não apresenta nenhum benefício para a categoria e que engessa os vencimentos da categoria. Atinge apenas 0,7% da categoria. Na justificativa fica clara intenção de alterar o Plano de Carreira do Magistério.

Atualmente, 86% dos membros do magistério em atividade encontram-se nos níveis 5 e 6 da carreira, correspondentes à formação em licenciatura plena e especialização, tela estrutura tem tornado inviável a fixação do vencimento inicial, correspondente à formação em nível médio, modalidade normal, em valores compatíveis com a importância das funções do magistério, pois a elevação desse vencimento tem significativa repercussão no conjunto da folha de pagamento", diz o texto encaminhado ao Legislativo.

O deboche chega ao limite quando, no mesmo dia em que propõe um piso salarial rebaixado em comparação com a lei federal que estabelece os R$ 950 como básico da carreira, encaminha à Assembléia Legislativa projeto propondo uma gratificação de R$ 6.938,85 para os secretários com origem nos quadros do serviço público. Vale para aqueles que optarem pelos salários do órgão de origem. “Como é que os deputados vão pedir paciência aos professores e aprovar para os secretários uma gratificação sete vezes superior ao piso do magistério?”, questiona a editora de política do jornal Zero Hora, Rosane de Oliveira, em sua coluna".

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Canhoto da Paraíba - O Violão Brasileiro Tocado Pelo Avesso (1977)

Capa do disco

Downloads abaixo:

CD
Capa


Canhoto da ParaíbaSe a escola de violões é a melhor do mundo, Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba, é um dos mais surpreendentes expoentes. Seus choros têm um sotaque nordestino delicioso. Seu estilo de tocar é único. Como era obrigado a compartilhar o instrumento com os irmãos, não podia inverter as cordas, o que o fez tocar em um instrumento afinado para destros. O pai não conseguia ensinar-lhe: "Ih, meu filho, tem jeito não. Pra lhe ensinar tem que botá de cabeça pra baixo ou diante de um espelho". Teve que aprender tudo sozinho.

Em 1959, uma legendária excursão de músicos nordestinos viajou dias de jipe com destino à casa de Jacob do Bandolim no bairro de Jacarepaguá no Rio de Janeiro, onde aconteciam os maiores saraus da época. Reza a lenda, que no primeiro sarau em que se apresentaram para a nata dos músicos brasileiros, Radamés Ganttali ficou tão impressinado que gritou um palavrão e jogou seu copo de cerveja no teto. Para recordar o momento, Jacob nunca limpou a mancha no teto. Considerando o temperamento explosivo de Radamés e o virtuosimo de Canhoto, a história até é factível, pena que parece que é falsa. Histórias saborosas assim todo mundo deveria acreditar. O fato é que esta reunião foi tão impactante, que um moleque que a assistiu, filho de um dos músicos participantes, resolveu por causa disso aprender música. Hoje ele é conhecido como Paulinho da Viola.

Estabelecido em Recife, desde 1958, somente dez anos depois, Canhoto da Paraíba conseguiu gravar seu segundo disco, Único Amor pela finada gravadora Rozenblit. Este disco é que está sendo agora relançado em CD, com apoio de João Florentino, dono da rede de lojas Aky Discos e do selo Polysom. Entre tantos ótimos violonistas na cidade na época, Canhoto surpreendeu na escolha de quem iria acompanhá-lo. Escolheu o jovem Henrique Annes, de 22 anos e formação clássica. Francisco Soares sabia das coisas. Henrique veio a se tornar um dos maiores violonistas brasileiros, e fez parte de alguns dos mais interessantes projetos instrumentais, como a Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco (que tem um maravilhoso disco relançado em CD) e lidera o grupo Oficina de Cordas. Se achou esta dupla pouco, é que ainda não sabe quem foi o produtor musical do disco. Nada menos do que o maestro Nelson Ferreira, o maior maestro/orquestrador de frevos que já existiu.

Canhoto veio a gravar apenas mais dois discos de carreira, ambos antológicos. Em 77, Paulinho da Viola produziu para a Discos Marcus Pereira o "Com mais de Mil". Esse disco já foi lançado em CD, mas os babacas da EMI trataram de tirar de catálogo quando compraram o acervo da Copacabana. Pela finada Caju Music gravou em 1993, seu último disco, "Pisando em Brasa", com as participações especiais de Rafael Rabello e Paulinho da Viola. Ainda pode-se encontrar este disco em CD pela Kuarup. Recentemente saiu em CD sua entrevista para o programa Ensaio da TV Cultura. Em 1998, Canhoto sofre uma isquemia cerebral e fica com o lado esquerdo do corpo paralizado, impossibilitando-o de tocar.

Se você não tá levando fé no que estou escrevendo -- Ora, como um violonista que quase ninguém ouviu falar pode ser tão bom? -- vou transcrever aqui a opinião de duas pessoas que entendem muito mais de música do que eu. Uma é o Paulinho da Viola, que não só produziu seu primeiro disco, como rodou o país com Canhoto pelo Projeto Pixinguinha.

