quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Ateísmo como militância social

Escrito por Mário Maestri   no Correio da Cidadania
 
Dentro do respeito às crenças individuais dos homens e das mulheres de bem, a militância ateísta é dever social inarredável para todos os que se mobilizam pela redenção da humanidade da alienação social, material e espiritual que a submerge crescentemente neste início de milênio, ameaçando a sua própria existência. Por mais subjetiva, introspectiva e sublimada que se apresente, a crença religiosa jamais nasce, se realiza e se esgota no indivíduo. Ela é fenômeno parido no mundo social, que influencia essencialmente a ação individual e coletiva.
 
Em forma mais ou menos radical, mais ou menos plena, mais ou menos consciente, a crença religiosa dissocia-se da objetividade material e social. Ela desqualifica o doloroso esforço histórico que permitiu ao ser humano superar sua origem animal e, percebendo a si e à natureza, começar a conhecer as leis imanentes ao mundo, na difícil, necessária e inconclusa luta pela harmonização da existência social.
 
A crença religiosa nega as crescentes conquistas da racionalidade, da objetividade, da materialidade, da historicidade, encobrindo-as com as espessas sombras da irracionalidade, da subjetividade, do espiritualismo. Desequilibra a difícil luta do ser humano para erguer-se sobre as pernas e moldar o mundo com as mãos, forçando-o a ajoelhar-se novamente, apequenado, temeroso, embasbacado diante do "desconhecido", sob o peso de alienação socialmente alimentada.
 
A crença religiosa droga o ser social com suas ilusões infantis de redenção conquistada através da obediência incondicional a estranho super-pai, que em muitas das mais importantes tradições espiritualistas, apesar de onisciente, onipotente e onipresente, e, assim, capaz de tudo dar aos filhos, lançou-os – no singular e no plural – em desnecessárias desassistência, miséria e tristeza.
 
É porque é!
 
A essência anti-científica da religião, que não argumenta, pois se nutre da crença incondicional no arbitrário, materializa-se na oposição visceral, mais ou menos realizada, ao maior tesouro humano, a capacidade de diálogo e de compreensão tendencial do universo. Que o digam Galileu e Giordano Bruno! Daí sua histórica intolerância, desconfiança e ojeriza para com o pensamento científico. E, verdadeiro tiro no pé, seu constante e paradoxal esforço para afirmar que a ciência seja uma crença a mais.
 
O pensamento religioso nega e aborta o ativismo e o otimismo racionalistas e materialistas, nascidos da possibilidade de compreensão, domínio e transformação do mundo social e material. Impõe visão pessimista, quietista, introspectiva e infantil do universo, essencialmente petrificado e eternizado pela materialização de transcendência, à qual o homem deve apenas submeter-se e render-se, para merecer a liberação.
 
Para tais visões, o ativismo e otimismo social são incongruências, ao não haver imperfeição social superável, já que esta última nasce da própria natureza humana, habitada pelo mal e pelo pecado, devido ao desrespeito a interdições primordiais do pai eterno – olha aí ele de novo –, origem do pecado. Pecado que exige incessante expiação e penitência, lançando o ser religioso em triste e mórbido mundo de culpa, de submissão, de punição.
 
Ativismo e otimismo sociais impensáveis para uma forma de compreender a sociedade em que não há história. Ou o que compreendemos como história se mostra ininteligível, pois regida essencialmente por determinações transcendentais paridas e concluídas à margem das práticas humanas. Realidade à qual, segundo tal visão, podemos ascender, muito limitadamente, apenas através da revelação.
 
Quando deus mata o homem
 
Na sua petrificação a-social e a-histórica, a religião cria um mundo chato, triste, deprimente, infantil, mórbido. Um universo que valoriza a paciência, a submissão, o imobilismo, o quietismo, a humildade, a transcendência, a espiritualidade etc., valores e comportamentos historicamente explorados pelos opressores, no esforço de manter o mundo imóvel, através de alienação e submissão dos oprimidos, nesta vida, é claro, pois na outra se sentarão à direita de deus-pai.
 
O ateísmo militante é necessário ao retrocesso da alienação, enormemente crescente em tempos de vitória da contra-revolução neoliberal. Ele impõe-se na luta por um mundo mais rico, mais pleno, mais livre, mais fraterno, em que o homem seja o amigo, não o lobo do homem. É imprescindível ao esforço de superação da miséria, da tristeza e da dor, materiais e espirituais, nos limites férreos da natureza humana historicamente determinada.
 
O ateísmo militante é democrático, pois tem como essencial meio de pregação a conscientização, individual e coletiva, da necessidade de assentar as práticas sociais nos valores da humanidade, da racionalidade, da liberdade, da solidariedade, da igualdade. Pregação racionalista e materialista que compreende que a superação da alienação espiritual será materializada plenamente apenas através da superação da alienação social e material.
 
O que exige intransigente luta política, cultural e ideológica pela defesa dos maltratados valores do laicismo, única base possível para convivência social mínima por sobre crenças religiosas, étnicas, ideológicas etc. singulares. Laicismo agredido pela despudorada exploração mercantil, política e social, direta ou indireta, por parte das religiões novas e antigas, da crescente fragilidade popular contemporânea. O monopólio público da educação e da grande mídia televisiva e radiofônica, sob controle democrático, e a ilegalização do escorcho religioso popular direto são pontos programáticos dessa mobilização.
 
O Céu e o Inferno
 
O ateísmo militante é pregação de adultos, conscientes do limite e dos perigos de empreitada subversiva, dessacralizante e mobilizadora, pois voltada para a necessidade do homem de retomar as rédeas de sua vida material e espiritual, no aqui e no agora. É jornada sem esperanças de premiações e de graças na outra vida, e sobretudo nessa, ao contrário do habitual nas religiões oferecidas como vias expressas para o sucesso individual, no rentável balcão da exploração da alienação.
 
O racionalismo militante é caminho difícil que premia os que nele perseveram com a experiência, mesmo fugidia, com o que há de melhor nos seres humanos, a racionalidade, a solidariedade, a fraternidade. Sentimentos e práticas vividos em forma direta, sem tabelas, pois a única ponte que liga os homens são as lançadas pelos próprios homens, entre homens construídos pela história à imagem e semelhança dos homens.
 
A vida racional é aventura recompensada, sobretudo, pelo inebriante desvelamento do encoberto pela ignorância e irracionalidade e pelo equilíbrio obtido na procura da harmonia social, por mais difícil e limitada que seja. Trata-se de caminho que permite, sem sonhar nem crer, seguir decifrando, alegre e desvairadamente, esse mundo crescentemente encantado e terrível. Viagem por esta vida terrena, valiosa, breve e única, sempre apoiada na lembrança de que, diante das penas e tristezas, não se há de rir ou chorar, mas sobretudo entender, para poder transformar.
 
Uma experiência de vida que, mesmo bordejando não raro o inferno, ou sendo elevada fugidamente aos reinos dos céus, sabe-se que tudo se passa e se conclui nesse mundo, concreto, terrivelmente triste e belo, sobre o qual somos plena, total, sem desculpas e irremediavelmente responsáveis.
 
Mário Maestri é rio-grandense, historiador, ateu, marxista, comunista sem partido. E-mail: maestri@via-rs.netEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email
 

