Raphael Tsavkko - Dilma ficou no quase, Serra foi além do esperado, Marina surpreendeu e Plínio decepcionou.
Dilma
foi vítima da imprensa golpista e da incessante criação de factóides, e
também de suas mudanças de discurso. Marina conseguiu uma façanha,
juntou de maconheiros à hypes, de filhinhos de papai do Leblon-Jardins e
evangélicos fundamentalistas.
Plínio, por outro lado,
perdeu votos para Marina, especialmente entre a juventude e, ainda mais,
perdeu votos dentre os de esquerda que preferiam enterrar Serra do que
aguentar um segundo turno, que promete ser absolutamente sujo.
Mas, agora, precisamos pensar adiante. O que fazer no segundo turno? As demonstrações de superação de seu sectarismo infantil, em algumas esferas do PSOL, podem não ser suficientes para que isto se transforme em um apoio à Dilma no segundo turno, ou mesmo ao Agnelo no Distrito Federal e assim por diante. Imagino que, internamente, Heloísa Helena, ferida, esteja se mexendo para garantir uma neutralidade por parte do partido, neutralidade esta que significa dar vantagem aos fanáticos evangélicos e ao DemoTucanato. É hora de unificar as esquerdas e buscar puxar o discurso de Dilma, ou ao menos suas práticas numa possível vitória, para a esquerda. Obviamente enfrenta-se um dilema moral. Muitos no PT dão como certa a migração dos votos da Esquerda (PSOL, PSTU, PCB) para o PT. É um erro tático muito grave. Os votos do PSOL até podem, na maioria, migrar, mas PSTU e PCB tem um público diferente e, mesmo pequenos, cada voto contará em um segundo turno apertado. Para o segundo turno contam esses votos: mais da metade concentrados em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além do DF, onde ela ficou em primeiro lugar. Qualquer que seja a decisão de apoio no segundo turno – a convocação de assembléias para definir deve confirmar a tendência a abstenção, tornando mais difícil a operação política da direção de apoiar Serra -, esse eleitorado se orientará, em grande medida, não pela decisão partidária, ficando disponível para os outros candidatos. Em 2006, nem o PSol conseguiu que seus votos deixassem de ir para outros candidatos, desobedecendo a orientação do voto em branco.
Estamos diante de uma
campanha suja, difícil, baixa, e se a esquerda abandonar o PT ao PMDB de
mãos beijadas, veremos barbaridades acontecendo. Às vezes é necessário
pragmatismo, responsabilidade.
Não digo um apoio automático, programático. Mas é preciso se fazer uma critica imensa internamente e compreender que, talvez, apenas se colocar contra Serra não seja suficiente. Puxar voto nulo pode ser não só insuficiente, como pode ajudar as forças de direita. Sou o primeiro a criticar o PT e o governo na sua falta de comprometimento com diversos pontos importantes ao movimento social. Não só não houve Reforma Agrária - nem sequer um ensaio - como a idéia parece ter sido abandonada pelo partido num provável novo governo. Isto é condenável e vergonhoso. Mas é igualmente condenável e vergonhoso o papo de que PT e PSDB são iguais. De fato ficarão mais parecidos enquanto a Esquerda permitir que o PMDB se aproxime mais e mais, enquanto fizer uma oposição inconsequente em mitos casos. É através dos movimentos sociais que se compõe a luta, mas também no parlamento. Abandonar o PT ao PMDB e até mesmo permitir que Serra ameace seriamente em conjunto com a Onda Verde que em sua grande maioria é uma Onda Azul, é extremamente inconsequente. O apoio deve ser crítico. Deve-se deixar claras as inúmeras discordâncias, mas unir o possível pelo bem comum, pela manutenção de alguma esperança e contra a substituição pelo que representa o atraso religioso com a intransigência e sanha privatista e intolerante. Acredito que é impossível uma aliança plena entre PT e PSOL. Alguns pontos podem ser debatidos, mas outros não são passíveis de contemporização. De um lado acredito que o PSOL possa abrandar as críticas a alguns programas como Bolsa Família, ProUni e etc, ou ao menos centrar as críticas e torná-las produtivas, por outro lado, questões como Reforma Agrária e Urbana não são passíveis de qualquer contemporização. Mas, mesmo assim, acredito que, mesmo criticamente, um apoio, possa aproximar os setores da esquerda do PT com o PSOL e outros partidos de esquerda que queiram compor e até mesmo possa fortalecer os movimentos sociais. Ouvi comentários de que o PT não hesitaria em apoiar o PSOL se a situação fosse inversa. Justo. Mas não nos esqueçamos de que quem abandonou diversas bandeiras históricas foi o PT. O PSOL as manteve, logo, seria muito mais simples para o PT apenas resgatar seu passado que o PSOL abandonar seu presente. Chamar pelo voto nulo ou abstenção é um tiro no pé que inviabilizaria todas as conquistas e superações de sectarismo por parte do PSOL. Apoiar abertamente a Dilma talvez desagradasse aos setores mais radicais do partido e, por fim, se opor ferrenhamente ao Serra e deixar o voto livre aos filiados e militantes poderia ser um meio-termo mais aceitável. Devemos, pois, aguardar e torcer. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 10 de outubro de 2010
Análise sobre o PSOL e o segundo turno presidencial
E a defesa dos direitos?
por Silvio Caccia Bava |
Sem
o MST, a violência no campo seria muito maior. Ele reúne, acolhe,
inclui, dá dignidade e transforma o sentimento de revolta em ação
coletiva, defende propostas de políticas públicas, politiza essas
demandas. O mesmo pode-se dizer de movimentos sociais como os movimentos
de moradia, de saúde, dos catadores, dos quilombolas, das mulheres, dos
negros, e outros. Ao se constituírem como movimentos, eles vocalizam
demandas de amplos setores da sociedade que se encontram, ainda,
privados de seus direitos. São as pressões da sociedade sobre o sistema
político que dão origem às mudanças e às novas políticas públicas.
Ainda que a grande
imprensa continue a criminalizar os movimentos sociais, a sociedade
brasileira mudou e reconhece a manobra. Estes movimentos, hoje, são
reconhecidos, legitimados, com canais de interlocução com o governo
federal. Eles têm papel fundamental na ampliação de nossa democracia.
Eles se apresentam para a sociedade e trazem para o plano público e da
política a questão da desigualdade e da injustiça.
Mas os movimentos não
brotam só da insatisfação popular. Para que eles surjam há todo um
trabalho feito por redes de entidades, de associações de moradores, de
sindicatos, de ONGs, fóruns de defesa de direitos, e mesmo pelas
paróquias que ainda são progressistas. É nessas articulações
heterogêneas que os indivíduos se organizam em coletivos, e daí surgem
os movimentos sociais, quando surgem.
Desde o fim dos anos
1970, em plena ditadura, um pequeno grupo de entidades se forma com
apoio e solidariedade internacional. São ONGs que se constituem para
apoiar a organização coletiva e a luta por direitos, nesse momento muito
ligadas à igreja católica, às comunidades de base e à teologia da
libertação. Sua especialidade: educação popular. Desenvolviam também
trabalhos com clubes de mães, com a pastoral operária, com as
associações de moradores. Nos anos 1980 as mudanças são grandes, com a
construção de entidades nacionais, como as centrais sindicais, a Central
de Movimentos Populares, a Confederação Nacional de Associações de
Moradores, e outras. É o momento em que se destacam algumas redes e
fóruns, como o Fórum Nacional da Reforma Urbana e o Fórum Nacional de
Participação Popular.
Em
todas estas redes está presente esse tipo particular de ONGs que se
organiza para a defesa de direitos. Muito do trabalho de sistematização,
de organização do debate público, de elaboração de propostas, conta com
a expertise dessas ONGs, que agora são mais especializadas, justamente
para corresponder à necessidade de ações mais propositivas.
Como
a nossa democracia, assim como o respeito aos direitos, ainda são
processos inacabados em nosso país, esse tipo particular de ONGs
continua dando importantes contribuições até hoje. Muitas delas, não
todas, se reúnem na Associação Brasileira de ONGs – a Abong.
E veio, agora, da
Abong, o alerta de que suas associadas estão em perigo de vida.
Paradoxalmente, a boa imagem do Brasil no exterior, associada à crise na
Europa, levou a cooperação internacional, em grande parte, a suspender o
financiamento dessas ONGs de defesa de direitos no Brasil. Pesquisas
indicam uma redução do financiamento da ordem de 50%, do ano passado
para este.
A democracia
brasileira precisa desses grupos de cidadãos e cidadãs que se organizam
para a defesa de direitos. O seu trabalho, em sua diversidade, é de
interesse público e deve ser valorizado e apoiado pelos cidadãos e pelos
poderes públicos. Essas ONGs guardam a particularidade de ser
produtoras de conhecimento, se envolvem com pesquisas, diagnósticos,
sistematizações, análises, trabalho que é fundamental para dar sentido
propositivo às pressões sociais. Especialmente porque, ao apresentarem
propostas alternativas, vocalizam o dissenso, os conflitos, dão vida ao
sistema político democrático. Os movimentos sociais, as redes de
cidadania, os cidadãos e cidadãs, de uma maneira geral, se beneficiam
com esse trabalho.