Paulinho dizia que era comum Chico Soares roubar o show, sendo muito mais aplaudido do que ele. Paulinho também gravou em seu primeiro disco de 1971 o belíssimo choro "Abraçando Chico Soares", que fez no estilo de composição do amigo. Veja o que Paulinho diz sobre ele:

"Eu não queria participar daquelas rodas (de choro) como músico. Quando vi o Canhoto tocar fiquei tão entusiasmado que me toquei. Era tão sublime, tão tecnicamente perfeito. Acho que o Canhoto me influenciou a tocar, mais do que meu pai e Jacob (do Bandolim)."
Paulinho da Viola

Quer mais? Então veja este trecho de entrevista de um dos mais perfeccionistas músicos brasileiros, Jacob do Bandolim. Ele está mostrando uma gravação e falando de 1959, quando recebeu a excursão de músicos nordestinos em sua casa. Veja que ele se refere a Canhoto por seu apelido de "Sacristão", que ganhou quando criança como assistente do padre de sua cidade. Fala aí, Jacob:

"... O problema aqui nesta gravação do Chico Soares reside apenas em que vocês pra executarem estas músicas gravadas, vocês vão virar canhotos de uma hora para outra. E só assim, porque o homem tem o diabo no corpo. ... Nós vivíamos a correr de um lado para outro, a tocar para uns, para outros, e todos queriam conhecer o Sacristão, que aliás era o vedete do grupo. E observe bem que você não vai encontrar qualquer erro da parte dele. Quero afirmar a você, sob palavra, que durante os 15 dias que esse homem permaneceu aqui, em nossa casa em Jacarépaguá, este homem repetiu estas músicas várias vezes, dezenas e dezenas de vezes, em vários lugares, nas condições mais absurdas, sentado confortavelmente ou não, num ambiente agradável ou não ... , nas condições mais absurdas. De manhã cedo, às 6h da manhã, ele às vezes me acordava tocando violão. Adormecia tocando violão. Dentro de uma simplicidade tremenda sem errar nem uma nota! Eu nunca vi Sacristão errar uma nota! ... o homem tocava mesmo, não era brincadeira. Os outros tinham suas falhas, suas emoções, suas emotividades, mas o Chico Soares, não. Tocava rindo na minha cara, com um sorriso muito ingênuo de quem não estava fazendo nada de mais. Um artista enterrado lá em Recife ... é digno de toda nossa admiração, de todo nosso respeito, porque ele encarna nesta figura, uma porção de brasileiros que vivem enterrados por estes rincões afora, verdadeiros valores completamente no ostracismo ..."
Jacob do Bandolim

E viva Canhoto da Paraíba!

Paulo Eduardo Neves - extraído do site Agenda do Samba & Choro

Descriminalização da interrupção da gravidez

O Senado do Uruguai aprovou a descriminalização do aborto até ás 12 semanas de gravidez, confirmando uma decisão anteriormente tomada pela Câmara dos Deputados, embora o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, tenha prometido vetar a medida. E os bispos uruguaios avisaram que todos os deputados que votassem a favor seriam automaticamente excomungados.

Uruguai: Senado aprova descriminalização do aborto

Descriminalização da interrupção da gravidez

O Senado do Uruguai aprovou a descriminalização do aborto até ás 12 semanas de gravidez, confirmando uma decisão anteriormente tomada pela Câmara dos Deputados, embora o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, tenha prometido vetar a medida. E os bispos uruguaios avisaram que todos os deputados que votassem a favor seriam automaticamente excomungados.


A Lei de Saúde Reprodutiva e Sexual foi aprovada por 17 dos 30 senadores uruguaios. Na Câmara dos Deputados, o texto tinha passado á tangente, por 49 a 48. Com a nova lei, as mulheres podem abortar até às 12 semanas, alegando dificuldades económicas, motivos familiares ou de idade.

"Esta lei é um grande avanço e permite saldar uma dívida com as mulheres uruguaias em matéria de direitos sexuais", explicou uma das senadoras à France Press

No entanto, o presidente Tabaré Vázquez, que também é médico, anunciou que vai vetar a medida porque não concorda com o aborto "nem filosoficamente, nem biologicamente". No caso de se confirmar o veto, será necessária uma maioria de três quintos para aprovar a medida.

A Igreja empenhou-se fortemente numa campanha contra a Lei da Saúde Reprodutiva e Sexual. Num comunicado emitido no passado sábado, os bispos uruguaios afirmavam que todos os parlamentares que apoiassem a medida seriam automaticamente excomungados

Vários estudos revelam que perto de 33 mil abortos são realizados no país anualmente, a um custo de perto de 800 dólares cada. Três médicos uruguaios foram presos este ano por realizarem abortos.

A maioria dos países da América Latina permite o aborto apenas em casos de violação, quando a mãe corre risco de morte ou nos casos de mal-formação do feto. Apenas Cuba e Guiana permitem o aborto sem restrições. Na Cidade do México o aborto sem limitações foi aprovado no primeiro trimestre, porém é proibido no resto do país.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Vade retro Bush, chefão do terrorismo






Altamiro Borges *Adital


A consagradora vitória de Barack Obama atesta que os estadunidenses não agüentavam mais o presidente-terrorista George W. Bush. De todo-poderoso, bajulado pela mídia venal, ele agora sai escorraçado da Casa Branca, como um dos presidentes mais odiados da história dos EUA. Nem o candidato do seu partido, o republicano John McCain, aceitou sua presença. Nos últimos dias, ele sofreu da solidão do poder, parecia um natimorto. Nem sequer foi às urnas para votar; depositou o seu voto nos correios. Triste fim de um tirano sanguinário. Para exorcizar de vez este satanás, reproduzo uma série de artigos publicados no início de 2007. Vade retro, Bush.

