A
explosão de conteúdos “adultos” na internet resultou em uma indústria
que liga “artistas” na frente de suas câmeras e “voyeurs” sentados
diante de seus computadores.Esse sistema econômico opaco prospera com a
exploração dos “produtores de conteúdo” e prefigura uma forma de divisão
do trabalho facilitada pela internet
|
por Olivier Corten no LeMondeBrasil |
Podemos chamar de “artistas” ou “modelos”. São sobretudo mulheres
jovens, embora existam também homens, casais e mulheres maduras.
Instalados diante das câmeras de seus computadores, eles trabalham
conectados à internet tentando atrair o cliente para que venha se juntar
aos seus chats privados. Striptease de um continente a outro,
eles dialogam, se exibem, simulam excitação sexual e respondem a pedidos
de clientes enviados pelo teclado ou por voz.
Remunerados por base de porcentagem sobre o tempo de conexão pago a
esses sites especializados, eles são filipinos, romenos, russos,
norte-americanos, colombianos ou franceses. Dentro de uma decoração que
reproduz clichês visuais de “quartos de motéis”, eles vendem de suas
camas – às vezes de uma simples poltrona – tempo de exibição, diálogo e
simulação. O site Live Jasmin diz ter 31.315 garotas e 8.921 rapazes.
Por um sistema de filiação, as plataformas oferecem aos proprietários
desse tipo de site uma lista mundial de modelos que possibilita, graças à
diferença de fuso horário, possuir sempre on-line um conjunto de muitas
centenas de pessoas disponíveis. Em troca dessa oferta sempre
renovável, a plataforma fica com uma parte significativa dos ganhos,
repassando 30% ao webmaster.
Diferentemente dos sites e fóruns cujos anúncios têm por objetivo um
encontro físico, esses novos espaços de consumo sexual são inteiramente
virtuais. Muito claros e precisos quanto às condições de utilização do
site, avisam que, se tentarem contatar os modelos, os usuários serão
excluídos.
Uma conexão de dez minutos com quatro clientes simultaneamente não
passa, segundo os sites, de 5 a 10 euros. Na melhor das hipóteses, é
como ganhar um salário mínimo mensal em algumas horas, em um só dia,
diante de uma câmera – na pior, algumas dúzias de euros.
Tal como acontece com a oferta de trabalho a domicílio, os anúncios de
recrutamento na internet falam em “nenhuma obrigação de carga horária”,
“fazer dinheiro” etc. Sempre em busca de novos recrutas, as plataformas
propõem remuneração garantida (variáveis segundo o país dos visitantes)
que vão desde alguns centavos a 1 euro por minuto de “show privativo” –
que na prática pode reunir vários espectadores pagando cada um 1 euro
por minuto.
Essa economia da virtualidade não necessita de contratos nem
imobilização financeira ou imobiliária, nem de nenhum investimento, mas
apenas da locação de servidores e banda larga que permita o roteamento
de áudio e vídeo. Os proprietários e acionistas dessas nebulosas
transações permanecem invisíveis. Essa economia feita de tecnologia,
virtualidade, fluxos, paraísos fiscais e pobreza assemelha-se à nova
economia desmaterializada de hoje. Sabe-se muito pouco sobre a “produção
de conteúdo”. Os ganhos dos hostsficam em total obscuridade. O
empobrecimento e a concorrência fazem o resto. E eis que então emerge
um novo proletariado mundial: o dos fornecedores de conteúdo das
tecnologias de informação, que nenhuma regulamentação de trabalho
reconhece e que nenhuma legislação sobre o direito à imagem ou à
propriedade intelectual consegue enquadrar. A indústria do sexo, como
sempre, é uma precursora.
Representando hoje, segundo diversos estudos, 12% dos sites e quase 25%
das pesquisas na internet, essa indústria tem contribuído amplamente
para o desenvolvimento do micropagamento on-line, para a compressão de
vídeo e para outras tecnologias da rede. Ela fez nascer um modelo de
marketing cujo princípio é colocar em cena as “vitrines virtuais”
acessíveis gratuitamente, mas reenviando a serviços pagos. É ela também
que está inventando e refinando todas as tecnologias de compartilhamento
de links, transferência de tráfico de um site a outro e fidelização de
clientes.
Na França, um homem a cada dois e uma mulher a cada cinco declaram assistir regularmente à pornografia.1
Se o recurso à prostituição entre os homens permanece relativamente
estável – 3,3% dos homens em 2006, contra 3,1% em 1992 –, o consumo por
sexo on-line está explodindo.
Segundo o psicólogo Alvin Cooper, diretor do San José Marital and
Sexuality Centre de Santa Clara, na Califórnia, “o sexo na internet é
principalmente praticado pelos homens como forma de aliviar o stress,
uma maneira de fantasiar, mas mantendo-se fiel na vida real”.2
Da mesma maneira que outros vícios, ele diz que “esse comportamento
pode compensar os sentimentos de ódio, decepção, tédio, tensão,
inquietação, solidão ou tristeza e levar a uma exacerbação da vida
virtual confortável diante do computador”. Um hábito que não é
inofensivo, uma vez que o pesquisador acredita que ele pode “levar a
mudanças de percepção de que existem outros, gerar um distanciamento da
vida real, modificar a percepção da realidade e por vezes conduzir ao
isolamento social”.
Longe de se concentrar nas mãos de poucos gigantes, a competição é
permanente e os sites gratuitos que meramente repetem sequências de
filmes piratas ou de “amadores” têm apenas por objetivo “sugar” o
internauta e direcioná-lo aos serviços pagos. Para melhor entender o
funcionamento e uso dessa economia, três pesquisadores, Christian
Platzer, Engin Kirda e Christopher Kruegel, ao longo do estudo,
confirmaram o papel dos criadores dos sites. Eles revelam os bastidores
de guerras comerciais envolvendo técnicas de pirataria de bases de dados
de concorrentes, e fraudes geradas ao se clicar em banners de
publicidade,3 que permitem gerar o máximo de lucro redirecionando os internautas.
Enquanto na tela as ofertas de chat pornográfico se
multiplicam, oferecendo uma infinidade de “modelos”, podemos observar
uma mutação da relação econômica e de subordinação. Diferentemente do
cinema, nenhum diretor dirige os atores; diferentemente dos serviços
telemáticos e dos peep- -shows, nenhum treinamento é oferecido,
muito menos roteiros com diálogos para se ter com os clientes. O
artista aqui deve incorporar os desejos dos internautas, seus códigos e
suas fantasias para reproduzi-los. E, com base em uma vaga lista de
preferências que teria levado aquele cliente até ele, o trabalhador o
satisfaz em troca de uma remuneração calculada em porcentagem.
Normalmente discutido em meio a debates parlamentares, o sexo na
internet só é visto sob o ângulo da proteção à infância e da repressão à
pedofilia e do proxenetismo. Ainda não se levanta nenhuma questão em
torno do cybersexo, nem sobre seus operários “autoempresários” do
“divertimento para adultos”, verdadeiros pilares de uma indústria muito
lucrativa. Não se fala nem mesmo das condições de vida que fizeram essa
pessoa escolher ser esse tipo de profissional.
Ilustração: Allan Sieber
1 Nathalie Bajos et al., Enquête sur la sexualité en France: Pratiques, genre et santé, La Decouverte, 2008, Paris.
2 Alvin Cooper, Sex and the Internet: A Guidebook for Clinicians, Brunner-Routledge, Nova York, 2002.
3
“Is Internet for Porn? An Insight into the On-line Adult Industry”,
seminário WEIS 2010, Universidade de Harvard, 7 e 8 de junho de 2010
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Operários do sexo virtual
Jornada eleitoral histórica para os bascos
O
22 de Maio de 2011 ficará como um importante marco na longa história de
luta e resistência do povo basco. A coligação Bildu - que o Estado
espanhol tentou ilegalizar - conquistou o melhor resultado eleitoral de
sempre para a esquerda independentista. Tornou-se na primeira força, no
País Basco, em número de eleitos, na segunda força em número de votos e
vai governar quase uma centena de câmaras municipais.
