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Créditos: UmQueTenha
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Slavoj Zizek: Capitalismo não é única opção da humanidade
Em um determinado momento da Primeira Guerra Mundial, em uma
trincheira, um soldado alemão envia uma mensagem informando que a
situação por lá “era catastrófica, mas não era grave”. Em seguida,
recebeu a resposta dos aliados austríacos afirmando que a situação deles
era “grave, mas não catastrófica”.
Via VERMELHO
Essa anedota é representada pelo
filósofo Slavoj Zizek para explicar a atual falta de equilíbrio nas
discussões sobre as crises mundiais e nas possíveis alternativas para
solucioná-las. “Uns acham que vivemos uma situação catastrófica, mas que
não é grave. Outros que a situação é grave, mas não catastrófica”,
expôs o professor nascido na Eslovênia.
Neste fim de semana, Zizek participou da conferência “Revoluções, uma política do sensível”, promovida pelo Instituto de Tecnologia Social, pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, pelo SESC-SP e pela Boitempo Editorial. Com bom humor e comentários ácidos e perspicazes, ele defendeu a importância de um debate alternativo à imposição do capitalismo como única lógica possível de organização. Também criticou a forma como as mídias e os governos pautam a discussão ambiental.
Durante o encontro, o professor explicou que a importância do trabalho filosófico está na prática de “destruição do pensamento dominante”. Ele alertou que é preciso colocar um fim à predominância da ideologia capitalista, já que a maioria das pessoas age como se não houvesse outra alternativa.
Comunismo como opção
“Os problemas que enfrentamos são comuns a todos nós, por isso o comunismo é uma alternativa. A utopia que temos hoje é acreditar que soluções isoladas é que vão resolver os problemas mundiais”, argumenta Zizek.
Para o filósofo, devemos pensar em uma forma de organização política que “esteja fora da lógica e das regras do mercado”. A República Democrática do Congo, segundo o professor, é um sintoma do capitalismo global. “É um Estado que simplesmente não funciona como Estado. Trata-se de uma série de áreas controladas por generais locais que mantêm contratos com grandes empresas internacionais”.
Ele afirma que, a todo momento, dizem que comunismo é algo impossível. “Cientistas discutem aperfeiçoamentos genéticos que podem nos dar a imortalidade. Outros falam do uso da telepatia para operar aparelhos. Não podemos deixar que nos digam que o queremos é impossível!”, diz.
Zizek cita o exemplo da China onde, segundo ele, foram proibidos livros, filmes, gibis e qualquer outra produção artística e cultural que sugira ou faça referência a realidades alternativas. “No Ocidente, não é preciso que nenhum governo proíba isso, nós encaramos a realidade como se ela só pudesse ser dessa forma”, analisa.
Capitalismo ético-social?
O capitalismo tem um enorme poder de absolver as críticas que recebe e de transformá-las em novas fontes de lucro, explica Zizek. “Hoje há uma espécie de capitalismo ‘ético-social’. Para você ficar com a consciência mais tranqüila, as grandes marcas dizem que 1% do valor do produto vai para crianças que passam fome ou para plantar mudas de árvores”, diz.
Ele esclarece que essa lógica é própria da filosofia norte-americana, que vende a ideia de que, assim, “estamos salvando o mundo”. E nos sentimos bem com isso.
Os problemas capitalistas estão sendo vistos como problemas morais, esclarece Zizek. Para ele, o problema disso é que, a partir desta visão, as pessoas comecem a acreditar que punições ou soluções morais são suficientes para resolver os problemas provocados pelo capitalismo.
“Vejam como o presidente (dos EUA, Barack) Obama tratou a questão do vazamento de petróleo no México. Um problema ambiental foi transformado em um problema legal. Discutiu-se o se a empresa teria de recompensar e de quanto seria essa multa. É ridículo tratar um caso desses como uma simples questão legal”, exemplifica.
A crise ambiental
Quando a preocupação com a degradação ambiental ganhou força, a mídia dizia que isso era coisa de comunista que estava arrumando uma desculpa para criticar o capitalismo, conta o filósofo. “Agora há um discurso mais ambíguo, os canais de comunicação dizem, por exemplo, que quando as camadas de gelo derreterem, vai ficar mais barato comprar os produtos chineses”, ironiza Zizek.
Para ele, há um “mecanismo de negação” em torno da questão ambiental. “Fala-se tanto da gravidade da natureza, de que o mundo pode acabar em um, dois anos, que isso amortiza a consciências das pessoas. Elas pensam: ‘Se eu falar muito nisso, talvez nada aconteça!’” ilustra o professor.
De acordo com Zizek, a ideia de sustentabilidade é um mito e não há “equilíbrio ideal com a natureza para o qual podemos retornar”. Uma das ideia mais difundidas é que devemos buscar pequenas soluções para o meio ambiente. “Vocês gostam de torcer no futebol, não? Quando vão ao estádio e ficam gritando e pulando, acham que isso faz o seu time vencer. A reciclagem é igual a essa torcida”, brinca Zizek.
Oriente Médio e África
Zizek aponta que as recentes manifestações no Oriente Médio e na África mostram, ao contrário do que o Ocidente afirmava, que eles são capazes de se organizar por questões que vão além do fundamentalismo ou do anti-ceticismo.
Para os padrões ocidentais, a liberdade em um país é medida, principalmente, na existência ou não de mecanismos eleitorais e no respeito aos direitos humanos. “A liberdade, como já dizia Marx, deve ser vista em como se dão as relações sociais. É preciso ver se as pessoas possuem liberdade dentro dos mecanismos sociais”.
Segundo o filósofo, o momento mais importante destas revoluções é o “dia seguinte”. “Estamos muito animados com estes recentes acontecimentos. Mas a verdadeira revolução precisa acontecer agora”.
Garantia Acme
Slavoj Zizek concluiu a palestra com a previsão de que, ainda que demore mais um tempo, o sistema global vai revelar como é frágil, apesar de aparentar ser invencível. “O capitalismo está na mesma situação do Coiote perseguindo o Papa-léguas. Ela já passou a linha do abismo, só falta ele olhar para baixo e ver que não está mais pisando no chão!”.
Fonte: Opera Mundi
Neste fim de semana, Zizek participou da conferência “Revoluções, uma política do sensível”, promovida pelo Instituto de Tecnologia Social, pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, pelo SESC-SP e pela Boitempo Editorial. Com bom humor e comentários ácidos e perspicazes, ele defendeu a importância de um debate alternativo à imposição do capitalismo como única lógica possível de organização. Também criticou a forma como as mídias e os governos pautam a discussão ambiental.