Bush, o chefão de terrorismo internacional

Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, em que três aviões derrubaram as "torres gêmeas" do World Trade Center, símbolo da ostentação capitalista, e atingiram as laterais do Pentágono, símbolo do poder do império, George W. Bush declarou: "Sou um presidente em guerra", um war president. Já o seu vice, Dick Cheney, vinculado à indústria petrolífera, foi ainda mais assustador: "É diferente da guerra do Golfo [no governo de Bush-pai] no sentido de que ela pode não terminar nunca, pelo menos não no nosso tempo de vida". Aqueles episódios trágicos mudariam os rumos da história e fariam a política terrorista-imperialista dos EUA atingir o seu ápice, colocando em risco a própria sobrevivência da humanidade.

Na sua história expansionista, os EUA já organizaram, financiaram e participaram de inúmeras guerras. A própria formação do país está manchada de sangue, com o extermínio de povos indígenas e a anexação de terras mexicanas. Para manter sua hegemonia no "quintal" latino-americano, os EUA também realizaram várias intervenções armadas em nações soberanas e bancaram golpes militares, ditaduras cruéis, atentados terroristas e assassinatos de líderes populares e nacionalistas. Já para ampliar a sua hegemonia planetária, lançaram as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, apoiaram genocídios na Ásia e na África, deram proteção a ditadores sanguinários e tornaram-se os recordistas mundiais no tráfico de armas.

"Tirando partido da tragédia"

A ação terrorista-imperialista dos EUA ainda será condenada pelo tribunal da história. O julgamento será ainda mais duro após a chegada de George W. Bush à presidência dos EUA, em janeiro de 2001. A maior potência do mundo é hoje dirigida por um homem que se considera "um enviado de Deus" e que mantém promiscuas relações com o poderoso "complexo militar-industrial", que reúne fábricas de armamentos, corporações do petróleo e grandes bancos. Os suspeitos atentados de 11 de setembro serviram para retirar um desgastado Bush, eleito de forma fraudulenta, do seu isolamento e para justificar suas ações terroristas no Afeganistão e Iraque visando ampliar, numa escala sem precedentes, a hegemonia mundial dos EUA.

Segundo Richard Clark, assessor militar do Conselho de Segurança Nacional, os ataques foram utilizados para concluir o que Bush-pai deixara inconcluso. Tendo servido a quatro presidentes, Clark foi acionando quando dos episódios e lamenta. "Depois percebi com dor aguda, quase física, que estavam tentando tirar partido daquela tragédia nacional para promover a agenda deles no Iraque". Paul O’Neill, ex-secretário do Tesouro, também registra em seu livro que o Iraque era uma obsessão de Bush antes dos atentados. Nas reuniões ministeriais, "ele era como um cego numa sala cheia de pessoas surdas". A ocupação terrorista inclusive já estava detalhada, com os mapas das áreas potenciais de exploração do petróleo iraquiano.

A estratégia da Pax Americana

O plano para a expansão imperialista dos EUA, para a construção da chamada Pax Americana, já estava delineado desde o desmoronamento do bloco soviético. Com o fim da chamada "guerra fria" e da temida "ameaça comunista", muitos iludidos apostaram em seus efeitos positivos com o fim da bilionária corrida armamentista - entre 1949/1991, os EUA gastaram US$ 7,1 trilhões na "defesa nacional". Mas este nunca fora o projeto do poderoso "complexo militar-industrial" que domina a política ianque. Após a débâcle do bloco soviético, uma nova doutrina fascista emergiu deste grupo, a de estender o domínio anterior, num mundo bipolar, para a dominação completa do planeta, com a construção de uma potência unipolar.

Esta passou a ser a ambição das empresas que fizeram fortuna como fornecedoras de armas ao Pentágono durante a "guerra fria" e das corporações do petróleo, sequiosas pelas reservas do Oriente Médio. Nele estavam envolvidas empresas que ascenderam ao poder com a eleição de George H. W. Bush, o Bush-pai, como a Chevron, que batizou um petroleiro de 130 mil toneladas com o nome de Condoleezza Rice, ex-integrante do seu conselho de direção, e a Halliberton, que foi presidida pelo próprio Dick Cheney. Em 1992, na campanha por sua reeleição, este projeto já havia sido traçado pelos ideólogos ultradireitistas do Partido Republicano, os neocons, e pelos fanáticos religiosos que rodeavam a família Bush, os theocons.

Em março de 1992, o New York Times vazou um documento interno do Pentágono (DPG) que continha os detalhes desta estratégia para substituir a política da "guerra fria". Ele já pregava a Pax Americana, com a existência de uma única superpotência mundial, com direito à ação unilateral, à guerra preventiva e ao uso de força, inclusive contra históricos aliados que se atravessem a reforçar seu poderio militar. Ele já tratava a região asiática - o Iraque, em especial - como estratégica neste projeto geopolítico. Mas seu vazamento gerou forte reação dos aliados e desgastou a imagem de Bush, contribuindo para as duas derrotas seguidas dos republicanos. O plano foi parcialmente "suavizado" durante os oito anos do "democrata" Bill Clinton.

"Identificar e destruir"

Em janeiro de 2001, porém, os neocons e os theocons finalmente retornaram ao poder, desta feita através da figura caricata de George W. Bush, o baby-Bush, o 43º presidente dos EUA. Estavam sendo criadas as condições para desarquivar a controvertida Orientação da Política de Defesa (DPG), elaborada em 1992 - depois atualizada, em 1997, com o nome de Projeto Novo Século Americano (PNAC), e que teve nova redação, em setembro de 2000, com o relatório Reconstruindo as Defesas da América (RAD). Como se observa, o projeto terrorista dos EUA, rebatizado de Estratégia de Segurança Nacional (NSS) e divulgado com pompa por baby-Bush em setembro de 2002, já estava pronto há quase uma década!