Os
números são esclarecedores. Com 99,99 por cento dos votos contados,
obteve 1137 eleitos e um total de 313.151 votos (22 por cento), bem
acima do melhor resultado que havia conquistado em 1999 com o Euskal
Herritarrok. O Partido Nacionalista Basco é a força mais votada no
conjunto dos quatro territórios com 327.011 votos (22,97 por cento) e
881 eleitos. Só depois aparece o PSOE com 16 por cento e o PP com 11,64
por cento. Outras forças independentistas como a Nafarroa Bai tiveram
2,55 por cento e a Aralar 2,26 por cento. A Esquerda Unida chegou aos
2,43 por cento.
Entre as conquistas do Bildu destacam-se Donostia (San Sebastian). A
coligação independentista não só conquistou a capital da Gipuzkoa como
arrebatou a maioria das câmaras municipais daquela província basca. O PP
foi, finalmente, corrido da gestão camarária de certas localidades onde
havia vencido graças à ilegalização da esquerda independentista. Em
Lizartza, que era um desses casos, o Bildu obteve 82,87 por cento dos
votos.
É certo que são eleições municipais, e forais no caso basco, mas
estes resultados evidenciam o carácter anti-democrático do Estado
espanhol. A decisão de ilegalizar o Sortu e a tentativa de ilegalizar o
Bildu, depois de uma década de sucessivos partidos e coligações
proibidos, demonstra que se impediu a participação democrática de
centenas de milhares de cidadãos bascos. Com ou sem apoio à luta armada
da ETA, o direito à expressão pacífica foi violado. Há gente presa e
torturada por opinar. Há jornais e rádios proibidos. Há organizações
juvenis e de defesa dos presos ilegalizadas.
Se o País Basco não vivesse um regime de excepção, o caminho natural
para o PSOE seria abandonar o governo autonómico basco e abrir caminho a
eleições antecipadas. O lehendakari Patxi López sabe que só ocupa
aquele cargo, com o apoio do PP, graças à anulação dos votos da esquerda
independentista. Mas o governo que lançou a polícia contra o seu
próprio povo não obedece a outros interesses senão os do Estado
espanhol. É, pois, pouco provável que o faça.
Em relação à esperança que se levanta no País Basco, é importante
que se reforce a luta pela concretização de um processo de paz que
conduza a uma situação democrática que permita aos bascos decidir o seu
próprio futuro. Também é importante que o Estado espanhol aceite acabar
com a repressão e dialogue com a ETA no sentido da libertação de todos
os presos. A vitória do Bildu é uma vitória de todos os trabalhadores
bascos. Uma vitória não só contra a ocupação mas também contra o
capitalismo.
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Dilma pode ter se baseado em “kit errado” ao vetar cartilha contra homofobia
Presidência e ministro Fernando Haddad não descartam que Dilma tenha visto material do Ministério de Saúde, que foi levado por evangélicos ao Planalto na reunião de quarta-feira
Livretos do Ministério da Saúde apresentados por evangélicos à presidenta Dilma Rousseff podem ter levado à suspensão do kit elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) para combater a homofobia nas escolas públicas. A hipótese não é descartada pela própria Presidência da República e pelo MEC.
Na quarta-feira (25), após encontro com frentes religiosas, Dilma
determinou que fosse reanalisado o material, constituído por um caderno,
seis boletins, três vídeos e um cartaz. A intenção do MEC era ajudar o
debate em salas de aula do Ensino Médio a respeito da discriminação
contra homossexuais.
Informações recebidas pela Rede Brasil Atual dão
conta de que o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), um dos principais
interlocutores do encontro, mostrou à presidenta um material elaborado
pelo Ministério da Saúde. A assessoria do parlamentar descreveu os
títulos dos materiais apresentados na reunião. “O caderno das coisas importantes”
foi elaborado pelo MEC, mas em parceria com o escritório da Organização
das Nações Unidas para Educação e Cultura (Unesco) e sem qualquer
relação com o kit contra a homofobia. Outro, também em parceria com a agência da ONU, é a história em quadrinhos “A vida como é – e as coisas como são”, lançada em 2010 abordando as relações entre filhos homossexuais e seus pais.
Os demais são de um programa do Ministério da Saúde que visa a
reduzir danos no uso de drogas e ao combate a doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs). Ao ser informada por telefone que o material
citado não diz respeito aokit contra a homofobia, a assessoria do deputado afirmou que “chegou a nossas mãos como sendo o kit-gay (sic). De qualquer maneira é pornográfico”.
Uma das ilustrações mostra dois rapazes praticando sexo. O Ministério
da Saúde informou que se trata de um material voltado a um público
absolutamente específico: agentes que trabalham com a prevenção de DSTs e
com viciados em drogas, sem qualquer conexão com o material elaborado
pelo MEC e jamais tendo sido distribuído em escolas.
Origem
A fonte das cartilhas encaminhadas a parlamentares ligados às causas
religiosas é o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política
(Fenasp). O presidente da entidade, Pastor Wilton Acosta, usou parte do
material do Ministério da Saúde em um debate da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão a respeito dos programas do governo federal sobre diversidade sexual.
As mesmas imagens estão disponíveis na página da Fenasp na internet.
A reportagem tentou, sem sucesso, contato telefônico com Acosta. A
secretária-geral da organização, Damares Alves, afirmou não saber se as
cartilhas foram apresentadas a Dilma Rousseff como parte do kit contra
a homofobia. O mesmo material foi levado por Damares a uma reunião com o
ministro da Educação, Fernando Haddad. “A gente quis mostrar para ele
que é uma prática do governo a produção de material de mau gosto”,
explica.
Ela lamenta que o combate à homofobia tenha se transformado “em
prioridade” para o ministério e avalia que a campanha que seria
difundida pelo kit não ajudaria a combater o problema.
Damares considera que mostrar relações homoafetivas não vai colaborar
em nada para a discussão. “Como dizer que não vivemos a normalidade da
heterossexualidade? Isso pode mudar nas próximas gerações, mas essa
geração ainda entende a normalidade na heterossexualidade”, questiona.
Incertezas
Incertezas
A assessoria de comunicação da Presidência da República afirmou não
haver condições de afirmar se Dilma viu ou não o material correto. A
informação é de que Dilma analisou as cartilhas e os vídeos sem a
presença de assessores ou do ministro da Educação.
Em rápido pronunciamento a jornalistas nesta quinta-feira (26), a
presidenta afirmou não ter visto os filmes, mas considerou o material
inadequado. “Não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer
propaganda de opções sexuais, nem de nenhuma forma nós não podemos
interferir na vida privada das pessoas”, disse.
O ministro da Educação confirmou que a presidenta não soube precisar se o material a que teve acesso faz parte dokit contra
a homofobia. Haddad lembrou que filmes e textos que circulam pelo
Congresso são de campanhas do Ministério da Saúde, levando à
desinformação de alguns parlamentares e da sociedade. “Houve muita
confusão a respeito. Quando uma discussão deixa de ser técnica e passa a
ser política você tem muita dificuldade de organizar um debate racional
sobre o assunto”, lamentou o ministro, que considera acertada a decisão
de suspender a distribuição das cartilhas em meio a um cenário de
turbulência.
A ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM),
Iriny Lopes, foi outra que ponderou que a decisão não representa um
retrocesso nas políticas governamentais de conquistas de direitos. “O
programa de enfrentamento à homofobia é um programa definitivo. Ele não
sofrerá retrocessos. O governo da presidenta Dilma é pautado pela
questão de direitos, a presidenta tem demonstrado isso em todos os seus
gestos”, disse.
A determinação do Planalto é que qualquer material relativo aos
direitos sociais terá de passar por análise de uma comissão a ser
montada no Palácio do Planalto antes de vir a público.