O debate que as grandes empresas de comunicação querem interditar



A imprensa brasileira foge desse debate como o diabo da cruz. O debate sobre a regulação do setor da comunicação. A mínima menção sobre o mesmo provoca gritos tão eloqüentes quanto ignorantes sobre as ameaças à liberdade de expressão e de imprensa que o mesmo traria. É uma mentira deslavada. E a população brasileira precisa ser informada disso. A imensa maioria dos países apontados por essa mesma imprensa como modelos de liberdade de expressão (EUA e os países europeus) possuem legislações nesta área, algumas delas bastante restritivas no que diz respeito, por exemplo, à publicidade em horário nobre nos canais de televisão. Leis que existem em países com Suécia e Holanda, por exemplo, aqui seriam taxadas de chavismo ou algo do gênero. Esse comportamento, na verdade, não é exclusividade da imprensa brasileira, reproduzindo-se também em outros países.
Não se trata, na verdade, de um problema de imprensa ou de comunicação exatamente, mas sim de um problema político-econômico. As grandes empresas de comunicação no mundo inteiro, como se sabe, são hoje, em sua esmagadora maioria, braços midiáticos de interesses corporativos e ideológicos poderosos e mito bem identificados. Esses interesses seqüestraram os conceitos de liberdade de imprensa e de liberdade de expressão. E o que pior: trata-se de um seqüestro sem pedido de resgate. Querem manter os reféns em prisão perpétua.
Seguem duas sugestões de leitura que mostram que esse problema não é exclusivamente brasileiro.
O jornalista Ignácio Ramonet, ao receber o Prêmio Antonio Asensio, em Barcelona, criticou aqueles que fazem “entretenimento domesticado” ao invés de fazer jornalismo. “A imprensa escrita”, assinalou, “vive um dos momentos mais difíceis, e o jornalismo atravessa uma grave crise de identidade. O importante se dilui no trivial e o sensacionalismo substitui a explicação. A informação é algo muito sério, pois de sua qualidade depende a qualidade da democracia. Para ele, ainda há muitas injustiças no mundo que justificam uma concepção do jornalismo a favor de mais liberdade, justiça e democracia”. (leia mais aqui)
No Chile, a revista Punto Final publicou dia 15 de outubro um artigo de Paul Walder denunciando o que chama de “obsceno poder da imprensa chilena”. Os problemas apontados são muito similares:
É o provincianismo em sua pior expressão. Porque é a ignorância manipulada e conduzida. Hoje é o governo argentino, personalizado na presidenta Cristina Fernández, outro dia é Hugo Chávez. Há algumas décadas era o comunismo internacional e, numa determinada ocasião, foi um foguete sinalizador brasileiro. Os meios de comunicação chilenos, tal como ouvimos durante mais de uma década, estão aí (supostamente) para mostrar a verdade. Mas sua versão da realidade é o lugar dos interesses do poder. (leia mais aqui)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

III Encontro Civilização ou Barbárie

Comunicação de Michel Chossudovsky


“Tudo aquilo que a Fundação [Ford] fez pode ser considerado no âmbito de “tornar o mundo seguro para o capitalismo”, diminuindo as tensões sociais ao ajudar a socorrer os angustiados, a proporcionar válvulas de segurança aos raivosos e a melhorar o funcionamento do governo (McGeorge Bundy, conselheiro de Segurança Nacional dos Presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson (1961-1966) e Presidente da Fundação Ford (1966-1979).

“Ao pôr os fundos e o enquadramento político à disposição de muita gente preocupada e dedicada que trabalha no sector não lucrativo, a classe dirigente pode ir buscar líderes às comunidades de base,… e pode tornar o financiamento, a contabilidade e os componentes de avaliação do trabalho tão demorado e oneroso que o trabalho de justiça social é praticamente impossível nessas condições” (Paul Kivel, You Call this Democracy, Who Benefits, Who Pays and Who Really Decides, 2004, p. 122 )

“Na Nova Ordem Mundial, o ritual de convidar líderes da “sociedade civil” para os círculos interiores do poder – enquanto simultaneamente reprime os cidadãos comuns – satisfaz diversas funções importantes. Primeiro, diz ao Mundo que os críticos da globalização “têm que fazer concessões” para ganharem o direito de se misturar. Segundo, transmite a ilusão de que, embora as elites globais devam – no que eufemísticamente se chama democracia - estar sujeitas à crítica, governam legitimamente. E terceiro, diz “não há alternativa” à globalização: não é possível uma mudança radical e o mais que podemos esperar é negociar com esses governantes um ineficaz “dar e receber”.

Leia o texto na íntegra no DIARIO.INFO

Não é o que parece

Em um primeiro momento a vitória de Dilma pode parecer acachapante, considerando-se, inclusive, que é a terceira seguida da coligação do PT sobre a do PSDB em três eleições presidenciais. Pode parecer, ainda, que o Lulismo, em seu auge, desarticula o PSDB e o deixa em condições debilitadas para sequer ameaçar a maioria governamental no Congresso. O pragmatismo submeteu a discussão política a um segundo plano e os gênios da comunicação foram bem sucedidos ao embalar o produto de acordo com a avidez do consumidor em continuar com a festa do crescimento.
Embora tenhamos que reconhecer os méritos de Lula e a perseverança de Dilma, o quadro político que se revela no pós-eleição não é tão róseo quanto possa parecer.
Dilma é eleita com um pouco mais de 41% dos votos totais e somando-se abstenções, votos brancos e nulos temos quase 27% de eleitores que, não se entusiasmando com as opções, viraram as costas para os postulantes. Somando-se este contingente aos eleitores de Serra, temos a segunda e óbvia conclusão: Dilma foi eleita por uma minoria de eleitores. Lula, do alto de seus 83% de aprovação, só conseguiu transferir 50% de sua popularidade a sua pupila, agora presidente eleita.
Não digo isso para minimizar o extraordinário feito de Dilma que, do quase anonimato, tornou-se a primeira mulher eleita presidente do Brasil, o que não é pouca coisa. Digo porque a intenção afirmada em seu primeiro discurso pós resultado das urnas, é e precisa ser levado a sério. Quando diz que estenderá as mãos àqueles que não caminharam com ela, longe de ser um gesto generoso, é um gesto necessário e fundamental para a sobrevivência deste novo futuro governo.
Não são poucas as equações politicas a serem resolvidas. A oposição à presidente eleita liderará os estados com os maiores colégios eleitorais do pais, com mais de 52% dos eleitores. O “corredor oposicionista” vai de Santa Catarina ao Pará, presente nos Estados mais cosmopolitas ( com excessão do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro) com maior população urbana e com intensa atividade agrícola e industrial. Embora com ampla maioria no Congresso, a gestão federativa não apresenta o mesmo conforto que as casas legislativas prometem. Prometem?
Aí vem o outro desafio: até onde vai a coligação liderada pelo PT nessas eleições?
O PMDB caracteriza-se como a fina flor do fisiologismo. Sempre foi governo não importando a coloração partidária do representante máximo da nação. No entanto, dessa vez, teve um importantíssimo papel para que os resultados apurados nas urnas fossem tão favoráveis à Dilma. A obediência quase cerimonial dos seus líderes às vontades do presidente e, claro, vice-versa, apontam agora uma expectativa muito além do discreto e palaciano conchavo. A expectativa do PMDB é a de dividir o governo em igualdade de condições e não deixará de explicitar a contabilidade acima para pressionar o governo Dilma pelo maior número de cargos-chave possíveis. O atual vice-presidente eleito já declarou que seus apaniguados estão cheios de “vontade de colaborar” e que ela não deve ser relativizada. Agora, não deixa de ser ironico que o PT, no auge de sua performance, passe a dever ao que há de pior na politica fisiológica o sucesso de seu futuro governo. Ora, são as armadilhas mortais que a lógica eleitoral impõe ( impõe?). A fraternidade exibida na campanha poderá adquirir nuances fraticídas no exercício do poder. Não dá para se esquecer dos recorrentes episódios envolvendo e originados nos Correios, não é mesmo?
Outro ponto cantado em prosa e verso e que em breve poderá, inclusive, habitar o que há de melhor na literatura de cordel, é o papel do Lula em um próximo governo. Lula é uma destas lideranças raras que não precisa de institucionalidades para se afirmar. Onde ele estiver, da sacada de seu apartamento em São Bernardo aos salões áulicos de Brasília, Lula sempre carregará o mistério dos oráculos. Persistirá a expectativa nacional de perscrutar através de seus olhos as sendas que nos levarão ao futuro promissor. Será ele o discreto e sábio conselheiro que tornará Dilma uma ponderada, eficiente e estratégica liderança? Ou Dilma, no ofício de construir pontes para viabilizar seu governo encontrará nele seu principal desarticulador? Não, é claro, pela falta da persistente dedicação que continuará a conferir à sua criatura, mas pela dificuldade de transferir o intransferível e tomar para sí o que não lhe cabe mais. Se assim fizer, a discípula do maior mestre politico que a democracia brasileira jamais produziu, acabará por se constituir em um arremedo a assombrar-se pelos salões do Planalto, frente a frente com os fantasmas da incompetência politica.
Assim, com uma votação que expressa menos da metade da vontade nacional; com uma oposição desarticulada nacionalmente mas fortemente entrincheirada nos estados; com uma coligação eleitoral que mal disfarça a ansiedade frente a partilha do botim; com a sombra persistente do carisma mítico e legendária de Lula, Dilma inicia sua caminhada rumo ao exercício da presidência. Este que será, provavelmente, o último mandato da geração de lideranças forjadas na luta contra a ditadura e que, embora artífices da redemocratização, ainda não conseguiram nos conduzir à modernidade democrática à altura das necessidades que o Brasil exige neste séc. XXI.
Desejo muita luz à nossa presidente eleita Dilma. Mas desejo ainda, mais fervorosamente, que o discurso proferido após a vitória, guie seus atos, fortaleça suas ações e que ela se torne, orgulhosamente, a primeira presidente mulher de todos os brasileiros.