Pedir ao governo
federal, com urgência, medidas de financiamento público para essas
entidades é legítimo e necessário. Na Índia, assim como na Suécia e em
outros países, há mais de dez anos, por lei, existe o financiamento
público dos trabalhos dessas ONGs, com total respeito à sua autonomia.
Não se trata de socorrer um grupo de entidades em crise de
financiamento, se trata de tomar decisões políticas que assegurem o
importante papel da sociedade civil brasileira na construção de nossa
democracia.
Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.
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sábado, 9 de outubro de 2010
Bolívia consolida descolonização com novas leis
Com duas novas leis, promulgadas pelo governo boliviano nesta semana,
consolida-se o processo de descolonização, segundo Palacio Quemado. Ao apresentar à nação a norma que permite julgar e sancionar todas as autoridades e a lei contra o racismo, o presidente Evo Morales precisou que foi necessário esperar 184 anos para que o Estado Plurinacional e as organizações sociais impulsionassem e ratificassem essas antigas reivindicações. Morales explicou que com a Lei de Julgamento ao Presidente ou Vice-presidente, autoridades do poder judicial e legislativo, põe-se fim à impunidade no país. A respeito da Lei contra o Racismo e Todo Tipo de Discriminação, de cinco capítulos e 24 artigos, Morales considerou que não atinge somente aos meios de comunicação, alguns dos quais se recusam a aceitá-la por verem nela uma mordaça à liberdade de expressão e a democracia. Liberdade de expressão não é expressão de racismo, comentou o estadista ao assinalar exemplos de comunicadores que estimulam os abusos e as ofensas a setores indígenas e camponeses. Nesse sentido considerou como irreversível e como caminho sem volta as atuais transformações que identificam a Revolução democrática e cultural iniciada em 2006. Nesta semana, escutou-se um novo chamado à unidade na região altiplânica de Oruro que celebrou 200 anos de Independência do domínio colonial espanhol. Durante esses festejos, aos quais assistiu o presidente Morales, o secretário geral de governo do departamiento, Édgar Sánchez, assinalou que agora pode-se falar também da unidade de todas as orurenhas e orurenhos como quando começou a luta pela libertação. Sánchez alentou a ratificar o compromisso com o desenvolvimento, a unidade e a convivência em paz, aludindo à vocação produtiva dos orurenhos. Também nesta semana, Bolívia e Venezuela realizaram na cidade de La Paz a primeira transação financeira de venda a Caracas de cinco mil toneladas de azeite de soja, com o uso do Sistema Único de Compensação Regional (SUCRE), como moeda de mudança. Na cerimônia produziu-se uma teleconferência com a participação de Morales e seu par venezuelano, Hugo Chávez, na qual ambos ratificaram a importância desse mecanismo para libertar do dólar estadunidense e do Fundo Monetário Internacional. De outra parte, representantes de diferentes nações da América Latina também recordaram o 43 aniversário do assassinato de Ernesto Che Guevara com um percurso por lugares históricos de Vallegrande e La Higuera (Santa Cruz). Cubanos, venezuelanos, bolivianos, argentinos, chilenos, equatorianos e brasileiros, entre outros participantes em um foro internacional percorrerão lugares históricos do lugar, entre eles a réplica da escolinha onde os assassinos de Che Guevara o imortalizaram a 9 de outubro de 1967. Na homenagem participarão também os integrantes das missões diplomática, médica, educativa e de trabalhadores sociais de Cuba e Venezuela que colaboram com o processo de mudança que entranha a Revolução democrática e cultural, encabeçada pelo presidente boliviano, Evo Morales. Fonte: PrensaLatina |
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Eleição, aborto e a infantilização da religião
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Jung Mo Sung * Adital
Por que bispos, padres e grupo religiosos que sempre
defenderam a separação radical entre a religião e política, que sempre
criticaram a discussão política no âmbito da Igreja ou até mesmo a relação "fé
e política", estão fazendo, até mesmo nas missas, campanha aberta contra Dilma?
Uma primeira resposta poderia ser: hipocrisia.
Respostas moralistas podem satisfazer o "juiz moralista" que todos nós
carregamos no mais profundo do nosso ser, mas não são boas para nos ajudar a
entender o que está acontecendo.
Esta campanha contra a candidatura da Dilma, e com
isso o apoio explícito ou implícito à candidatura do Serra, está sendo feita de
várias formas, mas com um elemento comum: os católicos e os "crentes" não devem
votar nela porque ela seria a favor do aborto e, por isso, contra a vida.
Alguns agregam também a acusação de que, se ela for eleita, as TVs católicas e
evangélicas seriam proibidas de veicular os programas religiosos ou obrigadas a
diminuir o seu tempo de duração. É a velha acusação de que "comunistas" são
contra a religião.
Essas duas acusações são expressas e justificadas
através de lógicas religiosas, e não a partir da "racionalidade leiga" que deve
caracterizar a discussão sobre a política hoje. Esses grupos não admitem a
distinção entre a religião e a política, ou melhor, não admitem a "autonomia
relativa" do campo político e de outros campos -como o econômico- que se
emanciparam da esfera religiosa no mundo moderno. Por isso, eram e são contra
"fé e política" ou o debate sobre a política no campo religioso, pois esses
debates são feitos normalmente a partir do princípio da autonomia relativa da
política. Isto é, a discussão sobre questões políticas são feitas com argumentos
de racionalidade sócio-política e não submetidos ao discurso meramente
religioso.
Para esses grupos (é preciso reconhecer que ocorre
também em outros grupos político-religiosos), os valores religiosos (do seu
grupo) devem ser aplicados diretamente a todos os campos da vida pessoal e
social. E, em casos graves como aborto, ser impostos sobre toda a sociedade através
das leis do Estado. Nesses casos, não seria misturar a religião com a política,
mas seria a "defesa" dos mandamentos e valores religiosos; ou colocar a
política a serviço dos valores religiosos (nessa discussão apresentados como "a
serviço da vida"). Pois, nada estaria acima dos "mandamentos de Deus". Desta
forma não se reconhece a autonomia relativa do campo político, a dificuldade de
se passar do princípio ético abstrato (do tipo "defenda a vida") para as
políticas sociais concretas, e muito menos se aceita a pluralidade de religiões
com valores diversos e propostas de ação divergentes e conflitantes.
Esta é a razão pela qual esses grupos não entendem e
nem aceitam a resposta dada por Dilma de que ela, pessoalmente, é contra o
aborto, mas que ela vai tratar esse tema como um problema de saúde pública.
Para ouvidos daqueles que crêem que não há ou não deve haver separação entre a
saúde pública (o campo da política social) e a opção religiosa pessoal do
governante, a resposta da Dilma soa como eu não sou contra o aborto, que logo é
traduzido na sua mente como "eu sou a favor do aborto".
E se ela é a favor do aborto, ela é contra a vida e,
portanto, ela é do "mal". Enquanto que, por oposição, o outro candidato seria
do "bem".
Reduzir toda a complexidade da "defesa da vida" -a que
um/a presidente deve estar comprometido/a- à manutenção da criminalização do aborto
(que é o que está discutido de fato neste debate sobre ser a favor ou contra o
aborto) é uma simplificação mais do que exagerada. Simplificação que deixa fora
do debate, por ex., toda a discussão sobre políticas econômicas e sociais que
afetam a vida e a morte de milhões de pessoas. Mas é compreensível quando os
cristãos têm muita dificuldade em perceber quais são os caminhos concretos e
possíveis para viver a sua fé na sociedade, perceber em que a sua fé pode fazer
diferença na vida social. Diante de tanta complexidade, a tentação mais fácil é
simplificar o máximo para separar "os do bem" de "os do mal".
Essa simplificação me lembra a pergunta que os meus
filhos, quando muito pequenos, me faziam ao assistir um filme: "pai, ele é do
bem?" Se sim, eles torciam por aquele que "é do bem" contra o "do mal". Essa
necessidade de separar os do bem e os do mal faz parte da condição mais
primária do ser humano. O problema é que reduzir toda a complexidade da luta em
favor da vida ao tema de ser favor ou contra a manutenção da criminalização do
aborto é infantilizar a discussão política e, o que é pior, é infantilizar a
própria religião que professa.
[Autor, em co-autoria com Hugo Assmann, de "Deus em
nós: o reinado que acontece na luta em favor dos pobres"].
* Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Mino Carta: acabou o tempo de golpismo da patética mídia nativa
As velhas redações acreditavam em jornalismo honesto. Não é o
caso das nossas semanais. Jornais e revistas ainda não perceberam que os
tempos de golpismo acabaram e acreditam manter a velha in fluência do
Oiapoque ao Chuí.
Por Mino Carta, na CartaCapital
Ocorre-me recordar Claudio Marques,
que se dizia jornalista como tantos outros dispostos a enganar o público
e, eventualmente, a si próprio. Assinava uma coluna no Shopping News, jornal publicitário de circulação gratuita na São Paulo de 1975.