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quinta-feira, 26 de maio de 2011
"Dois séculos de conquistas estão sendo jogados no lixo"
A Carta Maior reproduz a entrevista concedida ao jornalista Jaume Barberà e destaca alguns trechos da fala de Galeano:
Em entrevista à Televisão da Catalunha, o escritor uruguaio Eduardo Galeano fala sobre as mobilizações que levaram milhares de jovens para as ruas de diversas cidades espanholas nos últimos dias. "Esse é um dos dramas do nosso tempo. Dois séculos de lutas operárias que conquistaram direitos muito importantes para a classe trabalhadora, estão sendo jogados na lata de lixo por governos que obedecem à uma tecnocracia que se julga eleita pelos deuses para governar o mundo. É uma espécie de governo dos governos, como este senhor que agora parece que se dedica a violar camareiras, mas antes violava países e era aplaudido por isso".
Singulars - TV3 (Catalunha)
Em entrevista ao programa "Singulars", da
Televisão da Catalunha (TV3), o escritor uruguaio Eduardo Galeano fala
sobre as manifestações dos últimos dias que levaram milhares de jovens
para as ruas de diversas cidades espanholas. Galeano esteve em Madri e
pode presenciar ao vivo as mobilizações na Porta do Sol.
Disponibilizamos abaixo a entrevista concedida ao jornalista Jaume
Barberà e destacamos alguns trechos da fala de Galeano:
"Há
hoje em quase toda a América Latina um problema visível e preocupante
que é o divórcio entre os jovens, as novas gerações, e o sistema
político, o sistema de partidos vigente. Eu não reduziria a política à
atividade dos partidos, por que ela vai muito mais além, mas isso é
preocupante mesmo assim".
"Nas últimas eleições chilenas, por exemplo, 2 milhões de jovens não votaram. E não votaram porque não se deram ao trabalho de fazer o registro eleitoral. Suponho que a maioria não fez o registro por que não acredita nisso. E me parece que isso não é culpa dos jovens. Neste sentido, gostei muito de ter presenciado essas manifestações que tive oportunidade de ver na Porta do Sol".
"Um dos lemas que ouvi era 'com causa e sem casa', o que é muito revelador da situação atual. Muitos daqueles jovens ficaram sem casa e sem trabalho. Isso deve ser levado em conta. Esse é um dos dramas do nosso tempo. Dois séculos de lutas operárias que conquistaram direitos muito importantes para a classe trabalhadora, estão sendo jogados na lata de lixo por governos que obedecem à uma tecnocracia que se julga eleita pelos deuses para governar o mundo".
"É uma espécie de governo dos governos, como este senhor que agora parece que se dedica a violar camareiras, mas antes violava países e era aplaudido por isso. É essa estrutura de poder, muitas vezes invisível, que de fato manda. Por isso, quando se consegue aglutinar vozes capazes de dizer 'basta' a primeira coisa a fazer é ouvi-las com respeito, sem desqualificá-las de antemão e saber esperar. Esses jovens não parecem esperar ordens de ninguém. Agem espontaneamente, aliando razão à emoção. Como vai acabar isso? Não sei. Talvez acabe logo, talvez não. Vamos ver".
"O mundo está preso em um sistema de valores que coloca o êxito acima de todas as virtudes. Ele é uma fonte de virtudes. Em troca, condena o fracasso. Perder é o único pecado para o qual, no mundo de hoje, não há redenção. Estamos condenados a ganhar ou ganhar. Os dois homens mais justos da história da humanidade, Sócrates e Jesus, morreram condenados pela Justiça. Os mais justos foram condenados pela Justiça. E nos deixaram coisas muito importantes como amor e coragem".
"Nas últimas eleições chilenas, por exemplo, 2 milhões de jovens não votaram. E não votaram porque não se deram ao trabalho de fazer o registro eleitoral. Suponho que a maioria não fez o registro por que não acredita nisso. E me parece que isso não é culpa dos jovens. Neste sentido, gostei muito de ter presenciado essas manifestações que tive oportunidade de ver na Porta do Sol".
"Um dos lemas que ouvi era 'com causa e sem casa', o que é muito revelador da situação atual. Muitos daqueles jovens ficaram sem casa e sem trabalho. Isso deve ser levado em conta. Esse é um dos dramas do nosso tempo. Dois séculos de lutas operárias que conquistaram direitos muito importantes para a classe trabalhadora, estão sendo jogados na lata de lixo por governos que obedecem à uma tecnocracia que se julga eleita pelos deuses para governar o mundo".
"É uma espécie de governo dos governos, como este senhor que agora parece que se dedica a violar camareiras, mas antes violava países e era aplaudido por isso. É essa estrutura de poder, muitas vezes invisível, que de fato manda. Por isso, quando se consegue aglutinar vozes capazes de dizer 'basta' a primeira coisa a fazer é ouvi-las com respeito, sem desqualificá-las de antemão e saber esperar. Esses jovens não parecem esperar ordens de ninguém. Agem espontaneamente, aliando razão à emoção. Como vai acabar isso? Não sei. Talvez acabe logo, talvez não. Vamos ver".
"O mundo está preso em um sistema de valores que coloca o êxito acima de todas as virtudes. Ele é uma fonte de virtudes. Em troca, condena o fracasso. Perder é o único pecado para o qual, no mundo de hoje, não há redenção. Estamos condenados a ganhar ou ganhar. Os dois homens mais justos da história da humanidade, Sócrates e Jesus, morreram condenados pela Justiça. Os mais justos foram condenados pela Justiça. E nos deixaram coisas muito importantes como amor e coragem".
UERGS: lua de mel com Governo Tarso pode acabar
Aclamado e esperado pela maioria declarada de professores, alunos e
funcionários, bem como de toda a comunidade envolvida direta ou
indiretamente com a Instituição, representando o Governo que poderia
reconstruir a UERGS, o Governo Tarso pode estar na berlinda mais cedo do
que imagina.
Se por um lado a UERGS perde professores e funcionários para Empresas
e Instituições de Ensino estruturadas com Plano de Carreira e segurança
no emprego, de outro o Governo do Estado continua contando com a UERGS
como apoio para reestruturar a Educação no Estado. Além deste, a
Instituição é procurada para dar sustentabilidade em projetos
educacionais, culturais, tecnológicos por inúmeros Movimentos Sociais
que se organizaram sob o nome de Movimento dos Movimentos Sociais
Pró-UERGS. Por conta dessas buscas todas, somadas aos alunos que, agora
aliviados da tortura do Vestibular, chegam a nós pelo SISU, a
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul começa a se estabelecer para
ser aquela que foi sonhada por todo o Rio Grande: A Universidade de
Pensamento do Estado.
Porém, amor não sobrevive apenas de nuvem fresca e ar assado! Sem
receber diárias, sem retorno do transporte efetuado entre unidades para
manutenção das aulas, sem aumento, com carga horária extrapolada, sem
condições de tempo para fazer aperfeiçoamento ou desenvolver projetos de
Pesquisa e Extensão, os poucos professores que restaram na UERGS ainda
receberam, nesta última sexta-feira, uma proposta de Plano de Carreira,
do Governo do Estado, que não contempla sequer as condições básicas de
sobrevivência para qualquer professor de Ensino Superior: DEDICAÇÃO
EXCLUSIVA (1ª), Progressão por Titulação (2ª) e no mínimo Equiparação
Salarial com as Universidade Federais (3ª);
Ainda, houve o constrangimento moral das negociações estarem sendo
conduzidas por alguns dos mesmos funcionários do GAE que, por tantas
vezes deixaram os professores da UERGS sem palavras, por simplesmente
não apresentarem nada para a Instituição, passando outros órgãos do
Estado a frente de sua estabilização, o que tem causado a evasão de
quadros.
Ressalva seja feita de que parece que o Governo está decidido a
resolver a situação, isso é bom, parece que acabou a “sessão-enrolação”
dos governos passados, porém, o que sobrou para a UERGS? Ainda que o
proposto aos funcionários possa parecer interessante, a classe docente é
inteiramente desrespeitada e desconsiderada. Fosse no governo anterior,
eu não teria a menor dúvida de que isso seria uma estratégia para jogar
“ermão contra ermão”, como dizia a canção “Colorada” do Silva Rillo e
do Mário Barbará. Entretanto, acredito no Governo Tarso. Penso que pode
ter sido uma falha de percepção, talvez um engano de método, um
desconhecimento do funcionamento do Sistema do Ensino Superior. Um lapso
que poderia ser evitado se fosse seguido o projeto de Plano de Carreira
apresentado pela UERGS ao Governo Estadual, ainda no Governo passado.