Ricardo Young

Ricardo Young é empresário, graduado em Administração de Empresas pela FGV, presidente do Conselho Deliberativo do Yázigi Internexus; foi presidente da Associação Brasileira de Franquias (ABF). Foi presidente do Instituto Ethos; conselheiro das organizações Global Reporting Initiative (GRI) em Amsterdam, Holanda, Accountability, em Londres (Inglaterra) e Grupo de Zurich (Suiça).

Grande Banda...

Dire Straits

Todos os créditos ao blog Lagrimapsicodélica, do qual temos a rádio online com muita música legal... Não deixem de visitá-lo, vale a pena!
 
Dire Straits foi uma banda de rock britânica formada em 1977 por Mark Knopfler (guitarra e vocais), seu irmão David Knopfler (guitarra), John Illsley (baixo) e Pick Withers (bateria). Embora formada em uma época em que o punk rock reinava absoluto, decidiram lidar com as convenções do rock clássico, firmando-se em uma sonoridade mais leve, que agradou ao público cansado do som superproduzido do rock dos anos 70. Não tardou para que a banda se tornasse conhecida mundialmente, ganhando o status de disco de platina logo em seu primeiro álbum.
Entre suas canções mais conhecidas estão "Sultans of Swing", "Lady Writer", "Romeo and Juliet", "Private Investigations", "So Far Away", "Money for Nothing", "Walk of Life", "Your Latest Trick" e "Brothers in Arms".
Apesar do grande sucesso, a banda terminou sem estardalhaços em 1994, quando Mark Knopfler expressou o desejo de não mais fazer turnês em larga escala, passando imediatamente a se dedicar integralmente à sua carreira solo.
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1978 - Dire Straits: Download
1979 – Communiqué: Download
1979 - Live At The Rockpalast: Download
1980 - Making Movies: Download
1981 - Live At The BBC: Download
1982 - Extended Dance Play: Download
1982 - Love Over Gold: Download
1984 – Alchemy: Download
1985 - Brothers In Arms: Download
1985 - Live In San Antonio: Download
1985 - Rare Live Songs: Download
1988 - Money For Nothing: Download
1991 - On Every Street: Download
1992 - Live In Basel: Download
1993 - On The Night: Download
1995 – Rare: Download
1998 - Live At The Royal Albert Hall: Download
1998 - Sultans Of Swing: Download
1999 - Dire Straits & Jam With: Download
1999 - The Very Best Of Dire Straits: Download

Ao invéz de um papa fascista, essa deveria ser a coordenação católica mundial

Há tempos a Amazônia sofre com a exploração predatória de seus recursos naturais e com o desrespeito às populações tradicionais que habitam a maior floresta do mundo. Missionários católicos estrangeiros, como prevê a Teologia da Libertação, lutam para reescrever essa história

Por Carlos Juliano Barros
 
Frei Henri des Roziers é o número um da lista dos jurados de morte pelos latifundiários paraenses

À primeira vista, é difícil acreditar que um carismático francês de 76 anos, de fala lenta e andar compassado por conta da saúde debilitada, encabece a lista dos jurados de morte pelos fazendeiros e madeireiros que transformaram o Pará num apimentado caldeirão de conflitos fundiários. Henri des Roziers, advogado e frei dominicano que há quase três décadas escolheu o Brasil como palco de sua militância social e religiosa, já não anda mais sem a sombra de seguranças pagos por um programa de proteção do Governo Federal. Depois do assassinato da freira norte-americana Dorothy Stang, ocorrido em fevereiro do ano passado em Anapu, às margens da rodovia Transamazônica, não lhe restou alternativa. Desde então, é acompanhado dia e noite por dois policiais que se revezam para garantir sua integridade. Um deles, por sinal, é filho de Raimundo Ferreira Lima, o Gringo, conhecido sindicalista do sul do estado morto em 1980 por se envolver, assim como Frei Henri e Dorothy, na luta pela reforma agrária.
O processo de ocupação da Amazônia desenhado nos últimos quarenta anos deixou um saldo preocupante de crimes contra o meio-ambiente e os direitos humanos. De acordo com dados oficiais, mais de 16% da cobertura original da maior floresta do mundo já foram devastados - área equivalente aos territórios de França e Portugal juntos. Somam-se a isso o desrespeito às populações tradicionais e a superexploração do trabalho de milhares de migrantes que enxergaram na imensidão verde um meio de driblar a escassez de emprego nos seus locais de origem, principalmente no semi-árido nordestino.
Gado na rodovia PA 150: a expansão da pecuária e da soja é uma das principais causas do desmatamento e do trabalho escravo na região Norte do Brasil
A Amazônia pagou um preço muito caro pela noção de progresso associada ao fomento de atividades agropecuárias e de extração de madeira e minérios - desenvolvidas por grandes grupos empresariais e poderosos latifundiários vindos, em sua maioria, do sul do Brasil. Depois do golpe de 1964, a vontade dos militares de "integrar para não entregar" o norte ao restante do país incendiou a disputa por terras. Somente no Pará, onde os conflitos revelam sua face mais sangrenta, ocorreram 772 assassinatos de lideranças sindicais, trabalhadores rurais e defensores dos direitos humanos entre 1971 e 2004 - uma assustadora média de duas mortes por mês.
Na raiz dos movimentos populares de resistência a essa ocupação desordenada encontra-se uma instituição que, se não possui mais a mesma influência de tempos atrás, faz sentir seu legado quando se analisa o atual cenário político nacional: a Igreja Católica. Ela teve participação decisiva na gestação de expoentes da esquerda, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo. E, principalmente no campo, ainda constitui um importante espaço de articulação de militantes que se dedicam à causa da reforma agrária.
Por essa razão, não é difícil encontrar na região norte do Brasil missionários estrangeiros que, da mesma forma que Henri des Roziers, deixaram seus países para mergulhar no meio do povo marginalizado, onde o poder público é incapaz de oferecer assistência adequada à população. Religiosos que acreditam que a Igreja Católica não deve só confortar espiritualmente seus fiéis, mas também se empenhar na resolução dos problemas urgentes dos excluídos.

Opção radical pelos pobres
 

Essa linha progressista do catolicismo ganhou contornos fortes quando, em 1968, bispos de todo o continente se reuniram na cidade colombiana de Medellín - marco do surgimento da doutrina que ficou conhecida por Teologia da Libertação. Uma leitura do evangelho influenciada por conceitos da filosofia marxista, que passou a contestar a miséria de boa parte das populações de países como Brasil e Peru. "Quem primeiro formulou essa opção pelos pobres contra a pobreza, a favor da vida e da liberdade, foi a Teologia da Libertação. É marca registrada da Igreja Latino-Americana", afirma Leonardo Boff, ex-frade franciscano e um dos principais pensadores dessa corrente.
A princípio, quando os militares tomaram o Palácio do Planalto, os dirigentes da Igreja enxergaram com bons olhos a iniciativa, por medo da escalada mundial do comunismo. Contudo, quando vieram à tona as denúncias sobre abusos cometidos pela ditadura, os setores engajados da instituição se mostraram mais antenados aos anseios reprimidos do povo, conquistando espaço entre os fiéis. Naquela época, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de cada dez pessoas, nove se declaravam católicas. Hoje, esse índice caiu para 70%. Números que atestam a importância da Igreja na sociedade quando aconteceu o golpe de 1964.
Já na década seguinte, a fama progressista do catolicismo nacional espalhou-se pelo mundo inteiro, atraindo interesse daqueles que buscavam sintonia entre a leitura da Bíblia e a vontade de lutar contra as injustiças sociais. De acordo com dados do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), dos 2.447 religiosos que hoje moram na região norte, 40% vêm de outros países. Porém, é impossível afirmar com precisão quantos desses missionários estão de fato engajados em alguma ação social. Certamente, a maior parte cumpre apenas com as obrigações cotidianas em paróquias e conventos, sem se envolver em qualquer tipo de militância. Entretanto, não é nada desprezível a parcela de padres, irmãos e irmãs que não percorrem milhares de quilômetros somente para pregar e arrebanhar fiéis - como fizeram os jesuítas com os índios brasileiros, séculos atrás.
No Brasil, os ideais da Teologia da Libertação ecoaram mais alto no campo do que na cidade, fortalecendo a luta pela terra. Prova disso é que muitas lideranças do maior movimento social do país, o MST, formaram-se nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Essas entidades surgiram em meados dos anos 60, depois de uma série de mudanças introduzidas pelo Papa João XXIII no sentido de popularizar a Igreja Católica em todo o mundo. Por meio delas, um grande número de fiéis do interior do país, que não contavam com assistência regular de um sacerdote nos locais onde moravam, passou a organizar as celebrações por conta própria.
O frei dominicano francês Xavier Plassat dedica sua vida à luta pela reforma agrária e ao combate ao trabalho escravo
"Na Europa, o cristão é um consumidor de serviços feitos pelo padre. No Brasil, ocorreu a responsabilização dos leigos. Mas isso não implica necessariamente uma Igreja libertária. Essa reorientação foi provocada pela situação de opressão e pela presença de intelectuais orgânicos de esquerda ligados a ela", explica o frei dominicano francês Xavier Plassat. Os encontros religiosos foram um dos poucos espaços públicos de discussão que o regime militar não aboliu. Era natural, portanto, que nas CEBs também se fizessem debates a respeito da realidade social e política brasileira. "A Teologia da Libertação aproveitou esse envolvimento popular", acrescenta Frei Xavier. Nomes como o da atual ministra do meio-ambiente, a acreana Marina Silva, despontaram dessas comunidades.
A "opção radical pelos pobres" da Igreja Católica saiu do papel com o advento, por todo o país, de pastorais que lidam com os mais variados públicos, como detentos, moradores de rua e profissionais do sexo. Mas uma delas merece destaque pelo importante papel de resistência à ocupação predatória da Amazônia Em 1975, quando a floresta havia se convertido num balaio de crimes graves como assassinatos, grilagem de terra e violação de direitos trabalhistas, foi fundada a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Atualmente, ela constitui um dos principais núcleos de pesquisa sobre problemas fundiários do Brasil. Além disso, mantém um corpo de agentes religiosos e leigos para organizar trabalhadores e defender seus direitos, em nome de uma reforma agrária que respeite a agricultura familiar e o modo de vida típico do camponês.