Tempo de ditadura e de recrudescimento do Terror de Estado após o discurso dito “da pá de cal”, pronunciado no começo de agosto pelo ditador Ernesto Geisel para avisar aturdidos navegantes que “a distensão lenta, gradual, porém segura” haveria de sofrer uma interrupção. Foi nesta ocasião que Ulysses Guimarães, em pronunciamento na Câmara, comparou Geisel a Idi Amin Dada.
Pois Claudio Marques, caçador de comunistas agachados atrás de cada esquina, passava seu tempo a denunciar os vermelhos comandados por Vlado Herzog, a cujos cuidados estavam entregues os programas noticiosos da TV Cultura. Marques contava com a aprovação ampla, geral e irrestrita do DOI-Codi, ex-Operação Bandeirantes, e foi enfim premiado com a prisão, ou melhor, o sequestro dos jornalistas alvejados, a começar por Herzog, assassinado pelos torturadores no mesmo dia em que deu entrada no quartel do DOI-Codi. Dia 25 de outubro, um sábado.
Os tempos mudaram, felizmente. Não há mais torturadores e porões para hospedá-los e aos seus instrumentos, por exemplo. Há, entretanto, herdeiros de Claudio Marques afinados com os dias de hoje e ainda velhacos e daninhos. A semelhança entre o caçador de comunistas a serviço do DOI-Codi e esses jornalistas (jornalistas?) é percebida pela obsessiva preocupação que cultivam desde a primeira eleição de Lula com a quantidade de anúncios governistas nas páginas de CartaCapital. Trata-se, obviamente, de uma ofensa gravíssima ao pretender insinuar, com leveza de britadeira, que vendemos a alma ao Sapo Barbudo. Alguém, no meio da tigrada, proclama: CartaCapital não tem credibilidade.
Não ouso afirmar que a vice-procuradora da Justiça Eleitoral Sandra Cureau (pronuncie Quirrô) seja sucedâneo do DOI-Codi. Creio, porém, que na sua ação inquisidora desfechada contra esta publicação ela tenha levado em conta as aleivosias assacadas contra nós por sem-número de colegas (colegas?), embora não tenha dúvidas quanto à origem tucana da assoprada final e decisiva: o candidato José Serra gosta de dar telefonemas. Assim como não me abalo a crer que o nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff seja determinante. Obrigatórios sim, a definição e seus motivos desde o começo da campanha oficial, como se dera em 2002 e 2006 em relação a Lula. Dever para com os eleitores.
Registro que o Estadão no domingo 26 decidiu desvendar a evidência. Um humorista diria: surpresa, estão com o Serra, e eu que até ontem não tinha percebido. Melhor o Estadão, de todo modo, do que o resto da tropa de choque, Globo, Folha, Veja, a agirem como partido político, conforme a óbvia constatação do presidente da República. Barack Obama foi além quando disse que não daria entrevista à Fox porque esta não era órgão midiático e sim “partido político”.
Lula errou, na nossa visão, ao afirmar: “A opinião pública somos nós”. A frase é certamente perigosa. Da mesma forma foi erro incluir tempos atrás no programa de governo a criação de uma entidade destinada a classificar os órgãos da mídia ao sabor dos seus comportamentos em relação aos direitos humanos. Esta não é tarefa governista, e CartaCapital não usou meias-palavras na ocasião para condenar a iniciativa. Diga-se que o prato indigesto saiu prontamente do cardápio, graças a uma barganha lamentável pela qual se fez a felicidade dos torturadores da ditadura e dos seus mandantes, muitos já no além, ao aceitar a ideia da anistia polivalente.
CartaCapital reprovou também a criação de uma tevê pública federal por enxergar de saída o seu inescapável destino: servir ao poder contingente, como se dá com a Cultura paulista, em mãos tucanas há 16 anos. Resta ver se o Brasil estaria maduro para uma tevê estatal, nascida do entendimento de que esta há de ser uma instituição permanente a servir à nação em lugar do governo do momento. Sinceramente, não aposto nesta maturidade.
O fenômeno que mais me aflige põe-se, no entanto, a propor por quês. Por que os profissionais da mídia nativa aderem tão compacta e fervorosamente ao pensamento dos patrões? Por que lhe tomam as dores como se eles mesmos pertencessem à categoria? Uma premissa. Em termos econômicos, a situação nas redações é semelhante àquela da população brasileira em geral. Os jornalistas graúdos, assinaturas celebradas, ganham mais que os colegas americanos e europeus, e nem se fale dos salários da nossa televisão. Astronômicos, trafegamos entre nababos. Na zona cinzenta flutuam os remediados. À ralé sobra esperança. A maioria dos recém-formados não tem emprego. Este, ninguém que conseguiu quer perder.
Pode-se concluir que os graúdos curvam-se diante da generosidade patronal enquanto os miúdos em tempos bicudos contentam-se com as migalhas? Talvez a explicação valha em relação a muitos casos graúdos e miúdos. Mas há que se ressaltar, em relação a outros, o ardor com que assumem os interesses do patrão. Estamos diante de uma identificação visceral, a ponto de justificar, no meu ponto de vista, uma investigação profunda a se valer das lições de Balzac e de Freud. Ambos ficariam muito impressionados, creio eu, ao registrar que os profissionais nativos chamam o patrão de colega, e nisto são únicos no mundo. Quem sabe mais ainda Balzac do que Freud.
No mais, vale acentuar que esta unicidade, esta exclusividade, invade outros terrenos. Um: o nosso sindicato se dispõe de bom grado a oferecer aos empresários da comunicação carteirinha de jornalista. Dois: sem falar da mediocridade dolorosa, a nossa mídia é única na sua capacidade de se alinhar de um lado só na hora de uma eleição, por exemplo. E não somente nesta. Mundo democrático afora vigora o pluralismo que a Folha de S.Paulo, com inefável hipocrisia, afirma existir em suas páginas. Nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Alemanha, só para citar alguns países, tem vez o jornalismo de todas as tendências. Aqui não, só existe uma, a favor da minoria privilegiada.
O que espanta é a tenacidade com que essa mídia permanece atada ao passado oligárquico. Os editoriais de hoje são absurdamente iguais àqueles de 47 anos atrás, que invocavam o golpe para impedir a cubanização do Brasil. Agora falam em mexicanização e venezuelização, e clamam contra o assalto à democracia e à liberdade de imprensa, perpetrado pelo presidente da República e seu partido e fadado a prosseguir à sombra de Dilma Rousseff.
Durante o ano de 1963 e nos primeiros meses de 1964 anunciavam a iminente marcha da subversão. Nunca passou. Veio foi a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, de imponentes efeitos subversivos. E lá se foi a liberdade, com a bênção dos editorialistas. Os quais aí estão agora para prestar seu solerte serviço. Salvo raras exceções, editorialistas, colunistas, articulistas. Diretores, redatores-chefes, editores, repórteres. A turma toda.
Os colegas do lado de lá, um exército, prestam-se a acusar sem provas, omitir fatos, frequentemente mentir com a expressão do dever cumprido. Encantou-me, na Folha de S.Paulo de segunda 27 a entrevista da vice-procuradora Sandra Cureau, aquela que atendeu a uma entrevista anônima para cometer uma inominável prepotência contra CartaCapital, esta sim, verdadeiro atentado à liberdade de imprensa. Mas a entrevistadora ali estava para agradar à doutora, a ponto de mencionar seus cabelos loiros e olhos azuis. Nem foi capaz, está claro, de uma única, escassa pergunta a respeito da ação movida contra nós.
Recordo que na semana passada manifestamos a certeza de que não contaríamos com a solidariedade dos barões da mídia e dos seus sabujos, bem como das chamadas entidades de classe. Aqueles são mestres em mau jornalismo. Mas será mesmo jornalismo? Quanto a estas, confirmam apenas a sua patética inutilidade. Para não dizer do viés tendencioso, ou francamente alinhado.
Patética é também um bom qualificativo para a atuação da mídia nativa ao longo deste ano, iniciado com a previsão de uma retumbante vitória tucana. E quando se viu que o ardil de Lula funcionava e que Dilma crescia graças inclusive ao seu próprio desempenho, começou a sarabanda.
Não se diga que os velhos morteiros deixaram de funcionar. É inegável, porém, que munição foi oferecida de graça pelo próprio PT, mais uma vez, do seu lado a dar tiros no pé. Está claro que o fogo aberto para denunciar ameaças à democracia e à liberdade de imprensa não passa de tentativa frustrada de invocar fantasmas do passado. Pesou, isto sim, o caso Erenice, no qual se mesclam dois fenômenos tão antigos quanto os fantasmas, contudo resistentes, dois vícios gravíssimos da tradição verde-amarela, dois pecados impredoáveis: nepotismo e clientelismo.
É espantoso: a rapaziada ainda não percebeu que o País mudou em latitude e longitude em relação à época do golpe. Certo é que a mídia detinha amplo poder há 50 anos, quadra favorável à influência dos ditos formadores de opinião. Bastava alcançar os senhores da minoria e seus aspirantes para alcançar os fins buscados.
Desta vez com o segundo turno, a mídia poderá enxergar no resultado um prêmio de consolação. Vale sublinhar, entretanto, que o PT concedeu espaço exagerado aos seus aloprados, como já houve em outras ocasiões, e mostrou, assim, lacunas sérias na organização e na união. Cabe ao presidente da República anotar que muitos dos problemas surgidos para seu governo tiveram sua origem nas fileiras petistas.