Esse foi discutido e aprovado pelo CONSUN (Conselho Superior), onde
estão representados todos os segmentos da Universidade, dentre eles, a
comunidade. Esse direito é garantido pela LDB, que fixa normas e
competências dentro da autonomia universitária para que a Universidade
estabeleça sua política de pessoal e seus planos de carreira docente e
técnico administrativo, tais diretrizes podem ser conferidas no art. 17
da Lei de criação 11646, bem como, em seu estatuto Decreto Lei 43240 de
15 de julho de 2004, artigos 3º- §III e 5º – §V. Ainda que o Estado não
se sentisse confortável para simplesmente aprovar esse Plano, que foi
explicado pela nova Gestão da UERGS em reunião com o GAE, inclusive,
poderia ter pelo menos levado em conta que professor tem Carreira, não
Emprego.
Lapso, ou não, nunca se viu tanta articulação dentre uma comunidade
universitária para que se abrisse concurso para a entrada de professores
novos, entretanto, enquanto a UFSM com toda a sua tradição, segurança
funcional e profissional abre concursos para 41 vagas, praticamente nas
mesmas áreas da UERGS, conseguimos concursos a conta-gotas, oferecendo
aos futuros colegas trabalho em três ou quatro cidades SIMULTANEAMENTE
(que é o que fazemos em geral), sem restituição de diárias, transporte,
sem plano de carreira, sem Dedicação Exclusiva, sem progressão e pela
metade do salário! Sinceramente, como se vai constituir uma Universidade
assim? A partir dessa segunda-feira, os professores da UERGS estarão
estudando a proposta do Governo para apresentar mudanças, rejeitada ela
já está pela Assembléia dos docentes acontecida no SINPRO, no dia 20/5.
Amor, amor, negócios à parte. Quem já não ouviu isso? A UERGS, com o
coração partido, começa a articular entre sussurros e mágoas, o que
passou a chamar de “Fora Tarso!”, em comparação ao que se fez com a
ex-governadora, cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado para que caia no
esquecimento. Não é o que queremos. Queremos estar juntos nessa
reconstrução tão sonhada. Nós trabalhamos para eleger Tarso Genro.
Acreditamos em cada palavra do que Tarso disse em todo o Estado, quando
procurado pelos nossos colegas, sobre a UERGS. Nós continuamos
trabalhando num sobre-esforço, para manter a Universidade, para não
espantar os alunos, para garantir financiamentos em projetos grandes,
que beneficiem aos que mais necessitam, que contemplem as expectativas
dos novos tempos, como reza o texto do Prof. Ludwig Buckup, grande
ambientalista gaúcho, em mensagem à Reitoria da UERGS, tratando de
ecologia em nome do Movimento dos Movimentos Pró-UERGS: “A universidade
precisa estar atenta as mudanças globais e incorporar os saberes
resultados de suas pesquisas na formação de profissionais mais
preparados para atuar na sociedade em busca de soluções para a grave
ameaça ambiental que se avizinha, como a crise energética, o aquecimento
global, a perda progressiva da diversidade biológica, a crise da água, a
fome, a pobreza, apenas para citar alguns aspectos mais relevantes.”
Finalizando, tomo a liberdade de citar outra canção, bem conhecida e
popular: “Sim, é como a flor
Dê água e ar, luz e calor, o amor precisa para viver! De emoção, e de alegria, e tem que regar todo dia.” É hora de Tarso Genro olhar pessoalmente para seu jardim! De tomar para si as negociações do Plano de Carreira dos docentes da UERGS, independente do SINPRO, independente da ADUERGS, independente dos funcionários do GAE, agora é hora do Governador provar o quanto a UERGS vale no âmbito de seu projeto de Estado para os cidadãos e cidadãs que o elegeram em primeiro turno! Foram oito anos de espera e resistência, a hora da UERGS é agora!
Dê água e ar, luz e calor, o amor precisa para viver! De emoção, e de alegria, e tem que regar todo dia.” É hora de Tarso Genro olhar pessoalmente para seu jardim! De tomar para si as negociações do Plano de Carreira dos docentes da UERGS, independente do SINPRO, independente da ADUERGS, independente dos funcionários do GAE, agora é hora do Governador provar o quanto a UERGS vale no âmbito de seu projeto de Estado para os cidadãos e cidadãs que o elegeram em primeiro turno! Foram oito anos de espera e resistência, a hora da UERGS é agora!
* Mestre em Comunicação Social e professora da UERGS
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movimentos sociais
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O papel de Palocci na nova estratégia petista
Escrito por Juliano Medeiros no Correio da Cidadania | |
Desde o final do ano passado, um dado vinha me intrigando. Só agora, com
as denúncias envolvendo o ministro da Casa Civil, os números passaram a
fazer sentido. Em dezembro foram divulgadas as prestações de contas dos
candidatos à presidência da República. Segundo as informações
apresentadas pelas coligações à Justiça Eleitoral e amplamente
divulgadas pela imprensa, tanto Dilma quanto José Serra receberam
grandes somas dos principais grupos econômicos do país.
Entretanto, a origem dos recursos recebidos por ambos é levemente
distinta. Dilma foi financiada principalmente por empreiteiras e
construtoras, largamente beneficiadas pelo Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC. Mais de 25% de suas doações vieram de empresas como
Camargo Corrêa, OAS e Queiróz Galvão. Em seguida, aparecem empresas do
ramo do agronegócio. A maior doação de toda a eleição veio da JSB
Friboi, que investiu mais de R$ 10 milhões na campanha da petista. Essas
empresas, como é de conhecimento público, têm acesso a grandes
financiamentos junto ao BNDES e se beneficiaram durante todo o governo
Lula de uma política econômica favorável a seus interesses. Portanto,
nada mais natural que na eleição demonstrassem sua gratidão.
A candidatura de Serra, por sua vez, teve como principal fonte de
doações o sistema financeiro. Seu principal doador foi o Unibanco (R$ 4
milhões), seguido por outros agentes de crédito, bancos e similares. Os
bancos também estão entre os mais generosos doadores da campanha de
Dilma, demonstrando que o sistema financeiro não vê grandes diferenças
entre os dois projetos. Ao contrário, o número de doações de
empreiteiras e construtores para a campanha de Serra é muito menor em
comparação com a campanha de Dilma.
Em geral os grandes grupos econômicos que optaram por realizar doações
para ambas as candidaturas deram a elas um tratamento minimamente
isonômico, dividindo por dois os recursos entre Dilma e Serra. Apenas
alguns poucos dentre esses doadores preferiram deixar clara sua opção
por um em detrimento de outro. Foi o caso da gigante do aço Gerdau, que
doou R$ 3 milhões para Serra e apenas R$ 1,5 milhão para Dilma.
Portanto, não é uma simples ironia do destino o fato de Dilma ter
convidado recentemente o líder o grupo, Jorge Gerdau Johannpeter, para
coordenar em seu governo a implantação do novo modelo de gestão pública,
inspirado na administração privada.
Assim, a análise a ser feita, e que volta a aparecer em algumas
formulações sobre o caráter do governo Dilma, é que as frações da
burguesia – considerando-se que ela não é um bloco monolítico cujos
interesses fluem sempre num mesmo sentido – se dividiram claramente nas
últimas eleições entre Serra e Dilma. Uma parte, a burguesia
agro-exportadora, assumiu seu compromisso com a reeleição do projeto
liderado pelo PT.