Violência x Resistência

Com a decadência da economia da borracha, que até os anos 20 consistia na principal fonte de divisas da região, o garimpo, a madeira e a pecuária provocaram uma espécie de corrida para o norte do país - a que se assiste até hoje. A partir dos anos 40, o Estado tomou algumas medidas para tentar disciplinar esse novo ímpeto "colonizador", através da instalação de bancos e aeroportos. No começo da década de 60, a abertura da BR 010, batizada de Belém-Brasília, provocou um grande fluxo migratório em direção àquela área.
Mas foi com os militares que o processo de ocupação se desenrolou a pleno vapor. Em 1966, com o intuito de atrair investimentos através da concessão de benefícios a empresários, foi criada a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Projetos de ampla envergadura - da extração de minérios à criação de pastos, passando pela plantação intensiva de eucaliptos para a produção de celulose - nasceram nesse período. A retirada do ferro da maior jazida do mundo, localizada na Serra dos Carajás (PA), é um dos exemplos mais conhecidos. Para fornecer a energia necessária a essas atividades, foram construídas hidrelétricas de grande porte, como a de Tucuruí, também localizada no Pará. Novas estradas retalharam a mata a fim de garantir o escoamento da produção e facilitar o povoamento, como a Cuiabá-Santarém (BR 163) e a famosa Transamazônica.
Entretanto, a estratégia de ocupação do "vazio demográfico" do norte do Brasil, representada por slogans do tipo "uma terra sem homens para homens sem terras", não correspondeu ao sonho de uma multidão de migrantes pobres que chegavam à Amazônia de todas as partes do Brasil. "O governo usou a floresta como forma de desviar a atenção dos movimentos organizados dos principais focos de tensão fundiária, como Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco. Em vez de realizar uma verdadeira reforma agrária, fez uma política de assentamentos, jogando os agricultores em lotes sem qualquer infra-estrutura", explica Paulo Santilli, professor de antropologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). As medidas desenvolvimentistas também não pouparam os povos indígenas. Pelo contrário: "na década de 70, seu contingente populacional atingiu o nível mais baixo em toda história: pouco mais de 60 mil", completa Santilli.
O massacre de 19 sem-terras, em Eldorado dos Carajás (PA), há dez anos, chamou a atenção do mundo para os conflitos fundiários na Amazônia 
Com a perseguição implacável da ditadura a sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda, a Igreja era a única instituição de porte nacional com capacidade de fazer frente aos desmandos dos militares e de apoiar a classe trabalhadora. "A primeira década de atuação da CPT foi uma fase heróica, de enfrentamento e formação de verdadeiras lideranças", conta Frei Xavier, que coordena a pastoral de Araguaína, no norte do Tocantins. Essa parte do estado, apelidada de Bico do Papagaio devido a seu formato geográfico, já foi uma das áreas de maior ebulição fundiária do Brasil.
Frei Xavier segue os passos do Padre Josimo Tavares, assassinado em 1986 por incentivar os posseiros a resistirem contra a expulsão das áreas que ocupavam há gerações. "Ele abria a bíblia para as comunidades e dizia que o direito à terra era algo sagrado, que não bastava rezar junto, mas que era necessário formar um sindicato, um partido que representasse a classe trabalhadora. A CPT dava esperança às comunidades ameaçadas", resume. Vinte anos após a morte de Padre Josimo, a apropriação ilegal de áreas que pertencem à União mediante violência e falsificação de escrituras - prática conhecida popularmente por "grilagem" - ainda deixa muitos militantes da Igreja e dos movimentos sociais de cabelo em pé. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estima que pelo menos 100 milhões de hectares tenham sido abocanhados de maneira criminosa, em todo país. Mais da metade deles estão na região Norte.
Compromisso Social
Na França, não é muito comum que a Igreja se ocupe do debate dos problemas do país, postura que incomodava Frei Henri des Roziers. As notícias sobre a barbárie da ditadura militar despertaram nele a vontade de conhecer o Brasil. "O que me motivou não foi o problema da terra, e sim a questão dos direitos humanos", conta. Logo nos primeiros meses, ele passou uma temporada na diocese de Goiás Velho (GO), comandada pelo bispo D. Tomas Balduíno, presidente nacional da CPT. "Esse estágio me impressionou muito. Senti pela primeira vez uma coerência entre as lutas sociais e a minha interpretação do evangelho. Era a primeira vez que ficava feliz por participar das celebrações", garante. Depois da experiência, não teve dúvidas quanto ao destino a seguir, e entrou para a pastoral da terra. Por quase dez anos, trabalhou na região do Bico do Papagaio, onde se espantou com a violência policial e a omissão do poder judiciário que vitimavam os posseiros. Mas foi no Pará, estado em que atualmente reside, que ele fez história ao participar, em 2000, da acusação que levaria pela primeira vez na história do país um fazendeiro à prisão pelo assassinato de um trabalhador rural.
Hoje, na CPT de Xinguara (PA), o advogado e missionário Henri tenta pôr na cadeia latifundiários que submetem à condição de escravos peões vindos de estados nordestinos pobres, como Maranhão e Piauí. Seres humanos descartáveis que sobrevivem da chamada expansão da fronteira agrícola amazônica. Mão-de-obra pouco qualificada que realiza serviços pesados - como o desmatamento da floresta para formação de pastos, plantações de soja e algodão - sem direito a salário e até mesmo a liberdade para abandonar as fazendas. Essa prática vem de longa data: as primeiras denúncias sobre escravidão contemporânea foram feitas na década de 70 pelo espanhol D. Pedro Casaldáliga, então bispo de São Félix do Araguaia (MT).
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que desde 1995 designou um grupo especial de auditores para fiscalizar propriedades do interior do Brasil, mais de 15 mil pessoas já foram resgatadas desde o início das operações, principalmente no Pará, Mato Grosso e Tocantins. Apesar de o Código Penal prever reclusão de até oito anos para esse crime, apenas um fazendeiro até hoje foi condenado na Justiça Comum. Mesmo assim, sua sentença foi revertida para distribuição de cestas básicas.
O combate ao trabalho escravo também consome a maior parte do tempo de Frei Xavier Plassat. Mas ele também acha que, nos últimos anos, a CPT vem encarando novas missões. "Quando cheguei ao Brasil, em meados da década de 80, o principal desafio era lutar contra a grilagem e resistir à expulsão. Hoje, precisamos pensar com os trabalhadores rurais uma outra maneira de se relacionar com a terra e rever o sistema de produção, permitindo o desenvolvimento da agricultura familiar", afirma.
Apesar da valiosa atuação das pastorais, é fato que institucionalmente a Igreja Católica brasileira não possui mais o mesmo vigor na defesa dos direitos básicos das populações excluídas. Frei Xavier, por exemplo, diz que a CPT de Araguaína sequer é convidada pelo bispo para participar das assembléias diocesanas, reflexo das nomeações de dirigentes menos progressistas durante o longo pontificado do conservador João Paulo II. "Nós atuamos praticamente como uma ONG, buscando financiamentos de agências de cooperação internacional", diz. Mas também não se pode dizer que os preceitos da Teologia da Libertação estejam em decadência absoluta. Ainda existem muitos religiosos brasileiros e estrangeiros que enxergam no evangelho a motivação para lutar por uma sociedade igualitária, olhando por regiões onde a presença do Estado ainda é rarefeita. A Amazônia só tem a agradecer a Deus por isso.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Almada: “Não deixemos que a vitória nos faça esquecer que o inimigo é forte”