Durante o encontro, o professor explicou que a importância do trabalho filosófico está na prática de “destruição do pensamento dominante”. Ele alertou que é preciso colocar um fim à predominância da ideologia capitalista, já que a maioria das pessoas age como se não houvesse outra alternativa.
Comunismo como opção
“Os problemas que enfrentamos são comuns a todos nós, por isso o comunismo é uma alternativa. A utopia que temos hoje é acreditar que soluções isoladas é que vão resolver os problemas mundiais”, argumenta Zizek.
Para o filósofo, devemos pensar em uma forma de organização política que “esteja fora da lógica e das regras do mercado”. A República Democrática do Congo, segundo o professor, é um sintoma do capitalismo global. “É um Estado que simplesmente não funciona como Estado. Trata-se de uma série de áreas controladas por generais locais que mantêm contratos com grandes empresas internacionais”.
Ele afirma que, a todo momento, dizem que comunismo é algo impossível. “Cientistas discutem aperfeiçoamentos genéticos que podem nos dar a imortalidade. Outros falam do uso da telepatia para operar aparelhos. Não podemos deixar que nos digam que o queremos é impossível!”, diz.
Zizek cita o exemplo da China onde, segundo ele, foram proibidos livros, filmes, gibis e qualquer outra produção artística e cultural que sugira ou faça referência a realidades alternativas. “No Ocidente, não é preciso que nenhum governo proíba isso, nós encaramos a realidade como se ela só pudesse ser dessa forma”, analisa.
Capitalismo ético-social?
O capitalismo tem um enorme poder de absolver as críticas que recebe e de transformá-las em novas fontes de lucro, explica Zizek. “Hoje há uma espécie de capitalismo ‘ético-social’. Para você ficar com a consciência mais tranqüila, as grandes marcas dizem que 1% do valor do produto vai para crianças que passam fome ou para plantar mudas de árvores”, diz.
Ele esclarece que essa lógica é própria da filosofia norte-americana, que vende a ideia de que, assim, “estamos salvando o mundo”. E nos sentimos bem com isso.
Os problemas capitalistas estão sendo vistos como problemas morais, esclarece Zizek. Para ele, o problema disso é que, a partir desta visão, as pessoas comecem a acreditar que punições ou soluções morais são suficientes para resolver os problemas provocados pelo capitalismo.
“Vejam como o presidente (dos EUA, Barack) Obama tratou a questão do vazamento de petróleo no México. Um problema ambiental foi transformado em um problema legal. Discutiu-se o se a empresa teria de recompensar e de quanto seria essa multa. É ridículo tratar um caso desses como uma simples questão legal”, exemplifica.
A crise ambiental
Quando a preocupação com a degradação ambiental ganhou força, a mídia dizia que isso era coisa de comunista que estava arrumando uma desculpa para criticar o capitalismo, conta o filósofo. “Agora há um discurso mais ambíguo, os canais de comunicação dizem, por exemplo, que quando as camadas de gelo derreterem, vai ficar mais barato comprar os produtos chineses”, ironiza Zizek.
Para ele, há um “mecanismo de negação” em torno da questão ambiental. “Fala-se tanto da gravidade da natureza, de que o mundo pode acabar em um, dois anos, que isso amortiza a consciências das pessoas. Elas pensam: ‘Se eu falar muito nisso, talvez nada aconteça!’” ilustra o professor.
De acordo com Zizek, a ideia de sustentabilidade é um mito e não há “equilíbrio ideal com a natureza para o qual podemos retornar”. Uma das ideia mais difundidas é que devemos buscar pequenas soluções para o meio ambiente. “Vocês gostam de torcer no futebol, não? Quando vão ao estádio e ficam gritando e pulando, acham que isso faz o seu time vencer. A reciclagem é igual a essa torcida”, brinca Zizek.
Oriente Médio e África
Zizek aponta que as recentes manifestações no Oriente Médio e na África mostram, ao contrário do que o Ocidente afirmava, que eles são capazes de se organizar por questões que vão além do fundamentalismo ou do anti-ceticismo.
Para os padrões ocidentais, a liberdade em um país é medida, principalmente, na existência ou não de mecanismos eleitorais e no respeito aos direitos humanos. “A liberdade, como já dizia Marx, deve ser vista em como se dão as relações sociais. É preciso ver se as pessoas possuem liberdade dentro dos mecanismos sociais”.
Segundo o filósofo, o momento mais importante destas revoluções é o “dia seguinte”. “Estamos muito animados com estes recentes acontecimentos. Mas a verdadeira revolução precisa acontecer agora”.
Garantia Acme
Slavoj Zizek concluiu a palestra com a previsão de que, ainda que demore mais um tempo, o sistema global vai revelar como é frágil, apesar de aparentar ser invencível. “O capitalismo está na mesma situação do Coiote perseguindo o Papa-léguas. Ela já passou a linha do abismo, só falta ele olhar para baixo e ver que não está mais pisando no chão!”.
Fonte: Opera Mundi
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Igreja evangélica fundada por mulheres homossexuais no centro de São Paulo quer acolher " escorraçados pela intolerância"
Eduardo Anizelli/Folhapress
Pastora Rosania Rocha (à esq.) e a missionária Lanna Holder
LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULOLanna Holder, a ex-lésbica, ex-drogada e ex-alcoólotra pregadora evangélica, era a prova cabal do poder curador de Deus na vida dos que nele creem. Pois foi só se converter ao evangelho, e Lanna, então com 20 anos, deixou para trás um pelotão de namoradas suspirantes e as noitadas movidas a cocaína e hectolitros de álcool, consumidos diariamente.
"Centenas de ministérios disputavam "a tapas" a presença da carismática Lanna em seus púlpitos. Em pouco tempo, ela se transformou em uma espécie de "avatar da sorte" para quem quisesse manter sua congregação lotada", escreve um pastor, a respeito da hoje desafeta.
Lanna subia ao altar e contava com voz de contralto como o milagre ocorrera em sua vida "dissoluta". A apoteose era quando apresentava o maridão emocionado e o filho. O templo vinha abaixo.