A versão original não deixava margem à dúvida sobre a agressividade imperialista. Já falava abertamente em promover "ações unilaterais", sem qualquer consulta aos organismos internacionais, para promover os "valores americanos" da democracia liberal e do "livre mercado". De forma grosseira, a DPG alegava que "sem a União Soviética, somos a única superpotência e o nosso objetivo número um deve ser o de manter as coisas assim". Num outro ponto, esbravejava: "Não admitimos dividir nossa posição com ninguém". O texto já antecipava a idéia das "guerras preventivas" e relativiza o conceito da soberania das nações.

Já o documento Estratégia de Segurança Nacional (NSS) só fez confirmar esta política belicosa. Nas suas 33 páginas, o texto escrito sob a direção de Condoleezza Rice era altamente agressivo. "Defenderemos os EUA, o povo americano e nossos interesses em casa e no exterior, identificando e destruindo as ameaças antes que elas cheguem às nossas fronteiras. Ao mesmo tempo em que os EUA tentarão recrutar o apoio da comunidade internacional, não hesitaremos em agir sozinhos, se necessário, para exercer nosso direito de autodefesa, agindo de maneira preventiva". A NSS já previa a instalação de "bases americanas dentro e além da Europa Ocidental e do Nordeste Asiático" e o aumento do gasto militar anual de US$ 350 bilhões para mais de US$ 500 bilhões - fora os US$ 40 bilhões por ano para manter 150 mil soldados no Iraque.

Falso "combate ao terrorismo"

Lendo estes documentos, fica patente que os atentados de 11 de setembro serviram somente de pretexto para colocar em prática esta visão terrorista-imperialista. Sem as suspeitas ações comandadas por Osama bin Laden, por acaso um antigo aliado dos EUA na luta contra os soviéticos no Afeganistão, seria difícil emplacar nos EUA e na comunidade internacional um projeto tão belicista e belicoso. No passado, para justificar a histeria da "guerra fria", a Doutrina Truman criou a imagem do "perigo comunista". Agora, os atentados ajudaram a criar o clima do "perigo terrorista" e do "choque de civilizações". O primeiro alvo desta estratégia imperial foi o Afeganistão, um país mais frágil e isolado no tabuleiro mundial.

Mesmo após o governo afegão, sob o controle dos antigos aliados do Talibã, ter proposto entregar Osama Bin Laden a um país neutro e ter concordado com seu julgamento, mas sob as leis islâmicas, os EUA iniciaram o covarde bombardeio ao país em 7 de outubro de 2001. Uma semana após o início dos ataques aéreos, a proposta de paz foi reiterada, mas a resposta de Bush foi reveladora: "Não há necessidade de se negociar. Não temos que discutir se ele [Bin Laden] é inocente ou culpado. Sabemos que é culpado". Na verdade, a captura do suspeito terrorista não era a prioridade dos EUA, que poderiam tê-la conseguido por meios pacíficos. Sua extradição, reiterada pelo Talibã, faria desaparecer o real motivo da guerra!

700 mil mortos no Iraque

A invasão do Afeganistão fazia parte de um plano maior; visava criar o clima para a ocupação do Iraque e o domínio daquela região estratégica. As cruéis sanções impostas ao Iraque pelo Conselho de Segurança da ONU, que causaram a morte de meio milhão de crianças e de um milhão de adultos, segundo cálculos da própria Unicef, nunca sensibilizaram os falcões republicanos. Diferentemente da secretária de Estado Madeleine Albright, proponente das sanções durante o governo do "democrata" Bill Clinton, que declarou que a morte de meio milhão de crianças "foi um preço que valeu a pena", os neocons e os theocons nunca se contentaram apenas com as sanções. Desde Bush-pai, sempre sonharam em ocupar militarmente o país.

O saldo do terrorismo de Estado dos EUA é que desde o início desta brutal guerra de ocupação, em março de 2003, já morreram cerca de 700 mil iraquianos e mais de 3 mil soldados ianques - além de milhares de "mercenários modernos" contratados pelo governo Bush e pelas corporações que hoje exploram o país. O custo desta empreitada insana e genocida, segundo estimativa recente de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, já supera os US$ 2,2 trilhões - para a alegria do "complexo militar-industrial" dos EUA. Não é para menos que George W. Bush, chefão do terrorismo internacional, recebeu as maiores contribuições financeiras desta "indústria da morte" na campanha para a sua reeleição em 2004.

Leia os outros artigos da série em:

http://www.adital.com.br/Altamiro%20Borges_sobre_Bush%202_a_4.doc

http://www.adital.com.br/AltamiroBorges_%20sobre_Bush_5_a%20_7.doc


* Jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB - Partido Comunista do Brasil

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Atahualpa Yupanqui

María Dolores Pradera - Tú que puedes vuélvete



VIRGINIA RODRIGUES

1999 Sol Negro

1. Verônica
3. Negrume da noite
4. Lua lua lua lua
5. Adeus batucada
6. Nobreza
7. Sol negro
8. Terra seca
9. Manhã de carnaval
10. I wanna be ready
11. Querubim
12. Israfel