Bem-vinda, presidente Dilma Roussef

Por Izaías Almada no ESCREVINHADOR

Bem que o Brasil do atraso tentou, o Brasil da calúnia, da infâmia, da subserviência, o Brasil que perdeu a noção da História e da realidade em que vive e da realidade que o cerca. Não adiantou o cidadão e candidato José Serra e a oposição que representa construírem uma estratégia eleitoral torpe, baseada no ódio, na intolerância e no preconceito, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou que parte de sua acertada estratégia política está cumprida ao eleger sua candidata e sucessora.
Vitória da perspicácia, da sensibilidade no trato das coisas políticas, da coragem pessoal em confrontar, à sua maneira, a oligarquia que deixou o governo em 2002. E o fez com paciência e tentativas de diálogo e – sobretudo – com o conhecimento do seu povo. É preciso reconhecer: haja sociologia para explicar 83% de aprovação popular a um governo no Brasil. Já disse alguém que a política é a arte do possível. Para muitos, infelizmente, ainda é difícil entender isso. À direita e à esquerda.
Ontem, 31 de outubro de 2010, venceu o Brasil que quer continuar mudando, que busca alternativas para se tornar um país mais soberano e menos injusto. Venceu o povo brasileiro mais sofrido e humilde. Venceu novamente a esperança. Ou, para os menos otimistas, a possibilidade de se continuar tendo esperança. E ouso dizer também que, mais do que o Brasil, venceu a nova América Latina de Chávez, Morales, Correa, Lugo, Cristina e Nestor, Castro, Funes, Mujica e Ortega.

Os miasmas da intolerância e de um fascismo travestido de faniquitos democráticos não muito bem explicados em manifestos e editoriais jornalísticos, em telejornais e revistas de final de semana, em violência e profanação religiosa, em tentativa de manipulação da opinião do eleitor, nos últimos três meses, ou se quisermos, nos últimos oito anos, não foram suficientes para desviar milhões de eleitores brasileiros da rota de um desejo sincero de ver o Brasil mais justo, mais independente e de olhos postos no futuro e não no passado.
Retomando a História interrompida com a morte de Getúlio Vargas e traumatizada pelo golpe civil/militar de 1964, que derrubou um governo eleito democraticamente, a vitória de Dilma Roussef faz uma ponte com nosso passado ainda recente e relança as bases de um protagonismo popular para o futuro, fazendo o país voltar ao leito democrático de onde foi retirado pela força de tanques e baionetas apoiados pelo Departamento de Estado norte americano, esse mesmo Estado que continua a insistir com sua política de desestabilizar governos eleitos democraticamente, como a Venezuela de Chávez, a Bolívia de Evo Morales, a Honduras de Manuel Zelaya ou o Equador de Rafael Correa. E que, com certeza, não dará tréguas ao governo de Dilma Roussef. É bom que não nos esqueçamos disto no calor e na alegria da vitória.
No vácuo da repressão policial/militar da ditadura, com a sua falta de garantias democráticas plenas, instalou-se também no Brasil, em anos mais recentes, a ditadura do poder econômico, impondo-se entre nós o pensamento e a prática hegemônica neoliberal, assumida por uma social democracia encantada com a possibilidade de chegar ao poder político, como de fato chegou, com a chamada redemocratização do país na metade dos anos oitenta. E com o sonho de lá permanecer por pelo menos 20 anos, no dizer de alguns de seus caciques, começando com a imoral compra de votos para a reeleição do seu até então maior ideólogo, Fernando Henrique Cardoso, o presidente das privatarias e traidor do povo brasileiro. Essa prática política encantou àqueles que olharam o país e a História com o binóculo posto ao contrário.
Nesses últimos cinquenta anos de História, tanto uma, a ditadura, quanto o outro, o poder econômico imposto pelo Consenso de Washington, tiveram a seu lado aquele que pode ser considerado o mais forte aliado do mundo contemporâneo: a força do quarto poder, a mídia. Jornais, rádios, televisões, revistas, em grande parte subsidiados ideologicamente por pensadores e acadêmicos de dentro e de fora do país, fizeram de seus editoriais e matérias jornalísticas a apologia diária do paraíso para o capital transnacional, com seus deslumbrados e submissos defensores internos, ao mesmo tempo em que combatiam e dilapidavam as garantias e a defesa dos direitos dos trabalhadores através do arrocho salarial, da terceirização de serviços, do aumento do desemprego, do desestímulo às reivindicações de inúmeras categorias profissionais, da privatização de empresas nacionais estratégicas, agindo contra os interesses nacionais, da criminalização dos movimentos sociais, mantendo intacto – de certa maneira – o arcabouço repressivo ditatorial com um inquestionável conservadorismo na sua prática política.
Tudo isso sustentado por uma democracia e uma Constituição, aquela que melhor se pôde arranjar em 1988, a tal Constituição Cidadã, um imenso tratado com quase quinhentos artigos, tamanho o número de interesses a serem contemplados e acomodados, e que ainda assim, na prática, vem sendo solapada e substituída no dia a dia por um mecanismo anacrônico denominado Medida Provisória, que sempre poderá agradar ou desagradar a gregos e troianos, conforme os interesses de momento e o grupo que estiver no poder político.
Em verdade, passamos a viver a partir da segunda metade dos anos 80 um arremedo de democracia. Dá para o gasto, é claro, pois sempre podemos encher a boca e dizer que vivemos num país democrático, e sob vários aspectos isso é verdade, muito embora os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com as honrosas exceções de sempre, se deixaram ou ainda se deixam escorregar tentadoramente por caminhos tortuosos, para dizer o menos, quando fica bastante evidente a verdadeira luta de classes no país.
A recente campanha eleitoral deixou à mostra como muitos brasileiros entendem a democracia: um regime de privilégios que é preciso manter a ferro e fogo, sempre e quando para isso se use tais “privilégios” para arrasar o adversário, assassinar sua reputação, atribuindo-lhe as piores qualidades morais e profissionais. São os democratas de fins de semana, dos almoços dominicais com a família. Hipocrisia que a campanha do candidato José Serra mostrou à perfeição.
Nesse quadro político e institucional, os homens que queriam governar “por 20 anos” descuidaram-se e o sentimento de mudanças que permeava partidos de esquerda e movimentos sociais desde o período ditatorial, soube se movimentar, mesmo com suas divergências, contradições e até defecções, criando condições para que o país buscasse alternativas para o sufoco neoliberal.
Incrédulos com a vitória do metalúrgico semi-analfabeto em 2002, os serviçais e bajuladores da “Casa Grande”, fiéis leitores da cartilha econômica do neoliberalismo, apostaram suas fichas no fracasso e na incompetência do operário, sem jamais esconder o seu preconceito de classe e seu espírito impatriótico. À medida que o tempo avançou e o fracasso esperado do governo Lula não vinha, os órgãos de comunicação social foram mais uma vez acionados com bastante virulência no ano de 2005, pois nova derrota eleitoral seria o início do desastre.
De nada adiantou a campanha moralista naquela altura, curiosamente liderada por alguns dos políticos mais imorais e corruptos do país, alguns deles felizmente defenestrados nas recentes eleições, ou as CPIs policialescas instaladas nas duas casas do Congresso Nacional, onde a pregação intolerante contra o Partido dos Trabalhadores e a esquerda de um modo geral chegou a ser defendida com o chamamento à eliminação “dessa gente” da política brasileira. Bravatas, arrogância e intolerância substituíam os discursos políticos daquilo que se poderia esperar de uma oposição minimamente civilizada, se é que se pode chamar de civilizados um grande número de dilapidadores do patrimônio nacional em beneficio próprio.
Acuado, o governo soube esperar a hora do contra ataque. E o fez no seu segundo mandato, aprofundando as suas políticas sociais e de infraestrutura econômica. Lula se reelegeu em 2006 e chega a 2010, no final do seu governo, com um índice de popularidade “nunca visto antes na história desse país”. E mais: sai o operário e entra uma mulher. Impensável no Brasil de dez anos atrás.
O desafio que tem pela frente a presidente Dilma Roussef é enorme, a começar pela guerra diária que lhe imporá a vetusta oligarquia brasileira e sua velha mídia incompetente, desonesta e oportunista.
Mas, guerra é guerra e o povo, atento e organizado, sempre que chamado, irá se manifestar através de sindicatos, dos movimentos sociais, das entidades estudantis e dos partidos políticos comprometidos com a soberania do país e das suas conquistas sociais, fazendo avançar essas conquistas. E também através de uma nova mídia que se forma pela internet ou – o que espera o país – ver alguns jornais, revistas e televisões tendo que se ajustar a um novo marco regulatório para a comunicação social, tornando-a verdadeiramente democrática.
De hoje em diante toda atenção é pouca, porque o conservadorismo, agora efetivamente de mãos dadas com o emergente fascismo tupiniquim não irá descansar. E essa é uma união mais do que perigosa. Alguém já disse que para onde pender o Brasil, deverá pender a América Latina. Não deixemos que a vitória nos faça esquecer que o inimigo é forte e continuará sua insidiosa luta no dia a dia das calúnias, das mentiras, dos factóides, tentando minar a confiança do povo no seu novo governo.
Felicidades, presidente Dilma Roussef! Seja bem-vinda.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).