Dezesseis anos depois da conversão, a campeã da fé, agora com 36 anos, acaba de abrir uma nova igreja evangélica em São Paulo, a Comunidade Cidade de Refúgio, no centro de São Paulo.
Surpresa: em vez dos testemunhos de como se curou da "praga gay", Lanna Holder rendeu-se à homossexualidade. Ela tem até uma companheira na empreitada, a pastora e cantora gospel Rosania Rocha, 38.
As duas estão juntas há cinco anos, desde que largaram os maridos e oficializaram seus divórcios. No tempo em que era o troféu da fé, Lanna lidou com o que hoje chama de "culpa extrema". "Eu pregava o que desejava que acontecesse comigo", diz.
Para evitar reincidir, mortificou a carne com jejuns e subidas e descidas de montes, em uma espécie de cooper -para cansar mesmo.
Participou de "campanhas de libertação" todas as quartas-feiras, incluindo rituais de quebra de maldição e cura interior. Por fim, submeteu-se a sessões de "regressão ao útero materno", nos moldes preconizados no início do século 20 pelo terapeuta Otto Rank (1884-1939). "Não deu certo", ela diz.
Chamada para pregar em Boston, nos EUA, bastou encontrar os olhos claros da mineira Rosania para todo o "trabalho" naufragar. Rosania também se apaixonou.
Elas pediram ajuda aos pastores, oraram muito para evitar. Ficaram quase um ano sem se ver. Mas não deu.
Depois de um acidente de carro que lhe deslocou da bacia o fêmur direito, esmagou-lhe o pulmão, causou trauma cardíaco, fratura em quatro costelas e dilaceração do fígado -hoje, uma grossa cicatriz de 0,6 metro de comprimento cruza todo o tronco de Lanna-, as duas resolveram, enfim, viver juntas.
Sobre os pastores que as acusam de criarem um lugar de culto a Satanás, uma filial de Sodoma e Gomorra, as duas líderes religiosas dizem apenas: "A nossa igreja é de Cristo, não é de lésbicas ou gays. Mas queremos deixar claro que somos um refúgio, acolhemos todos os machucados e feridos, todos os que foram escorraçados pela intolerância".
No primeiro dia, a nova igreja juntou 300 pessoas. (FSP, 16.6.2011)
COMUNIDADE CIDADE DE REFÚGIO
ONDE Avenida São João, 1.600, Santa Cecília
QUANDO Quartas, sextas e sábados, às 20h. Domingo, às 18h
domingo, 19 de junho de 2011
Gramsci e seu “grito de guerra” ecoam na blogosfera progressista
Salvo engano, o nome de Antonio Gramsci (1891-1937) não foi
citado nos debates do 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas,
que ocorre desde sexta-feira (17) em Brasília. Mas um texto escrito há
95 anos pelo revolucionário italiano sintetiza um dos consensos mais
cristalizados do movimento pela democratização da mídia.
Por André Cintra no VERMELHO
Em Os Jornais e os Operários, de
1916, Gramsci exortava os trabalhadores a romperem todos os laços com a
imprensa burguesa. Numa época em que a TV nem sequer existia e o rádio
ainda era uma mídia incipiente e experimental — um “telégrafo sem fio”
—, o jornal despontava como a principal arma de dominação ideológica do
operariado.
“Antes de mais nada, o operário deve negar decididamente qualquer solidariedade com o jornal burguês. Deveria recordar-se sempre, sempre, sempre, que o jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento de luta movido por ideias e interesses que estão em contraste com os seus”, denunciava Gramsci. “Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma ideia: servir à classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora.”
Daí a conclamação do pensador italiano a que não se iludissem com a “grande imprensa” da época. Mais ainda, que não comprassem nem assinassem os jornais inimigos, para não garantir a viabilidade financeira do empreendimento. “Não contribuam com dinheiro para a imprensa burguesa que vos é adversária. Eis qual deve ser o nosso grito de guerra neste momento, caracterizado pela campanha de assinatura de todos os jornais burgueses: ‘Boicotem, boicotem, boicotem!’”, arrematava Gramsci.
Quase um século depois, os participantes do encontro da blogosfera parecem decididos a não dar tréguas à grande mídia. Já não se trata apenas de jornais. A imprensa burguesa deixou de ser somente impressa e se converteu num gigantesco aparato multimídia, que inclui também grandes emissoras de TV e rádio, revistas (sobretudo as semanais), portais na internet e provedores de conteúdo para dispositivos móveis. Como enfrentar esse centauro midiático — verdadeira aberração da civilização contemporânea?
O “medo de se indispor”
Um dos consensos que já é possível extrair do Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, antes mesmo da plenária final deste domingo (19) — e ainda que não haja uma resolução formal —, é que a luta contra a grande mídia tem de se fortalecer. É preciso, claro, que o governo tome medidas aparentemente mais simples, como alastrar a internet via banda larga. Mas urge, acima de tudo, ter ousadia e coragem para lutar contra o oligopólio que toma conta das comunicações.
Na abertura do encontro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou os “falsos formadores de opinião que já não formam opinião nem na casa deles”. Implicitamente, porém, admitiu que o governo federal, tanto com ele quanto com a presidente Dilma Rousseff, não conseguiu alterar a correlação de forças do setor. Ao salientar que as propostas de marco regulatório “mexem com grandes interesses”, Lula deixou claro que a batalha não está ganha — ao contrário, apenas emergiu.
Com conhecimento de causa, dois outros convidados do encontro — a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) e o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) — lembraram, em mesas diferentes, que a maioria dos políticos tem medo de se indispor com a grande mídia. Não é por acaso que a Câmara dos Deputados criou apenas neste ano a Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom), com mais de mais de cem entidades e sob a coordenação de Erundina. “Já não me sinto tão só”, afirmou a deputada.
35 grupos
Já o jurista Fábio Konder Comparato sustentou que “todos os poderes do Estado, inclusive a mídia, estão nas mãos de oligarquias. Os órgãos e as instituições do Estado brasileiro não têm poder de fato. Eles agem sob pressão dos grupos que efetivamente detêm poder”.
Comparato acredita que o Executivo “cede fácil às cobranças” das grandes redes de comunicação. Para começar a reverter essa lógica, basta que o Congresso regulamente os artigos da Constituição de 1988 sobre o tema — especialmente o que proíbe a existência de oligopólios no setor. São da autoria de Comparato, aliás, as ações diretas de inconstitucionalidade que cobram a regulamentação dessas medidas.