Nesse bloco estão empreiteiras e construtoras, os barões do agronegócio,
a indústria da mineração, siderurgia e petróleo, entre outros. Outra
parte, representada principalmente pelo capital financeiro, se dividiu
entre Dilma e Serra, com uma indisfarçável preferência pelo segundo. É
essa a principal informação que a prestação de contas das duas
principais candidaturas presidenciais nos forneceu desde dezembro: a
disputa entre os blocos de poder hoje se dá em torno da busca de aliados
no campo da burguesia.
Essa conclusão nos ajuda a entender as opções de Dilma nos seus
primeiros meses de governo. A privatização dos aeroportos, a alta dos
juros e a preocupação com a inflação, a sinalização de uma profunda
reforma administrativa e os cortes de R$ 50 bilhões do orçamento tem um
objetivo claro: ganhar definitivamente a confiança do capital financeiro
e tornar o projeto de conciliação de classes liderado pelo PT
unanimidade entre a grande burguesia. Até o momento, Dilma e seu governo
têm tido sucesso em sua empreitada: os analistas vinculados ao grande
capital estão eufóricos com as primeiras medidas. Na edição da
revista Exame deste mês, por exemplo, a privatização dos aeroportos é
saudade como o início do "fim da ideologia estatista" no Brasil. Da
mesma forma, ficarão gravados nos anais do jornalismo econômico e
político os afagos de Miriam Leitão e Arnaldo Jabor ao novo governo,
cobrindo Dilma de elogios.
A questão, essa sim menos simples, é onde entra Palocci nisso tudo. O
ministro é peça chave nesse esquema. Tem relações privilegiadas no
sistema financeiro e entre os principais grupos econômicos do país. É um
dos fiadores do compromisso do governo com a estabilidade econômica e o
principal articulador político da manutenção dessa estabilidade. Mas
antes de tudo, Palocci é um soldado deste projeto. As denúncias de
enriquecimento duvidoso envolvendo o ministro e sua empresa, a Projeto,
têm origem no papel que Palocci ocupa nesse intrincado arranjo.
Segundo as notícias que têm sido veiculadas, a Projeto arrecadou cerca
de R$ 10 milhões em apenas dois meses, coincidentemente logo após a
campanha de Dilma. Vale lembrar que o PT anunciou uma dívida de mais de
R$ 20 milhões em sua prestação de contas. Logo, parece evidente que o
caso não se trata apenas de tráfico de influência entre a esfera pública
e privada – o bom e velho lobby – mas de um esquema de captação de
recursos por fora da contabilidade oficial da campanha. Longe de ser um
"aloprado", Palocci era um canal confiável para uma operação deste tipo.
De qualquer forma, seja qual for o papel de Palocci e da Projeto no
esquema que ora começa a ser desvendado, é evidente que o governo jogará
a vida para salvar o ministro: ele é o homem forte da tática de diálogo
com os poucos setores da burguesia que ainda resistem ao projeto do
governo. Esse é o papel de Palocci, por isso o governo o protegerá até
onde puder. Ele é peça chave em sua nova estratégia. Por sua vez, a
mídia monopolista e a oposição conservadora, comprometidas em preservar
os interesses de muitos atores envolvidos, não poderão chegar à raiz dos
fatos. Tratarão de proceder a uma condenação moral de Palocci, mantendo
o governo refém da instabilidade política com a qual a burguesia
consegue sempre arrancar mais e mais concessões do governo. E a análise
do sentido das movimentações de Dilma e Palocci, desde a campanha até
agora, passará batida.
Caberá àqueles que compreendem a íntima relação entre doações de
campanha, compromissos políticos e projetos de poder fazer esta denúncia
nos termos adequados.
Juliano Medeiros é jornalista e editor do Unamérica
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terça-feira, 24 de maio de 2011
Para professor da UFRGS, livro do MEC não traz “nenhum absurdo”
Igor Natusch no Sul21
“Posso falar ‘os livro’? Claro que pode”. A frase, contida em um
livro didático da coleção “Viver, Aprender”, provocou polêmica e foi
repetida incessantemente como exemplo de que o MEC, que está
distribuindo o livro, está incentivando a população a escrever errado,
desprezando a norma culta. A reação negativa, reproduzida por alguns
deputados e senadores, é fortemente questionada por estudiosos da língua
portuguesa, que alegam não apenas que a discussão está fora de foco,
como também ataca ideias que não são nenhuma novidade dentro do panorama
da linguística. “O livro não traz nenhum absurdo, tanto no estudo da
linguística quanto em termos de metodologia”, garante o professor Pedro
Garcez, do Departamento de Linguística, Filologia e Teoria Literária da
UFRGS.
Segundo Garcez, as frases que estão sendo destacadas e repetidas nos
meios de comunicação estão em um contexto adequado, inseridas em uma
discussão sobre concordância verbal. Para ele, trata-se de um dos
aspectos “mais salientes” quando se trata de linguagem adequada ou
inadequada. “Muitos erros gramaticais são comuns na linguagem oral,
correntes até, mas não doem no ouvido”, explica ele. “Mas a concordância
é algo que perturba, ainda mais quando reproduzida na escrita. Pessoas
que não estão familiarizadas com a discussão linguística acabam ficando
um pouco chocadas, ainda mais se levarmos em conta o modo como a
discussão foi colocada na mídia. A coisa chegou muito de supetão”,
afirma.
O livro didático que tornou-se pivô da polêmica segue conceitos de
variação linguística adotados no currículo educacional brasileiro desde
1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais foram adotados pelo Ministério da Educação na
primeira gestão do ministro Paulo Renato Souza, a partir de estudos de
linguagem que, segundo Pedro Garcez, já existem há mais de 40 anos.
Mesmo assim, a Academia Brasileira de Letras (ABL) divulgou nota
posicionando-se de forma contrária ao uso dos livros didáticos
distribuídos pelo MEC. “O manual que o Ministério levou às nossas
escolas não o ajudará no empenho pela melhoria a que o ministro tão
justamente aspira”, diz a ABL. Em resposta, o Ministério da Educação
declarou que “o reconhecimento da variação linguística é condição
necessária para que os professores compreendam seu papel de formar
cidadãos capazes de usar a língua com flexibilidade. Cabe à escola o
papel de criar situações de aprendizagem que possibilitem aos estudantes
utilizar diversas variedades linguísticas”.
“No cotidiano, dizer ‘as coisa’ ou ‘os negócio’ é comum ao povo
brasileiro, não é algo que apenas pobres ou ignorantes fazem”, afirma
Pedro Garcez. E dá outros exemplos que demonstram que, no dia a dia,
falar “errado” é mais comum do que se imagina. “É natural apagar o
plural nas proparoxítonas, dizer ‘nós tava’, ao invés de ‘nós
estávamos’, por exemplo. No Nordeste, praticamente não existe mais
morfologia do verbo na língua falada. É ‘eu tava’, ‘ele tava’, ‘nós
tava’, ‘eles tava’. Um uso generalizado”. Os próprios jornais, segundo
Garcez, adotam liberdades que não cabem na chamada norma culta, como a
colocação do pronome após o verbo (por exemplo, “escolheram ele”).
Trechos do livro foram citados fora do contexto, diz Garcez
Nenhuma dessas variantes, porém, deve ser incorporada na norma
escrita – nem de acordo com os livros didáticos do MEC, nem de acordo
com os estudos de linguística. É o que garante Pedro Garcez.
Na leitura
do professor da UFRGS, trata-se apenas de reconhecer a existência de
variações entre a linguagem falada e a escrita, e em trabalhar conceitos
de adequação e inadequação. “Imagine uma peça publicitária usando
imperativo, dizendo algo tipo ‘não deixes de vir’. É algo que não daria
certo, seria inadequado”, comenta.
O temor de que haja uma incorporação da linguagem coloquial pela
norma escrita, admitindo diferentes formas de escrever, é infundado,
segundo Garcez. “Há um caráter meio preconceituoso nessa visão de que,
se isso acontecer, as pessoas não vão mais se entender”, acusa. “O
contexto do que é exposto no livro é justamente o oposto. Para mostrar a
importância de melhorar o texto, se fala da necessidade de aprender
itens de correção gramatical. São vários pontos, como pontuação,
estrutura frasal… E aí chega-se na concordância, dizendo que, dependendo
do contexto, não há nada de errado em dizer ‘nós faz’, mas escrever
‘nós faz’ criará uma série de dificuldades”.