Download aqui

2000 Nós

1. Canto para Exu
2. Uma história de Ifá
3. Salvador não inerte
4. Afrekêtê
5. Jeito faceiro
6. Depois que o Ilê passar/ Ilê é ímpar
7. Ojú Obá
8. Raça negra
9. Deus do fogo e da justiça/ Deusa do ébano
10. Malê de Balê
11. Mimar você
12. Reino de Daomé

Download aqui

2003 Mares Profundos

1. Canto de pedra-preta
2. Tristeza e solidão
3. Bocoche
4. Tempo de amor
5. Canto de Iemanjá
6. Labareda
7. Canto de Xangô
8. Canto de Ossanha
9. Lapinha
10. Consololação
11. Berimbau
12. Lamento de Exu

Bloqueio israelense mergulha Gaza na escuridão


Milhares de moradores da faixa de Gaza ficaram sem eletricidade depois que Israel cortou o fornecimento de combustível à única termoelétrica do território, controlado pelo Hamas. A central parou no domingo (9), depois que Israel se recusou a retomar o abastecimento, apesar de advertido de que as reservas estavam quase no fim.


Menino da Gaza: combustível está no fim

Sherine Tadros, correspondente da TV Al Jazira na cidade de Gaza, disse que o apagão no território era quase completo. Além disso, os suprimentos de combustível da população estavam se esgotando rapidamente.


O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, mandou fechar os postos de fronteira na semana passada, depois que combatentes palestinos dispararam foguetes contra o sul de Israel. Barak decidiu-se pelo bloqueio "depois de consultas com funcionários da segurança e em vista do constante fogo de foguetes", conforme alega um comunicado nesta segunda-feira (10).


Temores pelo hospital


Afora os problemas gerais causados pelo apagão, Tadros destaca dois sérios problemas que ele causa. "O corte de energia elétrica afeta as bombas d'água que operam o sistema de esgoto daqui, e a eletricidade é necessária ao funcionamento dos hospitais", reporta. "Alguns dos hospitais menores começarão a ficar sem combustível para seus geradores nas próximas 36 horas, o que causa imediata preocupação".


No entanto, Israel insistiu que a faixa estava recebendo energia elétrica das redes de distribuição israelenses e egípcias em quantidade suficiente para cobrir 75% da demanda.


O Ministério do Exterior acusou o Hamas de explorar a situação com fins políticos. "A cínica exploração da população de Gaza pelo Hamas é desprezível", diz um comunicado do Ministério.


A Comissão Européia, que financia o abastecimento da única central elétrica de Gaza, disse ter sido informada de que Israel pode autorizar o fornecimento na terça-feira. "O escritório de ligação de Israel com os territórios palestinos disse-nos que o abastecimento da central pode reiniciar amanhã", disse um porta-voz da União Européia. Mas fontes israelenses que pediram anonimato, segundo a Al Jazira, disseram que o fornecimento só será retomado caso cesse o disparo de foguetes contra o sul de Israel.


"Punição coletiva"


Kanan Obeid, funcionário da área de energia de Gaza, criticou a atitude como um exemplo da "política israelense de punição coletiva".


A central termoelétrica responde por cerca de um quarto da eletricidade de Gaza e o Egito fornece um pequeno volume. O restante provém basicamente de Israel. A maior parte do suprimento de combustíveis e gás requerido por Gaza passa pelo terminal de Nahal Oz, eque fica entre a faixa e o território de Israel.


Uma rede de túneis que liga Gaza ao Egito é usada pela população local para driblar o bloqueio israelense contra o território e trazer para ali produtos, inclusive combustível. Outro jornalista da Al Jazira em Gaza, Ayman Mohyeldin, diz que embora o fluxo subterrâneo permita que algumas pessoas se arranjem, não pode abastecer "a crítica infraestrutura de Gaza". Ele cita duas razôes: "a qualidade do petróleo egípcio não permite que ele seja usado no gerador; e ao mesmo tempo o gerador é monitorado por observadores da UE e eles não permitem que se use combustível contrabandeado para gerar eletricidade".


O coordenador das atividades de Israel nos territórios palestinos, Peter Lerner, disse: "Recebemos uma solicitação [dos palestinos] de entrega de combustível e encaminhamos a solicitação ao Ministério da Defesa em Tel Aviv".


"Liberdade de imprensa violada"


O fechamento da fronteira também impede há cinco dias que jornalistas entrem na faixa de Gaza. O fato provocou protestos da Foreign Press Association (FPA, Associação da Imprensa Estrangeira), sediada em Tel Aviv. A entidade, que representa correspondentes estrangeiros em Israel e nos territórios palestinos, condenou a restrição imposta por Tel Aviv como "uma grave violação da liberdade de imprensa".


Israel freqüentemente fecha os pontos de acesso a Gaza, depauperando a economia local e mantendo os cidadãos do território sob pressão, em represália ao disparo de foguetes por parte de combatentes palestinos.


Mesmo antes do fechamento, havia uma renovação dos apelos por uma retomada do estagnado processo de paz palestino-israelense. O Quarteto do Oriente Médio – agrupando UE, Rússia, ONU e Estados Unidos – reuniu-se no Egito domingo e fer um chamamento pelo avanço das conversações de paz.