O desafio até lá, é resistir a tais pressões dos 35 grupos que controlam 516 empresas de comunicação do Brasil. Ou, em outras palavras, fazer valer o “grito de guerra” proposto por Gramsci: “Boicote, boicote, boicote” ao oligopólio midiático. Já!
“Antes de mais nada, o operário deve negar decididamente qualquer solidariedade com o jornal burguês. Deveria recordar-se sempre, sempre, sempre, que o jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento de luta movido por ideias e interesses que estão em contraste com os seus”, denunciava Gramsci. “Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma ideia: servir à classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora.”
Daí a conclamação do pensador italiano a que não se iludissem com a “grande imprensa” da época. Mais ainda, que não comprassem nem assinassem os jornais inimigos, para não garantir a viabilidade financeira do empreendimento. “Não contribuam com dinheiro para a imprensa burguesa que vos é adversária. Eis qual deve ser o nosso grito de guerra neste momento, caracterizado pela campanha de assinatura de todos os jornais burgueses: ‘Boicotem, boicotem, boicotem!’”, arrematava Gramsci.
Quase um século depois, os participantes do encontro da blogosfera parecem decididos a não dar tréguas à grande mídia. Já não se trata apenas de jornais. A imprensa burguesa deixou de ser somente impressa e se converteu num gigantesco aparato multimídia, que inclui também grandes emissoras de TV e rádio, revistas (sobretudo as semanais), portais na internet e provedores de conteúdo para dispositivos móveis. Como enfrentar esse centauro midiático — verdadeira aberração da civilização contemporânea?
O “medo de se indispor”
Um dos consensos que já é possível extrair do Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, antes mesmo da plenária final deste domingo (19) — e ainda que não haja uma resolução formal —, é que a luta contra a grande mídia tem de se fortalecer. É preciso, claro, que o governo tome medidas aparentemente mais simples, como alastrar a internet via banda larga. Mas urge, acima de tudo, ter ousadia e coragem para lutar contra o oligopólio que toma conta das comunicações.
Na abertura do encontro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou os “falsos formadores de opinião que já não formam opinião nem na casa deles”. Implicitamente, porém, admitiu que o governo federal, tanto com ele quanto com a presidente Dilma Rousseff, não conseguiu alterar a correlação de forças do setor. Ao salientar que as propostas de marco regulatório “mexem com grandes interesses”, Lula deixou claro que a batalha não está ganha — ao contrário, apenas emergiu.
Com conhecimento de causa, dois outros convidados do encontro — a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) e o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) — lembraram, em mesas diferentes, que a maioria dos políticos tem medo de se indispor com a grande mídia. Não é por acaso que a Câmara dos Deputados criou apenas neste ano a Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom), com mais de mais de cem entidades e sob a coordenação de Erundina. “Já não me sinto tão só”, afirmou a deputada.
35 grupos
Já o jurista Fábio Konder Comparato sustentou que “todos os poderes do Estado, inclusive a mídia, estão nas mãos de oligarquias. Os órgãos e as instituições do Estado brasileiro não têm poder de fato. Eles agem sob pressão dos grupos que efetivamente detêm poder”.
Comparato acredita que o Executivo “cede fácil às cobranças” das grandes redes de comunicação. Para começar a reverter essa lógica, basta que o Congresso regulamente os artigos da Constituição de 1988 sobre o tema — especialmente o que proíbe a existência de oligopólios no setor. São da autoria de Comparato, aliás, as ações diretas de inconstitucionalidade que cobram a regulamentação dessas medidas.
O desafio até lá, é resistir a tais pressões dos 35 grupos que controlam 516 empresas de comunicação do Brasil. Ou, em outras palavras, fazer valer o “grito de guerra” proposto por Gramsci: “Boicote, boicote, boicote” ao oligopólio midiático. Já!
Árabes, muçulmanas e emancipadas
O Brasil de Fato relata a participação feminina na sociedade e na luta pela independência
Igor Ojeda eTatiana Merlino
Smara (Saara Ocidental)
e Madri (Espanha) via BRASIL DE FATO
Quase
todos os dias, Dajna é a primeira a se levantar. Antes do restante de
sua família acordar, lava a louça do dia anterior e prepara o pão para o
café da manhã. Durante o dia, cuida dos afazeres domésticos em geral.
Lava a roupa, faz o almoço, o jantar. Muitas vezes, conta com a ajuda da
filha e da cunhada, mas é ela a dona da casa, quem dá a ordem final.
Por recomendação médica para enfrentar a diabete de que sofre,
diariamente sai para caminhar. Duas ou três vezes por semana, trabalha
na oficina de tear de sua comunidade, confeccionando bolsas, tapetes e
panos para vender.
Essa senhora de 50 anos já casou duas vezes e
teve cinco filhos. Viúva do primeiro marido, divorciada do segundo, foi
obrigada a criar a prole sozinha. Além disso, se “provocada”, emite
opiniões firmes sobre as mais variadas questões, nacionais ou
internacionais. Dajna Laman Merhi é um bom exemplo de mulher saaraui,
como é chamado o natural do Saara Ocidental, país do noroeste da África
ocupado há 35 anos pelo vizinho Marrocos (leia mais detalhes sobre a ocupação nas edições anteriores do Brasil de Fato).
Dajna
não vive, no entanto, sob a ocupação. Em 1975, quando a monarquia
marroquina enviou 350 mil soldados para invadir o território saaraui,
prestes a ser deixado pela Espanha, a então colonizadora, ela e alguns
parentes – juntamente com cerca de 150 mil conterrâneos – fugiram pelo
meio do deserto do Saara e se instalaram no sudoeste da Argélia, onde,
nos arredores da cidade de Tindouf, foram erguidos cinco campos de
refugiados, que existem até hoje. Dajna vive, com três de seus filhos –
os dois mais velhos moram no exterior – no campo 27 de Febrero, que,
originalmente, era uma escola de mulheres.
Como milhares de
outras saarauis, ela foi uma das responsáveis, ao longo de mais de uma
década, pela construção de um país no exílio, já que a maioria dos
homens estava na guerra, que durou até 1991. Saúde, educação, água,
alimentação, toda a administração dos campos de refugiados ficou a cargo
das mulheres, que, ainda hoje, mantêm uma importante participação na
sociedade e na política saaraui.