Os derrotados da eleição

A guerra acabou. Dilma Rousseff é presidente do Brasil. Para chegar até aqui, teve que enfrentar uma das batalhas mais violentas da história da República. E venceu.
Derrotou não só seu adversário, José Serra, mas também um exército implacável, cruel e muito poderoso: os principais grupos de comunicação do país. Estes são os grandes derrotados nesse dia de glória para a democracia.
Os milhões de votos recebidos pela candidata petista são a prova gigantesca de que os brasileiros nunca mais se deixarão ser manipulados. Nem permitirão ser tratados como gente ignorante. O povo, definitivamente, não é bobo.
Durante meses, houve um bombardeio incessante de manchetes, chamadas, apelos, boatos e factoides. Um massacre impiedoso, orquestrado. Em fiapos de verdade, urdiram uma rede de mentiras e preconceitos.
Não bastou ser atacada durante o horário eleitoral gratuito. Isso faz parte do jogo. Infame foi ser fustigada diariamente pela propaganda política voluntária dos barões da mídia.
Dilma Rousseff e milhões de brasileiros enfrentaram o maior jornal do país, a Folha de S.Paulo. E a maior emissora de TV, a Globo. A revista de maior tiragem, a Veja. Nessa tropa de choque incansável também perfilam os jornais O Estado de S.Paulo e O Globo. Turma da pesada.
Nos próximos dias, sempre às 10h e às 16h, vamos usar este espaço para detalhar a forma como esses derrotados agiram do alto de seus palanques. Como pisotearam a liberdade de imprensa.
Cada um com seus soldados. Ou capangas. Tanto poder para quê? Tanta arrogância, fulminada pela força das urnas. Os que escrevem e entrevistam e ditam editoriais ficaram mudos. Quem manda, senhores do universo, é quem lê, quem ouve, quem vê. Os vitoriosos. Deste Brasil.

 Marco Antonio Araújo

domingo, 31 de outubro de 2010

Acabou...ultrapassamos mais uma dificuldade, até quando continuarão???

ACABOU!!!!
Dilma ganhou! o povo ganhou! o Brasil ganhou!
Quem perdeu?
A direita, conservadora e fascista, preconceituosa e que tem aversão a que os pobres ascendam socialmente.
Isso é fato.Mas foi com muita dificuldade.
Os instrumentos usados por essa extrema direita, aliada ao Opus Dei, da Igreja Católica, aos empresários predadores, aos evangélicos fundamentalistas e a "grande mídia" manipuladora, foi de uma baixeza sem tamanho, nunca antes visto no Brasil.
Ainda bem que na internet, tivemos uma participação bastante positiva no sentido de desmascarar os engôdos e as mentiras proporcionadas pela imprensa corrupta e entreguista.
Infelismente, a internet ainda não contempla boa parte daquele povo que ascendeu socialmente.
Então o que vimos foi uma enorme massa de pessoas contempladas com projetos de ascensão social mas completamente desprovidas de consciência política, ainda viscejando naquela "consciência intransitiva", como nos ensinou Paulo Freire.
Esse, me parece, foi o grande entrave que facilitou as dificuldades de eleger uma candidata, de um governo com mais de 80% de aprovação pela população.
As pessoas, ainda dentro dessa "consciência intransitiva" não conseguem distinguir aquilo que é feito como um projeto social de melhoria da qualidade de vida dos excluídos, daquilo que parece uma oferta de peixe, sem ensinar a pescar.Então, votam em pessoas, em esteriótipos culturais, em mentiras, em manipulações enganosas, enfim, nos medos que sempre foi impingido aos necessitados, por parte daqueles que detinham o poder e mandavam no país, os senhores da Casa Grande.
Passado esse momento de euforia, temos que trabalhar nesse sentido. Não basta dar o pão, temos que ensinar a pescar, e nesse caso, proporcionar mecanismos de libertação consciencial.Para que todos possam sair dessa consciência nula e subserviente e ingressar numa "consciência crítica" que possibilitará  as transformações necessárias a continuidade dos avanços sociais, sem termos que passar por esse sofrimento de que uma simples eleição possa deixar todos horripilados e temerosos de um retorno daquilo que odiamos, eleger políticos comprometidos com interesses pessoais e de fora do país.
Está na hora de o PT e o governo, começar a se preocupar com as pessoas, no sentido de libertá-las, não só economicamente mas também consciencialmente, aliás, como faz Chavez na Venezuela, onde a grande massa populacional assistida possui uma capacidade de julgamento político bastante crítico.
E, também, proporcionar ao nosso país uma democratização midiática, organizando uma nova regulamentação para nossa mídia, a fim de que a participação popular e socialista possa tambem ser representada ao povo.
Essas duas questões são fundamentais quando se deseja avançar na justiça social atendendo as necessidades de todos aqueles que ao longo do tempo foram alijados da participação e da autoria, deixando de serem coadjuvantes para serem protagonistas do crescimento social brasileiro.






Tendências da Barbárie e Perspectivas do Socialismo

James Petras*
 
 James Petras
Introdução
As sociedades e Estados ocidentais caminham inexoravelmente para condições que aparentam barbárie; acontecem mudanças estruturais que invertem décadas de benefícios sociais e submetem os trabalhadores, recursos naturais e a riqueza das nações à exploração, pilhagem e roubo, baixando o nível de vida e criando patamares de descontentamento sem precedentes.
A barbárie torna-se mais evidente nas guerras genocidas, organizadas e dirigidas pelos EUA e pela Europa Ocidental. A destruição imperial de sociedades inteiras é acompanhada pela desarticulação, assassínios e exílio do actual núcleo científico secular e artístico da sociedade iraquiana e pelo fomento de conflitos étnico-religiosos retrógrados e sátrapas. A barbárie imperial manifesta-se na aplicação sistemática de castigos cruéis e pouco habituais, torturas sancionadas pelo governo e assassinatos transfronteiras fazendo parte da política de Estado. O imperialismo bárbaro é conduzido pelos militaristas e sionistas que tentam destruir os adversários, as suas economias e sociedades, em contraste com os imperialistas tradicionais que procuram controlar e explorar os recursos e os trabalhadores especializados. As práticas barbáricas são o resultado dos formuladores das políticas e os seus assessores infiltrados em instituições barbáricas: médicos e psicólogos aconselham e participam nas torturas; académicos propagam doutrinas («guerras justas») que defendem guerras bárbaras; responsáveis militares projectam e praticam crimes contra a humanidade para garantir promoções, salários maiores e pensões lucrativas. Os grandes meios de comunicação social transmitem os eufemismos triunfalistas oficiais apoiando os deslocamentos em massa das populações, atribuindo crimes de guerra às vítimas e aplaudindo os carrascos. Em suma, a barbárie começa com a elite urbana e filtra até ao trabalhador manual provinciano.
Vamos continuar definindo os processos económicos, políticos e militares que impulsionam o processo de declínio e decomposição e seguir com um relato da resposta popular das massas às suas condições em deterioração. As profundas mudanças estruturais que acompanham o crescimento da barbárie tornam-se a base para analisar as perspectivas do socialismo no século XXI.