Créditos: Vermelho
Fonte: Al Jazira

O festival de besteira que assola a imprensa brasileira (FEBEAIB)
Emir Sader

O prêmio desta semana para a maior besteira da imprensa mercantil brasileira e sua ditadura midiática vai dividido para O Globo e a FSP (Força Serra Presidente) pelas matérias sobre os gastos do governo. Ambos escancaram a manchete do domingo passado, para protestar que os gastos com o funcionalismo superam os do pagamento da dívida pública. Relatam que o primeiro item de gastos do governo é o da previdência, o segundo agora é com o funcionalismo, deixando para terceiro o pagamento da dívida pública.
Protestam, a partir de sua visão – derrotada espetacularmente na atual crise mundial, sem que se dêem conta, com sua obtusa visão mercantil e anti-estatal – do Estado mínimo, da diminuição sistemática da tributação, buscando fomentar nos leitores o sentimento de que estão tomando dinheiro para pagar impostos do seu bolso para alimentar funcionários públicos.
O raciocínio é o do egoísmo consumista: para que pagar impostos para que o governo contrate professores, médicos, enfermeiras – que constituem o grosso do funcionalismo publico, o pessoal de educação e saúde publica. Ainda mais para gente como os jornalistas e donos da midia privada que – como a elite brasileira – usa escolas privadas, planos de saúde privados, segurança privada, correios privados, transporte privado, bancos privados, etc. etc.. Não precisam dos serviços públicos, porque pertencem aos 5% mais ricos, que fazem do Brasil ainda o país mais injusto da América Latina, que por sua vez é o continente mais desigual do mundo.
Incentivam o egoísmo de pagar menos impostos, de sonegar – a profissão melhor remunerada em direito é a de advogado tributarista, que busca formas das empresas contornarem os impostos. Isto em um país em que a estrutura tributária é sumamente injusta, em que as grandes empresas – principalmente os bancos – praticamente não pagam impostos, enquanto os trabalhadores sim o fazem, em que a grande maioria da arrecadação tributaria procede dos impostos indiretos e não dos diretos, fazendo com que todos paguem os mesmos impostos, ricos e pobres, quando uma estrutura tributária socialmente justa é aquela em que os que recebem mais, devem pagar mais.
Quando dizem que o Estado deve arrecadar menos, gastar menos com funcionários, querem menos serviços públicos – menos professores, menos enfermeiras e médicos -, com menos qualificação. Que se dane o povo, que segue sendo atendido por esses serviços, que se dane a escola pública, que segue atendendo à grande maioria das crianças e jovens.
Quando querem menos Estado, querem mais mercado – exatamente aquilo que levou à crise global atual. Mas eles não aprendem nada, porque pensam com o bolso, com os lucros, com os olhos postos nos grandes clientes privados – a começar pelos bancos, que publicam aqueles longos relatórios periódicos nos jornais, além das reiteradas publicidades que inundam os espaços publicitários da mídia mercantil, a sustentam e tem assim o seu apoio.
Sob a aparência de defender os cidadãos contra a volúpia arrecadatória do Estado, o que fazem é defender seus grandes clientes, é tentar ganhar adeptos para seu candidato – Serra -, que terá, como teve em São Paulo, sem colocar em pratica, a promessa de campanha de diminuir os impostos.
O Globo e a FSP (Força Serra Presidente) fazem jus assim a ganhar o primeiro prêmio semanal do Festival de Besteira que Assola a Imprensa Brasileira (FEBEAIB), legítimo continuador do Festival de Besteira que Assola o País (FEBEAPÁ), do grande cronista da época da ditadura militar, Stanislaw Ponte Preta.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Aqui no RS, a midia de esgoto se manifesta...

Crise da humanidade



Por Leonardo Boff


A crise econômico-financeira, presivísvel e inevitável, remete a uma crise mais profunda. Trata-se de uma crise de humanidade. Faltaram traços de humanidade minimos no projeto neoberal e na economia de mercado, sem os quais nenhuma instituição, a médio e longo prazo, se agüenta de pé: a confiança e a verdade. A economia presupõe a confiança de que os impulsos eletrônicos que movem os papéis e os contratos tenham lastro e não sejam mera matéria virtual, portanto, fictícia. Pressupõe outrossim a verdade de que os procedimentos se façam segundo regras observadas por todos. Ocorre que no neoliberalismo e nos mercados, especialmente a partir da era Thatcher e Reagan, predominiou a financeirização dos capitais. O capital financeiro-especulativo é da ordem de 167 trilhões de dólares, enquanto o capital real, empregado nos processos produtivos (por volta de 48 trilhões de dólares anuais). Aquele delirava na especulação das bolsas, dinheiro fazendo dinheiro, sem controle, apenas regido pela voracidade do mercado. Por sua natureza, a especulação comporta sempre alto risco e vem submetida a desvios sistêmicos: à ganância de mais e mais ganhar, por todos os meios possíveis.

Os gigantes de Wall-Street eram tão poderosos que impediam qualquer controle, seguindo apenas suas próprias regulações. Eles contavam com as informação antecipadas (Insider Information), manipulavam-nas, divulgavam boatos nos mercados, induziam-nos a falsas apostas e tiravam dai grandes lucros. Basta ler o livro do mega-especulador George Soros A crise do capitalismo para constatá-lo, pois ai conta em detalhes estas manobras que destroem a confiança e a verdade. Ambas eram sacrificadas sistematicamente em função do ganância dos especuladores. Tal sistema tinha que um dia ruir, por ser falso e perverso, o que de fato ocorreu.