“Dentro
do estereótipo que o Ocidente faz do mundo islâmico e árabe, somos um
exemplo de emancipação, pois viemos de um povo em que a mulher sempre
foi considerada e respeitada”, explica Zahra Ramdán Ahmed, fundadora e
presidenta da Associação de Mulheres Saarauis na Espanha.
Os
saarauis são originários de uma sociedade beduína e nômade. Nela,
enquanto os homens se ocupavam de tocar o gado, caçar e pescar, eram as
mulheres que administravam a economia doméstica, no sentido mais
político do termo. E a religião nunca foi um impeditivo a essa atuação
ativa.
“A religião tem muito a ver com a cultura. A sociedade
saaraui e mauritana possuem uma cultura muito aberta, tolerante, e tem
sua forma de praticar o islã. Quando o estudamos, podemos ver muitas
coisas interessantes, como uma igualdade real de gênero. A religião
nunca nos impediu de fazer nada do que queremos”, explica Fatma Mehdi,
secretária-geral da União Nacional de Mulheres Saarauis (UNMS).
A
mulher saaraui é sempre ouvida. Pode se divorciar e se casar quantas
vezes desejar. Tem o direito de trabalhar, viajar, divertir-se. E não é
obrigada a cobrir todo o corpo, embora muitas vezes o faça por questões
culturais e religiosas.
“A sociedade beduína é aberta, onde todos
vivem e trabalham juntos, sempre com respeito à mulher. Não há
violência doméstica. Ela tem sua opinião e participação. É uma
característica da nossa sociedade de origem, mas de uma maneira
espontânea, tradicional”, esclarece Khadija Hamdi, ministra da Cultura
da República Árabe Saaraui Democrática, a Rasd, o governo saaraui no
exílio.
Todas concordam, porém, que a divisão de “tarefas” na
realidade da guerra ajudou para que essa participação alcançasse o nível
da política, pois o papel de administradoras dos campos de refugiados
fez com que as mulheres demonstrassem sua capacidade na área. “Não creio
que existiam mulheres nos conselhos que havia na organização antiga,
mas, graças à Frente Polisario, elas passaram a ter maior participação
política”, opina Fatma.
A
Frente Polisario (Frente Popular de Libertação de Saguia El Hamra e Río
del Oro) é, desde 1973, o movimento que reúne os independentistas
saarauis e espécie de partido único que governa a Rasd até que se
conquiste a independência. Embora sua direção ainda seja formada
majoritariamente por homens, seu trabalho pelo empoderamento das
mulheres é reconhecido por elas.
“A Frente Polisario fez esforços
para que nossas mulheres se preparassem intelectualmente e
profissionalmente para que pudessem reivindicar seus direitos como
pessoas. Esse protagonismo se consolidou, sobretudo, com a educação. No
começo dos campos de refugiados, em 1975, 70% das mulheres não sabiam
ler nem escrever. Foram realizadas campanhas de alfabetização para as
mulheres e erradicamos o analfabetismo”, conta Zahra Randám.
No
entanto, ela faz a ressalva de que ainda há muito o que avançar. “É
preciso não apenas libertar o Saara Ocidental, mas fazer com que as
mulheres estejam nos lugares de tomada de decisões”. Hoje, há apenas
duas mulheres nos ministérios e elas ainda não atingiram a metade do
número de cargos eletivos.
“No Parlamento, somos 34%. Nos níveis
de gestão das whilayas [províncias] e dairas [municípios], representamos
24%. Nos conselhos locais [câmeras de vereadores], compostos por 12
pessoas, 11 são mulheres, mas o prefeito é um homem. E são elas que o
elegem”, explica Fatma.
Segundo ela, muitas mulheres ainda não
valorizam o direito ao voto ou votam em candidatos homens. É o preço a
ser pago pelo “feminismo” de algumas ações do governo saaraui. “Quando
você conquista algo sem haver lutado, você não o valoriza devidamente. A
Frente Polisario, desde o princípio, estava mais consciente e propôs
essas políticas. A mulheres não lutaram para conseguir o direito ao voto
e a consequência é que muitas não se interessam pela política e acham
que sempre vão ter esse direito”, alerta a secretária-geral da UNMS.
Apatia
Estamos
na sede da organização, localizada no campo de refugiados 27 de
Febrero. Depois da conversa, Fatma nos leva para conhecer o espaço. Ela
explica o que funciona em cada cômodo: curso de espanhol, de computação,
aulas de pintura etc., além de uma pequena quadra poliesportiva. Nas
paredes da casa, diversas frases feministas. “O trabalho na jaima também é de homens. Todos a compartilhar o trabalho!”, diz uma delas.
Enorme tenda de pano verde sustentada por dois grossos e altos bambus, a jaima é
onde ocorre a sociabilidade saaraui. Principalmente nos campos de
refugiados no sudoeste da Argélia, onde quase não há empregos e onde se
espera por uma solução ao conflito com o Marrocos, é na jaima
que a vida acontece. Embora todos passem boa parte do dia nela, são as
mulheres suas maiores frequentadoras: é onde costuram, veem televisão,
conversam, tomam o tradicional chá verde.
“Estar nas jaimas
o tempo todo é morrer, pois não há nada para fazer lá. É uma pena
deixar que as jovens fiquem o dia inteiro tomando chá, sem aprender
nada”, lamenta Fatma, relacionando essa realidade com a falta de
consciência e participação política de muitas delas.
“Há, também,
outro obstáculo, que é o cansaço. Como os homens estavam na guerra, e
muitos morreram nela, as mulheres ficaram sozinhas como chefes de
família numerosas. Aqui, costuma-se dizer que, se uma mulher tem filhos,
é muito difícil que tenha papel político. Além disso, há também a
situação econômica, porque estamos falando de uma sociedade que depende
totalmente das ajudas internacionais”, acrescenta.
Quando estão na jaima,
as mulheres saarauis se enrolam, por cima da roupa, com um grande pano
chamado melfa. Especialmente na presença de algum homem que não seja da
família, apenas o rosto e as mãos ficam de fora. Quando saem às ruas, em
geral vestem luvas e cobrem o rosto com outro pano. Nesse caso, contam
elas, a questão não é apenas cultural ou religiosa, mas de estética.
Para as saarauis, o bonito é ter a pele mais clara, distinta à da cor
mais curtida característica dos povos árabes de maneira geral. Por isso,
fazem o possível para se protegerem dos raios do forte sol do deserto
do Saara.