Os coronéis ainda mandavam em largas áreas e na hora da eleição lotavam a caçamba do caminhão depois de colocar a cédula preenchida nas mãos dos seus peões. Chamava-se voto de cabresto, e dava certo. Esse gênero de penosas tradições foi tragado pela transformação de um país então de 70 milhões de habitantes e hoje de 200. E com os documentos em dia para chegar logo à maioridade, à contemporaneidade do mundo.
Os senhores não apreciam a perspectiva e torcem contra. Deixa como está para ver como fica. O primeiro ato da debacle foi encenado na eleição de Fernando Henrique Cardoso e no seu segundo mandato. Cabe a ele o papel de primeiro motor da mudança, a ser concretizada no governo Lula.
FHC em 2002 lança sobre seu candidato José Serra uma sombra espessa e maligna. Com baixo índice de aprovação e pífia atuação, de sorte a deixar ao sucessor burras à míngua, o príncipe dos sociólogos torna-se cabo eleitoral de Lula. A maioria tira do governo FHC lições evidentes e parte para a votação inédita, a favor do ex-metalúrgico em vez do costumeiro bacharel engravatado. A identificação com o igual cresce naturalmente, não é imediata nas proporções que fermentarão em seguida.
A maioria não é mais aquela, a pressão dos patrões e dos capatazes não a condiciona e, principalmente, não lê jornal e ao Jornal Nacional prefere a novela e os Faustões da vida. Os editoriais e as manchetes mantêm, contudo, o tom de outrora, na desmiolada convicção de atingir a todos, do Oiapoque ao Chuí.
De todo modo, não nos iludimos quanto à possibilidade de uma redenção da mídia, pelo menos a curto prazo. Os caminhos são conhecidos porque experimentados com ótimos resultados em países mais adiantados. Difícil, por ora, percorrê-los. Trata-se de criar leis para limitar o monopólio da comunicação e conter a influência patronal nas redações, ao se cancelar, inclusive, e de vez, a figura do diretor de redação por direito divino.
Leis nesse sentido estão em vigor em países de democracia mais antiga e protegida. Aqui é dramaticamente visível, como cabo das tormentas em meio ao mar revolto, o obstáculo representado pelo próprio Congresso, que deveria debater e aprovar as novas leis. Inúmeros deputados e senadores são donos de instrumentos midiáticos e não é por aí que rapidamente chegaremos a uma solução aceitável, assim como não seria se o governo pretendesse ditar as regras.
Sobram perguntas, angustiantes: o que haverá de ler, ou ouvir, o cidadão consciente quando interessado em saber dos fatos? Em quem confiar no espectro sombrio da mídia nativa? Como distinguir entre a informação honesta e a opinião eventualmente distorcida, corrompida até pelo partidarismo?
* Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital
Tempo de ditadura e de recrudescimento do Terror de Estado após o discurso dito “da pá de cal”, pronunciado no começo de agosto pelo ditador Ernesto Geisel para avisar aturdidos navegantes que “a distensão lenta, gradual, porém segura” haveria de sofrer uma interrupção. Foi nesta ocasião que Ulysses Guimarães, em pronunciamento na Câmara, comparou Geisel a Idi Amin Dada.
Pois Claudio Marques, caçador de comunistas agachados atrás de cada esquina, passava seu tempo a denunciar os vermelhos comandados por Vlado Herzog, a cujos cuidados estavam entregues os programas noticiosos da TV Cultura. Marques contava com a aprovação ampla, geral e irrestrita do DOI-Codi, ex-Operação Bandeirantes, e foi enfim premiado com a prisão, ou melhor, o sequestro dos jornalistas alvejados, a começar por Herzog, assassinado pelos torturadores no mesmo dia em que deu entrada no quartel do DOI-Codi. Dia 25 de outubro, um sábado.
Os tempos mudaram, felizmente. Não há mais torturadores e porões para hospedá-los e aos seus instrumentos, por exemplo. Há, entretanto, herdeiros de Claudio Marques afinados com os dias de hoje e ainda velhacos e daninhos. A semelhança entre o caçador de comunistas a serviço do DOI-Codi e esses jornalistas (jornalistas?) é percebida pela obsessiva preocupação que cultivam desde a primeira eleição de Lula com a quantidade de anúncios governistas nas páginas de CartaCapital. Trata-se, obviamente, de uma ofensa gravíssima ao pretender insinuar, com leveza de britadeira, que vendemos a alma ao Sapo Barbudo. Alguém, no meio da tigrada, proclama: CartaCapital não tem credibilidade.
Não ouso afirmar que a vice-procuradora da Justiça Eleitoral Sandra Cureau (pronuncie Quirrô) seja sucedâneo do DOI-Codi. Creio, porém, que na sua ação inquisidora desfechada contra esta publicação ela tenha levado em conta as aleivosias assacadas contra nós por sem-número de colegas (colegas?), embora não tenha dúvidas quanto à origem tucana da assoprada final e decisiva: o candidato José Serra gosta de dar telefonemas. Assim como não me abalo a crer que o nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff seja determinante. Obrigatórios sim, a definição e seus motivos desde o começo da campanha oficial, como se dera em 2002 e 2006 em relação a Lula. Dever para com os eleitores.
Registro que o Estadão no domingo 26 decidiu desvendar a evidência. Um humorista diria: surpresa, estão com o Serra, e eu que até ontem não tinha percebido. Melhor o Estadão, de todo modo, do que o resto da tropa de choque, Globo, Folha, Veja, a agirem como partido político, conforme a óbvia constatação do presidente da República. Barack Obama foi além quando disse que não daria entrevista à Fox porque esta não era órgão midiático e sim “partido político”.
Lula errou, na nossa visão, ao afirmar: “A opinião pública somos nós”. A frase é certamente perigosa. Da mesma forma foi erro incluir tempos atrás no programa de governo a criação de uma entidade destinada a classificar os órgãos da mídia ao sabor dos seus comportamentos em relação aos direitos humanos. Esta não é tarefa governista, e CartaCapital não usou meias-palavras na ocasião para condenar a iniciativa. Diga-se que o prato indigesto saiu prontamente do cardápio, graças a uma barganha lamentável pela qual se fez a felicidade dos torturadores da ditadura e dos seus mandantes, muitos já no além, ao aceitar a ideia da anistia polivalente.
CartaCapital reprovou também a criação de uma tevê pública federal por enxergar de saída o seu inescapável destino: servir ao poder contingente, como se dá com a Cultura paulista, em mãos tucanas há 16 anos. Resta ver se o Brasil estaria maduro para uma tevê estatal, nascida do entendimento de que esta há de ser uma instituição permanente a servir à nação em lugar do governo do momento. Sinceramente, não aposto nesta maturidade.
O fenômeno que mais me aflige põe-se, no entanto, a propor por quês. Por que os profissionais da mídia nativa aderem tão compacta e fervorosamente ao pensamento dos patrões? Por que lhe tomam as dores como se eles mesmos pertencessem à categoria? Uma premissa. Em termos econômicos, a situação nas redações é semelhante àquela da população brasileira em geral. Os jornalistas graúdos, assinaturas celebradas, ganham mais que os colegas americanos e europeus, e nem se fale dos salários da nossa televisão. Astronômicos, trafegamos entre nababos. Na zona cinzenta flutuam os remediados. À ralé sobra esperança. A maioria dos recém-formados não tem emprego. Este, ninguém que conseguiu quer perder.
Pode-se concluir que os graúdos curvam-se diante da generosidade patronal enquanto os miúdos em tempos bicudos contentam-se com as migalhas? Talvez a explicação valha em relação a muitos casos graúdos e miúdos. Mas há que se ressaltar, em relação a outros, o ardor com que assumem os interesses do patrão. Estamos diante de uma identificação visceral, a ponto de justificar, no meu ponto de vista, uma investigação profunda a se valer das lições de Balzac e de Freud. Ambos ficariam muito impressionados, creio eu, ao registrar que os profissionais nativos chamam o patrão de colega, e nisto são únicos no mundo. Quem sabe mais ainda Balzac do que Freud.
No mais, vale acentuar que esta unicidade, esta exclusividade, invade outros terrenos. Um: o nosso sindicato se dispõe de bom grado a oferecer aos empresários da comunicação carteirinha de jornalista. Dois: sem falar da mediocridade dolorosa, a nossa mídia é única na sua capacidade de se alinhar de um lado só na hora de uma eleição, por exemplo. E não somente nesta. Mundo democrático afora vigora o pluralismo que a Folha de S.Paulo, com inefável hipocrisia, afirma existir em suas páginas. Nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Alemanha, só para citar alguns países, tem vez o jornalismo de todas as tendências. Aqui não, só existe uma, a favor da minoria privilegiada.
O que espanta é a tenacidade com que essa mídia permanece atada ao passado oligárquico. Os editoriais de hoje são absurdamente iguais àqueles de 47 anos atrás, que invocavam o golpe para impedir a cubanização do Brasil. Agora falam em mexicanização e venezuelização, e clamam contra o assalto à democracia e à liberdade de imprensa, perpetrado pelo presidente da República e seu partido e fadado a prosseguir à sombra de Dilma Rousseff.