Outro elemento contestado por Pedro Garcez refere-se à ideia,
defendida por alguns críticos do livro didático do MEC, de que o domínio
da dita norma culta é um mecanismo de ascensão social. O argumento
surge também na nota divulgada pela ABL sobre o episódio. “Me parece um
raciocínio bastante equivocado”, diz o professor da UFRGS. “O mundo é
muito mais complexo do que isso. Concordo que para espaços públicos,
para a discussão política, o cidadão precisa dominar essa linguagem. Mas
não é uma garantia (de ascensão social). De nada adianta falar
‘corretamente’, entre aspas, e não ter outras tantas qualificações
necessárias”.
Por fim, o professor de linguística da UFRGS lembra que a manutenção
de certos conceitos, além de ignorar o dinamismo da linguagem falada,
acaba sendo lucrativa para alguns grupos. “Professores como Pasquale
(Cipro Neto), Cláudio Moreno e todos os que publicam obras do tipo ‘Não
Erre Mais’ acabam se beneficiando disso (confusão entre língua falada e
norma escrita)”, argumenta Pedro Garcez. “Não existe certo ou errado na
linguagem falada, e sim adequado ou não adequado. ‘Nós pega peixe’ não
encaixa dentro da norma escrita, mas não dá para ignorar que as pessoas
usam esse tipo de construção gramatical no dia a dia, enquanto conversam
entre si”, conclui.
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O código do atraso
As
lideranças ruralistas c/ forte influência e trânsito nos arcos e
cúpulas de Brasília parecem ter certeza da aprovação de um substitutivo
que finalmente as desobrigará do cumprimento de exigências que estão
previstas em lei desde o governo do pres. Getúlio Vargas, qdo foi
editada a 1 versão do Código Florestal (1934)
|
por João Paulo R. Capobianco no LeMonde-Brasil |
A discussão
sobre florestas está nas primeiras páginas dos jornais e no horário
nobre das emissoras de rádio e televisão. A boa notícia é que, dessa
vez, o acalorado debate não é consequência da divulgação de números
alarmantes de derrubadas na Amazônia.
Graças a uma atuação
firme de combate ao desmatamento iniciada no primeiro governo Lula, que
teve continuidade no segundo e, espera-se, prossiga no de Dilma
Rousseff, os índices vêm diminuindo ano a ano. O monstro, que parecia
incontrolável e nos assombrou e envergonhou durante os séculos em que
reinou na Mata Atlântica e na Caatinga e as décadas em que ditou as
regras na Amazônia e no Cerrado, mostrou sua fragilidade ao ter que
enfrentar compromisso político e ação firme do governo, impulsionado a
agir pela pressão da sociedade.
A má notícia, entretanto, é que essa intensa
discussão não é motivada pela evidente necessidade de aperfeiçoamento da
legislação florestal, a fim de torná-la mais moderna e compatível com o
atual momento em que vivemos. Momento este, marcado por um forte
crescimento da consciência ambiental e da valorização dos princípios da
sustentabilidade.
O que estamos
assistindo, é uma disputa desigual entre os que querem impor uma
flexibilização total das normas de conservação e os que,
impossibilitados de fazer a agenda avançar, estão na defensiva, tentando
garantir que o estrago seja o menor possível.
Essa não é a primeira vez que parlamentares da
intitulada “bancada ruralista”, constituída pelo que há de mais atrasado
no campo, tentam flexibilizar a legislação. Em 2000 quase conseguiram.
Não fosse a vigorosa reação da opinião pública e a resistência de alguns
poucos parlamentares, que levaram o então presidente Fernando Henrique
Cardoso a intervir no processo, teria sido aprovado o famigerado
relatório do Deputado Micheletto (PMDB-PR), que literalmente destruiria
os instrumentos legais de proteção da vegetação nativa do país.
Um período de avanços
Desde essa última investida até agora, algumas
coisas mudaram nos processos de degradação florestal. E a mudança foi,
finalmente, após décadas de descontrole, para melhor.
Na Amazônia, entre 2004 e 2010, o desmatamento anual
despencou de 27.423 km² para 6.451 km², atingindo a menor taxa
registrada desde que teve início o monitoramento realizado pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1988. Nos demais
biomas o desmatamento também entrou em declínio, embora no Cerrado os
índices ainda sejam alarmantes.
Para se chegar a esse resultado, ainda não
completamente satisfatório, visto que o desmatamento, embora menor,
continua em proporções muito altas, foi implementado um conjunto inédito
de fortes medidas de controle.
Somente na Amazônia, onde o governo concentrou seus
esforços no período de 2004 a 2010, foram criadas cerca de 261 mil km²
de unidades de conservação e homologadas aproximadamente 180 mil km² de
terras indígenas. Essas novas áreas protegidas tiraram do alcance de
especuladores e grileiros uma área equivalente à soma dos territórios
dos estados de São Paulo e do Paraná.
Para tornar ainda mais eficiente a ação contra a
grilagem, um dos principais fatores de desmatamento na Amazônia, foram
cancelados nos cadastros do Incra mais de 66 mil títulos de posses
ilegítimas e modificados radicalmente os mecanismos e procedimentos para
registro de posse.
Somaram-se a isso as operações do Ibama integradas
com a Polícia Federal e polícias ambientais dos estados que levaram ao
fechamento de aproximadamente 1.500 empresas clandestinas, apreensão de
milhões de metros cúbicos de toras, desmonte de máfias da madeira e da
especulação de terras públicas, que operavam há décadas na região, e a
prisão centenas de pessoas, incluindo funcionários públicos dos governos
federal e estaduais.
Complementando essas medidas, vieram outras no campo
legal, como a aprovação da Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei
11.482/06) e da Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06) e a edição de
vários decretos, em especial os de números 6.321/07 e 6.514/08, que
definiram mecanismos muito consistentes para fazer valer o cumprimento
do Código Florestal.
Contraofensiva ruralista
Conhecendo esse
contexto, fica evidente não ser mera coincidência o momento escolhido
para esse grande esforço empreendido pelos ruralistas, no sentido de
buscar promover a completa desestruturação da legislação de proteção à
vegetação nativa do país. Ele é consequência direta da percepção de que
os produtores rurais em situação irregular enfrentariam cada dia mais
dificuldades para continuarem a deixar de aplicar as exigências legais,
frente os novos mecanismos de controle e punição engendrados nos últimos
anos.
O movimento antiambiental em andamento agora na
Câmara, entretanto, tem uma diferença fundamental em relação ao de 2000:
ele foi, dessa vez, minuciosamente preparado em todos os seus aspectos.
Do ponto de vista processual, ressuscitaram um
projeto de 1999, que já tinha sido arquivado duas vezes e o submeteram à
análise de uma comissão especial criada em setembro de 2009 pelo então
presidente da Câmara, Michel Temer, composta quase que exclusivamente
por parlamentares ligados ao setor ruralista.
Do ponto de vista político designaram o comunista
Aldo Rebelo como relator. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rebelo é
detentor de profundo conhecimento dos processos legislativos, obtido em
seus cinco mandatos consecutivos.
Do ponto de vista
técnico foram ainda mais longe. Fizeram surgir dois relatórios
produzidos por uma unidade da Embrapa, a “Embrapa Monitoramento por
Satélite”, de resultados discutíveis, mas muito úteis às teses
ruralistas.
Um deles intitulado
“Alcance territorial da legislação ambiental e indigenista”, baseado em
leitura tendenciosa dos dispositivos legais em vigor e em erros
primários de aritmética, serviu de argumento para sustentar um suposto
engessamento territorial da agropecuária brasileira pela legislação
ambiental. Amplamente divulgado em audiências públicas e alardeado pelos
líderes ruralistas por todo o país, o relatório chegou a afirmar que a
área disponível para a agropecuária era “negativa” no Brasil.