O desejo de copiar o padrão de beleza ocidental – muito
por causa do apelo midiático, já que quase todas as casas dos campos de
refugiados têm parabólicas – no entanto, traz problemas. Fatma conta
que, muitas vezes, as saarauis usam cremes para embranquecer a pele
provenientes da Mauritânia e do Senegal, que não possuem controle de
qualidade e que, segundo ela, causam câncer.
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A fala de Lula no encontro de blogueiros
Ontem, na abertura do 2º Encontro Nacional de Blogueiros
Progressistas, o ex-presidente Lula falor sobre a importância dos
blogueiros como fonte de informações alternativas “Eu queria dizer que
valeu a pena vocês, blogueiros, existirem, pois hoje o pobre tem mais
acesso ao computador e logo terão acesso à internet. Daqui a pouco,
seremos todos cidadãos livres e vamos deixar de ser um País de um
pensamento único, que é aquilo que alguns poucos querem divulgado. Hoje
os blogueiros são uma alternativa, uma possibilidade de que a sociedade
participe das informações neste País. Que ela não fique refém deste ou
daquele formador de opinião pública, mas que a sociedade possa
formular sua própria opinião”
Lula lembrou que graças às mídias sociais a campanha de Dilma
Rousseff foi um sucesso na internet. Daqui a pouco a gente volta a
transmitir de lá, assim que superarmos os problemas técnicos que
impediram a gente de postar mais cedo.Veja o vídeo abaixo:Fonte: TIJOLACO
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sábado, 18 de junho de 2011
A guinada à direita de Chávez: realismo de Estado contra solidariedade internacional
No blog DIARIO LIBERDADE
|
Movimentos sociais se unem na Marcha da Liberdade do Rio de Janeiro
Thais Leitão no JB
Usando faixas, cartazes, adereços,
malabares e megafones, os manifestantes chamavam a atenção da população e
convidavam moradores e frequentadores do bairro a se juntar ao grupo,
com gritos de “Vem pra liberdade”. No percurso, também faziam coro para
se manifestar sobre temas variados.
De acordo com o organizador do
evento, Renato Cinco, a manifestação, que seria inicialmente para
defender a descriminalização do uso da maconha, ganhou o apoio de outros
movimentos e mudou de nome. Na última quarta-feira (15), o Supremo
Tribunal Federal (STF) decidiu liberar marchas pela descriminalização
das drogas no país.
“A princípio seria a Marcha da Maconha, mas
muita gente resolveu se juntar para defender a liberdade como uma coisa
mais ampla. Todos têm o direito de se expressar livremente e isso é o
mais importante” disse.
Com a palavra liberdade escrita com tinta
branca no braço e uma coroa de flores sobre a cabeça, a malabarista Íris
Medeiros, de 21 anos, resolveu participar do evento com outros três
amigos porque espera que os artistas de rua ganhem mais reconhecimento
da sociedade. “Ainda somos discriminados e precisamos ter liberdade de
estar na rua, de nos expressarmos e de levar nossa arte a todo lugar”,
disse.
A advogada Meli Trentin marchou com a filha Rita, de 1 ano,
no colo. Segundo ela, em todos os setores, é possível ver
discriminação, mas nos grupos tradicionalmente excluídos ela é mais
visível. “Estamos vivendo um momento em que se discute a ampliação do
sistema penal, em que movimentos sociais ainda são criminalizados e a
classe média é oprimida. Temos que lutar contra isso e eu trouxe a Rita
porque espero que ela ajude a construir um mundinho melhor”, afirmou.
Segurando
um cartaz que chamava a atenção para a existência de drogas liberadas
pela legislação, como cigarro e álcool, o técnico de planejamento
Leandro Schmidt defendia a descriminalização da maconha. “O capitalismo
exige que algumas drogas sejam legalizadas, mas com a maconha é
diferente. Não precisamos inventar a roda, ela [a maconha] já é liberada
em outros países que têm inclusive regras de uso”, defendeu.
A representante do movimento gay Márcia
Marçal carregava uma bandeira com as cores do arco-íris para criticar a
homofobia. Segundo ela, as ações para coibir a violência contra gays, lésbicas, transexuais e travestis precisam ser mais intensas. “Milhares de gays são mortos a cada ano e é preciso que isso acabe”, defendeu.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Partidos, juventude e os movimentos sociais na internet
Por Marcelo Branco
Os jovens nativos digitais da sociedade em rede têm orgulho de
ser brasileir@s, acreditam que o Brasil é o país do presente e concordam
que têm um papel de transformar a sociedade. Se conectam mais com
discursos coletivos do que individualistas e querem menos consumismo.
Apenas 5% tem como objetivo ficar rico e sabem que podem trabalhar por
uma causa coletiva e buscar seus sonhos pessoais ao mesmo tempo. Estes
mesmos jovens, cada vez mais, vêem a Internet como ferramenta de
mobilização e engajamento político e menos os partidos. [1]
“Quantos jovens não votaram no Chile, na Espanha? Não achem que
estes jovens não acreditam na democracia. Eles não crêem na democracia
que oferecem a eles (…).” Eduardo Galeano na Praça Catalunya [2]
Quando eu divulguei esta pesquisa na rede, surgiram muitos
questionamentos e diálogos vindos, principalmente, de militantes
partidários: isso é positivo ou negativo? Acho isso tremendamente
positivo e tentarei sucintamente colocar a minha opinião, já tuitada de
forma pulverizada. Acontece que os jovens estão exigindo muito mais
participação e democracia do que os partidos políticos e a democracia
representativa os oferecem. Eles querem mais participação. Estão
errados?
Os partidos e os sindicatos são organizações construídas com base na
revolução tecnológica industrial. Foram, por longos anos, a única e a
melhor forma de catalizar de forma coletiva os pensamentos e ideologias
para uma ação política efetiva. Sozinho, ninguém chega a lugar algum, e
isso continua valendo. Estas organizações mediam e intermediam a relação
entre os diversos interesses individuais e coletivos, através do
“programa”, e representam estes interesses junto à sociedade.
Os movimentos sociais em rede, pós-internet, são formados por
indivíduos conectados em rede, que manifestam suas opiniões e movem suas
ações na perspectiva do engajamento coletivo, sem a intermediação de
qualquer organização. Aliás, a Internet veio para questionar o papel de
todas as organizações intermediárias. A indústria fonográfica que o
diga.