Durante o ano de 1963 e nos primeiros meses de 1964 anunciavam a iminente marcha da subversão. Nunca passou. Veio foi a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, de imponentes efeitos subversivos. E lá se foi a liberdade, com a bênção dos editorialistas. Os quais aí estão agora para prestar seu solerte serviço. Salvo raras exceções, editorialistas, colunistas, articulistas. Diretores, redatores-chefes, editores, repórteres. A turma toda.
Os colegas do lado de lá, um exército, prestam-se a acusar sem provas, omitir fatos, frequentemente mentir com a expressão do dever cumprido. Encantou-me, na Folha de S.Paulo de segunda 27 a entrevista da vice-procuradora Sandra Cureau, aquela que atendeu a uma entrevista anônima para cometer uma inominável prepotência contra CartaCapital, esta sim, verdadeiro atentado à liberdade de imprensa. Mas a entrevistadora ali estava para agradar à doutora, a ponto de mencionar seus cabelos loiros e olhos azuis. Nem foi capaz, está claro, de uma única, escassa pergunta a respeito da ação movida contra nós.
Recordo que na semana passada manifestamos a certeza de que não contaríamos com a solidariedade dos barões da mídia e dos seus sabujos, bem como das chamadas entidades de classe. Aqueles são mestres em mau jornalismo. Mas será mesmo jornalismo? Quanto a estas, confirmam apenas a sua patética inutilidade. Para não dizer do viés tendencioso, ou francamente alinhado.
Patética é também um bom qualificativo para a atuação da mídia nativa ao longo deste ano, iniciado com a previsão de uma retumbante vitória tucana. E quando se viu que o ardil de Lula funcionava e que Dilma crescia graças inclusive ao seu próprio desempenho, começou a sarabanda.
Não se diga que os velhos morteiros deixaram de funcionar. É inegável, porém, que munição foi oferecida de graça pelo próprio PT, mais uma vez, do seu lado a dar tiros no pé. Está claro que o fogo aberto para denunciar ameaças à democracia e à liberdade de imprensa não passa de tentativa frustrada de invocar fantasmas do passado. Pesou, isto sim, o caso Erenice, no qual se mesclam dois fenômenos tão antigos quanto os fantasmas, contudo resistentes, dois vícios gravíssimos da tradição verde-amarela, dois pecados impredoáveis: nepotismo e clientelismo.
É espantoso: a rapaziada ainda não percebeu que o País mudou em latitude e longitude em relação à época do golpe. Certo é que a mídia detinha amplo poder há 50 anos, quadra favorável à influência dos ditos formadores de opinião. Bastava alcançar os senhores da minoria e seus aspirantes para alcançar os fins buscados.
Desta vez com o segundo turno, a mídia poderá enxergar no resultado um prêmio de consolação. Vale sublinhar, entretanto, que o PT concedeu espaço exagerado aos seus aloprados, como já houve em outras ocasiões, e mostrou, assim, lacunas sérias na organização e na união. Cabe ao presidente da República anotar que muitos dos problemas surgidos para seu governo tiveram sua origem nas fileiras petistas.
Os coronéis ainda mandavam em largas áreas e na hora da eleição lotavam a caçamba do caminhão depois de colocar a cédula preenchida nas mãos dos seus peões. Chamava-se voto de cabresto, e dava certo. Esse gênero de penosas tradições foi tragado pela transformação de um país então de 70 milhões de habitantes e hoje de 200. E com os documentos em dia para chegar logo à maioridade, à contemporaneidade do mundo.
Os senhores não apreciam a perspectiva e torcem contra. Deixa como está para ver como fica. O primeiro ato da debacle foi encenado na eleição de Fernando Henrique Cardoso e no seu segundo mandato. Cabe a ele o papel de primeiro motor da mudança, a ser concretizada no governo Lula.
FHC em 2002 lança sobre seu candidato José Serra uma sombra espessa e maligna. Com baixo índice de aprovação e pífia atuação, de sorte a deixar ao sucessor burras à míngua, o príncipe dos sociólogos torna-se cabo eleitoral de Lula. A maioria tira do governo FHC lições evidentes e parte para a votação inédita, a favor do ex-metalúrgico em vez do costumeiro bacharel engravatado. A identificação com o igual cresce naturalmente, não é imediata nas proporções que fermentarão em seguida.
A maioria não é mais aquela, a pressão dos patrões e dos capatazes não a condiciona e, principalmente, não lê jornal e ao Jornal Nacional prefere a novela e os Faustões da vida. Os editoriais e as manchetes mantêm, contudo, o tom de outrora, na desmiolada convicção de atingir a todos, do Oiapoque ao Chuí.
De todo modo, não nos iludimos quanto à possibilidade de uma redenção da mídia, pelo menos a curto prazo. Os caminhos são conhecidos porque experimentados com ótimos resultados em países mais adiantados. Difícil, por ora, percorrê-los. Trata-se de criar leis para limitar o monopólio da comunicação e conter a influência patronal nas redações, ao se cancelar, inclusive, e de vez, a figura do diretor de redação por direito divino.
Leis nesse sentido estão em vigor em países de democracia mais antiga e protegida. Aqui é dramaticamente visível, como cabo das tormentas em meio ao mar revolto, o obstáculo representado pelo próprio Congresso, que deveria debater e aprovar as novas leis. Inúmeros deputados e senadores são donos de instrumentos midiáticos e não é por aí que rapidamente chegaremos a uma solução aceitável, assim como não seria se o governo pretendesse ditar as regras.
Sobram perguntas, angustiantes: o que haverá de ler, ou ouvir, o cidadão consciente quando interessado em saber dos fatos? Em quem confiar no espectro sombrio da mídia nativa? Como distinguir entre a informação honesta e a opinião eventualmente distorcida, corrompida até pelo partidarismo?
* Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital
Chávez assina decreto de expropriação de empresa agrícola
|
Karol Assunção * Adital
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assinou, na noite de ontem (4), o
decreto de expropriação da empresa Agroisleña. De acordo com o governo,
a intenção é aumentar a produção da companhia agrícola e incentivar o
desenvolvimento agrícola do país.
Durante entrevista por telefone ao canal de televisão Venezolana,
Chávez disse que firmou o decreto porque a companhia agrícola de capital
espanhol era um oligopólio, situação proibida pela Constituição da
República. O decreto deve entrar em vigor após a publicação em Diário
Oficial, previsto para sair ainda hoje (5).
De acordo com informações de Telesur, a transnacional possuía oito depósitos e 64 sucursais dedicadas a comercializar 84 produtos agrícolas em todo o país. A agência de notícias revela que a empresa monopolizava ureia e sementes registradas.
Os problemas gerados pela Agroisleña, porém, não se resumiam apenas à centralização dos produtos. Venda indiscriminada de fertilizantes tóxicos ao meio ambiente e aumento irracional dos preços de produtos agrícolas também estavam na lista de irregularidades da companhia. "Considerando a especulação como prática capitalista na venda de fertilizantes por parte do grupo Agroisleña C.A, e apesar de o Estado venezuelano investir ingentes quantidades de dinheiro no subsídio, estes (fertilizantes) terminam com um aumento de 250% em cima do valor sugerido, causando aumento nos custos de produção que se trasladam ao consumidor final, encarecendo os preços dos alimentos", destacou o mandatário venezuelano.
Em relação à expropriação, Chávez ainda afirmou que pagará o custo total das instalações e dos bens da empresa e que respeitará todos os direitos e garantias dos trabalhadores da Agroisleñas. De acordo com ele, "nenhum trabalhador ou operário das empresas recuperadas pelo Estado foi despedido, ao contrário de suas reivindicações trabalhistas e salariais foram melhoradas em 100 por cento".
Medida agrada a camponeses
A decisão de Hugo Chávez foi apoiada tanto por pequenos e médios agricultores rurais quanto por profissionais da área agrícola. Isso porque, além de expropriar a empresa - considerada por eles como uma das mais contaminantes da América Latina -, o mandatário venezuelano ainda recuperará as terras até então pertencentes à companhia e baixará os custos de produção agropecuária a fim de garantir a soberania alimentar e de transformar o país em uma potência agrícola.
"Consideramos que a medida é transcendental na sociedade venezuelana, ademais de buscar processos de transformação que tratem de superar todas as deficiências administrativas, financeiras em termos de administração de insumos", afirmou Miguel Ángel Núñez, integrante do Instituto de Produção e Investigação de Agricultura Tropical, em entrevista à Telesur.
Agroisleña rejeita expropriação
Se de um lado estão os produtores rurais contentes com o decreto do presidente venezuelano, do outro está a empresa agrícola nada feliz com a medida de Chávez. Em comunicado, Agroisleña recusa a atitude do mandatário da Venezuela e pede que a decisão seja reconsiderada.
"A empresa rejeita absoluta e categoricamente uma medida de expropriação que acabaria na prática com nosso apoio constante à produção agrícola e à segurança alimentar", justificou, solicitando ainda do mandatário mais tempo para conhecer as atividades da companhia.
Com informações de Telesur, AFP e AVN.