Outro relatório, ainda mais questionável, intitulado
“A dinâmica das florestas no mundo”, afirmava que nos últimos 8 mil
anos o volume de florestas no Brasil teria saltado de 9,8% para 28,3% em
relação ao total existente no planeta. Tal proeza, segundo os autores,
deveria render louros e reconhecimento internacional e não mais pressões
pela conservação. O estudo só não esclareceu aos leitores que o
desmatamento em nosso país atingiu taxas anuais de proporções tão
grandes que, mantido o ritmo do início dos anos 2000, estaríamos
repetindo em poucas décadas o mesmo erro cometido em séculos pelos
demais países criticados no relatório.
Dessa forma, com uma comissão blindada pelos
representantes do setor ruralista, um relator de reconhecida competência
parlamentar e trânsito no Congresso Nacional e estudos técnicos de
encomenda, o resultado não poderia ser outro. No dia 6 de julho de 2010,
a Comissão Especial destinada a proferir relatório sobre o Projeto de
Lei 1.876 de 1999, aprovou o substitutivo de Aldo Rebelo por treze votos
a favor e cinco contra.
Com a justificativa
de que há um enorme contingente de produtores rurais em situação
irregular, o que é verdade, e que seria necessário aprimorar os
mecanismos que estimulem, apoiem e facilitem a regularização, com o que
todos concordam, o substitutivo modifica profundamente as exigências
legais atualmente em vigor.
As alterações propostas fazem que, como num passe de
mágica, as irregularidades deixem de existir e o que era um passivo
ambiental de uma propriedade rural praticamente desapareça. Com isso,
muito pouco do que foi ilegalmente desmatado permanece com a obrigação
de ser recuperado ou compensado, como exige a legislação brasileira
desde 1934.
Uma comparação com as
iniciativas governamentais de regularização do pagamento de impostos,
os chamados Programas de Recuperação Fiscal (Refis), pode ajudar a
entender a questão.
O Refis visa criar oportunidades para o recolhimento
de impostos atrasados, que dificilmente seriam pagos em condições
normais de prazos e incidência de juros. Além disso, tem o objetivo de
regularizar a situação dos contribuintes inadimplentes que ficam sem
acesso ao credito público. Para tanto é dado um desconto e os valores
são parcelados de forma a tornar viável o pagamento.
O substitutivo de Aldo Rebelo tenta criar uma
espécie de “Refis para devedores de Reserva Legal e áreas de preservação
permanente”. O problema é que ele propõe mudanças tão radicais na
legislação que seriam comparáveis ao governo mudar a alíquota do imposto
que está atrasado durante a negociação do pagamento da dívida. Ora, se a
alíquota é alterada para menor, como exigir que os devedores paguem os
valores atrasados calculados com uma alíquota que já não existe.
Contrariando a justificativa original de facilitar a
regularização, o substitutivo retira propriedades da situação
irregular, sem que o proprietário rural tenha que corrigir pelo menos
parte do ato ilegal praticado.
Esse é um dos efeitos mais perversos do texto, pois
acaba por beneficiar quem desmatou em detrimento de quem cumpriu a lei e
possui parte de sua propriedade com Reserva Legal e APP conservada.
O outro efeito negativo, tão grave quanto o
primeiro, é que ao diminuir a dimensão das áreas que devem ser mantidas
com vegetação nativa, conforme veremos a seguir, o substitutivo torna
possível a autorização de desmatamento de extensas áreas hoje protegidas
pelo atual Código Florestal.
Estímulo aos desmatamentos
É forçoso reconhecer
que o substitutivo de Rebelo foi engenhosamente construído. Salvo
dispositivos escandalosamente antiambientais, a maioria dos problemas
está nos detalhes de um texto que possui 55 artigos e 37 páginas. Os
principais são expostos a seguir:
1.
Introdução do conceito de “Área rural consolidada”. Ao definir essa
nova figura legal, o substitutivo simplesmente converte para essa
categoria as ocupações irregulares feitas até 22 de julho de 2008 em
fragrante desrespeito à legislação ambiental. Mais do que um jogo de
palavras, introduz uma ideia que será posteriormente defendida à
exaustão, de que o que está feito não deve ser revertido. Uma espécie de
direito adquirido para quem desrespeitou a legislação ambiental.
2.
Ampliação do conceito de pequena propriedade rural, sem critérios
socialmente adequados, possibilitando o aumento significativo de
proprietários rurais beneficiados pelo tratamento diferenciado e
preferencial dado aos pequenos produtores rurais, mesmo sem o serem.
3. Modificação
do parâmetro para o cálculo das áreas de preservação permanente (APP)
nas margens dos rios, levando à redução das áreas que se encontram em
situação irregular e que, portanto, teriam que ser recuperadas, além de
permitir futuras autorizações de desmatamento onde hoje é proibido.
4.
Redução de 30 para 15 metros a faixa de proteção (APP) das margens de
rios de até cinco metros. Essa modificação, combinada com a anterior,
vai reduzir drasticamente a proteção legal das matas ciliares,
desobrigando a recuperação ou viabilizando novos desmatamentos.
5. Liberação da ocupação e desmatamentos da vegetação nativa situada em altitude superior a 1.800 metros, hoje protegida como APP.
6. Eliminação
da proteção das áreas de várzeas, que deixam de ser consideradas como
APP, sujeitando os corpos d’água a terem suas áreas de inundação natural
totalmente degradadas e contaminadas por uso intenso de pesticidas e
adubos.
7.
Eliminação da obrigatoriedade de recuperar a Reserva Legal para
propriedades de até quatro módulos fiscais, equivalentes a seiscentos
hectares na Amazônia.
8.
Desconto de área equivalente a quatro módulos fiscais no cálculo da
Reserva Legal degradada a ser recuperada nas médias e grandes
propriedades.
9.
Computo da área de preservação permanente no cálculo da Reserva Legal
para todo o país, independentemente das dimensões da propriedade,
reduzindo o montante de área ilegalmente desmatada a ser recuperada.
10.
Anistia “branca” de cinco anos para desmatadores irregulares. Esse é um
dos pontos mais graves e sofisticados do substitutivo. Estabelece a
obrigatoriedade da União e dos estados elaborarem, no prazo de até cinco
anos, Programas de Regularização Ambiental fixando os parâmetros e as
condições para a recuperação da vegetação nativa nas propriedades rurais
irregulares. Durante o período de elaboração do tal Programa, o
proprietário nada precisa fazer e está autorizado a continuar utilizando
economicamente a área que desmatou ilegalmente. Além disso, suas multas
e seus processos por desmatamento de antes de 22 de julho de 2008 ficam
suspensos.
Há muitos outros
aspectos nocivos no substitutivo, como a transferência de competências
do Conselho Nacional do Meio Ambiente para os governos federal,
estaduais e municipais, que podem editar decretos e atos normativos sem
nenhum controle social ou a possibilidade ambientalmente equivocada de
permitir a compensação da Reserva Legal em qualquer bioma.
O único dispositivo que tem um aparente caráter
ambiental no substitutivo de Aldo Rebelo é a proposta de moratória para
novos desmatamentos por um período de cinco anos, a partir da
promulgação da lei. Entretanto, cotejando essa previsão com o conjunto
de modificações, que tornarão praticamente impossível controlar e punir
os desmatamentos ilegais, fica evidente a sua iniquidade.
O grau de acirramento do debate, resultado da
radicalização do substitutivo e do próprio posicionamento de Aldo
Rebelo, vem conduzindo a um impasse raras vezes visto. No esforço para
impedir a desconstituição da legislação ambiental, praticamente nada
está sendo feito para a definição de instrumentos legais de compensação
aos que preservaram, seja por meio de mecanismos de pagamento por
serviços ambientais, seja pela criação de um mercado que remunere a
floresta como ativo econômico.
O que está mobilizando a academia, os empresários
esclarecidos e os ambientalistas é a defesa de uma agenda
preservacionista do século passado e não a do futuro onde será
imperativo desenvolver instrumentos para viabilizar a coexistência entre
o aumento da conservação e o aumento da produção. Esse é o desafio que
deveria estar consumindo as energias dos envolvidos na discussão do
Código Florestal.