Acredito que as formas de organizações da era industrial e as
organizações de indivíduos conectados em rede, típicas da sociedade em
rede, conviverão. Uma não substitui a outra.
Mas é #fato que nos últimos anos, em todo mundo, os partidos
políticos e os sindicatos têm tido menos capacidade de mobilização
coletiva do que os movimentos sociais em rede. E isso não é somente
porque os programas dessas organizações estão defasados ou que não
contemplam os interesses dos coletivos. Atualizar os programas dos
partidos é importante, mas não será o suficiente para engajar a geração
atual na forma de organização hierárquica dos partidos. Estes jovens
estão, cada vez mais, experimentando novas formas para organizar suas
ações políticas coletivas, utilizando a plataforma da Internet como
base. E isso tem dado resultado.
Há quase 12 anos, na manifestação chamada de N30, mais conhecida como a “batalha de Seattle” [3], através da Direct Action Network (ação direta em rede) possivelmente tenhamos inaugurado a era das mobilizaçoẽs 2.0.
Desde Seattle, passando pelas mobilizações do Fórum Social Mundial
aqui em Porto Alegre, nas marchas contra as guerras do Bush-pai, nas
manifestações anti-globalização neoliberal, com destaque para Gênova e
Barcelona, até as recentes revoltas árabes e agora a #globalrevolution
partindo da Espanha para toda Europa [4], comprovam a força das redes da internet para organização de grandes ações coletivas.
Não acredito que os partidos ou sindicatos estão descartados como
forma de organização política. Acontece que agora existem NOVAS formas
de organização política. As novas formas de organização social
(indivíduos conectados em rede) e as velhas (partidos e sindicatos) vão
conviver, mas como organizações distintas.
As velhas organizações não podem ter a pretensão de englobar ou
cooptar as novas. Terão que conviver, lado a lado, mas cada uma com a
sua dinâmica própria. As dinâmicas das redes são distintas das dinâmicas
partidárias. Não há como enquadrar as dinâmicas em rede nas hierarquias
partidárias. Nem é possível que um partido funcione com as dinâmicas
horizontais e sem hierarquias como nas redes.
O sucesso das organizações da era industrial (partidos e sindicatos)
foi justamente o de organizar as pautas e as lutas de forma hierárquica e
aprovadas por maioria. Nas dinâmicas em redes, raramente há votações
para hierarquizar as ações. Funciona por adesão voluntária. A proposta
com maior adesão avança na prática e mobiliza. Assim tem sido as
experiências da última década.
No entanto, as dinâmicas dos movimentos em rede ainda tem sido
incapazes de estabelecer uma nova ordem. Pelo menos por enquanto. Os
partidos sim, estabelecem uma nova ordem, assumem o poder e governam.
Creio que no futuro teremos experiências de uma nova ordem a partir de
dinâmicas sociais em rede. Vivemos uma transição da era industrial para a
era das sociedades em redes. As velhas formas e as novas conviverão,
mas são distintas formas de organizações. Aliadas? Antagônicas?
Complementares?
O certo é que existe, neste momento, uma tendência e um potencial
global democratizante, que questiona os limites da democracia
representativa e que aponta para uma nova democracia participativa,
tendo a internet como plataforma de mobilização e viabilização desta
nova relação direta dos cidadãos com a democracia.
Acredito que a recente pesquisa, “o sonho brasileiro”, realizada
entre jovens de 18 a 24 anos e que ouviu mais de três mil pessoas de 173
cidades do país, aponta dados extremamente positivos na perspectiva de
transformação social.
Fontes:
[1]- Pesquisa “O sonho brasileiro”. Box1824 (agência especializada em mapear tendências de comportamento), e Instituto Datafolha.
Geração “sonhadora” quer “oportunidade para todos” e menos consumismo By Marina Novaes, do R7
- Jovens sonham e acreditam no Brasil By Ricardo Kotscho, do R7
- Pesquisa mostra que enquanto 59% dos jovens não têm preferência partidária, 71% consideram a internet uma ferramenta política By Naira Alves IG
[3]- Seattle: uma década de ativismo 2.0 By #comunidadedigital das turmas e ex-alunos de comunicação digital da ESPM-RJ Turma 7A – 2009.2
[4]-Da #democraciarealya à #WorldRevolution By Marcelo Branco
Para jurista, reações põem em risco conquistas LGBT no Brasil
Roger Raupp Rios é juiz da 4ª Vara Federal de Porto Alegre, mestre e
doutor em Direito pela UFRGS e professor de mestrado em Direitos Humanos
na UniRitter. Tem atuado de forma destacada na questão de direitos
sexuais e antidiscriminação. Ele é autor de uma decisão pioneira no
Brasil, de 1996, quando se posicionou a favor de um casal homossexual em
questão de direito previdenciário. Desde então, tem sido nome
importante no estudo jurídico voltado à consolidação dos direitos dos
homossexuais.
Na noite desta quarta, o jurista participou de um seminário promovido
pela Escola Superior da Magistratura (ESM) da AJURIS, em Porto Alegre.
Ao lado da médica e especialista em antropologia social Elizabeth
Zambrano, Roger Raupp Rios discutiu o panorama que se descortina a
partir da decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceram por unanimidade no mês passado a união estável para casais do mesmo sexo.
Uma decisão que abre um horizonte novo para as relações homoafetivas,
ao mesmo tempo que desperta um contra-ataque incisivo por parte de
setores que não aceitam a mudança, liderados pela bancada evangélica no
Congresso Nacional.
Minutos antes do começo da palestra, Roger Raupp Rios conversou com o Sul21
sobre a posição do Supremo, interpretando-a como um sinal brasileiro na
direção do que já vinha sendo apontado por tribunais da Europa, EUA e
até mesmo da América Latina. Foi surpreendido pela informação de que o Ministério da Saúde decidiu eliminar as restrições para doação de sangue por homossexuais,
ao mesmo tempo em que fez um alerta sobre a série de iniciativas
políticas que já estão sendo tomadas contra a decisão do STF e contra as
conquistas da comunidade LGBT em geral. E demonstrou descontentamento
com a posição da presidenta Dilma Rousseff, que criticou abertamente a
cartilha para conscientização em escolas como trazendo em si uma
“propaganda de opção sexual”.
Sul21 – Quais são as perspectivas que surgem a partir da
decisão do STF, que reconheceu a união homoafetiva como uma célula
familiar? O que uma decisão como essa nos indica em termos de mudanças
jurídicas no Brasil?