A Onda Crescente da Barbárie

Na sociedade antiga a «barbárie» e os seus portadores, «os bárbaros», foram encarados como ameaças de invasores exteriores de regiões afastadas que desciam sobre Roma e Atenas. Nas sociedades ocidentais contemporâneas, os bárbaros vieram de dentro, da elite da sociedade, apostados em impor uma nova ordem que destrói o tecido social e a base produtiva da sociedade, transformando meios de vida estáveis num dia a dia inseguro e em deterioração.
A chave para a barbárie contemporânea encontra-se nas profundas estruturas do Estado e da economia. Elas incluem:
1. A ascendência de uma elite financeira e especulativa que pilhou biliões de dólares dos aforristas, investidores, pessoas com hipotecas, consumidores e Estados, sugando enormes recursos da economia produtiva para uma elite parasitária infiltrada dentro do Estado e numa economia de papel.
2. Uma elite política militarista que se encontra num estado de guerra permanente desde os meados do século passado. Guerras intermináveis, assassínios transfronteiras, terrorismo de Estado, suspensão das garantias tradicionais levaram a uma concentração de poderes ditatoriais, prisões arbitrárias, torturas e negação de habeas corpus.
3. No meio de uma profunda recessão económica, grandes gastos do Estado na construção de um império económico e militar à custa da economia interna e o nível de vida reflectem a subordinação da economia local às actividades do Estado imperial.
4. Crimes e corrupção ao mais alto nível, em todas as esferas da actividade do Estado e negócios – desde as compras do Estado às privatizações, aos subsídios para os super-ricos – estimulam o crescimento do crime internacional de cima para baixo, a lumpenização da classe capitalista e um Estado onde a lei e ordem caíram em desgraça.
5. Como resultado dos grandes custos de construção do império e da pilhagem pela oligarquia financeira, o peso socio-económico recaiu em cheio sobre os ombros dos salários e trabalhadores assalariados, pensionistas e trabalhadores por conta própria, criando um abaixamento da mobilidade a longo prazo e em larga escala. Com a perda de empregos e a perda de empregos bem remunerados, a execução de hipotecas dispara em flecha e a classe média estável e trabalhadora encolhe e é obrigada a aumentar as suas horas e anos de trabalho.
6. À medida que as guerras imperiais se espalham pelo mundo atingindo populações inteiras, com bombardeamentos continuados e operações de terror clandestinas, geram-se redes de terroristas opositoras que também atingem civis nos mercados, nos transportes e nos espaços públicos. O mundo parece um mundo Hobbesiano, sem regras, de «todos contra todos».
Na realidade, o «mundo occidental» (EUA/UE/NATO/Israel e seus satélites) estão empenhados numa «guerra total» contra os povos do mundo, que resistem a submissão imperialista e sionista. A «guerra total» tal como é praticada pelo Ocidente, significa que
(a) não existe distinção entre alvos militares e civis – todos são sempre considerados dignos de destruição. Num sentido perverso de ironia totalitária, ao bombardear os civis, os poderes imperiais transformam uma guerra de guerrilha numa «guerra popular»: guerras totais unem comunidades, famílias, clãs aos lutadores da resistência.
(b) As guerras totais utilizam todos os meios para aniquilar o inimigo – armas de envenenamento em massa (urânio enfraquecido), esquadrões de morte, execuções sumárias, bombardeamento indiscriminado de aldeias com drones teleguiados, prisões em massa de homens adultos nas regiões de grande conflito. Como resultado da «guerra total» imperial como padrão de conflito, a oposição replica, atingindo civis, incluindo professores, médicos e tradutores utilizados pelas agências internacionais.
7. O crescente extremismo étnico-religioso ligado ao militarismo existe entre os cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, substituindo a solidariedade internacional de classe por doutrinas de supremacia racial e penetrando com profundidade as estruturas do Estado e da sociedade,
Um dos mais flagrantes resultados do período pós 2ª Guerra Mundial tem sido a influência sem precedentes da configuração do poder Judaico-Sionista e o seu papel central dentro do Estado imperial dos EUA, juntando as bárbaras práticas imperiais dos EUA e Israelitas. Essas incluem torturas sistemáticas, sanções económicas, bombardeamento de civis e outros crimes contra a humanidade. Às longas guerras de Israel contra os povos árabes e muçulmanos – mais de 60 anos e continuam – juntam-se agora aos estrategas sionistas em Washington que promovem guerras prolongadas, em série e que seguem a agenda israelita incitando uma islamofobia histérica através dos grandes meios de comunicação social e a academia. Hoje, o Judeo-fascismo está infiltrado no governo israelita (3 ministros), exército, ordens religiosas e sectores significativos da população.
8. O desaparecimento do colectivismo providêncial Europeu e Asiático – na ex-URSS e China – retirou as pressões de competição sobre o capitalismo ocidental e animou-o a revogar todas as concessões de previdência concedidas aos trabalhadores no período pós 2ª Guerra Mundial.
9. O desaparecimento do Comunismo e a integração da social-democracia no sistema capitalista conduziu a um forte enfraquecimento da Esquerda, que os protestos sociais esporádicos dos movimentos sociais não conseguiram substituir.
10. Tendo em vista o actual ataque em grande escala contra o nível de vida dos trabalhadores e da classe média, existem protestos ocasionais na melhor das hipóteses e impotência política no mínimo.
11. A exploração maciva do trabalho nas sociedades pós-revolucionárias, como na China e Vietname, inclui a exclusão de centenas de milhões de trabalhadores emigrantes dos serviços públicos elementares de ensino e saúde. A pilhagem sem precedentes e o confisco pelos oligarcas domésticos e multinacionais de milhares de empresas públicas estratégicas lucrativas na Rússia, nas repúblicas ex-Soviéticas, Europa do Leste, os Balcãs e países Bálticos representou a maior transferência da riqueza pública para o privado e no mais curto período de toda a história.
Em suma, a «barbárie» surgiu como uma realidade definidora, produto da emergência nos EUA de uma classe parasitária dominante militarista sionizada e financeira. Os bárbaros estão aqui e agora, presentes dentro das fronteiras das sociedades e Estados ocidentais. São dominantes e prosseguem agressivamente uma agenda que reduz continuamente o nível de vida, transfere a riqueza pública para os seus cofres privados, pilham recursos públicos, destroem direitos constitucionais na sua busca de guerras imperiais, segregando e perseguindo milhões de trabalhadores imigrantes e promovendo a desintegração e diminuição de uma classe média e trabalhadora estável. Mais do que nunca na história recente, 1% da população do topo controla uma parte cada vez maior da riqueza e os recursos nacionais.

Mitos e Realidades do Capitalismo Histórico

O corte, sustentado e em larga escala, dos direitos e disposições sociais, salários, segurança no emprego, pensões e salários demonstra a falsidade das ideias de um progresso linear do capitalismo. O retrocesso, fruto do maior poder da classe capitalista, demonstra a validade da proposição marxista de que a luta de classes é a força motora da história – pelo menos, na medida em que a condição humana é considerada o centro da história.
A segunda premissa falsa é que os Estados com base em «economias de mercado» precisam da paz e o corolário de que os «mercados» derrotam o militarismo, é refutada pelo facto de que a economia de mercado principal, os Estados Unidos, tem estado num estado de guerra constante desde os princípios de 1940; activamente empenhados em guerras, em quatro continentes, até aos dias de hoje. Com novas guerras maiores e mais sangrentas no horizonte. A causa e resultado da guerra permanente, é o crescimento de um «Estado nacional securitário» monstruoso que não reconhece quaisquer fronteiras nacionais e absorve a maior parte do orçamento nacional.
O terceiro mito do capitalismo “avançado” maduro é que ele revoluciona constantemente a produção através da inovação e da tecnologia. Com o crescimento da elite militarista e financeira especulativa, as forças produtivas têm sido pilhadas e a “inovação” fica principalmente pela criação de instrumentos financeiros que exploram os investidores, roubam os activos e aniquilam o emprego produtivo.
Enquanto o império cresce, a economia interna diminui, o poder fica centralizado no executivo, os poderes legislativos são cortados e nega-se à cidadania uma representatividade real e até mesmo um veto através de processos eleitorais.

A Resposta das Massas ao Crescimento da Barbárie

O crescimento da barbárie no nosso seio criou uma repulsa pública maciça contra o seus principais autores. As sondagens mostram repetidamente:
1. Um desgosto profundo e repulsa contra todos os partidos políticos.
2. Vastas maiorias sentem uma grande desconfiança em relação à elite empresarial e política.
3. Maiorias rejeitam a concentração do poder empresarial e o abuso deste poder, principalmente pelos banqueiros e financeiros.
4. Existe um questionamento generalizado das credenciais democráticas dos dirigentes políticos que actuam ao mando da elite empresarial e promovem as políticas repressivas do Estado de segurança nacional.
5. Uma grande maioria rejeita a pilhagem dos cofres do Estado para salvar os bancos e a elite financeira, ao mesmo tempo que impõem programas regressivos de austeridade na classe média e trabalhadora.