De acordo com informações de Telesur, a transnacional possuía oito depósitos e 64 sucursais dedicadas a comercializar 84 produtos agrícolas em todo o país. A agência de notícias revela que a empresa monopolizava ureia e sementes registradas.
Os problemas gerados pela Agroisleña, porém, não se resumiam apenas à centralização dos produtos. Venda indiscriminada de fertilizantes tóxicos ao meio ambiente e aumento irracional dos preços de produtos agrícolas também estavam na lista de irregularidades da companhia. "Considerando a especulação como prática capitalista na venda de fertilizantes por parte do grupo Agroisleña C.A, e apesar de o Estado venezuelano investir ingentes quantidades de dinheiro no subsídio, estes (fertilizantes) terminam com um aumento de 250% em cima do valor sugerido, causando aumento nos custos de produção que se trasladam ao consumidor final, encarecendo os preços dos alimentos", destacou o mandatário venezuelano.
Em relação à expropriação, Chávez ainda afirmou que pagará o custo total das instalações e dos bens da empresa e que respeitará todos os direitos e garantias dos trabalhadores da Agroisleñas. De acordo com ele, "nenhum trabalhador ou operário das empresas recuperadas pelo Estado foi despedido, ao contrário de suas reivindicações trabalhistas e salariais foram melhoradas em 100 por cento".
Medida agrada a camponeses
A decisão de Hugo Chávez foi apoiada tanto por pequenos e médios agricultores rurais quanto por profissionais da área agrícola. Isso porque, além de expropriar a empresa - considerada por eles como uma das mais contaminantes da América Latina -, o mandatário venezuelano ainda recuperará as terras até então pertencentes à companhia e baixará os custos de produção agropecuária a fim de garantir a soberania alimentar e de transformar o país em uma potência agrícola.
"Consideramos que a medida é transcendental na sociedade venezuelana, ademais de buscar processos de transformação que tratem de superar todas as deficiências administrativas, financeiras em termos de administração de insumos", afirmou Miguel Ángel Núñez, integrante do Instituto de Produção e Investigação de Agricultura Tropical, em entrevista à Telesur.
Agroisleña rejeita expropriação
Se de um lado estão os produtores rurais contentes com o decreto do presidente venezuelano, do outro está a empresa agrícola nada feliz com a medida de Chávez. Em comunicado, Agroisleña recusa a atitude do mandatário da Venezuela e pede que a decisão seja reconsiderada.
"A empresa rejeita absoluta e categoricamente uma medida de expropriação que acabaria na prática com nosso apoio constante à produção agrícola e à segurança alimentar", justificou, solicitando ainda do mandatário mais tempo para conhecer as atividades da companhia.
Com informações de Telesur, AFP e AVN.
Simón Bolívar além da revolução
Simón Bolívar era baixinho, tinha especial predileção por vestimentas na
cor azul, trocava cartas longas e apaixonadas com a amante Manuela e
recebia aulas do professor aos pés de uma grande árvore no jardim de sua
casa, em Caracas. Essas e outras particularidades do libertador da
América do Sul são reveladas ao visitante no Museu Bolivariano e
possibilitam construir um retrato aproximado daquele que é o personagem
mais celebrado da Venezuela.
De fato, a figura imponente do revolucionário está estampada por centenas de muros da capital venezuelana e seu nome, em ruas e avenidas. A história do libertador fica na ponta da língua de grande parte da população, que não hesita em relembrar seus feitos aos turistas. O presidente Hugo Chávez é um dos mais notáveis propagadores das palavras de Bolívar. Tanto que uma das célebres frases do libertador, “se a natureza se opõe lutaremos contra ela e a faremos com que nos obedeça” – dita na época de um grande terremoto em Caracas e hoje impressa em um prédio ao lado do museu – é frequentemente repetida por Chávez em momentos de dificuldade frente a desastres naturais.
Marina Terra
De fato, a figura imponente do revolucionário está estampada por centenas de muros da capital venezuelana e seu nome, em ruas e avenidas. A história do libertador fica na ponta da língua de grande parte da população, que não hesita em relembrar seus feitos aos turistas. O presidente Hugo Chávez é um dos mais notáveis propagadores das palavras de Bolívar. Tanto que uma das célebres frases do libertador, “se a natureza se opõe lutaremos contra ela e a faremos com que nos obedeça” – dita na época de um grande terremoto em Caracas e hoje impressa em um prédio ao lado do museu – é frequentemente repetida por Chávez em momentos de dificuldade frente a desastres naturais.
Entrada do Museu Bolivariano, em Caracas, Venezuela
Tanta reverência a Bolívar começa a ser decifrada logo no início do
passeio, quando se visita um salão ocupado por pinturas e esculturas
feitas por artistas sul-americanos em homenagem ao libertador. Não só a
Venezuela o vê como um herói nacional: Bolívia, Colômbia, Equador,
Panamá e Peru são outras nações que honram sua liderança na guerra de
independência contra o Império Espanhol, da qual foi indiscutível
protagonista.
Em outra sala, já no segundo andar da majestosa casa – onde Bolívar nasceu e para onde voltou por diversas vezes –, ficam seus pertences pessoais, como pentes, escovas, meias e sapatos. O grande herói não calçava mais do que 35, aponta a medida das botas, gastas pelos séculos que se passaram. Destacada, no meio do salão, a banheira usada por Bolívar, com uma bem humorada ilustração do militar prestes a se banhar.
Voltando ao térreo, os acessos a um dos dois amplos pátios levam aos diversos quartos da casa, dentre eles, a Alcoba, onde Bolívar nasceu e seu escritório. No pátio a partir da entrada principal fica a pia onde o libertador foi batizado.
Em outra sala, já no segundo andar da majestosa casa – onde Bolívar nasceu e para onde voltou por diversas vezes –, ficam seus pertences pessoais, como pentes, escovas, meias e sapatos. O grande herói não calçava mais do que 35, aponta a medida das botas, gastas pelos séculos que se passaram. Destacada, no meio do salão, a banheira usada por Bolívar, com uma bem humorada ilustração do militar prestes a se banhar.
Voltando ao térreo, os acessos a um dos dois amplos pátios levam aos diversos quartos da casa, dentre eles, a Alcoba, onde Bolívar nasceu e seu escritório. No pátio a partir da entrada principal fica a pia onde o libertador foi batizado.
Marina Terra
Em ilustração, Simón Bolívar faz a barba em frente a banheira que lhe pertenceu
Surpresa
No entanto, um dos locais mais interessantes do museu é o espaço
dedicado ao projeto de exumação dos restos mortais de Bolívar,
empreendido pelo presidente esse ano e motivado pela suspeita de que a
morte do libertador teria sido criminosa e não por tuberculose, como
apontavam historiadores. A exposição mostra interessantes descobertas,
dentre elas, uma que desagradou em especial a Chávez.
Após a primeira exploração do caixão de Bolívar, em 1970, a bandeira venezuelana que envolvia o corpo desde 1830 foi substituída por outra. Porém, o governo à época não atentou para o fato de que a nova flâmula não era de fabricação venezuelana e sim, britânica. “O presidente não se conformou com isso”, conta sorrindo a venezuelana Aurora Rey, uma das visitantes do museu.
Contrariado com o fato de o herói da independência ter sido envolto em material “imperialista”, Chávez sugeriu que os próprios cidadãos venezuelanos confeccionassem uma bandeira nova, e assim foi. A comitiva formada se apressou e Bolívar recebeu o tecido bordado a muitas mãos, como revela um vídeo feito pela organização do museu.
Marina Terra no OperaMundi
Após a primeira exploração do caixão de Bolívar, em 1970, a bandeira venezuelana que envolvia o corpo desde 1830 foi substituída por outra. Porém, o governo à época não atentou para o fato de que a nova flâmula não era de fabricação venezuelana e sim, britânica. “O presidente não se conformou com isso”, conta sorrindo a venezuelana Aurora Rey, uma das visitantes do museu.
Contrariado com o fato de o herói da independência ter sido envolto em material “imperialista”, Chávez sugeriu que os próprios cidadãos venezuelanos confeccionassem uma bandeira nova, e assim foi. A comitiva formada se apressou e Bolívar recebeu o tecido bordado a muitas mãos, como revela um vídeo feito pela organização do museu.
Marina Terra no OperaMundi
A Petrobras é Nossa!
