Podemos chamar de “artistas” ou “modelos”. São sobretudo mulheres
jovens, embora existam também homens, casais e mulheres maduras.
Instalados diante das câmeras de seus computadores, eles trabalham
conectados à internet tentando atrair o cliente para que venha se juntar
aos seus chats privados. Striptease de um continente a outro,
eles dialogam, se exibem, simulam excitação sexual e respondem a pedidos
de clientes enviados pelo teclado ou por voz.
Remunerados por base de porcentagem sobre o tempo de conexão pago a
esses sites especializados, eles são filipinos, romenos, russos,
norte-americanos, colombianos ou franceses. Dentro de uma decoração que
reproduz clichês visuais de “quartos de motéis”, eles vendem de suas
camas – às vezes de uma simples poltrona – tempo de exibição, diálogo e
simulação. O site Live Jasmin diz ter 31.315 garotas e 8.921 rapazes.
Por um sistema de filiação, as plataformas oferecem aos proprietários
desse tipo de site uma lista mundial de modelos que possibilita, graças à
diferença de fuso horário, possuir sempre on-line um conjunto de muitas
centenas de pessoas disponíveis. Em troca dessa oferta sempre
renovável, a plataforma fica com uma parte significativa dos ganhos,
repassando 30% ao webmaster.
Diferentemente dos sites e fóruns cujos anúncios têm por objetivo um
encontro físico, esses novos espaços de consumo sexual são inteiramente
virtuais. Muito claros e precisos quanto às condições de utilização do
site, avisam que, se tentarem contatar os modelos, os usuários serão
excluídos.
Uma conexão de dez minutos com quatro clientes simultaneamente não
passa, segundo os sites, de 5 a 10 euros. Na melhor das hipóteses, é
como ganhar um salário mínimo mensal em algumas horas, em um só dia,
diante de uma câmera – na pior, algumas dúzias de euros.
Tal como acontece com a oferta de trabalho a domicílio, os anúncios de
recrutamento na internet falam em “nenhuma obrigação de carga horária”,
“fazer dinheiro” etc. Sempre em busca de novos recrutas, as plataformas
propõem remuneração garantida (variáveis segundo o país dos visitantes)
que vão desde alguns centavos a 1 euro por minuto de “show privativo” –
que na prática pode reunir vários espectadores pagando cada um 1 euro
por minuto.
Essa economia da virtualidade não necessita de contratos nem
imobilização financeira ou imobiliária, nem de nenhum investimento, mas
apenas da locação de servidores e banda larga que permita o roteamento
de áudio e vídeo. Os proprietários e acionistas dessas nebulosas
transações permanecem invisíveis. Essa economia feita de tecnologia,
virtualidade, fluxos, paraísos fiscais e pobreza assemelha-se à nova
economia desmaterializada de hoje. Sabe-se muito pouco sobre a “produção
de conteúdo”. Os ganhos dos hostsficam em total obscuridade. O
empobrecimento e a concorrência fazem o resto. E eis que então emerge
um novo proletariado mundial: o dos fornecedores de conteúdo das
tecnologias de informação, que nenhuma regulamentação de trabalho
reconhece e que nenhuma legislação sobre o direito à imagem ou à
propriedade intelectual consegue enquadrar. A indústria do sexo, como
sempre, é uma precursora.
Representando hoje, segundo diversos estudos, 12% dos sites e quase 25%
das pesquisas na internet, essa indústria tem contribuído amplamente
para o desenvolvimento do micropagamento on-line, para a compressão de
vídeo e para outras tecnologias da rede. Ela fez nascer um modelo de
marketing cujo princípio é colocar em cena as “vitrines virtuais”
acessíveis gratuitamente, mas reenviando a serviços pagos. É ela também
que está inventando e refinando todas as tecnologias de compartilhamento
de links, transferência de tráfico de um site a outro e fidelização de
clientes.
Na França, um homem a cada dois e uma mulher a cada cinco declaram assistir regularmente à pornografia.1
Se o recurso à prostituição entre os homens permanece relativamente
estável – 3,3% dos homens em 2006, contra 3,1% em 1992 –, o consumo por
sexo on-line está explodindo.
Segundo o psicólogo Alvin Cooper, diretor do San José Marital and
Sexuality Centre de Santa Clara, na Califórnia, “o sexo na internet é
principalmente praticado pelos homens como forma de aliviar o stress,
uma maneira de fantasiar, mas mantendo-se fiel na vida real”.2
Da mesma maneira que outros vícios, ele diz que “esse comportamento
pode compensar os sentimentos de ódio, decepção, tédio, tensão,
inquietação, solidão ou tristeza e levar a uma exacerbação da vida
virtual confortável diante do computador”. Um hábito que não é
inofensivo, uma vez que o pesquisador acredita que ele pode “levar a
mudanças de percepção de que existem outros, gerar um distanciamento da
vida real, modificar a percepção da realidade e por vezes conduzir ao
isolamento social”.
Longe de se concentrar nas mãos de poucos gigantes, a competição é
permanente e os sites gratuitos que meramente repetem sequências de
filmes piratas ou de “amadores” têm apenas por objetivo “sugar” o
internauta e direcioná-lo aos serviços pagos. Para melhor entender o
funcionamento e uso dessa economia, três pesquisadores, Christian
Platzer, Engin Kirda e Christopher Kruegel, ao longo do estudo,
confirmaram o papel dos criadores dos sites. Eles revelam os bastidores
de guerras comerciais envolvendo técnicas de pirataria de bases de dados
de concorrentes, e fraudes geradas ao se clicar em banners de
publicidade,3 que permitem gerar o máximo de lucro redirecionando os internautas.
Enquanto na tela as ofertas de chat pornográfico se
multiplicam, oferecendo uma infinidade de “modelos”, podemos observar
uma mutação da relação econômica e de subordinação. Diferentemente do
cinema, nenhum diretor dirige os atores; diferentemente dos serviços
telemáticos e dos peep- -shows, nenhum treinamento é oferecido,
muito menos roteiros com diálogos para se ter com os clientes. O
artista aqui deve incorporar os desejos dos internautas, seus códigos e
suas fantasias para reproduzi-los. E, com base em uma vaga lista de
preferências que teria levado aquele cliente até ele, o trabalhador o
satisfaz em troca de uma remuneração calculada em porcentagem.
Normalmente discutido em meio a debates parlamentares, o sexo na
internet só é visto sob o ângulo da proteção à infância e da repressão à
pedofilia e do proxenetismo. Ainda não se levanta nenhuma questão em
torno do cybersexo, nem sobre seus operários “autoempresários” do
“divertimento para adultos”, verdadeiros pilares de uma indústria muito
lucrativa. Não se fala nem mesmo das condições de vida que fizeram essa
pessoa escolher ser esse tipo de profissional.
Ilustração: Allan Sieber
1 Nathalie Bajos et al., Enquête sur la sexualité en France: Pratiques, genre et santé, La Decouverte, 2008, Paris.
2 Alvin Cooper, Sex and the Internet: A Guidebook for Clinicians, Brunner-Routledge, Nova York, 2002.
3
“Is Internet for Porn? An Insight into the On-line Adult Industry”,
seminário WEIS 2010, Universidade de Harvard, 7 e 8 de junho de 2010
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