A estratégia inicial norte-americana era injetar tanto dinheiro nos “ganhadores”(winner) para que a lógica continuasse a funcionar sem pagar nada por seus erros. Seria prolongar a agonia. Os europeus, recordando-se dos resquícios do humanismo das Luzes que ainda sobraram, tiveram mais sabedoria. Denunciaram a falsidade, puseram a campo o Estado como instância salvadora e reguladora e, em geral, como ator econômico direto na construção na infra-estutura e nos campos sensíveis da economia. Agora não se trata de refundar o neoliberalismo mas de inaugurar outra arquitetura econômica sobre bases não fictícias. Isto quer dizer, a economia deve ser capítulo da política (a tese clássica de Marx), não a serviço da especulação mas da produção e da adequada acumulação. E a política se regerá por critérios éticos de transparência, de equidade, de justa media, de controle democrático e com especial cuidado para com as condições ecológicas que permitem a continuidade do projeto planetário humano.

Por que a crise atual é crise de humanidade? Porque nela subjaz um conceito empobrecido de ser humano que só considera um lado dele, seu lado de ego. O ser humano é habitado por duas forças cósmicas: uma de auto-afirmação sem a qual ele desaparece. Aqui predomina o ego e a competição. A outra é de integração num todo maior sem o qual também desaparece. Aqui prevalece o nós e a cooperação A vida só se desenvolve saudavelmente na medida em que se equilibram o ego com o nós, a competição com a cooperação. Dando rédeas só à competição do ego, anulando a cooperação, nascem as distorções que assistimos, levando à crise atual. Contrariamente, dando espaço apenas ao nós sem o ego, gerou-se o socialismo despersonalizante e a ruína que provocou. Erros desta gravidade, nas condições atuais de interdepedência de todos com todos, nos podem liquidar. Como nunca antes temos que nos orientar por um conceito adequado e integrador do ser humano, por um lado individual-pessoal com direitos e por outro social-comunitário com limites e deveres. Caso contrário, nos atolaremos sempre nas crises que serão menos econômico-financeiras e mais crises de humanidade.