O
preço das ações da Petrobras caem nos últimos dias motivado por pelo
menos três razões. A primeira é o aumento da alíquota do IOF, anunciado
pelo Governo para investimentos estrangeiros, o que diminui o lucro dos
investidores estrangeiros. A segunda razão é a flutuação do câmbio. Com a
desvalorização do dólar frente ao real, as ações ficam mais caras. A
terceira e principal eu considero um escândalo: a campanha difamatória
que a velha imprensa, associada a grandes grupos econômicos fazem contra
e empresa. Há interesse em desestabilizar a gestão para, em trazendo
prejuízos, comprovar a tese de que a União é incapaz de administrar
nossa 'galinha dos ovos de ouro'. Nesta quinta-feira, por exemplo, os
boatos tomaram conta do mercado. Seriam divulgadas denúncias envolvendo a
capitalização da empresa, em que funcionários do Governo teriam sido
beneficiadas. A iminência de um escândalo, ainda que falso,
afugenta investidores, avessos à volatilidade e risco. E quando muitos
vendem, as ações caem. Depois eles compram de novo mais barato. Assim é a
lógica. Isso é de uma falta de compromisso público e de uma
irresponsabilidade atrozes. Onde está a Comissão de Valores Mobiliários,
que deveria zelar por isso? E os órgãos reguladores do Governo? Como
evitar esse ataque especulativo contra todos nós brasileiros? Olha,
desse jeito está difícil manter a calma. Ainda mais porque um dos
formuladores da política econômica do candidato da oposição chegou a
pregar no início da semana a revisão do Marco Regulatório do Pré-Sal,
questionando, entre outras coisas, o aumento da participação acionária
do Estado no negócio. Oras, quem tem petróleo tem poder e isso é assim
no mundo todo. Só faltava agora sermos privados de nossa riqueza, em
benefício daqueles que sempre exploraram nosso país e nossas riquezas.
Isso nós brasileiros não vamos permitir!
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
"É uma hora boa para desmascarar a intolerância"
Com a generosa ajuda da velha mídia brasileira, e uma mãozinha
da candidatura de Marina Silva, Serra conseguiu pautar a reta final do
primeiro turno e o inicio do segundo turno com uma temática religiosa. É
um atraso gigantesco para o Brasil. Parte dos apoiadores de Dilma acha
que a campanha do PT deve fugir desse debate, recolher apoios de
evangélicos e católicos, e rapidamente mudar de assunto. Penso um pouco
diferente.
por Rodrigo Vianna, em seu blog O Escrevinhador
É evidente que essa temática
religiosa não é o que interessa para o Brasil. Mas se Serra escolheu o
obscurantismo, é preciso mostrar isso à população. A esquerda, tantas e
tantas vezes, foge dos enfrentamentos. Acho que desse enfrentamento não
deveria fugir.
Por que ninguém do PT é capaz de dar uma resposta a Serra, deixando a Ciro Gomes a tarefa de pendurar o guiso no gato? Ciro disse -de forma muito apropriada - que o discurso de Serra é o caminho para um regime teocrático. Vejam:
(Ciro Gomes) “Por que o PSDB, que nasceu para ajudar a modernidade do País, resolveu agora advogar o Estado teocrático? O Serra tem de dizer que, na República que ele advoga, primeiro falam os aiatolás, e aí os políticos resolvem o que os aiatolás querem que seja feito.”
O Brasil, agora digo eu, precisa que se faça esse debate.
O Brasil precisa, também, comparar os resultados econômicos e sociais de FHC e Lula. Mas precisa de politização, precisa que se enfrente o pensamento conservador.
Essa é uma hora boa para desmascarar a intolerância religiosa.
Aliás, é preciso tomar cuidado ao associar “evangélicos”, apenas, a esse discurso intolerante. Não. Os ataques mais coordenados e mais perigosos partem da Igreja Católica.
É preciso – com muito cuidado e respeito pelos milhares de católicos e evangélicos que praticam a religião apenas para confortar suas almas, e para difundir o amor ao próximo – lembrar que já houve um tempo em que a religião mandava na política.
No Brasil Colonial, tivemos a Inquisição católica a prender, torturar e executar. A intolerância religiosa já matou muito – no mundo inteiro. Aprendemos isso na escola, ou deveríamos aprender (quem não se lembra da “Noite de São Bartolomeu” ,na França, pode ler algo aqui).
Já que Serra quer travar esse debate, devemos pendurar o guiso no gato, e perguntar se o que ele quer é um Estado teocrático. É isso?
Do lado de Serra, certamente ficará muita gente. Mas tenho certeza que do outro lado ficará o que há de civilizado nesse nosso país.
Na Espanha, esse debate é travado nas eleições. O PP (partido conservador) tem uma parceria muito próxima com a Opus Dei e com o catolicismo mais reacionário. O PSOE (social-democrata) não tem medo de assumir a defesa de um Estado laico – respeitando as práticas religiosas.
O PSOE ganhou eleição prometendo união civil de homossexuais. A direita católica do PP realizou marchas com quase um milhão de pessoas, contra essa plataforma. Levou bispos e padres (de batina e tudo) para as ruas. O PP tentou intimidar o PSOE. O que fez a centro-esquerda? Travou o debate, resistiu, deu uma banana para o terrorismo religioso. E ganhou.
É preciso ter coragem.
O círculo da direita se fecha: ela tem as igrejas (algumas), ela tem a velha mídia, ela tem a prática da intolerância.
“A ideologia da direita é o medo”, já nos ensinava Simone de Beauvoir.
A intolerância e o medo é que levaram o “Estadão” (que, diga-se, abre espaços para a Opus Dei) a demitir Maria Rita Kehl por ter escrito um artigo que contraria a linha oficial de “somos Serra até a morte”.
Nas redações, não há espaço para dissenso. Quem levanta a cabeça tem a cabeça cortada.
“Folha” (que censura blogs), “Estadão” (que demite colunista), “Veja” (com seu esgoto jornalístico a céu aberto) e “Globo” (sob comando de Ali “não somos racistas” Kamel) são a armada a serviço desse contra-ataque conservador. Isso já está claro há muito tempo. Mas Lula parece ter minimizado essa articulação, e acreditado que enfrentaria tudo no gogó – sem politizar o debate. Não deu certo. É preciso enfrentamento, politização.
Esse é um combate que merecer ser travado. Para ganhar ou perder. E acho que temos toda chance de ganhar.
Até porque, se Serra ganhar com esse discurso de ódio, e com esses apoios (panfletos da TFP, reuniões no Clube Militar, pregação e intolerância religiosas), o país (empresários, trabalhadores, classe média) precisa saber que teremos uma nação conflagrada durante 4 anos.
Não dá pra fazer de conta que isso não está acontecendo.
Há espaço para uma centro-direita civilizada no Brasil? Claro. Mas essa direita que avança com Serra não merece respeito. Merece ser combatida, como fazem os espanhóis e como fez o Ciro Gomes.
Com coragem.
Por que ninguém do PT é capaz de dar uma resposta a Serra, deixando a Ciro Gomes a tarefa de pendurar o guiso no gato? Ciro disse -de forma muito apropriada - que o discurso de Serra é o caminho para um regime teocrático. Vejam:
(Ciro Gomes) “Por que o PSDB, que nasceu para ajudar a modernidade do País, resolveu agora advogar o Estado teocrático? O Serra tem de dizer que, na República que ele advoga, primeiro falam os aiatolás, e aí os políticos resolvem o que os aiatolás querem que seja feito.”
O Brasil, agora digo eu, precisa que se faça esse debate.
O Brasil precisa, também, comparar os resultados econômicos e sociais de FHC e Lula. Mas precisa de politização, precisa que se enfrente o pensamento conservador.
Essa é uma hora boa para desmascarar a intolerância religiosa.
Aliás, é preciso tomar cuidado ao associar “evangélicos”, apenas, a esse discurso intolerante. Não. Os ataques mais coordenados e mais perigosos partem da Igreja Católica.
É preciso – com muito cuidado e respeito pelos milhares de católicos e evangélicos que praticam a religião apenas para confortar suas almas, e para difundir o amor ao próximo – lembrar que já houve um tempo em que a religião mandava na política.
No Brasil Colonial, tivemos a Inquisição católica a prender, torturar e executar. A intolerância religiosa já matou muito – no mundo inteiro. Aprendemos isso na escola, ou deveríamos aprender (quem não se lembra da “Noite de São Bartolomeu” ,na França, pode ler algo aqui).
Já que Serra quer travar esse debate, devemos pendurar o guiso no gato, e perguntar se o que ele quer é um Estado teocrático. É isso?
Do lado de Serra, certamente ficará muita gente. Mas tenho certeza que do outro lado ficará o que há de civilizado nesse nosso país.
Na Espanha, esse debate é travado nas eleições. O PP (partido conservador) tem uma parceria muito próxima com a Opus Dei e com o catolicismo mais reacionário. O PSOE (social-democrata) não tem medo de assumir a defesa de um Estado laico – respeitando as práticas religiosas.
O PSOE ganhou eleição prometendo união civil de homossexuais. A direita católica do PP realizou marchas com quase um milhão de pessoas, contra essa plataforma. Levou bispos e padres (de batina e tudo) para as ruas. O PP tentou intimidar o PSOE. O que fez a centro-esquerda? Travou o debate, resistiu, deu uma banana para o terrorismo religioso. E ganhou.
É preciso ter coragem.
O círculo da direita se fecha: ela tem as igrejas (algumas), ela tem a velha mídia, ela tem a prática da intolerância.
“A ideologia da direita é o medo”, já nos ensinava Simone de Beauvoir.
A intolerância e o medo é que levaram o “Estadão” (que, diga-se, abre espaços para a Opus Dei) a demitir Maria Rita Kehl por ter escrito um artigo que contraria a linha oficial de “somos Serra até a morte”.
Nas redações, não há espaço para dissenso. Quem levanta a cabeça tem a cabeça cortada.