A Transição do Imperialismo Económico para o Bárbaro

Os EUA têm estado envolvidos em guerras imperiais contínuas há mais de 60 anos. A guerra tem sido endémica ao sistema imperial: na maioria dos casos tem sido para garantir recursos económicos, quotas de mercado e a exploração de mão-de-obra barata. A dialéctica entre expansão militar e conquista, domínio político através de regimes colaborantes e acesso económico privilegiado para as corporações multinacionais dos EUA (CMC) foi efectivamente o carácter definidor do imperialismo dos EUA. Hoje, a dialéctica imperial já não funciona. O crescimento do capital financeiro e a fuga das CMC dos EUA para o estrangeiro, para Estados asiáticos soberanos enfraqueceu o papel do capital industrial como motor da expansão imperial. Hoje, existem novos mecanismos que fomentam as guerras imperiais – militarismo e sionismo – que olham para as guerras e conquista militar como «um fim em si mesmo». Não capturam recursos ou quotas de mercado, destroem-nos, como demonstram as guerras dos EUA no Iraque, Afeganistão, Somália, Iémen, Honduras e noutros locais. Estas guerras destroem a riqueza das nações. Elas enfraquecem o tesouro americano. Não enriquecem as corporações (excepto temporariamente as empresas de mercenários de guerra) e não levam a uma remessa de lucros para os EUA/UE.
As guerras imperiais, que destroem a sociedade civil, o Estado e desarticulam as sociedades modernas seculares, criam alianças com as colectividades clericais e étnicas mais retrógradas que compartilham as tendências assassinas bárbaras dos seus apoiantes e patrocinadores imperiais.

Perspectivas do Socialismo

As esperanças ténues do socialismo existem fora da Europa e dos Estados Unidos. Mesmo nas regiões de guerra anti-imperialista de grande intensidade como no Golfo, Ásia do Sul, o Corno de África, as principais forças de resistência são dirigidas por movimentos islâmicos que rejeitam os programas socialistas seculares. Movimentos liderados por movimentos islâmicos podem enfraquecer o império mas também são contra e reprimem quaisquer movimentos operários abertamente marxistas. Na América Latina, os regimes nacionalistas têm enfraquecido o garrote do imperialismo americano sobre a sua política externa e criaram oportunidades para que a classe capitalista local ganhasse novos mercados, mas também se desradicalizaram, desmobilizaram e cooptaram os antigos movimentos de classe independentes e sindicatos dirigidos pelos marxistas e socialistas.
Na medida em que o socialismo existe como fenómeno de massas – e não apenas entre os académicos e os intelectuais que comparecem nas conferências uns dos outros – encontra-se entre sectores dissidentes dos mineiros bolivianos, trabalhadores industriais e do sector público, sindicatos, sectores dos sem-terra brasileiros e espalhando-se entre minorias nos sindicatos e movimentos camponeses em toda a região. Somente na Venezuela, com o Presidente Chávez, um programa socialista tem um apoio popular do Estado e das massas populares, apesar de co-existirem grandes contradições entre «Estado» e «regime».
Na Ásia, as recentes ondas de greves dos trabalhadores, num quadro de um passado revolucionário socialista, dá substância à esperança de um renascimento socialista de massas baseado na militância da classe operária e do campesinato. O mesmo se aplica ao Vietname, onde a militância dos trabalhadores procura organizações de classe independentes contra a exploração selvagem do capital estrangeiro e oligarcas locais «comunistas». Na Índia, guerrilheiros camponeses controlam vastas extensões de regiões tribais e estabeleceram um «poder duplo» em certos domínios, sujeitos a cerco militar e missões de busca e destruição. Protestos de massas na Grécia, Espanha, França e Itália mostram uma grande hostilidade dos trabalhadores contra os programas de austeridade de classe selectivos. Teoricamente, poderiam constituir uma base para o renascimento de uma política marxista; mas de momento, nenhum partido revolucionário importante ou movimento existe para transformar as greves num projecto de poder político.
Embora as perspectivas do socialismo, nomeadamente nos EUA, estejam bastante distantes e actualmente quase invisíveis, certas situações poderiam provocar um ressurgimento radical – que infelizmente pode «virar à direita» antes de olhar para a esquerda. Em qualquer caso, as perspectivas de socialismo nos EUA e na Europa Ocidental envolvem um processo longo e difícil, baseado na (re)criação da consciência e organização de classe.
A ofensiva capitalista tem certamente um grande impacto nas condições objectivas e subjectivas das classes trabalhadoras e médias, aumentado a miséria e criando uma onda crescente de descontentamento pessoal, mas não ainda movimentos anti-capitalistas massivos ou mesmo uma resistência organizada dinâmica.
Grandes mudanças estruturais requerem um acerto de contas com as actuais circunstâncias adversas e a identificação de novas entidades e formas de luta de classes e de transformação.
Um dos principais problemas é a necessidade de recriar uma economia produtiva e reconstruir um novo operariado industrial, tendo em conta anos de pilhagem financeira e de desindustrialização. Não necessariamente as indústrias «sujas» do passado, mas certamente novas indústrias que utilizem e inventem novos recursos energéticos limpos.
Em segundo lugar, as sociedades capitalistas altamente endividadas necessitam de uma mudança fundamental no militarismo e construção de império muito caros para uma espécie de austeridade baseada na classe, que imponha sacrifícios e reformas estruturais aos sectores da banca, financeiros e sectores de retalho de grande importação, substituindo pela produção local as importações de consumo baratas.
Em terceiro lugar, a redução dos sectores financeiro e de retalho exige a melhoria das qualificações dos trabalhadores e empregados deslocados, bem como mudanças no sector das TI para se adaptar às mudanças da economia. Mudanças paradigmáticas do salário em dinheiro para salário social, em que o ensino público gratuito ao mais alto nível e cuidados de saúde universais e pensões adequadas substituam o consumismo financiado pelo endividamento. Estas mudanças podem tornar-se a base para fortalecer a consciência de classe contra o consumismo individual.
A questão que se põe é saber como transportar movimentos laborais e sociais enfraquecidos, fragmentados em retracção ou na defensiva para uma posição de lançar uma ofensiva anti-capitalista.
Talvez muitos factores subjectivos e objectivos trabalhem para esse fim. Em primeiro lugar, existe uma rejeição crescente de largas maiorias contra os políticos incumbentes e em particular contra as elites financeiras e económicas que são claramente identificadas pela quebra das condições de vida e desigualdades crescentes. Em segundo lugar, existe uma opinião popular, partilhada por milhões, de que os actuais programas de austeridade são claramente injustos – com os trabalhadores a pagarem pelas crises criadas pela classe capitalista. Contudo, estas maiorias são mais «anti» situação do que pró transformação. A transição do descontentamento privado para acção colectiva é uma questão em aberto sobre quem e como, mas a oportunidade existe.
Vários factores objectivos podem desencadear uma mudança qualitativa do descontentamento de raiva passivo num movimento anti-capitalista massivo. Uma recessão muito acentuada, o fim da actual recuperação anémica e o aparecimento de uma recessão/depressão mais profunda e prolongada, podem desacreditar ainda mais os actuais governantes e os seus apoiantes económicos.
Em segundo lugar um período de austeridade interminável e profundo iria desacreditar a noção actual da classe dirigente da «dor necessária para ganhos futuros» e abrir as mentes e movimentar as entidades para procurar soluções políticas no sentido obter ganhos imediatos infringindo dor nas elites económicas
Guerras imperiais sem fim e não vitoriosas que sangram a economia, acabam por criar a consciência de que a classe dirigente «sacrificou o país» sem «qualquer propósito útil».
Talvez, a combinação de uma nova fase da recessão, a austeridade perpétua e guerras imperiais irracionais possam virar o actual mal-estar das massas e lançar hostilidade contra a elite política e económica, para os movimentos, partidos e sindicatos socialistas…

* Professor (Emeritus) de Sociologia na Universidade Binghamton de Nova York e professor adjunto na Universidade Saint Mary, no Canadá. Recebeu numerosas distinções profissionais e académicas.
É autor de mais de 60 livros e de centenas de artigos especializados na área da Sociologia, e de mais de 2.000 artigos de opinião publicados em jornais internacionais de grande projecção. Actualmente colabora com regularidade no jornal mexicano La Jornada, contribui para o Conter Punch e Atlantic Free Press, e integra o colectivo editorial de Canadian Dimension.