sábado, 8 de novembro de 2008


A Casa Branca não tem leito de rosas
A histórica eleição do primeiro afro-americano à presidência dos Estados Unidos foi refletida, em diferentes nuanças, por três dos principais atores desse drama.Barack Obama, em seu discurso de aceitação, adotou um modelo tradicional. Elogiou o sistema político norte-americano e proclamou que "a mudança chegou à América (Estados Unidos)". Continuou parabenizando McCain e Sarah Palin; o vice-presidente eleito, Joseph Biden; sua família, com recordação especial para sua recém-falecida avó materna; reconheceu sua equipe de campanha e, sobretudo, os dois principais integrantes: David Plouffe e David Axelrod. Agradeceu o voto do cidadão comum e instou a assumir "um novo espírito de sacrifício... de trabalho duro e a preocupar-nos não só por nós, mas por todos os outros". Concluiu anunciando "um novo amanhecer para a liderança norte-americana" e proclamou a vigência do que considerou os "ideais" dos Estados Unidos: democracia, liberdade, oportunidade e esperança, embora sem definir nenhum deles.McCain reconheceu seu derrota perante uma congregação de seguidores em Phoenix, Arizona. Mostrou seu racismo oculto, enfatizando, a respeito da vitória, "o significado que tem para os afro-americanos e o orgulho especial que eles sentem nesta noite".O presidente Bush foi condescendente ao chamar Obama para felicitá-lo em nome de sua esposa Laura e no seu próprio; disse-lhe que tinha sido "uma noite assombrosa para o senhor, sua família e aqueles que o apóiam", e exortou-o a "desfrutá-la".A vitória pode ser analisada de vários pontos de vista, especialmente a dos resultados da eleição presidencial e do Congresso.A estratégia eleitoral aplicada por Obama na eleição presidencial, teve resultados ótimos. Ganhou a eleição em todos e cada um dos estados em que venceu o democrata John Kerry em 2004 e arrebatou a vitória aos republicanos em nove estados que Bush ganhou nessa mesma eleição: Virgínia (desde 1964, sempre elegeu o candidato republicano); Carolina do Norte (desde 1980, sempre elegeu o republicano); Indiana (sempre o republicano desde 1968); Colorado (igual, desde 1996), Iowa, Nevada, Ohio e a Flórida (elegeram Bush em 2000 e em 2004); e Novo México (ganho por Bush por estreita margem em 2004). Os nove deram 112 votos eleitorais a Obama. Ainda, na quinta-feira, a votação em Missouri não estava decidida, mas inclinava-se para McCain. Em Nebraska está ainda por decidir o voto eleitoral dum distrito. Com estes dados, Obama foi eleito por 364 votos eleitorais sobre os 173 obtidos por McCain (adjudicando-lhe os onze de Missouri), uma ampla margem, mas coloca Obama no oitavo lugar das votações mais altas obtidas pelos presidentes eleitos nas 12 eleições realizadas desde 1964.No chamado voto popular em nível nacional, com 120.884.874 votos escrutados, Obama obteve 52,5% (64.248.825 votos) e McCain 46,2% (56.635.874), dentro dos prognósticos feitos numa eleição deste tipo.De acordo com as pesquisas realizadas aos eleitores à saída das urnas, Obama ganhou pelo voto das mulheres (13% a mais que McCain, embora 7% menos entre as mulheres brancas), dos hispano-americanos, dos negros e dos jovens, obtendo, nessa ordem, 66%, 95% e 66% dos votos. Chama também a atenção que os 75% dos judeus votaram em Obama e que o voto dos católicos brancos foi igual nos dois candidatos, enquanto a direita religiosa evangélica favoreceu novamente o candidato republicano, embora Obama obtivesse 4% a mais de votos deste setor que os ganhos por Kerry em 2004.Ainda que Obama perdesse para McCain no voto da população branca, seu desempenho nesse setor foi semelhante ao de Al Gore em 2000 e ao de Kerry em 2004, o que indica que o fator étnico não prejudicou Obama e até pode tê-lo favorecido, devido à ampla maioria de afro-americanos e hispano-americanos que o apoiaram.Enquanto os eleitores foram identificados nas pesquisas como conservadores, moderados e liberais em percentagens similares às das eleições de 2004, houve mudanças na afiliação política, pois incrementou-se a de democratas para 40%, sendo a de republicanos de 32%. Em 2004, houve a mesma percentagem de democratas e republicanos.Em resumo, Obama ganhou, graças ao apoio esmagador da tradicional base democrata e de grande parte do eleitorado que se qualifica como "independente". Os comentaristas destacam o consenso sobre o ambiente das eleições, que num artigo do The New York Times é qualificado de "catarse nacional", resultado da profunda impopularidade do presidente Bush, do repúdio a suas políticas econômicas e externas, do descontentamento com as guerras no Iraque e no Afeganistão, da eclosão da crise financeira e da aceitação do apelo de Obama a uma mudança da direção em que o país está encaminhado.As eleições do Congresso federal foram da maneira esperada. Os democratas conseguiram ampliar o número de senadores e representantes, consolidando o controle de ambas as câmaras atingido em 2006. Contudo, fracassaram na difícil tarefa de alcançar os 60 senadores, e na Câmara dos Representantes também não chegarão ao objetivo máximo (mais 30 vagas). Por enquanto, elegeram 19 novos legisladores, quando ainda estão contabilizando-se os votos em dez disputas.O Partido Democrata terá a maioria de, pelo menos, 56 senadores, ao derrotar os republicanos John Sununu, de New Hampshire, e Elizabeth Dole, de Carolina do Norte e ganhar as disputas abertas da Virgínia, Colorado e Novo México. Ainda há quatro eleições de senadores por resolver no Alasca, Oregon, Minnesota e Geórgia; os democratas parecem ter alguma possibilidade de vitória em Oregon e Minessota. Para frear as tácticas parlamentares de "fraude", com as quais os opositores republicanos e conservadores pretendem bloquear a agenda legislativa de Obama, será necessário o apoio de alguns senadores republicanos, fato que obrigaria o novo presidente a fazer concessões em seu programa de governo.Na Câmara dos Representantes, a situação aponta igualmente para a necessidade de trabalhar por consenso, já que muitos dos novos eleitos pelo Partido Democrata são de tendência conservadora e alguns dos republicanos derrotados eram de inclinação moderada. Portanto, os conservadores verão suas fileiras reforçadas, acima de diferenças partidárias.Obama terá que governar um país mergulhado numa crise econômica somente comparável à Grande Depressão que começou em 1929, mas agora com uma econmia globalizada; com dois impopulares guerras em curso; com uma gigantesca burocracia federal, estadual e municipal; com o país endividado tanto no contexto governamental quanto no familiar; com recursos financeiros insuficientes para cumprir suas promessas eleitorais de melhoras à saúde, à educação e à previdência social.Estas questões precisam de sua atenção desde o mesmo momento em que foi eleito e não podem ser adiadas durante as sete semanas do chamado período de "transição", quando se efetua a entrega de poder da administração Bush à administração Obama. Entre os assuntos governamentais que Obama não pode deixar de lado, está a elaboração, proposta e aprovação pelo atual Congresso federal de um novo plano de estímulo à economia, que segundo estimativas será de US$100 bilhões, o qual precisará da atenção imediata e prioritária de Obama. Também deverá atender a conclusão das negociações dum acordo com o Iraque que defina o papel, a duração da presença e as condições em que atuarão as tropas de ocupação norte-americanas. E, com certeza, não poderá estar à margem das negociações sobre a situação econômica mundial do Grupo dos 20, convocado por Bush em Washington para o próximo 15 de novembro.Nestas circunstâncias, a equipe de campanha eleitoral será substituída pela "equipe de transição". Segundo informações disponíveis, já Obama nomeou uma "troika" para dirigir esse processo. É composta por John Podesta, ex-chefe da equipe da Casa Branca de Bill Clinton, que projetou em 2000 o procedimento de transição atualmente vigente; Valerie Jarrett, assessora muito próxima de Obama; e Pete Rouse, o atual chefe do Gabinete do Senado de Obama em Washington.Como complemento do processo de "transição", soube-se que Obama nomeou chefe de Equipe da Casa Branca o congressista por Illinois e amigo próximo, Emanuel Rahn.O maior desafio que Obama enfrenta agora e deverá enfrentar nos meses próximos é estabelecer suas prioridades; consolidar a colaboração com os líderes democratas do Congresso; conseguir o apoio, a suas principais medidas, dos republicanos e conservadores do Congresso; atender e satisfazer ao máximo as promessas eleitorais que mobilizaram diferentes setores e grupos da população em seu apoio. E, sobretudo, mostrar que para governar conta com a mesma inteligência, capacidade, habilidade e destreza que lhe deu a vitória nas eleições de 4 de novembro. Caso contrário, sua passagem pela presidência poderia ser efêmera e descumprir a expectativa de mudança que prometeu e com cuja bandeira chegou à Casa Branca. Obama sabe disso. Na Casa Branca não há leito de rosas.
* O autor é especialista em Relações Internacionais e foi chefe da Repartição Consular de Cuba nos Estados Unidos de setembro de 1977 a abril de 1989.
Fonte: Granma