Roger Raupp Rios – Eu diria que nem indica, mas sim
confirma. É uma decisão que confirma o que vem acontecendo há pelo menos
15 anos no Brasil, que confirma o que vem sendo decidido tanto em
tribunais federais quanto estaduais. Já há reconhecimento, nesses
tribunais, de uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo. Nesse
sentido, mais do que indicar uma novidade, a decisão do Supremo confirma
uma tendência que já vem se verificando, e que coloca o Brasil ao lado
de outros tribunais internacionais, inclusive latino-americanos, como
México, Argentina e Colômbia. Ingressamos no grupo dos países cujos
tribunais de cúpula reconhecem esses direitos. Com a decisão, o Brasil
entrou nesse rol, de forma um tanto tardia talvez, mas entrou.
Sul21 – Temos então uma tomada de posição junto à comunidade internacional, também?
RRR - Essa decisão é uma afirmação clara de que o
tipo de preconceito voltado contra homossexuais é incompatível com a
Constituição brasileira e com os direitos básicos do ser humano. Afirmar
isso com todas as letras pode indicar uma série de novas possibilidades
em várias outras áreas, tanto no direito de família como em outros
direitos civis, como no direito do trabalho, da política, no mundo
comunicação social, da saúde, do ensino e aí por diante. É verdade que
já temos avanços nesses mundos, especialmente na saúde. Mas o STF
afirmar, com todas as letras e de forma categórica, que a homofobia
viola a Constituição é um bom indicativo, em minha opinião.
Sul21 – De qualquer modo, já começam a surgir alguns reflexos
positivos da decisão do Supremo, como a sinalização do Ministério da
Saúde em acabar com as restrições a homossexuais na hora de doar sangue…
RRR – Foi anunciado isso? O Ministério da Saúde disse isso?
Sul21 – Sim, o ministro da Saúde (Alexandre Padilha) editou no começo da semana uma portaria sobre esse assunto.
RRR – É curioso. Na verdade, é muito curioso, e digo
isso sem querer ser irônico, não estou usando de ironia ou de cinismo,
de forma alguma. É curioso porque essa é uma questão que há anos vem
sendo debatida e que não tem nada a ver com afetividade. A afirmação de
que a afetividade legitima algum tipo de conhecimento não muda nada no
estado sorológico de uma pessoa. Nesse sentido, é um desdobramento bem
interessante…
Sul21 – Uma mudança de posição, digamos assim.
RRR – E o que fez com que esse padrão fosse
modificado? É isso que acho importante a gente questionar. Saiu alguma
pesquisa? Porque há muitas pesquisas no campo da saúde pública, e há
muitas reivindicações de movimentos sociais ligados à luta contra a
homofobia. Isso é algo que é discutido há muito tempo, e é um ponto que
sempre foi controverso dentro do próprio Ministério da Saúde, que sempre
foi conhecido por ser um ministério bem progressista com relação a
questões de sexualidade. Por exemplo, logo após as primeiras edições das
Paradas Gays o Ministério da Saúde se colocou como financiador, como
parte de uma política de fortalecimento da estima (entre os
homossexuais), como forma de combater a violência e diminuir os índices
de contágio de doenças sexualmente transmissíveis nesse grupo. Então
veja, dentro de um ministério que historicamente sempre foi
progressista, nessa questão da doação de sangue nunca tinha se
conseguido avançar. Então, é extremamente interessante que haja esse
desdobramento.
Sul21 – De qualquer modo, é possível perceber que alguns
setores estão reagindo a essa decisão do STF. Um exemplo está no
material produzido pelo Ministério da Educação, que seria distribuído em
escolas e acabou sendo vetado.
RRR - Sim, e não só nisso, não só no chamado “kit
anti-homofobia”. Há projetos e decretos federativos no Congresso,
articulados por essa chamada bancada evangélica, que desejam não só que o
governo não distribua o kit anti-homofobia, mas também que revogue a
resolução do Conselho Federal de Medicina que tirou a homossexualidade
de seu rol de doenças reconhecidas. Querem revogar essa decisão! Querem
derrubar a portaria do Ministério da Saúde que incluiu, dentro das
atribuições do Sistema Único de Saúde, cirurgias de mudança de sexo. Há
um requerimento da bancada evangélica junto ao Ministério da Justiça
questionando as afirmações do governo de que há muitos registros de
violência homofóbica no país. Entende? Tem uma série de reflexos, de
reações bastante fortes. A própria Presidência da República – de forma
no mínimo infeliz, para não dizer imprudente – desqualificou o trabalho
do Ministério da Educação sem saber do que estava falando…
Sul21 – Eu ia fazer justamente essa pergunta, sobre a posição adotada pela presidente no caso…
RRR - Sim, a presidente da República falou sem
conhecimento, já que os próprios elaboradores da campanha dizem que ela
não viu a campanha como um todo. A campanha sequer tinha sido lançada,
estava iniciando o período de testes para verificar sua eficácia. E uma
campanha que não tem absolutamente nada a ver com propaganda de qualquer
direcionamento sexual! Infelizmente, a coisa foi conduzida de forma
totalmente equivocada. A tensão é muito grande, e acho que essa decisão
acabou colocando ainda mais lenha na fogueira da resistência, acabou
dando ainda mais força a esse movimento de reação.
Sul21 – E qual a posição a ser tomada para consolidar o que já foi conquistado? Como evitar retrocessos?
RRR - Olha, acho importante identificar que tipo de
reação está havendo e em que ela se fundamenta. A partir daí, se for o
caso, e me parece que é o caso, contestar as premissas nas quais se
baseia essa reação. Por exemplo, essas pessoas compreendem de forma
muito equivocada o que é laicidade, porque na verdade não estão propondo
um Estado laico, e sim um Estado cujas políticas sejam baseadas nos
valores de determinadas religiões. Pode ser que se mostre cada vez mais
importante explicitar isso. Também ser mais rigoroso quanto à aferição
de violência e discriminação contra homossexuais do que temos sido até
então. E compreender a decisão do STF não só de forma louvatória – e eu
acho que a decisão deve ser louvada, porque realmente foi muito
importante – mas de uma forma sedimentada e profunda. Crítica até, mas
em um bom sentido, buscando mostrar o tamanho da conquista obtida ao
mesmo tempo em que reforça a necessidade de avançar em pontos que ainda
não foram devidamente atendidos por ela.
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