Sem sinais de avanço, as reuniões se multiplicam no
Congresso e no Palácio do Planalto. Uma comissão de negociação foi
montada pelo atual presidente da Câmara, para se buscar um acordo que
permita colocar o substitutivo em votação sem que vire uma polêmica
capaz de gerar fissuras na base do governo, com graves repercussões
junto à opinião pública. Até agora nenhum resultado concreto nessa
direção foi obtido e multiplicam-se informações desencontradas e
contraditórias sobre supostos acordos entre as partes envolvidas.
Nada parece ser
suficiente para convencer a bancada ruralista e seu novo líder de que a
proposta tal como está é um retrocesso inaceitável, incapaz de levar
tranquilidade ao campo e, muito menos, estabelecer a tão desejada
segurança jurídica para o pleno desenvolvimento da atividade
agropecuária no país.
As lideranças ruralistas com forte influência e
trânsito nos arcos, cúpulas e abóbadas de Brasília parecem ter certeza
da aprovação de um substitutivo que finalmente as desobrigará do
cumprimento de exigências que estão previstas em lei desde o governo do
presidente Getúlio Vargas, quando foi editada a primeira versão do
Código Florestal, em 1934. Foi naquela época, há mais de oitenta anos,
que foi estabelecido que as florestas eram “interesse comum de todos os
habitantes do país” e definida a obrigatoriedade de preservação de 25%
da vegetação nativa das propriedades rurais e das florestas protetoras,
destinadas a conservar os recursos hídricos e evitar a erosão, entre
outras funções.
Como em 2000 parece que restará a presidente atuar junto às lideranças do Congresso para evitar o pior.
João Paulo R. Capobianco
Biólogo e ambientalista, é membro do Conselho Diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, foi secretário nacional de Biodiversidade e Florestas e secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente de 2003 a 2006. |
Morre Abdias do Nascimento, o líder negro
Brizola Neto no TIJOLACO
Hoje é um dia de tristeza que, embora esperado, dói muito em todos os
que acreditam na igualdade humana e têm nojo do racismo. Morreu Abdias
do Nascimento, um homem que foi tantas coisas que é difícil enumerar e,
em todas elas, foi um só: um brasileiro negro, que amor a arte, o
conhecimento e as pessoas.
Abdias, que nasceu em 1914, viveu intensamente seus 97 anos de lutas.
Luta como soldado, nas revoluções de 30 e no levante paulista de 32,
luta para se formar economista, em 38. A luta contra o Estado Novo e
contra o racismo o levam, em 1941, à Penitenciária de Carandiru, onde
cria o Teatro do Sentenciado, organizando um grupo de presos que
escrevem, dirigem e interpretam.
E não pára nisso. Cria o Teatro Experimental do Negro, interpreta no
teatro e no cinema – Orfeu da Conceição, que virou Orfeu do Carnaval
foi um de seus trabalhos mais conhecidos.
Obrigado a deixar o país pela ditadura, torna-se Conferencista
Visitante da Universidade de Yale University,em 69. Um ano depois funda
a cadeira de Culturas Africanas no Novo Mundo, na Universidade do
Estado de Nova York.
No fim dos anos 70, com meu avô, Leonel Brizola, funda o PDT e, nele,
o Movimento Negro. No primeiro Governo Brizola, foi deputado federal.
No segundo, foi secretário de Estado de Defesa e Promoção das
Populações Afro-Brasileiras e, com a morte de Darcy Ribeiro, assumiu
uma cadeira de Senador.
Nos últimos anos, com a saúde não deixava Abdias mover-se muito. Mas
sua luta jamais parou. Daqui a pouco, vou postar o programa Espelho,
apresentado por Lázaro Ramos, exibido por ocasião de seus 95 anos. E
posto, aí em cima, seu discurso sobre Zumbi dos Palmares, no Senado da
República do Brasil.
Do Brasil de todas as cores!
Ato Público do CPERS e demais entidades....
23 entidades repudiam alterações no pagamento de Precatórios e RPVs
Encontro
realizado na manhã desta terça-feira, no Colégio Sévigné, em Porto
Alegre, rejeitou a proposta do governo do estado de reduzir o pagamento
das Requisições de Pequeno Valor (RPVs). Mais de 500 servidores,
representantes de 23 entidades, lotaram o auditório da escola. Uma carta
contendo a posição dos servidores foi protocolada no Palácio Piratini.
Além das entidades representativas dos servidores, o encontro teve a
participação da OAB-RS e da AGETRA (Associação Gaúcha dos Advogados
Trabalhistas).
O pacote do governo do estado é nefasto aos trabalhadores e contraria as promessas feitas pelo governador durante a campanha eleitoral, quando afirmou que não faria modificações na previdência e na lei que garante o pagamento dos precatórios e RPVs. Mas o governador decidiu cumprir o acordo feito com o Banco Mundial por Yeda Crusius. Tarso tenta responsabilizar os servidores pela baixa arrecadação do estado e deixa de atacar as isenções fiscais.
O pacote do governo do estado é nefasto aos trabalhadores e contraria as promessas feitas pelo governador durante a campanha eleitoral, quando afirmou que não faria modificações na previdência e na lei que garante o pagamento dos precatórios e RPVs. Mas o governador decidiu cumprir o acordo feito com o Banco Mundial por Yeda Crusius. Tarso tenta responsabilizar os servidores pela baixa arrecadação do estado e deixa de atacar as isenções fiscais.
O
governador faz chantagem com a sociedade quando compara as
“dificuldades” financeiras do Rio Grande do Sul com a crise enfrentada
por Portugal. Também desrespeita o funcionalismo ao afirmar que os
servidores estão sendo usados como massa de manobra. O discurso é o
mesmo repetido por gestores anteriores, centrado na ideia de que
atacando direitos se está fazendo justiça. Pela proposta, o estado
pagará, em 2011, cerca de 40% do montante pago em 2010.
Ao impor resistência em pagar os precatórios, o governo gaúcho aposta na desistência dos seus credores. É o 4º maior devedor para seus servidores. A situação é escandalosa. Os precatórios viraram comércio lucrativo para um setor da sociedade acostumado a ganhar com a desgraça alheia. Sem perspectivas de receber, alguns credores acabam vendendo seus precatórios por valores irrisórios para empresas privadas que depois cobram a sua totalidade do estado.
Ao impor resistência em pagar os precatórios, o governo gaúcho aposta na desistência dos seus credores. É o 4º maior devedor para seus servidores. A situação é escandalosa. Os precatórios viraram comércio lucrativo para um setor da sociedade acostumado a ganhar com a desgraça alheia. Sem perspectivas de receber, alguns credores acabam vendendo seus precatórios por valores irrisórios para empresas privadas que depois cobram a sua totalidade do estado.
Na
carta protocolada no Palácio Piratini, as entidades lembram que o
governo do estado está tratando as RPVs como pequenos precatórios, o que
é vedado pela Constituição Federal ( § 3º do artigo 100). O não
pagamento do crédito correspondente determina o sequestro dos valores, o
que é incompatível com as limitações propostas. A carta cobra do
governador compromisso com o seu programa de governo, que garantia
agilidade no pagamento dos precatórios e RPVs.
Entidades que
participaram do encontro e assinaram a carta: FSPE/RS, CPERS/Sindicato,
ABAMF, ACP/Sindicato, AFOCEFE/Sindicato, AMAPERGS, ASOF/BM, ASST/BM,
FESSERGS, SIMPE/RS, SINDET, SIDISPGE, SINDIÁGUA, SINDICAIXA,
SINDICIVIS/BM, SINDJUS, SINDPPD/RD, SINDSEPE/RS, SINPOL/RS, SINTERGS,
UGEIRM/Sindicato, OAB/RS e AGETRA.
João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato
Fotos: Cristiano Estrela
João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato
Fotos: Cristiano Estrela
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