“Folha” (que censura blogs), “Estadão” (que demite colunista), “Veja” (com seu esgoto jornalístico a céu aberto) e “Globo” (sob comando de Ali “não somos racistas” Kamel) são a armada a serviço desse contra-ataque conservador. Isso já está claro há muito tempo. Mas Lula parece ter minimizado essa articulação, e acreditado que enfrentaria tudo no gogó – sem politizar o debate. Não deu certo. É preciso enfrentamento, politização.
Esse é um combate que merecer ser travado. Para ganhar ou perder. E acho que temos toda chance de ganhar.
Até porque, se Serra ganhar com esse discurso de ódio, e com esses apoios (panfletos da TFP, reuniões no Clube Militar, pregação e intolerância religiosas), o país (empresários, trabalhadores, classe média) precisa saber que teremos uma nação conflagrada durante 4 anos.
Não dá pra fazer de conta que isso não está acontecendo.
Há espaço para uma centro-direita civilizada no Brasil? Claro. Mas essa direita que avança com Serra não merece respeito. Merece ser combatida, como fazem os espanhóis e como fez o Ciro Gomes.
Com coragem.
Segundo turno pode se tornar batalha do esclarecimento contra obscurantismo
Por Arlete Sampaio
Qualquer análise sobre o que significa este segundo turno deve ser
precedida por uma correta percepção sobre o que estamos travando: isso é
uma campanha ou é uma guerra? A última semana de 1º turno e o início da
primeira semana do 2º turno mostram que não estão fazendo campanha
contra Dilma. Estão travando uma guerra. Campanha insidiosa não é
campanha, é guerra. Campanha que abusa do sentimento religioso não é
campanha, é cruzada. Campanha que inventa frases nunca proferidas por
Dilma para demonizá-la não é campanha, é crime.
A quem interessa esse clima de guerra? A ninguém que cultive um
mínimo de espírito democrático. A ninguém que tenha esclarecimento
suficiente para saber que uma campanha eleitoral não é um plebiscito
sobre questões bioéticas que são complexas, que envolvem os três poderes
da República e que merecem um tratamento sério, e não sua banalização e
uso preconceituoso. Não era para ser isso, mas o segundo turno pode se tornar uma batalha do esclarecimento contra o obscurantismo. Voltamos ao século XVIII. É lá, no século XVIII, que os setores elitistas ultraconservadores insistem em querer manter o Brasil, em inúmeras questões. E é lamentável que parte considerável dos que se dizem democratas se renda a esse senhorio e aceite entrar pela porta dos fundos desse condomínio.
uso preconceituoso. Não era para ser isso, mas o segundo turno pode se tornar uma batalha do esclarecimento contra o obscurantismo. Voltamos ao século XVIII. É lá, no século XVIII, que os setores elitistas ultraconservadores insistem em querer manter o Brasil, em inúmeras questões. E é lamentável que parte considerável dos que se dizem democratas se renda a esse senhorio e aceite entrar pela porta dos fundos desse condomínio.
Ao percebermos esse quadro, é preciso uma mudança de postura. Da
candidata, dos partidos, dos militantes, e principalmente dos cidadãos
que vêem sua cidadania ser arranhada pelas patas do reacionarismo; dos
que são ameaçados em seu direito de discernir corretamente sobre o que
está em jogo, diante de uma pregação que não é só destinada ao 2º turno,
mas até a um 3º turno da eleição presidencial. Todos os setores
democráticos e populares, os que votaram em Marina e mesmo parte dos que
votaram em Serra têm o dever de entender o que se está passando. A
candidatura adversária está sendo capturada pelo
reacionarismo. O candidato Serra, que se dizia orgulhoso de sua biografia, será que ainda faz questão de preservá-la? É o que veremos, não no horário eleitoral gratuito, mas nas ruas, nos panfletos apócrifos, nas mensagens que destilam ódio pela internet, nos pronunciamentos de seu vice (seja lá quem for).
reacionarismo. O candidato Serra, que se dizia orgulhoso de sua biografia, será que ainda faz questão de preservá-la? É o que veremos, não no horário eleitoral gratuito, mas nas ruas, nos panfletos apócrifos, nas mensagens que destilam ódio pela internet, nos pronunciamentos de seu vice (seja lá quem for).
As três principais candidaturas (Dilma, Serra e Marina) fizeram um
primeiro turno relativamente tranqüilo, salvo pelas duas últimas semanas
de ataques irracionais à candidata governista. Dilma com um programa
propositivo, Serra fingindo não ser de oposição e Marina falando,
justamente, contra a polarização (que ela paradoxalmente contribuiu para
produzir, com o 2º turno). Segundo turno, não tem jeito: é plebiscito.
Ele representa um instrumento de grande importância em nosso sistema
político, pois garante que o escolhido seja de fato respaldado pela
ampla maioria dos eleitores. Por isso, os candidatos são obrigados a
mostrar quem são, o que representam e quem representam.
É disso que se trata: a partir de agora, vai ser preciso dar nome aos
bois e às boiadas. Dilma ultrapassou o teto histórico da votação da
esquerda em primeiro turno, mesmo das votações dadas às campanhas
vitoriosas de Lula. É um feito que demonstra o avanço conquistado pelos
movimentos sociais e suas organizações e pelo amadurecimento do
eleitorado brasileiro, facilitado por um conjunto de políticas públicas
que mostrou as diferenças abissais do governo Lula em relação a qualquer
outro governo.
Devemos pensar em três frentes: na política, na questão ambiental e
no desenvolvimento do país. Na política, o que está em jogo é o
enraizamento da participação popular no desenho das políticas públicas e
o fortalecimento das classes sociais menos favorecidas, em sua luta não
apenas por ascensão econômica, mas por protagonismo político. Isso é
algo que incomoda muita gente e que a ultradireita quer eliminar a todo
custo. Na questão ambiental, há uma guerra do setor predatório do
agronegócio
contra Dilma. Basta ver que os mapas de votação que dão maioria a Serra localizam-se fortemente em Estados e localidades que têm os maiores focos de agronegócio predatório. É só ver quem está do lado de Serra e os ruralistas que o apóiam.
contra Dilma. Basta ver que os mapas de votação que dão maioria a Serra localizam-se fortemente em Estados e localidades que têm os maiores focos de agronegócio predatório. É só ver quem está do lado de Serra e os ruralistas que o apóiam.
Já o modelo de desenvolvimento sustentável com inclusão social deve
mostrar suas diferenças com o modelo de desenvolvimento excludente,
privatista e predatório. Vamos ter que lembrar dos vôos de galinha, dos
“inimpregáveis”, dos “vagabundos” (foi assim mesmo que FHC denominou os
servidores públicos aposentados), da época em que se considerava delírio
um salário mínimo de100 dólares (isso mesmo, hoje daria menos de 170
reais). Será preciso mostrar o que fizemos em crescimento econômico e em
desenvolvimento social das regiões mais pobres. Teremos que relembrar o
que era a Petrobrás e o BNDES há 8 anos e o que eles representam agora,
ao terem sido transformados em alavancas do desenvolvimento nacional,
com impactos positivos até sobre a América do Sul.
Será preciso mostrar o que se fez política externa, que de um lado
simboliza a importância do Brasil no exterior e, de outro, atiça os que
têm o complexo de vira latas. Será preciso comparar o que se fez na
Saúde no Governo Lula com o caos da saúde em São Paulo, confrontando as
opções de gestão: de um lado, o fortalecimento da gestão pública; do
outro, o desmonte, a terceirização, a falta de investimentos. Será
preciso defender o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, inclusive com a
ajuda dos que foram responsáveis pela área de direitos humanos durante a
gestão anterior.
Questões como essas deveriam ser o cerne do debate. Mas isso é para
uma campanha. Para uma guerra, é mais do que urgente que não só os
partidos coligados à candidatura Dilma, mas todos os movimentos de
cidadania que lutam arduamente pela melhoria da qualidade do voto, pelo
aperfeiçoamento da nossa democracia, pela não deturpação e manipulação
do debate eleitoral cumpram a tarefa de alertar os cidadãos e cidadãs
sobre as ações perversas dos que se aproveitam desse momento eleitoral e
do espaço dado pela candidatura adversária para esgrimir suas
ignomínias.
É preciso uma nova campanha da legalidade, com um trabalho militante
de recolhimento de denúncias e acionamento penal daqueles que se acham
livres para produzir atentados à democracia. Tenho a certeza de que, se
isso for estancado, deixaremos de travar uma guerra e poderemos
democraticamente iniciar uma campanha. E poderemos certamente descobrir
que os que apostam no envenenamento do debate eleitoral são
provavelmente os mesmos que acabaram derrotados na luta pela
redemocratização do país. Luta que custou muitas vidas e foi vitoriosa
graças a muita mobilização popular. É essa história que devemos defender
neste momento em que não podemos cair na defensiva, nem nos acovardar
pelas ameaças infames dos
profetas do golpismo e dos Zés do Apocalipse.
profetas do golpismo e dos Zés do Apocalipse.
(*) Arlete Sampaio é Deputada Distrital eleita pelo PT-DF, foi
Vice-Governadora do DF (1995-1998) e Secretária Executiva do Ministério
do Desenvolvimento Social do Governo Lula.
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